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As origens do Mutualismo

As associações de socorros mútuos surgiram em Inglaterra no século XVIII com o nome


de friendly societies (associações de amizade). Elas eram criadas por trabalhadores que
se quotizavam livremente para fazer face aos riscos sociais a que estavam sujeitos e,
muito em especial, à doenca, à velhice e à morte. O socorro mútuo ou mutualidade foi,
durante algum tempo, uma característica e uma finalidade do movimento operário.

Em Inglaterra, a lei distinguiu relativamente cedo as associações de socorros mútuos,


que eram protegidas, e os sindicatos (unions) que eram perseguidos. A ideia do
mutualismo teve reflexos em França, mas, ao abrigo da famosa Lei Le Chapelier, as
associações de socorros mútuos foram inicialmente proibidas. Dc qualquer modo, elas
vieram a ser toleradas e legalizadas em França antes dos sindicatos, embora tivessem
estado durante algum tempo sujeitas a um regime de estreita tutela.

Em Portugal, o mutualismo começou nos finais do século XVIII ou, na tese de Costa
Goodolphim, precisamente em 1807. Numa ou noutra hipótese, as nossas primeiras
associações de socorros mútuos adoptaram o nome de montepios. Sabemos infelizmente
demasiado pouco a respeito das nossas instituições e continua por fazer a história do
movimento mutualista entre nós. A escolha do nome de montepios não está sequer
suficientemente esclarecida. A palavra, cuja origem parece ter sido a expressão italiana
monte di pietá, designou no século XVI organismos que prosseguiam simultaneamente
fins de crédito e de entreajuda ou beneficência. Quando acabou o século XVIII ou
começou o século XIX, ela passou a designar as primeiras instituições que entre nós
correspondiam às friendly societies ou em França, às associations fraternelles ou
sociétés de secours mutuels. O termo montepio alternava na denominação das
instituições com outros termos ou expressões, como associação fraternal, associação
de socorros ou simplesmente associação.

As primeiras instituições que se intitularam formalmente como associações de socorros


mútuos terão sido provavelmente a Associação de Socorros Mútuos dos Artistas
Bejenses e a Associação de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas (Porto), ambas
criadas em 1856. Esta designação acabou por se impor, tendo sido adoptada pela
linguagem legal no último vinténio do século.

O nosso movimento mutualista durante o século XIX foi simultaneamente impulsionado


por diversas forças. Até ao início da influência da 1ª Internacional, o movimento
mutualista coincidiu entre nós largamente com o movimento associativo e os ideais
mutualistas foram a principal fonte de inspiração do associativismo. O movimento
associativo só assumiu uma expressão ideológica depois da Revolução de 1848, que se
reflectiu no aparecimento do Eco dos Operários (1850) e na criação do Centro
Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas (1852). A associação era encarada
como uma panaceia universal, capaz de curar todos os males sociais, como o modo
único e verdadeiro de realizar os fins importantes da sociedade como «a nova alavanca
da actividade humana», como a estrela radiosa que iria guiar «ao porto comum da sal-
vação os náufragos perdidos no oceano das guerras fratricidas».

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O movimento associativo manifestou-se entre nós sob diferentes formas. Houve, por um
lado, um associativismo que agrupava os operários e, por outro lado, um associativismo
burguês (e mais seguramente pequeno-burguês), que estava aberto a todas as classes.
Daí que tivessem sido criados montepios que eram associações operárias, a par de
outros que não tinham essa natureza. As associações operárias que restringiam a
admissão a determinada categoria profissional eram qualificadas, na linguagem do
tempo, como associações de classe. O associativismo patronal, que conheceu um
primeiro surto logo a seguir à dissolução dos grémios dos ofícios, não parece ter sido
sensível às preocupações mutualistas e distingue-se assim das características
dominantes no restante movimento associativo, incluindo o que chamámos aqui associa-
tivismo burguês.

Pelo menos até 1880 verificou-se uma influência relativamente importante dos modelos
das confrarias ou irmandades na criação das associações de socorros mútuos, quer se
tratasse de associações operárias, quer se tratasse de associações burguesas ou pequeno-
burguesas. As associações incluíam frequentemente nas suas denominações invocações
religiosas. Em certos casos, não há dúvida de que as associações resultaram da
transformação de confrarias ou irmandades e noutros casos parece ter havido conflitos
entre as novas associações e as confrarias ou irmandades anteriormente existentes. As
confrarias ou irmandades tinham sido, sob alguns aspectos, precursoras das associações
de socorros mútuos. De qualquer modo, esta conversão de instituições eclesiais em
instituições civis representa um processo de secularização, sobre o qual escasseiam
informações.

Antes da constituição da Fraternidade Operária, afigura-se difícil diferenciar no


conjunto das associações de trabalhadores as que visavam exclusivamente fins de
resistência ou de defesa dos interesses profissionais. A grande maioria das associações
tinha fins mutualistas, ainda que algumas se propusessem simultaneamente prosseguir
outros fins. A ideia de mutualidade não se distinguia facilmente da ideia de cooperação
e de certa maneira a possibilidade de confusão entre elas continuava a subsistir. Apesar
da inspiração ideológica que o movimento associativo assumiu depois de 1850, não há
notícias de que as associações mutualistas tivessem sido entre nós alvo de quaisquer
medidas repressivas, ao contrário do que se tem afirmado com base numa transposição
apressada do exemplo francês.

As associações de socorros mútuos vieram a ser legalmente regulamentadas pela


primeira vez em 1891 e posteriormente em 1896. A regulamentação de 1896 esteve em
vigor até 1931, tendo portanto subsistido durante a República e até à ditadura militar.

A mutualidade foi encarada ao longo do século passado como a técnica ou o método


ideal de cobrir os trabalhadores e no limite, quaisquer outras pessoas, contra os riscos
sociais a que estavam expostos. Daí que ela tenha travado uma renhida luta contra a
instituição do seguro social. A mutualidade seria uma expressão de liberdade, enquanto
o seguro social ou, mais amplamente, a segurança social, assenta necessariamente numa
base de obrigatoriedade. A luta entre a mutualidade e o seguro social manteve-se no
plano dos princípios até à adopção, em 1927, das Convenções números 24 e 25 da
Organização Internacional do Trabalho, sobre o seguro de doença. A partir de então, o
seguro social tinha levado de vencida a mutualidade.

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Entre nós, o último episódio desta luta verificou-se com algum atraso. Em 1933, o
jornal O Século organizou uma semana de mutualismo e no ano seguinte realizou-se o
terceiro e último congresso da mutualidade. Estes sinais de vida do mutualismo
pretendiam deter a implementação dos esquemas de protecção obrigatória do que
começaria por ser a organização corporativa da previdência.

O novo regime jurídico das associações de socorros mútuos agora definido(1) pode
constituir um desafio ao espírito e à tradição mutualista. Através desse desafio iremos
verificar, após uma experiência de várias dezenas de anos de seguro social, o que no
mutualismo está vivo e o que nele terá morrido. Trata-se, sem dúvida, de um desafio à
nossa capacidade de iniciativa e de imaginação, mas, em qualquer caso, haverá que
discutir tão seriamente quanto possível o que deve caber ao Estado e o que pode caber
às organizações autónomas no domínio da protecção social.

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(1) Decreto-lei nº 347/81, de 20 de Dezembro e decreto regulamentar nº 58/81, de 30 de


Dezembro

Este texto, da autoria de António da Silva Leal (1926-1988), foi extraído de um artigo
publicado no “Diário de Notícias”, em 20-01-1982.

Investigador da problemática da protecção social assegurada pelo sistema público de


segurança social e pelas associações mutualistas, Silva Leal, professor catedrático, era
membro do Instituto Europeu de Segurança Social e do Grupo (dos dez) de Reflexão
sobre o futuro da Segurança Social, criado pelo BIT, em 1981, de cujos trabalhos
resultou a publicação de La Sécurité Sociale à 1′Horizon 2000.

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