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Num curto espaço de tempo, conheci o inferno o e paraíso, pois vivi a pior e a melhor
experiência da minha vida numa mesma manhã. E este dia mudaria minha história para
sempre.
Os primeiros raios de sol haviam despontado no horizonte não fazia muito tempo. O
típico frescor da manhã ainda podia ser aproveitado por quem se apressou em começar seu
dia.
Demorei um pouco para me dar conta do que acontecia. Fui arrancada da cama aos
berros e safanões que vinham de todas as direções e se multiplicavam à medida que eu ia
sendo arrastada pelos cabelos ao longo das ruas de Jerusalém. Minha mente se dividia entre
suportar a dor física, já que eles não poupavam bater especialmente em meu rosto; a
necessidade de ocultar minha nudez e tentar entender por que o homem que dividiu o leito
comigo a noite inteira não dividia a também a desonra. Será que era pelo fato dele ser um
deles? Por ser um influente homem da comunidade? Um “zeloso” seguidor das tradições, mas
sempre se despia delas quando vinha me procurar? Buscava freneticamente o entendimento a
respeito destas questões, quando de repente eles pararam e me puseram no centro daquele
palco de horrores.
O pátio do Templo contava com um número incomum de pessoas para aquele horário.
Homens, mulheres e crianças se espremiam ao redor de um grupo de 13 homens, mas apenas
um deles discorria sobre a Torá. Ele tinha cativa a atenção de toda aquela multidão até que ela
fora redirecionada para o espetáculo que tomava forma. Sob a direção de escribas e fariseus,
minha desgraça era o enredo da trama. Expor minha fraqueza seria a falsa indignação do dia.
Um senhor de finas vestes, barba longa e olhar severo, colocou-se ao meu lado,
estufou o peito e falou em alto e bom tom, para que toda a plateia ouvisse. Ele parecia
orgulhoso pelo que estava prestes a realizar.
˗ Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena
apedrejar tais mulheres.
Ele quase cuspiu em mim depois de declarar isso, mas acredito que ele acreditava com
veemência que eu não era digna nem da saliva dele. O desprezo explícito amargou minha boca,
pois sabia que aquele sentimento era compartilhado por todos os ouvintes. Pessoas
desconhecidas discutiam sobre o meu destino sem dó nem piedade, declarando publicamente
o quão insignificante eu era. Se aquele era o meu julgamento, eu não teria chance alguma.
Contudo, parecia que eles contavam com a opinião de alguém em especial.
Num arroubo de curiosidade mesclado com uma pequena pitada de esperança,
levantei a cabeça discretamente. Tive dificuldade de abrir um dos olhos, mas mesmo assim
ansiava por saber quem seria o mestre a quem ele se referia. Por que era tão importante a
opinião daquele homem? Já não bastava os tantos que os anciãos trouxeram consigo? Ao que
parecia, não. Comecei a buscar entre os mais velhos e me surpreendi quando o percebi tão
jovem e fora dos padrões do círculo que frequentava o Sinédrio. Sua túnica era simples e um
pouco gasta, assim como as sandálias em seus pés. A pele escurecida e ressequida pelo sol
deixava claro que o homem passava boa parte do dia a céu aberto. As mãos eram grosseiras e
os dedos firmes e longos. Ele passaria totalmente despercebido por onde quer que andasse, a
não ser por um detalhe: o seu olhar. Não que a cor fosse extraordinária, era até bem comum
entre os moradores da região. No entanto,havia algo que eu não sabia explicar.
Quando nossos olhos se encontraram, não consegui encará-lo por mais que poucos
segundos. Minhas faces queimaram e um tom escarlate substituiu a palidez mortal e disfarçou
os hematomas. Tudo que aquelas pessoas conseguiam ver era uma mulher imunda que
merecia pagar caro pelo seu pecado. Não conseguiam olhar para mim como alguém que
necessitava desesperadamente de misericórdia, amor e perdão. Lágrimas escorreram por lá,
mas ninguém se apercebeu disso. A não ser ele.
Segundos se passaram, e elas continuaram a descer copiosas e lamentei por isso. Não
queria chorar na frente dos meus carrascos. Não entenderiam a natureza do meu lamento.
Posso garantir que não era medo da morte. E sim, o fruto de uma profunda tristeza por não ter
mais a oportunidade de refazer o meu caminho. Começaria pedindo perdão aos que ofendi.
Primeiramente, ao Deus de meus pais; já que insultei severamente aquele que me deu o sopro
de vida e que é Santo, Santo, Santo. Na minha loucura, não me importei em profanar o seu
nome. Havia também quebrado a aliança com o homem da minha mocidade. Aquele mesmo
que nunca me amou de verdade, mas que prometi ser fiel todos os dias. Mais uma promessa
que não cumpri. Embriaguei-me com as delícias de outros amores e me deixei levar pelo meu
enganoso coração. Ah, como alimentei os mais perigosos pensamentos e os pus em prática!
Sim, envergonhei a casa do meu pai e pagaria caro por isso.
˗ E o senhor, o que diz? – ouvi o mestre da Lei insistir pela resposta daquele que
chamaram de Jesus.
Aqueles cães vestidos de linho fino colorido nos cercavam e nos encaravam quase que
espumando pelas suas bocas. Àquelas alturas, eu não sabia ao certo se estavam mais
interessados na minha carne ou na dele. Alguns hipócritas incitavam quem estava perto a
entrar no coral e gritar: Adúltera! Adúltera! No entanto, mesmo sendo questionado a respeito
de qual seria a pena adequada para meu pecado, som algum lhe escapou dos lábios.
A tensão que pairava sobre o ambiente aumentava ao passo em que ele continuava a
rabiscar algo no chão, em silêncio. A paciência dos meus acusadores estava por um fio e eu
podia sentir isso na pele. Dedos ferozes foram cravados em meus braços como parte do ritual
de punição. Como insistiam numa resposta dele, finalmente Jesus retorquiu:
˗ Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra nela.
Jesus não se demorou encarando os denunciantes. Ele se inclinou novamente e
continuou a escrever no chão.
Minhas pernas fraquejaram. A pressão em meus braços aumentou, mas desta feita
para me jogar ao chão. Caí sobre o terreno arenoso sem aviso prévio nem proteção. Ninguém
mais me segurava. Só o latejar insistente me relembrava que algemas de carne estiveram ali.
Meu destino havia sido selado e me vi prestes a receber a sentença final. Então, fechei os olhos
e esperei. A tensão se espalhava por meus músculos que se retesaram involuntariamente,
como que cientes do que estava por vir. Fiquei esperando os brados de ódios seguidos pelas
pancadas mortais, entretanto nem uma coisa nem outra aconteceu. Um silêncio absoluto se
fez.
Não ousei olhar em volta até que a voz dele me despertou da agonia.
˗ Mulher, onde estão eles?
Essa foi a mais uma de uma sequência de perguntas que eu não soube responder.
Automaticamente apertei o pedaço de pano ao meu redor e levantei a cabeça devagar. Olhei
para o pátio sem acreditar no que tinha acontecido. Só restavam as pedras no chão!
Contabilizei cada uma delas. E eram tantas. Grandes e pequenas. Um sentimento novo me
preencheu e finalmente tive coragem de encará-lo.
Ah, Deus do céu, como aquele olhar sereno me arrebatou! Estávamos apenas nós dois
ali, mas a presença dele preenchia todo o espaço, inclusive dentro de mim. A carga que teimei
em levar até aquele dia se tornou insuportável. Percebi quão pesado era o meu fardo e como
eu desejava me livrar daquilo de uma vez por todas. Cada parte de mim se desfez em pedaços
bem pequenos. Fui tomada por uma sensação de leveza inigualável e todo meu ser ansiava por
se prostrar diante daquele que me livrou da morte certa. Mas daí me dei conta de quem eu era
e continuei no mesmo lugar. Mais uma vez senti como se ele conseguisse me enxergar por
dentro e me assustei. Minha sujeira me envergonhou tanto que virei o rosto. Queria correr dali
e ao mesmo tempo me lançar naqueles braços gentis.
˗ Ninguém a condenou?
˗ Ninguém, Senhor! – sussurrei maravilhada.
Ele me ajudou a levantar e afirmou:
˗ Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado.
Aquela declaração caiu sobre mim como um bálsamo, curando cada uma das minhas
muitas feridas. Nossos olhos se cruzaram, mais uma vez.
Nenhuma pessoa nunca havia me olhado daquela forma, sobretudo depois de
contemplar a nudez da minha alma e a imundície impregnada nela. Tampouco, nunca haviam
me tratado como seu eu fosse alguém importante; ou demonstrado tamanho amor por mim
como aquele desconhecido o fez.
Ele sorriu e rugas se acentuaram em seu rosto. Tentei sorrir de volta, mas estava
chocada demais para corresponder. Só conseguia me concentrar nas interrogações que se
enfileiravam: que homem é esse que faz arder o meu coração? Que me faz desejar ser limpa de
novo? Que homem é esse que consegue demonstrar amor por mim mesmo quando todos me
odeiam? Quem é esse que quer me dar vida quando todos tramam a minha morte? Que
homem é esse que me enxerga para além dos meus pecados? Jesus! Foi assim que o
chamaram, não foi? O Rabi galileu. Comecei a me afastar, mas percebi que continuava no
mesmo lugar, rabiscando o chão. Olhando-o assim, inclinado sobre a terra displicentemente,
ele era como um outro qualquer. Porém, bastava um olhar ou uma simples palavra para se
perceber que ele não era como os outros. Amor e autoridade transbordavam dele. Um tipo de
amor que eu nunca tinha visto, nem experimentado.
Meus passos foram se tornando apressados. Uma urgência tomou conta de mim. Eu
praticamente corria. Deus havia me devolvido a alegria da salvação e apagado as minhas
iniquidades. Eu estava limpa e poderia entrar na presença do meu Senhor, outra vez. Algumas
pessoas me encaravam sem entender o sorriso estampado no meu rosto. Agora me tinham por
louca, também. Tolos. Mal sabiam eles que finalmente eu alcançara a lucidez.
Na verdade, não havia entendido muito bem o que tinha acontecido naquela manhã,
nem se aquele homem de voz mansa e olhar tão doce era profeta ou o Messias esperado pelo
meu povo. Contudo, de uma coisa eu tinha certeza: nunca mais eu seria a mesma depois de me
encontrar com o meu salvador.

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