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Cláudia Barros Portocarrero

Wilson Luiz Palermo Ferreira

LEIS PENAIS
EXTRAVAGANTES
Teoria, jurisprudência e questões comentadas
Análise artigo por artigo

4ª edição
Revista, atualizada
e ampliada

2019
1
CRIME DE ABUSO
DE AUTORIDADE

Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965.


Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade ad-
ministrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas
funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

O Objetivo da Lei. A presente lei dispõe sobre as consequências penais, civis e ad-
ministrativas do abuso de poder levado a efeito por autoridades no exercício de
suas funções. Verifique-se que o mesmo ato poderá dar ensejo as três espécies de
responsabilização (civil, penal e administrativa), até porque são esferas distintas e,
assim, não se poderia falar de bis in idem.
A Revogação do art. 322 do Código Penal pelo art. 3º da Lei nº 4.898/1965. En-
tendemos que o crime descrito no art. 322 do Código Penal tenha sido revogado
pela lei em estudo, que disciplina toda a matéria prevista no supracitado dispositi-
vo. Não é esse, porém, o teor de precedentes do STF, em que a Corte entendeu não
ter havido a revogação do art. 322 do Código Penal.

Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. CP, ART. 322. CRIME DE VIO-


LÊNCIA ARBITRÁRIA. REVOGAÇÃO PELA LEI N. 4.898 /65. INO-
CORRÊNCIA. O artigo 322 do Código Penal, que tipifica o crime de
violência arbitrária, não foi revogado pelo artigo 3º, alínea i da Lei
n. 4.898 /65 (Lei de Abuso de Autoridade). Precedentes. Recurso
ordinário em habeas corpus não provido. (STF – RECURSO EM HA-
BEAS CORPUS RHC 95617 MG, Data de publicação: 16/04/2009)

Tal entendimento é seguido pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, con-


forme se verifica no julgamento do HC 48.083-MG, da relatoria da Ministra Lau-
rita Vaz, julgado em 20 de novembro de 2007,

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Art. 1º LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES – Teoria, Jurisprudência e Questões Comentadas

“Habeas corpus. Penal. Artigo 322 do Código Penal. Crime de violên-


cia arbitrária. Eventual revogação pela Lei n. 4.898/65. Inocorrência.
Precedentes do STF. 1. O crime de violência arbitrária não foi revo-
gado pelo disposto no art. 3º, alínea i, da Lei de Abuso de Autori-
dade. Precedentes da Suprema Corte. 2. Ordem denegada” (STJ, HC
48.083, rel. Min. LAURITA VAZ, 5ª T., DJe 7-4-2008).

A jurisprudência dominante nos tribunais estaduais e na doutrina, contudo,


é no sentido de que houve a revogação do crime de violência arbitrária pelo dispo-
sitivo do artigo 3º, alínea i, da Lei de Abuso de Autoridade, haja vista que esta Lei
teria tratado da matéria de forma exaustiva e que a norma inserta na Lei 4.898/65
seria mais elástica, adaptando-se melhor a cada caso concreto o que permitiria uma
mais justa aplicação da pena. Assim, atentemos para os julgados abaixo transcritos.

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL – ABUSO DE PODER – REVOGA-


ÇÃO PELA LEI 4898 /65 – PRESCRIÇÃO EM RAZÃO DA PENA IN
ABSTRATO – CABIMENTO – DELITO DE VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA –
DELITO QUE FOI REVOGADO PELA LEI 4898 /65 – PRESCRIÇÃO
PELA PENA EM ABSTRATO – RECONHECIMENTO DE OFÍCIO –
LAPSO TEMPORAL PRESCRITO ENTRE A DATA DO RECEBIMENTO
DA DENÚNCIA E A PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA
– EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. – Eventual condenação, na espé-
cie, não comportaria utilidade, pois fulminado o interesse de agir
do estado em razão da prescrição. Previstas para o delito as penas
de detenção de 10 dias a seis meses e de multa, em razão da revo-
gação do art. 350 do Código Penal pela Lei 4898 /65, regula-se a
prescrição pelo artigo 109, VI do CP. – Delito do art. 322 do Código
Penal também foi revogado pela Lei 4898 /65 que regulou expres-
samente a matéria em apreço (...) (TJ-MG – Apelação Criminal APR
10024043106061001 MG (TJ-MG).Data de publicação: 17/02/2014)

Verifica-se, portanto, tratar-se de matéria controvertida.


O Direito de Representação e sua Natureza Jurídica. Cuida-se do direito de pe-
tição, garantido pela CF em seu art. 5º, XXXIV, “a”, assegurando a todo e qualquer
cidadão, independente do pagamento de taxas, o direito de se reportar ao Poder Pú-
blico para narrar ilegalidade e abuso de poder, exigindo sejam tomadas as providên-
cias cabíveis. A representação aqui não se trata de condição de procedibilidade, até
porque, por óbvias razões, o crime de abuso de autoridade é de ação penal pública
incondicionada, pouco importando se a vítima do abuso deseja, ou não, seja defla-
grada a ação penal, pois que se cuida de conduta que ao próprio Estado interessa
reprimir para preservação de seus interesses maiores e para a proteção dos direitos
e garantias fundamentais, bem como para a sua própria credibilidade e honrabili-
dade. Assim, trata-se a representação referida neste art. 1º de mera notitia criminis.
Crime de Ação Penal Pública Incondicionada. A Lei nº 5.249/1967 é expressa nes-
se sentido. No mais, poderíamos citar lição do STJ no julgado abaixo:

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CAP. 1  •  Crime de Abuso de Autoridade Art. 1º

“Em se tratando de crime de abuso de autoridade – Lei nº 4.898/65


– eventual falha na representação, ou mesmo sua falta, não obsta
a instauração da ação penal. Isso nos exatos termos do art. 1º da
Lei nº 5.249/67, que prevê, expressamente, não existir, quanto aos
delitos de que trata, qualquer condição de procedibilidade (Prece-
dentes do STF e do STJ). (HC nº 59591/RN- Rel. Min. Félix Fischer,
julgamento em 15/08/06, 5ª Turma)

Bem Jurídico Tutelado no Crime de Abuso de Autoridade. Cuida-se de crime plu-


riofensivo, por tutelar mais de um bem jurídico. Assim, tutela o regular funciona-
mento da Administração Pública, sua credibilidade e dignidade, além dos direitos
e garantias fundamentais trazidos pela CF.

Sujeitos Ativo e Passivo do Crime de Abuso de Autoridade. Trata-se de crime pró-


prio, somente podendo ser praticado por autoridade, definida pelo art. 5º da lei em
comento como sendo qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou função públi-
ca, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente. Embora não expresso
no artigo em análise, o sujeito ativo precisa ter parcela de comando, mando, poder,
não sendo possível abusar daquilo que não se tem. Tratando-se de crime pluriofen-
sivo, serão sujeitos passivos os titulares dos bens jurídicos tutelados pela norma, ou
seja, o Estado e a pessoa vítima do abuso.

A Necessidade de Vínculo com o Estado. Somente o agente público que mantiver


vínculo com o Estado poderá figurar como sujeito ativo do crime em estudo. As-
sim, o funcionário aposentado não poderá ser sujeito ativo de abuso de autoridade,
não se podendo o mesmo dizer dos licenciados a qualquer título, pois que ainda
mantêm vínculo com a Administração.

A Interpretação Restritiva do Conceito de Funcionário Público. Deve-se inter-


pretar o conceito de funcionário público da forma mais restritiva possível. Assim,
não se pode confundir atividade de interesse público com função pública e agente
que, por exemplo, exerça mera atividade de interesse público não poderá ser con-
siderado autoridade para os fins dessa lei.

A Desnecessidade de Estar no Desempenho das Funções, mas Agir em Razão do


Poder e Abusando do Mesmo. Não é preciso que o agente esteja no desempenho
das funções públicas para que possamos falar em abuso de autoridade, bastando
que esteja atuando prevalecendo-se do fato de deter parcela de poder. Neste senti-
do, poderíamos observar julgado do STJ, abaixo transcrito, retirado do Informativo
nº 314 daquela Corte, em que foi reconhecida a prática de abuso de autoridade por
delegado de polícia que, ao passar a frente de uma pessoa na fila de um banco e
ser por ela interpelado, prendeu-a por desacato. Na hipótese, afastou-se a incidên-
cia do desacato, reconhecendo-se, outrossim, o abuso praticado pelo delegado, que,
prevalecendo-se da função, abusou de seu poder.

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Art. 1º LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES – Teoria, Jurisprudência e Questões Comentadas

Informativo nº 314 STJ


O Tribunal a quo concluiu que o ora recorrente, delegado de Polícia,
passou a frente do ora interessado, que se encontrava na fila de um
banco. Começaram então a discutir e, no ápice do desentendimento, o
delegado deu voz de prisão ao interessado por desacato à autoridade,
recolheu-o à delegacia onde se lavrou o auto de prisão em flagrante
e, para ser posto em liberdade, foi preciso pagar fiança. Concluiu-se
que a conduta não se enquadra no tipo do art. 331 do Código Penal,
pois o desentendimento não se deu em razão da função de delega-
do, mas porque alguém passou a frente de todos na fila. Entendeu-
-se, ainda, após reconhecer a responsabilidade do Estado pela prisão
ilegal, julgar procedente a denunciação à lide, pois a conduta não se
enquadra na função de delegado no momento do evento, consistindo
em verdadeiro abuso de autoridade. O litisdenunciado, ora recorrente,
agiu como agente público ao mobilizar o aparato estatal e efetuar a
prisão ilegal. Logo há responsabilidade civil do Estado e, em razão do
abuso, cabe ressarcir o Estado pelos valores despendidos com a re-
paração dos danos morais. A Turma não conheceu do recurso (REsp
nº 782.834 – MA, Rel.ª Min.ª Eliana Calmon, j. 20/03/2007).

A Possibilidade de o Particular Figurar como Sujeito Ativo do Crime de Abuso


de Autoridade. Consoante dispõe o art. 30 do Código Penal, as circunstâncias de
caráter pessoal, quando elementares do crime, se comunicam aos demais concor-
rentes. Portanto, o particular que, sabendo que atua em conjunto com o funcionário
público, contribuir para a conduta do último, responderá, na qualidade de partícipe,
por abuso de autoridade, isso porque o fato de ser funcionário público é elementar
do crime em comento, comunicando-se ao particular.
Pessoas que Exercem Múnus Público. Não podem ser consideradas autoridades
para os efeitos desta lei os tutores e curadores, os inventariantes judiciais, os ad-
ministradores judiciais, depositário judicial e os diretores de sindicatos porque não
exercem função, mas apenas múnus públicos.
Agentes Políticos. Podem ser considerados agentes públicos para os fins dessa lei,
consoante já entendido pelo STJ, na APN 334 /ES.

Denúncia. Governador e deputados estaduais. Peculato-desvio e abu-


so de autoridade. Projeto de lei encaminhado por Governador e
aprovado pela Assembleia Legislativa. Inconstitucionalidade. Impor-
tância vinculada ao FUNRES – Fundo Fiscal de Investimento Federal.
Liberação do dinheiro mediante lei estadual aprovada. Precedentes
da Corte e do Supremo Tribunal Federal. 1. Por força do art. 327 do
Código Penal, para efeitos penais, os agentes políticos são conside-
rados funcionários públicos (...)( APN 334/ES, Rel. Carlos Alberto
Menezes Direito, j. 03/11/04)

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CAP. 1  •  Crime de Abuso de Autoridade Art. 1º

Competência para Processo e Julgamento do Abuso de Autoridade. Cuida-se de


crime da competência da Justiça Comum, Estadual ou Federal. Embora existam opi-
niões divergentes sobre a matéria em comento, a competência para processo e jul-
gamento do abuso de autoridade será da Justiça Federal na hipótese de funcionário
público federal praticar o ato delituoso. Será da competência da Justiça Estadual nos
demais casos. Esse é o entendimento dos autores, que não conseguem vislumbrar
hipótese em que funcionário público federal pudesse praticar conduta caracteriza-
dora de crime de abuso de autoridade sem que tal fato comprometesse a honradez
e a credibilidade dos serviços públicos da União e de suas autarquias. Observe-se,
entretanto, que, dando interpretação restritiva ao art. 109, IV, da Constituição Fede-
ral, o STJ, nos autos do HC nº 10.2048-ES, vinculado no Informativo nº 430 daquela
Corte, entendeu que a simples condição de agente público federal não implica que o
crime seja da competência da Justiça Federal, o que somente ocorrerá se forem com-
prometidos bens, serviços ou interesses da União e suas autarquias. Neste sentido:

Trata-se de habeas corpus em que o paciente afirma ser incompe-


tente a Justiça Federal para processar o feito em que é acusado
pelo crime de abuso de autoridade. Na espécie, após se identificar
como delegado de Polícia Federal, ele teria exigido os prontuários
de atendimento médico, os quais foram negados pela chefe plan-
tonista do hospital, vindo, então, a agredi-la. A Turma, por maioria,
entendeu que, no caso, não compete à Justiça Federal o processo
e julgamento do referido crime, pois interpretou restritivamente o
art. 109, IV, da CF/1988. A simples condição funcional de agente não
implica que o crime por ele praticado tenha índole federal, se não
comprometidos bens, serviços ou interesses da União e de suas au-
tarquias públicas. Precedente citado: CC 1.823-GO, DJ 27/5/1991( HC
102.049-ES, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 13/4/2010).

O Abuso de Autoridade Praticado por Militar. Antes da edição da Lei 13.491/2017,


mesmo praticado por militar, o abuso de autoridade seria sempre da competência da
Justiça Comum. Isso se justificava pelo fato de que a Justiça Militar somente julga cri-
me militar e, anteriormente à novel lei, crime militar era definido como sendo aque-
le que encontrava definição no Código Penal Militar, o que não ocorre com o abuso
de autoridade. Por essa razão, foi editada a Súmula nº 172 do STJ, abaixo transcrita:

Súmula 172. “COMPETE A JUSTIÇA COMUM PROCESSAR E JUL-


GAR MILITAR POR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE, AINDA
QUE PRATICADO EM SERVIÇO”.

Neste sentido:

Pratica o crime de abuso de autoridade o agente que, em represália


por justa cobrança de parte da vítima, faz-lhe exigências descabidas,
culminando por conduzi-la à presença da autoridade policial. A falta
de justa causa para o procedimento faz realçar a represália como

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Art. 1º LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES – Teoria, Jurisprudência e Questões Comentadas

único e condenável intuito o agente. O abuso de autoridade come-


tido em serviço, por policial militar, deve ser julgado pela Justiça
Comum. Incidência da Súmula n. 172/STJ. Agravo Regimental des-
provido. (AgRg no CC 102619 RS 2009/0010503-8. Relator(a): Minis-
tro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/
SP), J.: 22/04/2015, TERCEIRA SEÇÃO, Publicação DJe 30/04/2015

Contudo, a partir de 16 de outubro de 2017, quando entrou em vigor a Lei


13.491/2017, houve substancial alteração do conceito de crime militar. Consoante a
nova disciplina legal, crimes militares hoje não mais são apenas aqueles previstos na
legislação castrense, passando a ser também considerados crimes militares aqueles
que, previstos na legislação penal extravagante e no Código Penal, tiverem sido pra-
ticados por militar em uma das hipóteses do artigo 9º, II do CPM, abaixo transcrito:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação
penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em co-
missão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lu-
gar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou re-
formado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

Assim, a partir de 16 de outubro de 2017, o crime de abuso de autoridade


quando praticado por militar, no exercício de suas funções, passa a ser considerado
crime militar, ainda que sem previsão expressa no Código Penal Militar.
A mudança do conceito de crime militar inequivocamente afeta o teor da Sú-
mula 172 do STJ, que , assim, deve ser considerada revogada, eis, que, se tratando
de crime militar o abuso de autoridade praticado por militar em serviço contra ci-
vil, o mesmo será necessariamente julgado pela Justiça Militar.
A questão do direito intertemporal e o crime de abuso de autoridade praticado
por militar em serviço antes da vigência da Lei 13491/2017. A norma que altera
o disposto no artigo 9º, II, do CPM é de natureza penal, em que pese trazer inúme-
ros efeitos de cunho processual, provocando alterações relacionadas ao inquérito e
processo dos crimes de que trata. Uma vez reconhecido o crime militar, desloca-se
a competência necessariamente para a Justiça Militar. A fixação da natureza material
da norma é relevantíssima quanto ao abuso de autoridade praticado por militar em
serviço antes de 16 de outubro de 2017, quando se tratava de crime comum. Des-
tarte, imperioso avaliar se a nova lei é mais favorável ao réu. A resposta nos pare-
ce negativa. Afinal, enquanto crime da competência da Justiça Comum, o abuso de
autoridade pode ser considerado crime de menor potencial ofensivo, como se verá
mais a frente neste capítulo, aplicando-se-lhe as normas da Lei 9099/95 e seus ins-
titutos despenalizadores, o que não é admitido no âmbito da Justiça Militar, conso-
ante disposto no artigo 90-A da Lei 9.099/1995, abaixo transcrito:
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da
Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999).

42
CAP. 1  •  Crime de Abuso de Autoridade Art. 1º

Nessa linha, o Superior Tribunal Militar editou a Súmula 09 do STM, no se-


guinte sentido:

STM Súmula nº 9 – A Lei nº 9.099, de 26.09.95, que dispõe sobre


os Juízos Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, não
se aplica à Justiça Militar da União.

De outro giro, considerando-se a possibilidade, em tese, de substituição de


pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos para o crime de abuso
de autoridade, é necessário frisar que a referida substituição não é admitida quanto
aos crimes militares consoante entendimento amplamente majoritário, inclusive de
Cortes Superiores, devendo-se observar julgado abaixo transcrito, extraído da juris-
prudência do Supremo Tribunal Federal:

CRIME MILITAR. APLICAÇÃO DO ART. 44 DO CÓDIGO PENAL CO-


MUM. IMPOSSIBILIDADE. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRI-
DA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBU-
NAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE
TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA. PROCEDI-
MENTO VEDADO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. AGRAVO MA-
NEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/1973. 1. O entendimento da
Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada,
não diverge da jurisprudência firmada no Supremo Tribunal Fede-
ral. Compreensão diversa demandaria a reelaboração da moldura
fática delineada no acórdão de origem, a tornar oblíqua e reflexa
eventual ofensa à Constituição, insuscetível, como tal, de viabilizar
o conhecimento do recurso extraordinário. 2. As razões do agravo
regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que
lastrearam a decisão agravada. 3. Agravo regimental conhecido e
não provido. (ARE 792088 AgR / MG, Relator(a): Min. ROSA WE-
BER Julgamento: 25/08/2017, Órgão Julgador: Primeira Turma)

Portanto, em se tratando de abuso de autoridade praticado por militar em


serviço contra civil, entendemos que aos fatos ocorridos antes de 16 de outubro de
2017 não se aplica a Lei 13.491/2017, podendo-se aplicar aos mesmos os institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95, devendo ser tratados como crime comum e como
delito de menor potencial ofensivo. A novel lei que considera crime militar o abuso
de autoridade praticado por militar contra civil não pode retroagir para alcançar fa-
tos anteriores a sua vigência, por se tratar de norma prejudicial, (art. 2º, parágrafo
1º do Código Penal Militar e art. 5º, XL da Constituição Federal – irretroatividade
da lei penal mais grave).
A Questão da Competência na Hipótese do Crime de Abuso de Autoridade prati-
cado antes da vigência da lei 13491/2017 Estar em Concurso com um Crime Mili-
tar. Pela regra da disjunção trazida pelo art. 79, I, do CPP, a Justiça Militar não julga
crime comum nem mesmo quando conexo com o crime militar. Assim, se o militar,

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Art. 1º LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES – Teoria, Jurisprudência e Questões Comentadas

em serviço, antes de 16 de outubro de 2017, praticasse, por exemplo, o abuso de au-


toridade e lesão corporal contra civil, responderia perante a Justiça Militar pelo crime
de lesão, que, na hipótese é crime militar, competindo à Justiça Comum o julgamen-
to pelo crime de abuso de autoridade. Não é outro o teor da Súmula nº 90 do STJ:

Sumula 90. Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o


policial militar pela prática do crime militar, e à Comum pela práti-
ca do crime comum simultâneo àquele.

Atualmente, sendo o abuso de autoridade crime militar quando praticado por


militar em serviço, lesão corporal e abuso de autoridade praticados por militares em
serviço contra civil serão julgados pela Justiça Militar.
O Abuso de Autoridade como Crime de Menor Potencial Ofensivo. Consideran-
do-se que a pena privativa de liberdade para o crime de abuso de autoridade é de
seis meses (vide art. 6º, § 3º), cuida-se de crime de menor potencial ofensivo, sen-
do-lhe aplicável o rito da Lei nº 9.099/1995, desde que não se trate de abuso de au-
toridade praticado por militar em serviço contra civil praticado depois da entrada
em vigor da Lei 13491/2017, consoante destacado acima. Neste sentido, reconhe-
cendo o abuso de autoridade como crime de menor potencial ofensivo ao qual se
aplicam os institutos despenalizadores da Lei 9099/1995, já se manifestou o STJ:

É possível propor a transação penal nos crimes de abuso de auto-


ridade (...) visto que a lei 10259/01 não exclui da competência do
Juizado Especial Criminal os crimes que possuem rito especial (HC
22881-RS. Rel. Min. Felix Fischer,j. 08/04/2003)
HABEAS CORPUS – ABUSO DE AUTORIDADE – TRANCAMENTO
DA AÇÃO PENAL – NECESSIDADE DE OFERTA DA TRANSAÇÃO
PENAL – INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
– ACUSADO MEMBRO DO PARQUET – AUTORIZAÇÃO DA LEI OR-
GÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO (HC nº 83828, Minis-
tra Jane Silva, desembargadora convocada do TJ/MG, j. 04/10/2007)
PROCESSUAL PENAL. COMETIMENTO SIMULTÂNEO DE CRIME MI-
LITAR E CRIME PREVISTO NO CÓDIGO PENAL – INVASÃO DE
DOMICÍLIO, LESÃO CORPORAL LEVE E ABUSO DE AUTORIDADE.
CONEXÃO. IMPOSSIBILIDADE. SEPARAÇÃO DOS JULGAMENTOS.
TRANSAÇÃO PENAL QUANTO AO CRIME DE ABUSO DE AUTO-
RIDADE (HC nº 81752, Ministra Jane Silva, desembargadora convo-
cada do TJ/MG, j. 27/09/2007)

Crime de Tendência. O abuso de autoridade é um delito de tendência, na medida


em que exige, tacitamente, que o agente pratique a conduta tipificada como abuso
de autoridade com o dolo de abusar de seu poder, de forma negativa, desejando
subjugar a vítima, não se caracterizando quando outra for a inclinação que o agen-
te tenha emprestado ao seu atuar.

44
CAP. 1  •  Crime de Abuso de Autoridade Art. 3º

Poderíamos, assim, imaginar a situação de um policial de trânsito que, veri-


ficando a dificuldade de uma pessoa em dar partida no veículo, determinar que a
mesma pare, exigindo-lhe a apresentação de documentos de identificação. Ao veri-
ficar que nada há de errado com a documentação do condutor, nem mesmo com a
do veículo, o policial diz ao mesmo que somente o deixará sair dali em companhia
de outra pessoa que venha ao seu encontro para dirigir o automóvel, fazendo com
que a pessoa abordada ali permaneça por alguns minutos, durante os quais, de forma
educada e salientando que apenas agira daquela forma para evitar que um acidente
fosse causado, tenta convencer dos riscos que corre o condutor e da necessidade de
aperfeiçoar sua direção. Nesta situação, não há que se falar em abuso de autoridade,
diante da ausência do dolo de tendência. Afinal, não foi por querer abusar de seu
poder que o agente atuou, mas para preservar a integridade daquele a quem parou.

Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:


a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar,
à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para ini-
ciar processo-crime contra a autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a ex-
posição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no má-
ximo de três, se as houver.

A Petição. Cuida-se de um procedimento formal, mas devemos lembrar que a pe-


tição não é imprescindível para a deflagração de ação penal por crime de abuso de
autoridade e, em que pese a não observância das formalidades acima, em especial
as contidas no parágrafo único do dispositivo em comento, nada obstará que sejam
tomadas as providências pelos órgãos encarregados da persecução criminal quanto
ao fato que chegar ao seu conhecimento.

Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;

45
Art. 3º LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES – Teoria, Jurisprudência e Questões Comentadas

j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (In-


cluído pela Lei nº 6.657, de 05/06/79)

Crimes de Atentado. Momento Consumativo. Os crimes descritos nesse dispositivo


são de atentado, na medida em que o legislador equipara a forma tentada à forma
consumada, não se admitindo, pois, a figura da tentativa, estando consumados no
momento da realização da conduta descrita nos tipos trazidos pelas alíneas, inde-
pendentemente da superveniência de resultados naturalísticos típicos. Assim, por
exemplo, o fato de tentar obstar o direito de locomoção de alguém, com abuso de
poder, já caracteriza o crime de abuso de autoridade.
Classificação dos Crimes do Art. 3º. Crimes próprios, dolosos, comissivos, de aten-
tado, instantâneos, de forma livre, unissubsistentes ou plurissubsistentes, a depender
da forma com que sejam levados a efeito.
Atentado Contra a Liberdade de Locomoção. A CF garante a todos o direito de
locomoção em todo o território nacional, em tempos de paz, nos exatos termos do
art. 5º, XV, daí o fundamento do tipo penal em apreciação. O dispositivo somente
tem aplicação na hipótese de se tratar de atentado injustificado à liberdade de lo-
comoção, não se aplicando, destarte, àquele que, em cumprimento de estrito dever
legal, dá cumprimento a um mandado judicial de prisão ou impede que a pessoa
prossiga no cometimento de um crime. Se houver efetivamente privação de liber-
dade com abuso de poder, estaremos diante do que dispõe o art. 4º, alínea “a”, da
lei em comento.
O Estado de Sítio. Durante a vigência do estado de sítio, poderá haver restrição ao
direito de liberdade, nos termos do art. 136 da CF, sem que isso caracterize abuso
de poder.
Atentado à Inviolabilidade do Domicílio. A Constituição Federal, nos termos do
art. 5º, XI, garante a proteção ao domicílio, mas permite o ingresso em domicílio
alheio, em qualquer hora do dia ou da noite, na hipótese de desastre, flagrante deli-
to ou para prestar socorro. Permite-se também o ingresso em domicílio alheio para
cumprimento de mandado judicial, sendo que, na última situação, em não havendo
consentimento do morador, poderá ser feito a qualquer hora do dia.
O Conceito de “Dia” para o Cumprimento de Mandado Judicial sem Autorização
do Morador. Optando por um critério horário, entendemos que se trata do período
entre as seis horas da manhã e dezoito horas.
O Conceito de Domicílio. Esse conceito, para fins penais, vem trazido no art. 150,
§ 4º, do Código Penal, abaixo transcrito:

§ 4º – A expressão «casa» compreende:


I – qualquer compartimento habitado;
II – aposento ocupado de habitação coletiva;

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