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O Poderoso Chefão e o mito da caverna

Estevão de Paula Lopes

Resumo: A proposta deste artigo é analisar a obra cinematográfica O


Poderoso Chefão, à luz das discussões propostas por Platão em sua Alegoria
da caverna, seguindo a linha de raciocínio do texto A tração do olhar:
cinema, percepção e espetáculo, de Tadeu Capistrano. Neste último, o autor
descreve, de maneira elucidativa, o desenvolvimento da atividade
cinematográfica como transformadora da visão de mundo do espectador,
influenciando comportamentos, na medida em que vai assimilando
técnicas e abordagens que buscam criar um envolvimento cada vez maior
da plateia com o conteúdo apresentado nas telas. Finalmente, busca-se,
neste trabalho, cotejar essas reflexões com a crítica da ideologia proposta
por Karl Marx e Friedrich Engels.

Palavras-chave: Ilusão, ideologia, imersão

A alegoria da caverna, discutida por Platão em seu livro A República é, talvez,


a síntese teórica mais antiga que se conhece sobre a problematização da
projeção de imagens e seus efeitos sobre o espectador. Na metáfora
apresentada pelo filósofo ateniense, todo o comportamento dos habitantes
da caverna era condicionado pelas visões que tinham das imagens
projetadas em uma parede e que correspondiam a objetos e pessoas que eles
não podiam ver diretamente, mas que acreditavam ser verdadeiras
naquelas sombras possíveis graças a uma fogueira, a qual também não
podiam ver diretamente.

Essa alegoria é um exercício de imaginação, que Sócrates, personagem


principal dos diálogos de Platão, propõe a seus interlocutores. É sabido que
tanto Sócrates quanto Platão viam a atividade filosófica como sendo o
caminho que conduzia à verdade, como o meio de libertação do
aprisionamento causado pela falsa percepção da realidade proporcionada
pelos sentidos. Para eles, as sensações físicas eram enganosas e somente
pela contemplação ativa da filosofia era possível se chegar à verdade, que,
em seu entendimento, situava-se no mundo das ideias.

Esse esquema de pensamento foi denunciado por Marx e Engels como


sendo alienante. Por um lado, eles, como Platão, rejeitavam a representação
da realidade como sendo a realidade em si. Defendiam que tal
representação era apenas o resultado da práxis (interação do ser humano
com a natureza que produz não apenas os bens de consumo como as
relações sociais). Porém, diferente do ateniense, rejeitavam a noção de
mundo das ideias como algo que tivesse autonomia. Em seu livro A ideologia
alemã, eles descrevem o processo pelo qual as representações assumem o
lugar da realidade produzindo o fenômeno da alienação (que seria a
negação do que verdadeiramente produz as coisas e as relações sociais,
afirmando uma ideia como sendo a verdade).

O texto de Tadeu Capistrano ilustra com propriedade a maneira como o


cinema foi evoluindo e incorporando técnicas e conhecimentos na
produção de filmes, mudando o enfoque e o escopo da atividade
cinematográfica.

Para ele, na transição entre os séculos XIX e XX, o cinema sai da sua
proposta de fascinar o espectador com a “sua engenharia produtora de
ilusões” para, ao incorporar a narrativa nos filmes, transformar-se em
instituição “armado de toda uma aparelhagem que passou a operar nos
mínimos detalhes técnicos, visando a uma nova reformulação do
espectador e a procurar o controle total de sua atenção”.

Isso é algo que se observa, particularmente, nos filmes atuais, em que toda
a pirotecnia proporcionada pela alta tecnologia, aliada ao potencial
narrativo das formas de linguagem desenvolvidas ao longo do último
século, procuram promover no espectador uma experiência de imersão ao
assistir a um filme. O cidadão que senta em uma cadeira de cinema é
chamado a esquecer tudo o que há lá fora e concentrar-se absolutamente
no que lhe vai ser apresentado na tela.

Salas equipadas com som de altíssima fidelidade, telas com projeções de


alta definição, além de outros aparatos como cadeiras que se mexem no
ritmo das cenas e até odores expelidos em certos momentos, fazem com que
a pessoa se sinta totalmente envolvida.

Analisar o que isso causa efetivamente à pessoas não é o objetivo deste


artigo, mas é possível inferir como a experiência cinematográfica atual se
aproxima da experiência dos homens da caverna de Platão.

Do mesmo modo, analisar o assunto como a perspectiva de aparato


ideológico de dominação que propõe Marx e Engels não é o que se pretende
aqui.

A análise aqui proposta é de como o filme o Poderoso Chefão se encaixa


nessa análise de ilusões que condicionam os comportamentos.

A película, baseada em livro homônimo do escritor Mario Puzo, narra a


transição no comando da família Corleone, que passa do patriarca Vito para
o seu filho caçula Michael, em meio à turbulência típica do mundo do crime
organizado.

A trama mostra a disputa ambiciosa entre as diversas famílias pelo


controle das atividades criminosas, indicando como o comércio de drogas
passa a ter cada vez maior peso entre os mafiosos. Ao ser convidado a entrar
nesse novo e rentável mercado, Don Vito Corleone rejeita a proposta,
porque, em sua ética de atuação não há lugar para drogas. Diz preferir
continuar com atividades clássicas como jogos ilegais, prostituição e
contrabando.

Esse movimento foi o desencadeador de eventos que mudaram


drasticamente os rumos da família: insatisfeitos com o posicionamento de
Corleone, as outras famílias atacam-no, tentando matá-lo, estabelecendo-
se, então, uma guerra.

Após o ataque, o patriarca fica debilitado e tem que transferir o comando


dos seus negócios aos filhos. Mas, ainda viria a ter outro baque quando o
seu primogênito é abatido por seus inimigos, colocando toda a sua família
em uma posição de maior fragilidade.

Para surpresa de todos, o filho mais novo de Don Vito, justamente quem
rejeitava as atividades do pai e dizia querer ficar longe de tudo aquilo,
apresenta-se como o mais capaz para suceder o pai e revela uma vocação
invejável para ser um Chefão.

A peculiaridade do filme é apresentar esses personagens com todas as suas


características humanas: suas angústias e fragilidades, seus medos, sua
benevolência, sua ética e lealdade àqueles a quem se afeiçoam.

A família é católica e revela uma intensa espiritualidade. O filme original


começa com uma festa de casamento da irmã de Michael. Lá estão reunidas
figuras públicas, como políticos, juízes, artistas, além de padres e bispo.
Curiosamente, o segundo filme começa, também, com uma cerimônia
religiosa: o batizado do filho primogênito de Michael.

Pois bem, esses elementos humanizantes aplicados aos personagens do


filme funcionam para que o espectador crie uma empatia com eles. Embora
eles sejam criminosos violentos, a trama os apresenta como indivíduos
como quaisquer outros, sujeitos às mesmas vicissitudes que acometem a
qualquer pessoa.

Os rivais da família Corleone, esses sim, são mostrados como malévolos e


merecedores de castigo de morte. Mas, os protagonistas do filme são
apresentados como pessoas dignas de compaixão e solidariedade em seus
dramas.

Essa visão parece se aproximar um pouco com a maneira como os deuses


do Olimpo são apresentados. Embora eles estejam sujeitos a todos os tipos
de emoções humanas, que vão da raiva e do medo à bondade e compaixão,
eles são deuses e, portanto, dignos de veneração. Mesmo quando eles são
capazes de fazer coisas repugnantes.

É certo que criminosos são seres humanos como quaisquer outros. O que os
diferencia das demais pessoas é o seu senso moral sobre os limites de seus
direitos e obrigações, assim como o do resto da humanidade. Todo ser
humano é capaz de matar, mas fazê-lo é um ato de decisão. E tal ato está
regulado por leis jurídicas e morais. Assim, quando se relativiza isso em
uma narrativa em que os crimes cometidos são menos importantes do que
os dilemas dos personagens, relativa-se a prática criminosa, ao menos em
termos ideais. O espectador é levado a odiar o gangster Solozzo, mas a ser
compassivo com Michael Corleone quando este o assassina a sangue frio
bem no meio do salão de um restaurante.
O Poderoso Chefão não se vale de aparatos tecnológicos e efeitos especiais
para causar sensações físicas no espectador, mas é eficiente em criar um
envolvimento emocional, utilizando-se, principalmente, do recurso
narrativo.

Trata-se, então, de uma obra que transporta o público a uma experiência de


imersão no mundo mafioso da família Corleone, estabelecendo empatia
com cada um de seus integrantes. Eles aparecem, então, não mais como
criminosos que são, mas como imagens projetadas pela fogueira do cinema
de seres humanos cheios de conflitos e fragilidades e dignos da compaixão
do espectador.

É difícil dizer em que medida esse viés de interpretação dos personagens


condiciona o comportamento social como um todo, mas não é difícil ver,
mesmo nos dias atuais, pessoas que são moralmente condenáveis e, por que
não dizer, até criminalmente imputáveis, ocuparem postos de destaque na
sociedade, seja nas empresas ou no comando do Estado, em suas três
esferas de poder. Corrupção, impunidade e relativismo moral imperam
nesses meios.

O que Marx e Engels tentam evidenciar é como é possível manipular esse


mecanismo de ideologização da realidade e apresenta-lo como algo
aceitável e digno. Embora o marxismo tenha falhado justamente porque se
tornou, também, ele próprio, uma ideologia, alguns de seus recursos
metodológicos de análise são interessantes.

O Poderoso Chefão é um sucesso cinematográfico. Pertence a ele algumas


das sequências mais antológicas da história do cinema. Mas, é um belo
exemplo de como as imagens projetadas pela luz da fogueira no fundo da
caverna continuam a condicionar comportamentos e criar espectadores
iludidos com o que pensam ser a verdade sobre tudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPISTRANO, Tadeu. A tração do olhar: cinema, percepção e espetáculo.


2005. Disponível em:
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/3310624966870375704429
7483174085694719.pdf.

MARX, Karl e ENGELS, Fridriech. A ideologia alemã. Disponível em:


http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/ideologiaalema.pdf.

PLATÃO. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA,


2000. Disponível em:
http://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/100/1/Livro_Republic
aJusticaGenero.pdf.

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