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Para ele, na transição entre os séculos XIX e XX, o cinema sai da sua
proposta de fascinar o espectador com a “sua engenharia produtora de
ilusões” para, ao incorporar a narrativa nos filmes, transformar-se em
instituição “armado de toda uma aparelhagem que passou a operar nos
mínimos detalhes técnicos, visando a uma nova reformulação do
espectador e a procurar o controle total de sua atenção”.
Isso é algo que se observa, particularmente, nos filmes atuais, em que toda
a pirotecnia proporcionada pela alta tecnologia, aliada ao potencial
narrativo das formas de linguagem desenvolvidas ao longo do último
século, procuram promover no espectador uma experiência de imersão ao
assistir a um filme. O cidadão que senta em uma cadeira de cinema é
chamado a esquecer tudo o que há lá fora e concentrar-se absolutamente
no que lhe vai ser apresentado na tela.
Para surpresa de todos, o filho mais novo de Don Vito, justamente quem
rejeitava as atividades do pai e dizia querer ficar longe de tudo aquilo,
apresenta-se como o mais capaz para suceder o pai e revela uma vocação
invejável para ser um Chefão.
É certo que criminosos são seres humanos como quaisquer outros. O que os
diferencia das demais pessoas é o seu senso moral sobre os limites de seus
direitos e obrigações, assim como o do resto da humanidade. Todo ser
humano é capaz de matar, mas fazê-lo é um ato de decisão. E tal ato está
regulado por leis jurídicas e morais. Assim, quando se relativiza isso em
uma narrativa em que os crimes cometidos são menos importantes do que
os dilemas dos personagens, relativa-se a prática criminosa, ao menos em
termos ideais. O espectador é levado a odiar o gangster Solozzo, mas a ser
compassivo com Michael Corleone quando este o assassina a sangue frio
bem no meio do salão de um restaurante.
O Poderoso Chefão não se vale de aparatos tecnológicos e efeitos especiais
para causar sensações físicas no espectador, mas é eficiente em criar um
envolvimento emocional, utilizando-se, principalmente, do recurso
narrativo.