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O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: pobreza como foco e seus reflexos na sociedade.

Valtemar de Andrade Braga1


RESUMO
Discorre-se sobre a categoria teórica pobreza vista como
justificativa para criação e implementação do Programa
Bolsa Família (PBF), destacando suas variadas formas de
abordagens, das diversas perspectivas teóricas e de
formulações estudadas por vários autores e grupos
sociais. A pobreza não pode ser vista apenas pelo viés da
renda, pois abrange aspectos políticos, culturais e
conjunturais. Para melhor entendê-la, foram apresentados
diversos conceitos e opiniões de variados autores que se
dedicaram a estudar o assunto e seus impactos na
sociedade. Conclui-se através da pesquisa bibliográfica
empreendida que o Programa Bolsa Família tem como
foco a pobreza, cujos objetivos básicos são combater a
miséria e a exclusão social e promover a emancipação das
famílias pobres e extremamente pobres.

Palavras-chave: Pobreza, Desigualdade, Programa Bolsa


Família.

ABSTRACT

It discusses the theoretical category of poverty as a


justification for the creation and implementation of the Bolsa
Família Program (PBF), highlighting its varied approaches,
theoretical perspectives and formulations studied by
various authors and social groups. Poverty can not be seen
only by the income bias, since it covers political, cultural and
conjunctural aspects. To better understand it, several
concepts and opinions were presented by various authors
who dedicated themselves to studying the subject and its
impacts on society. It is concluded through the
bibliographical research undertaken that the Bolsa Família
Program focuses on poverty, whose basic objectives are to
combat poverty and social exclusion and to promote the
emancipation of poor and extremely poor families.

Keywords: Poverty, Inequality, Bolsa Família Program.

1
Ciências Contábeis. Doutor. Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: valmarbraga@bol.com.br
I INTRODUÇÃO

O Brasil convive com problemas típicos de país subdesenvolvido ou


caminhando lentamente para o desenvolvimento, onde ganha destaque o nível de
pobreza e de miséria enfrentado por uma parcela significativa da população. Segundo
o Censo Demográfico de 2010, 16,2 milhões de brasileiros tinham renda familiar de
até R$ 70,00 por pessoa, bem como elevado contingente de analfabetos. Conforme
dados publicados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO2) em janeiro de 2014, havia 12,9 milhões de analfabetos com
15 anos ou mais, fato este que colocava o Brasil como oitavo país do mundo com
maior taxa de analfabetismo entre adultos.
Em termos de emprego, a situação brasileira também é crítica. Pelas
informações da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua (PNAD-
Contínua3), a taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2014 ficou em 7,1%,
correspondendo a 7 milhões de pessoas desocupadas (IBGE, 2014). Dados mais
recentes revelaram que o Brasil encerrou o ano de 2016 com 12,3 milhões de
desempregados correspondendo a uma taxa de 12% da população economicamente
ativa no quarto trimestre de 2016, conforme dados da pesquisa PNAD Contínua
divulgados pelo IBGE, no dia 31 de janeiro de 20174 (IBGE, 2017). Pode-se atribuir
essa elevação da taxa de desemprego a diversos fatores relacionados com a falta de
governabilidade da Presidenta Dilma Rousseff, juros elevados, crescimento dos
índices inflacionários, enfim crises econômica e política. Esses problemas
provocaram forte recessão da economia levando o Produto Interno Bruto (PIB) a
apresentar retração de 3,6% no final do mesmo ano. O Brasil convive também com
denúncias frequentes de casos de corrupção envolvendo empresas, políticos,
ministros, empresários etc.

2
Os dados constam do 11º Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, divulgado pela UNESCO,
em 29 de janeiro de 2014.
3
A PNAD-Contínua substituiu a PNAD Anual e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Trata-se de uma pesquisa
mais abrangente: enquanto a PME reúne dados de seis regiões metropolitanas, a PNAD Contínua traz o cenário
do emprego em quase 3,5 mil municípios (AZEVEDO, 2014 apud CARDOSO, 2014).
4
http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-01/desemprego-atinge-123-milhoes-de-pessoas-e-e-
maior-taxa-desde-2012.
O Brasil tem problemas graves de segurança pública. É elevada a quantidade
de roubos e furtos, acidentes de carros, homicídios e violência contra a mulher. Dados
do Mapa da Violência 2014, revelaram que, em 2012, 56.337 pessoas perderam a
vida assassinadas, num aumento de 7% sobre 2011 (WAISELFISZ, 2014, p. 24).
Levantamentos mais recentes (de 2016) revelaram que em 2014 mais 59,5 mil
pessoas perderam a vida através de mortes violentas5 (OLIVEIRA, 2016).
A assistência médica prestada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) também
não é eficiente, sendo constantes das denúncias na mídia de pessoas sem
atendimento ou mal atendidas nos hospitais públicos brasileiros de todas as regiões.
Segundo os números do Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário
(MDS), em dezembro de 2016 o Brasil possuía 24.456.063 famílias inscritas no
Cadastro Único dos Programas Sociais (CadÚnico), o que correspondia a 77.878.526
pessoas cadastradas. A distribuição das famílias conforme a renda mensal declarada
era: a) 11.720.302 com renda per capita familiar de até R$ 85,00; b) 3.849.178 com
renda entre R$ 85,01 a 170,00; c) 5.841.322 entre R$ 170,01 e meio salário mínimo;
e d) 5.042.251 com renda acima de meio salário mínimo. O Programa Bolsa Família
(PBF) beneficiou no mês de fevereiro de 2017, 13.660.175 famílias, que receberam
benefício médios de R$ 179,62. O valor total transferido pelo governo federal em
benefícios às famílias alcançou R$ 2.453.677.326,00 (BRASIL, 2017).

II CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

O Programa Bolsa Família (PBF) constitui-se atualmente no maior programa


de transferência de renda direta do Sistema de Proteção Social no Brasil, beneficiando
em fevereiro de 2017, mais de 13,6 milhões de famílias em situação de pobreza e
extrema pobreza, distribuídas nos 5.570 municípios e no Distrito Federal. Foi instituído
pela MP nº 132, de 20 de outubro de 2003, convertida na Lei nº 10.836, de 9 de janeiro
de 2004, regulamentada pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004.
Concebido como uma política intersetorial e instituído no âmbito da Estratégia Fome

5
http://oglobo.globo.com/brasil/mapa-da-violencia-2016-mostra-recorde-de-homicidios-no-brasil-18931627
Zero para unificação de quatro Programas de Transferência de Renda (PTR)6. A partir
de 2011 passou a ser um dos eixos estratégicos de transferência de renda dentro do
Plano Brasil Sem Miséria (PBSM).
A característica principal do PBF é a articulação entre a transferência monetária
e o acesso a direitos sociais básicos, como saúde, alimentação, educação e
assistência social tendo como objetivos básicos combater a miséria e a exclusão
social e promover a emancipação das famílias mais pobres (WEISSHEIMER, 2006).
O PBF tem um papel importante no contexto social e econômico, porque
representa um fluxo de renda contínuo e regular, ajudando a população de baixa renda
a manter ou mesmo a melhorar o nível de vida, bem como estimula a demanda,
promovendo o comércio e o desenvolvimento local, pois os recursos do Bolsa Família,
apesar de representarem menos de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro,
contribuem para que as pessoas possam consumir mais, comprar mais, e esse fluxo
estimula o desenvolvimento econômico. Nesse contexto, baseados em diversos
estudos realizados, atesta-se que o programa brasileiro é um exemplo capaz de
amenizar a fome, melhorar a escolaridade e a assistência à saúde devido às
condicionalidades impostas para ter acesso ao benefício. É salutar a adoção de
semelhante política por parte de outros países, haja vista seus efeitos indiretos como
queda da mortalidade e desnutrição infantis, a emancipação da mulher e a redução
da violência conjugal, além da melhoria dos indicadores da educação, redução do
analfabetismo e aumento da longevidade.
Os programas sociais implementados no Brasil têm historicamente
apresentado êxito limitado no que se refere ao alcance das populações a que se
destinam. Entretanto, a focalização do PBF nas famílias pobres e extremamente
pobres tem apresentado avanços significativos quanto ao atendimento desse público-
alvo.

III A POBREZA COMO FOCO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

6A proposta de criação procedeu à unificação de quatro programas de transferência de renda do


governo federal: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás e “Cartão Alimentação”, incorporando,
posteriormente, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).
Pobreza é um fenômeno complexo, estrutural e multidimensional. Segundo os
estudos de Silva et. al. (2014), pode-se dizer que a pobreza seja um produto da
exploração que marca a acumulação capitalista, indo além da mera insuficiência de
renda, pois expressa desigualdade na distribuição da riqueza socialmente produzida;
não acesso a serviços básicos, à informação, ao trabalho e renda dignos e não
participação social e política (SILVA, 2002). Nesse sentido, Codes (2008, p. 24-25),
afirma que
[...] o fato de a linha que separa ricos de pobres não concernir somente à renda,
mas igualmente a diversos elementos – como saúde, educação, habitação, direitos
econômicos e sociais, igualdade entre sexos, participação econômica e política,
liberdades políticas etc. – abre novas perspectivas de análises.

É por essa abrangência que autores como Araújo (2007), Codes (2008), Sen
(2000), Silva (2002), Yazbeck (1995) apresentam pensamentos ora semelhantes, ora
diferentes, para analisar e caracterizar a pobreza. As Ciências Sociais construíram
análises sustentadas por abordagens que veem a pobreza tanto pelo aspecto
econômico, quanto pelo político. No aspecto econômico, relaciona-se à privação
material, motivada principalmente pela insuficiência de renda e pela carência de
direitos sociais e no político à “ausência de consciência de classe”, o que dificulta a
formação de uma criticidade contrária à postura das classes dominantes (ARAÚJO,
2007, p. 44). Assim,
[...] a pobreza precisa ser considerada como uma categoria histórica e socialmente
construída, a fim de que a mesma não seja tomada como um fenômeno natural,
expresso por uma única concepção, em geral legitimada pelo pensamento
dominante (ARAÚJO, 2007, p. 44).

A pobreza é vista como privação a padrões de vida prevalentes, considerados


normais dentro de uma determinada formação social e que afeta a relação com o
direito e a cidadania (ARAÚJO, 2007, p. 12). Yazbek aborda a pobreza como
expressão direta das relações vigentes na sociedade, identificando-a no âmbito das
questões constitutivas de um padrão de desenvolvimento capitalista extremamente
desigual, em que convivem acumulação e miséria, tal que tratar dos socialmente
considerados pobres é penetrar num mundo de dimensões insuspeitadas, “marcado
pela subalternidade, pela revolta silenciosa, pela humilhação, pela fadiga, pela crença
na felicidade das gerações futuras, pela alienação, pela resistência e pelas estratégias
para melhor sobreviver” (YAZBEK, 1995, p. 217).
Deve considerar-se que variadas abordagens sobre a pobreza decorrem de
diversas perspectivas teóricas e de formulações estudadas por alguns grupos sociais
conforme Silva (2002, p. 74),
[...] não se pode falar de solidez e estabilidade do conceito de pobreza no tempo e
no espaço, sendo ilusório pensar uma definição “científica”, objetiva e universal. O
que se identifica, na literatura, são conceitos desenvolvidos por grupos sociais a
partir de uma concepção sobre a realidade social, o que significa que o
conhecimento da pobreza só existe através de representações dominantes e
contraditórias em confronto, numa dada sociedade, num determinado momento
histórico.

Complementa a autora admitindo, portanto, que são pressupostos da pobreza:


“carência, escassez de meios de subsistência, falta de alguma coisa (pobreza
absoluta) ou desvantagem em relação a um padrão ou nível de vida dominante
(pobreza relativa)” (SILVA, 2002, p. 74). Um estudo da pobreza desenvolvido por um
grupo de pesquisadoras para análise e problematização do PBF considera que o
enfoque apenas pelo viés economicista não explica o fenômeno na plenitude,
necessitando a pobreza de ser abordada por uma perspectiva estrutural totalizante,
vista como uma das manifestações da questão social. Nesse caso, é ela uma
decorrência das relações que ocorrem na sociedade, focalizando-se no “âmbito de um
padrão de desenvolvimento capitalista, extremamente desigual, em que convivem
acumulação e miséria” (SILVA et. al. 2014, p. 28).
Dessa relação entre acumulação e miséria surgem as pessoas consideradas
pobres e que “produzem e reproduzem a desigualdade no plano social, político,
econômico e cultural e definem para eles um lugar na sociedade” (SILVA et. al., 2014,
p. 28). Nesse lugar, os pobres são desqualificados por causa de suas crenças, do
modo de se comunicar, do seu comportamento, fatores que lhes rendem qualidades
negativas e indesejáveis devido à sua procedência de classe e sua condição social.
É por isso que Yazbek (2009, p. 73) assinala que a noção de pobreza é ampla,
ambígua e supõe gradações,
[...] os critérios, ainda que não homogêneos e marcados por viés economicista,
acabam por convergir na definição de que são pobres aqueles que, de modo
temporário ou permanente, não têm acesso a um mínimo de bens e recursos, sendo,
portanto excluídos, em graus diferenciados, da riqueza social.
A pobreza não se limita ao conceito de baixa renda ou de escassez de bens
materiais. Como “a pobreza é expressão direta das relações sociais vigentes na
sociedade, visto que ela alcança o plano espiritual, moral e político dos indivíduos
submetidos aos problemas de sobrevivência” (YAZBEK, 2009, p. 74), revela-se uma
categoria multidimensional, porque envolve aspectos políticos, econômicos e
culturais.
Para Martins (apud YAZBEK, 2009, p. 74), “a pobreza, muito mais que falta de
comida e de habitação, é carência de direitos, de possibilidades, de esperança”, sendo
vergonhosa essa forma de pobreza, a pobreza de direitos. Yazbek (2009, p. 72)
complementa:
A violência da pobreza constitui parte de nossa experiência diária na sociedade
brasileira contemporânea. Os impactos destrutivos do sistema vão deixando
marcas exteriores sobre a população empobrecida: o aviltamento do trabalho, o
desemprego, a debilidade da saúde, o desconforto, a moradia precária e insalubre,
a alimentação insuficiente, a ignorância, a fadiga, a resignação, são alguns sinais
que anunciam os limites da condição de vida dos excluídos e subalternizados da
sociedade.

A pobreza é, pois, um dos componentes da questão social, abrangente e


complexa, cuja determinação principal é de natureza estrutural e demanda medidas
de intervenção nos campos econômico e social. Não é um fenômeno natural, porque
se insere na vida social, numa condição de classe e, por isso, é uma categoria política,
complexa, histórica e socialmente construída (SILVA et. al., 2014, p. 29).
No caso brasileiro, a pobreza tem como uma de suas principais determinações
a extrema desigualdade decorrente da grande concentração de renda, uma das
maiores do mundo. O comportamento atual do mundo capitalista atingiu a esfera da
produção e do mercado de trabalho, o que, combinado com a hegemonia liberal-
financeira, aumenta tanto a desigualdade quanto a concentração de renda. Para
Telles (1993, apud SILVA et. al., 2014, p. 30),
[...] o pauperismo está inscrito nas regras que organizam a vida social. É isso que
permite dizer que a pobreza não é apenas uma condição de carência, passível de
ser medida por indicadores sociais. É antes de mais nada uma condição de
privação de direitos, que define formas de existência e modos de sociabilidade.

Assim, abordar as pessoas chamadas pobres pela sociedade “é penetrar num


universo de dimensões insuspeitadas”, de sorte que apesar da renda se configurar
como peça fundamental “[...] para a identificação da pobreza, o acesso a bens,
recursos e serviços sociais, ao lado de outros meios complementares de
sobrevivência, precisam ser considerados, para definir situações de pobreza” (SILVA
et. al., 2014, p. 30). Freire (1988, apud SILVA et. al., 2014, p. 30) admite que a
humanidade é constituída de uma grande parcela de “[...] gente explorada, enganada,
iludida, massacrada, gente andarilhando por aí, à procura de um sítio onde parar,
trabalhar, descansar o corpo, dormir, sobreviver”, pessoas que formam longas filas
“[...] para receber os benefícios: uma cesta, um saco de leite, uma consulta, um lugar
no ônibus para ir ou voltar do trabalho, para obter um documento, para conseguir um
emprego, reivindicar um direito”.
Vendo a pobreza por esse ângulo, compreende-se que muitos problemas da
sociedade decorrem da falta de acesso a direitos básicos7. As políticas públicas
aparecem, então, como estratégias utilizadas para amenizar ou eliminar os efeitos
danosos causados pela pobreza e reduzir as desigualdades sócio territoriais (KOGA;
NAKANO, 2006).
No Brasil, a pobreza é parte integrante de uma história, com tradição
oligárquica e autoritária em que os direitos não são respeitados nem na esfera
econômica nem na política, constituindo, assim, “uma sociedade de extremas
desigualdades e assimetrias” (TELLES, 1993; YAZBEK, 2009, apud SILVA et. al.,
2014, p. 30). Nessa perspectiva, Silva (2010) se refere à pobreza contemporânea
como decorrente do sistema capitalista, que sempre busca o máximo de lucro,
tornando-se um processo gerador de desigualdade social.
O debate sobre a pobreza ganha destaque devido à crise contemporânea do
capitalismo, no âmbito “[...] da espoliação, contraponto da acumulação” uma vez que
os novos modelos de organização da vida social têm excluído “[...] do cenário a
construção de direitos sociais universais”, atualmente “[...] considerados indesejáveis
e responsáveis pela crise”. Surge, assim, a figura do trabalhador pobre como objeto
“[...] de políticas sociais minimalistas e focalizadas” (SILVA et. al., 2014, p. 31), o que
[...] certamente recolocará a categoria pobreza como central para entender a
realidade e para construirmos críticas consistentes aos programas que são
desenvolvidos para responder às demandas sociais da classe trabalhadora
empobrecida e subalternizada, lugar em que situamos o PBF (SILVA et. al., 2014b,
p. 31).

7 “[...] São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição” (Constituição Federal, art. 6º).
Por conseguinte, as referências indicadas, apontam para a complexidade, a
historicidade e a multidimensionalidade da pobreza, na verdade um produto da forma
como a sociedade se organiza para produzir e distribuir a riqueza acumulada o que
gera dois polos opostos: pobreza e riqueza.

IV CONCLUSÃO

As conclusões que se chega ao final desta pesquisa é que a categoria pobreza


é um fenômeno complexo, estrutural e multidimensional. A separação entre o rico e o
pobre não concerne apenas à renda. Existem outros elementos também relevantes
nesse sentido, como os relacionados à saúde, educação, habitação, direitos
econômicos e sociais, igualdade entre sexos, participação econômica e política,
liberdades políticas etc. (CODES, 2008, p. 24-25). Nessa perspectiva, segundo Silva
(2002, p. 74), são considerados pressupostos da pobreza: carência, escassez de
meios de subsistência, falta de alguma coisa (pobreza absoluta) ou desvantagem em
relação a um padrão ou nível de vida dominante (pobreza relativa). Nesse caso, a
pobreza é uma decorrência das relações que ocorrem na sociedade, focalizando-se
no âmbito de um padrão de desenvolvimento capitalista, extremamente desigual, em
que convivem acumulação e miséria.
Portanto, a pobreza não se limita apenas ao conceito de baixa renda ou
escassez de bens materiais. Pois, a pobreza é também expressão direta das relações
sociais vigentes na sociedade, visto que ela alcança o plano espiritual, moral e político
dos indivíduos submetidos aos problemas de sobrevivência e revela-se uma categoria
multidimensional, porque envolve aspectos políticos, econômicos e culturais
(YAZBEK, 2009, p. 74). Sendo assim, a pobreza não é apenas uma condição de
carência, passível de ser medida por indicadores sociais. É antes de mais nada uma
condição de privação de direitos, que define formas de existência e modos de
sociabilidade. Um estudo da pobreza desenvolvido por um grupo de pesquisadores
para análise e problematização do PBF considera que o enfoque apenas pelo viés
economicista não explica o fenômeno na sua plenitude.
No caso brasileiro, a pobreza tem como uma de suas principais determinações
a extrema desigualdade decorrente da grande concentração de renda, uma das
maiores do mundo. Consequências disso, o país apresenta nível elevado de
analfabetismo, elevada taxa de desemprego, altos índices de assassinatos, violência
contra a mulher, tráfico de drogas, precária assistência à saúde, muitos casos de
corrupção etc.
O Programa Bolsa Família foi implantado num momento em que muitas famílias
passavam fome e por isso, tem um papel importante no contexto social e econômico,
porque representa um fluxo de renda contínuo e regular, ajudando a população de
baixa renda a manter ou mesmo a melhorar o nível de vida, bem como estimula a
demanda, promovendo o comércio e o desenvolvimento local, pois os recursos do
PBF, apesar de representarem um baixo percentual em relação ao PIB brasileiro,
contribuem para que as pessoas possam consumir mais, comprar mais e isso
retroalimenta o crescimento econômica e social. Pela sua principal característica de
articulação entre transferência monetária e o acesso a direitos sociais básicos, como
saúde, alimentação, educação e assistência social, o programa ganha relevância e
fortalece seus objetivos básicos de combater a miséria e a exclusão social e promover
a emancipação das famílias mais pobres.
Acredita-se que o PBF tenha surgindo como uma ação social merecedora do
recolhimento da sociedade, pelo seu caráter filantrópico, mas necessário para diminuir
o sofrimento daquelas pessoas que não dispunham de recursos suficientes, para
oferecer à família alimentos suficientes para uma vida digna e humana. Também pelos
seus efeitos positivos refletidos na melhoria do nível de escolaridade e assistência à
saúde das mães e das crianças pobres.

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