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Anna Barbara de Freitas Carneiro, Breno Ferreira Pena & Ione Maria Cardoso

Entrevistas preliminares:
marcos orientadores do tratamento psicanalítico
Anna Barbara de Freitas Carneiro
Breno Ferreira Pena
Ione Maria Cardoso

Resumo
O presente estudo discorre sobre os pontos principais das entrevistas preliminares, chamadas
por Freud, em seu conjunto, de “tratamento de ensaio”. Procura marcar os pontos fundamentais
quanto às entrevistas preliminares nas suas funções de detectar os sintomas, fazer o diagnóstico
e trabalhar a transferência.

Palavras-chave
Entrevistas preliminares, Sintoma, Diagnóstico, Transferência, Resistência.

Freud ([1913] 1996) relatou ter o hábito o absolutamente necessário para que ele
de fazer um “tratamento de ensaio”, no continue no que está dizendo. Há razões
início do atendimento do paciente, antes diagnósticas para que isso seja feito, pois
da análise propriamente dita, para evitar esse é o momento em que a questão da
a sua interrupção após certo tempo, ligada estrutura está em jogo. Esse tempo de
à transferência. O primeiro objetivo seria diagnóstico faz com que seja possível
ligar o paciente ao tratamento e à pessoa distinguir as entrevistas preliminares da
do analista, e estabelecer o diagnóstico, análise propriamente dita.
em particular, a diferença entre neurose A associação livre mantém a identifi-
e psicose. cação das entrevistas preliminares com a
Lacan ([1955-1956] 1998) chamou de análise em um contínuo, e geralmente, se
“entrevistas preliminares” esse limiar, essa não houver contraindicação, o paciente
porta de entrada para a análise propria- passa para o divã.
mente dita, um tempo de trabalho prévio As entrevistas preliminares podem
antes de adentrar o discurso analítico. Esse ser divididas em dois tempos: o tempo de
preâmbulo é considerado por Lacan uma compreender e o momento de concluir,
condição absoluta, não havendo entrada a partir do qual o analista decidirá se
em análise sem as entrevistas preliminares irá acatar ou não aquela demanda de
(Quinet, 1991). análise.
Segundo Freud ([1913] 1996) esse
ensaio preliminar é, ele próprio, o início A função sintomal
de uma análise e deve se conformar às Na função sintomal deve-se promover
suas regras, especialmente a associação uma passagem da queixa denunciada pelo
livre, e não se explica nada mais do que sujeito para um sintoma analítico.

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Entrevistas preliminares: marcos orientadores do tratamento psicanalítico

Quinet (1991, p. 20-21) afirma: Já para Lacan, é preciso que esse sin-
toma, que é um significado para o sujeito,
É preciso que essa queixa se transforme readquira sua dimensão de significante
numa demanda endereçada àquele ana- implicando o sujeito e o desejo. O sintoma
lista e que o sintoma passe do estatuto aparece como um significado do Outro – s
de resposta ao estatuto de questão para (A) –, é endereçado pela cadeia de signi-
o sujeito, para que este seja instigado a ficantes ao analista, que está no lugar do
decifrá-lo. Outro – (A).
Cabe ao analista transformar esse sin-
Portanto, cabe ao analista introduzir toma na questão que Lacan ([1960] 1998,
o desejo nessa dimensão sintomal. Essa p. 829) coloca da seguinte forma: “Que
função sintomal (“sinto-mal”) surge a queres”? (Che vuoi?), questão chamada
partir da demanda de análise, ou seja, o desejo. O analista deverá introduzir o
que levou o sujeito a procurar um analista. desejo na dimensão do sintoma, que deve
Lacan acredita que a demanda de aná- ser apresentado como uma questão.
lise não deve ser aceita em estado bruto, O sintoma também pode ser levado
mas deve ser questionada. Ele não acredita ao estatuto do enigma, para em seguida
em quem procura um analista para se desaparecer e se deslocar para outro tipo
conhecer melhor, considera que essa não de sintoma. A constituição do sintoma
é uma demanda de análise e costumava analítico é correlata ao estabelecimento
nem aceitar (Lacan apud Quinet, 1991). da transferência. Aí aparece o sujeito
Para Lacan (1976, apud Quinet 1991, suposto saber, pivô da transferência. A
p. 33.) a única demanda verdadeira é histerização ocorre no momento em que
aquela que se particularizará num sujeito o sintoma é transformado em enigma,
que se apresenta ao analista representado pois aí o sintoma representa o sujeito
por seu sintoma. A demanda de análise é dividido ( ).
correlata à elaboração do sintoma enquan- Antes que se inicie a análise, o sinto-
to sintoma analítico. A analisabilidade, ma é considerado um signo (sinal): aquilo
que é função do sintoma, e não do sujeito, que representa alguma coisa para alguém.
deve ser buscada para que a análise se Quando esse sintoma se transforma em
inicie, com o objetivo de conseguir trans- questão, ele aparece como a própria
formar em sintoma analítico o sintoma do expressão da divisão do sujeito. Nesse
qual o sujeito se queixa. momento, o sintoma, ao ser endereçado
É preciso que a queixa apresentada se ao analista, é transformado em sintoma
transforme numa demanda endereçada ao analítico. Foi o que Lacan, (1976 apud
analista e que o sintoma passe da busca QUINET, 1991, p. 18) buscou esclarecer
de uma resposta junto ao analista para o com a formulação: “o analista completa o
modo de interrogação, em que o sujeito sintoma” – que corresponde ao discurso
vai buscar decodificar a mensagem cifrada da histérica.
do inconsciente. Com esse sintoma o sujeito se dirige
Durante as entrevistas preliminares, o ao analista com questões como: “O que
analista deverá procurar saber a que esse isso quer dizer?”; “O que isso significa?”.
sintoma está respondendo, que gozo esse Coloca o analista no lugar de um saber
sintoma vem demarcar, bordejar. Na visão sobre o gozo que está em causa, que vem
de Freud seria o mesmo que perguntar: mostrar a verdade escamoteada do sinto-
O que fez fracassar o recalque e brotar o ma. Manobra fadada ao fracasso, devido
retorno do recalcado para que fosse cons- à impotência do saber em dar conta da
tituído o sintoma? (Quinet, 1991). verdade do gozo.
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O enigma ( ) é dirigido ao analista negaria e o manteria no fetiche. Essas ne-


(S1), que é o suposto saber: o analista é in- gações que conservam o elemento negado
cluído nesse sintoma e o completa. Então, implicam a admissão do Édipo no simbó-
o que deverá ocorrer nas entrevistas preli- lico, o que não acontece na foraclusão.
minares é a histerização do discurso, já que A foraclusão é um modo de negação,
o histérico é o nome do sujeito dividido, que não deixa traço: os vestígios são apa-
que coloca o próprio inconsciente em gados, e não há entrada no Édipo. Lacan
exercício (Quinet, 1991). introduziu o termo “foraclusão” para
explicar as diferenças enormes e maciças
A função diagnóstica entre psicose e neurose. A neurose, como
A questão do diagnóstico diferencial se co- mencionado acima, opera por meio do
loca na análise em função da sua direção, recalque, enquanto a psicose opera pela
pois o diagnóstico e o processo analítico foraclusão (Verwerfung). A palavra “fo-
se encontram em uma relação lógica, raclusão”, do francês forclusion, refere-se
chamada de ‘implicação’. E o diagnóstico originalmente, no âmbito jurídico, a um
somente tem sentido se servir de bússola processo prescrito, que não existe mais le-
para a condução da análise. galmente e do qual não se pode mais falar.
O diagnóstico é buscado no ‘registro Embora Lacan derive o termo “fora-
simbólico’, onde são articuladas as ques- clusão” do trabalho dos linguistas fran-
tões fundamentais do sujeito, sobre o ceses Damourette e Pichon (1930), ele o
sexo, a morte, a diferença entre os sexos, a utiliza de maneira bem diversa, pois para
procriação, a paternidade. Na travessia do ele o que é foracluído não é a possibilida-
complexo de Édipo, a inscrição do Nome- de de ocorrer o evento, mas é o próprio
do-Pai no Outro da linguagem permite ao significante (ou significantes) que traz a
sujeito se inscrever na partilha dos sexos, impossibilidade.
por efeito da significação fálica. Não é que alguém diga que alguma
A partir do simbólico pode-se fazer o coisa é impossível, um processo que seria
diagnóstico diferencial estrutural por meio mais próximo da denegação, mas o fato
dos três modos de negação do Édipo, ne- de que quem fala não tem os meios lin-
gação da castração do Outro, que corres- guísticos de fazer a declaração. O termo
ponde às três estruturas clínicas: neurose, “foraclusão” como forma de negação
perversão e psicose. indica por si mesmo esse local de retorno,
Pode haver negação, mas conservando a “inclusão” fora do simbólico (Quinet,
o elemento, que se manifesta de dois mo- 1991).
dos: o recalque (Verdrängung) no neurótico Cada modo de negação enseja um
e o desmentido (Verleugnung) no perverso. retorno diverso do que é negado. No recal-
Essa categoria, a do desmentido, é mais que do neurótico, o que é negado no sim-
discutível e mais problemática como um bólico retorna no próprio simbólico, sob
mecanismo específico da perversão. A a forma de sintoma, o sintoma neurótico.
noção psicanalítica de perversão se refere No desmentido, o que é negado é ao
à sexualidade, não se considerando a mesmo tempo afirmado e retorna sob a
enorme extensão das formas plurais das forma do fetiche, o fetiche do perverso.
pulsões, como as de sentido moral, social, Segundo Mello (2007), o termo “fetiche”,
de alimentação, entre outras (Laplanche; em sua origem, se refere ao objeto a que se
Pontalis, 1983). atribui poder sobrenatural ou mágico e se
No recalque, o neurótico o nega, mas presta culto ou, então, objeto inanimado
o conserva de forma inconsciente. Por ou parte do corpo considerada possuidora
outro lado, no desmentido o perverso o de qualidades mágicas ou eróticas.
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Apropriado pela psicanálise, refere-se os vários tipos clínicos detectados: por


a algo que é colocado em lugar do objeto exemplo, a psicose, que é uma estrutura
sexual e pode ser uma parte do corpo ina- bem diferente da neurose e pode estar
propriada para as finalidades sexuais, ou presente mesmo antes de a psicose se ma-
algum objeto inanimado que tenha relação nifestar clinicamente. Isso corresponderia
atribuível com a pessoa que ele substitui, em psiquiatria à “psicose não desencadea-
como uma peça de roupa, um adereço ou da”, e é mais complexo o seu diagnóstico
até um brilho no nariz, tomando o exem- diferencial com a neurose ou mesmo com
plo de Freud no texto Fetichismo ([1927] a perversão (Grigg, 2008).
1996).
Nesse texto, vai-se direto ao estabele- Manifestação do diagnóstico
cimento de que o fetiche é um substituto estrutural na clínica
para o pênis, não para um qualquer: o Na neurose, o complexo de Édipo naufra-
fetiche é um substituto do pênis da mulher ga, levando à “amnésia histérica”: apesar
(da mãe), em que o menininho outrora de não se recordar do que aconteceu na in-
acreditou e cuja crença não deseja aban- fância, a estrutura edipiana se faz presente
donar. O que sucedeu, portanto, foi que o no sintoma. O recalque da representação
menino se recusou a tomar conhecimento de desejos infantis retorna no simbólico
do fato de ter percebido que a mulher não sob a forma de sintoma, evidenciando a
tem pênis. estrutura edípica e fornecendo acesso à
As perversões são altamente diferen- organização simbólica que representa o
ciadas, e Freud as contrapôs às neuroses sujeito (Quinet, 1991).
pela ausência de um mecanismo de recal- Segundo Lacan ([1955-1956] 1985)
camento, mas enfatizou em seus trabalhos o mecanismo do recalque e o retorno do
sobre o fetichismo a intervenção de outros recalcado são de natureza linguística.
modos de defesa complexos: a recusa da Como o inconsciente é estruturado como
realidade, clivagem (Spaltung) do eu, uma linguagem, para algo ser recalcado,
etc. (Freud, [1938] 1996; Laplanche; primeiramente é necessário que seja re-
Pontalis, 1983). gistrado no simbólico. Assim, o recalque
Na psicose, o que é negado no sim- pressupõe um reconhecimento prévio do
bólico retorna no real sob a forma de recalcado no sistema ou registro simbólico.
automatismo mental, cuja expressão mais Na psicose, por outro lado, os signifi-
evidente é a alucinação. cantes necessários estão ausentes, o que
As divisões entre neurose, perversão torna impossível o reconhecimento neces-
e psicose, bem como os termos equivalen- sário para o recalque. No entanto, o que é
tes de Freud (Verdrängung, Verleugnung e foracluído não desaparece e pode retornar,
Verwerfung), formam a base do diagnós- de forma diferente, do exterior do sujeito.
tico diferencial no trabalho de Lacan, O significante retorna no real, apontando
que aspira ser realmente psicanalítico, e a relação de exterioridade do sujeito com
não derivado das categorias psiquiátricas. o mesmo, e as alucinações auditivas são o
Subjacente à noção de foraclusão está uma seu paradigma.
distinção clara das três categorias diversas Encontram-se ainda frequentemente
de estruturas subjetivas (Quinet, 1991). intuições delirantes, nas quais o sujeito
Dois aspectos da nosologia psicanalíti- atribui uma significação extraordinária
ca se destacam. Primeiro, há uma unidade a um evento, com alguma explicação ou
estrutural subjacente a sintomas bem sem nenhuma, dependendo da organiza-
diversos, que são expressões de um tipo ção de seu delírio. Pode haver alterações
clínico. Segundo, há um contínuo entre de pensamento, como ecos: o sujeito
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ouve seus pensamentos repetidos e pode No caso do psicótico, o analista não


atribuir a alguém essa ressonância. Pode pode prometer inseri-lo na norma fálica,
haver também pensamentos impostos, nos não pode fazê-lo ‘normal’. A foraclusão do
quais o sujeito não reconhece como sua Nome-do-Pai exclui o sujeito da norma
a cadeia de significantes, que possui uma fálica, por isso não é possível a ele bascular
autonomia que é atribuída a outrem. para o lado da neurose, pela falta do signi-
Clérambault [1924] descreveu o gru- ficante fálico. Isso é o que se pode deduzir
po dessas alterações como automatismo não somente dos ensinamentos de Freud
mental, condição em que as ideias não são e Lacan, como também da experiência
dialetizáveis, impondo-se como certezas analítica.
delirantes por excelência. Por outro lado, Se o sujeito é psicótico, é imprescindí-
a dúvida é característica do neurótico, vel que o analista o saiba, para que possa
denotando divisão do sujeito: há um sim conduzir adequadamente o tratamento, o
e um não. que deve ser feito nas entrevistas prelimi-
No entanto, a foraclusão do signifi- nares. Para Freud há contraindicação da
cante Nome-do-Pai implica a anulação psicanálise para psicóticos, e em Lacan há
do significante fálico, tendo como efeito indicações de que se deve ter prudência
a impossibilidade do sujeito de se situar ao aceitar um pré-psicótico para análise
na partilha simbólica dos sexos, como pelo risco de desencadeamento de psicose
homem ou mulher, o que resulta numa latente.
série de fenômenos, que vão da vivência Mas ele diz ainda:
da castração à transformação em mulher
(“empuxo à mulher”). A paranoia, quero dizer a psicose, é aquilo
Na perversão, há admissão da cas- diante do que um analista não deve, em
tração no simbólico e ao mesmo tempo caso algum, recuar (Lacan, 1977 apud
um desmentido. A inscrição da diferença Quinet, 1991, p. 22).
sexual pela ausência de pênis na mulher
é desmentida, e o retorno desse tipo de Lacan recorre à psiquiatria, servindo-
negação do perverso é fixado no fetiche, se, por exemplo, do conceito de automatis-
que possui estrutura de linguagem, além mo mental para o diagnóstico psicanalítico
de ser determinado pelas coordenadas da psicose, que encontra seu fundamento
simbólicas da história do sujeito, dan- na lógica do significante.
do a conotação do objeto pulsional em Na clínica psicanalítica há só um tipo
questão. clínico possível de ser afirmado no nível
de uma conceituação formal: a histeria.
Diagnóstico diferencial No entanto, deve-se buscar situar os de-
Freud ([1913] 1996) discorre sobre a fun- mais tipos clínicos a partir da experiência
ção do diagnóstico abordando a questão analítica.
da análise dos psicóticos. Ele afirma saber Nas entrevistas preliminares, é impor-
que também os psiquiatras hesitam no tante ultrapassar o plano das estruturas
diagnóstico diferencial e se enganam com clínicas (neurose, psicose, perversão) para
frequência. se chegar ao plano dos tipos clínicos de
Para o analista, no entanto, as conse- neurose (histeria, obsessão), mesmo com
quências seriam mais deploráveis porque hesitação, para que o analista possa esta-
provocariam despesas inúteis para o ana- belecer a estratégia da direção da análise,
lisando e colocariam em descrédito seu sem a qual ela fica desgovernada.
método de tratamento, portanto há muito A base da estratégia se refere à trans-
interesse em evitar o erro diagnóstico. ferência, à qual o diagnóstico deve estar
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correlacionado. Dado que o analista será temente do obsessivo, ela não deve nada:
convocado a ocupar na transferência o é o Outro que lhe deve. Se o obsessivo
lugar do Outro do sujeito, a quem serão escamoteia a inconsistência do Outro,
dirigidas suas demandas, é importante de- supondo-lhe o gozo, para a histérica o
tectar nesse trabalho prévio a modalidade Outro não tem o falo. Ela tampouco o
da relação do sujeito com o Outro. possui, e assume, no entanto, a função de
faz de conta de ser o falo.
O obsessivo A histérica não é escrava. Ela des-
Para o obsessivo, o Outro goza, um gozo mascara o senhor fazendo greve. Mas está
terrível e mortificador. Esse Outro do sempre à procura de um senhor, não para
obsessivo é patente no pai da horda pri- se submeter a ele, mas para reinar, apon-
mitiva, um mito de obsessivo. É o Outro tando-lhe as faltas. A histérica estimula o
detentor de gozo que impede seu acesso desejo do outro e dele se furta como obje-
ao sujeito. Para esse Outro nada falta, por- to, o que confere a marca da insatisfação
tanto não deve desejar. O obsessivo anula a seu desejo.
o desejo do Outro e se instala nesse lugar,
marcando seu desejo pela impossibilidade. O desejo nos tipos clínicos
Trata-se de um Outro que comanda Os tipos clínicos se situam distintamente
e o vigia constantemente. Para não dei- quanto ao desejo, que é estruturado como
xar emergir o gozo do Outro, o obsessivo uma questão: “Quem sou eu?”.
anula seu desejo e tenta preencher todas Para o obsessivo, trata-se de uma
as lacunas com significantes para barrar questão sobre a existência: Estou vivo?
esse gozo: ele pensa, duvida, calcula, Estou morto? Para a histérica, sobre o sexo:
conta incessantemente. Fica na posição Sou homem? Sou mulher? Mas ambos
de escravo, situando o Outro como mestre têm subjacente a questão: “O que é ser
e senhor, tentando demonstrar suas boas mulher?”. Essa questão se faz a partir da
intenções em seu trabalho, que lhe deveria outra mulher.
dar acesso ao gozo. Freud ([1905] 1996) baseia seu
Na clínica do obsessivo, encontramos diagnóstico de Dora na conotação de
a conjugação no Outro de dois significan- desprazer, mesmo repugnância, confe-
tes: o pai e a morte, articulando a Lei com rida ao gozo sexual. Essa conotação de
o assassinato do pai, na constituição da menos prazer da histérica e mais prazer
dívida simbólica. Isso fica evidente nos do obsessivo está na obra de Freud. A di-
impasses do obsessivo relativos à paterni- ferenciação pode ser feita a partir da mo-
dade, ao dinheiro, ao trabalho, à justiça, à dalidade de gozo vivenciado no primeiro
legalidade. Como é o fiador do Outro, seu encontro com o sexo e da vicissitude da
desejo é condicionado pelo contrabando. representação vinculada a essa experiên-
cia. Trata-se de um critério diagnóstico
A histérica determinado pela fantasia fundamental,
Para a histérica, o Outro é o Outro do de- que não deve ser desconsiderada nas
sejo, marcado pela falta e pela impotência entrevistas preliminares.
em alcançar o gozo. A histérica concede
ao Outro o lugar dominante na cena de A função transferencial
sedução de sua fantasia sexual, onde ela Lacan (1956-1956) nos diz que “no co-
está presente não como sujeito, mas como meço da psicanálise é a transferência”, e
objeto: “não fui eu, foi o Outro”. o seu suporte é o sujeito suposto saber. A
Isso aparece na clínica como uma emergência do sujeito sob transferência
reivindicação ao Outro, a quem, diferen- sinaliza a entrada em análise, e há o desejo
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de um saber, que navega na associação O S do numerador é o significante da


livre: existe um saber presente nos ditos do transferência, um significante do analisan-
sujeito. Há um saber em jogo na demanda te que se dirige a um significante qualquer
de análise, associado seja a um sintoma, (Sq), que representa o analista. Esse S
seja a algo que faz a pessoa sofrer. do analisante fará que ele escolha este
O estabelecimento da transferência analista, e não aquele. Pode ser um nome
é necessário para que uma análise tenha próprio, um endereço, a idade, o sexo ou
início. Isso é o que Quinet (1991) men- um traço particular. É a articulação de dois
ciona como a função transferencial das significantes que corresponde ao estabele-
entrevistas preliminares. A transferência cimento da transferência – transferência
está lá desde o início, “por graça do ana- significante (Quinet, 1991).
lisante”, nos diz Lacan. É uma função do O resultado dessa transferência
analisante, e não do analista. A função do significante é um sujeito, representado
analista é saber utilizá-la. na fórmula por s (significado), que está
Em Função e campo da fala e da correlacionado aos significantes do saber
linguagem Lacan ([1953] 1998) fala da inconsciente (cadeia S1, S2, ...Sn). A ar-
transferência do saber, uma ilusão na ticulação do significante da transferência
qual o sujeito acredita que sua verdade se com o significante qualquer do analista
encontra já advinda no analista e que ele escolhido pelo analisante tem como efeito
a conhece de antemão. É um ‘erro subje- a produção do sujeito: aquilo que um signi-
tivo’, inseparável da entrada em análise. ficante representa para outro significante.
Quando a função de sujeito suposto saber No início, o analista nada sabe sobre
é encarnada pelo analista ou outro ser, a o inconsciente do analisando (Quinet,
transferência já está estabelecida. 1991, p. 28). Todo novo caso representa a
Por outro lado, emprestando seu ser constituição da própria psicanálise: o saber
para encarnar esse suposto saber, o analista que se tem sobre outros casos pouco vale,
não deve de maneira alguma se identificar não pode ser transposto para aquele caso.
com essa posição, o que seria um erro. Sua É um caso novo e assim deve ser tratado.
posição deve ser a de uma ignorância dita Como no jogo de xadrez, que Freud
douta: um saber que conhece seus limites, ([1913] 1996) cita no texto O início do
com prudência e humildade. tratamento, existem infinitas variedades de
O analista vai simular ser esse sujeito jogadas que se desenvolvem após a abertu-
suposto saber, constituído pelo seu anali- ra (Freud, 1913 apud Nasio, 1999, p. 57).
sante, vai fazer um semblante de Deus Pai, Qual é o efeito do estabelecimento
como coloca Lacan. Porém, identificar-se desse sujeito suposto saber? É o amor.
com essa posição é uma falha, pois trans- Com o surgimento do amor, a demanda
forma a análise em uma teoria ou teologia de se livrar de um sintoma se transforma
que não inclui a falta. em demanda de amor, de presença, já
A disjunção da função de sujeito que o amor demanda amor. Esse efeito de
suposto saber da pessoa do analista vai transferência, o amor, tem o aspecto de re-
aparecer na formulação de Lacan da sistência ao desejo como desejo do Outro.
entrada em análise, com o algoritmo da Cabe ao analista fazer surgir nessa
transferência, que é o matema da entrada demanda a dimensão do desejo, que é tam-
em análise. bém conectado ao estabelecimento do su-
jeito suposto saber, que corresponde a um
S ➝ Sq sujeito suposto desejar. Aí se encontra a ar-
_______________ ticulação com a função sintomal, pois fazer
s (S1, S2 ...Sn) aparecer a dimensão do desejo (Che vuoi?),
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é fazê-lo surgir como desejo do Outro, le- O analista introduz o paciente a uma
vando o desejo à categoria de enigma pela primeira localização de sua posição na
ligação do desejo com o saber. Não basta realidade que o analisando apresenta.
a demanda de se livrar de um sintoma: é O analisando fala de sua posição na sua
preciso que o sintoma apareça como algo realidade, inscrita na família, no casal, em
a ser decifrado, na dinâmica da transfe- uma relação amorosa, no trabalho.
rência através do sujeito suposto saber. O que importa ao analista, principal-
O amor de transferência quer saber. mente, se refere à relação que a pessoa
Porém, sua finalidade é o objeto causa de que faz uma consulta mantém com seus
desejo, o objeto a, que confere à transfe- sintomas. É sobre esse ponto que incidirá
rência seu aspecto real: de real do sexo. o que se chama “retificação subjetiva”. Isso
Freud (1912 apud Nasio, 1999, p. significa que o analista intervirá no nível
57) diz: da relação do Eu do sujeito com os seus
sintomas. Para isso, é essencial nas primei-
Concluímos que todas as relações de or- ras entrevistas discernir bem o motivo da
dem sentimental utilizáveis na vida, tais consulta, a razão pela qual a pessoa decidiu
como a simpatia, a amizade, a confiança, procurar um psicanalista.
etc., todas essas relações emanam dos O sentido, isto é, a relação do Eu
desejos verdadeiramente sexuais. [...] A com o sintoma, se decide na relação com
psicanálise nos mostra que pessoas que o primeiro gesto, com a primeira decisão
acreditamos respeitar, estimar podem de recorrer a um outro. É nesse nível que
continuar a ser, para nosso inconsciente, o analista intervém introduzindo essa
objetos sexuais. retificação subjetiva.
Durante as primeiras entrevistas,
Portanto, a transferência tem a deve-se distinguir bem o motivo pelo
vertente da colocação em ato da rea- qual o paciente nos procura. Qual é a
lidade sexual do inconsciente. Se na demanda implícita presente na análise?
transferência há a comparecimento da Pode ser o desejo de se curar de um sin-
realidade do inconsciente enquanto toma, a demanda de se mostrar, revelar
sexual, é por causa desse objeto mara- o que ele mesmo é, se conhecer melhor,
vilhoso – agalma, a essência do desejo, ou pode ser a demanda de se qualificar
o maravilhoso saber escondido. como analista.
O analista faz de conta que tem o Na retificação subjetiva há a res-
agalma, provocando a torção dos termos ponsabilização do sujeito na escolha de
do que era o discurso histérico e fazendo sua neurose, introduzindo-se a dimensão
com que o analisando entre no discurso ética, da ética da psicanálise, que é a ética
analítico propriamente dito, onde o sujeito do desejo – como resposta à patologia do
passa a produzir os significantes mestres ato que a neurose tenta solucionar esca-
(S 1) do seu assujeitamento ao Outro moteando-a.
(Quinet, 1991). A retificação subjetiva corresponde
ao primeiro reviramento dialético opera-
A retificação subjetiva do por Freud. Ela consiste em perguntar:
Uma das fases no desenrolar temporal “Qual é a sua participação nisso de que
de um tratamento é a que Ida Macalpine você se queixa?”.
(1972) e Lacan (1966 apud Nasio, 1999, A partir das intervenções de Freud,
p. 12) chamaram de “fase de retificação podemos inferir duas vertentes da reti-
subjetiva”, que ocorre nas entrevistas ficação subjetiva segundo o tipo clínico.
preliminares. Com o neurótico obsessivo, ela está no
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plano da retificação da causalidade, que Preliminary


se apresenta como consequência: sua im- interviews:
possibilidade de agir devido a um desejo milestones in
que é impossível. Na histeria, a retificação the psychoanalytical
subjetiva visa a implicação do sujeito em treatment
sua reivindicação dirigida ao Outro, fazen-
do-o passar da posição de vítima sacrifi- Abstract
cada à de agente ativo do que se queixa The present study describes some aspects
e que sustenta seu desejo na insatisfação. of the preliminary interviews, named by
Em ambas as modalidades, introduz-se a Freud, in the whole, “proof treatment”.
responsabilidade do sujeito na escolha de We try to mark the main points regarding
sua neurose e em sua submissão ao desejo these interviews in its functions of detecting
como desejo do Outro. symptoms, detect the diagnosis and work on
A retificação subjetiva aponta que, the transference.
lá onde o sujeito não pensa, ele escolhe;
lá onde pensa, ele é determinado, intro- Keywords
duzindo o sujeito na dimensão do grande Prelim ina ry interviews , Dia gnos is ,
Outro (Quinet, 1999, p. 34). Transference, Resistance.

Conclusão
Nem todo paciente que procura um ana-
lista é analisável. Só é analisável quem é
capaz de transferência, isto é, capaz de Referências
desenvolver com o analista uma neurose
BUENO, C. M. O.; SANTOS, R. N. Entrevistas
dita “de transferência”. E para que um preliminares e transferência: sua importância para
tratamento analítico continue e termine, a o atendimento clínico. Disponível em: <http://
condição é que o analisando seja ou tenha www.institutoexpansaosistemica.com.br/f/userfi-
sido neurótico (Nasio, 1999, p. 31). les/file/Artigo%20Romualdo.pdf>. Acesso em:
03 fev. 2016.
Por outro lado, Quinet (1991, p.
16) enfatiza que o que está em questão CLÉRAMBAULT, G. de. Les Psychoses
nas entrevistas preliminares não é se o Hallucinatoires Chroniques. Analise et
sujeito é analisável, se tem um eu fraco Psychogenie. Ann. Méd. Psychol., I, 1924, p. 183-185.
ou forte para suportar as agruras do
DAMOURETTE, J.; PICHON, E. Des mots à la
processo analítico. Ele enfatiza que a
pensée. Grammaire. Paris: Artrey, 1930.
analisabilidade seria função do sintoma,
e não do sujeito e deve ser buscada para FORBES, J.; FERRETI, C. Entrevistas preliminares
que a análise se inicie, transformando e função diagnóstica nas neuroses e nas psicoses.
em sintoma analítico o sintoma do qual Disponível em: <http://www.jorgeforbes.com.br/
br/artigos/entrevistas-preliminares-funcao-diag-
o sujeito se queixa.
nostica.html>. Acesso em: 03 fev. 2016.
Finalizando, dar início a uma psica-
nálise, a partir da demanda de alguém, FRAZÃO, F. As entrevistas preliminares e o
depende de o psicanalista aceitar aquele diagnóstico diferencial em psicanálise. Disponível
sujeito que o procura como analisando. em: <http://www.psicanalise.ufc.br/hot-site/pdf/
Trabalhos/28.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2016.
Daí a importância das entrevistas preli-
minares, que têm sua função diagnóstica, FREUD, S. Fetichismo (1927). In: ______. O fu-
sintomal e transferencial, o que correspon- turo de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros
de ao que Freud denominou “tratamento trabalhos (1927-1931). Direção-geral da tradução
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