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A CENSURA E O RÁDIO NO PIAUÍ

Francisco Alcides do Nascimentof


Professor da Universidade Federal do Piauí – UFPI.
Integrante do Conselho Científico da Associação Brasileira de História Oral.

Estava com doze anos, mas, apesar da idade, não conseguia entender a razão
para a quantidade de aviões sobrevoando a cidade onde morava. Ela recebia vôos diários,
porém, naquele dia, os aviões eram diferentes e faziam percursos também diferentes, era
o dia era 31 de março de 1964. Eu não entendia os temores de meu pai, mais
especialmente seu medo de perder o emprego público. Quando tinha que tratar dos
acontecimentos que estavam mexendo com a sua rotina cotidiana baixava a voz. O rádio,
ele pouco ouvia no horário do meio-dia, uma vez que chegava sempre muito apressado e
preocupado em voltar dali a pouco mais de uma hora. No turno da noite aí, sim, ele ouvia o
programa de rádio, que se tinha transformado em “atividade” obrigatória para milhares de
brasileiros desde os anos quarenta.
Não obstante a idade, eu ainda não tinha começado o curso ginasial, fato que
só ocorreria no ano seguinte, na escola que era destinada aos filhos dos segmentos mais
pobres da sociedade, a Escola Industrial de Teresina. Geralmente, àquela época, os pais
eram semi-analfabetos e muito pobres, não possuíam assinatura de jornal; e mesmo que
tivessem acesso a esse meio de comunicação, dificilmente teriam condições de
dimensionar o que estava ocorrendo no País e relacionar o acontecimento com o meu
futuro e o futuro de dezenas de milhares de outros jovens da mesma idade espalhados
pelo Brasil afora. Demoraria ainda alguns anos para compreender o que se havia passado
naquele dia sombrio.
O movimento das tropas que davam sustentação ao golpe desferido contra a
experiência democrática vivida pela sociedade brasileira tinha começado naquele dia, mas
se estenderia até ao dia 2 de abril, quando as notícias transmitidas através do rádio davam
conta de que o presidente da República, o sr. João Goulart, tinha deixado o País rumo ao
Uruguai e os militares se preparavam para assumir o comando do Estado brasileiro.
Começava uma longa noite para as instituições democráticas, para os cidadãos que
ousavam discordar daqueles que se tinham assenhoreado do poder político nacional.
Em duas oportunidades, foi mencionada a palavra rádio. O rádio, no
mencionado período, apesar da existência da TV no Sul do País, ainda era o principal meio
f
alcides@ufpi.br e falcide@uol.com.br
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de comunicação para a maioria da população que morava no sertão brasileiro. Deste


modo, é sobre este veículo de comunicação de massa, juntamente com a censura a ele
imposta, que vamos tratar nesta comunicação.
Desde que iniciei o trabalho com o projeto História do Rádio no Piauí, comecei
a combinar a técnica da história oral com o método da história de vida, estratégia que
Lucília de Almeida Neves denominou de entrevista de trajetória de vida, caracterizada
como “depoimentos de história de vida mais sucintos e menos detalhados” (2002).
Apesar de trabalharmos neste texto tendo no horizonte a construção de uma
narrativa sobre a censura e o rádio no Piauí durante a ditadura militar, não abrimos mão de
propor aos nossos entrevistados que tratassem de questões não relacionadas
propriamente ao objeto de estudo, pensando ser possível captar, tecer fios de fatos,
acontecimentos relacionados à sociedade plural, perceber a forma de interseção dos
atores sociais, na sociedade, suas vivências culturais múltiplas “cristalizadas em valores,
diretrizes e compromissos que se firmaram ao longo do tempo” (CAMARGO, 1981, p. 24).
Ainda há pouco, empreguei a expressão fio, no sentido de tessitura do fato.
Temos a convicção de que a verdade em História é absolutamente incapturável, talvez seja
melhor colocar a expressão verdades, no plural. Nesse sentido, todo “depoimento é uma
versão, e que toda versão é um ensinamento parcial e pessoal sobre situações e
acontecimentos, as pessoas e o mundo” (CAMARGO, 1986, p.14). Contudo, trilhar
caminhos distintos, significando trabalhar com depoimentos de múltiplos atores, não será
uma das formas de reconstituir os dilemas da História, de entender de forma mais
aproximada a sua trama?
Ouvindo pessoas que construíram o Rádio no Piauí, entre 1939 e 1970, tivemos
a oportunidade de lidar com a experiência individual, é verdade, mas essa experiência é
também coletiva. Presume-se que o indivíduo estudou em alguma escola na cidade,
freqüentou o mesmo estádio de futebol, partilhou com outros indivíduos momentos de
tensão com a chegada dos militares ao poder; no entanto, deve ter sentido de forma
diferente a noite que atingia o País, tendo em vista que somos, cada um de nós, um
universo complexo. Todos tinham mais de uma atividade econômica, sendo que uma delas
era o rádio, seja como noticiarista, disc-jóquei, repórter policial, repórter esportivo,
discotecário (a), técnico de som (sonoplasta), etc. Tratam-se de homens e mulheres com
experiências diferentes, unidos pelo rádio. “As formas de conjugar influências tão diversas
hão de variar de pessoa para pessoa, mas como não identificar em cada uma delas o
espelho de outras experiências e de outras vidas? (CAMARGO, 1981, p 24). São muitos os
discursos construídos de lugares sociais distintos, mas todos ajudam na construção de
uma visão de uma época, que se torna compreensível a partir do seu exame com fins
interpretativos.
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Lílian de Lacerda inicia um capítulo de sua belíssima obra Álbum de Leitura


afirmando que andou pelo passado através de papéis e adianta que, “desses papéis, a
memória reconstrói lembranças de lugares, de pessoas e de práticas sociais [...]” (2003, p.
27). Este trabalho também lançou mão de papéis, mas as nossas fontes principais são
homens e mulheres que fizeram e fazem o rádio no Piauí e que, durante muito tempo,
tiveram como sombra militares acompanhando o trabalho de cada um, chamando, às
vezes, a atenção desses atores, em decorrência do emprego de uma palavra considerada
“perigosa”, por rodar uma canção avaliada como portadora de mensagem contra o regime,
enfim, tentando-se silenciar, a tudo custo, os meios de comunicação de massa.
Jean-Jacques Becker (1996) avalia que a imprensa perde a capacidade de
servir como fonte quando é censurada. E acrescenta que essa capacidade desaparece
inteiramente quando se encontra nas mãos do poder. Não se pode dizer que a imprensa
estivesse nas mãos do Estado brasileiro no pós-64, mas não há dúvidas sobre a tentativa
de controlar os meios de comunicação de massa no País. O Brasil, a partir de 1964, passa
a ser dirigido por um regime político com características autoritárias.
O regime militar [...] representou uma retomada das práticas
autoritárias e de influência de pelo menos um dos principais
ideólogos [do Estado Novo] – Francisco Campos, único que ainda
estava vivo naquele período. (FAUSTO, 2001, p. 89).

Acreditando que “na vida cotidiana de um jornal, de uma rádio, de uma


televisão, se reflete constantemente a vida política do país” (JEANNENEY, 1996, p. 213),
defende-se que aí está a razão para a tentativa de controlar, de vigiar o cotidiano dos
meios de comunicação de massa. Contudo, o exercício do controle sobre os meios de
comunicação no Brasil, de forma sistemática e institucional, ganhou destaque no período
varguista, especialmente durante o Estado Novo, através do Departamento de Imprensa e
Propaganda. No regime militar, apesar das aproximações que possam ser feitas com o
Estado Novo, “a repressão, a violência e a tortura contra os inimigos ou adversários do
regime, suspensão de direitos civis e políticos, a censura aos meios de comunicação
ocorreram em um grau de extensão inédito na história brasileira” (FAUSTO, op. cit., p. 70).
Parece não haver dúvida sobre a influência estadonovista sobre a modelagem do regime
militar.
Em 1963, na opinião de Carlos Augusto de Araújo Lima, o programa de maior
audiência no Rádio piauiense era o Almanaquinho no Ar, levado ao ar pela Rádio Clube de
Teresina, que tinha como apresentador Francisco Figueiredo de Mesquita. “Nós sofremos
demais, a rádio foi fechada, alguns companheiros foram presos, como é o caso do
Figueiredo” (LIMA, 2002). O programa Almanaquinho no Ar foi considerado subversivo
pelos militares e, por esta razão, retirado do ar.
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Veloso, que chegou à emissora na década de 1970, tem uma opinião diferente
sobre o programa mencionado. Defende que o mesmo não chegou a ser retirado do ar
porque “lá dentro a lei era severa”. Isso quer dizer que o proprietário da emissora tinha

AUTOCENSURA muito cuidado para não ser advertido pela Polícia Federal Mas confessa que “o diretor de
jornalismo era a pessoa mais controlada que tinha pela Polícia Federal”. A acrescenta que
“todos nós tínhamos carteira, fomos tirar carteira na Polícia Federal e eu ainda tenho a
minha guardada, o número parece que é 18”. Parece não haver dúvida sobre a tentativa de
a Polícia Federal controlar aqueles que trabalhavam nas emissoras de rádio espalhadas
pelo Brasil. Esse mesmo homem de rádio afirmou que a emissora em que trabalhava
recebia a visita de agentes da Polícia Federal no horário dos programas jornalísticos, para
avaliarem as notícias que deveriam ser lidas. Era uma forma de controle e também de
intimidação.
Por outro lado, Veloso chegou à emissora seis anos depois da implantação do
regime militar, um momento diferente daquele, talvez a censura fosse até mais
“cuidadosa”. O fato é que Francisco Figueiredo de Mesquita foi preso e o programa que
apresentava tirado do ar. Esse fato está relacionado ao tipo de programa. Voltado para
discutir alguns problemas sociais que atingiam à sociedade e que, na opinião do
apresentador, não recebiam a atenção dos governantes. E depois porque a emissora tinha
antecedentes que a desabonavam. Havia aderido à Rede da Legalidade em 1961, quando
o então governador do Rio Grande do Sul utilizou os microfones da Rádio Farroupilha para
assegurar a posse de João Goulart na vaga deixada pelo presidente Jânio Quadros.
Acrescente-se que o programa era levado ao ar de segunda a sábado, sempre às 12h40,
horário em que praticamente todos os que trabalhavam fora de casa tinham retornado para
o almoço.
Essas informações são corroboradas por outro homem de rádio, Joel Silva,
considerado por um diretor da Rádio Pioneira de Teresina como um ícone do Rádio no
Piauí. Na opinião de Joel Silva, todo o sistema foi submetido a uma ordem radical, as
emissoras tinham que se limitar a cumprir o que era determinado pelas Forças Armadas.
Os diretores tinham que observar as leis, os decretos.
Nós éramos cadastrados, não era só o registro, nós tínhamos que
fazer o cadastro na Polícia Federal para podermos exercer nossa
utilidade. Nossa dificuldade estava em cumprir um protocolo
rigoroso. A programação musical tinha que ser encaminhada para o
Departamento Cultural com 24 horas de antecedência, onde eram
feitas as devidas observações e era carimbada quando autorizada.
Então, eram essas as dificuldades do ponto de vista técnico. Do
ponto de vista ideológico nós não tínhamos uma posição assim
muita definida. O nosso foco era a comunicação. (SILVA, 2002).
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Não se depreenda dessa intervenção de Joel Silva como a posição de alguém


acomodado com a forma como os meios de comunicação, especialmente o rádio, estavam
sendo tratados pelos militares. Mas o fato é que Joel Silva apegou-se à sua formação
religiosa, ressalte-se uma “formação muito disciplinada”, cumpria as determinações e não
teve grandes dificuldades; deste modo, acompanhou algumas escaramuças dos militares.
Por outro lado, as coisas foram-se aquietando e, a partir de um dado momento, os “meios
de repressão se tornaram mais moderados, porque o difícil era a largada, depois vão se
acomodando, e então a convivência passou a ser um pouco menos conflitante”. Silva
conclui seu pensamento: “então, eu peguei uma fase de certa estabilidade” (Id. ibid.).
Faz-se necessário dizer também que na composição das equipes das
emissoras locais parecia haver uma certa hierarquização. Descobriram-se indícios e sinais
que denunciavam privilégios dos locutores do setor de jornalismo. Tudo indica que a
equipe de jornalismo recebia mais a atenção da direção das emissoras porque os
programas de jornalismo eram os carros-chefes das respectivas programações. Parece
não haver dúvidas de que o jornalismo, incluída aí a programação esportiva, nas três
emissoras locais, era responsável pelos maiores índices de audiência, portanto, pelo
faturamento das emissoras.
Por outro lado, durante a ditadura militar programas musicais eram incentivados
com o objetivo de envolver os jovens de forma alienante, mas não se pode generalizar
porque foram montados programas de forma inteligente, que tinham a função de educar.
Deoclécio Dantas defende que, entre o final dos anos sessenta até meados da década de
1970, quando trabalhou na Rádio Pioneira, a programação radiofônica era montada para
educar, educar para a vida. Dentre as muitas figuras importantes do rádio naquele
momento, Dantas lembra do radialista Murilo Campelo que apresentava dois programas na
Rádio Pioneira, programas que visavam o entretenimento dos ouvintes, mas não tinha
apenas essa finalidade pura e simples. No programa Atrações MC eram feitas perguntas
inteligentes, que despertavam o interesse dos ouvintes, conduzindo-os ao trabalho de
pesquisa para as respostas que, quando corretas, conferiam prêmios aos seus
formuladores” (DANTAS, 2001).
No horário noturno, o mesmo locutor apresentava o programa Suave é a Noite,
um musical marcado por canções românticas e declamações de poemas. “Voz excelente é
o que não lhe faltava para elevar o nível daqueles programas“ (Id. ibid.). Mesmo depois do
aparecimento da televisão, o teresinense continuou dispensando boa audiência aos
programas apresentados por Murilo Campelo.
Neste sentido, as emissoras locais criaram programas nos quais os ouvintes
pudessem participar por cartas e telefone. Alguns desses programas, além de pretenderem
ter o caráter educativo, premiavam o ouvinte que acertasse a pergunta formulada pelo
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locutor. Todavia Veloso nos informa que durante algum tempo a emissora onde trabalhava
foi proibida de lançar mão dessa estratégia.
Teve um período no Regime Militar, que foi proibido. Três ou quatro
anos nós passamos sem poder botar nenhum telefonema no ar,
nem um programa musical nem jornalismo, de jeito nenhum. Depois
foi aberto para os programas só dia de domingo, programas de
variedades. Tinha o programa do Joel Silva, na Rádio Pioneira, e o
de Fernando Mendes, na Rádio Clube, que era Variedades
Fernando Mendes, era a manhã toda. Um na Rádio Pioneira, outro
na Rádio Clube, esses que botavam no ar pedidos de música. Não
falavam nada de política. (VELOSO, 2003).

Por outro lado, o período da ditadura militar foi pródigo na distribuição de


concessões de rádio e tv para homens públicos que aceitavam, sem discutir publicamente,
o formato de governo imposto de cima para baixo, “aliados” na organização do golpe ou
“da hora”. O dono da Rádio Clube tinha, entre outros objetivos, conseguir a concessão de
um canal de TV, portanto, precisava preservar sua cabeça e as relações pessoais com os
mandatários no Piauí, caminho mais curto para chegar aos generais.
Olha, ele tinha o seu interesse em conseguir o seu canal de
televisão. Então, nós tínhamos uma grande influência lá que era o
Petrônio Portela, que estava sendo cotado até para ser presidente
da República. Então, ele tinha que agradar esse lado pra poder
conseguir essa concessão. (Id. ibid.).

Por sua vez, a Rádio Pioneira de Teresina era reconhecidamente a mais visada
– segundo atores sociais que trabalhavam na emissora – pelos militares, em virtude do
projeto de rádio que vinha desenvolvendo, no qual colocava os microfones a serviço da
comunidade, e também porque, mesmo sendo respeitado pelas “novas” autoridades, Dom
Avelar Brandão Vilela não era bem visto por elas. A ação social da arquidiocese
comandada pelo bispo, na educação, na saúde, junto aos trabalhadores rurais, colocava-o
na mira dos militares. Chegou-se a dizer que Dom Avelar Brandão Vilela era incentivador
das Ligas Camponesas no Piauí. Isso não é verdade, porém incentivou a atuação da Igreja
Católica na montagem de sindicatos rurais, desenvolvendo uma fórmula de afastar os
homens e mulheres da esfera de atuação do Partido Comunista ou de setores mais
radicalizados da sociedade brasileira. Desenvolveu atividade pastoral e social voltada para
os segmentos sociais menos assistidos pelo poder público. Esta preocupação revestiu-se
em projetos agrícolas, como aquele liderado pelo padre José Anchieta Cortez, localizado
na região sul do estado, chamada de Colônia do Gurguéia. Dom Avelar buscou apoio junto
ao governo federal e conseguiu que alguns instrumentos de infra-estrutura ali fossem
implantados, sendo implementado um programa de colonização. Os trabalhadores da zona
rural de Teresina também receberam a atenção de Dom Avelar. Os militares provavelmente
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não compreendiam a ação do pastor como uma preocupação com a valorização do


homem, especialmente do homem do campo esquecido pelo Estado.
A emissora nasceu para, entre outras coisas, colocar no ar o programa do
Movimento de Educação de Base, também considerado subversivo. Razão pela qual os
militares tinham muito cuidado com os programas montados pelos professores do MEB.
Pode-se dizer que houve perseguição a integrantes daquele movimento no Piauí como
houve de igual forma em outros Estados. Pessoas do MEB-Piauí, no período
compreendido entre 1964 e 1968 foram presas, algumas passaram a ser vigiadas dia-a-dia
e terminaram sendo indiciadas em inquérito policial.
Neste sentido, tanto as aulas de alfabetização quanto os programas de
animação eram fiscalizados. “[...] Pra vocês terem uma idéia, houve um período, se não me
engano, de 1972 a 1974, em que todo programa (vocês sabem que um programa de rádio
tem um script, um roteiro, é tudo planejado) antes de ir ao “ar” tinha que ser levado, por
uma pessoa do MEB, todos os dias, à Polícia Federal, para que dissessem se podia ir ao
ar ou não” (BONFIM, 2003). Houve casos de suspensão do programa.
Nessa linha de trabalho da Polícia Federal junto ao MEB, houve também
oportunidades em que a professora estava ministrando aula, um supervisor montando um
programa e, em suas companhias, um agente da Polícia Federal. No caso do programa,
ele poderia ser censurado posteriormente, e a pessoa responsável por aquela atividade ser
atingida. Às vezes, era chamada à Superintendência da Policia Federal para justificar-se,
explicar-se.
Algumas pessoas foram presas como narra Maria do Carmo Bonfim:
O professor Ferreira foi uma das pessoas que foi presa durante a
Ditadura. Eu trabalhei com o Ferreira no MEB. Por que que ele foi
preso? Naquela época houve um momento em que vários militantes
estudantis daqui foram presos. Foi tudo ao mesmo tempo: Antônio
José Medeiros, Diogo [Ayremoraes], que já era professor da
Faculdade, José [Reis] Pereira, o Geraldo Borges, Odilon – vocês
não conhecem – e outras pessoas: um de Goiás e outra do
Maranhão. Um grupo ficou no Quartel da Ilhotas, outro grupo no
Quartel de Polícia, que hoje é o Artesanato e outro grupo ficou na
Praça Saraiva, em um daqueles espaços onde já funcionava a
Secretaria de Segurança Pública. E sempre a gente fazia visitas.
Tinha os dias certos, com as horas certas e, quem conseguia, tinha
como acompanhante um militar fiscalizando conversas e
observando se os visitantes repassavam algum tipo de material aos
prisioneiros. Uma vez eu e o Ferreira fomos visitar um grupo desses.
Naquele dia tinha havido um problema fora da prisão e a Polícia
estava de sobreaviso. Neste caso, as pessoas que estavam presas
sofriam represálias lá dentro e quem fosse visitá-las, também. O
Antônio José, o Ubiraci e outros estavam no Quartel de Polícia.
Nestas ocasiões, eles eram obrigados a ficar despidos, como forma
de mexer com a auto-estima deles. E, naquele dia, quem fosse
visitá-los era mais fiscalizado do que de outras vezes. Mas antes de
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nós chegarmos, um grupo de visitantes havia conseguido entrar e já


estava saindo. Neste grupo estava a professora Maria Augusta, que
foi do Centro de Ciências da Educação(CCE). Ela estava saindo de
visita ao Antonio José, então ela disse para o Ferreira: “Gugua,
como você vai entrar aí, entrega esse bilhete para Antônio José!”
Parece que para Antônio José. No ato de entregar o bilhete, o
policial tomou o bilhete e disse para Ferreira: “Você fica aí”. A minha
felicidade é que ele não percebeu que eu estava junto com o
Ferreira, senão eu também teria ficado. Então, o Ferreira passou,
acho que dois dias e uma noite preso. Foi levado para o DOPS de
camburão. E só saiu porque Dom Avelar, que naquela época era
bispo, uma autoridade eclesiástica, como também uma pessoa que
todo mundo respeitava, qualquer que fosse a classe social, a
autoridade... Então, o Dom Avelar mandou um bilhete para o
Sebastião Leal, à época, Secretário de Segurança. Ele só foi solto
no outro dia por conta disso. Mas, antes dele, outras pessoas que
trabalharam no MEB, logo em 64 e 65, haviam sido presas. (Id.
ibid.).

A citação é longa, mas bastante elucidativa em relação ao clima que grassava


na sociedade brasileira e teresinense, muito especialmente no segmento estudantil e,
neste caso, relativamente àqueles ligados à Faculdade de Filosofia, nascida graças ao
esforço de muitos intelectuais, entre os quais Dom Avelar Brandão Vilela. Naquela casa,
alguns estudantes eram tidos como militantes de grupos católicos que atuavam junto aos
trabalhadores rurais e urbanos. Jovens que se transformaram em monitores das escolas
rurais, cujas aulas eram transmitidas através dos microfones da Rádio Pioneira de
Teresina.
Toda emissora de rádio possui uma cabine de transmissão, que é separada dos
outros espaços por uma parede com parte dela sendo transparente, pois uma lâmina de
vidro separa o locutor da região externa. “Por vezes ficava um agente da polícia do lado de
fora da cabine olhando a pessoa trabalhar. Era uma forma de dificultar o trabalho dos
profissionais do MEB”. (Id. ibid.)
Ana Maria Silva começou sua carreira em rádio no início da década de 1970,
exatamente na Rádio Pioneira de Teresina. Fez o curso secundário na antiga Escola
Normal “Antonino Freire”, mas, antes de iniciar a profissão, conheceu o locutor Joel Silva,
que a levou para a discoteca da emissora católica. Antes de terminar o curso, viveu sua
primeira experiência com a ditadura militar.
Um certo dia estávamos assistindo à aula quando chegou uma
pessoa, ficou na porta da nossa sala e disse “não pode sair
ninguém daqui, fica todo mundo dentro da sala”. E ficamos sem
saber o que estava acontecendo, na sala ao lado, onde minha irmã
estudava. Ela estava assistindo à aula de um professor que é irmão
do padre Raimundo José [Diogo Ayremoraes] e agentes da Polícia
Federal – isso nós só fomos saber depois – entraram na sala,
prenderam o professor e uma aluna também. Depois nós viemos a
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saber, faziam parte do Movimento Comunista. Toda a Escola


Normal só foi saber passados alguns anos. Eu soube que o
professor havia sido preso porque ele estava na sala da minha irmã,
as outras alunas tiveram que ficar nas salas enquanto a operação
era executada. Então, foi assim, uma coisa muito marcante. A partir
daí passou a existir muita vigilância dos professores, do diretor que,
na época, era o professor Afrânio Nunes. Minha mãe ficou
apavorada, era esposa de um militar e conhecia bem como era o
processo. Todo dia ia para a porta da escola, não nos deixava sair
sozinhas da escola pra casa com medo de participarmos de
movimentos estudantis, enfim, com medo de nós sermos presas, até
porque ela tinha sabido do exemplo da colega da minha irmã que
tinha sido presa na turma. (SILVA, op. cit.).

Trabalhando como discotecária, Ana Maria Silva lembra, como fez Veloso, que
no início da década de 1970 não se podia abrir o microfone para o ouvinte e, quando isso
era feito, o ouvinte só podia pedir música. Era orientado “olha não pode falar nada a não
ser música”. Nessa época, os programas de disc-jóqueis tinham muita audiência por conta
disso, porque locutor não podia fazer outra coisa a não ser tocar música e, assim mesmo,
era censurado.
A escolha das músicas para serem rodadas nos programas tinha que ser
cuidadosa. Nem todas as canções da música popular brasileira podiam ser veiculadas.
Canções compostas por Chico Buarque de Holanda precisavam passar por uma seleção
criteriosa para não atrapalhar o programa. As músicas de protesto, quaisquer que fossem,
eram censuradas. Os responsáveis pelos programas de animação comunitária não podiam
utilizar canções que denotassem qualquer tipo de crítica, porque tinham o trabalho
censurado. A vivência de Ana Maria na Pioneira, como discotecária, permitiu que
aprendesse a lidar com os censores.
Eu vivi uma experiência muito forte que ainda hoje marca a minha
vida por conta de uma música que eu coloquei no ar. Não sei se eu
posso já falar assim agora, né? Foi uma música chamada Apesar
de Você, do Chico Buarque. Nessa época, quando eles
[representantes das empresas fonográficas] queriam jogar a música
no ar, mandavam não o LP, aquele disco grande, mas aquele
compacto simples, com uma única música de um lado e do outro.
Eles mandavam no afã de lançar a música logo. Antes a gente fazia
uma relação das músicas que seriam rodadas durante todo o mês e
mandava para a Polícia Federal que autorizava. Como eu era
programadora musical mandei a relação que seria rodada naquele
mês pra Polícia Federal. Veio o carimbo autorizando. Só eram
colocadas no ar as músicas autorizadas. Em qualquer programa,
durante toda a programação de rádio, em qualquer horário, tinha a
relação. A gente tinha que mandar a relação e eles carimbavam,
dando OK. Se viesse alguma observação dizendo ”Essa aqui não
pode ser tocada”, não era tocada. Chegou o disco Apesar de Você,
do Chico Buarque, e eu, no afã da Rádio Pioneira tocar antes das
outras emissoras (existia também essa concorrência), peguei o
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disco que havia recebido da gravadora e o levei para o programa


que estava no ar, Vamos Nós e a Música, apresentado por Nonato
Alves, já falecido – morreu em São Luís do Maranhão, trabalhando
também em uma emissora de rádio. A Rádio Pioneira funcionava na
esquina da Senador Pacheco com a Rua Barroso [...]. A três
quarteirões da Rádio Pioneira funcionava a Polícia Federal.
Imediatamente chegaram agentes da Polícia Federal e entraram em
contato com o doutor Jesus. Eu sem saber de nada fui chamada ao
escritório da direção e, chegando lá, encontrei dois agentes da
Polícia Federal, que só depois eu fui saber que eram agentes da
Polícia Federal. Doutor Jesus não teve como me dizer quem eram,
só disse que eu estava sendo chamada. Quando eu entrei que vi,
hoje eu não sei se eles eram tão altos assim, mas eu fiquei
intimidada. Eu achei que eles eram imensos diante de mim, eram
muitos altos, fortes, porque pra ser Agente da Polícia Federal tem
que ser bem forte. E eu olhei pra eles e fiquei sem entender o quê
que estava acontecendo. O doutor Jesus disse: “Não, eles vão lhe
fazer uma pergunta”. Aí eu disse assim: “Qual é a pergunta?”. Um
deles: “Por que que a senhora colocou essa música no ar?” Aí eu
disse: “Olha, eu coloquei porque ela acabou de chegar e eu achei
interessante que a Rádio Pioneira colocasse no ar, na frente das
outras, pela concorrência que existe. Eu achei interessante que a
Rádio Pioneira colocasse no ar logo. E em segundo lugar, porque é
uma música muito bonita que fala de amor. Eu sinceramente não
tinha percebido que tinha alguma coisa a ver. É uma música que
fala de amor, uma pessoa que tá apaixonada que, ‘apesar de você’,
eu vou viver, eu vou ser feliz, enfim”. Um deles disse: “Tá bom,
sente aí!”. Fiquei sentada. O doutor Jesus manda o Ariosvaldo, que
tava logo ali perto, chamar o apresentador do programa que estava
no ar, o Nonato Alves. Nonato chegou, ele fez a mesma pergunta
pro Nonato: por quê o Nonato tinha rodado aquela música no
programa? O Nonato sem entender disse: “Não, é porque chegou
agora e a dona Ana Maria levou e eu toquei”. E ele disse: “E o que é
que o senhor acha da música?” – “É uma música bonita, é uma
música bonita”. Aí virou pra mim e pro Nonato e disse: “Vocês estão
proibidos, de hoje em diante, de tocar qualquer música que não
esteja naquela relação e o disco vai ser recolhido pela Polícia
Federal”. Doutor Jesus abre a porta novamente, pede para o
Ariosvaldo ir buscar o disco. Ariosvaldo trouxe o disco e foi a última
vez que eu vi esse disco. Muito tempo depois recebemos o lp. A
música foi retirada do disco. Depois de muito tempo recebi o disco,
mas aí nessas alturas já tava livre. A gente já podia rodar. Eu peguei
esse disco novamente levei pro ar, rodei e disse: “Olha, roda isso
aí”. Sempre que eu vou programar essa música, me lembro desse
episódio e programo com muito prazer, não em revide, mas eu
tenho muita vontade de ouvir. Apesar de Você ficou muito marcada
na minha vida. (SILVA, op. cit.).

Em fevereiro de 1971, o promotor Valter de Oliveira Sousa, sob a acusação de


jornalistas que atuavam em Teresina tinham divulgado noticiário capaz de incitar a opinião
pública contra o Poder Judiciário, os denunciou à 10ª Região Militar.
A denúncia é baseada na Lei de Segurança Nacional e os acusados
são: Coronel Otávio Miranda, diretor-presidente de O Dia; Volmar
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Miranda, vice-presidente em exercício do mesmo jornal; Wilson


Fernando, diretor-secretário também de O Dia; José Ribeiro, diretor
comercial do mesmo jornal; Paulo Henrique Araújo Lima, Deoclécio
Dantas Ferreira e Pedro Sidney Soares, colunistas de O Dia e
Carlos Augusto de Araújo Lima, diretor de rádio–jornalismo da
Rádio Pioneira de Teresina. (JORNAL DO PIAUÍ, 1971, p. 8).

Em outra oportunidade, o Jornal do Piauí informou que o Procurador da Justiça


Eleitoral, Valter de Oliveira Sousa, teria comparecido à Rádio Pioneira de Teresina para
advertir a direção da emissora por não coibir a divulgação de notícias envolvendo a figura
do representante da Justiça. Essa nota provocou uma solicitação de esclarecimento, uma
vez que Carlos Augusto de Araújo Lima teria negado a presença do referido procurador
nas dependências da emissora católica de Teresina. O procurador, entretanto, enviou
correspondência ao jornal respondendo ao diretor da Rádio Pioneira com o seguinte título:
“Não sou mentiroso”:
Há poucos dias compareci pessoalmente num gesto de merecida e
especial deferência á Rádio Pioneira, à sua presença, quando
participei a V. S. que em virtude da grande liberalidade, aliada à
peculiar bondade dos ilustres diretores dessa emissora, o que o
prezado diretor endossou perante três ou quatro auxiliares seus
presentes na ocasião, que estava o Sr. Carlos Augusto, como ainda
se acha usando de excessiva liberdade de linguagem contra
autoridades judiciárias e do Ministério Público desta Comarca, num
programa sob a orientação dele, advertindo ou lembrando a V. S.
que o Conselho Nacional de Telecomunicações (CONTEL) não
permite e sim proíbe tais abusos que vou colecioná-los e dos quais
farei uso e direito com posterior remessa ao CONTEL, caso
continuem [...] Quando a liberdade ultrapassa os seus limites é
transformada em desordem, impondo-se a sua repressão. (Id. Ibid.).

Pedro Mendes Ribeiro avalia que Dom Avelar Brandão Vilela foi um dos homens
mais visados pelos militares. “Sobretudo porque aventureiros e muitas pessoas
desqualificadas chamavam-no de comunista e chegaram até a pedir, a exigir a prisão de
Dom Avelar”. (RIBEIRO, 2002). Informações colhidas junto à Guarnição Federal, 2°
Batalhão de Construção, 25° Batalhão de Caçadores e 10ª Circunscrição Militar davam
conta de que os militares estavam recebendo solicitações no sentido de que Dom Avelar
fosse preso. Pedro Mendes Ribeiro, à época ocupando a direção de jornalismo da
emissora, juntou a equipe e foi ao Palácio prestar solidariedade ao bispo. “Quem fez o
discurso hipotecando solidariedade a Dom Avelar fui exatamente eu. Escrevi em nome de
todos os colegas. Ao responder o discurso, Dom Avelar pediu permissão para fazê-lo
sentado. Ele estava emocionado, não podia ficar de pé” (Id. Ibid.).
12

Sob este aspecto, Deoclécio Dantas, que trabalhou na emissora entre 1964 e
1979, no período mais intenso da ditadura, avalia que os problemas criados pela censura
foram imensos:
A Rádio Pioneira era censurada diariamente. Eu, por exemplo, já
nesse tempo como diretor de jornalismo da emissora, recebia
diariamente uma visita do agente federal, que levava um livro com
um papel cortado, papel tipo ofício, mas cortado em faixas, aí dizia
lá: ‘De ordem superior, nada pode ser divulgado sobre o
pronunciamento de Dom Hélder Câmara feito em Recife. No outro
dia chegava outra censura: ‘De ordem superior, nada pode ser
divulgado sobre o surto de meningite em São Paulo’. Noutro dia
chegava outro edital: ‘De ordem superior nada pode ser divulgado
sobre o discurso do General Albuquerque Lima, feito em Recife’.
Certo dia chegou outro edital: ‘De ordem superior nada pode ser
divulgado a respeito da renúncia do governador do Paraná, seu
Aroldo Leão Pires’. Eu não sabia nem que o cara tinha renunciado.
Quer dizer, a censura terminava colocando a gente a par do fato
[...]. A Pioneira era muito patrulhada, era imensamente patrulhada.
(DANTAS, 2002).

Dom Avelar Brandão Vilela reagia a tais atitudes com um misto de habilidade e
indignação. Em resposta a um militar do Exército, que teria afirmado, sobre uma matéria
divulgada pela emissora, que Dom Avelar “não estava atento às necessidades de
preservação da ordem democrática", Dom Avelar teria respondido de forma diplomática,
mas também corajosa:

 Que democracia é essa de que o senhor fala?


 Porque o senhor faz parte de um movimento que derrubou um
presidente eleito pelo voto direto.
 E agora o senhor quer me dizer que democracia é esta que está
implantada.
 Eu acho que há um equívoco e o equivocado não sou eu. (Id. Ibid.).

Pedro Mendes Ribeiro, conforme vimos, ocupava a direção do Departamento de


Jornalismo e, nesta função, igualmente a Deoclécio Dantas, teve que conviver com a
presença dos censores cotidianamente:

Aqui um detalhe histórico muito interessante. A Guarnição Federal


colocava um oficial para censurar o jornal. Então, você fazia o
jornal, por exemplo, de cento e vinte notícias, por uma hipótese.
Eles chegavam e cortavam a metade, às vezes sessenta, setenta
notícias, e o que nos chamava a atenção era o fato deles
censurarem notícias que não tinham a mínima ligação com
revolução e nem com o idealismo comunista que havia na época.
Verdadeira psicose do comunismo e deixavam notícias que eu, na
condição de censor, não deixaria. Mas foi um período que, graças a
Deus, passou rápido e a Rádio Pioneira, continuou sua jornada. (Id.
Ibid.)
13

Os militares, já mencionados, atingiram as emissoras e os meios de


comunicação como um todo. Alguns programas de rádio eram mais visados. Os noticiários
e noticiaristas estavam mais na mira dos censores, embora os programas musicais também
passassem pelo crivo deles. Nesse caso, só se podiam tocar músicas que envolvessem as
pessoas emocionalmente; contudo, se os censores percebessem a intenção de discutir
questões sociais, estas eram impedidas de ser rodadas.
Os militares efetuaram prisões e elas não foram poucas nos meios de
comunicações no Piauí. Expuseram as vítimas para intimidar os companheiros de
profissão. Embora Francisco Figueiredo de Mesquita tenha sido preso, outros não o foram,
mas a tortura não necessariamente deveria ser física. A presença de um agente policial,
todos os dias, nos corredores das emissoras para avaliar a programação já se
caracterizava um tipo de tortura. Qualquer “deslize” e o diretor, o locutor, a discotecária
passavam por uma sessão de perguntas. Elas tinham a função de intimidar.
Diante da realidade em discussão, vale questionar: por que tanta preocupação
com o Rádio? Parece não haver dúvidas, por parte deles, de que esse veículo podia ser
empregado como uma arma poderosa. Getúlio Vargas já havia lançado mão deste recurso.
Leonel Brizola, quando governador do Rio Grande do Sul, utilizou os microfones da Rádio
Farroupilha para assegurar a posse de João Goulart na vaga deixada pelo presidente Jânio
Quadros. Esse instrumento mágico podia ser ouvido mesmo em lugares onde a energia
elétrica ainda não tinha chegado e influenciar comportamentos e atitudes.

Muita gente possuía rádio, muita gente mesmo. Tinha casa que
existia em mais de uma dependência, assim como hoje a televisão
no quarto, na sala. Lá os locais eram ocupados pelo rádio. As
pessoas acompanhavam assim. Tinha até uma história de uma
gomadeira que ela só ia gomar nas casas se pudesse levar o rádio
dela. Era viciada em rádio. Chegou um dia em que ela disse assim:
“Eu tô notando que o som do meu rádio está fugindo”. Era o ladrão
que estava levando o rádio. (VELOSO, op. cit.).

Por fim, tenha esta história acontecido ou não, isso é o que menos importa,
tendo em vista que ela nos remete para um fato que pode ser constatado a qualquer
momento. Basta entrar em uma oficina mecânica, visitar uma construção civil ou tomar um
táxi, que as pessoas podem ser vistas, trabalhando e, sem nenhum impedimento, ouvindo
sua música preferida através das ondas do rádio.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECKER, Jean-Jacques. A opinião pública. In: RÉMOND, René. Por uma história política.
Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.
14

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7 out. 2003.
CAMARGO, Aspásia e GÓES, Walder. Meio século de combate: diálogo com Cordeiro de
Farias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
CAMARGO, Aspásia et alii. Artes da política: diálogo com Ernani do Amaral Peixoto. Rio
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
DANTAS, Deoclécio. Depoimento concedido a Francisco Alcides do Nascimento. Teresina,
19 mar. 2002.
FAUSTO, Boris. O pensamento nacionalista autoritário. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
JEANNENEY, Jean-Noel. A Mídia. In: RÉMOND, René. Por uma história política. Tradução
de Dora Rocha. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.
JORNAL DO PIAUÍ. Teresina, 1971, p. 8.
LACERDA, Lílian de. Álbum de leitura: memória de vida, histórias de leituras. São Paulo:
UNESP, 2003.
LIMA, Carlos Augusto de Araújo. Depoimento concedido a Francisco Alcides do
Nascimento. Teresina, 18 out. 2002.
NEVES, Lucília de Almeida. Desafios da história oral: ensaio metodológico. Belo Horizonte,
2002. (Mimeo).
RIBEIRO, Pedro Mendes. Depoimento concedido a Francisco Alcides do Nascimento.
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SILVA, Ana Maria. Depoimento concedido a Francisco Alcides do Nascimento. Teresina, 5
set. 2002.
SILVA, Joel. Depoimento concedido a Francisco Alcides do Nascimento. Teresina, 20 jul.
2002
VELOSO, Antônio Bartolomeu. Depoimento concedido a José Maria Vieira e Luciana.
Teresina, 28 nov. 2003.

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