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RESUMO GERAL
Este painel apresenta discussões sobre práticas de ensino no cotidiano escolar na educação
básica, especificamente no ensino médio integrado dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O primeiro artigo relata uma
experiência pedagógica no ensino de Língua Inglesa, aplicadas concomitantemente em duas
escolas públicas de Mato Grosso, uma para turmas de ensino fundamental e outra com turmas
de ensino médio integrado ao ensino técnico do IFMT, com o objetivo de compartilhar os
resultados de uma atividade baseada em caderno de perguntas e respostas pessoais, versando
sobre o cotidiano dos respondentes, seus planos, sonhos, valores. O segundo artigo é o recorte
conhecimentos prévios sobre Educação Física dos alunos dos 1º anos do ensino médio
integrado ao técnico em agropecuária do IFMT – campus São Vicente, especificamente sobre
o que aprenderam nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental e o que significa a
Educação Física para eles; os dados referem-se à aplicação de um questionário aberto aos
alunos dos 1º anos, constituindo-se num diagnóstico primordial para o início da pesquisa. O
terceiro artigo comparou os resultados de dois festivais de arte e cultura promovidos pelo
IFMS – campus Nova Andradina, enquanto uma política intercultural efetiva na promoção de
relações pedagógicas dialógicas e criativas na educação, através da análise de duas pesquisas
de satisfação realizadas com os participantes de cada um dos eventos, somados às percepções
através dos registros fotográficos, e das observações durante os festivais. Assim, os três
artigos articulam experiências pedagógicas de ensino, pesquisa e extensão de componentes
curriculares da área comum dos cursos técnicos integrados ao ensino médio do Instituto
Federal, desenhando um cenário de legitimação através de práticas pedagógicas reflexivas,
contextualizadas e integradas à prática social.
Palavras-chave: Ensino médio integrado. Prática pedagógica. Currículo.
FRIEND’S NOTEBOOK AND NOSY NOTEBOOK: UMA
ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA O
ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA
RESUMO
0
Este texto constitui-se num relato de experiência de uma atividade didática em aulas de
Língua Inglesa aplicadas concomitantemente em duas escolas públicas de Mato Grosso, sendo
em uma delas para turmas de ensino fundamental e na outra com turmas de ensino médio
integrado ao ensino técnico. Relata-se aqui como a ideia foi concebida e implementada em
ambas as escolas. Analisa-se também, à luz das teorias dos novos letramentos, o que esta
experiência didática representou para a aprendizagem de professores e alunos, como o
processo de construção da atividade bem como a realização da tarefa contribuiu para o
processo de ensino-aprendizagem da língua alvo. Há ainda que se considerar que tal atividade
revive um costume entre os adolescentes de uma ou duas gerações anteriores, o que além de
ser uma oportunidade lúdica de prática da língua inglesa, também proporciona uma
experiência nostálgica aos docentes e a descoberta do que divertia seus pais e professores
quando tinham a idade que eles têm hoje.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem de Língua Inglesa. Escola pública. Letramento.
1 INTRODUÇÃO
Neste texto procuramos compartilhar como foi a realização de uma atividade baseada
numa brincadeira comum em nossa infância e adolescência: caderno de perguntas e respostas
pessoais, versando sobre o cotidiano dos respondentes, seus planos, sonhos, valores. A
contato dos discentes com a língua inglesa, para além do limitado tempo disponibilizado para
a disciplina.
Ambos os autores são professores de escolas públicas, estadual e federal. E apesar de
serem instâncias distintas, temos trabalhado em parceria há anos. Além da amizade que nos
aproxima, o intuito de oferecer um serviço de qualidade aos nossos estudantes nos leva a
estarmos sempre nos qualificando e partilhando os saberes que construímos, com vistas a
estabelecermos uma rede de trocas de boas práticas entre nós e outros professores nos eventos
em que participamos.
A professora Fátima trabalha com alunos de ensino fundamental na Escola Paciana e o
professor Arivan trabalhava com o ensino médio, no Instituto Federal de Mato Grosso –
campus São Vicente. Em uma das nossas conversas em que sempre compartilhamos
experiências, surgiu a ideia do projeto que aqui relatamos. Oportunamente, essa proposta
surgiu no momento em que as alunas da professora Fátima pediam atividades diferentes das
corriqueiras em que pudessem praticar a língua inglesa, fora da sala de aula, de maneira mais
lúdica e interativa.
Sendo assim, discutimos formas de adaptação da brincadeira da nossa infância para
um projeto pedagógico que envolvesse os alunos como atores protagonistas do processo de
ensino e aprendizagem da língua. Como trabalhamos com realidades distintas, públicos
diferentes e contextos próprios de cada instituição, mantivemos o cerne da ideia original e
cada docente adaptou o projeto às possibilidades de sua instituição.
A experiência se configura como qualitativa-descritiva, pois segundo Lüdke e André
(1986) supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que
está sendo investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3 A IMPLEMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
3.2 NO IFMT
A ideia dos Nosy Notebooks foi implementada com outra forma de condução da
atividade no IFMT – campus São Vicente. Por conta do tempo muito limitado, de apenas 50
minutos semanais, e os compromissos curriculares da disciplina, o docente de Língua Inglesa
deste campus preferiu realizar sim a atividade, a despeito da limitação de tempo, mas com um
enxugamento dos processos.
Algo muito frutífero na escola da professora Fátima foi o envolvimento dos alunos
com toda a execução da atividade, desde contribuições sobre como implementar a atividade, a
escolha das perguntas, a escrita destas, a decoração dos cadernos, a condução do tempo para
cada participante responder às questões, isso sem contar as reuniões periódicas e avaliação do
processo e confraternização dos alunos envolvidos no projeto, das quais tive o privilégio de
participar de algumas.
Contudo, em minha instituição tive que adaptar, simplificando o processo, para
oportunizar-lhes a experiência de responder ao Nosy Notebook, como uma atividade
extraclasse. No IFMT não tivemos um grupo de projeto muito grande. Contei com a
colaboração de dois alunos, um de cada turma, que se voluntariaram para serem os
administradores dos cadernos, já que cada turma teve dois cadernos, para podermos agilizar o
desenvolvimento da atividade. Estes alunos são líderes natos, e este espírito de liderança foi
fundamental para o sucesso da tarefa.
A decoração dos cadernos bem como a escrita das regras de realização da atividade,
assim como as questões a serem respondidas ficaram sob a responsabilidade do professor,
cabendo aos alunos-administradores entregar aos colegas os cadernos, estabelecer prazo para
resposta, que era de 24 horas, e zelar para que os cadernos fossem devolvidos no prazo com as
respostas devidamente escritas, para assim poder proceder a entrega ao aluno seguinte. Usou-
se o critério da ordem alfabética para determinar a sequência de distribuição dos cadernos.
Os cadernos tinham o formato de 140mm X 202mm, contando com 48 folhas, tendo a
encadernação em brochura, com capa de resistência média. Os quatro tinham capas com
estampas alegres e cada turma recebeu dois cadernos com igual capa. Na primeira página,
decorada artisticamente, foram explicitadas as orientações para a realização da atividade na
língua alvo, como se vê abaixo:
Nosy Notebook
Directions:
- Number on each sheet and answer the corresponding question. Your number on the first
page is the same until the last one.
- Write in English only.
- You must answer all the questions in order to have your job completed.
- This activity has pedagogical and research goals.
- Part of your score is made up through this activity.
A partir da segunda página, os alunos encontravam as perguntas que deviam responder
no topo da folha, sendo a primeira, a identificação, em que deviam colocar um número, na
sequência, sendo este o seu número de identificação até a última pergunta. Eram 30 questões,
versando sobre idade, número de telefone, lugar de origem, amizades, namoro, preferências
diversas, como comida e disciplinas escolares, sonhos e planos para o futuro, pessoas que
questões. Ao final, havia um espaço livre em que foram motivados a deixar uma mensagem
livre, direcionada ao docente e/ou aos colegas, também na língua alvo.
O docente manteve contato constante com os alunos-administradores, que tiveram o
período de um mês para fazerem circular os cadernos entre todos os alunos. Como foram dois
os cadernos por turma, o tempo tinha folga, para possíveis contratempos. E eles acontecem.
Um dos administradores, por distração ou descuido, deixou os cadernos que estavam
sob sua responsabilidade no balcão de atendimento do setor de registro escolar. Passando eu
por este setor, um servidor me abordou perguntando se aqueles cadernos eram meus, já que
havia percebido tratar-se de material de Língua Inglesa. Disse que sim e agradeci o cuidado
em procurar-me para realizar a devolução. Quanto ao aluno-administrador, esperei para ver
como ele iria se portar, aguardando que ele me procurasse para relatar o ocorrido. E ele assim
o fez, muito constrangido pela falta cometida. O docente o ouviu, acatou suas desculpas,
aconselhou para que fosse mais cuidadoso e pensasse numa estratégia para evitar que perdesse
outras coisas, como manter sempre tudo na mochila e, anunciou a ele a boa notícia de que um
dos servidores da secretaria havia encontrado o material. Ele recebeu novamente os cadernos,
como voto de confiança, prometendo ser mais zeloso.
De maneira geral, a atividade se desenvolveu sem problemas, com excelente aceitação
por parte dos alunos, que na verdade, apreciaram muito saberem da vida uns dois outros sem
precisarem serem eles os Nosy (bisbilhoteiros) diretamente. Na época em que os docentes
eram adolescentes, esta era a maior motivação para responder aos cadernos dessa natureza:
saber da vida dos outros. Mesmo hoje, com todos os recursos tecnológicos, como as redes
sociais, que servem como meio de exposição, muitas vezes excessiva da vida privada das
pessoas, os velhos e tradicionais cadernos, em sua simplicidade, não deixaram de ser
interessantes.
Todos os alunos, sem exceção, responderam aos cadernos, e na avaliação da atividade,
feita numa conversa com a turma no final do bimestre, eles partilharam que acharam muito
interessante. Alguns alunos relataram que comentaram com seus pais e parentes sobre a
atividade e estes mostraram-se surpresos em saber que ainda existem essas iniciativas e
houve, até mesmo um primo de um dos alunos, que não era aluno da escola, que respondeu ao
caderno, por livre e espontânea vontade.
Alguns alunos não se manifestarem oralmente na ocasião da avaliação da atividade,
mas deixaram mensagens positivas na seção do caderno destinada para as manifestações
livres. Aqui vale ressaltar que, por lapso do docente, uma das turmas não deixou nenhuma
houvesse uma motivação escrita para que os alunos escrevessem seus recados, sabendo que
eram 30 questões, não tiveram a curiosidade de folhear um pouco mais o caderno, limitando-
se às respostas das perguntas.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
NA CIDADE
Nesta seção, relataremos como a experiência com os Nosy Notebooks se deu numa
instituição rural pertencente a rede federal de educação: o Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – campus São Vicente. A referida instituição localiza-
se na região sul de Mato Grosso, no alto da Serra de São Vicente e, desde 1973, vem
contribuindo para a formação de Técnicos em Agropecuária, com ensino médio integrado ao
ensino técnico, bem como com cursos superiores tanto em sua sede, na Vila São Vicente da
Serra, bem como em seus núcleos avançados, nas cidades de Campo Verde e Jaciara, que
ficam, a primeira a cerca de 45 Km da sede do campus, e a segunda em torno de 60 Km. A
vocação do campus volta-se para os cursos ligados às atividades produtivas do campo, como o
curso Técnico em Agropecuária, e os cursos superiores de Agronomia e Zootecnia, mas
também se oferece a Licenciatura em Ciências da Natureza e Tecnologia em Análise e
Desenvolvimento de Sistemas.
A atividade que relatamos se realizou tendo como atores do processo os alunos do
segundo ano do curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio do ano de 2015,
num total de 71 alunos, divididos em duas turmas, A e B, sendo que a turma A contava com
34 alunos e a turma B com 37. Estas turmas tinham apenas uma aula de Inglês por semana, de
50 minutos. Os alunos, em sua maioria, eram meninos, e grande parte deles eram internos,
morando nos alojamentos da escola, já que suas famílias residem em diferentes partes do
estado e até mesmo em outros estados. Alguns eram residentes de cidades vizinhas como
Campo Verde e Jaciara ou de localidades rurais no entorno do campus, com destaque para o
Assentamento Rural de Santo Antônio da Fartura, projeto de reforma agrária do INCRA, que
se tornou um importante produtor de verduras e legumes, atendendo a região metropolitana de
Cuiabá.
Além das aulas do ensino médio comum, estes alunos tinham também aulas ligadas às
disciplinas técnicas, como avicultura, olericultura, ovinocultura, bovinocultura, administração
rural, entre outras, e ainda, envolviam-se em atividades de prática de manejo de animais e
culturas vegetais como parte curricular de sua formação. Havia também momentos de lazer
promovido por eles mesmo, reunidos com os amigos, em festas, atividades esportivas no
complexo esportivo do campus, rodas de viola etc.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Implementar esta atividade foi para nós algo bastante ousado, considerando que se
tratava de uma ideia ligada a uma brincadeira bastante antiga, aplicada a um público bastante
jovem e ávido por novidades. Mesmo assim, resolvemos encarar o desafio, como um teste,
uma experiência. E, constatamos que, mesmo sendo uma ideia de tempos idos, a recepção por
parte dos alunos foi melhor que esperávamos.
Em nossa avaliação, as atividades foram um sucesso, proporcionando o uso efetivo da
língua inglesa, numa atividade autêntica que conseguiu, de maneira simples, despertar o
interesse e a motivação dos alunos, que de forma lúdica usaram a língua estrangeira como
instrumento de comunicação, construindo significados.
A atividade aqui descrita constitui-se numa excelente oportunidade para que nossos
alunos estimulem sua criatividade ao produzir seus textos escritos, dentro de uma temática de
capitalismo, ressalta a importância da criatividade no processo de letramento dos jovens, que
pode proporcionar a eles que se sintam capazes de interagir melhor com um mundo em
constante transformação.
No caso da escola Paciana, além da prática pedagógica ao responderem aos cadernos,
os alunos diretamente ligados ao projeto viveram momentos ímpares de desenvolvimento
intelectual, de relações interpessoais, de negociação de meios para colocar a tarefa em prática,
enfim, desenvolveram saberes que vão muito além das habilidades linguísticas em Inglês.
Quanto aos alunos do IFMT, de maneira geral, puderam colocar em prática a língua de
maneira significativa, abordando assuntos de seu interesse, dentro de um universo muito caro
a eles. Desenvolveram senso de responsabilidade, cumprimento de prazos, noções de ética e
respeito ao próximo ao responderem e lerem as respostas dos outros, bem como compromisso
com a disciplina e com o desenvolvimento acadêmico deles. Por meio das mensagens escritas
livremente, alguns demonstraram gratidão por ser-lhes oportunizados ter uma visão de mundo
ampliada por meio do acesso à língua inglesa, tida como língua franca (PHILLIPSON, 1992)
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
DIAS, Maria Helena Moreira. O lugar do inglês na escola pública: (des)crenças de atores
da escola e da comunidade. Dissertação de mestrado. Cuiabá-MT: Universidade Federal de
Mato Grosso, 2006.
ERICKSON, F. Prefácio. In: COX, Maria. I. P.; ASSIS-PETERSON, Ana. A. (Org.). Cenas
da sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2001, p. 9-17.
FETTERMAN, David. Ethnography step by step. 2nd edition. Newbury Park, CA: Sage,
1998, p. 11-15.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
KRESS, Gunther. Literacy in the new media age. London: Routledge, 2010.
SEIDLHOFER, Barbara. Closing a conceptual gap: the case for a description of English
as a lingua franca. International Journal of Applied Linguistics, Oslo, v. 11, n. 2, p. 133-158,
2001.
SENTIDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALUNOS DO 1º
ANO DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO: DIAGNÓSTICO
INICIAL PARA UMA PESQUISA-AÇÃO
RESUMO
Esta pesquisa teve por objetivo diagnosticar os conhecimentos prévios sobre Educação Física
dos alunos dos 1º anos do ensino médio integrado ao técnico em agropecuária do IFMT –
campus São Vicente, especificamente sobre o que aprenderam nas aulas de Educação Física
do Ensino Fundamental e o que significa a Educação Física para eles. Este artigo é o recorte
de uma pesquisa de doutorado pautada na pesquisa-ação, em que apresentarei apenas os dados
referentes à aplicação de um questionário aberto aos alunos dos 1º anos, diagnóstico
primordial para o início da pesquisa. Para compreensão do sentido e significado das aulas de
Educação Física para os alunos, recorri aos conceitos propostos por Bernard Charlot sobre a
relação com o saber, compreendendo que as experiências são significativas para os alunos
quando eles estabelecem uma relação deste saber com o mundo, com ele mesmo e com o
outro. Os resultados apontaram que os alunos tiveram uma formação limitada em Educação
Física no Ensino Fundamental, sendo que a maioria não teve oportunidade de
conhecer/vivenciar conteúdos diversificados. Muitos também alegaram não terem apreendido
nada anteriormente. Ainda, que os significados da Educação Física atribuídos pelos alunos
são diversos, pois suas relações com o saber são ímpares, subjetivas e dependam das
experiências que tiveram. Estes dados confirmaram a necessidade da Educação Física
diversificar e contextualizar os seus conteúdos de ensino, oferecendo-os nas três dimensões,
através de práticas pedagógicas coerentes com o contexto atual da escola.
Palavras-chave: Prática pedagógica. Conteúdos da Educação Física. Relação com o saber.
1 INTRODUÇÃO
Refletir sobre questões recorrentes da Educação Física no Ensino Médio como falta de
interesse dos alunos, precarização deste nível de ensino ou o esporte como conteúdo
hegemônico, parece-me trivial e até mesmo banal, já que o Ensino Médio e o componente
curricular Educação Física vivem em “estado de crise”. Fensterseifer e González (2013)
partem da ideia de Hannah Arendt do “estado de crise”, ou seja, quando o sentido de algo não
é mais óbvio, para discutir os desafios da legitimação da Educação Física na escola
republicana.
Um entrave é que os alunos chegam ao ensino médio no IFMT – campus São Vicente
com uma bagagem de conhecimentos inconsistentes em Educação Física e confundindo o
componente curricular com recreação, lazer e esportes. É neste contexto que esta pesquisa se
insere e se justifica pela sua relevância social de produzir conhecimentos através de uma
pesquisa-ação construída a partir de uma tese de doutorado, que percorreu a construção do
processo de mudança e ressignificação da Educação Física para estes alunos do ensino médio.
Para tanto, neste texto apresentarei um recorte dos dados referentes ao diagnóstico inicial
realizado com os alunos dos 1º anos, primordial para o início da pesquisa-ação.
Assim, o objetivo desta pesquisa foi diagnosticar os conhecimentos prévios sobre
Educação Física dos alunos dos 1º anos do ensino médio integrado ao técnico em
agropecuária do IFMT – campus São Vicente, especificamente sobre o que aprenderam nas
aulas de Educação Física do Ensino Fundamental e o significado da Educação Física.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Não foi possível identificar nas respostas se no Ensino Fundamental os alunos tiveram
aulas em que foram discutidos os conceitos de saúde e se foram propostas discussões sobre o
assunto para que aprendessem sobre a importância de “praticar esportes” ou outros exercícios
para se manterem saudáveis; ou ainda, se estas respostas foram produtos de informações
retiradas do senso comum ou da própria mídia.
Da mesma forma, Cordovil e colaboradores (2015, p. 834) obtiveram respostas
semelhantes e concluíram que:
Há consenso de que o exercício físico faz bem para a saúde, muitas vezes,
respaldado pelo senso comum ou propagandas midiáticas, e neste caso, não
parece ser diferente. Aparentemente, ocorreu nas falas dos alunos a
reprodução do discurso hegemônico de ordem médica e higienista, em que
prevalece a ideia da utilização dos exercícios físicos para a promoção da
saúde, sem maior aprofundamento dos implicadores sociais, culturais e
econômicos sobre o assunto.
Existem diferenças que são apresentadas pelos jovens diante do saber e que
não se justificam, apenas, em função de alguma desmotivação do aluno ou,
então, pelo fato de ele ser preguiçoso. Trata-se, conforme argumenta Charlot
(2000), da relação entre o indivíduo e aquilo que tentam ensiná-lo. Como
vemos, em 24.2% respostas, os alunos (as) relataram que não aprendem
nada. O conteúdo da disciplina, ao mesmo tempo em que faz sentido para
alguns jovens, pode não fazer sentido para outros (como no caso do ensino
dos esportes). Assim, não aprender nada não significa que o professor nada
ensina, mas sim, que aquilo que ele ensina pode não estar fazendo sentido
para a aluna. (BUNGENSTAB; ALMEIDA, 2016, p. 162)
Nesta questão foi perguntado aos alunos “o que significa a Educação Física para
vocês?”, remetendo aos conceitos de sentido e significado atribuídos por Charlot (2000) e
Wogel (2014). Por se tratar, neste momento, de uma análise de questionário, talvez não seja
possível compreender de forma aprofundada as relações que os alunos estabeleceram com o
saber para produzirem os significados descritos aqui, pois este instrumento não me permite
aprofundar questões que geram dúvidas/interesses e, muitas vezes, os alunos não conseguem
transcrever nas respostas a um questionário suas reais percepções. As categorias obtidas
foram: saberes enunciados (13); dominar uma atividade (9); dominar uma relação (6); saberes
enunciados + dominar uma atividade (17); outras respostas (4).
O sentido da Educação Física está relacionado, em sua maioria, com os saberes-
enunciados e, também, com saberes-enunciados agregados ao domínio de atividades. Sobre os
saberes-enunciados, referentes à apropriação de um saber que não se possui, o “saber sobre”
ou “falar de”, observei respostas ligadas aos conceitos de saúde, exercícios físicos, estilo de
vida saudável, esportes, corpo humano e, principalmente, a utilização do verbo “conhecer” e
“aprender sobre”. Vejamos algumas respostas:
- Paulo 1E: Lazer, onde você aprende coisas onde você não sabia, e é
melhor matéria.
- Kauany 1E: Diversão e parceria
- Luiz 1B: Para mim eu acho que é uma aula de divertimento para se
conhecer melhor seu colega.
- Lua 1B: Significa ter força de vontade porque educação física não é só
praticar é uma matéria como outras.
A partir dos conceitos de Charlot (2000) foi possível olhar as respostas dos alunos com
mais positividade, constatando que mesmo quando o aluno afirma não aprender nada nas
significado para eles, pois é nestes “momentos de lazer” e “diversão” que se aprende a
relacionar-se com os outros, consigo mesmo e com o mundo. O aluno consegue garantir certo
controle de seu desenvolvimento pessoal (“ter força de vontade”) e estabelecer “parcerias” e
respeitar o colega mesmo que seja num jogo de “aula livre” (CHARLOT, 2000).
Longe de defender o desinvestimento pedagógico nas aulas de Educação Física, a
leitura positiva (CHARLOT, 2000) me faz pensar que não podemos dizer que o aluno “não
aprende” nada, mas precisamos investigar melhor as relações que foram estabelecidas por ele
consigo mesmo, com o outro (professor) e com o mundo (contexto das aulas de Educação
Física). Entretanto, continuo a sugerir a necessidade de uma ampliação e diversificação dos
conteúdos da área para que os alunos tenham oportunidade de construir experiências mais
significativas em suas aulas, construindo sentidos mais próximos dos objetivos pretendidos
para a Educação Física na escola.
Desta forma, uma minoria atribuiu à Educação Física o significado específico de
“dominar uma atividade”, relacionado a uma aula ou matéria prática e aos verbos “fazer”,
“jogar” e “praticar”, como as respostas a seguir:
- Renato 1E: A educação física para mim é uma aula onde nós trabalhamos
as musculaturas.
- Bruno 1E: Educação física é uma matéria para prática de esportes.
- Felipe 1B: Fazer atividades físicas.
- Welliton 1B: Jogar futsal, vôlei.
Para Wogel (2014, p. 31) “a compreensão tem a ver com a produção de significados,
que está intimamente ligada às culturas e às vivências dos sujeitos [...]”, o que fica muito
claro na resposta do Luan 1E: “Educação física, pelo que eu fiz é uma aula de esporte; creio
eu estar errado, mas foi isso que eu sei por experiência”. Outras quatro respostas ofertadas
pelos alunos, porém não consegui categorizá-las em nenhuma das relações com o saber
destacadas, já que não há referência direta a elas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este diagnóstico inicial sobre o que aprenderam e o que significa a Educação Física
para os alunos ingressantes nos 1º anos do curso técnico em Agropecuária foi primordial para
o início da pesquisa-ação, pois dependia destes dados para elaborar os planos de aula e
desenvolver a experiência pedagógica baseada nas teorias críticas da Educação Física escolar.
Percebi que os alunos tiveram uma formação limitada em Educação Física no Ensino
Fundamental, sendo que a maioria não teve oportunidade de conhecer/vivenciar conteúdos
diversificados. Mesmo aqueles que citaram a aprendizagem de temas diferentes dos esportes
coletivos tradicionais, se limitaram a anunciar um ou dois conteúdos a mais. Muitos, ainda,
alegaram não terem apreendido nada anteriormente. Estes dados confirmaram a necessidade
da Educação Física diversificar e contextualizar os seus conteúdos de ensino, oferecendo-os
nas três dimensões, através de práticas pedagógicas coerentes com o contexto atual da escola.
O aluno só pode atribuir significado àquilo que vivenciou, experimentou, conheceu.
Se, para ele, a Educação Física é “uma aula de esporte” é porque foi apenas o esporte que
conheceu, ou seja, a relação que estabeleceu com os saberes nas aulas do Ensino
Fundamental, com seu professor e colegas. Pude perceber, ainda, que os significados da
Educação Física atribuídos pelos alunos são diversos, pois suas relações com o saber são
ímpares, subjetivas.
REFERÊNCIAS
0
ALMEIDA, Rogério, Marques e colaboradores. A educação física em três campi do IFMT: do
saber instituído à prática pedagógica. Revista da Faculdade de Educação. Cáceres, MT, v.
20, n. 2, jul./dez., 2013, p. 35-54.
1
BUNGENSTAB, Gabriel Carvalho. ALMEIDA, Felipe Quintão de. Práticas corporais nas
escolas de ensino médio situadas em Vitória/Espírito Santo. Pensar a prática. Goiânia, GO,
v. 19, n. 1, jan./mar. 2016, p. 156- 168.
0
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre, RS:
Artes Médicas Sul, 2000.
CHARLOT, Bernard. Ensinar a educação física ou ajudar o aluno a aprender o seu corpo-
sujeito? In: DANTAS JUNIOR, H.; KUHN, R.; RIBEIRO, S. D. D. (orgs.). Educação física,
esporte e sociedade: temas emergentes. São Cristóvão: Editora da UFS, 2009.
2
CORDOVIL, Alenir de Pinho Romoaldo e colaboradores. O espaço da educação física na
escola: um estudo sobre os conteúdos das aulas no ensino médio. Pensar a prática. Goiânia,
GO, v. 18, n. 4, p. 834-847, out./dez. 2015.
3
FABRI, Eliane Isabel; ROSSI, Fernanda; FERREIRA, Lilian Aparecida. Episódios marcantes
das aulas de educação física: valorizando as experiências dos alunos por meio de narrativas.
Movimento. Porto Alegre, v. 22, n. 2, 583-596, abr./jun. de 2016.
RESUMO
Este artigo compara os resultados de dois festivais de arte e cultura - 2016 e 2017 -
promovidos pelo Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, campus Nova Andradina, enquanto
uma política intercultural efetiva na promoção de relações pedagógicas, dialógicas e criativas
na educação. Através da análise de duas pesquisas de satisfação realizadas com os
participantes de cada um dos eventos, somados às percepções através dos registros
fotográficos, e das observações durante os festivais. Os recursos para a realização dos
festivais foram disponibilizados através de editais para projetos de extensão da própria
instituição executora e permitiram a articulação de atrações artísticas e culturais variadas,
desde práticas circenses até apresentações de composições inéditas de violino, mostra de
desenhos e fotografias, oficina de modelagem em argila e peças teatrais. A participação da
comunidade escolar e sociedade civil nos festivais está na composição dos espetáculos,
oficinas e obras de arte e artesanato que foram produzidos por estudantes da instituição e de
instituições parceiras, pais de estudantes, comunidade do entorno e de municípios vizinhos,
sendo as palestras de abertura geralmente ministradas por pessoas convidadas que trouxeram
ideias novas e reflexões inusitadas. O trânsito de pessoas cresceu de quinhentas para
oitocentas pessoas no segundo evento. As respostas também se ampliaram e são elas que
indicam o comprometimento em fazer dos festivais espaços de interação, trocas de saberes,
criação e ensino aprendizagem, com a observação, descoberta, experimentação e expressões
culturais diversas.
Palavras-chave: Festivais. Diversidade Cultural. Políticas.
1 INTRODUÇÃO
Os Festivais de Arte e Cultura do IFMS - campus Nova Andradina são anuais e tem os
objetivos de permitir a interação social entre a comunidade acadêmica e o público externo por
meio da arte e da diversidade cultural, além de promover a acolhida de estudantes do campus
Nova Andradina organizando um ambiente no qual eles já se sintam parte da instituição, em
diálogo com estudantes de outras instituições parceiras e jovens do município e região,
fomentar a articulação entre os novos estudantes e os demais atores sociais do campus
(veteranos, docentes, técnicos-administrativos e servidores terceirizados), oferecer oficinas
artísticas e interdisciplinares no sentido de incentivar as atividades artísticas, oportunizar um
ambiente de contato e reconhecer as diferenças culturais e étnicas, além de reconhecer a
identidade local e o hibridismo inerente em nossas relações sociais e fronteiriças.
Desta forma, este artigo é composto de referencial teórico de autores que tratam da
interculturalidade e através de seu viés realiza comparação de resultados e análise de impactos
destes eventos examinando pesquisas de satisfação e fotografias dos dois eventos, ao
considerar a interação entre todos os atores sociais que se envolveram no planejamento,
execução e avaliação destas propostas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos,
lugares e imagens; pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e
pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades
se tornam desvinculadas - desalojadas - de tempos, lugares, histórias e
tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos confrontados
por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos faz apelos, ou
melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece
possível fazer uma escolha. (2006, p. 75)
Ao sermos confrontados por diferentes identidades, assumimos, inconscientemente,
uma atitude intercultural, nos espaços reais e virtuais, e sobre este fenômeno o teórico Néstor
García Canclini (1997) observa que as transformações culturais geradas pelas últimas
tecnologias e por mudanças na produção e circulação simbólica não são responsabilidade
exclusiva dos meios comunicacionais. Ele defende que no mundo atual não há como delimitar
o que é centro e o que é periferia, tudo depende da perspectiva e do lugar que o ator social
ocupa para tecer seu ponto de vista.
Através destes referenciais este projeto reconhece que, tanto os jovens estudantes
matriculados no campus como servidores e comunidade são seres multifacetados e híbridos,
contendo um pouco de toda cultura produzida pela história da humanidade. Nestes eventos,
propõem-se que a partir da produção cultural e artística possa se receber as pessoas, conectá-
las de forma saudável e inspiradora, apresentando através de mostra fotográfica e audiovisual,
leitura dramática de poesias, dança, teatro, teatro de bonecos, exposição de pinturas e
esculturas, oficinas que contemplem as culturas indígenas e africanas, entre outras, e a própria
vivência intercultural que servidores, comunidade e demais alunos dispõem.
O público objetivo do instituto é em sua maioria composto por jovens, que de acordo
com o Estatuto da Juventude (2013), corresponde aqueles que estão entre 15 e 29 anos. Uma
das principais reivindicações deste grupo é o acesso a lazer e entretenimento. Inclusive o
estatuto, na seção VI, artigo 21, apresenta a seguinte redação: O jovem tem direito à cultura,
incluindo a livre criação, o acesso aos bens e serviços culturais e a participação nas decisões
de política cultural, à identidade e diversidade cultural e à memória social.
Para atender este compromisso legal é preciso criar espaços de convivência nos quais a
imaginação e a diversidade cultural sejam centrais nas relações entre as pessoas. Um evento
agregador como este pode gerar impactos sociais positivos na juventude envolvida, na
produção cultural e valorização da arte de vários setores, artistas e grupos sociais locais e,
desta forma, contemplar o lugar social e político que a instituição escola deve estar.
O segundo festival aconteceu nos dias nove a onze de agosto de 2017 e começou com
a apresentação dos recém formados grupos de teatro e dança do IFMS-NA: IfenceNA e
IFdance, orientados por professoras do campus com o tema: Sonhos Shakespearianos em
Mato Grosso do Sul.
Figura 2 - Peça teatral apresentada na abertura do II Festival. Fotografia: Ana Clara Oliveira
Souza Carvalho. Local: Câmara Municipal de Nova Andradina. Data: 09/08/2017.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quadro 1 - Quadro demonstrativo do meio pelo qual os participantes do evento relataram ter
ciência do mesmo.
Péssimo 2,9% 0%
Regular 1,5% 1%
Pode-se dizer que houve uma melhora na percepção do público sobre a infraestrutura
utilizada no evento, isto talvez se deva, em parte, ao acréscimo de recurso disponibilizado ao
festival que passou de dez mil para o ano de 2016 para doze mil referente ao ano de 2017.
Infelizmente em 2018 nós temos disponível apenas sete mil, haja vista o corte de recursos em
nível federal para os IF’s como um todo. Com relação à organização do evento - atendimento
prestado antes e durante o evento: informações, inscrições, recepção, certificação e
cordialidade, o público apresentou o seguinte resultado:
Péssimo 2,9% 0%
Regular 5,9% 1%
Péssimo
1,5% 0%
Regular
7,4% 5%
Bom
10,3% 5%
Ótimo
20,6% 24,8%
Excelente
60,3% 65,3%
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BRASIL. Estatuto da juventude. Lei nº 12.952, 5 de agosto de 2013.
CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas, poderes oblíquos. São Paulo: EDUSP, 1997.
CARVALHO, Maria Eunice Alves de. Das falsas promessas às novas esperanças: a presença
indígena Ofayé no Mato Grosso do Sul. Nova Andradina: UFMS. Trabalho de Conclusão de
Curso. (Graduação em História) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2010.