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CURSO FORMAÇÃO DE

mediadores de leitura

MEDIAÇÃO
DA LEITURA E
Formação
do leitor
Lidia Eugenia Cavalcante

Gra
tui
to!

1
FASCÍCULO
Copyright © 2018 by Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


João Dummar Neto
Presidente
André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro
Raymundo Netto
Gestor de Projetos
Emanuela Fernandes
Analista de Projetos
Tainá Aquino
Estagiária

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


Viviane Pereira
Gerente Pedagógica
Luciola Vitorino
Analista Pedagógica

CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA


Raymundo Netto
Coordenador Geral e Editorial
Lidia Eugenia Cavalcante
Coordenador de Conteúdo
Emanuela Fernandes
Assistente Editorial
Amaurício Cortez
Editor de Design e Projeto Gráfico
Marisa Marques de Melo
Diagramadora
Rafael Limaverde
Ilustrador

Este fascículo é parte integrante do Programa Fortaleza Criativa, em decorrência do


Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria Municipal
da Cultura de Fortaleza, sob o nº 05/2018.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

C977 Curso Formação de Mediadores de Leitura / vários autores; organizado


por Raymundo Netto, Lidia Eugenia Cavalcante Lima; ilustrado por Rafael
Limaverde. - Fortaleza, CE : Fundação Demócrito Rocha, 2018.
192 p. : il.; 25cm x 29,5cm.

ISBN: 978-85-7529-893-0 (Coleção)


ISBN: 978-85-7529-894-7 (Fascículo 1)

1. Mediação de Leitura. 2. Leitura. 3. Curso. I. Netto, Raimundo. II. Lima,


Lidia Eugenia Cavalcante. III. Limaverde, Rafael. IV. Título.

2018-1825
CDD 372.41
Todos os direitos desta edição reservados à:
CDU 372.41

Fundação Demócrito Rocha


Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
Índice para catálogo sistemático:
fdr.org.br
1. Mediação de Leitura 372.41
fundacao@fdr.org.br
2. Mediação de Leitura 372.41

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APRESENTAÇÃO As possibilidades de leitura são amplas.
Fazemos leituras de jornais, romances,
Ler é ir ao encontro de algo que está para O conteúdo deste fascículo é introdutório poesias, músicas, revistas em quadrinhos,
ser e ninguém sabe ainda o que será. ao curso Formação de mediadores de lei- mensagens em redes sociais, lemos foto-
Ítalo Calvino tura e transita entre os conceitos de media- grafias, imagens em movimento, obras de
ção da leitura e às práticas advindas desses arte, esculturas, partituras, leituras técni-
que levam à formação do leitor. cas ou escolares...
A leitura está presente em nossas vidas, Lemos por distração e lazer, para adquirir
no cotidiano, desde as situações mais habi- conhecimento, obter informação, para toma-
tuais, como tomar um ônibus observando o da de decisão. Fazemos leituras despreten-
seu itinerário, preparar uma receita de bolo siosas ou mesmo com objetivos definidos. A
de chocolate ou mesmo lendo uma bula de leitura, portanto, é um ato de simbolização
remédio, às mais complexas, a exemplo das e representação do mundo. O objetivo do
pesquisas científicas e terminológicas, lei- nosso curso é, portanto, pensar a leitura em
turas filosóficas etc. suas diferentes vertentes como práticas so-
Podemos afirmar que a vida é mediada ciais de inserção no mundo por meio da me-
pela palavra, seja ela dita, vivida, narrada, diação para a formação de leitores.
contada, lida, cantada ou escrita. Vivemos a Formar leitores críticos que compreen-
observar aquilo que está em nosso entorno, dam o papel da leitura no dia a dia representa
com o que interagimos, interrogamos, con- um desafio para educadores, bibliotecários,
cordando ou discordando, a partir das con- agentes de leitura, pais, mães e uma gama
dições de inserção no mundo social e cultu- de profissionais e pessoas que chamam para
ral do qual fazemos parte. si essa importante ação. Assim, começamos
por lançar um questionamento: De que de-
pende o incentivo à leitura? O que podem
fazer os mediadores de leitura para con-
tribuir na formação de leitores críticos?
No decorrer deste módulo, pedimos que
você reflita sobre essas questões.
Esperamos, ao longo desse nosso diá-
logo, acender uma fagulha nessa discussão
coletiva, de modo a envolver mediadores
e mediadoras desse trabalho instigante
que é contribuir na formação de leitores e,
consequentemente, na construção de um
mundo melhor.
E você, leitor(a), pode também fazer parte
disso. Inscreva-se já!

ava.fdr.org.br

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 3


1.
MEDIAR A LEITURA:
EXERCÍCIO DE SI E
DO OUTRO
Começamos aqui por relembrar a primei- Por outro lado, pensar a mediação da
ra questão apresentada anteriormente: leitura para promover a formação de lei-
De que depende o incentivo à leitura? tores deve levar em consideração os dife-
Ao aprofundarmos essa reflexão, cabe-nos rentes públicos e pessoas de diversas ida-
refletir sobre as condições que levam uma des e níveis de alfabetização e letramento.
pessoa a se tornar leitora, especialmente O leitor se constrói ao longo da vida.
em nosso contexto, diante da complexida- Para tal, é necessário que se desenvolvam
de e diferenças existentes no Brasil. Você, práticas leitoras educativas, críticas literá-
por exemplo, se considera um(a) leitor(a)? rias e poéticas que tragam as memórias
Na pesquisa Retratos da Leitura no Bra- afetivas e que os indivíduos se reconhe-
sil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, de çam nessas leituras, evocando liberdade
mapeamento do comportamento leitor dos e autonomia. Quando revisitamos nossas
brasileiros, em sua 4ª edição (2016), iden- memórias, é possível reconhecer que o
tificamos uma realidade que vale a pena que construímos criticamente em relação
uma reflexão. Sobre a pergunta referente a ao conhecimento que possuímos está en-
presença de uma pessoa que influenciou o volto no que somos e naquilo que experi-
mentamos ao longo da vida. PARA ALÉM
DO TEXTO
gosto pela leitura dos pesquisados, os da-
dos apresentados indicam que isso é mais
marcante entre as crianças até 13 anos,
ao revelarem a presença dos pais e pro-
fessores como mediadores. Já para os A pesquisa Retratos da Leitura no
entrevistados a partir de 25 anos, fica evi- Brasil considera leitor aquele que leu
dente a pequena presença de pessoas que pelo menos um livro nos três meses
tiveram ou têm efetiva participação nessa anteriores à pesquisa, inteiro ou em
influência. Concluímos, assim, que é na partes. Leva em consideração fatores
infância, por meio da escola, da família ou como escolaridade, renda familiar,
na biblioteca onde aparecem as oportuni- classe social, faixa etária, gênero,
dades de práticas e ações mediacionais, ocupação, atividade e região. Você
como as rodas de leitura, contação de his- pode ter acesso à pesquisa completa
tória ou indicação de livros. no link: http://prolivro.org.br/home/
images/2016/RetratosDaLeitura2016_
LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pd

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PUXANDO
PROSA
E você, qual a sua primeira
lembrança de leitura? Como foi?
O que o(a) atraiu?
Que gosto isso teve para você?

No Brasil, ainda é pequena a parcela da po-


pulação que tem acesso a bibliotecas, ao livro
e à leitura em suas formas tradicionais ou não.
Além disso, o exercício crítico, pedagógico, dia-
lógico e mediador da leitura parece não ser
bem compreendido e a leitura acontece desco-
nectada com a realidade do cotidiano e dos in-
teresses do leitor. No processo de mudança que
nós educadores buscamos, sem dúvida nenhu-
ma está o desejo de acesso ao livro e à leitura
para todos, nas residências, escolas, bibliote-
cas, terminais de ônibus, centros culturais, pra-
ças, condomínios, canteiros de obras, fábricas,
hospitais, presídios etc.

Dialógico: relativo a diálogo,


em forma de diálogo.

Mas, é importante saber que não adianta so-


mente o acesso ao livro se não houver um con-
vite à leitura, especialmente para os iniciantes
dessa aventura, independentemente da faixa
etária ou classe social. E é desse convite, que de-
nominamos mediação, que trataremos a seguir.
Refletir sobre o conceito de mediação nos
apresenta diferentes possibilidades, algumas
abordagens mais simples, outras complexas,
dependendo do contexto e do lugar de fala dos
sujeitos envolvidos. Por ora, o que nos interessa
aqui é especialmente a mediação da leitura.

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 5


leitura daquele. Linguagem e realidade se
prendem dinamicamente. A compreensão
do texto a ser alcançada por sua leitura crí-
tica implica a percepção das relações entre
o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p.9)
Na perspectiva da dialogicidade, uma
das principais categorias das teorias de Pau-
lo Freire, nascem as práticas sociais e cultu-
rais de mediação da leitura. Assim, o diálogo
apresenta-se como essencial à construção e
à apropriação do conhecimento, numa ação
libertadora e autônoma, na qual todas as
pessoas envolvidas encontram-se inseridas
e precisam se sentir valorizadas.
Do interesse em aprender, surge o
desejo de ler e de conhecer. Dessa for-
Na memorável obra de Paulo Freire, A ma, quando as leituras propostas estão
importância do ato de ler, publicada origi- relacionadas às experiências, o processo
nalmente em 1982, o autor “relê” momen- de construção do leitor não tem apenas a
tos de sua prática pedagógica, guardados relevância teórica do discurso pedagógico,
na memória e vividos desde a infância, des- situa-se, também, no lugar social dos en-
tacando que é necessário “[...] uma com- volvidos, reconhecendo aspectos da vida

PARA ALÉM
preensão crítica do ato de ler, que não se que são fundamentais para a compreensão
esgota na decodificação pura da palavra da realidade apresentada nas argumenta-

DO TEXTO
escrita ou da linguagem escrita, mas que ções, nos exemplos e nas linguagens do
se antecipa e se alonga na inteligência do texto lido mediado.
mundo.” (FREIRE, 1989, p.9) A leitura, portanto, faz parte do processo
A leitura, em suas diferentes linguagens, de comunicação cotidiana que ocorre entre
verbais e não verbais, é fundamental para A importância do ato de ler, os sujeitos e que envolve interações sociais
a construção do conhecimento, desde que de Paulo Freire: e trocas, fomentadas em situações diversas,
seja valorizada a compreensão crítica do https://educacaointegral.org. expressas pela memória, cultura, tradições
leitor e o seu conhecimento de mundo, br/wp-content/uploads/2014/10/ e contextos sociais.
podendo ser visto em uma das afirmações importancia_ato_ler.pdf No desafio de mediar a leitura, não
mais conhecidas e citadas de Freire: podemos esquecer a importância das lin-
A leitura de mundo precede a leitura guagens, pois a mediação é um ato de co-
da palavra, daí que a posterior leitura desta municação entre os sujeitos e de partilha
não possa prescindir da continuidade da entre interlocutores.

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2.
AS DIMENSÕES DIALÓGICAS
Na dialogicidade da mediação da leitura para conectar pessoas
e textos, devemos levar em consideração também a participação
efetiva e a história de vida do leitor, por meio de outras dimen-
sões como aquelas que Vincent Jouve (2002) nos apresenta e nas
quais acrescentamos a leitura crítica. Vamos conhecer essas dimen-
DA MEDIAÇÃO DA LEITURA sões? São elas:
a) Afetiva: a leitura está envolta em sentimentos e memórias
A mediação da leitura caracteriza-se pelas relações dialógicas entre que levam as pessoas a se conectarem com o que é lido, re-
os sujeitos, o texto mediado e o ato mediador. É um diálogo consti- velando emoções as mais diversas possíveis, como paixões,
tuído de múltiplas vozes e narrativas, de natureza dinâmica, flexível e indignação, intimidade, identificação ou mesmo parcialida-
crítica. Em forma de diálogo, a mediação pode ocorrer em diferentes de. Jouve (2002) salienta que o “charme da leitura” advém
formatos para públicos diversos em ambiências como bibliotecas das emoções. Leitores amam, admiram ou mesmo odeiam
públicas, escolares e comunitárias, centros culturais, livrarias, mu- personagens das obras que leem, criando relações afetivas e
seus e teatros, apenas alguns dos espaços tradicionais de promoção pessoais (componente importante da leitura literária).
da leitura. Ou mesmo em locais improvisados ou públicos como va-
randas, calçadas, condomínios, garagens, praças e parques. b) Simbólica: a dimensão simbólica da leitura se apresenta no
imaginário do leitor, que leva a uma pluralidade de inter-
pretações do que é lido. Nesse sentido, cada indivíduo traz
traços de suas experiências pessoais, dos valores e da cultu-
ra, como salienta Jouve (2002). O leitor ressignifica o que lê,
permitindo a ele o direito de apreender o que lhe interessa de
modo interativo.

c) Argumentativa: a leitura é argumentativa e polifônica


(traz consigo muitas vozes). Na mediação de leitura, o media-
dor apresenta uma direção argumentativa, porém permite
ao leitor que ele interaja com o texto, dialogue com o autor,
o questione, concorde, discorde, acrescente ou faça inferên-
cias. Vale salientar que cabe ao mediador avaliar o nível de
compreensão argumentativa do grupo para quem a prática
é desenvolvida.

d) Cognitiva: ler significa descortinar, mudar de horizontes,


interagir com o real, interpretá-lo, compreendê-lo e decidir
sobre ele. Desde o início a leitura deve contar com o leitor,
com a sua contribuição ao texto, sua observação ao contexto,
sua percepção do entorno. O prazer de ler é também uma
descoberta. Assim, o conhecimento vai se construindo aos
poucos, acompanhando o indivíduo em suas diversas fases
de desenvolvimento cognitivo ao longo da vida. A leitura é
um ato cognitivo-afetivo.

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 7


e) Crítica: Ezequiel Theodoro da Silva
ressalta que um leitor crítico adentra
um texto desejando compreender
as circunstâncias, as razões e os de-
safios sociais permitidos ou não por
este texto (SILVA, 2002). A leitura, além
de crítica, deve ser prazerosa. O ato
de ler destrói certezas, pois a pessoa
que lê questiona, se inquieta, analisa,
pondera, processa, identifica-se.

DESTACAMOS QUE

A mediação da leitura
é um ato dialógico
A leitura é plural
A leitura é libertária
A leitura é emancipatória
A leitura não deve ser imposta
A leitura é provocação
Ler é um ato inacabado:
estamos sempre
acrescentando algo
O conhecimento está
sempre em construção
O leitor se constrói a cada momento
É necessário apropriar-se do que é lido

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Cada sujeito tem o direito de voz, de d) Compreende as diferentes fases pe-
expressar-se e de comunicar aquilo que las quais um leitor se constrói e se
para ele não nasce na prática mediada, e, torna íntimo da leitura, sem exigên-
sim, em sua inserção no mundo com auto- cias, deixando fluir, sem estabelecer
nomia que muitas vezes lhe é negada por juízos.
inúmeros motivos, como a falta de acesso
à escola, à biblioteca e ao livro. Porém, a O texto, em suas diferentes formas e di-
mensões, com linguagens verbais ou não

3.
exposição direta à leitura por meio da me-
diação apresenta estímulos humanizadores verbais, é mote para desvelar o ato vivido.
das práticas sociais e culturais, ampliando o Por isso, a leitura precisa ser atrativa, pois
campo de compreensão do que é lido e de ela deve ser reconhecida e (re)siginificada
suas linguagens. no sentido mais amplo que esses termos
A leitura, se bem entendida, é sedutora, possam ter. Com esse pensamento, pode-
FORMANDO OS pois se alia às experiências do viver para mos concluir que a leitura é uma prática
social exercitada no cotidiano, da solida-
além do tempo e do espaço. Isso explica,
FORMADORES: por exemplo, a atemporalidade e as paixões riedade, do compartilhamento ou mesmo
em momentos de solidão como um direito
AFINAL, O QUE É SER que despertam Dom Quixote de La Mancha,
de Miguel de Cervantes, cuja primeira edi- do(a) leitor(a).
UM “MEDIADOR DE ção é datada do ano de 1605 e continua
sendo uma das obras mais lidas da atuali-
LEITURA”? dade. Lembramos também de outra obra,
Vamos refletir um pouco sobre a segunda Romeu e Julieta, tragédia amorosa datada
questão apresentada no começo deste do século XVI, de Willian Shakespeare, que
módulo: O que podem fazer os media- já recebeu diversas adaptações para o ci-
dores de leitura para contribuir na nema. Ou mesmo os contos de fadas e as
formação de leitores críticos? Aqui ou- fábulas que tanto encantam o universo in-
saríamos dizer que não há modelos para fantil. Somente ressignificada, a leitura fará
formar leitores ou para formar mediadores sentido e conquistará leitores, pois ela não
de leitura, pois os modelos certamente se existe isolada ou fora de contexto, sempre
esgotariam. O que nós queremos propor revelará outros textos e contextos, encon-
em nosso curso, é a possibilidade da me- trando eco nas vozes plurais dos leitores.
diação sensível que se constrói no coti- Sobre o que caracteriza o mediador de
diano de professores, bibliotecários, pais,
agentes de leitura e outros indivíduos que
leitura, temos algumas pistas:
a) Inicialmente, deve tratar-se de um(a) PUXANDO
se dedicam a provocante missão de contri-
buir com o ato da leitura.
Quando nos referimos ao que chama-
leitor(a), alguém que gosta de ler. É
um(a) leitor(a) crítico(a), cujas expe-
riências são partilhadas no processo
PROSA
mos aqui de formação do leitor, preci- de interação com o outro;
samos deixar claro tratar-se de uma ação b) Além da experiência de leitura, é ne- Baseado(a) nessas “pistas”,
educativa, e não de gerar formas ou mol- cessário gostar de comunicar-se, de
características de um mediador de
des. Pensamos nas práticas dialógicas do falar do que lê, compartilhar seus re-
pertórios e afetividade; leitura, você se vê assim? O que falta
ato de ler, do leitor como elemento prin-
cipal dessa prática pedagógica, visto no c) Percebe na mediação a possibilida- para você? Que outras características
seu todo como ser que pensa, age, reflete, de de mudança a ser realizada no você acresceria?
analisa e decide. Estamos falando de uma cotidiano das pessoas, de modo que
ação de protagonismos, tanto do mediador compreendam o espaço que a leitura
quanto do leitor. ocupa em suas vidas;

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 9


A mediação da leitura, portanto, é um
ato de comunicação com o outro ou con-
sigo mesmo, daí a necessidade de se ler cri-
ticamente para o exercício da cidadania.
O(A) mediador(a) deve ser, antes de
4.
A MEDIAÇÃODA
tudo, um(a) leitor(a). Dessa forma, em uma
mediação de leitura, é possível envolver os LEITURA NA PRÁTICA
leitores pelo encantamento do ato de ler, Após as reflexões realizadas no decorrer do fascículo, cremos que seja
de modo digno, verdadeiro e afetivo. Assim importante apresentar um pouco sobre a mediação na prática.
como declara Petit (2008), ao afirmar que a Planejar e trilhar um caminho atraente para mediar a leitura e formar
transmissão do amor pela leitura se dá leitores é, sem dúvida, um desafio, tendo em vista que são muitas as
pela experimentação desse amor. É co- possibilidades de leitura nos tempos atuais, inclusive em épocas de
mum leitores narrarem suas histórias de lei- redes sociais e o poder de atração da internet. Entre os desafios, alguns
tura a partir da presença de um mediador, queremos destacar:
sejam avós, pais, outros familiares, profes- • As competências do(a) mediador(a)
sores, contadores de histórias, entre outros • As condições nas quais as práticas se desenvolvem
que, de algum modo se tornaram figuras • Os objetivos da mediação
marcantes nesse processo de se construir • As ambiências
enquanto leitores. • A periodicidade das práticas
• A acessibilidade da leitura
• A existência de acervos atrativos que gerem o interesse do público

PUXANDO
PROSA
E com você, quem foi o seu
primeiro mediador? Ou quem foi
o seu melhor mediador?

Você também pensa assim: O(A)


mediador(a) deve ser, antes de
tudo, um(a) leitor(a)?

10 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


b) Escolher textos adequados à situação e ao nível de
compreensão dos leitores;
c) Ler previamente os textos a serem trabalhados;
d) Organizar a ambiência onde se dará o encontro (biblioteca,
sala de aula, residência, sala de estar, varanda, quintal,
O que nos leva a ler? A leitura na forma como é vista atualmente
praça etc);
constitui-se em um ato libertador e emancipatório. Lemos por dife-
e) Expor livros e outros materiais de leitura de modo que
rentes motivos, entretanto, o que mais deve aguçar o interesse do lei-
possam gerar atração e curiosidade;
tor é o desejo de ler o que a ele interessa, de modo a gerar desejo
f) Estimular o grupo para gerar interação com as obras e a
no conhecimento obtido. “Ler é, pois, interrogar as palavras, duvidar
temática apresentada;
delas, ampliá-las. Deste contato, desta troca, nasce o prazer de co-
g) Conversar informalmente com os participantes sobre livros,
nhecer, de imaginar, de inventar a vida.” (YUNES, Eliana, 1995, p.188)
leitura e assuntos diversos;
O(A) mediador(a), ao preparar práticas leitoras, deve reconhecer
h) Elaborar atividades dinâmicas e criativas;
a priori os objetivos que deseja alcançar, assim como ao escolher
i) Utilizar o próprio livro para a leitura, de modo a gerar
possibilidades de leitura como livros, gêneros textuais, temáticas
familiaridade;
e material de apoio para ampliar o diálogo, tendo conhecimento
j) Relacionar a leitura a outras possibilidades: música, teatro,
prévio do público a que se destina e de suas competências leitoras.
dança etc.
Além disso, torna-se indispensável para a sua mediação:
l) Ler em voz alta e com boa entonação para que todos
a) Planejar a prática de leitura com antecedência, de compreendam o que está sendo lido;
modo bem detalhado: textos a serem lidos, ambiências, m) Dar autonomia aos leitores para partilharem suas histórias,
atividades etc.; leituras e narrativas, bem como exporem posicionamentos.

IMPORTANTE
A mediação da leitura não se encerra
na prática desenvolvida. Ela deve ir
ao encontro dos interesses do leitor
como passaporte para novas leituras,
interpretações e desdobramentos.
Tem que gerar inquietação, pois ao
compartilhar a leitura, cada indivíduo
irá experimentar um sentimento de
pertença, de apropriação, possibilitando
abrir-se para o outro, introduzindo-o
no mundo (PETIT, 2008), de modo
autônomo, exercendo o direito da crítica
e da liberdade.
A ação mediacional é um processo
de interação entre o leitor, o texto, o
mediador e o outro. Tal ação ocorre (ou
deve ocorrer) permeada pela circulação
de ideias entre os sujeitos, em meio à
troca de experiências e opiniões.

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 11


5.
RETOMANDO
ALGUNS PONTOS E
ACRESCENTANDO
OUTROS
Como destacamos, formar leitores em meio
a tantos suportes e possibilidades de leitura
atraentes que hoje se apresentam, pode pa-
recer um grande desafio, se observarmos de
forma pessimista. Por outro lado, se amplia-
mos o conceito de leitura e o significado do
ato de ler para incorporarmos a presença
da leitura no espaço virtual, explorando bi-
bliotecas digitais, museus virtuais e as mais
variadas possibilidades textuais, verbais e
não verbais, como imagens em movimen-
to e sons, por exemplo, percebemos que a
complexidade da leitura sempre encontra
novos espaços e leitores.
Ao entendermos a leitura como algo que
perpassa tempos e espaços e que vão além
de fronteiras geográficas ou cronológicas,
vislumbraremos maior aproximação com os
leitores das novas gerações, especialmente
as crianças e jovens, cuja intimidade com as
questões tecnológicas são muito perceptí-
veis. Assim, é importante ouvir esses leito-
res, o que eles pensam sobre a leitura e o
que dela esperam e desejam, fazendo com
que a mediação não ocorra de forma desco-
nectada da realidade.

12 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


À medida que as possibilidades se
expandem, percebemos transformações
nos perfis de leitores, percebendo outras
apropriações e concepções de leitura para
além do texto escrito, dos espaços tradi-
cionais de promoção e formação do leitor.
Nessa dinâmica, práticas no âmbito da cul-
tura se estabelecem, fazendo emergir novas
configurações para o ato de ler e para as re-
lações dos leitores com a leitura.
Por outro lado, enquanto se percebe
uma velocidade vertiginosa das possibili-
dades de leitura na atualidade, observa-se
também que a inclusão democrática dos
indivíduos nas práticas sociais de escrita e
leitura ainda não é uma realidade a se co-
memorar no Brasil.
Em linhas gerais, as dificuldades per-
cebidas estão relacionadas ainda ao aces-
so à informação e à leitura, dentro ou fora
dos espaços da educação. São evidentes
as fronteiras visíveis e invisíveis de acesso
à biblioteca e à leitura, especialmente em
zonas rurais ou comunidades com baixo
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
onde a maioria dos alfabetizados não com-
preende o que lê, como demonstra a pes-
quisa Retratos da Leitura no Brasil (2016),
citada anteriormente.

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 13


DESAFIO
Procure saber se no entorno da
É importante ressaltar o papel das Brasil, nos últimos anos, e suas ações em
sua casa, na sua rua, em seu bairro
políticas públicas para promoção do rede que têm contribuído com a formação
ou em sua cidade, se existe alguma
acesso ao livro e à leitura, especialmen- de mediadores de leitura para atuarem nas
biblioteca pública (oficial, escolar)
te para populações de baixa renda. Essas comunidades, bem como fomentando o
ou comunitária. Conheça os seus
políticas, a exemplo do Plano Nacional do acesso às bibliotecas.
responsáveis, seu funcionamento,
Livro e Leitura (PNLL), criado em 2006, têm Para concluir, afirmamos que a media-
seu acervo, seus usuários e se há
mobilizado pessoas e instituições na ção da leitura é ação de acolhimento em
atividades de mediação de leitura
promoção da leitura e democratização primeira instância. Do mediador que aco-
para o público. Investigue e se apro-
do acesso ao livro e às bibliotecas nos lhe, do texto que dialoga e das ideias que
prie dessas informações. Você pode
estados e municípios brasileiros. Nesse abraçam o leitor.
precisar delas em breve.
ponto, cabe destacar o forte movimento e Você, cursista e leitor(a), estar junto co-
inserção das bibliotecas comunitárias no nosco nessa luta, nos dá toda a esperança!

14 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


REFERÊNCIAS
CALVINO, Italo. Se um viajante numa noite de inverno.
São Paulo: Companhia das letras, 1999.
FAILLA, Zoara. Retratos de leitura no Brasil 4. Rio de
Janeiro: Sextante, 2016. Disponível em: http://prolivro.
org.br/home/images/2016/RetratosDaLeitura2016_
LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pdf
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três
artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989.
JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Unesp, 2002.
PETIT, Michele. Os jovens e a leitura: uma nova
perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura.
Campinas: Mercado de Letras, 2002.
YUNES, Eliana. Pelo avesso: a leitura e o leitor. Curitiba:
Editora da UFPR, 1995.

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 15


Lidia Eugenia Cavalcante (Autora)
É professora do curso de Biblioteconomia e do Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tem pós-doutorado em Ciência da
Informação pela Université de Montréal/Canada, é doutora em Educação pela UFC, mestre
em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduada em Bi-
blioteconomia pela UFC. Desenvolve projetos de pesquisa e de extensão sobre mediação
da leitura e da informação, especialmente em bibliotecas públicas e comunitárias.

Rafael Limaverde (ilustrador)


É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista.
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia
do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e
em editoras paulistas.

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