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(1) Geólogo pela Universidade de São Paulo/Chefe dos Laboratórios da Associação Brasileira de Cimento
Portland (arnaldo.battagin@abcp.org.br)
(2) Engenheira Civil/Superintendente do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT/CB-18 (cb18@abcp.org.br)
Resumo
No Brasil, os requisitos para água de amassamento do concreto eram estabelecidos pela antiga NB 1 -
Projeto e execução de obras de concreto armado (1978); após sua revisão, que resultou no cancelamento
da sua Seção 8, essa Norma passou a referenciar a ABNT NBR 12655, que por sua vez faz referência à
ABNT NBR 12654, que referencia a ABNT NBR 6118, que nada aborda sobre água de amassamento.
Criou-se assim o que se convencionou chamar de “vácuo na normalização”.
Recentemente, o Comitê Internacional ISO/TC71 apresentou um projeto de norma de água de
amassamento do concreto, com a participação de vários países e baseado na norma européia EN 1008.
Como membro participante da ISO, o Brasil é representado pelo ABNT/CB18, razão pela qual se decidiu
criar uma Comissão de Estudo para elaborar uma norma com base nesse projeto ISO, mas respeitando as
particularidades da cultura técnica nacional, de forma a suprir a sociedade brasileira com uma norma
moderna que contemple os avanços observados sobre o tema, inclusive ambientais. Nesse sentido se
destaca a potencialidade de uso de água recuperada da preparação do concreto e da água de reuso
proveniente de estação de tratamento de esgoto, além de outros tópicos discutidos ao longo do trabalho.
São comparadas as normas sobre o tema e mostrados resultados de alguns ensaios específicos e os
parâmetros adotados no projeto da norma brasileira, que visam garantir tanto a durabilidade quanto os
desempenhos mecânico e reológico do concreto.
Palavra-Chave: Água de amassamento, durabilidade, normalização, concreto.
Abstract
In Brazil, the requirements for mixing water for concrete were covered by the old NB 1 - Design and
execution of reinforced concrete structures (1978), but after its review, which resulted in cancellation of the
section dedicated to water requirements, this standard began to refer to ABNT NBR 12655, which in turn
referenced the ABNT NBR 12654, which refer to ABNT NBR 6118, which do not focuses on concrete mixing
water. This has created what is known as the vacuum in standardization.
Recently, the ISO/TC71 International Committee is dealing with studies for a new standard of mixing water,
based on the EN 1008, with the cooperation of several countries. As a member participant, Brazil is
represented by ABNT/CB18. For this reason it was decided to establish a Technical Committee to create a
Brazilian standard based on the ISO project, but respecting the particularities of our national characteristics.
In order to supply the Brazilian Community with a modern standard that should include several advances
made abroad on the subject, environmental issues were also taken into account. In fact there is a proposal
for the potential use of water recovered from concrete preparation process and reuse of water from sewage
treatment station, besides other topics discussed along the paper. Comparisons among some standards and
the parameters proposed to the new Brazilian standard aiming to guarantee both the durability and the
rheological and mechanical performance of concrete as well as specific results of some tests are shown.
Keywords: mixing water, durability, standardization, concrete
Parâmetro Requisito
.
Figura 2 - Amostra de água com contaminação de detergente
ANAIS DO 51º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2009 – 51CBC0000 7
A figura 3 ilustra ensaio expedito de avaliação de presença de matéria orgânica. Verifica-
se coloração mais clara que a solução padrão, indicando ausência de matéria orgânica na
amostra de água.
Figura 3 - Amostra de água tratada com NaOH para avaliação da presença de matéria orgânica
Para aprovação da água quanto a esses contaminantes podem ser executados ensaios
quantitativos de detecção de açúcares, fosfatos, nitratos, chumbo e zinco, de acordo com
partes específicas da nova norma, respeitando os limites máximos estabelecidos na
tabela 4.
Tabela 3 – Requisitos para avaliação de substâncias prejudiciais
Teor máximo
Substância
mg/L
Açúcares 100
Fosfatos, expressos como P2O5 100
-
Nitratos, expressos como NO3 500
2+
Chumbo, expresso como Pb 100
2+
Zinco, expresso como Zn 100
O teor de cloreto na água, expresso como Cl-, não deve exceder os limites estabelecidos
na Tabela anterior, a menos que se mostre que o teor de cloreto do concreto não excede
o valor máximo permitido na ABNT NBR 12655, como apresentado na tabela 6.
Tabela 6 – Teor máximo de cloreto no concreto para proteção das armaduras, conforme ABNT NBR 12655
Teor máximo de cloreto no concreto
Tipo de estrutura
(% sobre a massa de cimento)
6.4.2 Álcalis
Intensidade da
ação Medidas de mitigação
preventiva
3
1) Limitar o teor de álcalis do concreto a valores menores que 3,0 kg/m de Na2O
equivalente ou
Mínima 2) Utilizar cimentos CP II-E ou CP II-Z, ou CP III, ou CP IV, ou
3) Usar uma das medidas mitigadoras previstas na ação preventiva de intensidade
moderada
3
1) Limitar o teor de álcalis do concreto a valores menores que 2,4 kg/m Na2O equivalente.
ou
Moderada 2) Utilizar cimento CP III, com no mínimo 60% de escória ou
3) Utilizar cimento CP IV com no mínimo 30% de pozolana ou
4) Usar uma das medidas mitigadoras previstas na ação preventiva de intensidade forte
1) Utilizar materiais inibidores da reação, comprovando a mitigação da reatividade
Forte potencial por ensaio ou
2) Substituir o agregado em estudo.
NOTAS:
Aceita-se considerar o aporte de álcalis trazido ao concreto pelo cimento, na ausência de ensaios de todos
os componentes do concreto.
Na2Oequivalente = 0,658 K2O + Na2O.
6.4.3 Sulfatos
Concretos destinados a obras marítimas, subterrâneas, de condução de rejeitos
industriais e esgotos levam a necessidade de ter sua durabilidade assegurada frente ao
ataque por sulfatos. Efetivamente, o ataque da pasta de cimento endurecida por águas e
solos sulfatados é bastante conhecido e se medidas preventivas não forem tomadas
ocorre comprometimento da obra, decorrente da expansão causada pela formação de
componentes deletérios, gesso e etringita secundários.
Embora o mecanismo efetivo do ataque do concreto por sulfatos não esteja totalmente
esclarecido até hoje, os pesquisadores são unânimes em considerar que as fases
hidratadas de aluminato de cálcio do clínquer em contato com soluções contendo sulfatos
são as principais responsáveis pelo fenômeno. Esse tipo de patologia é conhecido como
No cálculo, uma massa específica de partícula de 2,1 kg/L foi utilizada para estimar o
material sólido presente na água. Se outros valores de massa específica e forem obtidos
a tabela pode ser recalculada de acordo com a seguinte fórmula:
1 − ρww
Wfl = x ρ f
1 − ρf
onde:
Wfl é a massa de material sólido presente na água, em kg/L;
ρ ww é a massa especifica da água em ensaio, em kg/L;
ρf é a massa específica de partícula de material sólido, em kg/L.
9 Conclusões
Este trabalho tem como propósito informar e esclarecer o meio técnico a respeito dos
trabalhos de normalização brasileiros visando o estabelecimento dos requisitos exigíveis
para a água de amassamento do concreto, com base em padrões internacionais, tendo
em vista garantir a durabilidade das construções.
Considerando o atual estágio de desenvolvimento tecnológico e as prementes
necessidades de uso racional dos recursos naturais, este trabalho alerta para a
importância das questões de sustentabilidade ligadas ao uso adequado da água de
amassamento do concreto, mostrando as possibilidades de reaproveitamento desse
recurso previstas no projeto de norma em fase conclusiva de trabalho no âmbito do
Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados (ABNT/CB-18).
Os resultados obtidos nos ensaios laboratoriais realizados e a experiência já consolidada
em alguns casos reais de reaproveitamento da água do processo de preparação do
concreto são auspiciosos e indicam ser este o caminho adequado para que a construção
civil brasileira dê um importante passo no sentido do desenvolvimento ambientalmente
adequado, socialmente correto e economicamente viável, mantendo e garantindo a
qualidade do concreto.