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1
Cálculo Diferencial e Integral na Reta

Notas de Aulas

de Plácido Zoega Taboas


2
Sumário:

1 – Fatos Básicos…………………………………………………………………………….5
1.1 – A reta real……………………………………………………………………….6
1.2 – Funções………………………………………………………………………..14
1.3 – Exercícios……………………………………………………………...21

2 – Limite e Continuidade…………………………………………………………………24
2.1 – Limites………………………………………………………………………...25
2.2 – Propriedades dos Limites……………………………………………………...33
2.3 – Limites no infinito e limites infinitos……………………………………….…46
2.4 – Continuidade…………………………………………………………………..55
2.5 – Exercícios……………………………………………………………...62

3 – A Derivada……………………………………………………………………………...69
3.1 – Definição de derivada e regras de derivação………………………………….72
3.2 – A regra da cadeia e derivadas de ordem superior……………………………...86
3.3 – O Teorema do valor médio – Máximos e Mínimos…………………………...93
3.4 – A diferencial e a fórmula de Taylor…………………………………………..107
3.5 – Algumas formas indeterminadas – A regra de L´Hospital…………………...117

3
4
1 -Fatos Básicos
O objetivo deste capítulo é recordar alguns fatos já conhecidos do leitor e salientar
alguns aspectos provavelmente novos. Supomos, portanto, alguma familiaridade com
os tópicos apresentados. Não vamos nos aprofundar, trata-se de definir a linguagem e
delinear o contexto em que vamos trabalhar.

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1.1 - A reta real
O conjunto dos números reais será sempre denotado por e, como pode ser
representado geometricamente pela reta, será chamado de reta real ou,
simplesmente, reta. Além das operações usuais de adição e multiplicação, em está
definida a relação de ordem `` '' que, por ser uma relação de ordem, goza das duas

seguintes propriedades:
1.
Se , , então a=b. (anti-simétrica)
2.
Se , , então . (transitiva)
e valem também
3.
Se e , então
4.
Dado um número real , se , temos

Além dos números reais consideramos dois símbolos, (abreviado por )

e , que não são números, e consideramos também a reta

estendida de modo que qualquer

satisfaz . Se , , os seguintes subconjuntos de são

chamados intervalos:

6
A própria reta também é considerada um intervalo, podendo ser denotada
por .

Definição 1.1.1 O módulo, ou valor absoluto, de é o número |x| definido por

O leitor pode facilmente verificar as seguintes propriedades do módulo:


(1) , (2)

Exemplo 1.1.1 Dado o número a>0, o conjunto é o intervalo [-

a,a], pois da Definição1.1.1 segue-se Ainda fazendo uso da

Definição 1.1.1 o leitor pode verificar que o conjunto éa

reunião .

Exemplo 1.1.2 Vamos resolver a desigualdade |x-3|<2. Analogamente ao item


anterior, obtemos: -2<x-3<2. Portanto, somando 3 a todos os membros, 1<x<5. De
um modo geral, se é um número positivo, temos

(1.1)

7
isto é, . É importante guardar a propriedade 1.1 porque ela será

usada corriqueiramente de agora em diante.


Exemplo 1.1.3 Resolvamos agora a desigualdade |x-1|>3.

Portanto, x<-2 ou x>4. Isto é, .

Uma propriedade fundamental do módulo é a seguinte:


Proposição 1.1.1 (Desigualdade Triangular) Para quaisquer :

Prova Como e , somando membro a membro vem:

e, de acordo com o item (1) do Exemplo 1.1.1, temos . Outra

desigualdade importante é dada pela


Proposição 1.1.2 Para quaisquer :

(1.2)

Prova Escrevendo a=(a-b)+b e aplicando a desigualdade triangular, temos

ou seja,

8
Observação 1.1.1 Para quaisquer , vale o seguinte refinamento da

desigualdade 1.2:

(1.3)

De fato, trocando os papeis de a e b em 1.2, vem:

ou, equivalentemente,

(1.4)

De acordo com a Definição 1.1.1, as desigualdades 1.2 e 1.4 levam finalmente


a .

Definição 1.1.2 Um subconjunto A de é dito limitado, se existe um número L>0


de modo que

Se vale a condição mais fraca:

o conjunto A é chamado limitado superiormente e o número L é chamado limitante


superior ou cota superiorde A. Analogamente, o conjunto A é dito limitado
inferiormente quando existe um número tal que

sendo chamado limitante inferior ou cota inferior de A.

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Exemplo 1.1.4 A=(0,1] é limitado, portanto, limitado superior e inferiormente.
Exemplo 1.1.5 O conjunto dos números naturais não é limitado,

mas é limitado inferiormente. Qualquer número real não positivo é uma cota inferior
de .
Exemplo 1.1.6 é limitado,

pois , .

Exemplo 1.1.7 é limitado. Fica a cargo do leitor

a verificação deste fato.


Definição 1.1.3 Seja um subconjunto de , limitado superiormente. A

menor cota superior de A é chamada supremo de A e é denotada por . Isto

é, se, e somente se, L for uma cota superior e, para toda cota superior

de A, tem-se .

Note que o supremo de um conjunto A não necessariamente pertence a A, como


veremos no Exemplo 1.1.8.
Definição 1.1.4 Se o supremo M de um conjunto pertencer a A, ele será

chamado máximo de A, .
Exemplo 1.1.8 (1) Considerando os exemplos 1.1.4-7, temos , não
existe , e . (2) Denotaremos sempre com o conjunto

dos números racionais, isto é, aqueles que são o qüociente entre dois inteiros.
Se , então . Admitindo que (veja os

comentários subsequentes ao Exemplo 1.1.9), segue-se que não existe .


Damos agora uma caracterização do supremo de um conjunto A: se, e

somente se, L goza das duas seguintes propriedades: (a) L é uma cota superior.
(b) Dado um número qualquer, existe tal que .

10
Observação 1.1.2 Valendo o item (a), note que o item (b), nada mais é do que uma
maneira mais precisa de dizer-se que L é a menor cota superior de A. Isto é, se
subtrairmos qualquer número positivo de L, o número obtido não será uma cota
superior de A.

Exemplo 1.1.9 Se , como no item (2) do Exemplo 1.1.8, pode-se

verificar facilmente que satisfaz as condições (a) e (b) acima e é, portanto, o

supremo de A. Observamos que condição (a) é imediata, logo, verificaremos somente


(b). De fato, aplicando um algoritmo de extração da raiz quadrada ao número 2, o
leitor obterá sucessivos números com

expansão decimal finita. São, portanto, números racionais. São sucessivas


aproximações por falta do número , isto é,

, . Dado qualquer, podemos escolher nsuficientemente grande,

de modo que . Assim, e, como ,a

condição (b) está satisfeita.

Estamos rondando um ponto delicado dos fundamentos do Cálculo: de nossas considerações deve ter ficado, ao menos
inconscientemente, a idéia de que todo conjunto não vazio, limitado superiormente, tem um supremo. Isto, apesar de
ser verdade, não é óbvio e, no fundo, equivale a dizer que a reta real é completa ou, intuitivamente, não tem``furos''. Se

estivessemos trabalhando com a reta racional , isto é, se os números fossem só os racionais, esse fato não seria

verdadeiro. O item (2) do Exemplo 1.1.8 confirma isso. O conjunto ali considerado é limitado

superiormente e não vazio, mas não tem um supremo racional uma vez que .

Em outras palavras, isso quer dizer que a reta racional não é completa; uma descoberta que data de muitos séculos.
Na Grécia antiga (antes do século V a.C.), os números conhecidos eram só os racionais e acreditava-se que eles eram
suficientes para exprimir a medida de qualquer comprimento em termos de uma unidade pré-fixada. Já no tempo de

Pitágoras sabia-se, entretanto, que o comprimento da diagonal de um quadrado de lado unitário ( ),

não se pode exprimir por uma fração p/q, . Portanto é um número irracional, ou

seja, . Vejamos uma prova por redução ao absurdo. ``Suponhamos, temporariamente, que exista uma

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fração positiva p/q, irredutível, de modo que (p/q)
2=2, isto é, p2=2q2. Vê-se que isto implica (2q-p)2=2(p-

q)2; logo (2q-p)/(p-q) também é uma raíz quadrada de 2. Mas, claramente, q<p<2q, logo p-q<q. Assim,
encontramos uma outra fração igual a p/q com um denominador menor. Isto contraria a hipótese de que p/q está em
seus menores termos e encerra a prova.'' Essa foi, na época, a desconcertante questão da incomensurabilidade. O

ponto correspondente ao número na reta geométrica não tem um representante na reta numérica racional.

A prova acima da irracionalidade de foi extraída do livro de G. H. Hardy ``A Course of Pure Mathematics'',

Cambridge Univ. Press, Londres, 10.a edição (1967), onde o leitor encontrará outros fatos interessantes, como o
seguinte: ``Se a fração m/n é irredutível e pelo menos um dos números, m e n, não é um quadrado perfeito,

então é um número irracional. Por conseguinte, dado um número inteiro positivo k, ou k é um quadrado

perfeito ou é irracional.

Como não pretendemos nos aprofundar nas fascinantes questões relacionadas com o
texto em letra miúda acima, vamos encerrar o assunto com o seguinte axioma:
Axioma do Completamento. Se é um conjunto não vazio e limitado

superiormente, então existe em .

Adaptações podem ser feitas em tudo o que se disse sobre supremo e máximo de um
conjunto, para se chegar aos conceitos de ínfimo de um conjunto A ( ), que é a
maior cota inferior de A, e mínimo de A ( ), que é o ínfimo de A quando este
pertence a A. O produto de um número racional não nulo por um irracional é um
número irracional e a soma de um racional com um irracional é irracional (não é
difícil provar esses fatos). Na verdade, os números irracionais não são poucos, vale a
seguinte afirmação: todo intervalo aberto contém um irracional (portanto, todo
intervalo aberto contém infinitos irracionais). Em uma linguagem mais técnica diz-se
que o conjunto dos números irracionais é denso na reta . Como os racionais

gozam da mesma propriedade, isto é, o conjunto também é denso em , tem-se a

impressão de que existem tantos racionais quantos irracionais em . Num certo


sentido, que não vamos precisar aqui, é uma idéia falsa, os números irracionais
existem em maior profusão.

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Definição 1.1.5 Dado , chamamos de vizinhança de a a qualquer intervalo

aberto da reta contendo a. Se a vizinhança for da forma , para

algum , a chamaremos de vizinhança de raio de a e denotaremos por .

Definição 1.1.6 Um ponto é dito um ponto de acumulação de se

toda vizinhança de acontiver um ponto de B distinto de a.


Analisando o exemplo a seguir notamos que um ponto de acumulação de um
conjunto não precisa pertencer ao conjunto. Os pontos de um conjunto também não
são necessariamente pontos de acumulação desse conjunto.
Exemplo 1.1.10 (1) A=(a,b). Os pontos de [a,b] são todos os pontos de acumulação
de A.
(2) , o conjunto dos números inteiros. B não tem pontos de acumulação.
(3) . Todo número real é um ponto de acumulação de C.

(4) . 0 é o único ponto de acumulação de D.

O leitor deve provar a seguinte importante consequência da Definição 1.1.6: ``Toda


vizinhança de um ponto de acumulação de um conjunto B contém infinitos pontos
de B.'' Decorre disso que nenhum subconjunto finito de tem pontos de
acumulação. Dizer que a é um ponto de acumulação de um conjunto significa

que existem pontos de B, distintos de a, mas próximos do ponto a. Isto é, dado um


número , por menor que ele seja, sempre existe , , tal

que . Em outras palavras, a pode ser aproximado por pontos

de B distintos de a.

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1.2 - Funções
Como temos feito até agora, aqui também supomos alguma familiaridade com o
conceito de função. Nosso objetivo principal nesta Seção continua sendo o de
uniformizar a linguagem.
Definição 1.2.1 Dados dois conjuntos, ,

uma função de A em B, , ou simplesmente f, é uma lei que associa a cada

elemento , um único elemento .

Algumas notações mais comuns para uma função são as seguintes:

Exemplo 1.2.1 (1) Quando A=B, um exemplo simples é tal que f(x)=x,

para todo . Esta função é chamada identidade, ou identidade de A, e é

usualmente denotada por I ou IA.

(2) Seja um número fixado. A função dada por f(x)=c, para

todo , é chamada função constante.

(3) Denotaremos sempre com , o conjunto dos números reais não negativos.

Defina porf(x):=x2.

(4) , dada por .

(5) , dada por f(x)= 1/(x2-1).

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Os conjuntos A e B são chamados, respectivamente, domínio e contra-domínio de f.
Dado um conjunto , sua imagem por f é o conjunto definido por

Figure 1.1: y=[x]

Definição 1.2.2 O gráfico de uma função , ,éo

subconjunto G(f) de dado por:

Se , o símbolo [x] indica o maior número inteiro menor ou igual a x. O gráfico

da função f(x)=[x] está representado na Figura 1.1.

Figure: y=|x| e y=c

Figure:

15
Definição 1.2.3 Quando f(A)=B, a função f se diz sobre, ou sobrejetora. Quando a
elementos distintos de Aestão associados elementos distintos de B, isto é,

, , a função fse diz biunívoca, um-a-um ou injetora.

Quando f for biunívoca e sobre, também será chamada bijetora.


Definição 1.2.4 Sejam dados e uma função .

A restrição de f a D é uma função de Dem B, denotada por f|D e definida por

Revisitando o Exemplo 1.2.1 observamos: A função identidade é bijetora. No item (2)


a função f não é biunívoca nem sobre. No item (3) f é sobrejetora, mas não injetora,
enquanto sua restrição é bijetora. No item (4) f é injetora, mas não sobre. No

item (5) f não é nem biunívoca nem sobre.


Definição 1.2.5 Dadas duas funções e , fica definida a

função composta, , por , para todo .

Note que, de acordo com a Definição 1.2.5, para que a função


composta seja definida é necessário que f(A) esteja contido no

domínio B da função g.

Figure 1.4: Composição de f e g

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Exemplo 1.2.2 (1) Sejam , , tais que f(x):=1/

(1+x2) e g(x)=1/x. Então, . Daria para definir ?

(2) Se e são dadas por f(x)=x2+2x-2

e , então a composição não pode ser definida

porque não está contido no domínio de g.

Definição 1.2.6 Uma função é dita invertível se existe uma

função , denotada por f-1, de modo que e .

Uma consequência importante da Definição 1.2.6 é que uma função f será invertível
se, e somente se, f for bijetora.
Exemplo 1.2.3 (1) Sejam e dados. Se f(x)=ax+b, então f é invertível

e g=f-1 é dada por g(x)=(x-b)/a.


(2) Se no item (3) do Exemplo 1.2.1 for considerada a restrição e no item (4)

for tomado como contra-domínio de f, teremos dois exemplos de funções

invertíveis, sendo cada uma a inversa da outra.


Observação 1.2.1 Para se definir uma função é preciso especificar o domínio, o
contra-domínio e uma lei de associação. Entretanto, como o nosso estudo se restringe
às funções de subconjuntos da reta na reta (costuma-se dizer: ``funções reais de uma
variável real'' ou ``funções de uma variável real a valores reais''), vamos adotar a
atitude simplificadora de especificar somente a lei de associação. Desta forma, numa
linguagem um tanto imprecisa, diremos comumente: ``função f´´ ou ``função f(x)´´ ou

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ainda ``função y=f(x)´´. Também usaremos a notação

ou , para uma função . A menos de menção explícita

em contrário, ficará sempre subentendido que o domínio é o maior subconjunto da


reta onde a lei faz sentido, o contra-domínio será sempre . Assim, quando
considerarmos, por exemplo, a função , estaremos entendendo que

seu domínio é . Para a função g(x)=1/(2x-x3), o domínio

será .

Definição 1.2.7 Suponhamos que o domínio de uma função f satisfaça a

seguinte condição de simetria: . Então f é dita par, se f(-x)=f(x)

para todo , e f é dita ímpar, se f(-x)=-f(x) para todo .

A função seno é ímpar. A função cosseno e a função y=|x| são pares. O leitor deve
examinar todos os exemplos anteriores desta seção, procurando classificar as funções
como pares ou ímpares, quando isto for possível. Como é o gráfico de uma função
par? E o de uma função ímpar? Apresentam eles alguma simetria com relação aos
eixos coordenados?
Definição 1.2.8 Dadas duas funções, f e g, com domínios ,

sua soma, f+g, seu produto, fg, e o quociente, f/g, ficam definidos, respectivamente,
por:
(f+g)(x)=f(x)+g(x),

(fg)(x)=f(x)g(x),

para todo x em A, e

18
para todo x em A tal que .

Assim, por exemplo, se e g(x)=x, tem-se ,

e .

Definição 1.2.9 Uma função f é dita monotônica, ou monótona, se puder ser


classificada como crescente, estritamente crescente, decrescente ou estritamente
decrescente, segundo as definições abaixo:
• Crescente, se: .

• Estritamente crescente, se: .

• Decrescente, se: .

• Estritamente decrescente, se: .

Reportando-nos ao Exemplo 1.2.1, vemos que a função do item (2) é crescente e


decrescente a um só tempo. No item (3) a função é estritamente crescente. A

função do item (4) é estritamente crescente. No item (5) a função é

estritamente decrescente. As funções seno e cosseno não são monotônicas.


Definição 1.2.10 Uma função se diz limitada se o conjunto f(A) for

limitado ou, equivalentemente, se existirem números e L tais que .

Neste caso, é chamado um limitante inferior, ou cota inferior, de f e L, um limitante


superior, ou cota superior.
Definição 1.2.11 Se L for o menor limitante superior de f, isto é, ,

então L é chamado supremo da função f e denotado por , ou . Se

existir de modo que L=f(x0), isto é, , então diz-se que L é o

máximo de f e escreve-se , ou .

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Se , então f(x0) é chamado valor máximo de f e x0 é

chamado ponto de máximo.


Definem-se analogamente o ínfimo e o mínimo de uma função, bem como valor
mínimo e ponto de mínimo. Observe que também poderíamos definir e

pelas relações

Exemplo 1.2.4 (1) A função é uma função limitada, com valores de

máximo e de mínimo e ,

respectivamente. Os números , são os pontos de máximo.

Quais são os pontos de mínimo?


(2) A função é uma função limitada, uma vez

que , (uma vez que usualmente

se toma como a inversa da função restrita ao intervalo ).

Mas não exitem máximo nem mínimo de f.


(3) f(x)= 1/x não é limitada, mas podemos escrever .

(4) f(x)=x2 não é limitada, mas é limitada inferiormente com valor de


mínimo .

(5) A função é limitada superiormente e . Mas

não existe o máximo.

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1.4 - Exercícios
Resolva as desigualdades dos exercícios 1) - 12)

13) Dados três números quaisquer, a, b, c, mostre que .

14) Indique limitantes superiores e inferiores, supremos e ínfimos, máximos e


mínimos dos seguintes conjuntos, quando existirem:

15) Se e , definamos ,

. O que se pode dizer de

, em termos dos supremos ou ínfimos de A e B?

16) Sejam A um subconjunto não vazio de e . Mostre que

ou L é ponto de acumulação de A.

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17) Indique os pontos de acumiulção dos seguintes conjuntos:

18) Verifique que toda função monotônica definida num intervalo fechado e limitado
é uma função limitada.
19) A função seno não é monotônica, mas a sua restrição a convenientes intervalos é.
Quais são os maiores intervalos onde é monotônica?
20) Esboce o gráfico das seguintes funções:

21) Classificar as seguintes funções, quando possível, quanto a serem monotônicas,


limitadas, pares ou ímpares, sobrejetoras, injetoras, ou bijetoras:
(a) tal que f(x)= |x|. Considerar também, para a mesma f, o contra-

domínio como sendo .

(b) f(x)= x+1/x.

22
(c) tal que .

(d) .

(e) .

22) O produto de duas funções pares, , é par? O que dizer do produto

de duas funções ímpares? E do produto de uma par por uma ímpar?


23) Suponha que na expressão f(x), que define uma função da variável x, somente
compareçam potências de xcom expoentes pares. Mostre que f é uma função par. E se
comparecem apenas potências com expoentes ímpares? A
função é par ou ímpar?

24) Se são ambas pares ou ambas ímpares, verifique que

e são funções pares. O que se pode dizer da composição se f é par e g é

ímpar?
25) Mostre que toda função estritamente crescente ou estritamente decrescente é
invertível, se for sobrejetora. Vale a recíproca? Isto é, seria verdade que toda
função ( ) invertível é estritamente decrescente ou

estritamente crescente?
26) Se o domínio de f for um intervalo, vale a afirmação final do exercício 25? E se o
domínio e o contra-domínio forem intervalos?
27) Sendo f uma função invertível, existe alguma simetria relacionando os gráficos
de f e f-1?
28) Considerando que as funções abaixo estão definidas no maior subconjunto
de mathbb R ond sua expressão faz sentido; em cada caso, qual é o domínio da
função dada?

23
2 - Limite e Continuidade
Os conceitos de "derivada" e "integral'' são os nossos principais objetos de estudo.
Como veremos mais adiante, ambos são formas de limite. Assim, podemos dizer com
certeza que o conceito de limite é o mais fundamental do Cálculo.
Antes de entrarmos na definição precisa, vamos fazer algumas considerações
intuitivas. Consideremos uma função , , e um ponto a não

necessáriamente pertencente a B. Suponhamos que exista um número tal

que f(x) se "aproxima'' de , quando fazemos x se "aproximar'' de a, com .

Quando isto acontece dizemos que é o limite de f, em a, e escrevemos:

Note que ao considerar o limite de f em a a, estamos vendo se é possível saber "para


onde vai'' f(x), quando xse "aproxima'' de a. Não estamos interessados em quanto
vale f(a), nem mesmo em saber se f(a) existe. É por isso que admitimos a
possibilidade de f nem estar definida em a. Estando a noção de limite por trás de
todos os conceitos importantes do Cálculo e, por conseguinte, de muitos conceitos
importantes de outras ciências, não podemos nos conformar com uma noção tão vaga
como a que temos até aqui. Não é claro o significado de uma variável "aproximar-se''
de um número fixado. Urge, portanto, que tenhamos uma definição precisa.

24
2.1 - Limites
Definição 2.1.1 Dados uma função e um ponto de acumulação a de B,

diz-se que um número é limite de f em a, e se escreve:

quando vale a seguinte condição:


Para todo , existe tal que:

(2.1)

Daremos preferência à primeira notação.


Não podemos abrir mão da condição de a ser ponto de acumulação de B, pois é ela
que reflete a nossa idéia intuitiva inicial de que a possa ser aproximado por pontos
de B distintos de a.
A definição de limite pode ser parafrazeada nos seguintes termos:
Definição 2.1.2 Dados uma função e um ponto de acumulação a de B,

diz-se que é o limite de f em a, se para todo existe

satisfazendo:

(2.2)

Observação 2.1.1 Notemos que não importa quão pequeno seja o número

dado; se , é sempre possível encontrar de modo que a

relação (2.1) valha.

25
Vamos analisar a Definição 2.1.1 num caso concreto. Consideremos a função

Note que f não está definida no ponto x=1. No entanto, para temos f(x)=2(x+1)

e, portanto, é natural suspeitar que . Mostremos através da

Definição 2.1.1 que este é o caso. De fato, se podemos escrever

|f(x)-4|=|2(x+1)-4|=2|x-1|.

Assim, dado , se escolhermos obtemos

ou seja, . Confira com a Figura 2.1.

Figure:

Com o exemplo acima e os que damos a seguir visamos exclusivamente clarificar a


definição de limite. O objetivo de um curso de Cálculo não pode ser o de aprender a
calcular limites usando a Definição 2.1.1. Daqui a pouco aprenderemos algumas

26
propriedades que permitem ver, por exemplo, que de um modo

muito mais direto do que o utilizado no item (3) abaixo.


Exemplo 2.1.1 (1) Se considerarmos f(x)=c (constante), temos talvez o exemplo
mais simples deste capítulo:

Conferindo a definição de limite, dado , qualquer número se ajusta ao

nosso objetivo, pois sempre teremos .

(2) Se f(x)=x, temos . De fato, dado , se tomarmos temos

a relação (2.1) imediatamente satisfeita com .


(3) . De fato, dado , para encontrar um que nos

convenha, notemos que neste caso a=2 e . Assim, se

tomarmos , temos:

(4) . De fato, dado , vamos procurar sob a

restrição . Assim, implica 1<x<3 e, portanto, |x+2|<5. Logo,

se , temos

Portanto, basta tomar .

27
(5) . De fato, observemos que

sempre ; confira com a Figura 2.1.1 Assim, dado

, podemos tomar uma vez que, neste caso:

Figure:

(6) . A justificativa é inteiramente análoga à do exemplo

anterior.
Uma consequência da Definição é 2.1.1 a unicidade do limite.
Proposição 2.1.1 Seja e suponhamos que exista o limite de f em um

ponto a. Então ele é único.


Prova Suponhamos que e . Seja um número

qualquer. De acordo com a Definição 2.1.1 - tomando no papel de -

existem de modo que, se :

28
Escolhendo , então se e , as implicações

acima acarretam

Da arbitrariedade de e de (2.5) segue-se que o número não negativo é

menor do que qualquer número positivo, portanto , ou seja,

Damos a seguir dois exemplos em que não existe o limite


Exemplo 2.1.2 (1) não existe. De fato, seja f(x)=x/|x|. Como f(x)=1,

para x>0, se existisse teriamos .

De modo análogo verificar-se-ia . Assim,

os números 1 e -1 teriam de ser iguais a contrariando a unicidade do

limite.
(2) não existe. De fato, suponhamos, por contradição, que exista

. Dado , digamos, , deve existir tal que

Portanto, se ,

Mas, se e , , temos

e (veja o gráfico da função , para x>0, na figura a

seguir). Observe, entretanto, que para suficientemente grande temos

29
o que contraria a condição (2.7). Logo, não existe .

Figure:

O item (1) do Exemplo 2.1.2 sugere um outro tipo de limite mais restrito, o limite à
esquerda e o limite à direita: são os limites laterais. Para definir esses conceitos
precisamos da noção de ponto de acumulação lateral, isto é,
Definição 2.1.3 Consideremos um ponto e um conjunto . Diz-se

que a é um ponto de acumulação lateral de B, deixando B à esquerda, se a é ponto de


acumulação de . Define-se analogamente ponto de acumulaçao lateral

de um conjunto , deixando B à direita.

É claro que um ponto de acumulação lateral de um conjunto é um ponto de

acumulação de B, pois de acordo com a Definição 1.1.6, todo ponto de acumulação de


um subconjunto de um conjunto é um ponto de acumulação de B.

Podemos agora definir limite à esquerda de f em a em termos da restrição

de f ao conjunto .

30
Definição 2.1.4 Consideremos uma função , e seja a um ponto de

acumulação lateral de , deixando B à esquerda. O limite à esquerda

de f em a é , se .

Denota-se: ou . Fica a cargo do leitor definir o limite

à direita de f, quando x tende a a em termos de . Neste caso a notação é

Observação 2.1.2 Suponhamos que a seja ponto de acumulação lateral de ,

deixando B à esquerda e à direita simultaneamente. Se existir o


limite de uma função , então existem ambos os limites

laterais de f em a, mas a recíproca é falsa, como mostra o item (1) do exemplo 2.1.2.
Observação 2.1.3 Suponhamos que as condições assumidas na definição dos limites
laterais de f, quando se cumpram. Neste caso, existe o limite de f em a se,

e somente se, existem os dois limites laterais e ambos são iguais a , isto é,

Confira com o Exercício 7.


Embora quase inocente, a observação anterior é um bom recurso em muitas situações
práticas. No item (1) do Exemplo 2.1.2 temos

pori sso concluimos que o limite em questão não existe. Mais adiante, na
demonstração do Teorema do Primeiro Limite Fundamental esse recurso será
utilizado positivamente, isto é, para mostrar que um certo limite existe.

31
Daqui em diante proporemos alguns exercícios mais práticos, visando treinar a
manipulação das técnicas, e outros mais conceituais, procurando fixar as idéias
importantes da teoria. O leitor deve se sentir desafiado por qualquer um que lhe
inspire dificuldade.

32
2.2 - Propriedades dos limites
Dependendo do caso, a definição de limite pode ser bem pouco manejável, entretanto
nem sempre é necessário recorrer-se a ela para se investigar o limite de uma função.
Veremos agora algumas propriedades que tornarão mais simples o estudo dos limites
e suas aplicações.
Na seguinte proposição está subentendido que f e g têm o mesmo domínio e que a
variável independente xsempre pertence a esse domínio. Adotamos essa prática
sempre que necessário para não carregar os enunciados com condições obvias.
Proposição 2.2.1 Suponhamos que e . Então,

1.

2.

3.
se .

Prova A primeira afirmação não é difícil de se demonstrar. É deixada ao leitor, sendo


demonstradas aqui apenas a segunda e a terceira que são um pouco mais elaboradas.
Definamos inicialmente e suponhamos k>0. Usaremos a

identidade

Seja dado e tomemos de modo que

33
Assim, tomando o módulo em ambos os membros da equaçaõ (2.9), a condição
implica:

Portanto, o segundo item da proposição fica demonstrado para o caso em que

ou . O caso em que ambos os limites são nulos deixamos ao leitor como

exercício.
Provemos o item 3. É suficiente mostrar que

e depois aplicar essa propriedade combinada com o item 2 ao produto .

Tomando , vem da definição de limite que existe tal

que implica|g(x)-m|<|m|/2.

Assim, , o que implica

|g(x)|>|m|/2.

Assim, dado , existe , que pode ser tomado menor do que , tal

que implica

Portanto, implica

34
Observação 2.2.1 1) A primeira e a segunda afirmações da Proposição 2.1 se
estendem para um número qualquer de parcelas, ou de fatores, respectivamente.
Assim, se , segue-se que .

2) Portanto, se P(x) é um polinômio, segue-se que . De fato,

basta notar que a forma geral do polinômio P(x) é dada


por e que .

3) Se P(x) é um polinômio, uma combinação das propriedades acima com os itens (5)
e (6) do Exemplo 2.1.1nos dá:

, e , se .

O item (3) do Exemplo 2.1.1 segue da observação acima, não sendo necessário,
conforme já tinhamos adiantado na ocasião, o uso direto da definição de limite. O
mesmo vale para o item (4) do Exemplo 2.1.1.
A proposição seguinte é muito útil. Traduz um fato inteiramente previsível: se o
limite de f em a é um número , então f(x) tem o mesmo sinal de

para x próximo, mas distinto, de a. Por essa razão tem o nome que tem.
Teorema 2.2.1 (Teorema da conservação do sinal) Seja uma função

tal que . Então, existe uma vizinhança V de a tal que,

se , f(x) tem o sinal de .

Prova Tomemos e consideremos de modo que:

ou, equivalentemente,

35
Logo, se , para temos e, para ,

Exemplo 2.2.1 (1) O polinômio P(x)=2x3-x5+1 é positivo numa vizinhança


de x=3/2, pois, de acordo com a Observação 2.2.1,

O Teorema da Conservação do Sinal garante que P(x) tem o sinal de 5/32 numa
vizinhança de a=3/2.
(2) O tamanho da vizinhança V, no Teorema da Conservação do Sinal, varia de
acordo com cada caso. Assim, se considerarmos as funções fn(x):=1-

n2x2, , temos , para todo , portanto, existe

uma vizinhança de x=0 onde fn(x) é positiva. Fazendo o gráfico de fn, que é

uma parábola pelos pontos e vértice (0,1), vê-se claramente que a maior

vizinhança possível, com centro em 0, onde fn(x)>0 é . Ou

seja, quando n cresce, a vizinhança diminui. Veja a Figura 2.4.

Figure 2.4: fn(x)=1-n2x2

36
(3) Analise o exemplo das funções gn(x):=1-nx, , em torno do

ponto x=0, para reforçar a observação do item (2) acima.


Proposição 2.2.2 Dada uma função , suponhamos que

exista . Então existe uma vizinhança V(a) de a tal que a restrição

de f a é limitada.

Prova Suponhamos primeiramente . Sendo , tomemos

. De acordo com a Definição 2.1.1, existe de modo que

ou seja, tomando ,

donde, , para todo . Caso , a mesma

argumentação implica , para todo .

Portanto, f é limitada em em qualquer dos casos considerados

Uma função f que satisfaz as conclusões da Proposição 2.2.2 se diz localmente


limitada em a. Uma função que é localmente limitada em cada ponto de um
conjunto B se diz localmente limitada em B.
Observação 2.2.2 Obviamente, qualquer função limitada é localmente

limitada em B. Entretanto, não vale a recíproca desta afirmação pois, pelo que já
sabemos, todo polinômio é localmente limitado em (porque?), embora, como
ficará claro na Seção 2.3, apenas os polinômios constantes sejam limitados.
A Proposição 2.2.2 pode ser vista como um critério de não existência do limite: se
uma função não é localmente limitada num ponto a, então não existe

37
. Por outro lado, sendo f localmente limitada em a, não se pode dizer que o limite
em a existe.
Exemplo 2.2.2 (1) Não existem os limites e , pois as

funções 1/x e 1/x2não são localmente limitadas em 0. Veja as Figuras 2.5.

Figure 2.5: y=1/x e y=1/x2

(2) Com o mesmo tipo de argumento conclui-se que as funções e não


têm limite nos pontos , .

(3) A função é localmente limitada em 0 mas, como já vimos

anteriormente, não existe .

Quando uma função f satisfaz , usa-se dizer que f é

um infinitésimo em a. A proposição abaixo é enunciada informalmente do seguinte


modo: O produto de uma função limitada por um infinitésimo é um infinitésimo.
Proposição 2.2.3 Se f e h são funções definidas em um mesmo domínio, h(x) é
limitada (ou apenas localmente limitada em a) e ,

então .

38
Prova Não há perda de generalidade em assumir que h é limitada pois, caso contrário,
podemos provar a proposição tomando as restições das funções f e h à interseção do
domínio de f e h com uma conveniente vizinhança do ponto a.
Sejam , com , e K>0 um número tal que ,

para todo . Seja qualquer. Tendo em conta que ,

escolhamos tal que

Assim,

ou seja, .

O seguinte exemplo mostra que o cálculo de um limite, aparentemente complicado,


pode seguir diretamente da Proposição 2.2.3
Exemplo 2.2.3 (1) , pois este é o limite do produto de uma

função limitada, , por um infinitésimo em 0, f(x)=x. Faça um esboço do

gráfico da função inspirando-se na Figura 2.3.

(2) , pois a função considerada é o produto de uma

função localmente limitada em x=0, , por um infinitésimo em

0, f(x)=x2.
É natural esperar-se que valha uma proposição como a seguinte:
Teorema 2.2.2 (Teorema da comparação) Sejam funções tais

que , . Se existirem os limites e ,

então

39
(2.3)

Prova Suponhamos temporariamente que . Então, de

acordo com a Proposição 2.1, temos

Do Teorema da Conservação do Sinal segue que existe uma vizinhança V(a) de a tal
que f(x)-g(x)>0, ou seja,f(x)>g(x) em , contrariando nossas hipóteses.

Exemplo 2.2.4 (1) De fato, como ,

podemos nos restringir ao caso x>0, portanto,

e, como , nossa afirmação segue do Teorema da Comparação.

(2) Mesmo que se tenha f(x)<g(x), , no Teorema da Comparação, não se pode

trocar " '' por "<'' em (2.4). De fato, se g(x)=x e f(x)=-x, para ,

temos f(x)<g(x) e, apesar disso, .

(3) Suponhamos que, para uma certa função f, exista

então, . De fato, como , segue do Teorema da

Comparação que .

O teorema abaixo, que também é chamado vulgarmente de Teorema do Sanduíche, é


uma consequência do Teorema da Comparação.

40
Teorema 2.2.3 (Teorema do confronto) Sejam tais

que , ,e . Então

O gráfico de g fica "preso'' entre os de f e h, como mostra a Figura 2.6. Uma


observação cuidadosa dessa figura indica que Teorema do Confronto não poderia
deixar de valer.

Figure 2.6: Teorema do Confronto

Prova Seja um número qualquer. Como ,

existem de modo que

41
Logo, se e se , a condição implica

donde , ou seja, .

Observação 2.2.3 O item (1) do Exemplo 2.2.3 segue também do Teorema do


Confronto. De fato, como e

, o Teorema do Confronto implica .

O Teorema do Confronto tem ainda como consequência o chamado


Primeiro limite fundamental.

Prova Vamos considerar sabido que a área de um setor circular de raio r, determinado
por um arco de comprimento s, é sr2/2. A idéia é mostrar que os dois limites laterais
em x=0 existem e são ambos iguais a 1. Como a função é par, basta fazer o

caso x>0 (veja o exercício 8).


De acordo com a Figura 2.7 (onde OA é suposto um segmento de comprimento
unitário), para , podemos escrever S1<S2<S3, onde S1 é a área do

triângulo OAB, S2 a área do setor circular OAB e S3 a área do triângulo OAC.

Figure:

42
Notando que as alturas dos triângulos OAB e OAC, relativas à base OA, são
e , respectivamente, temos:

e, como S1<S2<S3, vem

Donde, dividindo por ,

e, tomando os inversos de cada membro,

Como , a conclusão é agora consequência imediata do Teorema

do Confronto.
Exemplo 2.2.5 (1)

43
De fato,

(2) De

fato,

Finalizamos esta Seção apresentando duas proposições relacionadas com raízes n-


ésimas e expoentes fracionários que somente serão provadas mais tarde.
Proposição 2.2.4 Se n é um inteiro positivo, então , sempre

que exista em .

A prova é uma consequência imediata da Proposição 2.4.4, da Seção 2.4. Na mesma


Seção, veja o Exemplo 2.4.3. Na verdade, vale um fato mais geral do que a
Proposição 2.2.4:

Proposição 2.2.5 Suponhamos que exista em . Se , então

A Proposição 2.2.5 é um caso particular da Proposição 2.4.5. Em outras palavras ela


diz que os sinais de limite e de radiciação, em geral, podem ser trocados:

Exemplo 2.2.6 (1) Se a>0; , temos

ou, em termos de expoentes fracionários

A verificação deste fato pode ser feita por uma combinação da Proposição 2.2.5 com
as propriedades dos limites. (2)

44
De fato, .

45
2.3 - Limites no infinito e limites infinitos
A função f(x)=1/x2, considerada no item (1) do Exemplo 2.2.2, cujo gráfico é
esboçado numa das Figura 2.5, mostra uma situação em que não existe o limite. De
fato, os valores f(x)=1/x2 ficam arbitrariamente grandes tomando-se x mais e mais
próximo de 0. Assim, f não é localmente limitada em 0.
Embora não exista o limite de f em 0 - e isto deve ficar claro, pois não existe
um número nas condições da Definição 2.1.1 - ainda assim se escreve

Diz-se que o limite de 1/x2 em 0 é infinito.


Nas aplicações, f(x) representa em geral uma grandeza física ou biológica ou
econômica etc, que desempenha algum papel em alguma situação real. Nesses casos,
pode ser importante detectar pontos a, onde a função f(x) tem um comportamento
como o de 1/x2 em x=0. Sejamos, portanto, mais precisos:
Definição 2.3.1 Seja a um ponto de acumulação de e seja . Diz-

se que o limite de fem a é infinito, e denota-se se, dado um

número K>0 qualquer, existe um número de modo que

A definição acima está dizendo que se , não importa quão grande

seja um número K, é sempre possível obter , para ,

tomando-se suficientemente pequeno. Tipicamente, uma função que satisfaz a


Definição 2.3.1 tem um gráfico com o aspecto do de y=1/x2 dado nas Figuras 2.5
(examine os gráficos das funções dos itens (2) e (3) do Exemplo 2.3.1 para
convencer-se de que esta afirmação tem de ser interpretada com muita flexibilidade).
Se uma função f satisfaz Definição 2.3.1, diz-se que o gráfico de f tem uma assíntota
vertical em a. A reta x=a é essa assíntota.

46
Exemplo 2.3.1 (1) Se f(x)=1/|x-a|, então .

(2) Se, como de costume, [x] denota a parte inteira de x, e

então .

(3) Se , então .

A verificação dos itens (1)-(3) do Exemplo 2.3.1 fica a cargo do leitor, que deve
também fazer um esboço do gráfico das funções ali consideradas.
A proposição abaixo estabelece um fato com que todos nós provavelmente já nos
deparamos em alguma investigação intuitiva.
Proposição 2.3.1 Se , , e g(x)>0 é tal

que , então .

Prova Seja K>0 um número dado. De acordo com a Definição 2.3.1, precisamos
mostrar que existe de modo que, se ,

então . Como nossas hipóteses e as propriedades apresentadas na

seção anterior implicam , podemos tomar e

apelar para a Definição 2.1.1 para assegurar que existe de modo que

mas, de acordo com a escolha de e observando que f(x) e g(x) podem ser
considerados positivos (tomando menor, se necessário), a última desigualdade é
equivalente a f(x)/g(x)>K.
Exemplo 2.3.2 .

47
Considerando a função -1/|x| e o limite, quando x tende a 0, o leitor verá que neste
caso o limite também não existe, mas é natural escrever . Fica

a seu cargo definir a expressão

por analogia à Definição 2.3.1. Depois disso é muito fácil criar exemplos de
diferentes funções f tais que . Neste caso também o gráfico

de f tem uma assíntota vertical em x=a.


Se considerarmos agora a função f(x)=1/x do item (1) do Exemplo 2.2.2, cujo gráfico é
esboçado na Figura 2.5, teremos uma boa motivação para definir o significado de
serem os limites laterais de f em a. Ou seja, é agora natural definir a expressão

abaixo para todas as combinações de :

Não o faremos aqui por se tratar meramente de um trabalho mecânico.

Figure:

Se considerarmos a função f(x)=1/x e calcularmos f(x) para valores cada vez maiores

48
de x, verificaremos que f(x) se torna arbitrariamente próximo de 0. Esta situação é
denotada por

e inspira a seguinte definição:


Definição 2.3.2 Suponhamos que tenha interseção não vazia com intervalos

da forma e consideremos uma função . Diz-se que o limite de f no

infinito é , e se escreve

se, dado um número qualquer, existe um número de modo

que

A Definição 2.3.2 significa que, se considerarmos no plano xy uma


faixa: , não importa quão estreita ela seja, existe um número K>0

de modo que, para , o gráfico de f fica dentro dessa faixa. Veja a Figura

2.8. Dizemos neste caso que a reta é uma assíntota horizontal em do

gráfico de f, ou da função f.
Observação 2.3.1 Quando, como na Definição 2.3.2, um conjunto tem

interseção não vazia com qualquer intervalo da forma , é costume dizer-se

que é ponto de acumulação de A.


Exemplo 2.3.3 (1) Se f(x)= x/(1+x), então .

(2) .

49
O leitor pode justificar os itens do exemplo acima, apelando para a Definição 2.3.2, e
esboçar o gráfico das funções em questão para . Dividir o numerador e o

denominador por x facilita no caso do item (1).

Se considerarmos f(x)=x2, ou f(x)=x, observamos que f(x) pode ser feito


arbitrariamente grande tomando-se xsuficientemente grande. Esse comportamento se
denota por

e é estabelecido na seguinte definição:


Definição 2.3.3 Suponhamos que contenha um intervalo da forma e

consideremos uma função . Escreve-se se, dado um

núnero L>0 qualquer, existe K=K(L)>0 de modo que

Com alguma paciência, o leitor poderá considerar todas as combinações possíveis dos
sinais e seguir os mesmos passos da Definição 2.3.3, para então definir o

significado de

Todas as proposições relativas a limites podem ser reformuladas com adaptações


óbvias para limites no infinito, com no papel do ponto a.

Proposição 2.3.2 Suponhamos que as seguintes condições estejam


satisfeitas: ou , e .

Então

50
Prova Seja dado e consideremos . A prova para os casos é

inteiramente análoga. Suponhamos .

Tomando , a definição de limite implica que existe tal que

Portanto, uma simples discussão sobre o sinal de leva a

(2.4)

Como , tomando menor, se necessário, podemos assegurar

que

(2.5)

Combinando (2.14) e (2.15), temos finalmente

o que completa a prova no caso .

Se a prova é muito fácil e não faremos. A proposição a seguir, cuja prova é


deixada como exercício, estabelece propriedades dos limites infinitos análogas às da
Proposição 2.2.1.
Proposição 2.3.3 (a) Se e , então

51
(b) Se e , então

(c) Se e , então

(d) Seja um número. Se e , então

Substituindo-se o ponto a por , a proposição acima continua valendo.

Exemplo 2.3.4 (1) Se é um polinômio,

, a0>0, então . De fato, podemos escrever

(2.6)

e a afirmação segue agora da Proposição 2.3.3(d).

(2) De fato, como estamos interessados em valores da

variável x tais que |x| seja grande, portanto , podemos dividir o numerador e o

denominador por x2, aplicar diversas propriedades que já conhecemos e escrever:

52
A interpretação geométrica deste fato é que a reta horizontal y=3/2 é uma assíntota do
gráfico da função f(x)=(3x2+1)/(2x2-2x-4). A Figura 2.9 é um esboço do gráfico de f.

Figure 2.9: f(x)=(3x2+1)/(2x2-2x-40)

(3) Uma assíntota horizontal do gráfico da função é a reta y=0. De

fato, basta verificar que , dividindo o numerador e o denominador

por x3, e procedendo como no item 2), acima.


Conhecer as assíntotas horizontais e verticais do gráfico de uma função é um valioso
recurso para estudar esse gráfico, como se nota no item (2) do Exemplo 2.3.4.
Quando estudarmos as derivadas, um pouco mais adiante, possuiremos outros
recursos que, aliados a este, nos permitirão traçar esboços melhores.

53
Antes de resolver os exercícios a seguir, chamamos a atenção para um procedimento
que já foi utilizado anteriormente: Para facilitar o cálculo do limite do quociente de
dois polinômios em x, quando , é geralmente útil dividir o numerador e o
denominador por xn, onde n é o grau do polinômio de maior grau. Este recurso
também pode ser útil em alguns casos de quocientes envolvendo radiciação de
polinômios.

54
2.4 - Continuidade
Dizer que uma função f é contínua em um ponto a significa que f(a) existe e
que f leva pontos "próximos'' de a em pontos "próximos'' de f(a). Isto pode ser
resumido precisamente na seguinte definição:
Definição 2.4.1 Uma função é contínua em um ponto se,

dado , existe de modo que

Note que, se o domínio de f for um intervalo, B=(b,c), b<c, a Definição 2.4.1 está
exigindo as três seguintes condições: 1) ; 2) existe e

3) .

Exemplo 2.4.1 (1) As funções e são contínuas em qualquer


ponto . Isso fica claro a partir dos exemplos 5 e 6. (2) Todo polinômio P(x) é

uma função contínua em em qualquer ponto . Isso fica claro a partir da

observação 3, subsequente à Proposição 2.1. (3) A função

é contínua em seu domínio, como consequência da Proposição 2.7. Mais geralmente,


a mesma proposição garante que f(x)=xm/n, com , também é contínua

em .

Definição 2.4.2 Se A é um subconjunto do domínio de uma função f, diz-se

que f é contínua em A se f for contínua em todos os pontos de A. Se

costuma-se dizer simplesmente que f é contínua


Assim, por exemplo, se P(x) é um polinômio, dizemos que P(x) é uma função
contínua. A função f(x)=[x] é contínua em cada intervalo da forma

. A função é contínua. Se uma função f não é contínua num ponto a, diz-se


55
que f é descontínua em a ou que a é um ponto de descontinuidade de f. Por exemplo,
se f(x)=[x], f é descontínua nos inteiros. As propriedades dos limites levam à seguinte
Proposição 2.4.1 Se as funções f e g são contínuas num ponto a, então sua
soma f+g, seu produto fg e, se , seu quociente f/g são funções contínuas

em a.
Prova Todas as afirmações seguem diretamente das propriedades dos limites,
demonstraremos como exemplo apenas a parte que se refere ao produto fg.
Sendo f e g contínuas em a, temos:

portanto, fg é contínua em a. A proposição acima, no que se refere à adição e ao


produto, se estende naturalmente para um número finito qualquer de parcelas e
fatores, respectivamente. Assim, de acordo com o item (1) do Exemplo 2.4.1, as
funções , são contínuas. Os problemas da matemática ou

suas aplicações acabam freqüentemente em resolver uma equação. De um modo


geral, a questão é a seguinte: dados uma função f e um número c, encontrar os valores
de x tais que f(x)=c. Pois bem, esse nem sempre é possível. O que se têm, em geral,
são métodos de aproximação desses valores de x. Porém, não sendo ingênuos, antes
de aplicarmos esses métodos nos faremos a seguinte pergunta: existem tais valores
de x? Seria muito frustrante obter uma aproximação acurada de algo que não existe. A
proposição a seguir dá uma contribuição importante na busca de uma resposta a essa
questão.
Teorema do Valor Intermediário 1 Se uma função f é contínua num intervalo
fechado [a,b] e se , então f assume em [a,b] todos os valores entre f(a)

e f(b).
Uma interpretação geométrica do Teorema do Valor Intermediário é a seguinte: Se
tivermos, por exemplo, f(a)<f(b), dada qualquer reta horizontoal y=c,
com f(a)<c<f(b), conforme a Figura 2.10, o Teorema do Valor Intermediário diz que
para se ir de a ao longo do gráfico de f, tem-se de cruzar a

56
reta y=c. Isto é, entre a e b existe pelo menos uma solução da equação f(x)=c. A
Figura 2.10 mostra claramente também que esta solução não é necessariamente
única.

Figure 2.10: Valor Intermediário

Prova Suponhamos, para fixarmo-nos num caso, que f(a)<f(b). No outro a prova é
completamente análoga. Consideremos um número qualquer c de modo
que f(a)<c<f(b) e mostremos a existência de tal que f(x0)=c.

Seja . Sendo A limitado e não vazio, decorre do Axioma

do Completamento que existe . Suponhamos temporáriamente

que f(x0)<c. Como , segue-se do Teorema da

Conservação do Sinal que existe uma vizinhança de x0, ,

de modo que f(x)<c, para todo . Assim, tomando

temos , portanto ,e , o que contraria o fato de x0 ser o

supremo de A. Desta forma, temos

(2.7)

Ainda por redução ao absurdo, supondo f(x0)>c, mostra-se que

(2.8)

Combinando (2.19) e (2.20), obtemos f(x0)=c. O leitor que tentar demonstrar a


desigualdade (2.20) por redução ao absurdo verá que, neste caso a contradição é
obtida por outra propriedade do supremo.

57
Exemplo 2.4.2 Existe um único número tal que . De

fato, se , então f(0)=0 e, como ,

existe b, , tal que f(b)>103. Além disso, por consequência do item (1) do

Exemplo 2.4.1 e da Proposição 2.4.1, a função f é contínua em [0,b]. Assim,


tomando c=103, o Teorema do Valor Intermediário garante a existência de uma
solução x da equação . A unicidade se segue do fato de f ser
estritamente crescente em

A Proposição 2.4.2, apresentada a seguir sem prova, é uma importante propriedade


das funções contínuas relacionada com intervalos fechados limitados. Tem inumeras
consequências muito úteis.
Proposição 2.4.2 Se f é uma função contínua num intervalo fechado e limitado
[a,b], então f é limitada em [a,b].
Observação 2.4.1 1) A hipótese de que o intervalo [a,b] é fechado é essencial na
Proposição 2.4.2. A função é contínua no intervalo limitado (-1,1) e, no

entanto, não é limitada. 2) Se f é contínua num intervalo fechado limitado [a,b], da


proposição 2.4.2 segue, portanto, a existência de e .

A proposição seguinte diz mais do que a item 2) da observação acima, na verdade,


se f é contínua no intervalo [a,b], então seu supremo e seu ínfimo são atingidos pelos
valores f(x).
Proposição 2.4.3 Se f é uma função contínua num intervalo fechado e limitado
[a,b], então existem tais que

e .

Prova Se , suponhamos temporariamente f(x)<S, para

todo . Então a função 1/(S-f(x)) é positiva, contínua e, portanto, de acordo

com a Proposição 2.4.2 é limitada em [a,b]. Seja Luma sua cota superior qualquer.
Assim, , portanto, , para todo .

58
Logo, S-1/L é uma cota superior de f e, como L é positivo, trata-se de uma cota
superior f menor do que seu supremo. Esta contradição nos leva à existência
de tal que . A prova da existência de é análoga.

Observação 2.4.2 Como consequência das Proposições 2.4.2 e 2.4.3, se f é contínua


em [a,b], então fassume os valores , e

todos os valores entre m e M. Ou seja, . Veja a Figura 4.2.

Figure:

A seguinte proposição relaciona a continuidade de uma função com a de sua inversa.


Proposição 2.4.4 Seja contínua em e estritamente

crescente. Então, é contínua em y0=f(x0).

Prova Vamos limitar a prova ao caso em que x0 é um ponto interior do intervalo


[a,b]. Os casos x0=a e x0=bficam a cargo do leitor. Mostremos
que . Dado , escolhamos suficientemente

pequeno de modo que tenhamos a seguinte inclusão (o leitor deve justificar que essa
escolha é possível):

59
Assim, como f-1 é estritamente crescente, podemos escrever:

ou seja, .

Exemplo 2.4.3 . De fato, basta notar que é a função inversa

da função f(x)=xnrestrita a um domínio apropriado, onde é estritamente crescente e


contínua. Portanto, é contínua, o que equivale ao limite acima.

A Proposição 2.4.4 tem uma versão para funções estritamente decrescentes, que pode
ser enunciada e demonstrada, com adaptações óbvias, seguindo os passos da prova
acima, ou trocando a função estritamente decrescente f por -f e aplicando a
Proposição 2.4.4. A parte final desta seção diz respeito à composição de funções
contínuas, que é algo bastante presente no Cálculo e em suas aplicações.
Proposição 2.4.5 Sejam e duas funções, e de

modo que . Se e g é contínua em , então

Prova Seja dado. Como , existe tal que

(2.9)

Sendo , existe de sorte que

60
(2.10)

Fazendo y=f(x) e combinando (2.21) e (2.22), podemos escrever:

Isto mostra que . Compare a Proposição 2.4.5 com a

Proposição 2.2.5.

Corolário 2.4.1 A composição de duas funções contínuas é uma função contínua.


A prova desse corolário é uma simples aplicação dos argumentos da
Proposição 2.4.5 e fica a cargo do leitor.

Exemplo 2.4.4 De fato, se , então

. Assim,

61
2.5 - Exercícios:

1) Mostre que

2) Inspire-se no item (4) do Exemplo 2.1.1 para mostrar que

3) Se , mostre que e .

4) Mostre que

5) Se f(x):=[x2], quais são os pontos onde ?

6)Dê um exemplo de uma função f definida num ponto a e tal que


exista , mas .

7) Seja , com e considere uma

função . Demonstre que se, e somente se, existem f(a-)

e f(a+), com .

8) Considere uma função par, , b>0. Mostre que

se, e somente se, . Como você formularia uma propriedade análoga

para funções ímpares?


9) Use a definição de limite para mostrar que .

62
10) Se a>0, use a definição de limite para mostrar que . Sugestão:

Use a relação

11) Use a Definição 1.2.1 para mostrar que as três afirmações abaixo são equivalentes:
(a) ,

(b) ,

(c) .

12) Mostre que se , então . O que se pode dizer

de , se ?

13) Seja f definida por

determine , e faça um esboço do gráfico de f.

14) Mostre que a função

não tem limite em nenhum ponto. Use as propriedades apresentadas na Seção 2.1
para calcular os limites 15) - 32), ou mostrar que eles não existem:

63
33) Verifique a seguinte desigualdade:

e prove que a função é positiva quando x varia numa conveniente

vizinhança de 1/2.
34) Calcule

35) Calcule .

36) Calcule .

37) Calcule .

38) Calcule .

39) Definindo

obtenha .

64
40) Sejam uma função e tais que f(x)<c, para todo . Mostre

que, se existir , então . Mostre também, através de um contra-

exemplo, que `` '' não pode ser substituido por ``<'' na última desigualdade.

41) Se existe e se , mostre que não existe

Nos exercícios 42-56), calcule os limites.

57) Determine as assíntotas horizontais e esboce o gráfico da função f(x)=3x2/(2-x2)

58) Determine as assíntotas horizontais da função e esboce seu

gráfico
59) Mostre que , se P(x) é um polinômio de grau maior do que

zero.
60) Qual é o valor de , se P(x) e Q(x) são polinômios de

mesmo grau? O que dizer se o grau de P for menor do que o grau de Q?


61) Mostre que se f tem limite em , então esse limite é único.

65
62) Dado um número qualquer, ou mesmo , mostre que existem

funções f e g, de modo que ( ou )

e . É por esta razão que se diz que 0/0 é uma forma indeterminada.

63) Calcule o limite

64) Dê exemplo de duas funções f e g de modo que

, e

(a) . Dê exemplo de funções f e g satisfazendo as mesmas

condições acima, mas


(b) . Dê exemplo de funções f e g satisfazendo as

mesmas condições, para as quais não ocorre nem (a) nem (b). Nos exercícios 65-73)
determine o conjunto dos pontos onde a função fé contínua.

74)Sendo

é f contínua em x=-1 ?

66
75) Defina a parte fracionária de um número real x por . Faça um

esboço do gráfico da função e verifique em que pontos ela é

descontínua.
76) Seja f uma função contínua num intervalo contendo c. Se f(c)>0, mostre que f é
positiva num intervalo contendo c.
77) Mostre que f é contínua em se, e somente se, .

78) Mostre que as funções

são contínuas em seus domínios.


79) Mostre que o polinômio , com a0>0

e n ímpar, tem pelo menos uma raíz real.


80) Se P(t) é um polinômio, justifique a afirmação de que é uma

função contínua.

81) Se m e n são inteiros positivos e , mostre que f é contínua

em .

82) Uma função racional é uma função f da forma f(x)=P(x)/Q(x), onde P(x) e Q(x)
são polinômios. Justifique a afirmação de que uma função racional é sempre
contínua em seu domínio.
83) Se , f é contínua nos pontos x=1 e x=-1?

84) Se

para que valores de essa função é contínua em x=2?

67
85) Se f(x)=x, quando x é racional, e f(x)=1, quando x é irracional, existe algum ponto
onde f é contínua?
86) Sendo

mostre que f é contínua e esboce o gráfico de f.


87) Considere a mesma questão do exercício 85) para

88) Se uma função é descontínua num ponto x0, mas existe , pode-

se torná-la contínua definindo-se . Neste caso, diz-se que x0 é

uma descontinuidade removível de f. Mostre que, em cada caso abaixo, 0 é uma


descontinuidade removível de f. Como se deve definir f(0), em cada caso, para
tornar f contínua em x=0?

89) Um ponto x0 é dito uma descontinuidade de primeira espécie de uma função f se


existirem os limites laterais, f(x0+) e f(x0-), e . Mostre que a

função tem uma descontinuidade de primeira espécie em x0=0.

90) Mostre que a equação tem uma única solução em cada intervalo da
forma , .

91) Dê um exemplo para mostrar que a soma de duas funções descontínuas pode ser
contínua. E pode a soma de uma função descontínua com uma função contínua ser
contínua?

68
3 - A Derivada

De um ponto de vista geométrico o conceito de derivada está relacionado com o de


tangência. A noção de tangência é importante na vida diária, todos desenvolvemos
uma considerável intuição a respeito. Ao nos apossarmos do conceito de derivada
estaremos em condições de dar maior precisão a esse nosso entendimento informal.
Do ponto de vista da Dinâmica, a velocidade escalar (instantânea) é uma derivada. A
aceleração também é. Nestes dois últimos casos vê-se a derivada como taxa de
variação. Isto é, a medida da evolução de uma grandeza quando uma outra, da qual
ela depende, varia. A velocidade, por exemplo, é a taxa de variação do espaço com
relação ao tempo.

O quarto paradoxo formulado pelo filósofo grego Zenon (495-435 a.C.), chamado de ``A seta'', pode-se enunciar da
seguinte forma: ``Uma seta movendo-se, a cada instante está `em repouso' ou `não em repouso' (isto é, `em
movimento'). Se o instante é indivisível, a seta não pode se mover em um instante, porque se ela o fizesse o instante
seria imediatamente dividido. Mas tempo é feito de instantes. Como a seta não pode se mover em nenhum instante, ela
não pode se mover em nenhum tempo. Então ela sempre permanece em repouso.'' Ou seja, não existe o movimento da
seta.

O leitor encontrará mais informações sobre os paradoxos de Zenon no livro de E. T. Bell ``Men of Mathematics'',
Dover, N. York (1937), por exemplo.

Este argumento de grande engenhosidade para a época em que foi estabelecido, pode ser refutado hoje em dia com
base em alguns conceitos mais refinados do que os disponíveis naquele tempo. Uma análise do quarto paradoxo de
Zenon nos leva ao conceito de velocidade instantânea.

Suponhamos que um ponto descreva um movimento sobre uma reta de modo que sua coordenada, em cada instante t,
seja x=s(t). Esse ponto pode representar a seta disparada de um arco. Ao se mover da

posição a=s(t
1) para b=s(t2), o ponto tem uma velocidade média v, definida por

v=[s(t2) - s(t1)]/(t2 - t1).

Assim, a velocidade média envolve o lapso de um certo tempo e as posições do ponto no início e no final desse lapso. É
uma noção fundamental, mas ainda um tanto grosseira, insuficiente para explicar que, em cada instante
fixado t0 entre t1 e t2, o ponto está em movimento e tem algo que o diferencia de um ponto em repouso:
uma velocidade não nula em t0, uma grandeza intrínseca do movimento, isto é, uma grandeza que não depende de
lapsos, mas está associada somente ao instante t0. Como defini-la?

A idéia é tomar velocidades médias

vt = [s(t) - s(t0)]/(t - t0),

69
em lapsos entre instantes t e t0, e definir a velocidade instantânea em t0 como

ou seja,

Essas observações contêm o conceito de derivada.

Consideremos a questão de definir a reta tangente a uma curva y=f(x) (isto é, o


gráfico de f, que denotaremos por G(f)) num ponto p=(a,b), b=f(a), onde f é uma
função definida numa vizinhança de a. O que fazemos é considerar uma secante ao
gráfico de f, passando pelos pontos (a,b) e por (x,y) de G(f). Depois ``deslizamos''
(x,y) ao longo do gráfico aproximando-o do ponto (a,b). Pode ocorrer que neste
processo as secantes tendam para uma ``reta limite''. Quando este for o caso, diremos
que a curva y=f(x) tem uma reta tangente no ponto (a,b) e que a mencionada reta
limite é a reta tangente à curva y=f(x), no ponto (a,b).
É instrutivo imaginar um caso em que não existe essa tal ``reta limite''. Pense, por
exemplo, na função

(3.1)

tomando (a,b)=(0,0). Faça um esboço do gráfico de f. Considere um ponto (x,y) do


gráfico dessa função e imagine oque acontece com as retas secantes por (a,b) e (x,y),
quando (x,y) ``desliza'' sobre o gráfico, tendendo a (a,b). Não existe a ``reta limite''.
As Figuras 3.1 representam dois casos de funções em que existe a reta tangente ao
gráfico. Repare que o caso da Figura 3.1(b) não está muito de acordo com nossa
intuição, digamos, mais primitiva, pois a reta tangente cruza a curva no ponto de
tangência.

Figure 3.1: Reta tangente à curva y=f(x)

70
71
3.1 - Definição de derivada e regras de derivação
Tomemos os coeficientes angulares, m(x) = (f(x)-f(a))/(x-a), também chamados
declividades, das retas secantes a G(f) por (x,f(x)) e (a,f(a)). Se a ``reta limite'' de
nossas considerações preliminares existir e não for vertical, significa que os
coeficientes angulares m(x) tendem a um valor fixo, m(a), que é o coeficiente angular
da reta tangente e que chamaremos derivada de f em a. Na definição precisa, a seguir,
o ponto a é ponto de e também ponto de acumulação de A. Isto é, lembrando

que A' denota o conjunto dos pontos de acumulação de A, impomos .

Definição 3.1.1 Consideremos uma função e . A função f é

derivável em a, se existir o limite

(3.2)

Neste caso, o valor f'(a) é chamado derivada de f em a.


Há várias notações para a derivada. Sendo y=f(x), as seguintes são algumas das mais
comuns:

O termo diferenciável é sinônimo de derivável e também será usado de agora em


diante com a mesma liberdade com que passaremos de uma para qualquer outra das
notações acima.

A notação dy/dx é devida a Leibnitz. No seu tempo a formalização do conceito de limite não havia sido atingida e o

uso dessa notação pode ser explicado da seguinte forma: O acréscimo da variável x, , produz um

acréscimo da variável y, . A idéia é que, ao se tornarem

``infinitamente pequenos'', esses acréscimos passavam a ser denotados por dx e dy, respectivamente, e operavam-se

72
com eles formalmente como com dois números quaisquer. A razão transformava-se em dy/dx e este símbolo

não representava um ente uno, como acontece hoje, mas o quociente entre dy e dx. A despeito desses argumentos não
terem uma clara fundamentação lógica, devem ser julgados no contexto de sua época. A notação de Leibnitz
permanece e o leitor notará que ela é útil sendo, em muitas circunstâncias, a mais sugestiva.

A notação f'(x) é atribuída a Lagrange. É a notação mais conveniente quando f é diferenciável em um conjunto A e

se considera a função derivada em A. Isto é, a função f' que associa a cada a derivada f'(x) de f no

ponto x. Quando a variável independente representa o tempo e é indicada por t, também se usa para a derivada

de y=f(t) a notação , atribuída a Newton.

Após as consideraçõe feitas até aqui é natural colocar:


Definição 3.1.2 Sendo y=f(x) derivável em a, a reta tangente ao gráfico, G(f), em
(a,b), b=f(a), é a reta dada por:
y - b = f'(a)(x - a).

Se a equação horária de um movimento retilíneo é x=s(t), onde s é uma função


diferenciável da variável tempo t, a velocidade v(t0) num instante t0 é a derivada
de s em t0, isto é, v(t0):=s'(t0).
Exemplo 3.1.1 (1) Se , então f'(x)=0. De fato, neste caso, o

limite (1.1) fica

em qualquer ponto a.

(2) Se f(x)=x2, então f'(a)=2a. De fato,

(3) A reta tangente à parábola y=x2, no ponto (2,4) é

73
y-4 = 4(x-2). (3.3)

De fato, a derivada de x2 no ponto x=2 é igual a 4. Usando agora o fato de que a


equação da reta de coeficiente angular m, passando pelo ponto (a,b), é dada por
y-b = m(x-a)

chega-se à equação (3.3).


(4) Generalizando o item (2), tem-se

Antes de provarmos esse fato, convém observar que, se f é uma função diferenciável
em um ponto a, na definição de derivada, o limite (1.1) pode ser escrito na forma

o que será feito com muita frequência daqui em diante.


Retomando o nosso exemplo, aplicando o desenvolvimento do binômio obtemos:

Para n=1, temos um caso particular importante dessa fórmula:


(x)'=1,

isto é, a derivada da função identidade é 1. A fórmula neste caso faz sentido apenas
para , uma vez que a expressão 00 não é definida. Entretanto, o leitor pode

verificar diretamente, a partir da definição de derivada, que (x)'=1, inclusive no


ponto x=0.
(5) . De fato, usando o Primeiro Limite Fundamental para justificar a
penúltima e a última linha da seguinte cadeia de igualdades, temos:

74
(6) . O leitor deve se encarregar da demonstração desse fato.

Definição 3.1.3 Se a função é derivável em cada ponto de um

conjunto , diz-se que fé derivável (ou diferenciável) em B. Se tivermos A=B,

diremos simplesmente que f é derivável.


Assim, as funções , e y=xn, , são exemplos de funções diferenciáveis.

A seguinte proposição e os próximos dois exemplos ajudam a entender como deve ser
uma função não diferenciável.
Proposição 3.1.1 Se uma função f é derivável em um ponto a, então f é contínua
em a.
Prova. Note que f é contínua em a se, e somente se,

Este, de fato, é o caso quando f é diferenciável em a, pois:

75
Como estamos interessados em entender como é uma função não diferenciável num
ponto, podemos reformular a Proposição 3.1.1 dizendo que toda função descontínua
num ponto a é não diferenciável em a.
A pergunta agora é: vale a recíproca da Proposição 3.1.1? Ou seja, será que toda
função contínua em a é diferenciável nesse ponto?
A resposta é negativa (como era de se esperar, pois em caso afirmativo, os conceitos
de diferenciabilidade e continuidade seriam equivalentes e poderíamos ficar com
apenas um deles). Os exemplos seguintes mostram funções contínuas e não
diferenciáveis em um ponto. As funções diferenciáveis formam, portanto, uma classe
mais seleta, ser diferenciável é ser contínua e mais alguma coisa.
Exemplo 3.1.2 A função f(x)=|x| é contínua, mas não diferenciável, no ponto a=0.
De fato, neste caso, o limite (3.2) em a=0, calculado à esquerda e à direita, assume
valores distintos:

(3.4)

(3.5)

logo, não existe f'(0).


As expressões (3.4) e (3.5) são chamadas, respectivamente, derivada à esquerda e
derivada à direita de f em 0. São denotadas por f'(0-) e f'(0+). Considerando limites
laterais em (3.2) e lembrando as propriedades desses limites temos: Seja a um ponto
do domínio de uma funçao f e também ponto de acumulação lateral desse domínio,
deixando-o à esquerda e à direita. f é diferenciável em a se, e somente se, suas
derivadas laterais existem e coincidem. Neste caso, f'(a)=f'(a-)=f'(a+).
Exemplo 3.1.3 A função é contínua, mas não diferenciável,

nos pontos . Deixamos ao leitor, como exercício, a verificação da

continuidade de f. A não diferenciabilidade em a=1 é consequência da propriedade


que enunciamos acima a respeito das derivadas laterais. De fato, como x4<x2, para

76
-1<x<1, e x2<x4, para x>1, usando o mesmo raciocínio do Exemplo 3.1.2, obtemos:
.

O leitor dispõe de mais de um recurso para verificar a não diferenciabilidade em a=-


1, inclusive o de explorar o fato de ser f uma função par. Por isso deixamos essa
tarefa a seu encargo como exercício.

Figure:

A Figura 3.2 representa o gráfico da função do Exemplo 3.1.3. Observando essa


figura, bem como o gráfico de f(x)=|x|, e refletindo um pouco sobre uma possível
recíproca da Proposição 3.1.1, o leitor concluirá que ela é inviável. Além das
descontinuidades, os pontos onde o gráfico apresenta uma ``quina'', uma situação de
``não concordância'', são pontos onde não existe reta tangente ao gráfico, embora
tenhamos continuidade da função nesses pontos.
Numa linguagem intuitiva, estas são situações típicas de não diferenciabilidade,
enquanto que, grosso modo, o gráfico de uma função diferenciável tem um aspecto
suave, não anguloso, como o gráfico de f(x)=x3 ou das funções ou , por
exemplo.
As situações mostradas no Exemplo 3.1.4 mostram que a idéia de diferenciabilidade
por estas observações, apezar de útil, não é precisa. A função g do item (1) do
Exemplo 3.1.4 tem um aspecto parecido com o da função f dada em (3.1). O leitor
deve fazer um esboço do gráfico de ambas. Embora esses gráficos tenham uma certa
semelhança, g é diferenciável em x=0 enquanto f não é.
Exemplo 3.1.4 (1) A função

77
é diferenciável em x=0 e g'(0)=0. De fato,

De acordo com a Proposição 2.2.3, a última igualdade segue do fato de ser

o produto de uma função que tende a zero, quando , por uma função limitada.
O seguinte exemplo mostra uma outra situação.

(2) As funções não são diferenciáveis em x=0. De fato,

portanto, não existe f'(0). Neste caso, a tangente ao gráfico no ponto (0,0) existe, mas
é vertical e seu coeficiente angular não está definido. O caso da raíz cúbica (n=3) está
representado na Figura 3.3.

Figure 3.3: y=x3

A definição de derivada, como recurso para o cálculo, é pouco manejável. A seguinte


proposição estabelece propriedades importantes das derivadas. São regras de
derivação que facilitam os cálculos.
Proposição 3.1.2 Se f e g são duas funções diferenciáveis em x, então as
funções f+g, fg e, se ,f/g também o são. Valendo as seguintes fórmulas:

(a)

78
(b)

(c)

Prova. Devemos mostrar que o limite do membro esquerdo de cada


expressão (a), (b) e (c) existe e é igual ao membro direito. Demonstraremos
apenas (b) e (c), ficando (a) a cargo do leitor.
(b) A segunda igualdade abaixo pode ser obtida subtraindo e somando f(x+h)g(x) ao
numerador da fração sob o sinal de :

Esta última linha obtem-se de , como decorre da

continuidade de f.
(c) Neste caso, subtraindo e somando a expressão g(x)f(x) convenientemente e usando
a continuidade de g(x), temos

79
o que finaliza as partes (b) e (c) da prova.
O ítem (a) da proposição anterior se estende naturalmente a um número finito
qualquer de parcelas.
Sendo funções diferenciáveis em x, o leitor poderá usar

o princípio de indução finita para demonstrar a seguinte fórmula:

Observe que a fórmula acima inclui, como caso particular, a nossa já


conhecida ou, mais geralmente, se u(x) é uma função diferenciável

e n>1 é um inteiro, então tomando fi(x)=u(x), , em (3.6), obtemos a

seguinte fórmula:

(3.6)

Uma importante consequência da Proposição 3.1.2 é a seguinte: Todo polinômio é


uma função diferenciável.Os itens (1) e (2) do Exemplo 3.1.5 são consequências
imediatas dos itens (b) e (c) da Proposição 3.1.2.

80
Exemplo 3.1.5 (1) Se , então .

(2) (1/x)'=-1/x2. Mais geralmente, se u(x) é diferenciável, , então

(3.7)

Os itens abaixo mostram que podemos agora obter fórmulas de derivação para as
funções trigonométricas.
(3) . De fato, como , temos:

(4) . Fica a cargo do leitor verificar esta fórmula. Para isso basta

seguir os mesmos passos do exemplo anterior.


(5) De fato, como consequência do item (2) temos:

(6) . Esta fórmula é análoga à anterior.

Suponhamos agora que y=f(x) seja uma função invertível definida num intervalo I,
derivável em a, com . Essas condições sobre f, como já sabemos, são

equivalentes a que o gráfico da função f, G(f), possua uma reta tangente no ponto

81
(a,b), onde b=f(a), com declividade , onde é a medida (tomando

como positivo o sentido anti-horário) do ângulo que o eixo x faz com a reta.

Ora, observemos que o gráfico de f-1, G(f-1), pode ser visto como o próprio G(f) se
forem trocados os papéis de x e y e se, além disso, quando traçarmos G(f-1),
representarmos a primeira coordenada - a variável independente y - no eixo vertical e
a segunda - a variável dependente x - no eixo horizontal. Isto é,

Então a mesma reta que é tangente a G(f), em (a,b), será tangente a

, em (b,a). Entretanto, respeitando a a troca dos

papéis de x e y, a declividade da reta tangente a G(f-1) deve ser vista como a tangente
trigonométrica do ângulo que ela faz com o eixo y, tomando o sentido horário

como positivo. Ou seja, sua declividade é . Concluimos, portanto, que f-

1 é derivável em b e

Confira com a Figura 3.4.

Figure:

Observando que uma função , contínua num intervalo I, é

invertível se, e somente se, fé estritamente crescente ou estritamente decrescente,


podemos resumir as conclusões de nossas observações na seguinte proposição:

82
Proposição 3.1.3 Seja y=f(x) uma função estritamente crescente (ou estritamente
decrescente) num intervalo I e derivável num ponto , com . Então a

função inversa x=f-1(y) é derivável em b=f(a) e

Se as hipóteses da Proposição 3.1.3 estiverem satisfeitas, numa notação incompleta,


mas sugestiva, temos

Importantes consequências dessa proposição estão contidas nos exemplos abaixo.

Exemplo 3.1.6 (1) Consideremos a função y=f(x)=xn, , . Acertemos

que o domínio de f é , quando n é par, e toda a reta , em caso contrário.

Notando que f é estritamente crescente e que nos

pontos , a Proposição 3.1.3 implica a seguinte regra de derivação:

A função inversa, x=y1/n, é diferenciável, para ,e

(2) Seja y=xm/n, Sendo u(x)=x1/n, temos e, portanto, a

Fórmula (3.8), subsequente à Proposição 3.1.2, implica ,

donde

83
De um modo geral, reunindo os fatos contidos nos dois últimos exemplos, conclui-se
que também para expoentes racionais, vale regra de derivação

(3.8)

que generaliza o item (4) do Exemplo 3.1.1.


Com relação a derivação de potências, a Fórmula (3.10) nos leva tão longe quanto se
pode no momento. Num futuro próximo daremos sentido à Fórmula (3.10)
para e provaremos que ela vale nesse contexto mais geral.

Outras consequências importantes da Proposição 3.1.3 são as fórmulas de derivação


das funções trigonométricas inversas que estabelecemos nos exemplos abaixo.
Exemplo 3.1.7 (1) . Aqui, para o estudo da diferenciabilidade, é usual

restringir-se o domínio a (-1,1) e o contra-domínio a . Temos assim uma

função estritamente crescente, inversa de .

De acordo com a Proposição 3.1.3, temos:

Lembrando que , isto nos leva finalmente à

fórmula

84
(2) Neste caso é usual tomar-se (-1,1) como domínio e como

contra-domínio. Podemos proceder de modo análogo ao do exemplo anterior para


mostrar:

(3) . Tomando como domínio e como contra-domínio

(Veja a Figura 3.5), o mesmo tipo de argumento nos leva à fórmula

Figure:

O leitor deve preencher os detalhes dos próximos três exemplos, especificando os


domínios e contra-domínios das funções correspondentes.

(4)

(5)

(6)

85
3.2 - A regra da cadeia e derivadas de ordem superior
Em situações das mais variadas é preciso compor funções. Nesta Seção vamos atacar
o problema de derivar a composição de funções diferenciáveis. Apenas para se ter
uma idéia mais precisa do assunto, consideremos o exemplo de um ponto (x,y) se
movendo no plano xy sobre a curva de modo que sua abscissa percorre o

eixo x obedecendo a lei horária . Assim, a abscissa é

crescente com o tempo (isto é, x se movimenta sempre na direção positiva), enquanto


a ordenada y descreve um movimento oscilatório regido pela
lei . Fixemo-nos na ordenada y. Em outros termos, o ponto está

se movendo sobre o gráfico da função cosseno e estamos considerando o movimento


de sua projeção ortogonal no eixo y. No instante t, qual é a velocidade v(t) da
ordenada y? Veja a Figura 3.6.
Como v(t)=dy/dt, ao considerarmos essa questão, estamos diante da necessidade de
calcular a derivada da composição da função cosseno com a
função . É a proposição abaixo, a regra da cadeia, que nos

fornece a ferramenta para tratar esse problema.


Teorema 3.2.1 (Regra da Cadeia) Seja y=f(x) diferenciável em a e z=g(y)

diferenciável em b=f(a), então é diferenciável em a (ou seja, é

diferenciável em a) e

ou, numa notação mais sugestiva (como se cancelássemos os dy's):

Prova. Definamos a função auxiliar

86
Como , concluimos que h é contínua em b e ainda temos para

todo y:
h(y)(y-b)=g(y)-g(b)-g'(b)(y-b).

Assim,

e, fazendo y=f(x), b=f(a), obtemos

(3.9)

Dividindo (3.11) por x-a e tomando limites, para , somos levados finalmente
a

A fórmula (3.8), usada para chegarmos à regra de diferenciação de potências com


expoentes racionais, é obviamente um caso particular da regra da cadeia.

Exemplo 3.2.1 (1) Se y=(x2+1)1/2, fazendo u=x2+1, temos y=u1/2. Portanto,

(2) Se y=(2x+1)3, então y'(0)=6. De fato, se u=2x+1, vem

87
Donde, (dy/dx)x=0=6.

Observe que a composição de duas funções não diferenciáveis pode ser diferenciável
(confira com o exercício 60). De fato, a função

não é diferenciável em nenhum ponto (nem mesmo contínua), entretanto, a função

composta , ou seja, , é a função constante, igual a 1 e, portanto,

diferenciável.
O leitor está agora em posição de calcular a velocidade da ordenada daquele ponto se
movendo sobre o gráfico do cosseno, conforme a descrição do inicio desta Seção.
Deve fazê-lo.
Se uma função f é derivável num conjunto , fica definida uma outra função f'

em A, a qual associa a cada ponto a derivada de f em x.

Definição 3.2.1 Uma função y=f(x) de A em é dita duas vezes diferenciável, se a


função derivada, f', for diferenciável em A. Neste caso, a derivada de f' em é

chamada derivada segunda - ou derivada de ordem 2 - de f em x e é denotada


por f''(x).
Nas condições da Definição 3.2.1 também se usam as seguintes notações para a
derivada segunda de f:

Procedendo sucessivamente de modo inteiramente análogo, chegamos à definição de


função n vezes diferenciável e de derivada n-ésima. Isto é:
88
Definição 3.2.2 Para , tendo definida uma função f (n-1) vezes diferenciável

em , diz-se que f é n vezes diferenciável em A, se a função f(n-1) for

diferenciável em A. Neste caso, é a chamada derivada n-

ésima de f, ou derivada de ordem n.


Também se usam as notações

para a derivada n-ésima de y=f(x).


Exemplo 3.2.2 (1) Se , então f''(0)=2. De

fato, e , portanto, f''(0)=2.

(2) Se f(x)=x4-5x2+3, então f'(x)=4x3-10x, f''(x)= 12x2-10, f(3)(x)=24x, f(4)(x)=24,


.

(3) Se , então

continue.

Definição 3.2.3 Uma função é dita de classe Cn,

inteiro, , se for n vezes diferenciável e a função f(n) for contínua em A.

Se f tiver derivadas de todas as ordens, diz-se que f é de classe , .A

notação indica que f é contínua.

89
A linguagem matemática está impregnada dessa terminologia. É preciso, portanto,
familiarizar-se com ela.

Uma questão interessante é a seguinte: Existem funções de classe Cn que não sejam
de classe Cn+1? Os itens (3), (4) e (5) do Exemplo 3.2.3 se referem a esse assunto.

Exemplo 3.2.3 (1) Se P(x) é um polinômio, então . De fato, basta lembrar

que todo polinômio é diferenciável e que sua derivada é outro polinômio,


eventualmente constante.
(2) Se , , então . De fato, as derivadas de

qualquer ordem dessas funções são ou .

(3) Se f(x)=|x|, então , mas . De fato, já sabemos que f é contínua.

Como f(x)=-x, para x<0, e f(x)=x, para x>0, a diferenciabilidade está garantida nesses
pontos. Mas, já vimos que f'(0-)=-1 e f'(0+)=1, deste modo, f não é diferenciável
em x=0 e, portanto, .

(4) Se f(x)=x|x|, então , mas . Inspirado no item anterior o leitor será

capaz de verificar esse fato.


(5) Na verdade, com praticamente o mesmo esforço o leitor pode mostrar que,
se f(x)=xn|x|, então , mas .

Encerramos esta Seção considerando um método importante para calcular certas


derivadas, as derivadas de funções definidas implicitamente.
Uma equação em duas variáveis, x e y, pode definir y como função de x, pelo menos
para x e y restritos a convenientes subconjuntos de . Por exemplo, a equação

x2+y2=1, (3.10)

90
para -1<x<1, pode definir y como função de x de duas maneiras:

ou .

Quando y é definido implicitamente como função de x, nem sempre é possível


explicitar a função, como fizemos acima. É sabido, por exemplo, que a
equação define y como função de x, quando xvaria numa vizinhança

de 0 e y numa vizinhança de 1. Isto é, para cada x em alguma vizinhança de 0, se


considerarmos a equação em apreço como uma equação em y, sabe-se que ela tem
uma única soluão y(x) pertencente a uma certa vizinhança de 1. No entanto, não dá
para exibir essa solução.
Saber quando uma equação em x e y define uma variável como função da outra é uma
questão muito importante. Será objeto de nosso interesse no futuro. Por ora estamos
interessados num problema bem mais simples: admitindo que a equação
define y como função de x, queremos calcular sua derivada y'.
A melhor maneira de entender esse método é fazer alguns exemplos. Assim, para
obtermos a derivada y' de y, como função de x definida implicitamente em (3.12),
derivamos os dois membros de (3.12):

Em geral a expressão de y' envolve a variável y, mas quando é possível


explicitar y como função de x, como é o caso neste exemplo, isso pode ser evitado.
Aqui temos , se e ,

se .

Exemplo 3.2.4 (1) Consideremos a equação y4+2y-3x3=3x-1 e calculemos a


derivada y' de y em relação a x,

91
desde que .

(2) Encontremos a equação da reta tangente à curva dada pela equação y4+3y-
4x3=5x+1, pelo ponto (1,-2), admitindo que essa equação define a função y=f(x) numa
vizinhança de x=1, com f(1)=-2.
Calculando y'=f'(x) de modo inteiramente análogo ao do exemplo anterior, obtemos:

Assim, a equação da reta tangente é


y+2=-(17/19)(x-1).

(3) Admitindo que a equação define y como função de x,

calculemos y',

quando .

92
3.3 - O Teorema do valor médio - Máximos e mínimos
O Teorema do Valor Médio é um dos teoremas mais fundamentais do Cálculo. Outros
resultados importantes dependem dele. É também muito simples, como muitos
teoremas importantes. Tem a seguinte interpretação dinâmica: Num movimento
retilíneo realizado num intervalo de tempo [t0,t1], há em algum instante
entre t0e t1 quando a velocidade instantânea, , coincide com a velocidade

média. Aplicaremos o Teorema do Valor Médio no estudo de pontos de máximo e de


mínimo relativos funções.
Definição 3.3.1 Seja f uma função definida num intervalo I. Um ponto é

chamado ponto de máximo relativo (ou local) de f, se existe uma


vizinhança V de a tal que , para todo . Neste caso, f(a) é

chamado um valor de máximo. Se existir uma vizinhança V de a tal que

, para todo , o ponto a será chamado ponto de mínimo relativo (ou local)

e f(a) um valor de mínimo.


Como se observa no Exemplo 3.3.1 e na Figura 3.7, um ponto de máximo relativo, ou
de mínimo relativo, pode não ser de máximo, ou de mínimo, respectivamente. Apesar
disso, adotaremos a prática usual de quase sempre abolir o adjetivo relativo. Os reais
pontos de máximo ou de mínimo serão frequentemente referidos como de máximo
absoluto ou de mínimo absoluto.

Exemplo 3.3.1 (1) A função f(x)=x3-3x tem um ponto de máximo relativo e um


ponto de mínimo relativo em a=-1 e x1=1, respectivamente. Os valores de máximo e
de mínimo são 2 e -2, respectivamente. No entanto, essa função não tem máximo nem
mínimo absolutos. Confira com a Figura 3.7.
(2) A função tem infinitos pontos de máximo,

, , e infinitos pontos de mínimo, , ,

um único valor de máximo, 1, e um único valor de mínimo,-1.

93
(3) A função , , f(0)=0, tem infinitos pontos de

máximo, , , e infinitos pontos de

mínimo, , .

Os pontos de máximo ou de mínimo relativos de uma função são chamados pontos


extremos relativos (também neste caso omitiremos frequentemente o termo relativo).
Os pontos , , são pontos extremos da

função , , f(0)=0, considerada no item (3) do

Exemplo 3.3.1. O ponto x=0 é um ponto extremo relativo dessa função?


A proposição seguinte fornece um primeiro recurso para a discussão dos pontos
extremos de uma função f. Dá uma condição necessária para um ponto ser ponto
extremo de f. Os candidatos a extremo são, quase sempre, pontos c tais que f'(c)=0.
Proposição 3.3.1 Se f é uma função diferenciável num intervalo aberto I e é

um seu ponto de máximo ou de mínimo relativo, então f'(c)=0.


Prova. Suponhamos que c seja um ponto de máximo. A prova para o ponto de
mínimo é inteiramente análoga.
Observemos inicialmente que existem as derivadas laterais, f'(c-) e f'(c+), que
coincidem com f'(c). Além disso, como c é ponto de máximo, para |h| suficientemente
pequeno, podemos afirmar que:

Portanto, de acordo com o Teorema da Comparação, temos:

94
Ou seja,

Observação 3.3.1 1) Se I não for aberto, a conclusão da Proposição 3.1 pode não
valer. De fato, basta observar, por exemplo, a função , definida

por f(x)=x. Os pontos a=1 e x1=2 são, respectivamente, pontos de mínimo e de


máximo e a derivada de f não se anula nesses pontos.
2) A recíproca da Proposição 3.3.1 não é verdadeira. De fato, se tomarmos a
função f(x)=x3, temos f'(0)=0 e a=0 não é ponto de mínimo nem de máximo.
3) Se f é uma função definida num intervalo aberto I, define-se ponto
crítico de f como um ponto tal que f'(c)=0 ou f'(c) não existe. Assim,, a

Proposição 3.3.1 pode ser reformulada nos seguintes termos:


Proposição 3.3.2 Se c é um ponto de máximo ou de mínimo de uma função f num
intervalo aberto I, então cé um ponto crítico de f.
A proposição seguinte, o Teorema de Rolle, diz que se uma função diferenciável, f,
assume o mesmo valor em diferentes pontos, a e b, então existe pelo menos um ponto

do gráfico de f, entre e , em que a reta tangente a ele

é horizontal. Veja a Figura 3.8. Também tem a seguinte interpretação dinâmica: Se,
num movimento retilíneo, um ponto retorna, num instante t1 à posição inicial,
ocupada no instante t0<t1, então há um instante , , quando sua

velocidade é nula. O Teorema de Rolle é um critério de existência de pontos críticos

95
Teorema 3.3.1 (Teorema de Rolle) Se f é uma função contínua em [a,b] e derivável
em (a,b), então existe um ponto tal que f'(c)=0.

Prova. De acordo com a Proposição 2.4.3, f assume o seu valor máximo, M, e o seu
valor mínimo, m, quandox varia em [a,b].
Se tanto m como M são atingidos nos extremos do intervalo [a,b], temos m=M,
pois f(a)=f(b). Logo, f(x)=m(constante), para todo . Assim, f'(x)=0, para

todo , e c pode ser qualquer ponto de (a,b).

Se pelo menos um dos valores, M ou m, é atingido num ponto , então, de

acordo com a Proposição 3.3.1, f'(c)=0.


Uma consequência imediata do Teorema de Rolle é a seguinte:
Corolário 3.3.1 Se f é uma função contínua num intervalo [a,b], a<b, com f(a)=f(b),
então existe um ponto crítico de f em (a,b).
O Teorema de Rolle dá condições apenas de existência de pontos críticos, não fornece
nenhum método para determiná-los. Também não há, em geral, unicidade desses
pontos , como o leitor já deve ter notado na prova do teorema e na Figura 3.8.
O Teorema do Valor Médio é uma generalização do Teorema de Rolle.
Teorema 3.3.2 (Teorema do Valor Médio) Se f é uma função contínua em [a,b] e
derivável em (a,b), então existe tal que f(b)-f(a)=f'(c)(b-a).

Prova. Consideremos a constante K:=[f(b)-f(a)]/(b-a) e definamos a função

(3.11)

96
A função é a soma das funções deriváveis -f(x) e f(b)-K(b-x)), logo, é

difeerenciável em [a,b]. Ainda, . Ou seja, satisfaz as hipóteses do

Teorema de Rolle, portanto, existe tal que .

Mas, . Portanto, f'(c)=K e, de acordo com (3.13),

O Teorema do Valor Médio diz o seguinte: Se f é uma função diferenciável em (a,b) e


contínua em [a,b], então existe um ponto do gráfico de f, entre e

, em que a reta tangente é paralela à reta passando pelos pontos

e . Veja a Figura 3.9. Voltando à introdução desta seção o leitor pode fazer

um gráfico representando a coordenada s(t) do ponto, quando o tempo t varia no


intervalo [t0,t1], e relacionar aquela interpretação dinâmica do Teorema do Valor
Médio com esta interpretação geométrica.
Já vimos anteriormente que a derivada de uma função constante é zero. O que não
ficou até agora bem resolvido foi a recíproca, isto é: Se a derivada de uma função é
zero em todos os pontos de um intervalo, ela é constante nesse intervalo? De acordo
com o seguinte corolário do Teorema do Valor Médio, isto é verdade.
Corolário 3.3.2 Se f é uma função diferenciável em [a,b] e f'(x)=0, para
todo , então em [a,b]

Prova. Seja c:=f(a). Para todo , o Teorema do Valor Médio garante a

existência de de modo que e, como ,

segue que f(x)=c.


É fácil encontrar exemplos em que f'(x)=0 em todo o domínio de f e, no entanto, f não
é uma função constante. Certamente o domínio de f não será um intervalo, como no
caso de

97
f(x) = x/|x|.

Outra consequência importante do Teorema do Valor Médio é o seguinte


Corolário 3.3.3 Se f é uma função contínua em [a,b], derivável em (a,b),
com f'(x)>0 (f'(x)<0), para todo , então f é estritamente crescente

(estritamente decrescente) em [a,b].


Prova. Suponhamos que . De acordo com nossas hipóteses e o

Teorema do Valor Médio, existe um número tal

que . Como , temos f(x)<f(y).

A prova da parte do Corolário 3.3.3 correspondente às frases entre parênteses fica por
conta do leitor.
Observação 3.3.2 1) Se a hipótese f'(x)>0 for substituída por no

Corolário 3.3.3, o termo``estritamente crescente'' deve ser substituído


por ``crescente''.
2) Vale uma observação análoga à anterior para a versão do
Corolário 3.3.3 correspondente às frases entre parênteses.
O Teorema do Valor Médio e seus corolários nos colocam em posição de estudar a
concavidade do gráfico de uma função diferenciável.
Definição 3.3.2 Uma função f, diferenciável em um intervalo I é convexa em

se existir um intervalo , com a<c<b, de modo que

(3.12)

Diremos também, neste caso, que o gráfico, G(f), tem a concavidade voltada para
cima em (c,f(c)). Se valer

98
(3.13)

diremos que f é côncava em c, ou que o gráfico, G(f), tem a concavidade voltada para
baixo em (c,f(c)).
Definição 3.3.3 Se uma função f, nas condições da Definição 3.3.2, for convexa
(côncava) em todos os pontos de um intervalo , diremos que f é convexa

(côncava) em J.
A Definição 3.3.2 significa que, se tomarmos , o gráfico G(f) está

acima da reta y-f(c)=f'(c)(x-c), quando a f for convexa em c. O gráfico G(f) estará


abaixo da reta y-f(c)=f'(c)(x-c), quando f for côncava em c.
A Figura 3.10 representa uma função f convexa em c (ou seja, cujo gráfico tem a
concavidade voltada para cima em (c,f(c))).
A proposição abaixo é um critério para determinar a convexidade ou a a concavidade
de uma função.

Proposição 3.3.3 Se f é uma função de classe C2 num intervalo aberto I e se f''(c)>0,


num ponto , então f é convexa em c.

Prova. Como f''(c)>0 e f'' é, por hipótese, uma função contínua, o Teorema da
Conservação do Sinal assegura que existe um intervalo , com a<c<b, de

modo que f''(x)>0, para .

Seja x>c, . Pelo Teorema do Valor Médio, existe de modo que

Como f''(x)>0, para , segue do Corolário 3.3.3 do Teorema do Valor Médio

que f' é estritamente crescente nesse intervalo, portanto, , donde

99
A prova dessa relação, para , é inteiramente análoga. Portanto, a relação

(3.14) está satisfeita e a função f é convexa em c.


Uma condição para f ser côncava em c é f''(c)<0. Cabe ao leitor formular a proposição
correspondente à Proposição 3.3.3 para este caso e fazer sua prova.
Quando o gráfico de f muda seu caráter de convexidade num ponto c, este ponto é
chamado ponto de inflexãode f. Precisamente,
Definição 3.3.4 Se f é uma função definida em (a,b), um ponto é dito

um ponto de inflexão de f, se existir de modo que f é

convexa em um dos intervalos , e côncava no outro.

Consideremos uma função f de classe C2 num intervalo aberto I. Se é um ponto

de inflexão de f, então f''(c)=0. Isto é consequência do Teorema do Valor


Intermediário e da Proposição 3.3.3. Assim, uma boa estratégia para encontrar os
pontos de inflexão de uma função f é tentar descobrir os pontos c onde f''(c)=0 ou
onde f''(c) não existe. A Proposição 3.3.6, mais adiante, implementa esta observação.

Exemplo 3.3.2 (1) Se f(x)=x3, temos . Além

disso, f''(x)<0, se x<0, e f''(x)>0, se x>0. Portanto, 0 é um ponto de inflexão de f.

(2) Se , então f''(x)=-(2x-5/3)/9, se . Neste caso, f''(x)>0, se x<0

e f''(x)<0, se x>0. Assim, ainda que não exista f''(0), 0 é um ponto de inflexão de f.

(3) Se f(x)=x2n, , f não tem pontos de inflexão, pois f é convexa em .

(4) Se , então não existem f''(0) e f''(1), é possível, entretanto,

garantir que 1 é o único ponto de inflexão de f. A verificação deste fato fica como
exercício para o leitor, que deve fazer um esboço do gráfico desta função.
As proposições que finalizam esta seção compõem a principal ferramenta para o
estudo dos pontos de máximo e de mínimo de uma função.

100
Proposição 3.3.4 Suponhamos que f seja uma função diferenciável em [a,b], exceto
possivelmente em um seu ponto crítico .

1.
Se f'(x)>0, para a<x<c, e f'(x)<0, para c<x<b, então c é um ponto de máximo
local.
2.
Se f'(x)<0, para a<x<c, e f'(x)>0, para c<x<b, então c é um ponto de mínimo
local.

Prova. Se f' satisfaz a hipótese do item 1., decorre do Corolário 3.3.3 do Teorema do
Valor Médio que f é estritamente crescente em [a,c] e estritamente decrescente em
[c,b]. Veja a Figura 3.11. Disso decorre que f(x)<f(c), para todo .

Logo, f(c) é um valor de máximo local.

A prova do item 2. é inteiramente análoga.


O exemplo a seguir sugere que o leitor crie outro para ilustrar o item 1. da
Proposição 3.3.4

Exemplo 3.3.3 Se , então o item 2. da Proposição 3.3.4 implica que 0

é um ponto de mínimo de f. De fato, se x<0, então

e . Se x>0, então e .

Confira com a Figura 3.12

A proposição a seguir é, nas aplicações deste estudo, o recurso mais útil, embora não
cubra todos os casos de interesse.

Proposição 3.3.5 Seja f uma função de classe C2 num intervalo (a,b),


com f'(c)=0, a<c<b.
1.
Se f''(c)>0, então c é um ponto de mínimo local.
2.
Se f''(c)<0, então c é um ponto de máximo local.

101
Prova. Suponhamos satisfeitas as nossas hipóteses com f''(c)<0. Sendo ,a

versão da Proposição 3.3.3 para f''(c)<0 implica que a função f é côncava no ponto c.
Então, vale (3.15) num intervalo . Como f'(c)=0, segue-se que f(x)>c,

para . Ou seja, c é um ponto de máximo de f. Confira com a Figura

3.13.

A prova do item 1. é inteiramente análoga.

Exemplo 3.3.4 (1) A função f(x)=x3-3x é apresentada no item (1) do


Exemplo 3.3.1 com algumas afirmações sem justificativas. Estamos agora em posição
de justificá-las. Para isso é conveniente ter a Figura 3.7 em mente. Como

em e , concluímos que são os únicos

possíveis pontos extremos de f. Além disso, f''(-1)=-6<0 e f''(1)=6>0, portanto, pela


Proposição 3.3.5, -1 é um ponto de máximo local e 1 é um ponto de mínimo local.
Observe-se ainda que f''(x) só muda seu caráter de convexidade no ponto x=0, isto é,
0 é o único ponto de inflexão de f.
(2) Um homem está num barco a dois quilometros de uma praia suposta retilínea na
direção norte-sul . Sabe-se que sua velocidade remando é 3/5 de sua velocidade
correndo em terra firme. Se ele deseja ir a um ponto da praia, seis quilometros ao
norte, determine a trajetória a ser seguida para fazê-lo em tempo
mínimo.Solução. Como o problema não depende do valor das velocidades, mas da
razão entre elas, podemos assumir que a velocidade em terra firme é v=1. De acordo
com a Figura 3.14, o tempo gasto para ir do ponto de partida, A=(2,0), até o

ponto C=(0,y) da praia é e, para ir de C ao ponto

desejado, B=(0,6), é TCB=6-y. Assim, o tempo gasto no percurso total é

Devemos o ponto de mínimo da função T(y). Impondo T'(y)=0,

102
A única raíz dessa equação é . Como

para todo , segue que é um ponto de mínimo. Assim, a trajetória procurada é

a indicada na Figura 3.14, tomando-se C=(0,3/2).

Proposição 3.3.6 Seja f uma função de classe C3 em (a,b), com f''(c)=0


e . Então c é um ponto de inflexão de f.

Prova. Para fixar um caso, suponhamos f(3)(c)>0. A prova para f(3)(c)<0 é


inteiramente análoga.

Sendo f(3) contínua, o Teorema da Conservação do Sinal assegura a existência de um


intervalo , com , tal que f(3)(x)>0, para , donde f'' é

estritamente crescente em (d,e). Então, como f''(c)=0, temos f''(x)<0, para d<x<c,
e f''(x)>0, para c<x<e.
Assim, f muda seu caráter de convexidade em c.
Exemplo 3.3.5 A função tem um ponto de inflexão em . De

fato, , . Portanto,

nossa afirmação é uma decorrência da Proposição 3.3.6.

Para as aplicações, o estudo dos pontos extremos de funções reais de uma variável real apresentado até aqui fornece
recursos em geral suficientes. Entretanto, em circunstâncias especiais, a proposição abaixo, que é mais abrangente,
pode ser necessária.

103
Proposição 3.3.7 Suponhamos f uma função de classe Cn em (a,b), , sendo

e .

1.
Se n é ímpar, então c é ponto de inflexão.
2.
Se n é par e f(n)(c)>0, então c é ponto de mínimo.
3.
Se n é par e f(n)(c)<0, então c é ponto de máximo.

Exemplo 3.3.6 (1) Algumas vezes as últimas proposições não são adequadas ao
estudo dos pontos extremos de uma função. Este é o caso da
função , para a qual 1 é um ponto de máximo, é um ponto

de inflexão e não existe f'(1). O leitor deve a usar o Corolário 3.3.3 do Teorema do
Valor Médio e a Proposição 3.3.3 para verificar essas afirmações. Veja Figura 3.15.

5 4
(2) A função f(x)=x satisfaz as condições da Proposição 3.3.7-1., com n=5 e c=0. A função f(x)=x satisfaz
as condições da Proposição 3.3.7-2., com n=4 e c=0. O leitor deve confirmar essas afirmações e fazer um esboço
do gráfico de f.

(3) Os fatos apresentados nesta seção constituem um recurso para esboçar o gráfico
de uma função. O esboço do gráfico da função , que mostramos na

Figura 3.16, foi obtido por meio da seguinte análise:


(a) A função é ímpar, portanto, seu gráfico é simétrico com respeito à origem e basta
analisá-lo para .

(b) O ponto 1 é um ponto de descontinuidade, sendo a reta x=1 uma assíntota vertical,
pois

104
(c)

(d) O único ponto extremo não negativo é determinado por

Como

o ponto é um ponto de mínimo.

(e) A convexidade é determinada pelo sinal da derivada segunda:

(f) Os pontos de inflexão, 0 e 3, são determinados por

Hoje em dia existem programas que fornecem o gráfico de funções bastante


complicadas, mas a familiaridade com os fatos aqui apresentados certamente
facilitam a observação de aspectos e detalhes importantes que não necessariamente
são destacados nesses programas. Essas observações podem ser orientadas pelos
seguintes passos:
(1) verificar se existe alguma simetria que simplifique o estudo;
(2) estudar o comportamento nos pontos de descontinuidade;
(3) estudar os pontos críticos;
(4) estudar o comportamento em e

105
(5) estudar o caráter de convexidade da função.

Convém observar finalmente que, mesmo considerando-se uma função de classe , a Proposição 3.3.7 não
esgota o assunto quando se trata de estudar a natureza de um ponto crítico. Veremos mais adiante um exemplo de uma
função, infinitamente diferenciável num ponto c, que se anula juntamente com todas as suas derivadas nesse ponto e,
no entanto, não se trata de uma função constante em nenhuma vizinhança dele.

106
3.4 - A diferencial e a fórmula de Taylor
Nesta seção vamos considerar o problema de fazer estimativas, isto é, aproximações.
O conceito de diferencial tem aqui um papel muito importante.

Em nossas considerações sobre a velocidade em um movimento retilíneo de um ponto dado por x=s(t), no início do
capítulo, observavamos que, ao se mover da posição s(t1) para s(t2), a velocidade média v é definida por

A velocidade média é a taxa (razão) de variação da posição s(t) em relação à variação do tempo t no
intervalo [t1,t2]. A velocidadev0 em um instnte t0 (isto é, a derivada de s(t) em t=t0) é essa taxa no instante t0. A
derivada tem o mesmo papel no estudo de processos em que uma grandeza qualquer evolui com o tempo, ou com
alguma outra variável não temporal. Esses processos trazem em si o natural interesse pela taxa de variação da dita
grandeza (variável dependente) com relação ao tempo, ou à outra variável (independente) em questão. Assim, em
ecologia, a taxa de crescimento ou declínio de uma espécie; em economia, o custo marginal de produção de alguma
mercadoria (isto é, a taxa de variação do custo com respeito à quantidade produzida) são alguns exemplos onde a
derivada está presente.

Fixemo-nos no exemplo da velocidade. Se conhecermos a velocidade v , num instante t e quizermos determinar


0 0
aproximadamente a posição s(t), para t ``muito próximo'' de t , é natural assumirmos v(t)=v constante e
0 0
estimarmos . Ao fazer isso estamos assumindo que se s(t) variasse linearmente

com t numa vizinhança de t desvreveria um movimento próximo do movimento real.


0

Como as funções lineares têm boas propriedades e, portanto, são em geral mais fáceis
de estudar, em muitos casos convém aproximar uma função qualquer, y=f(x), por uma
função linear, mesmo que essa aproximação seja acurada somente numa vizinhança
de um ponto x=a.
Sejamos mais precisos. Uma função linear é uma função da
forma , para todo , onde é uma constante. Portanto, o gráfico

da função linear é uma reta passando pela origem, dada pela equção y=kx.
Seja uma função qualquer. Se é fixado, queremos

esclarecer o que entendemos por aproximar f por uma função linear numa
vizinhança de a. Isto significa adotar o seguinte procedimento (veja a Figura 3.18):

107
1.
Introduzimos novas coordenadas no plano, definidas pelas
relações , (a origem do novo sistema de
coordenadas corresponde ao ponto (a,f(a)) do gráfico da função f)
2.
Numa vizinhança da origem do plano , substituímos o gráfico de f pelo
gráfico de uma função linear . Isto é, denotando ,
substituímos por (vale dizer, aproximamos
por o valor ).

Como se trata de aproximar a função f, é óbvio que em geral estamos cometendo um


erro (erro absoluto: ). Essa aproximação só é

conveniente quando o erro relativo,

tende a zero, com . Isto é, quando existe tal que

ou seja,

mas isto equivale a dizer que k=f'(a). Assim, podemos concluir que o processo de
aproximação descrito aqui (comumente referido como um processo de linearização)
só é executável quando f é diferenciável em a.

Neste caso colocamos a seguinte definição:

108
Definição 3.4.1 A função linear

(3.14)

é chamada a diferencial de f no ponto a e denotada por df(a) ou, simplesmente, dy.


Temos então a estimativa

Como se vê na Figura 3.18, aproximamos o acréscimo real pelo acréscimo

linear .

Exemplo 3.4.1 (1) Uma caixa cúbica tem a aresta medindo x=4cm, com um erro
máximo de 0,05cm. Qual o erro máximo no volume V da caixa?
Essa estimativa pode ser feita da seguinte forma: Se a aresta varia de x para x+dx, a
variação do volume é .

Como , lembrando que V'=3x2, obtemos:

dV = 3x2dx

e, para x=4 e , obtemos finalmente:

que é, em cm3, o maior erro possível no volume.

(2) Estime de quanto variou o lado de um quadrado, se sua área variou de


para . Exprimindo o lado y do quadrado em termos de sua área x,

109
Considerando x = 16 e um incremento dx = 0,1, o incremento dy no lado do quadrado
pode ser estimado como segue:

Ou seja, o lado do quadrado variou de .

Se quizermos aproximações mais acuradas, teremos de abrir mão de que elas sejam
lineares. Antes de prosseguirmos, notemos que se f for diferenciável
em a denotarmos dx=x-a e , a Definição implica

(3.15)

Note que o segundo membro de (3.17) é um polinônio em x-a de grau 1, P1(x), que
coincide com f no ponto ae cuja derivada coincide com a derivada de f no ponto a.
Se f for diferenciável até ordem 2 em a, podemos aproximar f, por um polinômio
em x-a de grau 2, P2(x), de modo que P2(a)=f(a), P'2(a)=f'(a) e P''2(a)=f''(a). Este
polinômio só pode ser

P2(x):=f(a)+f'(a)(x-a)+(1/2)f''(a)(x-a)2. (3.16)

De fato, a expressão geral de um polinômio em x-a de grau 2 é P2(x)=a1+a2(x-a)


+a3(x-a)2, logo P2(a)=a1 e suas derivadas até ordem 2
em a são: P'2(a)=a2 e P''2(a)=2a3. Impondo as condições requeridas sobre P2(x),
obtemos a1=f(a), a2=f'(a) e 2a3=f''(a), portanto, P2(x) tem a expressão dada em
(3.18).
É intuitivo que P2(x) seja uma melhor aproximação de f(x), pois além de coincidir
com f em a, juntamente com sua derivada, as derivadas de ordem 2 em a também
cincidem, portanto, f e P2 têm o mesmo caráter de convexidade em a.

110
Mais geralmente, para qualquer , se tiver todas as derivadas

até ordem n em um ponto a de um intervalo aberto I, o único polinômio em x-a de


grau n que coincide com f em a, juntamente com todas as suas derivadas até ordem n,
é

como pode ser verificado pelo leitor por aplicações sucessivas dos argumentos acima
ou, melhor, por uma aplicação do princípio de indução finita.
Definição 3.4.2 O polinômio Pn dado em (3.19) é chamado Polinômio de Taylor de
ordem n de f, em torno de a.
A discussão que se segue mostrará que a aproximação de uma função é tão

mais acurada quanto maior for n.


Suponhamos num intervalo aberto I, .

Ao se aproximar f pelo seu polinômio de Taylor de ordem n, em torno de a, comete-


se um erro En(x) definido por En(x):=f(x)-Pn(x), para x numa vizinhança de a, ou
seja:

(3.17)

Nosso objetivo agora é obter uma estimativa para En(x). Para chegarmos a ela
precisamos do seguinte resultado, que será útil também na seção seguinte.
Teorema 3.4.1 (Teorema de Cauchy) Sejam f e g funções contínuas em [a,b] e
diferenciáveis em (a,b), então existe c em (a,b) tal que

(3.18)

111
Prova. Definindo

verificamos que r é uma função contínua em [a,b] e diferenciável em (a,b). Ainda


mais,
r(a)=f(b)g(a)-g(b)f(a)=r(b),

logo, pelo Teorema de Rolle, existe tal que r'(c)=0, ou seja,

Observação 3.4.1 O Teorema de Cauchy é uma extensão do Teorema do Valor


Médio, pois este corresponde a considerar o caso particular g(x)=x no Teorema de
Cauchy.
Voltemos agora à questão de estimar o erro En(x). De acordo com a relação
(3.21), En(x) é uma função de classe Cn+1 numa vizinhança de a. Mais ainda,

(3.19)

nessa vizinhança.

Vamos precisar do seguinte fato: se h(x):=(x-a)n+1,

(3.20)

Como (3.23) e (3.24) implicam En(a)=h(a)=0, podemos escrever, para :

112
De acordo com o Teorema de Cauchy, existe , entre x e a de modo que

logo,

(3.21)

e, observando que (3.23) e (3.24) implicam E'n(a)=h'(a), a Equação (3.25) pode ser
re-escrita:

Assim, decorre novamente do Teorema de Cauchy de maneira inteiramente análoga a


existência de um número , entre e a, tal que

(3.22)

Pelas igualdades (3.23), (3.24), obtemos,

Aplicando sucessivamente esses argumentos, chegamos por fim, à existência de um


número , entre x e a, de modo que

(3.23)

113
Como, de acordo com (3.23) e (3.24),

temos, substituindo h(x) e esses valores em (3.27):

(3.24)

e, conhecendo-se uma cota superior para |f(n+1)|, a relação (3.28) fornece uma
estimativa para o erro En(x). Na verdade, como estamos assumindo no

intervalo aberto I, podemos nos restingir a uma vizinhança tal que o

intervalo fechado esteja contido em I. Como f(n+1) é uma função

contínua no intervalo fechado J, sabemos que ela é limitada em J. Assim, existe uma
constante positiva L tal que , para todo entre x e a. A Equação

(3.28) implica

isto é, En(x) tende a zero mais rapidamente do que (x-a)n, quando . Esta
propriedade é expressa pela notação

A discussão precedente nada mais é do que uma prova do seguinte importante


Teorema de Taylor:

114
Teorema 3.4.2 (Fórmula de Taylor) Sejam f uma função de classe Cn+1 num
intervalo aberto I e . Então, para cada x numa vizinhança de a,

existe , de modo que

A expressão do erro, ou resto, En(x), dada em (3.28) é atribuida a Lagrange, por isso a
expressão (3.29) é comumente referida como Fórmula de Taylor, com resto de
Lagrange, em torno de a.
Quando a=0, a fórmula (3.29) recebe o nome de Fórmula de Maclaurin.

Exemplo 3.4.2 (1) Dado o polinômio P(x)=x4-3x3+5x2-1, sua expressão em termos


de potências de (x-2) coincide com o polinômio de Taylor de grau 4 em torno de x=2,
que pode ser obtido da seguinte forma (Veja o exercício 14):

Como , temos,

x4-3x3+5x2-1 = 11+6(x-2)+6(x-2)2+5(x-2)3+(x-2)4.

Neste caso, o resto de Lagrange é, obviamente, nulo e a aproximação vale em toda a


reta.

(2) Vamos obter uma estimativa para a partir do valor conhecido de


e do polinômio de Taylor de grau dois de , em torno de .

Sendo , , e ,o

polinômio (3.19) com n=2, em torno de é

Desta forma, fazendo que, em graus, corresponde a 610, obtemos

a estimativa

115
Além disso, o resto de Lagrange pode ser estimado da seguinte forma:

e, como , , obtemos, finalmente:

Conluimos que , com uma precisão de cinco casas decimais.

116
3.5 - Algumas formas indeterminadas - A regra de L'Hospital

Se soubermos calcular e , as

proposições 2.2.1 e 2.3.3 podem não resolver nossos problemas quando pretendemos
calcular , se h(x)=f(x)/g(x), ou h(x)=f(x)g(x), ouh(x)=f(x)+g(x).

Aqui podemos considerar ou e admitir que os limites sejam .

Na verdade, o leitor já sentiu as dificuldades dessa questão ao resolver os exercícios


do Capítulo 2. Se aplicarmos formalmente as fórmulas das mencionadas
proposições 2.2.1 e 2.3.3, dependendo dos valores de e ,

podemos chegar às expressões sem sentido , , ou ,

para .

Essas expressões são chamadas formas indeterminadas porque, dado qualquer


, , escolhendo convenientemente f e g, podemos chegar

a . Ainda mais, podemos fazer a escolha de f e g de modo que não

exista e nem seja o .

Embora já tenhamos desenvolvido alguma habilidade para contornar essas situações,


é de grande valia aumentar nossos recursos com a Regra de L'Hospital.
Teorema 3.5.1 (Regra de L'Hospital) Sejam f e g funções diferenciáveis em (a,b),
exceto possivelmente em , com , para ,e

(3.25)

onde .

Se

117
(3.26)

ou

(3.27)

então

(3.28)

Prova. Apresentaremos a prova apenas no caso da hipótese (3.32). A prova no caso


(3.33) é um pouco mais elaborada, não muito.
Como os valores das funções f e g no ponto c não influem no valor do limite (3.31),
vamos impor quef(c)=g(c)=0, considerando-as contínuas em c. Vamos também
considerar neste momento apenas o limite lateral para .

Se x>c, as condições de diferenciabilidade assumidas para f e g permitem aplicar o


Teorema de Cauchy para escrever, para algum , :

Logo,

e, como quando , temos:

118
Com adaptações óbvias o leitor chegará à mesma conclusão com respeito ao limite à
esquerda e, portanto, à relação (3.34), que é a parte da prova que pretendiamos
apresentar.
A Regra de L'Hospital vale também para o caso em que . Não é difícil

demonstrá-la a partir da Regra formulada acima fazendo a mudança de


variável x=1/y e depois .

Exemplo 3.5.1 (1) leva à forma indeterminada 0/0.

A Regra de L'Hospital implica:

(2) leva à forma indeterminada . A Regra

de L'Hospital implica:

O último limite ainda leva à forma indeterminada , mas manipulação direta

mostra que ele é igual a

Uma outra alternativa seria aplicar novamente a Regra de L'Hospital a

119
(3) leva à forma indeterminada 0/0. A Regra de L'Hospital

implica:

(4) leva à forma indeterminada 0/0 e o mesmo ocorre

depois de aplicar-se a Regra de L'Hospital. Entretanto, aplicações sucessivas nos


conduzem a

(5)

120

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