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1) Os discípulos estão indo de Jerusalém para Emaús, na contramão do caminho de Jesus, confusos após sua morte.
2) Jesus se aproxima dos discípulos enquanto eles conversam sobre os acontecimentos, mostrando que Deus está presente mesmo quando ignorado.
3) Jesus escuta atentamente os discípulos falarem sobre suas frustrações e dúvidas, e os ajuda a discernir melhor o sentido da jornada de Jesus.
1) Os discípulos estão indo de Jerusalém para Emaús, na contramão do caminho de Jesus, confusos após sua morte.
2) Jesus se aproxima dos discípulos enquanto eles conversam sobre os acontecimentos, mostrando que Deus está presente mesmo quando ignorado.
3) Jesus escuta atentamente os discípulos falarem sobre suas frustrações e dúvidas, e os ajuda a discernir melhor o sentido da jornada de Jesus.
1) Os discípulos estão indo de Jerusalém para Emaús, na contramão do caminho de Jesus, confusos após sua morte.
2) Jesus se aproxima dos discípulos enquanto eles conversam sobre os acontecimentos, mostrando que Deus está presente mesmo quando ignorado.
3) Jesus escuta atentamente os discípulos falarem sobre suas frustrações e dúvidas, e os ajuda a discernir melhor o sentido da jornada de Jesus.
13-35 Em nossa estrada de Emaús Autoria do texto: Prof. Edson Fernando de Almeida
No evangelho de Lucas a palavra vai da periferia ao centro -
Nazaré/Galiléia em direção a Jerusalém. Pois no texto que é alvo da nossa reflexão, os discípulos fazem exatamente o caminho contrário. Vão de Jerusalém para Emaús. É para nós significativo e simbólico o fato dos discípulos estarem na contramão do caminho que trilhou Jesus. Periferia - Jerusalém. Tentemos extrair algum ensinamento desta contradição. Lembremos que muitos abandonaram tudo para seguir Jesus. Quantos sonhos puderam sonhar com o nazareno, quantas emoções viveram em sua companhia. Quantos planos puderam imaginar na presença daquele que trouxera um novo sentido para as suas vidas. E de repente, tudo está perdido. A cruz arrasou quaisquer que expectativas, aniquilou todos os sonhos, destruiu aquele ninho de cuidado e “cidadania” que de tão real, parecia até mentira para muitos. Repito, muitos haviam abandonado tudo para seguir Jesus… E o que vemos agora? Muitos voltam à vida anterior. Voltam ao passado de incompreensões, a uma vida sem brilho, sem horizontes; afogam-se na bebida amarga de uma vida sem a luz do amor; sem aquela presença que os transformara para sempre. Podemos dizer que, em certo sentido, na compreensão dos discípulos de Jesus não havia lugar para a cruz. Sim, não havia lugar para a cruz. Não havia lugar para as sombras, na havia lugar para a perda, não havia lugar para a dor! Não havia lugar para a morte! O relato dos caminhantes de Emaús revela, portanto, que o outro escândalo da Cruz não pôde ser superado. Atende bem para a força deste relato, próprio de Lucas. Nós que vivemos sob o clarão da ressurreição esqueçamo-nos com frequência do escândalo que foi para aquele grupo vir o corpo de Jesus de Nazaré pregado naquele madeiro maldito. A dureza que foi para aquele grupo sentir o amargo do dia seguinte sem Jesus. O relato de Lucas, portanto, é um retrato em três por quatro da contradição humana. Os doze quilômetros que vão de Jerusalém à Emaús simbolizam uma vida. Doze quilômetros que concentram toda a tragédia, toda a beleza, toda a profundidade da vida humana. Muitas perguntas, questões e intuições afloram quando nos aproximamos do texto de Lucas. Fiquemos, entretanto, com apenas uma pergunta: Onde está Deus nesta grande viagem. Onde está Deus? Deixemos que esta pergunta nos toque. E ao procurarmos uma resposta para ela no enredo dos caminhantes de Emaús, estaremos ao mesmo tempo, fincando as estacas, os alicerces para uma conversa madura sobre o tema do Aconselhamento Pastoral. O texto nos sugere três respostas a tal pergunta. E estas respostas, no meu entendimento, são o fundamento do Aconselhamento Pastoral.
Onde está Deus em nossa estrada de Emaús?
1. Jesus se aproxima de nós.
O verso 15 diz que Jesus se aproxima dos discípulos e os faz enquanto conversam. Atendem para o verbo homileo (vs 14 e 15). É bom lembrar que não estão no templo, na sinagoga, não estão nos espaços que chamaríamos religiosos. O enquanto dá ideia de cotidiano, de dia a dia. Ou seja, é no feijão co arroz de uma segunda feira, é na discussão do final do dia de um casal que se encontra depois de uma dia de fadiga, é nos afazeres ordinários do dia que Ele se aproxima. Outro detalhe, aproxima-se enquanto conversam, discutem. Aproxima- se nas trocas humanas que se dão na palavra que vai e vem, na discussão às vezes acaloradas da busca de um consenso, de uma tentativa de convencer que muitas vezes não passa de uma ilusão. Mas, a despeito de tudo, são nessas conversas, nessas trocas que se manifesta a nossa humanidade. Melhor dizendo, a nossa co-humanidade. Diz o relato que seus olhos estavam como que impedidos de o rque conhecer. Ou seja, a proximidade em si, embora fundamenta, não é tudo. É preciso algo mais, observe que a proximidade tão somente não foi suficiente para que os poros da alma dos discípulos se abrissem à luz. Seus olhos escamados pela dureza do cotidiano sem Jesus, da segunda-feira sem Deus, do pós cruz sem sabor de nada, estavam fechados para o amor daquele que ainda insistia em deles se aproximar. Onde está Deus? O texto responde: está próximo! Proximidade, contiguidade, vizinhança. É a primeira grande resposta que ao mesmo tempo é para nós a primeira grande intuição para qualquer possibilidade de estabelecemos um chão, um começo, um solo para o Aconselhamento Pastoral. Não há aconselhamento sem proximidade. Não há aconselhamento sem presença. Observe-se que não se trata de uma presença pura e simples. O texto nos fala de uma presença em meio ao conflito, uma presença não sentida, uma presença ignorada. Mas, a despeito de tudo. Presença! Um dos aspectos mais gritantes da cultura contemporânea é a realidade da ausência. Ausência dos pais na vida de suas crias; ausência do Estado na vida de seus filhos; ausência da lei na vida que parece uma luta de vale tudo; ausência de cuidado nas relações entre os seres humanos e nas relações desses com a natureza. Ausência! O texto nos fala da presença ignorada de Deus. As imagens que os discípulos e discípulas tinham a respeito de Deus certamente não comportavam a ideia de um Deus que se esvazia e se doa na cruz. Suas representações de Deus estavam longe de enxerga-li como um servo que se humilha para servir. Por isso, o ignoram. Mas, ainda assim, Jesus de Nazaré se faz presente em seu caminho. No túmulo do grande psiquiatra suíço Karl Gustav Jung está escrito: Invocado ou não, Deus sempre estará presente. Esta frase resume a força deste primeiro ensinamento que nos vem do texto dos caminhantes de Emaús. O Aconselhamento nasce, se alimenta e sobrevive desta simples e nevrálgica afirmação: não há possibilidade de ajuda sem proximidade, sem presença. Dissemos, porém, acima que a presença é apenas um primeiro passo. E agora podemos destacar uma segunda resposta sugerida pelo texto à nossa pergunta sobre a presença de Deus em nossa estrada de Emaús. Ele caminha conosco! 2. Deus caminha conosco A proximidade é fundamental, mas não é suficiente. Há em Jesus um movimento claro e límpido de achega e escuta. Jesus quer sentir a realidade através dos dois caminhantes. Por isso, o Mestre não faz nenhuma afirmação nesse primeiro momento. Faz, sim, uma pergunta: sobre o que vocês conversam enquanto caminham? Seria herético a esta altura dizermos que a Palavra de Deus se revela também na palavra das pessoas. Jesus não coloca uma pergunta retórica. Jesus não faz de conta que está perguntando quando já sabe a resposta. O que preocupa vocês? Jesus vai ao encontro da Palavra que esta guardada na profundeza dos seus seguidores e seguidoras. Repito, Jesus vai ao encontro da Palavra na palavra humana. É interessante observar que em um primeiro momento eles param. Em seguida começam a falar. E falando fazem jorrar toda a larvar de seu desespero, fazem aflorar o amargo de suas bocas, a bílis de suas desilusões. A pergunta de Jesus faz brotar toda a sua agressividade: só você não sabe o que aconteceu com Jesus de Nazaré? Falam, os discípulos falam. E falando expõe seu sistema de valores, de sentidos. Ao falar vão construindo uma narrativa que revela o estado atual de sua esperança. Seus medos aparecem, sua desesperança, sua frustração, seu insucesso. Não é incrível a pedagogia divina? Em primeiro lugar a proximidade. Em seguida, a criação de uma relação de intimidade para que a palavra possa emergir dos oceanos profundos da alma humana. Quantas lições que temos aqui, quantas intuições profundas. O Aconselhamento haverá sempre de sair e retornar às águas transparentes destas respostas à pergunta pela presença de Deus em nosso caminho de Emaús. É preciso proximidade. Mas temos que ir além: é preciso escuta. É só podem escutar aqueles e aquelas cujos ouvidos que estão vazios, ocos. Eu explico: Jesus poderia imediatamente interromper a narrativa dos caminhantes dizendo que estes estavam enganados. Observem, vocês estão equivocados. Eu estou aqui, poderia ter dito o Nazareno. Mas Jesus não o fez, simplesmente porque ao fazê-lo teria desreispeitoso e minimizado a maneira como aqueles discípulos viam o mundo ao seu redor. E se Jesus não os ouvisse radicalmente, se intervisse desrespeitando os sentimentos dos dois, não teria autoridade alguma para dizer-lhes uma palavra mais conflituosa, o que vai acontecer um pouco mais tarde. Percebam, Deus não quer nos ensinar a sentir determinadas coisas, a mudar a maneira como nossas emoções se manifestam. Deus não quer nem mesmo que levamos os acontecimentos do dia a dia segundo a sua visão. Deus se aproxima, e ao aproximar-se espera de nós que apenas expressemos nossas visões do mundo, que exteriorizemos o que se passa no nosso ser mais profundo. Deus não quer ler por nós os acontecimentos do dia. Deus espera apenas que os expressemos. Pois ao expressá-los a palavra pode nos ajudar a discerni-los com mais clareza e profundidade. Poderíamos perguntar, a esta altura, se quando nos aproximamos das pessoas no intuito de ajudá-las estamos dispostos e abertos a ouvir o que essas pessoas a tem a dizer realmente. Ou estaremos mais interessados em ensiná-los a como sentir a vida segundo a nosso entendimento. Quanto temos a aprender com a verdade de que Deus se aproxima de Deus. Ou, com outras palavras, o quanto Ele nos escuta. 3. Deus nos ajuda a discernir sobre o sentido de nossa jornada Chegamos a terceira resposta à nossa pergunta inicial onde está Deus no nosso caminho de Emaús? Deus está próximo, Deus nos acompanha (escuta) e, por último, Deus nos ajuda a discernir sobre o sentido de nosso caminho. Outro dia vi uma frase de caminhão que dizia: eu aprendo muito, mas sei pouco. Mais uma vez a sabedoria popular lança uma bonita luz n até nosso começo de percurso. Uma coisa é aprender, outra é saber. Saber dá ideia de uma experimentação, de um mergulho realidade, de um sorver, de um sentir a vida. Assim poderíamos nos referir ao efeito da presença divina em nós: nos lança na realidade fazendo senti-la em toda a sua intensidade. A primeira definição, entre muitas, que o dicionário Houaiss dá ao verbo discernir, é está: perceber claramente. Sim, é precisamente este o efeito da presença de Jesus, a esta altura, na história dos caminhantes de Emaús. Dá- lhes a possibilidade de perceberem com mais transparência os fatos como são. Em meio a confusão de sentimentos dos dois transeuntes, em meio ao seu desânimo e desolação, Jesus os confronta com a realidade. Ou seja, na pedagogia da presença divina na estrada de nossa existência há um momento que podemos chamar de momento do conforto. Desfere Jesus, neste momento, uma palavra mais dura: ó néscios e tardos de coração. Diz uma outra tradução: ó espíritos sem inteligência. Cuidado! Entendamos com paciência e sem pressa, a colocação de Jesus. Atentem para o fato de que o ressuscitado se posicionar de maneira mais contundente e confrontadora depois de um longo período de proximidade e escuta na vida daqueles caminhantes. Eu diria que no décimo segundo quilômetro Jesus os confronta com o seu presente. Reparem que frequentemente invertemos as coisas. Na pedagogia divina a palavra confrontadora, a postura mais crítica aparece como um momento subsequente ao longo caminho da proximidade e da escuta. Ou seja, há um momento que Jesus os chacoalha, os sacode. E, poderíamos dizer, que o faz com certa dureza. Há momentos em que a escuridão humana é tão grande, que as escamas do cotidiano cerram de tal sorte o entendimento humano, que é preciso um tratamento mais duro. Trata- se daquele momento em que o esparadrapo está sendo tirado e a casca da ferida começa a ser revolvida. Entretanto, observem que este é praticamente o último momento da presença de Jesus na vida daqueles peregrinos. O confronto, a palavra dura, o posicionamento mais crítico, só tem sentido quando nascidos do chão da solidariedade e do amor. Se assim não for, a palavra mais crítica terá um efeito contrário. Produzirá mais endurecimento e revolta. Estamos, então, frente ao terceiro elemento fundamental do processo do aconselhamento pastoral: ajudar as pessoas a discernir com mais clareza e transparência sobre o sentido de sua caminhada. O mais curioso, entretanto, deste rico relato, é que nem ao serem confrontados pela palavra de Jesus os olhos dos caminhantes se abrem. Eles só serão abertos quando da ameaça de Jesus em partir. Aí então a luz finalmente brilha em seus olhos, que se abrem enquanto partem o pão com Jesus. Vejam, quando comem o pão. Cum panis, quando a cumplicidade atinge seu momento mais forte. O verso 33 diz que os discípulos se levantaram. O verbo aqui é ficar em pé, acordar. Com outras palavras, os caminhantes ressuscitam. Que bela imagem da ressurreição. O ápice de um lindo processo de crescimento que começa com a proximidade divina, manifesta-se no cuidado de Jesus em escutar o compasso de nossa alma, passa pelo confronto com as raízes da nossa alienação e finalmente, revela-se na profunda cumplicidade divino- humana, manifestadas na comunhão do pão e do vinho.