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Citações de Agustina Bessa-Luís

“Meu Amigo
(...)
Eu acho que sou um fracasso como amiga de alguém, não só me esqueço das datas históricas como me esqueço de ter uma alma nobre de acordo com circunstâncias certas; sou muitas vezes velhaca e
desagradável com esta cara de amiga que você conhece, e aproveito sempre para ofender os momentos em que não seria possível desistir. Veja lá como eu sou. Mas apesar disso, tenho a quase desgraça de não
saber o que é o ódio, e digo desgraça porque o ódio fixa muito um carácter e se há alguém mais desastrada em ter carácter sou eu. Aqui está.
(...)
Maria Agustina
Porto, 6 de Dezembro de 1956”
Correspondência Agustina-Régio (1955-1968), Guimarães Ed., 2014, p. 36
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“Nunca encontrarás aquela alma que assiste aos ventos e ao tear da tua alma, que te advirta os silêncios místicos, as dores, as feridas, os deslumbramentos, os triunfos sem glória, as mentiras por sublimidade, a
negação por santo temor de ofender, a morte e a lágrima, o que acontece nos abismos do ser sem ter correspondência e nome de baptismo, o que se oferece sem que tenha jamais voz, o que se faz retornar ao
fundo sem que se converta em flor.”
O Susto, Guimarães Ed., 1958, p. 100
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“Os continentes são como barcas ancoradas onde os homens cultivam as suas raízes – e delas tecem mitos e delas se desprendem sentimentos de orgulho e de fervor dinâmico. Que estendam pelo universo os
seus laços, deixando intactos porém os pássaros e as paisagens que em cada criatura se recolheram e deram lugar a uma alma nativa, a um cidadão do seu horizonte, a um pequeno rei que preside à infância e às
revelações da vida.”
Embaixada a Calígula, Liv. Bertrand, 1961 (Guimarães Ed., 2009, p. 156)
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“Se os poetas se calassem subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitória, com a
mansidão das coisas estéreis.”
Longos Dias Têm Cem Anos – Presença de Vieira da Silva, INCM, 1982, pp. 71-72
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“Desde criança que me apercebi que o medo era o grande mistério. Era o caminho para o poder. Refiro-me à noção de poder que é dada numa família em que o rapaz está votado a um triunfo de qualquer
maneira, às vezes exigente demais para as forças que tem, e a menina vive mais na sombra. O que me facilitou, em muitos aspectos: lia tudo o que me chegava às mãos e sem ninguém se aperceber. (...) A paixão
não precisa de motivo. A pessoa vive a paixão que existe em si mesma. Os gregos diziam que Eros tinha duas setas diferentes, uma de chumbo e outra de ouro. A pessoa atingida pela primeira sofria a paixão, a
pessoa atingida pela segunda era o objecto da paixão. Eram duas formas de a paixão ser vivida. O que há de mais enigmático na natureza humana parte daí.”
Em conversa com Anabela Mota Ribeiro, em 2003
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“Nasci escritora e tenho o gosto da escrita. (...) Vejo um papel em branco e apetece-me escrever. (...) Sou uma pessoa perigosa, não diria uma mulher perigosa. Sou perigosa na medida em que conheço
profundamente a natureza humana. E isso é um perigo. (...) Na medida em que os grandes escritores – e eu sou uma grande escritora – são elitistas, quando são lidos por um grande número de pessoas, é por
arrastamento. Porque o seu nome já atingiu uma dimensão grande. Nós não vemos nenhum grande escritor que não seja elitista. (...)[Considero-me uma grande escritora] desde os 12 anos, ou coisa assim (risos).
Porque isso ou é muito cedo ou nunca é. (...) quando eu tinha 12 anos, eu lia muito a Bíblia. (...) Nessa altura, li a história do Salomão. Aos 12 anos, era um menino de tal modo dotado que Deus lhe disse: ‘O
que é que tu queres?’ Ele respondeu que queria distinguir o Bem do Mal. (...) Então pedi a mesma coisa.”
Andréia A. Soares (Público) e Paulo Magalhães (R. Renascença) conversam com Agustina, em 2004
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“É um visionário. O seu lado obscuro desconcerta; o seu lado grave converte-se em humor para não ser apercebido. Eu aparento Manoel de Oliveira àqueles poetas saudosos que tivemos; Bernardim foi um
deles, outro o cavaleiro Francisco Manuel de Melo. Vou dizer porquê. Porque em todos há mais determinação de fazer obra sua, do que voz do mundo.
*Como um Bergman ou um Dreyer, ficará para sempre um mistério para os seus contemporâneos. Umas vezes é subtil, outras é sarcástico, raramente é amoroso e abandonado a um sentimento terno.
Abandona-se à perfeição e nada mais. Há nele um empenho de contradição, o que faz a força da sua obra tão variada, tão inesperada e tão controversa.”
Dicionário Imperfeito (Oliveira, Manoel de), Guimarães Ed., 2008, p. 203
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“O feudal punha toda a sua renúncia numa gravata que não usaria num casamento de província. A sua maior ambição é a de ir para a capital quando o citadino já lhe tinha marcado o bilhete de regresso. Seria
sempre um estranho na Assembleia e um desgraçado no restaurante onde todos se conhecem e o criado sabe os gostos de cada um. Só ele não está informado dos dias em que se come cozido ou há carapaus
fritos com arroz de grelos. Pensava ir comer empada e ‘vol-au-vent’, e sai-lhe bacalhau com grão, que ele detesta. Mas sentar-se à mesa com um ministro vale bem um amargo de boca.”
A Ronda da Noite, Guimarães Ed., 2006 (Relógio d’Água, 2017, p. 194)

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