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Cálculo Diferencial e Integral na Reta
Notas de Aulas
1 – Fatos Básicos…………………………………………………………………………….5
1.1 – A reta real……………………………………………………………………….6
1.2 – Funções………………………………………………………………………..14
1.3 – Exercícios……………………………………………………………...21
2 – Limite e Continuidade…………………………………………………………………24
2.1 – Limites………………………………………………………………………...25
2.2 – Propriedades dos Limites……………………………………………………...33
2.3 – Limites no infinito e limites infinitos……………………………………….…46
2.4 – Continuidade…………………………………………………………………..55
2.5 – Exercícios……………………………………………………………...62
3 – A Derivada……………………………………………………………………………...69
3.1 – Definição de derivada e regras de derivação………………………………….72
3.2 – A regra da cadeia e derivadas de ordem superior……………………………...86
3.3 – O Teorema do valor médio – Máximos e Mínimos…………………………...93
3.4 – A diferencial e a fórmula de Taylor…………………………………………..107
3.5 – Algumas formas indeterminadas – A regra de L´Hospital…………………...117
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1 -Fatos Básicos
O objetivo deste capítulo é recordar alguns fatos já conhecidos do leitor e salientar
alguns aspectos provavelmente novos. Supomos, portanto, alguma familiaridade com
os tópicos apresentados. Não vamos nos aprofundar, trata-se de definir a linguagem e
delinear o contexto em que vamos trabalhar.
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1.1 - A reta real
O conjunto dos números reais será sempre denotado por e, como pode ser
representado geometricamente pela reta, será chamado de reta real ou,
simplesmente, reta. Além das operações usuais de adição e multiplicação, em está
definida a relação de ordem `` '' que, por ser uma relação de ordem, goza das duas
seguintes propriedades:
1.
Se , , então a=b. (anti-simétrica)
2.
Se , , então . (transitiva)
e valem também
3.
Se e , então
4.
Dado um número real , se , temos
chamados intervalos:
6
A própria reta também é considerada um intervalo, podendo ser denotada
por .
reunião .
(1.1)
7
isto é, . É importante guardar a propriedade 1.1 porque ela será
(1.2)
ou seja,
8
Observação 1.1.1 Para quaisquer , vale o seguinte refinamento da
desigualdade 1.2:
(1.3)
ou, equivalentemente,
(1.4)
9
Exemplo 1.1.4 A=(0,1] é limitado, portanto, limitado superior e inferiormente.
Exemplo 1.1.5 O conjunto dos números naturais não é limitado,
mas é limitado inferiormente. Qualquer número real não positivo é uma cota inferior
de .
Exemplo 1.1.6 é limitado,
pois , .
é, se, e somente se, L for uma cota superior e, para toda cota superior
de A, tem-se .
chamado máximo de A, .
Exemplo 1.1.8 (1) Considerando os exemplos 1.1.4-7, temos , não
existe , e . (2) Denotaremos sempre com o conjunto
dos números racionais, isto é, aqueles que são o qüociente entre dois inteiros.
Se , então . Admitindo que (veja os
somente se, L goza das duas seguintes propriedades: (a) L é uma cota superior.
(b) Dado um número qualquer, existe tal que .
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Observação 1.1.2 Valendo o item (a), note que o item (b), nada mais é do que uma
maneira mais precisa de dizer-se que L é a menor cota superior de A. Isto é, se
subtrairmos qualquer número positivo de L, o número obtido não será uma cota
superior de A.
Estamos rondando um ponto delicado dos fundamentos do Cálculo: de nossas considerações deve ter ficado, ao menos
inconscientemente, a idéia de que todo conjunto não vazio, limitado superiormente, tem um supremo. Isto, apesar de
ser verdade, não é óbvio e, no fundo, equivale a dizer que a reta real é completa ou, intuitivamente, não tem``furos''. Se
estivessemos trabalhando com a reta racional , isto é, se os números fossem só os racionais, esse fato não seria
verdadeiro. O item (2) do Exemplo 1.1.8 confirma isso. O conjunto ali considerado é limitado
superiormente e não vazio, mas não tem um supremo racional uma vez que .
Em outras palavras, isso quer dizer que a reta racional não é completa; uma descoberta que data de muitos séculos.
Na Grécia antiga (antes do século V a.C.), os números conhecidos eram só os racionais e acreditava-se que eles eram
suficientes para exprimir a medida de qualquer comprimento em termos de uma unidade pré-fixada. Já no tempo de
não se pode exprimir por uma fração p/q, . Portanto é um número irracional, ou
seja, . Vejamos uma prova por redução ao absurdo. ``Suponhamos, temporariamente, que exista uma
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fração positiva p/q, irredutível, de modo que (p/q)
2=2, isto é, p2=2q2. Vê-se que isto implica (2q-p)2=2(p-
q)2; logo (2q-p)/(p-q) também é uma raíz quadrada de 2. Mas, claramente, q<p<2q, logo p-q<q. Assim,
encontramos uma outra fração igual a p/q com um denominador menor. Isto contraria a hipótese de que p/q está em
seus menores termos e encerra a prova.'' Essa foi, na época, a desconcertante questão da incomensurabilidade. O
ponto correspondente ao número na reta geométrica não tem um representante na reta numérica racional.
A prova acima da irracionalidade de foi extraída do livro de G. H. Hardy ``A Course of Pure Mathematics'',
Cambridge Univ. Press, Londres, 10.a edição (1967), onde o leitor encontrará outros fatos interessantes, como o
seguinte: ``Se a fração m/n é irredutível e pelo menos um dos números, m e n, não é um quadrado perfeito,
então é um número irracional. Por conseguinte, dado um número inteiro positivo k, ou k é um quadrado
perfeito ou é irracional.
Como não pretendemos nos aprofundar nas fascinantes questões relacionadas com o
texto em letra miúda acima, vamos encerrar o assunto com o seguinte axioma:
Axioma do Completamento. Se é um conjunto não vazio e limitado
Adaptações podem ser feitas em tudo o que se disse sobre supremo e máximo de um
conjunto, para se chegar aos conceitos de ínfimo de um conjunto A ( ), que é a
maior cota inferior de A, e mínimo de A ( ), que é o ínfimo de A quando este
pertence a A. O produto de um número racional não nulo por um irracional é um
número irracional e a soma de um racional com um irracional é irracional (não é
difícil provar esses fatos). Na verdade, os números irracionais não são poucos, vale a
seguinte afirmação: todo intervalo aberto contém um irracional (portanto, todo
intervalo aberto contém infinitos irracionais). Em uma linguagem mais técnica diz-se
que o conjunto dos números irracionais é denso na reta . Como os racionais
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Definição 1.1.5 Dado , chamamos de vizinhança de a a qualquer intervalo
de B distintos de a.
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1.2 - Funções
Como temos feito até agora, aqui também supomos alguma familiaridade com o
conceito de função. Nosso objetivo principal nesta Seção continua sendo o de
uniformizar a linguagem.
Definição 1.2.1 Dados dois conjuntos, ,
Exemplo 1.2.1 (1) Quando A=B, um exemplo simples é tal que f(x)=x,
(3) Denotaremos sempre com , o conjunto dos números reais não negativos.
Defina porf(x):=x2.
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Os conjuntos A e B são chamados, respectivamente, domínio e contra-domínio de f.
Dado um conjunto , sua imagem por f é o conjunto definido por
Figure:
15
Definição 1.2.3 Quando f(A)=B, a função f se diz sobre, ou sobrejetora. Quando a
elementos distintos de Aestão associados elementos distintos de B, isto é,
domínio B da função g.
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Exemplo 1.2.2 (1) Sejam , , tais que f(x):=1/
Uma consequência importante da Definição 1.2.6 é que uma função f será invertível
se, e somente se, f for bijetora.
Exemplo 1.2.3 (1) Sejam e dados. Se f(x)=ax+b, então f é invertível
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ainda ``função y=f(x)´´. Também usaremos a notação
será .
A função seno é ímpar. A função cosseno e a função y=|x| são pares. O leitor deve
examinar todos os exemplos anteriores desta seção, procurando classificar as funções
como pares ou ímpares, quando isto for possível. Como é o gráfico de uma função
par? E o de uma função ímpar? Apresentam eles alguma simetria com relação aos
eixos coordenados?
Definição 1.2.8 Dadas duas funções, f e g, com domínios ,
sua soma, f+g, seu produto, fg, e o quociente, f/g, ficam definidos, respectivamente,
por:
(f+g)(x)=f(x)+g(x),
(fg)(x)=f(x)g(x),
para todo x em A, e
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para todo x em A tal que .
e .
• Decrescente, se: .
máximo de f e escreve-se , ou .
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Se , então f(x0) é chamado valor máximo de f e x0 é
pelas relações
máximo e de mínimo e ,
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1.4 - Exercícios
Resolva as desigualdades dos exercícios 1) - 12)
15) Se e , definamos ,
ou L é ponto de acumulação de A.
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17) Indique os pontos de acumiulção dos seguintes conjuntos:
18) Verifique que toda função monotônica definida num intervalo fechado e limitado
é uma função limitada.
19) A função seno não é monotônica, mas a sua restrição a convenientes intervalos é.
Quais são os maiores intervalos onde é monotônica?
20) Esboce o gráfico das seguintes funções:
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(c) tal que .
(d) .
(e) .
ímpar?
25) Mostre que toda função estritamente crescente ou estritamente decrescente é
invertível, se for sobrejetora. Vale a recíproca? Isto é, seria verdade que toda
função ( ) invertível é estritamente decrescente ou
estritamente crescente?
26) Se o domínio de f for um intervalo, vale a afirmação final do exercício 25? E se o
domínio e o contra-domínio forem intervalos?
27) Sendo f uma função invertível, existe alguma simetria relacionando os gráficos
de f e f-1?
28) Considerando que as funções abaixo estão definidas no maior subconjunto
de mathbb R ond sua expressão faz sentido; em cada caso, qual é o domínio da
função dada?
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2 - Limite e Continuidade
Os conceitos de "derivada" e "integral'' são os nossos principais objetos de estudo.
Como veremos mais adiante, ambos são formas de limite. Assim, podemos dizer com
certeza que o conceito de limite é o mais fundamental do Cálculo.
Antes de entrarmos na definição precisa, vamos fazer algumas considerações
intuitivas. Consideremos uma função , , e um ponto a não
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2.1 - Limites
Definição 2.1.1 Dados uma função e um ponto de acumulação a de B,
(2.1)
satisfazendo:
(2.2)
Observação 2.1.1 Notemos que não importa quão pequeno seja o número
25
Vamos analisar a Definição 2.1.1 num caso concreto. Consideremos a função
Note que f não está definida no ponto x=1. No entanto, para temos f(x)=2(x+1)
|f(x)-4|=|2(x+1)-4|=2|x-1|.
Figure:
26
propriedades que permitem ver, por exemplo, que de um modo
tomarmos , temos:
se , temos
27
(5) . De fato, observemos que
Figure:
anterior.
Uma consequência da Definição é 2.1.1 a unicidade do limite.
Proposição 2.1.1 Seja e suponhamos que exista o limite de f em um
28
Escolhendo , então se e , as implicações
acima acarretam
limite.
(2) não existe. De fato, suponhamos, por contradição, que exista
Portanto, se ,
Mas, se e , , temos
29
o que contraria a condição (2.7). Logo, não existe .
Figure:
O item (1) do Exemplo 2.1.2 sugere um outro tipo de limite mais restrito, o limite à
esquerda e o limite à direita: são os limites laterais. Para definir esses conceitos
precisamos da noção de ponto de acumulação lateral, isto é,
Definição 2.1.3 Consideremos um ponto e um conjunto . Diz-se
de f ao conjunto .
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Definição 2.1.4 Consideremos uma função , e seja a um ponto de
de f em a é , se .
laterais de f em a, mas a recíproca é falsa, como mostra o item (1) do exemplo 2.1.2.
Observação 2.1.3 Suponhamos que as condições assumidas na definição dos limites
laterais de f, quando se cumpram. Neste caso, existe o limite de f em a se,
e somente se, existem os dois limites laterais e ambos são iguais a , isto é,
pori sso concluimos que o limite em questão não existe. Mais adiante, na
demonstração do Teorema do Primeiro Limite Fundamental esse recurso será
utilizado positivamente, isto é, para mostrar que um certo limite existe.
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Daqui em diante proporemos alguns exercícios mais práticos, visando treinar a
manipulação das técnicas, e outros mais conceituais, procurando fixar as idéias
importantes da teoria. O leitor deve se sentir desafiado por qualquer um que lhe
inspire dificuldade.
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2.2 - Propriedades dos limites
Dependendo do caso, a definição de limite pode ser bem pouco manejável, entretanto
nem sempre é necessário recorrer-se a ela para se investigar o limite de uma função.
Veremos agora algumas propriedades que tornarão mais simples o estudo dos limites
e suas aplicações.
Na seguinte proposição está subentendido que f e g têm o mesmo domínio e que a
variável independente xsempre pertence a esse domínio. Adotamos essa prática
sempre que necessário para não carregar os enunciados com condições obvias.
Proposição 2.2.1 Suponhamos que e . Então,
1.
2.
3.
se .
identidade
33
Assim, tomando o módulo em ambos os membros da equaçaõ (2.9), a condição
implica:
exercício.
Provemos o item 3. É suficiente mostrar que
que implica|g(x)-m|<|m|/2.
|g(x)|>|m|/2.
Assim, dado , existe , que pode ser tomado menor do que , tal
que implica
Portanto, implica
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Observação 2.2.1 1) A primeira e a segunda afirmações da Proposição 2.1 se
estendem para um número qualquer de parcelas, ou de fatores, respectivamente.
Assim, se , segue-se que .
3) Se P(x) é um polinômio, uma combinação das propriedades acima com os itens (5)
e (6) do Exemplo 2.1.1nos dá:
, e , se .
O item (3) do Exemplo 2.1.1 segue da observação acima, não sendo necessário,
conforme já tinhamos adiantado na ocasião, o uso direto da definição de limite. O
mesmo vale para o item (4) do Exemplo 2.1.1.
A proposição seguinte é muito útil. Traduz um fato inteiramente previsível: se o
limite de f em a é um número , então f(x) tem o mesmo sinal de
para x próximo, mas distinto, de a. Por essa razão tem o nome que tem.
Teorema 2.2.1 (Teorema da conservação do sinal) Seja uma função
ou, equivalentemente,
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Logo, se , para temos e, para ,
O Teorema da Conservação do Sinal garante que P(x) tem o sinal de 5/32 numa
vizinhança de a=3/2.
(2) O tamanho da vizinhança V, no Teorema da Conservação do Sinal, varia de
acordo com cada caso. Assim, se considerarmos as funções fn(x):=1-
uma vizinhança de x=0 onde fn(x) é positiva. Fazendo o gráfico de fn, que é
uma parábola pelos pontos e vértice (0,1), vê-se claramente que a maior
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(3) Analise o exemplo das funções gn(x):=1-nx, , em torno do
de f a é limitada.
ou seja, tomando ,
limitada em B. Entretanto, não vale a recíproca desta afirmação pois, pelo que já
sabemos, todo polinômio é localmente limitado em (porque?), embora, como
ficará claro na Seção 2.3, apenas os polinômios constantes sejam limitados.
A Proposição 2.2.2 pode ser vista como um critério de não existência do limite: se
uma função não é localmente limitada num ponto a, então não existe
37
. Por outro lado, sendo f localmente limitada em a, não se pode dizer que o limite
em a existe.
Exemplo 2.2.2 (1) Não existem os limites e , pois as
então .
38
Prova Não há perda de generalidade em assumir que h é limitada pois, caso contrário,
podemos provar a proposição tomando as restições das funções f e h à interseção do
domínio de f e h com uma conveniente vizinhança do ponto a.
Sejam , com , e K>0 um número tal que ,
Assim,
ou seja, .
0, f(x)=x2.
É natural esperar-se que valha uma proposição como a seguinte:
Teorema 2.2.2 (Teorema da comparação) Sejam funções tais
então
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(2.3)
Do Teorema da Conservação do Sinal segue que existe uma vizinhança V(a) de a tal
que f(x)-g(x)>0, ou seja,f(x)>g(x) em , contrariando nossas hipóteses.
trocar " '' por "<'' em (2.4). De fato, se g(x)=x e f(x)=-x, para ,
Comparação que .
40
Teorema 2.2.3 (Teorema do confronto) Sejam tais
que , ,e . Então
41
Logo, se e se , a condição implica
donde , ou seja, .
Prova Vamos considerar sabido que a área de um setor circular de raio r, determinado
por um arco de comprimento s, é sr2/2. A idéia é mostrar que os dois limites laterais
em x=0 existem e são ambos iguais a 1. Como a função é par, basta fazer o
Figure:
42
Notando que as alturas dos triângulos OAB e OAC, relativas à base OA, são
e , respectivamente, temos:
do Confronto.
Exemplo 2.2.5 (1)
43
De fato,
(2) De
fato,
que exista em .
A verificação deste fato pode ser feita por uma combinação da Proposição 2.2.5 com
as propriedades dos limites. (2)
44
De fato, .
45
2.3 - Limites no infinito e limites infinitos
A função f(x)=1/x2, considerada no item (1) do Exemplo 2.2.2, cujo gráfico é
esboçado numa das Figura 2.5, mostra uma situação em que não existe o limite. De
fato, os valores f(x)=1/x2 ficam arbitrariamente grandes tomando-se x mais e mais
próximo de 0. Assim, f não é localmente limitada em 0.
Embora não exista o limite de f em 0 - e isto deve ficar claro, pois não existe
um número nas condições da Definição 2.1.1 - ainda assim se escreve
46
Exemplo 2.3.1 (1) Se f(x)=1/|x-a|, então .
então .
(3) Se , então .
A verificação dos itens (1)-(3) do Exemplo 2.3.1 fica a cargo do leitor, que deve
também fazer um esboço do gráfico das funções ali consideradas.
A proposição abaixo estabelece um fato com que todos nós provavelmente já nos
deparamos em alguma investigação intuitiva.
Proposição 2.3.1 Se , , e g(x)>0 é tal
que , então .
Prova Seja K>0 um número dado. De acordo com a Definição 2.3.1, precisamos
mostrar que existe de modo que, se ,
apelar para a Definição 2.1.1 para assegurar que existe de modo que
mas, de acordo com a escolha de e observando que f(x) e g(x) podem ser
considerados positivos (tomando menor, se necessário), a última desigualdade é
equivalente a f(x)/g(x)>K.
Exemplo 2.3.2 .
47
Considerando a função -1/|x| e o limite, quando x tende a 0, o leitor verá que neste
caso o limite também não existe, mas é natural escrever . Fica
por analogia à Definição 2.3.1. Depois disso é muito fácil criar exemplos de
diferentes funções f tais que . Neste caso também o gráfico
Figure:
Se considerarmos a função f(x)=1/x e calcularmos f(x) para valores cada vez maiores
48
de x, verificaremos que f(x) se torna arbitrariamente próximo de 0. Esta situação é
denotada por
infinito é , e se escreve
que
de modo que, para , o gráfico de f fica dentro dessa faixa. Veja a Figura
gráfico de f, ou da função f.
Observação 2.3.1 Quando, como na Definição 2.3.2, um conjunto tem
(2) .
49
O leitor pode justificar os itens do exemplo acima, apelando para a Definição 2.3.2, e
esboçar o gráfico das funções em questão para . Dividir o numerador e o
Com alguma paciência, o leitor poderá considerar todas as combinações possíveis dos
sinais e seguir os mesmos passos da Definição 2.3.3, para então definir o
significado de
Então
50
Prova Seja dado e consideremos . A prova para os casos é
(2.4)
que
(2.5)
51
(b) Se e , então
(c) Se e , então
(2.6)
variável x tais que |x| seja grande, portanto , podemos dividir o numerador e o
52
A interpretação geométrica deste fato é que a reta horizontal y=3/2 é uma assíntota do
gráfico da função f(x)=(3x2+1)/(2x2-2x-4). A Figura 2.9 é um esboço do gráfico de f.
53
Antes de resolver os exercícios a seguir, chamamos a atenção para um procedimento
que já foi utilizado anteriormente: Para facilitar o cálculo do limite do quociente de
dois polinômios em x, quando , é geralmente útil dividir o numerador e o
denominador por xn, onde n é o grau do polinômio de maior grau. Este recurso
também pode ser útil em alguns casos de quocientes envolvendo radiciação de
polinômios.
54
2.4 - Continuidade
Dizer que uma função f é contínua em um ponto a significa que f(a) existe e
que f leva pontos "próximos'' de a em pontos "próximos'' de f(a). Isto pode ser
resumido precisamente na seguinte definição:
Definição 2.4.1 Uma função é contínua em um ponto se,
Note que, se o domínio de f for um intervalo, B=(b,c), b<c, a Definição 2.4.1 está
exigindo as três seguintes condições: 1) ; 2) existe e
3) .
em .
em a.
Prova Todas as afirmações seguem diretamente das propriedades dos limites,
demonstraremos como exemplo apenas a parte que se refere ao produto fg.
Sendo f e g contínuas em a, temos:
e f(b).
Uma interpretação geométrica do Teorema do Valor Intermediário é a seguinte: Se
tivermos, por exemplo, f(a)<f(b), dada qualquer reta horizontoal y=c,
com f(a)<c<f(b), conforme a Figura 2.10, o Teorema do Valor Intermediário diz que
para se ir de a ao longo do gráfico de f, tem-se de cruzar a
56
reta y=c. Isto é, entre a e b existe pelo menos uma solução da equação f(x)=c. A
Figura 2.10 mostra claramente também que esta solução não é necessariamente
única.
Prova Suponhamos, para fixarmo-nos num caso, que f(a)<f(b). No outro a prova é
completamente análoga. Consideremos um número qualquer c de modo
que f(a)<c<f(b) e mostremos a existência de tal que f(x0)=c.
(2.7)
(2.8)
57
Exemplo 2.4.2 Existe um único número tal que . De
existe b, , tal que f(b)>103. Além disso, por consequência do item (1) do
e .
com a Proposição 2.4.2 é limitada em [a,b]. Seja Luma sua cota superior qualquer.
Assim, , portanto, , para todo .
58
Logo, S-1/L é uma cota superior de f e, como L é positivo, trata-se de uma cota
superior f menor do que seu supremo. Esta contradição nos leva à existência
de tal que . A prova da existência de é análoga.
Figure:
pequeno de modo que tenhamos a seguinte inclusão (o leitor deve justificar que essa
escolha é possível):
59
Assim, como f-1 é estritamente crescente, podemos escrever:
ou seja, .
A Proposição 2.4.4 tem uma versão para funções estritamente decrescentes, que pode
ser enunciada e demonstrada, com adaptações óbvias, seguindo os passos da prova
acima, ou trocando a função estritamente decrescente f por -f e aplicando a
Proposição 2.4.4. A parte final desta seção diz respeito à composição de funções
contínuas, que é algo bastante presente no Cálculo e em suas aplicações.
Proposição 2.4.5 Sejam e duas funções, e de
(2.9)
60
(2.10)
Proposição 2.2.5.
. Assim,
61
2.5 - Exercícios:
1) Mostre que
3) Se , mostre que e .
4) Mostre que
e f(a+), com .
62
10) Se a>0, use a definição de limite para mostrar que . Sugestão:
Use a relação
11) Use a Definição 1.2.1 para mostrar que as três afirmações abaixo são equivalentes:
(a) ,
(b) ,
(c) .
de , se ?
não tem limite em nenhum ponto. Use as propriedades apresentadas na Seção 2.1
para calcular os limites 15) - 32), ou mostrar que eles não existem:
63
33) Verifique a seguinte desigualdade:
vizinhança de 1/2.
34) Calcule
35) Calcule .
36) Calcule .
37) Calcule .
38) Calcule .
39) Definindo
obtenha .
64
40) Sejam uma função e tais que f(x)<c, para todo . Mostre
exemplo, que `` '' não pode ser substituido por ``<'' na última desigualdade.
gráfico
59) Mostre que , se P(x) é um polinômio de grau maior do que
zero.
60) Qual é o valor de , se P(x) e Q(x) são polinômios de
65
62) Dado um número qualquer, ou mesmo , mostre que existem
e . É por esta razão que se diz que 0/0 é uma forma indeterminada.
, e
mesmas condições, para as quais não ocorre nem (a) nem (b). Nos exercícios 65-73)
determine o conjunto dos pontos onde a função fé contínua.
74)Sendo
é f contínua em x=-1 ?
66
75) Defina a parte fracionária de um número real x por . Faça um
descontínua.
76) Seja f uma função contínua num intervalo contendo c. Se f(c)>0, mostre que f é
positiva num intervalo contendo c.
77) Mostre que f é contínua em se, e somente se, .
função contínua.
em .
82) Uma função racional é uma função f da forma f(x)=P(x)/Q(x), onde P(x) e Q(x)
são polinômios. Justifique a afirmação de que uma função racional é sempre
contínua em seu domínio.
83) Se , f é contínua nos pontos x=1 e x=-1?
84) Se
67
85) Se f(x)=x, quando x é racional, e f(x)=1, quando x é irracional, existe algum ponto
onde f é contínua?
86) Sendo
88) Se uma função é descontínua num ponto x0, mas existe , pode-
90) Mostre que a equação tem uma única solução em cada intervalo da
forma , .
91) Dê um exemplo para mostrar que a soma de duas funções descontínuas pode ser
contínua. E pode a soma de uma função descontínua com uma função contínua ser
contínua?
68
3 - A Derivada
O quarto paradoxo formulado pelo filósofo grego Zenon (495-435 a.C.), chamado de ``A seta'', pode-se enunciar da
seguinte forma: ``Uma seta movendo-se, a cada instante está `em repouso' ou `não em repouso' (isto é, `em
movimento'). Se o instante é indivisível, a seta não pode se mover em um instante, porque se ela o fizesse o instante
seria imediatamente dividido. Mas tempo é feito de instantes. Como a seta não pode se mover em nenhum instante, ela
não pode se mover em nenhum tempo. Então ela sempre permanece em repouso.'' Ou seja, não existe o movimento da
seta.
O leitor encontrará mais informações sobre os paradoxos de Zenon no livro de E. T. Bell ``Men of Mathematics'',
Dover, N. York (1937), por exemplo.
Este argumento de grande engenhosidade para a época em que foi estabelecido, pode ser refutado hoje em dia com
base em alguns conceitos mais refinados do que os disponíveis naquele tempo. Uma análise do quarto paradoxo de
Zenon nos leva ao conceito de velocidade instantânea.
Suponhamos que um ponto descreva um movimento sobre uma reta de modo que sua coordenada, em cada instante t,
seja x=s(t). Esse ponto pode representar a seta disparada de um arco. Ao se mover da
posição a=s(t
1) para b=s(t2), o ponto tem uma velocidade média v, definida por
Assim, a velocidade média envolve o lapso de um certo tempo e as posições do ponto no início e no final desse lapso. É
uma noção fundamental, mas ainda um tanto grosseira, insuficiente para explicar que, em cada instante
fixado t0 entre t1 e t2, o ponto está em movimento e tem algo que o diferencia de um ponto em repouso:
uma velocidade não nula em t0, uma grandeza intrínseca do movimento, isto é, uma grandeza que não depende de
lapsos, mas está associada somente ao instante t0. Como defini-la?
69
em lapsos entre instantes t e t0, e definir a velocidade instantânea em t0 como
ou seja,
(3.1)
70
71
3.1 - Definição de derivada e regras de derivação
Tomemos os coeficientes angulares, m(x) = (f(x)-f(a))/(x-a), também chamados
declividades, das retas secantes a G(f) por (x,f(x)) e (a,f(a)). Se a ``reta limite'' de
nossas considerações preliminares existir e não for vertical, significa que os
coeficientes angulares m(x) tendem a um valor fixo, m(a), que é o coeficiente angular
da reta tangente e que chamaremos derivada de f em a. Na definição precisa, a seguir,
o ponto a é ponto de e também ponto de acumulação de A. Isto é, lembrando
(3.2)
A notação dy/dx é devida a Leibnitz. No seu tempo a formalização do conceito de limite não havia sido atingida e o
uso dessa notação pode ser explicado da seguinte forma: O acréscimo da variável x, , produz um
``infinitamente pequenos'', esses acréscimos passavam a ser denotados por dx e dy, respectivamente, e operavam-se
72
com eles formalmente como com dois números quaisquer. A razão transformava-se em dy/dx e este símbolo
não representava um ente uno, como acontece hoje, mas o quociente entre dy e dx. A despeito desses argumentos não
terem uma clara fundamentação lógica, devem ser julgados no contexto de sua época. A notação de Leibnitz
permanece e o leitor notará que ela é útil sendo, em muitas circunstâncias, a mais sugestiva.
A notação f'(x) é atribuída a Lagrange. É a notação mais conveniente quando f é diferenciável em um conjunto A e
se considera a função derivada em A. Isto é, a função f' que associa a cada a derivada f'(x) de f no
ponto x. Quando a variável independente representa o tempo e é indicada por t, também se usa para a derivada
em qualquer ponto a.
73
y-4 = 4(x-2). (3.3)
Antes de provarmos esse fato, convém observar que, se f é uma função diferenciável
em um ponto a, na definição de derivada, o limite (1.1) pode ser escrito na forma
isto é, a derivada da função identidade é 1. A fórmula neste caso faz sentido apenas
para , uma vez que a expressão 00 não é definida. Entretanto, o leitor pode
74
(6) . O leitor deve se encarregar da demonstração desse fato.
A seguinte proposição e os próximos dois exemplos ajudam a entender como deve ser
uma função não diferenciável.
Proposição 3.1.1 Se uma função f é derivável em um ponto a, então f é contínua
em a.
Prova. Note que f é contínua em a se, e somente se,
75
Como estamos interessados em entender como é uma função não diferenciável num
ponto, podemos reformular a Proposição 3.1.1 dizendo que toda função descontínua
num ponto a é não diferenciável em a.
A pergunta agora é: vale a recíproca da Proposição 3.1.1? Ou seja, será que toda
função contínua em a é diferenciável nesse ponto?
A resposta é negativa (como era de se esperar, pois em caso afirmativo, os conceitos
de diferenciabilidade e continuidade seriam equivalentes e poderíamos ficar com
apenas um deles). Os exemplos seguintes mostram funções contínuas e não
diferenciáveis em um ponto. As funções diferenciáveis formam, portanto, uma classe
mais seleta, ser diferenciável é ser contínua e mais alguma coisa.
Exemplo 3.1.2 A função f(x)=|x| é contínua, mas não diferenciável, no ponto a=0.
De fato, neste caso, o limite (3.2) em a=0, calculado à esquerda e à direita, assume
valores distintos:
(3.4)
(3.5)
76
-1<x<1, e x2<x4, para x>1, usando o mesmo raciocínio do Exemplo 3.1.2, obtemos:
.
Figure:
77
é diferenciável em x=0 e g'(0)=0. De fato,
o produto de uma função que tende a zero, quando , por uma função limitada.
O seguinte exemplo mostra uma outra situação.
portanto, não existe f'(0). Neste caso, a tangente ao gráfico no ponto (0,0) existe, mas
é vertical e seu coeficiente angular não está definido. O caso da raíz cúbica (n=3) está
representado na Figura 3.3.
(a)
78
(b)
(c)
continuidade de f.
(c) Neste caso, subtraindo e somando a expressão g(x)f(x) convenientemente e usando
a continuidade de g(x), temos
79
o que finaliza as partes (b) e (c) da prova.
O ítem (a) da proposição anterior se estende naturalmente a um número finito
qualquer de parcelas.
Sendo funções diferenciáveis em x, o leitor poderá usar
seguinte fórmula:
(3.6)
80
Exemplo 3.1.5 (1) Se , então .
(3.7)
Os itens abaixo mostram que podemos agora obter fórmulas de derivação para as
funções trigonométricas.
(3) . De fato, como , temos:
(4) . Fica a cargo do leitor verificar esta fórmula. Para isso basta
Suponhamos agora que y=f(x) seja uma função invertível definida num intervalo I,
derivável em a, com . Essas condições sobre f, como já sabemos, são
equivalentes a que o gráfico da função f, G(f), possua uma reta tangente no ponto
81
(a,b), onde b=f(a), com declividade , onde é a medida (tomando
como positivo o sentido anti-horário) do ângulo que o eixo x faz com a reta.
Ora, observemos que o gráfico de f-1, G(f-1), pode ser visto como o próprio G(f) se
forem trocados os papéis de x e y e se, além disso, quando traçarmos G(f-1),
representarmos a primeira coordenada - a variável independente y - no eixo vertical e
a segunda - a variável dependente x - no eixo horizontal. Isto é,
papéis de x e y, a declividade da reta tangente a G(f-1) deve ser vista como a tangente
trigonométrica do ângulo que ela faz com o eixo y, tomando o sentido horário
1 é derivável em b e
Figure:
82
Proposição 3.1.3 Seja y=f(x) uma função estritamente crescente (ou estritamente
decrescente) num intervalo I e derivável num ponto , com . Então a
donde
83
De um modo geral, reunindo os fatos contidos nos dois últimos exemplos, conclui-se
que também para expoentes racionais, vale regra de derivação
(3.8)
fórmula
84
(2) Neste caso é usual tomar-se (-1,1) como domínio e como
Figure:
(4)
(5)
(6)
85
3.2 - A regra da cadeia e derivadas de ordem superior
Em situações das mais variadas é preciso compor funções. Nesta Seção vamos atacar
o problema de derivar a composição de funções diferenciáveis. Apenas para se ter
uma idéia mais precisa do assunto, consideremos o exemplo de um ponto (x,y) se
movendo no plano xy sobre a curva de modo que sua abscissa percorre o
diferenciável em a) e
86
Como , concluimos que h é contínua em b e ainda temos para
todo y:
h(y)(y-b)=g(y)-g(b)-g'(b)(y-b).
Assim,
(3.9)
Dividindo (3.11) por x-a e tomando limites, para , somos levados finalmente
a
87
Donde, (dy/dx)x=0=6.
Observe que a composição de duas funções não diferenciáveis pode ser diferenciável
(confira com o exercício 60). De fato, a função
diferenciável.
O leitor está agora em posição de calcular a velocidade da ordenada daquele ponto se
movendo sobre o gráfico do cosseno, conforme a descrição do inicio desta Seção.
Deve fazê-lo.
Se uma função f é derivável num conjunto , fica definida uma outra função f'
(3) Se , então
continue.
89
A linguagem matemática está impregnada dessa terminologia. É preciso, portanto,
familiarizar-se com ela.
Uma questão interessante é a seguinte: Existem funções de classe Cn que não sejam
de classe Cn+1? Os itens (3), (4) e (5) do Exemplo 3.2.3 se referem a esse assunto.
Como f(x)=-x, para x<0, e f(x)=x, para x>0, a diferenciabilidade está garantida nesses
pontos. Mas, já vimos que f'(0-)=-1 e f'(0+)=1, deste modo, f não é diferenciável
em x=0 e, portanto, .
x2+y2=1, (3.10)
90
para -1<x<1, pode definir y como função de x de duas maneiras:
ou .
se .
91
desde que .
(2) Encontremos a equação da reta tangente à curva dada pela equação y4+3y-
4x3=5x+1, pelo ponto (1,-2), admitindo que essa equação define a função y=f(x) numa
vizinhança de x=1, com f(1)=-2.
Calculando y'=f'(x) de modo inteiramente análogo ao do exemplo anterior, obtemos:
calculemos y',
quando .
92
3.3 - O Teorema do valor médio - Máximos e mínimos
O Teorema do Valor Médio é um dos teoremas mais fundamentais do Cálculo. Outros
resultados importantes dependem dele. É também muito simples, como muitos
teoremas importantes. Tem a seguinte interpretação dinâmica: Num movimento
retilíneo realizado num intervalo de tempo [t0,t1], há em algum instante
entre t0e t1 quando a velocidade instantânea, , coincide com a velocidade
, para todo , o ponto a será chamado ponto de mínimo relativo (ou local)
93
(3) A função , , f(0)=0, tem infinitos pontos de
mínimo, , .
94
Ou seja,
Observação 3.3.1 1) Se I não for aberto, a conclusão da Proposição 3.1 pode não
valer. De fato, basta observar, por exemplo, a função , definida
é horizontal. Veja a Figura 3.8. Também tem a seguinte interpretação dinâmica: Se,
num movimento retilíneo, um ponto retorna, num instante t1 à posição inicial,
ocupada no instante t0<t1, então há um instante , , quando sua
95
Teorema 3.3.1 (Teorema de Rolle) Se f é uma função contínua em [a,b] e derivável
em (a,b), então existe um ponto tal que f'(c)=0.
Prova. De acordo com a Proposição 2.4.3, f assume o seu valor máximo, M, e o seu
valor mínimo, m, quandox varia em [a,b].
Se tanto m como M são atingidos nos extremos do intervalo [a,b], temos m=M,
pois f(a)=f(b). Logo, f(x)=m(constante), para todo . Assim, f'(x)=0, para
(3.11)
96
A função é a soma das funções deriváveis -f(x) e f(b)-K(b-x)), logo, é
e . Veja a Figura 3.9. Voltando à introdução desta seção o leitor pode fazer
97
f(x) = x/|x|.
A prova da parte do Corolário 3.3.3 correspondente às frases entre parênteses fica por
conta do leitor.
Observação 3.3.2 1) Se a hipótese f'(x)>0 for substituída por no
(3.12)
Diremos também, neste caso, que o gráfico, G(f), tem a concavidade voltada para
cima em (c,f(c)). Se valer
98
(3.13)
diremos que f é côncava em c, ou que o gráfico, G(f), tem a concavidade voltada para
baixo em (c,f(c)).
Definição 3.3.3 Se uma função f, nas condições da Definição 3.3.2, for convexa
(côncava) em todos os pontos de um intervalo , diremos que f é convexa
(côncava) em J.
A Definição 3.3.2 significa que, se tomarmos , o gráfico G(f) está
Prova. Como f''(c)>0 e f'' é, por hipótese, uma função contínua, o Teorema da
Conservação do Sinal assegura que existe um intervalo , com a<c<b, de
99
A prova dessa relação, para , é inteiramente análoga. Portanto, a relação
e f''(x)<0, se x>0. Assim, ainda que não exista f''(0), 0 é um ponto de inflexão de f.
garantir que 1 é o único ponto de inflexão de f. A verificação deste fato fica como
exercício para o leitor, que deve fazer um esboço do gráfico desta função.
As proposições que finalizam esta seção compõem a principal ferramenta para o
estudo dos pontos de máximo e de mínimo de uma função.
100
Proposição 3.3.4 Suponhamos que f seja uma função diferenciável em [a,b], exceto
possivelmente em um seu ponto crítico .
1.
Se f'(x)>0, para a<x<c, e f'(x)<0, para c<x<b, então c é um ponto de máximo
local.
2.
Se f'(x)<0, para a<x<c, e f'(x)>0, para c<x<b, então c é um ponto de mínimo
local.
Prova. Se f' satisfaz a hipótese do item 1., decorre do Corolário 3.3.3 do Teorema do
Valor Médio que f é estritamente crescente em [a,c] e estritamente decrescente em
[c,b]. Veja a Figura 3.11. Disso decorre que f(x)<f(c), para todo .
e . Se x>0, então e .
A proposição a seguir é, nas aplicações deste estudo, o recurso mais útil, embora não
cubra todos os casos de interesse.
101
Prova. Suponhamos satisfeitas as nossas hipóteses com f''(c)<0. Sendo ,a
versão da Proposição 3.3.3 para f''(c)<0 implica que a função f é côncava no ponto c.
Então, vale (3.15) num intervalo . Como f'(c)=0, segue-se que f(x)>c,
3.13.
102
A única raíz dessa equação é . Como
estritamente crescente em (d,e). Então, como f''(c)=0, temos f''(x)<0, para d<x<c,
e f''(x)>0, para c<x<e.
Assim, f muda seu caráter de convexidade em c.
Exemplo 3.3.5 A função tem um ponto de inflexão em . De
fato, , . Portanto,
Para as aplicações, o estudo dos pontos extremos de funções reais de uma variável real apresentado até aqui fornece
recursos em geral suficientes. Entretanto, em circunstâncias especiais, a proposição abaixo, que é mais abrangente,
pode ser necessária.
103
Proposição 3.3.7 Suponhamos f uma função de classe Cn em (a,b), , sendo
e .
1.
Se n é ímpar, então c é ponto de inflexão.
2.
Se n é par e f(n)(c)>0, então c é ponto de mínimo.
3.
Se n é par e f(n)(c)<0, então c é ponto de máximo.
Exemplo 3.3.6 (1) Algumas vezes as últimas proposições não são adequadas ao
estudo dos pontos extremos de uma função. Este é o caso da
função , para a qual 1 é um ponto de máximo, é um ponto
de inflexão e não existe f'(1). O leitor deve a usar o Corolário 3.3.3 do Teorema do
Valor Médio e a Proposição 3.3.3 para verificar essas afirmações. Veja Figura 3.15.
5 4
(2) A função f(x)=x satisfaz as condições da Proposição 3.3.7-1., com n=5 e c=0. A função f(x)=x satisfaz
as condições da Proposição 3.3.7-2., com n=4 e c=0. O leitor deve confirmar essas afirmações e fazer um esboço
do gráfico de f.
(3) Os fatos apresentados nesta seção constituem um recurso para esboçar o gráfico
de uma função. O esboço do gráfico da função , que mostramos na
(b) O ponto 1 é um ponto de descontinuidade, sendo a reta x=1 uma assíntota vertical,
pois
104
(c)
Como
105
(5) estudar o caráter de convexidade da função.
Convém observar finalmente que, mesmo considerando-se uma função de classe , a Proposição 3.3.7 não
esgota o assunto quando se trata de estudar a natureza de um ponto crítico. Veremos mais adiante um exemplo de uma
função, infinitamente diferenciável num ponto c, que se anula juntamente com todas as suas derivadas nesse ponto e,
no entanto, não se trata de uma função constante em nenhuma vizinhança dele.
106
3.4 - A diferencial e a fórmula de Taylor
Nesta seção vamos considerar o problema de fazer estimativas, isto é, aproximações.
O conceito de diferencial tem aqui um papel muito importante.
Em nossas considerações sobre a velocidade em um movimento retilíneo de um ponto dado por x=s(t), no início do
capítulo, observavamos que, ao se mover da posição s(t1) para s(t2), a velocidade média v é definida por
A velocidade média é a taxa (razão) de variação da posição s(t) em relação à variação do tempo t no
intervalo [t1,t2]. A velocidadev0 em um instnte t0 (isto é, a derivada de s(t) em t=t0) é essa taxa no instante t0. A
derivada tem o mesmo papel no estudo de processos em que uma grandeza qualquer evolui com o tempo, ou com
alguma outra variável não temporal. Esses processos trazem em si o natural interesse pela taxa de variação da dita
grandeza (variável dependente) com relação ao tempo, ou à outra variável (independente) em questão. Assim, em
ecologia, a taxa de crescimento ou declínio de uma espécie; em economia, o custo marginal de produção de alguma
mercadoria (isto é, a taxa de variação do custo com respeito à quantidade produzida) são alguns exemplos onde a
derivada está presente.
Como as funções lineares têm boas propriedades e, portanto, são em geral mais fáceis
de estudar, em muitos casos convém aproximar uma função qualquer, y=f(x), por uma
função linear, mesmo que essa aproximação seja acurada somente numa vizinhança
de um ponto x=a.
Sejamos mais precisos. Uma função linear é uma função da
forma , para todo , onde é uma constante. Portanto, o gráfico
da função linear é uma reta passando pela origem, dada pela equção y=kx.
Seja uma função qualquer. Se é fixado, queremos
esclarecer o que entendemos por aproximar f por uma função linear numa
vizinhança de a. Isto significa adotar o seguinte procedimento (veja a Figura 3.18):
107
1.
Introduzimos novas coordenadas no plano, definidas pelas
relações , (a origem do novo sistema de
coordenadas corresponde ao ponto (a,f(a)) do gráfico da função f)
2.
Numa vizinhança da origem do plano , substituímos o gráfico de f pelo
gráfico de uma função linear . Isto é, denotando ,
substituímos por (vale dizer, aproximamos
por o valor ).
ou seja,
mas isto equivale a dizer que k=f'(a). Assim, podemos concluir que o processo de
aproximação descrito aqui (comumente referido como um processo de linearização)
só é executável quando f é diferenciável em a.
108
Definição 3.4.1 A função linear
(3.14)
linear .
Exemplo 3.4.1 (1) Uma caixa cúbica tem a aresta medindo x=4cm, com um erro
máximo de 0,05cm. Qual o erro máximo no volume V da caixa?
Essa estimativa pode ser feita da seguinte forma: Se a aresta varia de x para x+dx, a
variação do volume é .
dV = 3x2dx
109
Considerando x = 16 e um incremento dx = 0,1, o incremento dy no lado do quadrado
pode ser estimado como segue:
Se quizermos aproximações mais acuradas, teremos de abrir mão de que elas sejam
lineares. Antes de prosseguirmos, notemos que se f for diferenciável
em a denotarmos dx=x-a e , a Definição implica
(3.15)
Note que o segundo membro de (3.17) é um polinônio em x-a de grau 1, P1(x), que
coincide com f no ponto ae cuja derivada coincide com a derivada de f no ponto a.
Se f for diferenciável até ordem 2 em a, podemos aproximar f, por um polinômio
em x-a de grau 2, P2(x), de modo que P2(a)=f(a), P'2(a)=f'(a) e P''2(a)=f''(a). Este
polinômio só pode ser
P2(x):=f(a)+f'(a)(x-a)+(1/2)f''(a)(x-a)2. (3.16)
110
Mais geralmente, para qualquer , se tiver todas as derivadas
como pode ser verificado pelo leitor por aplicações sucessivas dos argumentos acima
ou, melhor, por uma aplicação do princípio de indução finita.
Definição 3.4.2 O polinômio Pn dado em (3.19) é chamado Polinômio de Taylor de
ordem n de f, em torno de a.
A discussão que se segue mostrará que a aproximação de uma função é tão
(3.17)
Nosso objetivo agora é obter uma estimativa para En(x). Para chegarmos a ela
precisamos do seguinte resultado, que será útil também na seção seguinte.
Teorema 3.4.1 (Teorema de Cauchy) Sejam f e g funções contínuas em [a,b] e
diferenciáveis em (a,b), então existe c em (a,b) tal que
(3.18)
111
Prova. Definindo
(3.19)
nessa vizinhança.
(3.20)
112
De acordo com o Teorema de Cauchy, existe , entre x e a de modo que
logo,
(3.21)
e, observando que (3.23) e (3.24) implicam E'n(a)=h'(a), a Equação (3.25) pode ser
re-escrita:
(3.22)
(3.23)
113
Como, de acordo com (3.23) e (3.24),
(3.24)
e, conhecendo-se uma cota superior para |f(n+1)|, a relação (3.28) fornece uma
estimativa para o erro En(x). Na verdade, como estamos assumindo no
contínua no intervalo fechado J, sabemos que ela é limitada em J. Assim, existe uma
constante positiva L tal que , para todo entre x e a. A Equação
(3.28) implica
isto é, En(x) tende a zero mais rapidamente do que (x-a)n, quando . Esta
propriedade é expressa pela notação
114
Teorema 3.4.2 (Fórmula de Taylor) Sejam f uma função de classe Cn+1 num
intervalo aberto I e . Então, para cada x numa vizinhança de a,
A expressão do erro, ou resto, En(x), dada em (3.28) é atribuida a Lagrange, por isso a
expressão (3.29) é comumente referida como Fórmula de Taylor, com resto de
Lagrange, em torno de a.
Quando a=0, a fórmula (3.29) recebe o nome de Fórmula de Maclaurin.
Como , temos,
x4-3x3+5x2-1 = 11+6(x-2)+6(x-2)2+5(x-2)3+(x-2)4.
Sendo , , e ,o
a estimativa
115
Além disso, o resto de Lagrange pode ser estimado da seguinte forma:
116
3.5 - Algumas formas indeterminadas - A regra de L'Hospital
Se soubermos calcular e , as
proposições 2.2.1 e 2.3.3 podem não resolver nossos problemas quando pretendemos
calcular , se h(x)=f(x)/g(x), ou h(x)=f(x)g(x), ouh(x)=f(x)+g(x).
para .
(3.25)
onde .
Se
117
(3.26)
ou
(3.27)
então
(3.28)
Logo,
118
Com adaptações óbvias o leitor chegará à mesma conclusão com respeito ao limite à
esquerda e, portanto, à relação (3.34), que é a parte da prova que pretendiamos
apresentar.
A Regra de L'Hospital vale também para o caso em que . Não é difícil
de L'Hospital implica:
119
(3) leva à forma indeterminada 0/0. A Regra de L'Hospital
implica:
(5)
120