Afinidades Eletivas1 Primary Care, Psychosocial Care and Complementary and Alternative Medicine: elective affinities
Charles Dalcanale Tesser Resumo
Doutor em Saúde Coletiva. Professor adjunto do Departamento de Saúde Pública, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Discutem-se afinidades eletivas entre três fenôme- Federal de Santa Catarina. nos na área da saúde: a atenção primária à saúde Endereço: Rua Douglas Seabra Levier, 228 - casa 6, Trindade, CEP (APS), a abordagem psicossocial no cuidado à Saúde 88040-410, Floria¬nópolis, SC, Brasil. E-mail: charlestesser@ccs.ufsc.br Mental e uso crescente das práticas integrativas e complementares (PIC). Apesar de suas diferenças, Islândia Maria Carvalho de Sousa eles convergem como críticas e respostas a pro- Mestre em Ciências da Saúde. Pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva,Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães da Fiocruz blemas do modelo médico hegemônico. Embora Pernambuco. regulamentados e em implantação no Sistema Único Endereço: Av. Professor Moraes Rego, s/n, Campus da UFPE Cidade de Saúde (as PIC de forma quase incipiente), tais Universitária, CEP 50.670-420, Recife, PE, Brasil fenômenos portam um caráter contra-hegemônico. E-mail: islandia@cpqam.fiocruz.br Suas concepções de objeto, de meios e de fins do tra- 1 Artigo derivado de pesquisas financiadas pelo CNPq, processo balho ou cuidado apresentam relevantes afinidades, nº. 575268/2008-5 e nº311193/2010-2. como: centramento nos sujeitos em seus contextos sociais/familiares; abordagens ampliadas e holísti- cas; valorização de saberes/práticas não-biomédicos e de múltiplas formas, vivências e técnicas de cui- dado; estímulo à auto-cura, participação ativa e empoderamento dos usuários; abordagem familiar e comunitária. Na organização das práticas e no re- lacionamento com a clientela há afinidades quanto à adequação sócio-cultural; parceria, dialogicidade e democratização das relações; trabalho territorial e construção/exploração de vínculos terapêuticos. Assinalam-se também convergências quanto aos efeitos terapêuticos e ético-políticos e discute-se o caráter relativamente desmedicalizante desses fenômenos, mais acentuado na atenção psicossocial e na procura pelas PIC. Tais afinidades significam sinergia entre os três fenômenos, ora relativamente independentes e isolados entre si. O reconheci- mento e exploração dessas afinidades pela Saúde Coletiva, pelos movimentos sociais, bem como de profissionais e gestores do SUS, podem contribuir
336 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
para qualificar a APS e a atenção em saúde mental Abstract e sua abertura para as PIC, ampliando as possibili- dades de cuidado e fortalecendo os três fenômenos This article discusses the elective affinities between tematizados. three phenomena in health: primary health care, Palavras-chave: Atenção primária à saúde; Medicina the psychosocial approach to mental health care alternativa e complementar; práticas integrativas and the progressive use of complementary and e complementares; Atenção psicossocial; Reforma integrative practices. Despite the differences be- psiquiátrica; Políticas Públicas de Saúde. tween the three movements, they converge in their critique and answers to problems arising from the hegemonic biomedical care. Although regulated and under implementation in the National Health Sys- tem (the complementary and integrative practices still in an incipient form), these phenomena bear a counter-hegemonic character. Their concepts of object, means and objectives of work or care have relevant affinities, such as focus on the subjects in their social contexts/family; extended and holistic approaches; appreciation of non-biomedical know- ledge / practices and of manytypes, experiences and techniques of care; encouragement of self-healing, active participation and empowerment; family and community approach. In their organization of practices and relationship with customers there are affinities regarding: socio-cultural appropriate- ness; partnership, dialogue and democratization of relationships; territory-based work and stimulus to the establishment and use of therapeutic bondage. The convergences regarding their therapeutic and ethical-political effects are highlighted, and we discuss the relatively de-medicalizing character of these phenomena, more pronounced in psycho- social care and the search for integrative practice. Such affinities mean synergy between the three phenomena, up to now relatively independent and isolated from each other. The recognition and ex- ploitation of these affinities by Collective Health theoreticians, by social movements and also health professionals and National Health System manage- ment can help to improve primary health and mental health care and to open it to the complementary and integrative practices, expanding the possibilities of care and strengthening the three phenomena. Keywords: Primary Health Care; Alternative and Complementary Medicine; Complementary and Integrative Practices; Psychosocial Care; Mental Health Reform; Public Health Policies.
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 337
Introdução 2006a), como um incompleto movimento institu- cional e prática cuidadora que almeja estruturar a A expressão “afinidades eletivas” foi usada por Max rede de serviços e práticas de cuidado comunitário Weber (1994) no clássico A ética protestante e o espí- clínico-sanitário do Sistema Único de Saúde (SUS), rito do capitalismo para dar um toque de sutileza às modelada pela Estratégia Saúde da Família (ESF) associações entre uma doutrina religiosa (o protes- (Brasil, 2006a); 2 - a atenção psicossocial, entendida tantismo) e um sistema econômico (o capitalismo). como referencial ético-teórico-político do movimen- A expressão permite escapar do estabelecimento to da Reforma Psiquiátrica brasileira e como modo de laços causais em proveito da atenção às resso- prático de cuidado em saúde mental (Costa-Rosa, nâncias mútuas entre orientações de pensamento 2000), também em construção sócio-institucional; e de conduta que percorrem cada qual seu caminho 3 - as medicinas, práticas e terapias complementa- (Paula, 2005). res, designadas na literatura internacional como Löwy (1989) dissecou as afinidades eletivas em medicinas alternativas e complementares (MAC) quatro níveis de significações. O primeiro designa e no Sistema Único de Saúde (SUS) como práticas a idéia de afinidade e certa correspondência. O se- integrativas e complementares (PIC) (Brasil, 2006b): gundo remete ao sentido de “eleição”, em que dois um movimento social difuso e sustentado de procura elementos, forças ou fenômenos se atraem recipro- por modos não biomédicos de interpretação/ação em camente, conduzindo a certas formas de interação. O saúde-doença (NCCAM, 2008). terceiro significado é de “articulação”, que apresenta Esses fenômenos têm se desenvolvido na socie- diferentes modalidades de união: “simbiose cultu- dade brasileira e no SUS de maneira significativa ral”, “fusão parcial” e “fusão total”. O último nível há mais de duas décadas, com dinâmicas próprias refere-se a uma nova figuração, em que se articulam e diferenciadas, em diversos ambientes sociais e dois elementos distintos; por exemplo a constituição institucionais. Seus significados sócio-históricos, da corrente de pensamento marxista freudiana. políticos e culturais possuem aspectos comuns Uma vez favorecida por condições históricas e e distintos. A sua relevância social, cultural, tec- sociais, a “afinidade eletiva” não é ideológica, não nológica (terapêutica, preventiva, promocional) e é sinônimo de influência ou algo próximo de uma institucio¬nal apontam para sinergismo com cons- “correlação”. Trata-se de um conceito que permite trução de redes sócio-técnicas e práticas partilha- justificar processos de interação que não dependem das. Esses aspectos, em grande parte, não têm sido nem da causalidade direta, nem da relação ‘expres- explorados pela Saúde Coletiva e pelo SUS, o que siva’ entre forma e conteúdo (por exemplo, a forma justifica a investigação de suas relações. religiosa como ‘expressão’ de um conteúdo político O objetivo deste artigo é reconhecer e discutir e social). Pode constituir-se num “ângulo de aborda- afinidades eletivas entre a APS, a atenção psicos- gem novo, até aqui pouco explorado” (Löwy, 1989, p. social e as PIC. Pretendemos contribuir para a 18), porém não visa substituir outros paradigmas compreensão e possível exploração das imbrica- analíticos, explicativos e compreensivos. As afini- ções e convergências destes fenômenos. Dado os dades eletivas são, portanto, uma noção útil para limites de um artigo, não abordaremos os contextos uma abordagem que pretenda escapar à tradicional histórico-políticos de cada um deles. Priorizaremos determinação causal direta, aproximando-se de uma temas que demonstram suas afinidades eletivas, percepção dinâmica e dialógica das mútuas influ- caracterizados por meio das práticas e saberes en- ências e/ou confluências entre diferentes idéias, volvidos, organizando-os como propõe Costa-Rosa movimentos ou outros fenômenos sociais. (2000) ao tratar do modo psicossocial de cuidado em A hipótese desenvolvida neste ensaio é que exis- saúde mental, que adaptamos para nossa discussão. tem várias afinidades eletivas entre três fenômenos Assim, as afinidades eletivas entre a atenção psi- contemporâneos sociais e institucionais no campo cossocial, a APS e as PIC serão discutidas quanto da saúde brasileira: 1 - a atenção primária à saúde à: 1) sua característica questionadora ou crítica; 2) (APS), também chamada de atenção básica (Brasil, seu caráter contra-hegemônico; suas concepções
338 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
de 3) objeto de trabalho, de 4) meios de trabalho e e gera sedação e controle crônico de problemas, dos 5) fins do trabalho ou ação de cuidado; 6) suas sofrimentos existenciais e ou transtornos mentais formas de organização do dispositivo institucional (nos casos leves e moderados). Transformadas e e de relacionamento com a clientela; 7) seus efeitos manejadas como doenças, a loucura, o transtorno terapêuticos e éticos e, por fim, 8) seu caráter des- ou o sofrimento recebem nesse modelo tratamento medicalizante. equivalente às outras doenças, desviando da vida conflitiva e do sofrimento do sujeito no mundo (Ba- saglia, 2005; Amarante, 1996). Tal crítica realizada Críticas ao “Establishment” pela atenção psicossocial está na origem histórica, Biomédico política e epistemológica das experiências de des- A APS vincula-se inexoravelmente ao cuidado bio- monte dos manicômios e da construção de novas médico. Todavia, sua construção e legitimação nos formas de abordagem do sofrimento existencial e sistemas nacionais de saúde estão intimamente psíquico. Iniciada após a segunda guerra em paí- atreladas a uma crítica ao enfoque biologicista e ses europeus, esse movimento aprofundou-se na fragmentário da biomedicina, centrado nas doenças experiência italiana liderada por Franco Basaglia, (Luz, 2000), nas especialidades médicas e no uso inspirador do movimento da luta anti-manicomial abusivo de tecnologia dura; e à sua tendência a uma brasileira, que culminou institucionalmente com a relação verticalizada e impessoal com os usuários reforma psiquiátrica no SUS, ainda em andamento (associada ao caráter padronizado de suas interven- (Amarante e Oliveira, 2004; Oliveira e col., 2011). ções), além da crítica aos seus custos progressivos Paralelamente, são grandes as críticas dos que e insustentáveis. procuram as PIC, tanto de pacientes quanto de pro- As virtudes do cuidado na APS são vinculadas a fissionais, que as buscam para enriquecer e ampliar vários fatores: acesso rápido e universal, a intimida- suas habilidades curadoras (Barros, 2000; Queiroz, de e progressividade do conhecimento mútuo entre 2000; Levin e Jonas, 2001; OMS, 2002). Os doentes, profissionais e usuários, a coordenação do cuidado em populações envelhecidas ou envelhecendo, com e a perspectiva do cuidado ampliado. Isso permite maior prevalência de doenças crônicas, referem um deslocamento para as questões de qualidade de fundamentalmente dois tipos de frustrações e ques- vida, parceria, promoção da saúde e recomposição de tionamentos na sua relação com a biomedicina: na uma harmonia entre saber profissional e leigo. Como relação com os profissionais e com as intervenções fruto dessa crítica, das experiências dos médicos realizadas. da APS e de proposições teóricas correspondentes, Sobre as relações, os pacientes não se sentem autores como McWhinney (2010) vislumbram o nas- acolhidos e ouvidos pelos profissionais e frequente- cimento de outro paradigma para a biomedicina na mente se desentendem com eles sobre a natureza dos APS. Tal paradigma, em construção, está em sintonia seus problemas (Caprara e Franco, 1999; Starfield e com o ideário do SUS para a APS, via ESF: integrali- col., 1981; Stewart e col,, 1979). Há uma insatisfação dade, equidade, universalidade, intersetorialidade, difusa e crescente com a abordagem caracterizada integração entre prevenção (de doenças), promoção como mecanicista, intervencionista, restrita aos (da saúde) e cuidado longitudinal da coorte de pes- sintomas e progressivamente mais impessoal, de- soas adscritas às equipes de saúde da família (SF), dicando pouco tempo ao paciente (Andrade, 2006). com qualidade e imersão sociocultural. A interposição maciça de tecnologias duras (de Por sua vez, a atenção psicossocial nasceu da diagnose) no relacionamento também contribuiu crítica à exclusão social, à violência, à estigmatiza- para o resfriamento dessas relações na biomedici- ção, à medicalização, à cronificação dos sofrimentos na (Luz, 2000). Quanto às intervenções, a procura e à normalização dos comporta¬mentos presentes das PIC foi associada aos limites interpretativos na abordagem psiquiátrica-mani¬comial. Essa abor- e tecnológicos biomédicos e às suas iatrogenias, dagem alimenta o preconceito da periculosidade acirradas com o uso crônico de medicamentos e e incapacidade do louco (extremo de gravidade) o intervencionismo da biomedicina, centra¬da na
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 339
heteronomia e no controle (Tesser, 2009a,b; 2010a). a ser realizado pela APS. Tudo isso está muito longe A criação relativamente recente do conceito de pre- de ser realidade vigente e generalizada no Brasil. venção quaternária (Norman e Tesser, 2009) pelos A longitudinalidade é muito rara, prejudicada pela médicos de família e comunidade europeus é um alta rotatividade dos profissionais. A interdiscipli- exemplo dessa preocupação autocrítica dentro da naridade pouco ocorre pela herança do trabalho APS com a iatrogenia. A presença social das PIC hierárquico e monodisciplinar. A qualidade do cui- como possibilidade de abordagem dos problemas dado (especialmente médico) é precária, pois não se de saúde-doença carrega o significado de outra via exige formação especializada para este trabalho. A possível de cuidado, que pode ser complementar ou coordenação do cuidado quase inexiste, resume-se mesmo preferível em muitos casos que a via biomé- aos encaminhamentos ou referências, embora haja dica (Tesser, 2010b). experiências iniciais com novas tecnologias e ar- As críticas acima sintetizadas, embora se inscre ranjos organizacionais, como os matriciamentos e vam em processos sociais complexos relativamente os Núcleos de Apoio à Saúde da Família. distintos, têm um substrato comum de questio- Grande parcela da população não é assistida pela namento dos modos hegemônicos biomédicos de APS ou pela ESF. A Pesquisa Nacional de Amostra- cuidado e de procura de superação dos seus pro- gem por Domicílio (PNAD) de 2008 apontou que blemas. Com efeito, delineiam um pano de fundo e apenas cerca de 65% da população utiliza regular- uma direção convergente para os três fenômenos mente serviços de APS (Campos, 2010), e os dados considerados, conformando uma primeira afinida- governamentais mostram que em novembro/2011 de eletiva entre eles, entendida no primeiro nível somente 53,52% da população era coberta pela ESF de significação de Löwy (1989): elas mostram uma (Brasil,2011). A APS/ESF enfrenta dificuldades de forte convergência e afinidade, incluindo certa financiamento e não raro há longa filas de pessoas correspondência, entre os mesmos, ainda que sua aguardando apoio diagnóstico, avaliações e trata- história esteja se dando na maior parte em paralelo mentos especializados. A tradição dos serviços e a e com pouca articulação entre si. formação dos profissionais da APS ainda tende ao tecnicismo, burocracia e rigidez nos processos de trabalho, desaguando em desumanização do cuidado Caráter Contra-hegemônico e dificuldade de acesso rápido (poucos dias) ao cui- Na área da saúde há hegemonias associadas ao dado longitudinal, rapidez que não está viabilizada chamado complexo médico-hospitalar e a um con- nem dispõe de mecanismos claros para sua garan- junto ideológico e de práticas sociais associado ao tia, mesmo onde a ESF está implantada com alta que Menendez (2010) chamou de modelo médico cobertura. Além disso, as classes “média” e “média hegemônico. Esta hegemonia apresenta viés corpo- alta” pouco a utilizam ou valorizam, incluindo os rativista, mercantilista e biologicista, envolvendo gestores, profissionais de saúde e os intelectuais uma perspectiva filosófica positivista e práticas de da Saúde Coletiva (Tesser e col., 2011). Assim, apesar tendência autoritária, controladora e medicalizante do sucesso relativo da expansão da ESF, a APS/ESF (Tesser, 2009b, 2010a). A APS, a atenção psicosso- continua contra-hegemônica. cial e as PIC diferenciam-se em certa medida desse Por sua vez, a atenção psicossocial é nitidamente conjunto. uma proposta política e uma prática assistencial A ESF almejou constituir-se como eixo estru- contra-hegemônica (Amarante, 1996; Oliveira e col., turante do cuidado no SUS (Brasil, 2006a). Isso 2011; Rotelli e col., 1990; Basaglia, 2005). Apesar implica em reorganizar e estabelecer prioridades da conquista das leis da reforma psiquiátrica e de formação com qualidade para os profissionais, dos serviços substitutivos, a observação e vivência descentralizá-los e fixá-los pelo país, garantir fi- do cotidiano dos profissionais do SUS indicam a nanciamento adequado, prover apoio diagnóstico existência abundante da perspectiva medicalizan- e cuidado terapêutico universal, de modo coerente te no cuidado (Tesser, 2010a). As ações persistem com a longitudinalidade e a coordenação de cuidado centradas nas doenças (ou transtornos mentais), na
340 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
terapêutica medicamentosa (que cumpre o papel de são contra-hegemônicos. São dirigidos à reforma, contenção e normalização dos comportamentos) e reorganização e substituição total ou parcial de na ação médico-centrada, com evidentes conseqü- práticas profissionais e institucionais arraigadas ências de heteronomia crônica para os sofrimentos (caso da APS e atenção psicossocial), ou fruto da existenciais e psíquicos. Pesquisas em serviços de necessidade dessa mudança. Vale destacar que saúde mental do SUS vem mostrando a convivência a substitutividade potencial nos três casos têm do modo biomédico e do modo psicossocial no cuida- significados distintos. No caso da APS, a substi- do, com presença maior das práticas terapêuticas do tutividade se quer total no sentido de que ela deve primeiro modo (medicamentosas) (Quinderé e col., ser o eixo estruturante do SUS, a principal porta 2010; Campos e col., 2011). As práticas profissionais de entrada do Sistema, executora e coordenadora e as representações sociais da população continuam do cuidado biomédico com função filtro (Gérvas e dominadas pela abordagem biomédica-psiquiátrica, Pérez Fernandez, 2005), resolvendo cerca de 90% inclusive na APS/ESF e talvez nos serviços de saúde dos problemas de saúde dos usuários. Mesmo assim, mental, de modo que a atenção psicossocial pode na APS a referência epistemológica básica continua ser considerada contra-hegemônica (Oliveira e col., sendo a biomedicina, conferindo a ela um caráter de 2011). reforma e reorganização importantes do cuidado Embora a Política Nacional de Práticas Integrati- biomédico. Já na atenção psicossocial a substitutivi- vas e Complementares (PNPIC) (Brasil, 2006b) tenha dade é total. Nela se almeja incorporar como apenas incentivado algum crescimento das PIC no SUS, é mais um recurso o que é considerado na biomedi- evidente sua marginalidade institucional. Em que cina o grosso do saber e terapêutica válidos para o pese: a) as PIC expandirem-se no mercado privado cuidado: o saber psiquiátrico e suas terapêuticas dos países desenvolvidos (Eisenberg e col., 1993); b) centradas nos psicotrópicos. Assim, as referências haver lenta absorção e estudo de algumas de suas epistemológicas e técnicas na atenção psicossocial técnicas pela biomedicina; c) haver recomendação são plurais e envolvem um agregado de valores (ci- da Organização Mundial da Saúde para sua explo- dadania, solidariedade, inclusão, respeito, crítica ração e legitimação desde 1978 com Alma-Ata; d) a social, liberdade etc), saberes, técnicas, práticas e iatrogenia da biomedicina ter adquirido relevância filosofias de cuidado de várias profissões e ativida- social e epidemiológica (Starfield, 2000) e ser aos des, com perspectivas de transformação profunda poucos percebida pelos vários grupos sociais; e) e do cuidado, da cultura e da sociedade (Costa-Rosa, a população procurar e valorizar em nítido sincre- 2000). No caso das PIC, a substituvidade é parcial tismo as abordagens e cuidados complementares e consagrada como complementar, uma vez que os particularmente nas situações crônicas (Andrade, seus praticantes e usuários não almejam substituir 2006), com certa evitação dos cuidados quimiote- a biomedicina, a qual se mantém como recurso para rápicos em muitas dessas situações, é mister reco- certas situações, especialmente as de maior “gravi- nhecer que as PIC respondem por uma parcela muito dade biológica”. pequena, quase incipiente, do cuidado no SUS e na Há uma nuance política relevante sobre que tipo APS/ESF. Parcela que é dependente de protagonis- de cuidado deveria deter a hegemonia cultural e mos individuais de seus praticantes quando estes social, ou se uma hegemonia é desejável, particu- são profissionais do SUS e insistem em praticá-las larmente na APS/ESF. Do ponto de vista biomédico, (Salles, 2008). O caráter contra-hegemônico das PIC as PIC tendem a entrar como técnicas adaptadas à mostra-se ao diversificarem as referências de saber cultura e ao proceder biomédicos, enriquecendo seu e as técnicas autônomas e heterônomas de cuidado potencial terapêutico (por exemplo, a acupuntura), de si e dos outros, constituindo-se em possibilidade mas subalternas e amplamente minoritárias. Por de cuidado para grande parte das situações comuns outro lado, há uma perspectiva na qual as PIC podem de adoecimento, típicas da APS (Tesser, 2010b). ser substitutivas à biomedicina para grande parte Assim, de um ponto de vista político gramscia- dos cuidados comunitários em saúde. Esta última vi- no (Gramsci, 1986), os três fenômenos no Brasil são assenta-se em várias razões, como as PIC terem
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 341
baixo custo (no computo geral), serem culturalmente abordagem, exercitando uma visão empirista e feno- adequadas, facilitarem uma melhor relação com as menológica: “não existem doenças senão doentes. A pessoas e uma visão mais holística dos adoecimen- saúde e a doença não são conceitos biológicos, antes tos, estimularem mecanismos naturais de cura e estados flutuantes mal definidos, com um enorme reequilíbrio e serem satisfatoriamente efetivas e componente cultural e pessoal [...]. As doenças, “pré- de baixo risco, na empiria de seus praticantes e doenças” e os fatores de risco não existem como tais, usuários (Levin e Jonas, 2001; Andrade, 2006; Tesser senão como fenômenos variáveis e pouco definidos, e Barros, 2008). observáveis nos pacientes como indivíduos únicos” O caráter contra-hegemônico comum pode ser (Gérvas, 2008, p.2-3). Esses profissionais tentam considerado uma afinidade eletiva do primeiro nível construir outro modo de cuidado, centrado nas de significação de Löwy (1989), mas também, em pessoas em suas situações de vida, inclusive com certa medida, do segundo nível, denotando certa novas metodologias clínicas, como o Método Clínico atração e interação mútua, como constatamos em Centrado na Pessoa (Stewart e col., 2010). Esforços pesquisa recente (Sousa e col., 2010). Porém, ela é brasileiros nessa direção são a discussão sobre clíni- delicada e sutil, ao mesmo tempo que valiosa, pois ca ampliada (Cunha, 2005; Campos, 2003), humani- conecta redes simbólicas, saberes distintos, práticas zação do cuidado e integralidade no SUS. Herdeiros de cuidado e propostas institucionais inseridas nos e construtores de uma tradição quase inexistente três fenômenos, os quais, isoladamente, têm tido no Brasil, tais médicos da APS transformaram-na poder restrito frente a forças hegemônicas no setor em especialidade médica (Medicina de Família e saúde no Brasil. Comunidade) e esforço semelhante estende-se em algum grau às equipes de saúde da família. A centralidade do sujeito em relação é caracte- Concepções de Objeto de Trabalho rística da atenção psicossocial e também uma das As afinidades eletivas entre a APS, a atenção psicos- características atribuídas às PIC, particularmente social e as PIC no que tange às suas concepções de às racionalidades médicas vitalistas. Estas últimas objeto de trabalho são intensas e facilmente reco- integram o homem e natureza numa perspectiva de nhecíveis. Para todas, o objeto de trabalho centra-se macro e microuniversos, postulam a integralidade na pessoa, é a partir do indivíduo em seu contexto do sujeito como constituída de dimensões psico- que são elaboradas os cuidados. biológica, social e espiritual e consideram a doença A APS deve prover cuidado acessível, universal, como fruto da ruptura de um equilíbrio interno e longitudinal e integral, com enfoque familiar e co- relacional ao mesmo tempo (Tesser e Luz, 2008; munitário, integrando ações de cuidado, prevenção Luz, 2000). e promoção, elementos que também são convergen- Como no tópico anterior, e talvez mais fortemen- tes com atenção psicossocial e atribuídos às PIC. te, as concepções de objeto de trabalho ou cuidado Todavia, pode-se dizer que essa concepção é comum nos fenômenos em questão aproximam-se com à biomedicina, inclusive às especialidades médicas afinidades, correspondências e razoáveis atrações e à psiquiatria. Essa afirmação deve ser analisada e interações, o que é demonstrado pelo fato da maior em termos de suas contradições entre discurso e parte (70%) das PIC no SUS localizarem-se na APS ação. Devemos reconhecer que apesar do discurso (Brasil, 2006b) e, internacionalmente, a APS ser a homogêneo quanto ao objeto, a cientificização e principal “porta de entrada” das PIC nos Sistemas institucionalização da biomedicina converteu as Nacionais de Saúde (McWhinney, 2010). doenças (ou transtornos) em seu objeto principal (Luz, 2000), gerando uma visão ontológica dos adoe- cimentos (e dos riscos) e mecanicista do ser humano Concepção dos Meios de Trabalho (Camargo Jr., 2003). Ao examinarmos as concepções sobre os meios de Já os praticantes mais qualificados da APS, em- trabalho e os próprios meios na APS, na atenção bora afiliados à biomedicina, distanciam-se desta psicossocial e nas PIC as afinidades são menos
342 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
evidentes, dada sua heterogeneidade, mas estão outros meios e ações promotores e terapêuticos po- presentes. O modo psicossocial considera os fatores pulares, de medicinas tradicionais e, recentemente, políticos e determinantes biopsicossocioculturais de das PIC. Todavia, deve-se reconhecer a hegemonia modo específico na gênese e no tratamento do sofri- de saberes biomédicos (centrados nas doenças) e mento. A ênfase é dada à situação ou problemática tecnologias duras de cuidado, notadamente a farma- singular com que se trabalha. Os meios considerados coterapia, os exames complementares e outras tec- para o trabalho terapêutico incluirão, conforme o nologias preventivas (imunização, rastreamentos) caso, psicoterapias, socioterapias, laborterapias e curativas (cirurgias). No cuidado à saúde mental, e um conjunto de dispositivos de reintegração so- isso se desdobra em estreitamento dos meios de ciocultural, além da medicação quando necessária. trabalho (farmacoterapia e certas psicoterapias), Como dá ênfase à pertinência do sujeito a um grupo reduzindo o sofrimento psíquico a transtornos familiar e social, há também trabalho voltado para manejados como doenças. Também os saberes/téc- essa rede social considerando-a como agentes de nicas populares leigos ou especializados (curadores mudança, assim como o indivíduo em sofrimento populares) e os recursos da cultura dos usuários (Costa-Rosa, 2000). parecem ser amplamente subutilizados na APS/ Isso implica em atividades múltiplas contextua- ESF. Apesar disso, a APS e especialmente ESF, com lizadas em função das singularidades dos problemas sua longitudinalidade, imersão territorial e cultural, dos sujeitos e suas situações familiares, culturais facilitam o trabalho sobre as relações familiares e e sociais. Trata-se de um cuidado ampliado para sociais, a exploração dos vínculos terapêuticos e o problemas cujas determinações originárias são uso de recursos comunitários de vários tipos. Isso complexas e, portanto, a abordagem é essencialmen- constitui uma afinidade forte e importante com as te multiprofisisonal (Amarante, 1996). Oficinas de PIC e a atenção psicossocial. vários tipos, cursos, práticas artesanais e laborais, Várias PIC são medicinas tradicionais e seus meios teatro, arte, música, práticas corporais, esportes, de cuidado são tipicamente fortalecedores do poder de grupos terapêuticos ou (psico)terapias para pacien- autocura (Levin e Jonas, 2001), sendo reconhecidas, no tes e familiares, grupos de auto-ajuda, cursos pro- geral, por uma boa relação terapeuta-paciente e pela fissionalizantes e mesmo atividades profissionais busca da reconstrução mais harmônica das relações ganham tanto ou mais ênfase que a medicação psico- dos sujeitos consigo, seu ambiente natural e social, trópica, também usada. Essas atividades são meios o que é praticamente a mesma filosofia e concepção de expressão e elaboração de sofrimentos e desejos, de meios de trabalho da atenção psicossocial. Os reelaboração de subjetividades e novas experiências meios de trabalho nas PIC modificam-se conforme a dos usuários (Costa-Rosa, 2000). Nelas se fundem prática ou racionalidade médica, destacando-se o uso terapêutica, prevenção e promoção da saúde. de plantas medicinais, práticas corporais, “energéti- A APS, por sua vez, afiliada a biomedicina, con- cas”, espirituais, terapias psico-físicas e psicológicas, cebe seus meios de trabalho como as tecnologias além de outros recursos (acupuntura, medicamentos científicas e sustentáveis em termos culturais, homeopáticos, etc). éticos e sanitários apropriados ao cuidado profis- Portanto, quanto às concepções sobre os meios sional comunitário. Nessa lógica, essas tecnologias de trabalho e quanto aos próprios meios há conver- permitem resolubilidade, segurança e adequação gência e afinidades gerais fortes entre as PIC e a voltadas tanto para o cuidado (terapêutica) quanto atenção psicossocial, e em razoável medida delas para a prevenção de doenças e promoção da saúde. com a APS. Esta última converge de forma mais Isso implica em forte inversão da ênfase tecnológica tênue com as outras, devido a sua tendência de e de tecnologias duras (dominantes na biomedicina) reduzir os sofrimentos a “transtornos”. As hetero- para tecnologias leves e leve-duras (Merhy, 2002) geneidades culturais, epistemológicas e técnicas e trabalho interdisciplinar, aproximando a APS entre os três fenômenos são facilmente percebidas da atenção psicossocial. A proposta de adequação ao compararmos suas concepções sobre os meios de cultural e tecnológica na APS também é aberta para trabalho, mas isso não anula suas afinidades, senão
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 343
que ressalta o grande potencial de contribuições que significativas. Isso não é um pormenor, já que os a APS, as PIC e a atenção psicossocial têm umas para meios detêm significativo poder de influenciar os com as outras. fins e as discrepâncias ou inversões entre meios e fins são típicas da modernidade e comuns nos saberes institucionalizados. Isso põe em relevância Concepção dos Fins o desafio de pluralizar na APS/ESF os meios de tra- Em relação aos fins, todos os três fenômenos assu- balho, particularmente a hegemonia interpretativa mem o cuidado e a cura (quando possível) de modo psiquiátrica recente (via manuais tipo CID 10 e DSM- abrangente, bem como, a prevenção de adoecimentos IV) associada ao uso maciço de psicotrópicos como e a promoção da saúde. A atenção psicossocial vis- principal e comumente única forma de tratamento lumbra seus fins de modo mais amplo, uma vez que em saúde mental. explicitamente almeja uma reforma social e cultural (Rotelli e col., 1990; Amarante, 1996). Debruça-se sobre os aspectos individuais, sociais, culturais e Formas de Organização e de relacionais dos sofrimentos “mentais”, enfatizando Relacionamento com a Clientela seu compromisso com a liberdade, a cidadania e a A forma de organização das práticas da APS ten- inclusão das diferenças. dem a assemelhar-se às práticas hegemônicas da Com sentido convergente, a procura pelas PIC biomedicina, centradas em atendimentos médicos parece indicar o mesmo caminho, sendo considerada e de enfermagem. No Brasil e especialmente na ESF, sintoma de mudanças culturais profundas (Souza e isso é contrabalançado pelas visitas domiciliares e Luz, 2009). As PIC são caracterizadas no geral como pela presença de outros profissionais, especialmente portadoras de uma visão holística, destacando-se a Agentes Comunitários de Saúde (ACS), e recente- participação dos doentes, a parceria no cuidado e mente de outras profissões, por meio dos Núcleos de a mobilização dos poderes de cura dos indivíduos, Apoio à Saúde da Família (NASF). Todavia, a forma como mencionado acima. quase arquetípica de relação curador-doente tende Analogamente à consideração realizada no tópi- a permanecer na APS algo burocratizada, devido co sobre os objetos de trabalho, a biomedicina, como à institucionalização da hegemonia biomédica no racionalidade médica hegemônica na APS, tende a cuidado e na cultura organizacional. operar um deslocamento (nunca assumido) de fins: Essa relação fundamental curador-doente é tam- da cura/cuidado de pessoas/comunidades para a bém mantida nas PIC, que por sua vez pode envolver cura/prevenção/controle de doenças (transtornos) e várias práticas comunitárias e individuais de promo- comportamentos. Porém, em seu relativo distancia- ção à saúde (Tesser, 2009a), as quais transcendem a mento crítico da biomedicina, a APS e especialmente relação de cura das consultas. As PIC podem ou não a ESF no Brasil, com longitudinalidade, prática estar institucionalizadas ou profissionalizadas, ou qualificada de medicina de família e comunidade, praticadas por um curador não profissionalizado, ha- trabalho interdisciplinar e territorial, encontra-se vendo uma multiplicidade de formas de organização em posição privilegiada e com a missão explícita de das práticas. Quando incorporadas pela biomedicina evitar esse deslocamento (McWhinney, 2010; Brasil (homeopatia e acupuntura, por exemplo), tendem a 2006a). O progressivo conhecimento pessoal e de centrar-se em atendimentos individuais. contexto envolvido na atenção longitudinal exercida As formas de organização da atenção psicos- na ESF permite a singularização do cuidado, com social tendem a ser interprofissionais (médicos, abordagem familiar e comunitária, aproximando-a profissionais “psi”, artistas, oficineiros, artesãos, da atenção psicossocial e das PIC. acompanhantes terapêuticos) em uma rede de As afinidades eletivas quanto aos fins da ação apoio psicossocial institucionalizada ou não, com terapêutica parecem mais evidentes do que quanto várias formas de atuação individual, de grupo e co- aos meios (quando a complementaridade parece ser munitária. Como a proposta é desinstitucionalizar mais saliente) e as diferenciações aqui são menos e desmedicalizar o sofrimento, há nítido esforço
344 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
em redirecionar os tratamentos e experiências e a atenção psicossocial, em que o empoderamento terapêuticas de modo a gerar oportunidades de vi- psicológico e comunitário ou social (Carvalho e vência socializadora e reconstrutora de identidades Gastaldo, 2008) e a co-responsabilização por múl- e de relações intersubjetivas e sociais saudáveis. O tiplas iniciativas terapêuticas e coerentes com as escopo da organização das ações é mais complexo situações existenciais dos usuários são resultados e envolve intersetorialidade e construção de redes terapêuticos e sociais perseguidos. Essa concep- de apoio psicossocial. ção é praticamente a mesma defendida pelo SUS Assim, as afinidades eletivas estão presentes e pela saúde coletiva para a APS/ESF, assim como como forças potenciais de complementaridade e pelas referências teóricas da Medicina de Família convergência entre as formas de ação, já que os e Comunidade. Todavia, a realidade das práticas serviços de APS estão mergulhados na comunidade profissionais na APS/ESF tende ainda a reproduzir e no território existencial dos usuários, sendo a o paradigma tecnocrático hegemônico, assim como sinergia potencial dos três movimentos evidente. nos serviços de saúde mental. Todavia, o domínio biomédico no SUS e na APS/ As PIC, por sua vez, na sua multiplicidade e ESF, cuja tradição é coerente com várias caracte- conforme seu contexto e valores de origem (particu- rísticas da sociedade brasileira, sustenta formas larmente nas racionalidades médicas tradicionais) de organização institucional hierarquizadas e com tendem a ser humildes quanto aos efeitos terapêu- poder centralizado. A APS/ESF não tem conseguido ticos, centradas em relações de cuidado que visam fugir a esta regra geral. Mas experiências pioneiras à melhora da pessoa, incentivando e facilitando o de construção do SUS e da APS/ESF apontam para auto-cuidado (Tesser, 2009a). Neste sentido, a inser- modos participativos de organização e administra- ção das PIC na ESF alinha-se à ampliação do cuidado, ção, reformadores das formas autoritárias de gestão reconhecendo o pluralismo terapêutico presente na dos serviços e de relação com a clientela, inclusive realidade brasileira, no qual convivem diferentes com elaboração teórico-metodológica voltada para sistemas e práticas de cura, crenças e itinerários a sustentação de práticas de gestão democráticas terapêuticos (Andrade e Costa, 2010). nas instituições (Campos, 2000, 2003). Isso teve Quanto aos efeitos ético-políticos e terapêuticos, repercussão institucional, com diretrizes oficiais as potencialidades de enriquecimento mútuo deriva- a respeito na Política Nacional de Humanização das das afinidades discutidas até aqui entre os três do SUS. fenômenos são promissoras. Dependem, porém, da As PIC e a atenção psicossocial almejam trans- capacidade de abertura entre os movimentos para cender a relação de passividade do doente ou usuário, aprofundar seu desenvolvimento e suas vocações, reconstruir relações de parceria solidária e corres- além de se consolidarem no SUS. Embora a APS/ESF ponsabilização, além de intenso vínculo emocional possa ser “recheada” com valores, práticas e projetos (fundador das relações de cura e ajuda em geral). A ético-políticos convergentes com a solidariedade, a presença de uma abordagem ampliada e holística emancipação e a democracia, como defendidas pelos na APS/ESF e nos serviços de Saúde Mental ainda movimentos e ideários da visão ampla e abrangente é rara, mas recentes pesquisas apontam abertura da APS, da promoção da saúde (internacionalmente) progressiva e interesse dos profissionais da ESF e da reforma sanitária brasileira, esses elementos pelas PIC (S.Thiago e Tesser, 2011), o que reforça as fundadores da convergência ético-política entre os afinidades eletivas e a fertilidade da aproximação três fenômenos nos parecem ser apenas potenciais dos três fenômenos. e em tensa e difícil construção na APS/ESF. Nesse sentido, talvez apenas o futuro da APS/ESF e do cuidado em Saúde Mental no SUS (bem como da Efeitos Terapêuticos e Ético-políticos procura crescente das PIC e outras racionalidades Quanto aos efeitos terapêuticos e ético-políticos, o médicas) conseguirá mostrar o quanto de conver- modo psicossocial difere fortemente do modelo bio- gência, atração e afinidades entre esses fenômenos médico. Neste aspecto, há convergência entre as PIC será desenvolvido e concretizado, aproximando-os
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 345
em uma implantação mais consistente e bem esta- terapêuticos dentre outros, com uma visão pragmá- belecida dos mesmos no SUS. tica e criteriosamente eclética, que pode e deve ser incorporada pela APS/ESF, de modo a manter aberto as possibilidades de interpretação e ação. Caráter Desmedicalizante A busca pelas PIC é uma aliada natural nesse ca- A medicalização social merece ser tematizada devi- ráter desmedicalizante, ainda que de forma limitada do à importância que tem para a APS e a Saúde Men- (Tesser e Barros, 2008), particularmente quanto às tal, tanto pela sua intensidade quanto pelas novas outras racionalidades médicas presentes no Brasil formas que vem adquirindo, abrangendo inclusive as e aos saberes e práticas populares (uso de plantas PIC (Tesser e Barros, 2008). A medicalização trans- medicinais, etc.). Ela pode ser considerada, além forma sofrimentos e vivências que antes eram admi- de um sinal de resistência de formas heterogêneas nistrados autonomamente em problemas médicos, de cuidado presentes socialmente ao avanço mono- doenças ou transtornos (Tesser, 2010a). Ela invadiu polizador biomédico (Tesser, 2010a), uma reação também a prevenção de doenças, através da adoção social às mazelas medicalizantes da biomedicina e maciça da estratégia de alto risco (Rose, 2010), com um sinal dos múltiplos sentidos e significados que o manejo dos riscos como se fossem doenças e com a sociedade contemporânea ainda comporta para grande fração do cuidado biomédico voltando-se as questões da saúde-doença. Uma melhor relação para o controle dos riscos nos indivíduos (Starfield curador-doente, a mobilização das forças de autocu- e col., 2008). Isso gerou um boom de procedimentos ra, a busca de participação ativa do usuário e uma preventivos na biomedicina, na saúde pública e, significação mais holística para os adoecimentos assim, também na APS/ESF. (Andrade, 2006; Levin e Jonas, 2001; Tesser e Luz, A ESF significou um avanço com relação à medi- 2008) são virtudes já mencionadas de tendência calização, associado ao início do fomento da longitu- desmedicalizante atribuídas às PIC. dinalidade por ela instaurado. A longitudinalidade Assim, o caráter desmedicalizante é outra afi- facilita o conhecimento mútuo progressivo entre nidade e convergência forte entre as PIC e atenção profissionais e população adscrita, e assim o traba- psicossocial e destas para com a APS, particular- lho interdisciplinar, a adequação cultural e social mente na ESF, ainda que nesta última esse aspecto (auxiliada pelos ACS) e o reconhecimento dos limites seja amplamente menos desenvolvido e um tanto e tendências medicalizantes da abordagem, do saber apenas potencial, com múltiplas dificuldades de ser e das tecnologias biomédicas. A isso vêm se agregar aprofundado e concretizado, dado sua vinculação a discussão e prática do conceito de prevenção qua- com a biomedicina e as forças sociais e ideológicas ternária (Norman e Tesser, 2009), especificamente hegemônicas, que nela embutem efeitos biopolíticos desenvolvido para prevenir e evitar a medicalização e ético-políticos fortemente medicalizantes. excessiva e a iatrogenia tanto no cuidado ao adoeci- mento e sofrimento quanto na prevenção. Além disso, em relação ao cuidado médico espe- Considerações Finais cializado, a ESF pode ser considerada menos medica- Ensaiamos uma primeira e sintética análise de três lizante. Desse modo, embora isso seja uma realidade fenômenos contemporâneos distintos no Brasil (e apenas potencial e minoritária, a APS/ESF é voltada também no mundo): a atenção primária à saúde, para um movimento de desmedicalização parcial do a atenção psicossocial e o uso crescente das PIC, cuidado. Isso a aproxima da atenção psicossocial, com a hipótese de possuírem afinidades eletivas já nascida e desenvolvida no interior da crítica à entre si. A discussão mostrou haver aspectos afins medicalização na Saúde Mental, de que o conceito e confluentes, como o seu caráter relativamente de “desinstitucionalização” talvez seja o melhor contra-hegemônico e questionador das práticas bio- exemplo (Rotelli e col., 1990; Oliveira e col., 2011). A médicas dominantes. Há afinidades nas concepções atenção psicossocial mantém as tecnologias hege- de objetos de trabalho ou cuidado, meios e fins desse mônicas na biomedicina (psiquiatria) como recursos cuidado, formas de organização do mesmo e relacio-
346 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
namento com a clientela. Centramento do cuidado dagens interpretativas e terapêuticas da atenção nos usuários e nas suas relações e contextos; ade- psicossocial e das PIC. Por outro lado, o reconhe- quação cultural, abordagem familiar e comunitária; cimento de afinidades e heterogeneidades permite relações mais dialógicas e participativas, aborda- que possam se articular e coexistir sem perder suas gem holística; múltiplas técnicas de cuidado com peculiaridades. ênfase em estímulos e vivências reequilibradores, Vários desafios são comuns à implantação da fomentadores da autocura e emancipação (empode- APS/ESF, da atenção psicossocial e das PIC no ramento psicológico e social), que integram cuidado, SUS, para que sua amplificação, convergência e prevenção e promoção; todas estas afinidades foram sinergismo ocorram: eles dependem de educação identificadas e discutidas, com nuances, fortalezas, permanente dos profissionais e de articulação social dificuldades e fragilidades relativas a cada um dos e intersetorial; de democracia “gestora” tanto em fenômenos, vistos sob o prisma de suas afinidades conselhos de saúde como organizações e serviços. com os demais. Precisam trabalhar em rede para aumentar teor de Também houve convergências com relação integralidade do cuidado e a legitimidade social, aos efeitos ético-políticos almejados e ao caráter política, ideológica e institucional do SUS, da APS/ relativamente desmedicalizante de suas práticas, ESF e dos serviços substitutivos de Saúde Mental. apesar das peculiaridades e heterogeneidades Demandam apoio institucional e dos gestores e ne- dos fenômenos em questão, envolvendo distintas cessitam expandir-se para a sociedade, influencian- situações históricas dos mesmos. Nesse sentido, do a cultura dos usuários e profissionais, superando as afinidades identificadas e os aspectos que as ali- a visão de verdade única e de supremacia episte- mentam encontram-se em movimento e construção mológica e tecnológica da biociência e da medicina social, institucional, técnica e política, uns mais especializada no cuidado comunitário à saúde. consistentes e desenvolvidos que outros. A exploração dessas afinidades pela Saúde Identificamos e discutimos a existência de Cole¬tiva, pela gestão do SUS, pela reforma psiquiá- afinidades eletivas entre esses três fenômenos, trica e pelos profissionais da APS/ESF pode reforçar envolvidas nas buscas sociais, ins¬titucionais e e qualificar esta última como espaço de práticas dos profissionais de saúde por outras maneiras múltiplas (biomédicas, PIC, “psi”e outras) que pro- de entender e manejar o adoecimento e o cuidado porcionem respostas adequadas ao adoecimento em suas várias dimensões, bem como, promover a e sofrimento (cuidado em saúde mental) nos dias saúde, particularmente em saúde men¬tal. Isso pode atuais e futuros. facilitar que os atores envolvidos na APS, na atenção psicossocial e nas PIC reconheçam suas afinidades eletivas e que se fortaleçam, bem como enfrentem Referências seus desafios específicos e se aperfeiçoem nas suas AMARANTE, P. O homem e a serpente: outras práticas, articulando-se mutuamente. Já há consen- histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de so relativo, por exemplo, de que a Saúde Mental na Janeiro: Editora Fiocruz, 1996. perspectiva psicossocial precisa se aproximar cada vez mais da APS (Lancetti e Amarante, 2006; Lan- AMARANTE, P.; OLIVEIRA, W. F. A inclusão da saúde mental no SUS: pequena análise cetti, 2002; Dallla Vecchia e Martins, 2009; Tesser e cronológica do movimento de reforma psiquiátrica Teixeira, 2011), para superar o comum reducionismo e perspectivas de integração. Dynamis: revista dos sofrimentos e adoecimentos a “transtornos”. tecno-científica, Blumenau, v. 12, n. 47, p. 5-21, Isso é um dos grandes problemas da APS brasileira, 2004. significando desafios tanto para escolas formadoras quanto para a educação permanente: contaminar ANDRADE, J. T. Medicinas alternativas e a APS com a crítica epistemológica e política da complementares: experiência, corporeidade e atenção psicossocial e a multiplicidade de abor- transformação. Salvador: Edufba; EdUECE, 2006.
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 347
ANDRADE, J. T.; COSTA, L. F. A. Medicina CAPRARA, A.; FRANCO, A. L. S. A relação paciente- complementar no SUS: práticas integrativas sob médico: para uma humanização da prática a luz da Antropologia médica. Saúde & Sociedade, médica. Cadernos de Saúde Pública, Rio de São Paulo, v. 19, n. 3, p. 497-508, 2010. Janeiro, v. 15, n. 3, p.647-54, 1999. BASAGLIA, F. Escritos selecionados em saúde CARVALHO S.R.; GASTALDO, D. Promoção à mental e reforma psiquiátrica. Organização de P. saúde e empoderamento: uma reflexão a partir Amarante. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. das perspectivas crítico-social pós-estruturalista. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, p. BARROS, N.F. Medicina complementar: uma 2029-40, 2008. Suplemento 2. reflexão sobre o outro lado da prática médica. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2000. COSTA-ROSA, A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de asilar. In: AMARANTE, P. (Org.). Ensaios - Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio de Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Janeiro: Fiocruz, 2000. p.141-168. Brasília, DF, 2006a. CUNHA, G.T. A construção da clínica ampliada na BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção básica. São Paulo: Hucitec, 2005. Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas DALLA VECCHIA, M.; MARTINS, S.T.F. e Complementares no SUS - PNPIC-SUS. Brasília, Desinstitucionalização dos cuidados a pessoas DF, 2006b. (Série B - Textos Básicos de Saúde). com transtornos mentais na atenção básica: aportes para a implementação de ações. Interface BRASIL. Ministerio da Saúde. Departamento de – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 13, Atenção Básica. Evolução do credenciamento n. 28, p. 151-64, 2009. e implantação da estratégia Saúde da Família. http://dab.saude.gov.br/historico_cobertura_sf.php EISENBERG, D.M. et al. Related articles, links Acesso em 10/11/2011 unconventional medicine in the United States. Prevalence, costs, and patterns of use. New CAMARGO JR, K. R. Biomedicina, ciência e saber: England Journal of Medicine,(Boston,, n. 328, v. 4, uma abordagem crítica. São Paulo: Hucitec, 2003. p. 246-52, 1993. CAMPOS, G. W. S. Saúde paideia. São Paulo: GÉRVAS, J.; PÉREZ FERNÁNDEZ, M. El Hucitec, 2003. fundamento científico de la función de filtro CAMPOS, G.W.S. Um método para análise e co- del médico general. Revista Brasileira de gestão de coletivos: a constituição do sujeito, Epidemiologia, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 205-18, a produção de valor de uso e a democracia em 2005. instituições: o método da roda. São Paulo: Hucitec, GÉRVAS, J. Enfermedad: ciencia y ficción. Revista 2000. AMF (Actualización em Medicina de Familia), CAMPOS, G. W. S. Por uma sociedade radicalmente Barcelona , v. 4, n. 1, p.2-3, 2008. democrática: utopia? RADIS – Comunicação em GRAMSCI, A. Concepção dialética da história. Rio Saúde, Rio de Janeiro, n. 96, ago. 2010. Disponível de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986. em: <http://www.ensp.fiocruz.br/radis/sites/ default/files/radis_96.pdf>. Acesso em: 07 jan. LANCETTI, A. (Org.). Saúde mental e saúde da 2012. família. São Paulo: Hucitec, 2002. CAMPOS, R. O. et al. Saúde mental na atenção LANCETTI, A.; AMARANTE, P. Saúde mental e primária à saúde: estudo avaliativo em uma saúde coletiva. In: CAMPOS, et al. (Orgs.). Tratado grande cidade brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de Rio de Janeiro, v. 16, n. 12, p. 4643-52, 2011. Janeiro: Fiocruz, 2006. p. 615-634.
348 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012
LEVIN, J. S.; JONAS, W. B. (Editores). Tratado de QUEIROZ, M.S. O itinerário rumo às medicinas medicina complementar e alternativa. São Paulo: alternativas: uma análise em representações Manole, 2001. sociais de profissionais da saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 363-75, LÖWY, M. Redenção e utopia. São Paulo: 2000. Companhia das Letras, 1989. QUINDERÉ, P.H.D.; SALES, F.D.A.; LUZ, M. T. Medicina e racionalidades médicas: ALBUQUERQUE, R.A; JORGE, M.S.B A convivência estudo comparativo da medicina ocidental entre os modelos asilar e psicossocial: saúde contemporânea, homeopática, chinesa e mental em Fortaleza-CE. Saúde em Debate. Rio de ayurvédica. In: CANESQUI, A. M. (Org.). Ciências Janeiro, v.34, n.84, p.137-47,2010. sociais e saúde para o ensino médico. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2000. p.181-200. ROSE, G. Estratégias da medicina preventiva. Porto Alegre: Artmed, 2010. MCWHINNEY, I. R. Manual de medicina de família e comunidade. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. ROTELLI, F. et al. Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 1990. MENENDEZ, E.L. Sujeitos, saberes e estruturas: uma introdução ao enfoque relacional no estudo SALLES, S. A. C. Homeopatia, universidade e SUS: da saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 2010. resistências e aproximações. São Paulo: Hucitec, 2008. MERHY, E. E. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec, 2002. SOUSA, I. M. C. et al. Práticas integrativas e complementares no programa de saúde da família NATIONAL CENTER FOR COMPLEMENTARY voltados para atenção à saúde mental: estudos de AND ALTERNATIVE MEDICINE. What is caso no Nordeste, Sul e Sudeste: relatório final de complementary and alternative medicine. NCCAM, pesquisa (Processo 575268/2008-5). Brasília, DF: n. 347, Out. 2008. Disponível em: <http://nccam. CNPq, 2010. nih.gov/health/whatiscam/#1>. Acesso em: 28 nov. 2010. SOUZA, E. F. A. A.; LUZ, M. T. Bases socioculturais das práticas terapêuticas alternativas. História, NORMAN, A. H.; TESSER, C. D. Prevenção Ciencias, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 16, quaternária na atenção primária à saúde: uma p. 393-405, 2009. necessidade do Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.25, n. 9, p. 2012- STARFIELD, B. Is US health really the best in 20, 2009. the world?, Journal of the American Medical Association. Chicago, v. 284, n. 4, p. 483-5, 2000. OLIVEIRA, W. F.; PADILHA, C. S.; OLIVEIRA, C. M. Um breve histórico do movimento pela reforma STARFIELD, B et al. The influence of patient- psiquiátrica no Brasil contextualizando o conceito practitioner agreement on outcome of care. de desinstitucionalização. Saúde em Debate, Rio American Journal of Public Health, Charlotte, de Janeiro, v. 35, n. 9, p.587-96, 2011. Carolina do Norte, v. 71, p. 127-31, 1981. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Estratégia STARFIELD, B.; GÉRVAS, J.; HEATH, I. The concept de la OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. of prevention: a good idea gone astray? Journal of Genebra: OMS, 2002. Epidemiology & Community Health, Londres, v. 62, n. 7, p. 580-3, 2008. PAULA, J. A. Afinidades eletivas e pensamento econômico: 1870-1914. Kriterion, Belo Horizonte, v. STEWART, M. A.; MCWHINNEY, I. R.; BUCK, C. 46, n. 111, p. 70-90, 2005. W. The doctor-patient relationship and its effect upon outcome. The Journal of the Royal College of General Practitioners, Bethesda, v. 29, p. 77-82, 1979.
Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012 349
STEWART, M. et al. Medicina centrada na pessoa: TESSER, C. D.; TEIXEIRA, B. C. Saúde mental transformando o método clínico. Porto Alegre: na atenção básica: estratégias de implantação a Artmed, 2010. partir de uma experiência. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 35, n. 88, p. 83-95, 2011. S.THIAGO, S. C.; TESSER, C. D. Terapias complementares na percepção de médicos e TESSER, C.D. (Org.). Medicalização social e enfermeiros da estratégia saúde da família sobre atenção à saúde no SUS. São Paulo: Hucitec, terapias complementares. Revista de Saúde 2010a. Pública, São Paulo, v. 45, n. 2, p. 249-57, 2011. TESSER, C. D. (Org.). Medicinas complementares: TESSER, C. D.; BARROS, N. F. Medicalização o que é necessário saber (homeopatia e medicina social e medicina alternativa e complementar: tradicional chinesa/acupuntura). São Paulo: pluralização terapêutica do Sistema Único de Editora da Unesp, 2010b. Saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, TESSER, C. D. Práticas complementares, n. 5, p. 914-20, 2008. racionalidades médicas e promoção da saúde: TESSER, C. D.et al. Réplica: promoção da saúde contribuições poucos exploradas. Cadernos de e cuidado, símbolos e práticas. Ciência & Saúde Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 8, p. 732-42, Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 11, p. 4311-4, 2011. 2009a. TESSER, C. D.; LUZ, M. Racionalidades médicas TESSER, C. D. Três considerações sobre a “má e integralidade. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de medicina”. Interface – Comunicação, Saúde, Janeiro, v. 13, n. 1, p. 195-206, 2008. Educação, Botucatu, v. 13, n. 31, p. 273-286, 2009b. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 1994.
Recebido em: 23/02/2011
Aprovado em: 15/02/2012
350 Saúde Soc. São Paulo, v.21, n.2, p.336-350, 2012