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EVELINE CESCA
CURITIBA
2007
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EVELINE CESCA
CURITIBA
2007
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AGRADECIMENTOS
Faça melhor aquilo que você já faz bem – se essa for a coisa
certa.
Peter F. Drucker
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RESUMO
Este estudo monográfico tem como tema geral a relação entre a Responsabilidade Social
Empresarial e o terceiro setor. Para realizar essa pesquisa, foi apresentado inicialmente um
contexto geral sobre a origem da Responsabilidade Social Empresarial, suas funções e
benefícios para a empresa e para a sociedade. Esses conceitos foram baseados principalmente
nos autores: Francisco Paulo de Melo Neto, César Froes; Gleuso Damasceno Duarte, Jose
Maria Martins Dias; Elisabete Regina de Lima Borba, Lenyr Rodrigues Borsa, Roldite
Andreatta e Instituto Ethos. A seguir realizou-se o estudo bibliográfico da origem do Terceiro
Setor, seus conceitos e os desafios para a captação de recursos para as instituições que o
compõem. Os autores utilizados nessa etapa foram Mike Hudson, Peter F. Drucker, Carlos
Montano, Daniel Q. Kelley. Para concluir o trabalho foi realizada uma pesquisa qualitativa em
forma de entrevista em profundidade com empresários potenciais doadores para identificar o
grau de conhecimento a respeito dos assuntos acima citados e as potencias motivações para
fazer doações a organizações que apóiam portadores do vírus HIV. Conclui-se que empresas
de pequeno porte não possuem um esclarecimento suficiente a respeito da aplicabilidade das
práticas de Responsabilidade Social Empresarial, contrapondo com as empresas de grande
porte que possuem setores qualificados, voltados para a responsabilidade social.
Em ambos os casos, não percebeu-se qualquer resistência ao apoio a organizações que
assistem portadores do vírus HIV.
ABSTRACT
This monograph study has as a general theme the relation between a Social
Responsibility of Private Companies and the tertiary sector. To do this research project it was
presented initially a general context about an origin of Social Responsibility of Private
Companies, its functions and benefits to the company and for all society. This concepts were
based especially on the authors: Francisco Paulo de Melo Neto, César Froes; Gleuso
Damasceno Duarte, Jose Maria Martins Dias; Elisabete Regina de Lima Borba, Lenyr
Rodrigues Borsa, Roldite Andreatta and Ethos Institute. Following this, a bibliographic study
was made about the origin of the Tertiary Sector, its concepts and the challenges to obtain
resources for the institutions that compose it. The authors used in this stage were Mike
Hudson, Peter F. Drucker, Carlos Montano, and Daniel Q. Kelley. To conclude this research
project a inquiry was made, this time based in quality, and it was made by interviewing
potential donor entrepreneurs to identify the degree ok knowledge about the topics
mentioned above and the potential motivation to donate for institutes that support HIV carrier,
although it seems that small - scale enterprise do not have enough elucidation about the
applicability of Social Responsibility of Private Companies practices, in contrast with large-
scale enterprise, that have qualified sectors and well tried for the social responsibility.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................10
1 Responsabilidade Social.................................................................................................12
1.1 Conceitos de Responsabilidade Social Empresarial.................................................12
1.2 Breve Histórico de RSE no Mundo e no Brasil.........................................................16
1.3 Práticas de RSE e seus Benefícios para a Empresa..................................................21
2 Terceiro Setor..................................................................................................................24
2.1 Organizações do Terceiro Setor..................................................................................24
2.2 Breve Histórico do Terceiro Setor..............................................................................26
2.3 Captação de Recursos no Terceiro Setor...................................................................28
3 ENTREVISTA COM EMPRESÁRIOS........................................................................34
3.1 Delineamento da Pesquisa...........................................................................................34
3.2 Entrevista 1...................................................................................................................35
3.3 Entrevista 2...................................................................................................................37
3.4 Entrevista 3...................................................................................................................39
3.5 Comparação da Entrevistas........................................................................................42
3.6 Considerações Finais...................................................................................................43
CONCLUSÃO....................................................................................................................45
REFERÊNCIAS.................................................................................................................47
APÊNDICES......................................................................................................................51
APÊNDICE A.....................................................................................................................52
APÊNDICE B.....................................................................................................................55
APÊNDICE C....................................................................................................................59
APÊNDICE D....................................................................................................................64
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INTRODUÇÃO
O surgimento do Terceiro Setor no Brasil ocorreu por volta dos anos 70 e 80 após crise
nas áreas política, econômica, social e moral. A sociedade civil, movida pelo sentimento de
revolta, principalmente devido ao regime ditatorial vigente, rejeitava veemente o
“assistencialismo”, a “caridade” do Estado, passando a agir mais ativamente através de
movimentos sociais, associações civis e ONGS e reivindicando os direitos humanos diante do
Estado que se mostrava ineficiente para suprir todas suas necessidades. Segundo vários
autores, até hoje, o Estado se mostra incapaz de atender plenamente às necessidades sociais. O
patrimônio estatal está obsoleto, a estrutura e os mecanismos são precários e se mostram
ineficientes. E o terceiro setor, ao longo do tempo, se mostrou necessário já que o Estado não
dá conta de todas as suas obrigações sociais.
Ao mesmo tempo, as instituições do Terceiro Setor necessitam contar com o apoio de
ações voluntárias, por parte da sociedade, de forma a obter recursos humanos e financeiros
suficientes para aplicar seus programas sociais. E uma das formas para que as intuições
possam planejar e manter suas atividades é recorrer a empresas privadas no âmbito da
Responsabilidade Social Empresarial.
Ao mesmo tempo, hoje, as empresas privadas, além de se voltarem para a obtenção de
lucros, obedecer a leis, serem politicamente corretas com seus funcionários e demais
stakeholders devem preencher um quesito extremamente importante no século XXI: se
preocupar com os problemas sociais da comunidade em que se inserem, praticando ações de
cunho social.
Dentro do Terceiro Setor a Responsabilidade Social Empresarial pode aplicar-se nas
áreas da cultura, educação, integração social, saúde, entre outras. Segundo a Associação dos
Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), a V Pesquisa Nacional sobre
Responsabilidade Social nas Empresas, realizada em 2004, revelou que o segmento de
educação é o mais escolhido para investimentos sociais pelas empresas brasileiras, enquanto o
meio ambiente, cultura, saúde e qualificação vieram em seguida. (ADVB, 2004)
A saúde vem em quarto lugar na preferência para ações sociais empresariais. Como
exemplo prático de uma situação agravada por esta ordem de preferência em investimentos
sócias, é o caso do Hospital Oswaldo Cruz, localizado em Curitiba, A administração do
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Hospital afirma que é constante a escassez de recursos, insuficientes para que possa oferecer
serviços que supram as necessidades dos pacientes portadores do vírus HIV.
Partindo dessa premissa, este trabalho no primeiro capítulo, tentará esclarecer aspectos
referentes à Responsabilidade Social Empresarial, seus conceitos, um breve histórico no
Brasil e os benefícios para empresa quando este modo de gestão é promovido pela mesma.
No segundo capítulo será abordado o tema Terceiro Setor, suas definições, um breve
histórico no Brasil e as principais formas de captação de recursos neste setor.
No terceiro capítulo será exposta uma pesquisa realizada com empresários curitibanos,
para possibilitar um breve esclarecimento dos motivos que os levariam a doar ou impediria a
doação para um Hospital que presta assistência para portadores da doença da AIDS.
Lembrando que este tipo de doença, em geral, produz preconceito social, devido às formas
mais comuns de infecções, relativos a um comportamento considerado imoral pela sociedade,
como por exemplo, a prostituição, o uso de drogas e a homossexualidade. A linha de pesquisa
adotada por este trabalho será Comunicação, Educação e Cultura e para atingir os objetivos
propostos, serão utilizados métodos de levantamento bibliográfico e entrevista.
O tema deste trabalho monográfico foi escolhido porque o resultado poderá contribuir
para o desenvolvimento de campanhas publicitárias para arrecadação de recursos para
intuições que prestam assistência a portadores do HIV. Visa demonstrar a importância do
envolvimento das empresas na busca para um desenvolvimento sustentável e entender o que
abrange o Terceiro Setor, alem de levar à compreensão maior em relação ao desenvolvimento
deste recente setor.
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tempo da sociedade em perceber que cidadania vai além de atitudes individualistas eticamente
corretas, abre possibilidades de encontrar soluções para questões sociais crônicas que assolam
países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
De acordo com o Instituto Ethos (2006), estudos sobre desenvolvimento sustentável,
iniciados a partir da década de 70, verificam que a humanidade precisa urgentemente de
medidas concretas para elevar o nível de consumo de países pobres, mas simultaneamente
diminuir a exploração total sobre os recursos do planeta, o que requer “... mudanças nos
padrões de produção e de consumo dos países ricos...” (ETHOS 2006, p. 08). Faz-se
necessário o engajamento das empresas, da sociedade e dos Estados para resolver os
problemas ecológicos e sociais eminentes em países subdesenvolvidos e em países em
desenvolvimento.
Para Melo Neto; Froes (2001) a empresa privada utiliza recursos humanos, naturais e
tecnológicos da sociedade onde se insere e vigora em função do Estado, que oferece um
ambiente legítimo para a sua existência. Todas essas variáveis fazem parte do patrimônio
social, diretamente ou indiretamente. A RSE é uma forma de prestação de contas dos recursos
utilizados, não apenas restituindo-os através de produtos ou serviços, mas com ações sociais
voltadas para resolver os problemas da comunidade, da qual necessitou para se viabilizar.
Portanto, sob esse ponto de vista, o desenvolvimento da empresa está diretamente ligado ao
desenvolvimento sustentável da sociedade.
O exercício da RSE torna-se indispensável para que os recursos do planeta ainda
disponíveis e as necessidades da sociedade não entrem em conflito. Segundo o Instituto Ethos
(2006, p. 8), a Responsabilidade Social é:
Forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e solidária da empresa
com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a
diversidade e promovendo a redução das desigualdades.
Para Borba; Borsa; Andreatta (2002), a RSE é fundamentada na ética, recorrendo aos
princípios e valores que a própria empresa cria.
Segundo Rabaça (2001 apud MUELLER, 2003, p. 1), a RSE deve ser um conjunto de
premissas que abrange aspectos da realidade sendo mais amplo que doações diretas às
instituições de cunho social:
O Instituto Ethos (2006) acredita que se caminha a passos largos para o cumprimento
de um desenvolvimento sustentável, devido a crescente consciência de RSE, porém ainda
necessita do comprometimento de todo o mercado e estudos para que os níveis de ações
necessárias, local e global, possam ser assimiladas simultaneamente,ou seja, “há que criar
soluções que transformem realidades locais e tenham potencial de replicação” (ETHOS 2006,
p. 09) e que ações aplicadas globalmente sejam capazes de ser incorporadas por as ações
locais. Em geral, os interesses e propósitos dos países subdesenvolvidos e os em
desenvolvimento são voltados exclusivamente para si, fato que traz conflitos para ações
sociais de empresas multinacionais.
Para Melo Neto; Froes (2001), atualmente tem-se a terminologia “empresa-cidadã” no
meio empresarial. O estudo para a definição deste termo é impulsionado por vários fatores
como: pressões da comunidade por um comportamento moral e ético com as atividades
empresarias, os problemas sociais que se agravam e a incapacidade do Estado em suprir as
carências sociais. Este conceito traz consigo todo o ambiente interno e externo que norteia a
existência de uma corporação. O investimento no bem-estar dos funcionários, ambiente de
trabalho saudável, satisfação do consumidor, transparência na comunicação, capacidade de
cooperação entre acionistas e parceiros, o apoio para o desenvolvimento da comunidade na
qual a empresa se insere, englobam o conceito de responsabilidade social. Os mesmo autores
(2001), afirmam que a RSE de filantropia transformou-se em engajamento e desempenho
ético correto com todos os públicos envolvidos (stakeholders) diretamente e indiretamente
com a empresa. O quadro 1, a seguir, ilustra as diferenças entre a filantropia e a
responsabilidade social:
Percebe-se que a RSE tem um campo de abrangência mais amplo do que a filantropia:
esta se baseia em atitudes isoladas, com retornos em curto prazo. O planejamento estratégico
aplicado por aquela, entretanto, visa respostas a médio e longo prazo com ferramentas de
gestão.
A RSE é apenas uma resposta às novas influências sociais e econômicas que o
mercado globalizado representa para as corporações, como afirmam Ashley et al (2005). A
racionalidade empresarial em um contexto de desigualdades requer que se defina uma
consciência ética dentro da empresa, que norteie todas as ações em todos os setores de
desenvolvimento. A RSE é a forma de gestão empresarial, que passa a ser um fator de extrema
importância no mercado competitivo, devido à abertura do mercado para produtos e serviços
independente da sua origem, reafirma Ashley et al (2005).
Para Melo Neto; Froes (2001), a empresa-cidadã desempenha ações de
responsabilidade interna e externa, esta focada na comunidade a sua volta e aquela focada nos
seus empregados e dependentes. Tal divisão da RSE esclarece formas de aplicação em
práticas concretas. O quadro 2 ,a seguir, caracteriza as duas denominações:
Conforme pode-se observar que as medidas de RSE têm vários focos, mas a empresa
necessita definir suas carências internas conforme as necessidades de seu público interno e, ao
mesmo tempo, definir as necessidades prioritárias da comunidade à sua volta. Para os mesmos
autores, algumas empresas acabam cometendo o erro de viabilizar suas ações somente no
campo externo deixando o público interno num quadro crônico de descontentamento,
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implantando o “balança social”, como exigência para as empresa com mais de 700
empregados. (...) Este devia ser parte do seu balanço financeiro, demonstrando o
cumprimento de suas atribuições e responsabilidades para com a sociedade.
Na Alemanha, responsabilidade social foi introduzida nas empresas por meio das pressões
Alemanha
sindical e política.
Na Suécia ela também ocorreu via pressão sindical, porem, buscando mais motivação para o
Suécia trabalho, valorização individual e combatendo os índices causadores da monotonia nos locais
de trabalho.
No Japão, a preocupação era a de envolver os trabalhadores no processo de aperfeiçoamento
Japão das próprias empresas, centrada na velha filosofia de “ensinar a pescar ao invés de dar o
peixe”
No Brasil, já em 1965, era aprovada a “Carta de Princípios dos Dirigentes Cristãos de
Empresas”, a qual ressalta que, a crise do mundo contemporâneo, tem como um de seus
vetores a falta de princípios cristãos e de justiça social das instituições econômicos – sociais,
alegando que as empresas não cumprem a sua função social. Nomes dos institutos no Brasil e
seu ano de criação. Em 1974 foi elaborado e divulgado em todo o país o Decálogo do
Empresário e três anos após foi constituída a Associação dos Dirigentes Cristãos de
Empresas (ADCE). A entidade que se baseava no fato de que as empresas deveriam, alem de
produzir produtos e serviços, também desempenhar uma função social com os seus
trabalhadores e com a comunidade em geral. Nesta mesma época, o tema foi destaque no 2º
Encontro Nacional de dirigentes de Empresas promovido pela ADCE. (...) Com o intuito de
fortalecer o movimento pela responsabilidade social no Brasil, é fundado em 1988 o Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, uma organização sem fins lucrativos e tendo
como proposta sensibilizar, mobilizar e ajudar as empresas a administrarem seus negócios de
Brasil forma responsável.(...) Com esta mesma visão social, empresários paulistas, preocupados
mais intensamente, mesmo que ainda com enfoque de filantropia, criaram em 1989 o Grupo
de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), com o objetivo de troca de experiências e
incentivo a ações empresariais. (...) Com o aumento gradativo das empresas investindo na
área social, houve a necessidade em torna-la púbicas, demonstrando-as para a sociedade
civil, dando, desta forma, mais visualização e divulgação de suas ações sociais. (...)
Aprimorando gradativamente sua forma de apresentação, chegou-se ao que hoje de denomina
balanço social. O balanço social é um instrumento de concretização da responsabilidade
social da empresa, sendo uma maneira de dar transparência às atividades que objetivam a
melhoria da qualidade de vida de seus trabalhadores, dependentes e comunidade onde esta
inserida. Com o intuito de divulgar e dar maior visibilidade ao balanço social, é lançada uma
campanha pelo Instituto de Análises Sociais (IBASE), na figura do sociólogo Herbert de
Souza, o Betinho, seu lançamento ocorreu em 16 de junho de 1997, no centro Cultural Banco
do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro.
Fonte: Borba, Borsa; Andreatta (2001, p. 49, 50).
Muller (2003, p. 64) afirma que “... no Brasil da década de 60 e 70, predominava a
filantropia empresarial de caráter paternalista...” e as ações sociais por parte do setor privado
eram predominantemente de caráter filantrópico por meio de doações diretas.
A sociedade, inapta em termos de escolaridade e condições socioeconômicas, no final
da década de 70, fez com que as empresas e o Estado repensassem o modelo econômico
brasileiro, no qual o Estado era protecionista e intervencionista, baseava-se em utilizar o
dinheiro público para investir no setor privado com a justificativa de criar empregos com o
desenvolvimento no setor industrial. No começo da década de 80, o Brasil passa por uma
reestruturação com maior participação da sociedade civil. Além disso, os sindicatos e as ONG
´s se consolidam, devido ao término da política intervencionista estatal com a
redemocratização, de acordo com Borba; Borsa; Andreatta (2001).
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Este projeto serve de apoio para as empresas brasileiras aplicarem práticas que
contribuem diretamente e indiretamente para o desempenho e sucesso do negócio no século
XXI, como também o entendimento e o esclarecimento das necessidades locais prioritárias,
diante das diretrizes lançadas pelos projetos sociais da ONU, como Agenda 21, Global
Compact e Oito Metas do Milênio, afirma o Instituto Ethos (2006).
Ashley et al (2005) explicam que no Brasil é comum ouvir que as empresas, devido à
cultura do oportunismo, não são capazes de sustentar o conceito de RSE que está entrelaçado
diretamente com a ética empresarial, e que consiste na consciência de agente social da
realidade como um todo, ocorrendo uma discrepância entre a cultura típica do brasileiro com
o conceito ético de RSE.
Contudo, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), entre 2000 e 2004 houve um relativo aumento no percentual de empresas
privadas que atuam com práticas sociais voltadas para a comunidade, de passando de 59%
para 69%. De acordo com o próprio Ipea (2006) são aproximadamente 600 mil empresas
brasileiras que investem no social. A pesquisa fornece ainda um dado interessante: em 2004 o
investimento privado na área social correspondeu a 0,27% do PIB brasileiro do mesmo ano,
tal investimento “... é pouco influenciado pela política de benefícios tributários, uma vez que
apenas 2% das empresas que atuaram no social fizeram uso de incentivos ficais” (IPEA,
2006). Dos empresários entrevistados, 40% afirmaram que não o utilizaram por ser um
número baixo, portanto não convém o seu uso. As isenções não abrangiam as atividades
desenvolvidas por 16% das empresas e 15% desconheciam tais benefícios. A pesquisa
proporciona dados que permitem concluir também que, há um engajamento crescente por
parte de todas as empresas, independente do seu porte. A investigação e análise dos dados
recolhidos pela pesquisa, de acordo com o próprio Ipea, permitem concluir que, no Brasil, os
empresários acreditam que o investimento privado no social não substitui o Estado, ou seja,
sua natureza vai além de apenas completar o que o poder estatal se mostra incapaz de
solucionar.
Segundo Melo Neto; Froes (2001), as empresas que não assumem as suas obrigações
como empresa-cidadã, internamente e externamente, têm como primeiro fator determinante de
resposta a este tipo de comportamento empresarial, a perda de credibilidade: “...a imagem é
prejudicada e sua reputação ameaçada” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 94). Os mesmo
autores afirmam que os consumidores tendem a se sentirem orgulhosos ao adquirirem
produtos//serviços de empresas que tem a RSE empregada como prática comum.
Brandt (2004 apud MELO NETO; FROES, 1999) comenta que no cenário de
globalização, onde se tem disponibilidade de um grande número de produtos no mercado,
sendo que não basta apenas o produto ter qualidade e bom preço para diferenciar-se dos
outros. O investimento social por parte das empresas passa a ser um fator de competitividade
e de diferenciação, transformando-se em um fator essencial para a resistência do negócio no
mercado e para potencializar a exposição e aceitação da imagem empresarial, como
conseqüência se ganha maior visibilidade.
Segundo o Instituto Ethos (2005), os principais benefícios que a RSE traz para a
empresa são: diminuição de conflitos, as relações entrem seus stakeholders torna-se mais
sólida, pois obtém-se uma cumplicidade maior dos seus públicos de interesse; valorização da
imagem institucional e da marca, que passa a ser um diferencial para as estratégias de
negócios, agregando valores à marca da empresa; maior lealdade do consumidor, pois em
geral o consumidor reage positivamente com empresas que se preocupam com o ambiente,
tratam bem seus funcionários e reprimem a corrupção; maior capacidade de recrutamento e
manter talentos, pois os funcionários se sentem orgulhos de trabalhar com uma empresa que
valoriza os direitos humanos e são engajadas com o bem-social, sendo assim, tendem a se
sentirem motivados para trabalhar; flexibilidade e capacidade de adaptação, pois as empresas
se adaptam mais facilmente com as expectativas do mercado; sustentabilidade do negócio a
longo prazo, se a RSE está em exercício permanente, a empresa garante sua autopreservação,
mesmo em casos de pequena perda de competitividade por razões operacionais; acesso a
mercados, pois se torna mais fácil para empresas engajadas com a RSE operarem em países e
regiões que não admitem condutas que desrespeitem as regras locais e globais; acesso a
capitais, pois controlando os riscos ambientais e sociais, a empresa tem condições favoráveis
para conseguir créditos e financiamentos do Estado.
Para Melo Neto; Froes (2001, p. 96), são sete as principaís conseqüências positivas de
uma consciência elevada da RSE da empresa:
Como os próprios autores afirmam os resultados das ações eticamente corretas por
parte da empresa são relevantes tanto quanto o preço e a qualidade do produto/serviço
oferecido, para a construção de uma reputação positiva perante o micro e macro ambiente
empresarial.
Para o Instituto Ethos (2006) a RSE está desde de contratar um deficiente visual,
investir em projetos sociais com aplicação diretamente na comunidade, trabalhar com
fornecedores que não utilizem trabalho infantil, até no desenvolvimento de um produto que
agrida menos o meio ambiente,.
Para Duarte; Dias (1986), para a definição de uma atividade específica diante de uma
carência social, deve-se estudar as prioridades para a comunidade, a gravidade do problema,
características da empresa e os recursos disponíveis para a sanção desta carência. É necessário
que haja um planejamento estratégico da prática de RSE, porque de nada adianta investir, por
exemplo, na educação da comunidade e não obter retorno, sendo através de prêmios ou
resultado no lucro da empresa. Tal afirmação pode ser confirmada por uma pesquisa do Ipea
(2006 apud MOREIRA s/d), aplicada no período de 2001 e 2004, nas empresas das cidades de
São Paulo e Belo Horizonte, dados que permitem concluir que é importante o investimento
social a longo prazo. 65% afirmaram que a ação social melhora a imagem da empresa junto a
comunidade e para os outros, 35% acreditam que melhora muito a imagem perante os clientes
e 53% notaram um significativo aumento da produtividade dos funcionários, pois consideram
que os mesmo se envolvem mais com a missão da empresa. (IPEA, 2006).
De acordo com Borba; Borsa; Andreatta (2001), uma das formas para trabalhar a RSE
dentro da empresa, é por meio do incentivo os funcionários para o desenvolvimento de
atividades voluntárias na comunidade, o que reflete em melhor relacionamento entres os
funcionários e em reconhecimento por parte dos funcionários com a missão da empresa.
Outro fator que comprova que o investimento social não deve ser confundido com o
gasto social. É o que Simon (2004) afirma ao esclarecer que empresas com o intuito de
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crescer e entrar no mercado de exportação devem ter a RSE promovidas e aplicadas com
seriedade, devido à exigência do mercado para que se alcance um crescimento econômico
mundial sem prejudicar a sociedade civil e o meio-ambiente.
2 TERCEIRO SETOR
Este setor consiste em organizações cujos objetivos principais são sociais, em vez de
econômicos. A essência do setor engloba instituições de caridade, organizações
religiosas, entidades voltadas para as artes, organizações comunitárias, sindicatos,
associações profissionais e outras organizações voluntárias. [...] são criadas e
mantidas por pessoas que acreditam que mudanças são necessárias e que desejam,
elas mesmas, tomar providências nesse sentido.
As definições para este novo setor são diversas. Vários autores vêm tentando
identificar o conceito e todas as organizações que se encaixam neste conceito de Terceiro
Setor. Fernandes (1994 apud MONTAÑO 2003), diz que o Terceiro Setor seria integrado por
manifestações pacíficas e não por manifestações que usariam a violência para solução de seus
problemas. Há dúvidas quanto á inclusão de movimentos classistas, como, por exemplo, o
Movimento dos Sem-Terra, que usam da força, ou outros movimentos considerados violentos
como postura para a defesa dos seus interesses. Tais movimentos se caracterizariam como
movimentos sociais, e mesmo assim, segundo Montaño (2003), são esquecidos pelos autores
que definem o conceito e as organizações que se encaixam na terminologia de Terceiro Setor.
De acordo com AS/GESET//BNDES (2001, p. 4), o Terceiro Setor incorpora a:
25
Que conceito é esse que reúne, no mesmo espaço, organizações formais e atividades
informais, voluntárias e/ou individuais; entidades de interesses político, econômico e
singulares; coletividades das classes trabalhadoras e das classes capitalistas;
cidadãos comuns e políticos ligados ao poder estatal?
Segundo Fischer (2002 apud REVISTA FAE, 2005), no Brasil, essas organizações
variam em tamanho, grau de formalização, volume de recursos, objetivo institucional e forma
de atuação, devido à diversidade social do povo brasileiro, como também aos vários fatos
históricos que estabeleceram as relações entre Estado e mercado.
O termo “Terceiro Setor”, segundo Aquino Alves (2001), começou a ser utilizado na
década de 70, nos EUA, para definir as organizações não lucrativas. Na década de 80 foi
esquecido, mas nos anos 90 manifestou-se novamente. Tal termo era usado para designar
organizações sem fins lucrativos, voltadas para a produção ou a distribuição de bens e
serviços.
Segundo Andrade (2002), no Brasil a consolidação do conceito de Terceiro Setor,
ocorreu por volta da década de 70, com a crise socioeconômica da população, resultante da
crise do petróleo que assolou o país. Juntamente com altos índices inflacionários e com o
achatamento da renda da maioria da população, a crise acarretou na ampliação da demanda de
carências sociais da sociedade que estava cada vez mais inapta para manter uma qualidade de
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vida básica e o Estado não pôde mais suportar a sobrecarga no orçamento público. O Estado
também se mostrou despreparado para absorver e resolver as questões sociais, obrigando a
própria sociedade civil a participar na busca para solucionar carências da população. Segundo
Haus (2004, p. 5), “A sociedade civil contemporânea deslocou o espaço público antes
radicado unicamente no Estado, e passou não só a pensar, discutir e formular políticas
públicas para as mais diversas áreas...”.
De acordo com AS/GESET/BNDES (2001, p. 6), o surgimento de entidades sem fins
lucrativos vem do século XIX, por meio de organizações que participavam de assistência à
comunidade, ligadas indiretamente ou diretamente à Igreja Católica, a qual recebia suporte do
Estado: “O fato é que durante todo o período colonial, até o inicio do século XIX, esta
associação entre Estado e Igreja Católica, que objetivava o atendimento e a assistência das
questões sociais, mostrou-se presente e predominante.” No século XX, outras religiões
também passaram a praticar atos de caridade. Com a industrialização e a urbanização, as
necessidades sociais ficaram mais complexas. Na década de 30, havia várias entidades, sendo
a grande maioria ligada ao Estado. Já nessa época o Terceiro Setor compunha-se de inúmeras
entidades, com ideologias e cunho de atuações divergentes.
Segundo Borba; Borsa; Andreatta (2001), na década de 60 com a repressão e a censura
por parte do Estado, as associações ligadas ao mesmo se desvinculam e partem para
iniciativas independente. Os movimentos sociais tomaram força e a sociedade civil se
organizou definindo o contexto em que Terceiro Setor começa a se consolidar como um novo
setor da sociedade.
De acordo com AS/GESET/BNDES (2001), o investimento externo que havia estado
presente, nas décadas de 60 e 70 é redirecionado a outros países com graves guerras civis,
países que eram menos desenvolvidos que o Brasil. Fato este que impulsionou a necessidade
de profissionalização e capacitação na gestão organizacional e de novas fontes de recursos
para essas entidades com fins sociais. As ONGs mais tradicionais acabaram sendo
privilegiadas para doações de recursos, e devido ao histórico se mostravam mais preparadas
para o novo contexto,. Já as ONGs menores sofreram as conseqüências da concentração das
doações e se mostraram deficientes para atingir os novos padrões de gestão organizacional.
Nos anos 90 as empresas passaram a investir parte de seus lucros em programas e projetos
sociais, vinculando-se às organizações que praticavam ações voltadas para o social.
Para Haus (2004), o marco histórico do Terceiro Setor deveu-se a redemocratização do
Estado, nos anos 80, período em que a sociedade civil se fortalece e se organiza
principalmente, devido às lutas sociais que travara com o Estado. A legislação brasileira, de
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acordo com o mesmo autor passou a definir o marco legal das instituições de cunho social,a
partir dos anos 90, como:
...Os novos critérios de classificação das entidades sem fins lucrativos de caráter
publico, inclusive reconhecendo outras áreas de atuação social antes não
contempladas legalmente; as novas possibilidades no sistema de articulação entre as
instituições de direito privado e publico; e, a possibilidade de remuneração dos
dirigentes das instituições sem fins lucrativos.
As entidades que compõem o Terceiro Setor, como o próprio nome já diz, são
empresas sem fins lucrativos, ou seja, não visam lucros no desenvolvimento de suas
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atividades. Porém, como Montaño (2003) explica que a captação de recursos é tão essencial
para que as atividades sejam concretizadas e desenvolvidas. Para o projeto GETS/UWC-CC
(2002), captar recursos, seja dinheiro, doações de produtos ou trabalho voluntário, de uma
maneira pró-ativa, torna-se então uma necessidade.
Segundo o Ministério da Previdência Social do Brasil, de 2001 a 2006, em valores
atualizados, os repasses da União às instituições privadas sem fins lucrativos atingiram R$ 14
bilhões, demonstrando que apesar de não terem lucros quantitativos, na mensuração dos
resultados desenvolvidos pelas entidades do Terceiro Setor há movimentação expressiva de
dinheiro.
Para Adulis (2002), a captação de recursos fundraising, atualmente é um dos grandes
desafios das organizações do Terceiro Setor, principalmente devido à crescente
competitividade decorrente do aumento do número dessas organizações. Este cenário esta
obrigando o aprimoramento e a inovação nas estratégias para a captação de recursos.
O projeto GETS/UWC-CC (2002) identifica três principais fontes de renda
identificadas pela maioria das organizações sem fins lucrativos: Recursos governamentais;
renda gerada pela venda de serviços (por exemplo, consultorias) ou produtos (camisetas,
chaveiros, agendas etc.); e, recursos captados através de doações (de indivíduos ou
instituições). Destas três fontes, o objetivo mais visado pelas organizações do terceiro setor é
a sua viabilização por meio de pessoas físicas ou públicas que se identificam com a causa
defendida pela mesma e doam de forma livre e espontânea, capacitando o desprendimento da
organização com o Estado.
Para Montaño (2003, p. 211), existem cinco maneiras de arrecadar recursos, sejam
eles, financeiros, humanos ou materiais: “simpatizantes, membros filiados à organização,
público em geral, empresas doadoras ou fundações de filantropia empresarial, atividades
comerciais, venda de serviços, instituições financeiras e recursos governamentais”. Os
membros filiados à organização podem contribuir com mensalidades ou anuidades.
Simpatizantes e público em geral podem participar de campanhas desenvolvidas pela
instituição para a arrecadação de recursos, como por exemplo, o Criança Esperança. As
empresas doadoras, às quais ele se refere, dizem respeito à Responsabilidade Social
Empresarial amplamente discutida a partir da década de 90, no Brasil, onde as empresas que
visam lucros, as que compõem a economia do país, apóiam as intuições de cunho social por
intermédio de doações financeiras ou por disponibilizar recursos humanos e materiais para
que as OGNS tenham estrutura e capacidade de atuar em alguma carência social do país.
Outra forma que pode viabilizar a movimentação de dinheiro pela instituição é a venda de
30
produtos e serviços, como por exemplo, o projeto Tamar, que disponibiliza camisetas, brindes,
bijuterias, etc., sempre relacionados e identificados com a marca do projeto ou oferece algum
curso abaixo do preço de mercado para a comunidade. Outras formas de cooperação
disponíveis para as organizações do Terceiro Setor são as empresas estrangeiras, como a
Organizações das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial, o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), que fazem empréstimos ou doações diretamente para as
organizações ou utilizam o Estado para fazer o repasse para as mesmas. Os recursos
governamentais,por sua vez, se referem às isenções de impostos, parcerias, subsídios que o
Estado oferece para o Terceiro Setor.
Montaño (2003) comenta que, em 2005, dos 10,9 bilhões de reais que movimentaram
o Terceiro Setor brasileiro, 61,1% foram produzidos pelas próprias entidades, 12,8% foram de
apoio estatal, e 26,1% representaram doações privadas. O que se percebe é a capacidade das
instituições brasileiras de autogerar os seus recursos financeiros.
Para Drucker (1997), o primeiro desafio das instituições sem fins lucrativos é
conseguir obter dinheiro para desenvolver a sua missão. E fazer dos doadores contribuintes e
não apenas doadores esporádicos. Para que este segundo desafio possa se tornar realidade, a
instituição precisa ter sua estrutura organizacional bem definida e sua missão precisa ser clara
a todos os colaboradores. Com isso, há uma possibilidade maior de obter resultados positivos
no desenvolvimento de campanhas para arrecadação de recursos, levando ao cumprimento
mais efetivo de sua verdadeira missão.
Andrade (2002, p. 55), afirma que as instituições do Terceiro Setor devem atender a
alguns pré-requisitos antes de desenvolver qualquer projeto de captação de recursos:
que a causa trará para ele e para a sociedade de forma profissional. Uma tática eficaz ao
solicitar uma doação é exibir os resultados obtidos com projetos passados. Para o autor, o que
inspira o doador a investir na instituição é o sucesso e o êxito.
Drucker (1997) expõe uma problemática característica de algumas instituições que se
confundem e acabam colocando a captação de recursos no primeiro plano: muitas acreditam
que a instituição não obtém sucesso nos seus resultados por falta de dinheiro. Mas, para ele,
este tipo de instituição está com problemas de identidade. O mesmo autor (1997, p. 41)
ressalta que o conselho diretor deve ter “...a capacidade para auditar o equilíbrio entre
programa e os recursos da instituição. É isso que dá segurança.” É de extrema importância a
aplicação de ferramentas do marketing, para que se estabeleça o comprimento dos objetivos
da organização, independente do intuito da organização, seja ela com fins lucrativos ou sem
fins lucrativos, de acordo com Ducker (1997). Outro ponto que o autor ressalta é a
importância da estratégia da instituição, diz respeito a deixar claro para os membros da
organização que o dinheiro da instituição não é dela, que apenas administra o dinheiro dos
doadores. Por isso, se faz necessário manter um relacionamento contínuo com os doadores,
independente da quantia doada: estreitar as relações se torna crucial para que aquele doador
passe a ver a instituição com mais credibilidade por estar prestando contas dos projetos para
os quais ele doou.
Hudson (2004) afirma que as instituições sem fins lucrativos precisam ter seus planos
para captação de recursos detalhados e justificados. É relevante que os gastos estejam previsto
no planejamento do projeto/campanha.
O projeto GETS/UWC-CC (2002, p. 32), vai além e afirma que “Devem ser acertados
os detalhes quanto a quem, quando, onde e como cada iniciativa será realizada. Prazos,
orçamentos, listagens de funcionários: tudo isso tem de constar do plano”.
Kelley (2003) comenta que há dois tipos de campanhas para a captação de recursos: a
campanha anual, que tem utilidade para as despesas habituais; e a campanha de fundos
capitais ou patrimoniais, resultado de esforços para obter recursos para objetivos maiores
como a construção de estrutura física ou um projeto/campanha importante.
Quanto ao público que será solicitado, o autor comenta que para que a mensagem seja
entendida e surta efeito, a organização precisa saber para quem ela está falando. É necessário
que se defina metas, prazos e as fontes de recursos, sejam eles, humanos, materiais ou
financeiros, para cada projeto/campanha que a instituição irá realizar, por exemplo, quando se
busca apoio de empresas privadas o apelo tem que ser o mais racional possível, quando requer
doações de indivíduos o apelo deve ser mais emocional.
32
Oliveira; Ross; Altimeyer (2005) vão alem de Kelly (2003) e afirmam que uma
organização sem fins lucrativos é composta por valores e princípios de pessoas com objetivos
em favor da sociedade, estes valores e princípios têm que estar em coerência com os seus dois
públicos: os fornecedores/apoiadores e o público beneficiário. Com esta premissa os autores
expõem um modelo estratégico para empresas sem fins lucrativos, apresentado, a seguir, na
figura 1:
Fonte: Oliveira, Braulio; Ross, Erineide Sanches; Altimeyer; Helen Yara. Proposta de um modelo de planjamento
estrategico para instituicoes sem fins lucrativos. FAE,v. 8, n.1, (2005, p.78).
Como mostra a figura 1, não é algo simples desenvolver um plano estratégico para as
empresas sem fins lucrativos. De acordo com Oliveira; Ross; Altimeyer (2005), são quartoze
variáveis que norteiam as atividades de uma organização sem fins lucrativos, sendo elas todas
interdependentes. É grande a complexidade para compreender o micro e o macro ambiente de
33
uma organização do Terceiro Setor, por isso a necessidade de profissionais qualificados para
administrar essas organizações.
Drucker (1997) também chama a atenção ainda para a necessidade de saber qual será o
seu público apoiador, devido ao fato que os potenciais doadores precisam se identificar com a
causa da organização sem fins lucrativos: é necessário estabelecer critérios, para saber quanto
pedir e para quem pedir. Drucker (1997) complementa esclarecendo que muitas organizações
acabam desestabilizadas porque a preocupação de moldar a missão da organização ao público
doador é demasiada, decorrendo na perda de identidade. O mesmo autor ainda ressalta que é
indispensável que os doadores se sintam comprometidos com o sucesso da organização, e não
sejam apenas pessoas que doem casualmente, mas é necessário metas a longo prazo para criar
um contexto de ligação direta e consistente com o público doador. Hafner (apud DUCKER,
2002, p. 64), complementa “… isto requer uma estratégia de longo prazo e não uma
campanha anual de coleta de fundos”.
Para Montaño (2003) a atividade de arrecadação de recursos ainda está na fase de
amadurecimento, porém as instituições do Terceiro Setor podem buscar auxílio junto à
Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), criada em 2000, com o objetivo de
promover o desenvolvimento e o aprimoramento dos profissionais na obtenção de recursos
para causas sociais e preservar princípios éticos na função de captação de recursos.
Outro exemplo é o Programa Base de Cidadania - Prêmio Empreendedor Social
Ashoka-McKinsey, criado em 1997, desenvolvido pelo Centro de Competência para
Empreendedores Sociais Ashoka-McKinsey (CCES), que tem por objetivo incentivar o
Terceiro Setor a desenvolver idéias inovadoras para a mobilização de recursos em busca da
auto-sustentabilidade. O programa premia as organizações que aplicaram estratégias e
obtiveram êxito e possam servir de modelo para outras organizações do Terceiro Setor, e
também é considerado um incentivo às organizações do Terceiro Setor a prosseguirem
consistentes na busca do êxito de suas missões. (CCES, 2002).
Duarte (2005, p. 66) afirma que, “a entrevista é conduzida, em grande medida, pelo
entrevistado, valorizando seu conhecimento, mas ajustada ao roteiro do pesquisador”.
Quanto aos objetivos dos estudos qualitativos, em geral, estão “mais relacionados à
aprendizagem por meio da identificação da riqueza e diversidade, pela integração das
informações e síntese das descobertas do que ao estabelecimento de conclusões precisas e
definidas” (DUARTE, 2005, p.63), o que traz uma desvantagem porque não se considera um
universo para a amostra, impedindo de avaliar os resultados de forma quantitativa.
A análise dos dados será qualitativa. Apenas um formulário de entrevista será aplicado
para todos os entrevistados. Os dados serão analisados separadamente e depois comparados
para as semelhanças nas respostas sejam notadas e que venham aprofundar o entendimento da
questão.
3.2 Entrevista 1
Está entrevista foi realizada no dia primeiro de junho de 2007, sendo utilizado um
gravador (Apêndice B). O entrevistado foi Francisco Bezrutchka, sócio da Indústria
Madeireira Odessa, que hoje conta com 23 funcionários, localizada na Rua: João Falaz 555,
no bairro Campo Comprido, na cidade de Curitiba. Fabrica laminado de madeira que envolve
os moveis. É uma empresa familiar, sendo os sócios irmãos, Francisco Bezrutchka, Maria Inês
Bezrutchka, Maria Delurdes Bezrutchka e Nelci Bezrutchka.
Conforme a entrevista transcrita no apêndice B, Bezrutchka se mostrou bastante
inseguro com as perguntas apresentadas, principalmente quando perguntado sobre o que era
Responsabilidade Social Empresarial, ou seja, não demonstrou um conhecimento preciso
sobre as funções e práticas da RSE.
Percebeu-se que as práticas de RSE que a empresa faz estão relacionadas com a
educação, saúde e meio ambiente. A saúde está sendo realizada por meio de doações
financeiras para ajudar crianças com câncer que vêm da Ucrânia, devido à grande incidência
da doença que ocorre no país desde que houve a explosão nuclear na cidade de Chernobyl. Os
efeitos são sentidos até hoje pelo país, havendo um apoio do Governo e das empresas
brasileiras a essas crianças. O motivo para o envolvimento da Madeireira Odessa provem de
motivos pessoais, no caso a família Bezrutchka é descendente de Ucranianos.
36
Em resumo, pode se perceber que não há uma política existente para definir as práticas
RSE, não são feitos planejamentos frente à uma postura de empresa-cidadã. As formas de
atuação da Indústria Madeireira Odessa voltadas para o social estão envolvidas com o lado
emocional dos sócios. As motivações e critérios para fazer doações, quando e onde estar
presente não envolvem o cuidado ou a intenção de que aquela atitude de cunho social possa
voltar como retorno positivo para a imagem da empresa. Os procedimentos frente à RSE são
realizados devido: à proximidade dos problemas sociais, como ocorre com a comunidade
próxima ao reflorestamento; à sensibilização com o caso de crianças ucranianas com câncer
por se identificarem com a nacionalidade dos mesmos, e à consciência empresarial com o uso
de um recurso natural. Os motivos que norteiam essas práticas da RSE não incluem uma
percepção ampla por parte dos sócios no que diz respeito às conseqüências que este tipo de
atitudes podem causar para a empresa e para a sociedade.
Pode-se perceber que a empresa não tem conhecimento suficiente para incorporar a
postura de uma empresa-cidadã, mostrando ser quase que ausente na RSE interna e atuando
no social mais como filantropia do que realmente no envolvimento da empresa para com os
problemas sociais, como vários autores afirmam ser o caso da RSE.
3.3 Entrevista 2
Esta entrevista foi realizada no dia 2 de junho de 2007 por telefone (Apêndice C). O
entrevistado foi Fredy Marcos Kowertz, sócio majoritário da Canthiê Metalurgia & Produtos
em Metal, localizada na região metropolitana de Curitiba, Almirante Tamandaré, na Avenida
Vereador Wedislau Bugalski 1200/149, no bairro Botiatuba. Hoje a empresa possui 64
funcionários. Sua produção é de manufaturados de metais como aço carbono, aço inox e
alumínio. Atua no ramo de metalurgia há 21 anos.
Conforme a entrevista transcrita no apêndice C, Kowertz foi conciso nas suas
respostas, se mostrou seguro nas questões, mesmo não tendo conhecimento amplo sobre as
funções e práticas de RSE.
Ao ser perguntado sobre o que era RSE definiu apenas como apoio da empresa para
algum benefício para a sociedade, não mostrando conhecimento mais amplo sobre a RSE
interna, por exemplo.
38
já são punidos por portarem a doença, ou seja, não mostrou nenhum preconceito em relação a
estas pessoas.
Quando questionado se este tipo de apoio social traria a possibilidade repercutir numa
imagem negativa à empresa, Kowertz foi claro ao responder que isso não era cogitado pelo
fato que para a empresa e para a sociedade seria um apoio socialmente responsável.
Com esta entrevista, pode-se perceber que a empresa esta ciente da necessidade que as
organizações do Terceiro Setor, principalmente as que atuam na área da educação, em ter
apoio não somente do Estado. E esses apoios sociais que a Canthiê presta acontecem devido à
proximidade com os problemas que assolam as escolas e creches da região, e a motivação
pessoal, por parte de Kowertz, com a educação das crianças que residem em Almirante
Tamandaré.
É provável que, por ser uma empresa de pequeno porte, a prioridade seja o próprio
crescimento econômico. O conceito real de RSE não é algo claro para o empresário Kowertz,
contudo, percebe-se que ele tem consciência que as práticas de RSE vão além da sua
compreensão e das práticas que a empresa realiza.
3.4 Entrevista 3
Esta entrevista foi realizada dia 05 de junho de 2007, sendo utilizado um gravador
(Apêndice D). A entrevista foi realizada com Carolina Figueiredo Goulart, responsável pela
gerência de marketing, na coordenação de Responsabilidade Coorporativa, da América
Latina Logística – ALL, localizada na rua Emiliano Bertolini 100, no bairro Vila Oficinas,
cidade de Curitiba. A América Latina Logística atua em variados segmentos como
commodities agrícolas, insumos e fertilizantes, combustíveis, construção civil, florestal,
siderúrgico, higiene e limpeza, eletroeletrônicos, automotivo e autopeças, embalagens,
químico, petro-químico e bebidas. A empresa possui de 70 unidades de serviço localizadas
nas principais cidades do Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. No Brasil, a ALL tem sede nas
cidades de: Contagem – MG, Curitiba – PR, Guarulhos – SP, Joinville – SC, Maringá – PR,
Rio de Janeiro – RJ, Porto Alegre – RS, São Borja – RS, São Francisco do Sul – SC, São
Paulo – SP e Uruguaiana – RS.
Conforme a entrevista transcrita no apêndice D, Goulart demonstrou conhecimento
claro e profundo sobre o que é Responsabilidade Social Empresarial e mostrou conhecimento
40
Das três entrevistas, duas foram em empresas de pequeno porte e uma empresa de
grande porte. A diferença do entendimento e esclarecimento do que é Responsabilidade
Social Empresarial das empresas pequenas para as empresas de grande porte é
expressivamente perceptível.
As empresas de pequeno porte encaram a RSE predominantemente como filantropia,
não há um engajamento e envolvimento profundo da empresa com os problemas sociais. E
essas práticas de cunho social são voltadas à educação das regiões em que as empresas se
localizam, no caso, são regiões metropolitanas de Curitiba, as quais estão em
desenvolvimento.
O sócio majoritário da empresa Canthiê entende que a muito que se fazer para tornar-
se uma empresa-cidadã. Para ele, as nuances que o mercado sofre, decorrendo em períodos de
recessão na empresa afirma ser o motivo para que as práticas de cunho social sejam
esporádicas.
O sócio da Madeireira Odessa mostrou praticamente desconhecimento de todo o
ambiente que envolve o conceito de RSE. Atuando também mais na área de filantropia do que
em RSE.
As duas empresas pequenas demonstraram que as motivações para realizar doações
advêm ainda de motivações pessoais, da sensibilização devido à proximidade com os
problemas sociais, não decorrendo de análise e planejamento profissional para atuar em RSE.
Já a empresa de grande porte demonstrou que encara com profissionalismo a RSE,
aplicando e desenvolvendo práticas socialmente responsáveis internamente e externamente e
reservando um departamento exclusivamente responsável pela RSE. E para que todos os
stakeholders sejam informados de suas ações de cunho social, mensalmente distribui um
informativo, como o nome “semfronteiras”, com todos os projetos sociais que estão sendo
aplicados como também os projetos irão ser realizados. A empresa pode servir de exemplo
com uma empresa pode ser uma empresa socialmente responsável.
3.6 Considerações Finais
Com esta pesquisa pode ser percebido que a RSE ainda está sendo aos poucos
incorporada na gestão das empresas privadas. As empresas de pequeno porte mostraram maior
43
instituições do Terceiro Setor saibam quais são as potenciais motivações empresarias para
realizar doações e, assim, poder utilizar desse conhecimento para compreender quais táticas
possivelmente mais eficazes para captar recursos junto as empresas privadas. Surge aí um
campo pouco explorado pelas instituições do Terceiro Setor, podendo ser percebido que há
muito estudo a ser realizado quanto a este tema.
A pesquisa foi levantada por ser cogitada a possibilidade de haver restrições quanto a
instituições que prestam assistência a portadores do vírus HIV, e por meio deste trabalho de
pesquisa pode-se perceber que não há nenhuma objeção quanto a isso. Tanto os empresários
pequenos, quanto o grande empresário não demonstra nenhum tipo de preconceito à
assistência de pessoas que possuem o vírus.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LIVROS
ANDRADE, Miriam Gomes Vieira de. Organizações do terceiro setor: estratégias para
captação de recursos junto às empresas privadas. Florianópolis, 2002. 146 p.
47
ASHLEY, Patrícia Almeida et al. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2005. 205 p.
KELLEY, Daniel Q. Dinheiro para sua causa: como conseguir recursos de particulares,
empresas e instituições filantrópicas para: apóias programas que beneficiam crianças, idosos e
pessoas carentes, financias e promover a microempresa, desenvolver projetos educacionais,
culturais, ecológicos e de saúde. Tradução: Sandra Galeotti. São Paulo: Textonovo, 2003. 150
p.
MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Responsabilidade social e cidadania
empresarial: a administração do terceiro setor. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. 190
p.
TEODÓSIO, Armindo dos Santos de Sousa. Pensar pelo avesso o Terceiro Setor: mitos,
dilemas e perspectivas da ação social organizada no Brasil. In: STENGEL, M. et al (orgs.)
Políticas públicas de apoio sociofamiliar- curso de capacitação de conselheiros municipais e
tutelares. Belo Horizonte: PUC Minas, 2001, 85-124p.
48
AQUINO ALVES, Mario. Terceiro Setor: as origens do conceito. In: ENANPAD, 25, 2001,
Campinas. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2001, 15 p. 1 CD-ROM.
MENEGASSO, Profª. Maria Ester, Dra. Terceiro Setor e responsabilidade social das
organizações. In: XI SEMINÁRIO NACIONAL DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL E
MOVIMENTO ESTUDANTIL EM SERVIÇO SOCIAL, Florianópolis: UFSC, 2001.
AUTORIA ENTIDADE
INSTITUTO ETHOS. A rede Ethos de Jornalista. Rede Cartilha1. 2005. Disponível em:
<http://www.ethos.org.br/>. Acesso em: 15 de abril 2007.
HAUS, Paulo. Fortalecer a sociedade civil para fortalecer a democracia: reflexões sobre a
legislação para o Terceiro Setor. Junho de 2004. Disponível em:
<http://www.socioambiental.org/nsa/inst/docs/download/paulo_haus.pdf>. Acesso em: 30 de
abril 2007.
PORTELA, Izabel. Porque é tão difícil se investir na Área social? Disponível em:
<http://www.socialtec.org.br/Downloads/InvestimentoSocial/IzabelPortela_PorqueDificilInve
stirAreaSocial.doc>. Acesso em: 15 de abril 2007.
51
APÊNDICES
52
APENDICE A - QUESTIONÁRIO
QUESTIONÁRIO
NOME:
IDADE:
EMPRESA:
NUMERO DE FUNCIONÁRIOS:
53
IDADE DA EMPRESA:
SEGMENTO DA EMPRESA:
QUESTIONÁRIO
APENDICE B - ENTREVISTA 1
ENTREVISTA 1
ENTREVISTA 1
F: (pausa) tem que ver pra que fim que é. Qual é a necessidade. Se acharmos que precisa a
gente apóia.
APENDICE C – ENTREVISTA 2
ENTREVISTA 2
E: SUPONDO UMA SITUAÇÃO QUE VOCÊS TERIAM QUE DEFINIR ONDE DOAR,
ENTRE EDUCAÇÃO, SAÚDE, CULTURA E MEIO AMBIENTE, QUAL A EMPRESA
INVESTIRIA E PORQUE?
F: Na educação. Porque, pessoalmente, acredito que a educação esta em péssima qualidade e
é muito importante.
ENTREVISTA 2
é deficitário, demorado. Então a gente procura estar planejando, fazer um plano de saúde
privado, porque no Sistema Único de Saúde está complicado, o pessoal ter atendimento.
62
ENTREVISTA 2
APENDICE D - ENTREVISTA 3
ENTREVISTA 3
ENTREVISTA 3
Social. Isto faz parte dos valores, é disseminado em toda a nossa companhia e a gente trabalha
em cima disso. Não só a sede que estamos aqui, mas todas as unidades.
ENTREVISTA 3
gente gastou R$ 160 mil. São vários os projetos que a gente investe que a gente implanta e
leva para as comunidades. È dinheiro da ALL, é orçamento da ALL, a maioria. Agora, em
julho, a gente vai lançar o Instituto ALL, através do instituto a gente vai buscar parceiros,
então o dinheiro não vai sair só da ALL, mas também dos nossos parceiros. Ate então,
utilizamos o FIA para fazer os repasses e orçamento da ALL com projetos.
gente”, eles têm camisetinha própria, eles tem reuniões mensais, eles próprios tem as decisões
deles. Eles têm varias diretrizes, eles tem que trabalhar no social, trabalhar internamente, eles
tem que trabalhar com as campanhas. Tem algumas diretrizes, mas tem total autonomia pra
trabalhar, escolher a entidade, escolher o que eles vão fazer e no final do ano eles são
premiados. È bem legal, é um incentivo que a gente usa. Algum brinde, viagem.
68
mais fácil para entidades capta e muito mais fácil pras empresas doa. Aquele dinheiro que
você vai deixar de pagar para o Imposto de Renda você passar para um programa social ou
projeto de saúde. Por exemplo, se o Hospital Oswaldo Cruz tivesse um programa para
portadores de AIDS, um programa inscrito no Conselho Municipal da Criança e Adolescente
eu conseguiria entrar no site da prefeitura e doar não pro CONTIBA ou pro FIA e sim ia doar
69
direto pro hospital. Se eu tiver um repasse de R$ 50 mil reais eu vou lá e faço direto pro
Hospital. Isto chama muito a atenção das empresas. Porque é um dinheiro que você tem que
pagar no final do ano pro Imposto de Renda e você vai lá e investe num programa social. Isto
é a primeira coisa que a gente vê, falando como empresa. Mas também vai da identidade da
empresa de se identificar com a instituição.
ENTREVISTA 3
C: Eu como funcionária, digo que nós somos muito ousados. Seria um ato de ousadia mesmo.
Falo pela ALL, não teria nenhum tipo de discriminação. Mas concordo com você que algum
acionista poderia deixar de assistir alguma entidade um hospital que dessa assistência para
portadores de AIDS e preferisse trabalhar com pessoas com câncer ou pró-renal ou outro tipo
de especialidade. Concordo existe este preconceito sim. Porque a gente pensa: o que as
pessoas vão pensar da imagem da empresa e não como a gente pensa e como a gente defende.
E hoje se a tua empresa de capital aberta, se ela tem ações, isso é a primeira preocupação da
empresa, é a imagem. E também a imagem que temos com os nossos stakeholders.A relação
com os investidores é muito avaliada.
E: BOM TARDE.