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Perspectivas, S ã o P a u l o ,

3: 81-85, 1980

E L E M E N T O S PARA U M A ANÁLISE DO MACHISMO (*)


Mary Pimentel Drumont

PERSPECTIVA/20

D R U M O N T , M . P . Elementos para u m a a n á l i s e do machismo. Perspectivas, S ã o


Paulo, 3: 81-85, 1980.

R E S U M O : A n á l i s e s o c i o l ó g i c a do m a c h i s m o , definido como u m sistema de


r e p r e s e n t a ç ã o - d o m i n a ç ã o ligado à i n t i m i d a d e sexual- C a r a c t e r i z a ç ã o da estrutura da
p r á t i c a das r e l a ç õ e s entre os agentes sexuais.

UNITERMOS: M a c h i s m o , estrutura ideológica, d o m i n a ç ã o - s u j e i ç ã o .

INTRODUÇÃO para o elemento feminino. Ele é aceito


por todos e mediado pela "liderança"
Em termos da colocação adotada, o masculina. Ou seja, é através deste mo-
machismo é definido como um sistema delo normalizante que homem e mulher
de representações simbólicas, que misti- "tornam-se" homem e mulher, e é tam-
fica as relações de exploração, de do- bém através dele, que se ocultam partes
minação, de sujeição entre o homem e a essenciais das relações entre os sexos,
mulher. invalidando-se todos os outros modos de
Esta definição não tem a preocupa- interpretação das situações, bem como
ção de atingir um rigor conceituai a par- todas as práticas que não correspondem
tir de um modelo teórico fechado e abs- aos padrões de relação nele contidos.
trato. Mas ao contrário, a de conceituar Desde criança, o menino e a menina en-
ainda que provisoriamente o machismo, tram em determinadas relações, que in-
de forma que a investigação possa ser dependem de suas vontades, e que for-
conduzida para dar conta da multipli- mam suas consciências: por exemplo, o
cidade de suas manifestações concretas sentimento de superioridade do garoto
dentro de uma unidade de análise. pelo simples fato de ser macho e em
O machismo enquanto sistema ideo- contraposição o de inferioridade da me-
lógico, oferece modelos de identidade nina. Um outro exemplo nos é oferecido
tanto para o elemento masculino como pela própria destinação em termos de

* Este artigo focaliza uma etapa de tese de doutorado em preparação. Apresenta


elementos teóricos que fundamentam a pesquisa.
* * Professora Assistente do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia do Instituto
de Letras, Ciências Sociais e Educação — Campus de Araraquara, U N E S P .

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trabalho: a menina é geralmente condu- locam na esfera da existência privada


zida para as atividades que não produ- uma estrutura fundamentalmente machis-
zem dinheiro, enquanto que o garoto é ta (ao nível do discurso), cuja origem
necessariamente orientado para uma pro- pode se encontrar no social (por exem-
fissionalização. plo, o culto do herói entre as mulheres,
O machismo pode ser genericamen- o culto da "self-made-woman").
te considerado como um ideal a ser atin- Analisa o tipo de poder que estas
gido por todos os homens e acatado e relações implicam. Neste sentido, faz
ou invejado pelas mulheres. parte de seus objetivos, compreender a
O machismo constitui, portanto, um "cumplicidade" no relacionamento se-
sistema de representações-dominação que xual ao nível do micro-poder, em sua
utiliza o argumento do sexo, mistificando lógica interna e não apenas projetada
assim as relações entre os homens e as para fora.
mulheres, reduzindo-os a sexos hierar- Deste ponto de vista, preocupa-se
quizados, divididos em polo dominante e em estudar o investimento do desejo a
polo dominado que se confirmam mutua- ser operado no campo social e seus as-
mente numa situação de objetos. pectos históricos, políticos, econômicos e
A o apropriar-se da realidade sexual, sociais.
o machismo, em seu efeito de mistifica- Em suma, o trabalho expressa a ló-
ção, supercodifica a representação de gica da transversalidade na análise do
uma relação de poder (papéis sexuais, fenômeno estudado enquanto processo
símbolos, imagens e representações eró- ideológico específico, na medida em que
ticas, instituições sexuais, etc.) produ- se preocupa com a representação que se
zindo "duas linguagens": uma masculi- tem das relações entre os sujeitos sexuais,
na e uma feminina. Nesta produção-re- seus aspectos de cumplicidade e os fato-
produção de papéis, códigos, representa- res extra-ideológicos que o machismo sus-
ções sexuais, etc, há produção do espa- tenta.
ço aberto, no sentido dado à expressão
"corpo sem órgão" por Guattari e De- Dentro desta perspectiva, a pesqui-
leuze (6) da extorsão do prazer, do sen- sa cujos resultados servirão de funda-
tido, do poder, do objeto, etc, onde se mento ao trabalho, objetiva o melhor co-
reproduzem as próprias condições de su- nhecimento da estrutura do machismo
bordinação da mulher. ou seja, visa responder as seguintes ques-
tões:
Assim, o machismo representa-ar-
ticula (relações reais e imaginárias) esta 1) Quais os mecanismos de contro-
dominação do homem sobre a mulher na le e subjugação da mulher? Que institui-
sociedade. ções exerceriam funções domesticadoras
A tese se propõe ao estudo do ma- e disciplinadoras capazes de caracterizar
chismo visto de seu interior, isto é, em o processo de institucionalização destas
suas articulações enquanto estrutura relações?
ideológica no seio das ideologias domi-
2) Qual o funcionamento dos me-
nantes e das instituições de controle.
canismos simbólicos do machismo, ou se-
Investiga também como determina- ja, como ele se articula ao nível da ideo-
das relações reiteram, sistematizam e des- logia?

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3) Como se articula este sistema de também para as implicações sociais, eco-


representação-dominação ao nível da for- nômicas e políticas da observação socio-
mação social brasileira? Como articular lógica. E introduz a dimensão dialética,
esta luta de sexos dentro das classes da quando procura as formas de respostas
sociedade brasileira? do polo institucional dominado, que se
revelam nas relações entre dominantes
CATEGORIAS ANALÍTICAS e dominados.
EMPREGADAS Em suma, trata-se de ". . . um mé-
Tal conceituação do problema im- todo que visa produzir uma nova relação
plica em estudá-lo da perspectiva da do saber, uma consciência do não saber
Análise Institucional. Nesta perspectiva, que determina nossa ação" (8). Trata-se,
as instituições sociais são concebidas co- portanto, de mostrar, não somente a face
mo centros históricos de centralização do objetiva das relações sociais, mas tam-
poder. O conceito não se reduz ao con- bém a ação simbólica como uma variável
junto de normas assumidas por agentes (o importante, isto é, a ação das Instituições
que seria seu aspecto estrutural explícito) ausentes/presentes. (*)
mas abrange também as normas não re- Esta perspectiva teórico-metodoló-
veladas, freqüentemente as mais impor- gica permite-nos abordar o problema do
tantes, pois apontam para as "regras do machismo a partir de categorias analíti-
jogo" do poder institucional. Inclui tam- cas extremamente frutíferas, tais como os
bém o conjunto das relações sociais conceitos de Transversalidade e o de Es-
(práticas institucionais). tigma.
Estes dois aspectos, (as normas e as O conceito de Transversalidade con-
práticas) são mediados pelo discurso ins- forme o entendemos e Guattari (7), re-
titucional. Estas instituições são sede de fere-se às ligações entre indivíduo-histó-
poder por onde atravessam as normas, as ria, entre libido e sistemas político-sociais
regras do poder central. Elas (as institui- A transversalidade se coloca a propósito
ções) se processam num contexto de mu- da normatização e da repressão dos indi-
dança e afirmação de relações e formas víduos (loucos, por exemplo), ou de
de produção social, apontando para as grupos (mulheres, negros e grupos estig-
fissuras internas das práticas (hegemôni- matizados em geral) como concretização
cas) e para as respostas dos insti- de uma situação de dominação sócio-polí-
tuídos. (9). tica num contexto histórico-global. A
Proceder à análise institucional, Transversalidade, assim é um conceito
significaria pois, estudar as formas insti- que ultrapassa o nível da análise dos pa-
tuintes e não privilegar as formas instituí- péis sociais e coloca a questão da gênese
das. Trata-se então de buscar no dis- e do sentido da participação do indivíduo
curso institucional, antes de tudo, o sim- no grupo, sem cair numa análise descriti-
bólico, o não explícito em termos de re- va sócio-psicológica. " A transversalidade
sultado de uma observação. Esse simbó- num grupo é uma dimensão contrária e
lico, o não dito, é ligado a uma estrutura complementar às estruturas geradoras de
de poder. A análise institucional atenta hierarquização piramidal e dos modos

(*) Apesar de sua evidente i n f l u ê n c i a dos m é t o d o s p s i c a n a l í t i c o s que pode


ser vista no uso dos conceitos tais c o m o o de inconsciente, de objeto de desejo
o n ã o dito..., os mesmos e s t ã o subordinados ao estudo de estrutura de autoridade,
de poder.

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de transmissão esterilizadores das mensa- E nesse ponto, valemo-nos de M .


gens" ( 7 ) . Foucault (3) para quem o capitalismo
"foi obrigado a elaborar um conjunto de
Como instrumento de trabalho ana-
técnicas de poder, pelo qual o homem
lítico o conceito permitir-nos-à estudar a
se encontra ligado a algo como o traba-
lógica interna do machismo enquanto es-
lho, um conjunto de técnicas pelo qual
trutura ideológica de representação-domi-
o corpo e o tempo dos homens se tor-
nação entre os sexos. Esta categoria é
nam tempo de trabalho e força de traba-
útil para mostrar a determinação social lho e podem ser efetivamente utilizados
das ações dos sujeitos. Isto não significa para se transformar em lucro . . . "
entretanto que em cada classe, em cada
grupo, o machismo não apresente especi- É fundamental, portanto, investigar
ficidades. Daí a necessidade de traba- a disposição da estrutura de poder deste
lhar com as semelhanças e as diferenças. sistema simbólico, o machismo. Apreen-
Uma outra categoria analítica com a der também a forma e a disposição do
qual trabalharemos é a de Estigma (4) poder masculino permeabilizando as ins-
por nós considerado como um dos meca- tâncias estruturais, bem como as possíveis
nismos instituintes dos grupos e que, se- respostas que o polo dominado pode ofe-
gundo Goffman, é um atributo profunda- recer.
mente depreciativo. Este autor salienta
que o que é preciso ver na realidade, é a Ora, sabemos que a mulher enquan-
existência de uma linguagem de relações to polo dominado assume a opressão de
e não de atributos. Um atributo que es- diferentes formas, na condição de vítima
tigmatiza alguém pode confirmar a nor- ela afirma cada vez mais sua posição
malidade de outrem. Portanto ele não é, oprimida, não assumindo a direção de
em si mesmo, nem honroso nem deson- seu próprio destino social, não se enga-
roso . . . Um estigma é então, na rea- jando numa luta pela sua própria libe-
lidade, um tipo especial de relações entre ração.
atributos e estereótipo. Em síntese, o es-
tigma é um dos mecanismos de controle
e dominação, de que a sociedade dispõe, CONCLUSÕES:
sobre os indivíduos. O estigma justifica,
portanto as principais formas de segre- Concluindo, o machismo é definido
gação que conhecemos como a segrega- como um sistema de representação-do.
ção de classe, de grupos minoritários, de minação fortemente ligado à intimidade
sexos, etc, consequentemente a manipu- sexual.
lação das relações sociais.
A tese tenta aprofundar o estudo
Estudar, portanto, os processos de do machismo, já anteriormente iniciado
estigmatização é, antes de tudo, reconhe- em uma dissertação de mestrado (1).
cer que estes processos estão subordina-
dos às relações de saber e poder, bem Em termos metodológicos procede-
como às suas determinações socais, his- se a uma Análise Institucional do machis-
tóricas e econômicas. É investigar como mo de tal modo que se possa penetrar o
se passa o processo de dominação, disci- social desde o desejo até o caráter anta-
plinarização e submissão dos indivíduos, gônico e complementar das relações his-
de seus corpos e de seu tempo. tórico-sociais desse sistema ideológico.

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Paulo, 3: 81-85, 1980.

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D R U M O N T , M . P . Some elements towards an analysis of " m a c h i s m o " . Perspec-


tivas, S ã o Paulo, 3: 81-85, 1980.

A B S T R A C T : Sociological analysis of " m a c h i s m o " , defined as a system of


domination-representation connected w i t h sexual i n t i m a c y . Structure characteriza-
t i o n of the practice of relationships between sexual agents.

UNITERMS: M a c h i s m ; ideological structure; domination-subjection.

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