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De fato, se o juiz não pode decidir apenas com base na capacidade de extrair logicamente
conclusões válidas, deve ser capaz de argumentar racionalmente quando não houver
pressupostos para a demonstração lógica. O método para essa “racionalidade” é, portanto, uma
preocupação legítima.
Visto que a lei escrita não cumpre o papel de resolver um problema jurídico de forma
justa, a decisão judicial tem de preencher essa lacuna, segundo os critérios da razão prática e as
concepções de justiça consolidadas na coletividade. [19]
“Há a crítica de que a teoria da argumentação jurídica não se aplicaria ao Direito no momento
do processo judicial, pois os falantes não se encontram em posição homóloga, já que cabe ao
juiz a decisão sobre o que é justo (correto) a partir dos argumentos trazidos por cada uma das
partes. Contudo, a completa homologia factual entre os participantes não é condição de
possibilidade do discurso. Ocorre que algumas das regras do discurso são passíveis de
cumprimento de forma apenas aproximada, como a exigência de participação de todos na
discussão, de absoluta inexistência de coação no debate etc.. A regra que demanda a simetria
entre os falantes é mais um exemplo de prescrição cuja concretização, na realidade, é feita,
muitas vezes, de modo somente aproximado, ou seja, na maior medida possível, o que não retira
o caráter de racionalidade da conclusão do discurso.” [20]
“[...] nem o primado heurístico dos discursos prático-morais, nem a exigência segundo a qual
regras de direito não podem contradizer normas morais, permitem que se conclua, sem mais
nem menos, que os discursos jurídicos constituem uma parte das argumentações morais. Contra
esta tese do caso especial, de Alexy (defendida inicialmente de modo não específico com
relação a discursos de fundamentação e de aplicação), levantou-se uma série de objeções. [...]
A tese do caso especial é plausível sob pontos de vista heurísticos; porém ela sugere uma falsa
subordinação do direito à moral, porque ainda não está totalmente liberta de conotações do
direito natural. A tese pode ser superada a partir do momento em que levamos a sério a
diferenciação paralela entre direito e moral, a qual surge no nível pós-convencional.” [22]
CONCLUSÃO
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Consoante Robert Alexy, "em um grande número de casos, a decisão jurídica que põe fim a
uma disputa judicial, expressa em um enunciado normativo singular, não se segue logicamente
das formulações das normas jurídicas vigentes." [1] Significa dizer: a par das decisões que têm
por fundamento claro dispositivo legal, verifica-se, não raramente, decidendum cuja ratio se
encontra externa ao ordenamento jurídico.
Diante disso, alternativa que já se propôs foi, em lugar de se buscar regras de fundamentação,
estabelecer-se um sistema de enunciados do qual se possam deduzir as premissas normativas
ausentes, necessárias à fundamentação. Tal proposta esbarra no simples fato de que, se o
sistema de enunciados não for dedutível das normas pressupostas, a decisão deles decorrente
não terá fundamentação lógica ante as normas do ordenamento; se, por outro lado, o sistema
axiológico proposto se puder extrair das normas pressupostas, estaremos diante do caso comum,
em que as regras de interpretação bastam à construção silogística da decisão.
A conclusão a que se chega é: quando a solução justa de um caso concreto exigir uma decisão
que não decorra logicamente do ordenamento, nem puder ser fundamentada com a ajuda das
regras de interpretação, restará ao aplicador escolher qual o enunciado normativo singular será
afirmado (porque selecionado por volição) ou construído (porque embasado em argumentos
extrajurídicos) na decisão. Visto que o decidir envolverá o ato de preferir um comportamento
a outro, na base de tal ação estará a alternativa eleita como melhor em algum sentido; a
necessária escolha encerra, portanto, um juízo de valor, que será o núcleo da fundamentação.
"O discurso jurídico é prático, por se constituir de enunciados normativos. É racional por
se submeter à pretensão de correção discursivamente obtida. É especial, por se subordinar
a condições limitadoras ausentes no discurso prático racional geral, a saber – a lei, a
dogmática e os precedentes. Essas condições, que institucionalizam o discurso jurídico,
reduzem consideravelmente seu campo do discursivamente possível, na medida em que
delimitam mais precisamente de quais premissas devem partir os participantes do
discurso, fixando ainda as etapas da argumentação jurídica, mediante as formas e regras
dos argumentos jurídicos." [14]
É possível estabelecer pelo menos três perspectivas de análise para o discurso jurídico:
2.Analítica: verifica a estrutura lógica dos argumentos efetuados ou possíveis. Tem por
escopo a determinação do tipo de silogismo apresentado (se apofântico/apodítico, erísitico
ou entinemático).
Por sua vez, a racionalidade do discurso pode ser observada sob dois ângulos:
Segundo Cláudia Toledo, Alexy coloca, dentre outras, as seguintes regras para
qualificação de um discurso jurídico como racional:
3.O falante não pode se contradizer (princípio da não-contradição tanto da lógica formal
– envolvendo então, o princípio da identidade e do terceiro excluído – quanto da lógica do
discurso, determinando a não-contradição performativa);
4.O falante só pode afirmar aquilo em que ele mesmo acredita (pretensão de veracidade
habermasiana);
5.O falante não pode usar a mesma expressão que outros falantes com significados
diferentes (pretensão de inteligibilidade formulada por Habermas);
6.O falante deve fundamentar o que afirma se lhe for pedido (regra geral da
fundamentação). [15]
De fato, se o juiz não pode decidir apenas com base na capacidade de extrair logicamente
conclusões válidas, deve ser capaz de argumentar racionalmente quando não houver
pressupostos para a demonstração lógica. O método para essa "racionalidade" é, portanto, uma
preocupação legítima.
Visto que a lei escrita não cumpre o papel de resolver um problema jurídico de forma justa, a
decisão judicial tem de preencher essa lacuna, segundo os critérios da razão prática e as
concepções de justiça consolidadas na coletividade. [19]
Número 5
Todas as regras diretivas da racionalidade do discurso prático geral são aplicadas também ao
discurso jurídico, devido à integração entre ambos. Em verdade, o discurso prático racional
geral constitui o fundamento do discurso jurídico, na medida em que este se vincula àquele,
possuindo sua mesma estrutura. Por isso, delimita-se tenuenmente a estrutura das regras da
razão para com as especificamente inscritas na Argumentação Jurídica. Nesta afirmativa,
ela é substancialmente jurídica, pois exara o id nuclear dos artigos:
Há regras que regem o discurso, as quais variam um pouco de autor para autor, mas que têm
seu cerne, sua ideia nuclear inalterada. São as regras requisito imprescindível para a aferição da
racionalidade de qualquer discurso prático. Isto é, tudo pode e deve ser objeto do discurso, tanto
o conteúdo das suas regras - que são, por sua vez, a forma do discurso - quanto a própria forma
dessas regras, isto é, a forma da forma do discurso. São elas as regras fundamentais, de razão,
de carga da argumentação, de fundamentação, de transição, além de delinear as formas de
argumento do discurso prático. Além dessas regras relativas à generalidade do discurso prático
racional, o discurso jurídico segue formas e regras específicas, chamadas de justificação interna
e de justificação externa.12
Os problemas ligados à justificação interna têm sido amplamente discutidos sob o nome de
silogismo jurídico. Atualmente há uma série de publicações em que se trata dos problemas
relativos ao tema, aplicando -se os métodos da lógica moderna.
12TOLEDO, Cláudia. Professora do Curso de Direito da Escola Superior Dom Helder Câmara.