Sunteți pe pagina 1din 29

Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 23 - dezembro de 2014

Escassez de água

Cada gota
é preciosa
Falta de chuva evidencia insegurança
hídrica no país. Senado analisa soluções

Leia também
Expansão da banda larga espera mais recursos
Reforma política é prioridade na pauta de 2015
reprodução/Johann M. RUGENDAS
Aos leitores
“Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.”
Pero Vaz de Caminha, em 1º de maio de 1500

O primeiro relato sobre o Brasil


de que se tem notícia, a Carta
de Pero Vaz de Caminha ao rei dom
falta de investimentos já fazem com
que o acesso das pessoas à água seja
cada vez mais trabalhoso — e onero‑
gurança hídrica para não ficar à mer‑
cê de fenômenos naturais, como se‑
cas ou enchentes, que podem passar
Manuel, já traz o registro sobre a so. Esse cenário foi colocado à prova a se tornar ainda mais frequentes por
abundância das águas nacionais. Na pela seca que assolou o Sudeste no conta das mudanças climáticas. E não
Bahia, com uma pequena amostra, o último verão, chegando a um extre‑ apenas no semiárido nordestino.
autor da carta — espécie de certidão mo em São Paulo, onde começou a Sem desconsiderar os múltiplos
de nascimento do país — antecipa‑ faltar água nas torneiras em diversos usos para a água, notoriamente a
va que nestas terras havia fartura de municípios. produção de energia e a irrigação
um dos bens mais importantes para a A crise hídrica elevou a atenção agrícola, esta edição de Em Discus-
vida no planeta. dada ao abastecimento de água na são! se concentra na oferta de água
A mesma constatação foi feita se‑ agenda política. E o Senado não se para consumo, especialmente nos
guidas vezes por outros viajantes e furtou a discutir o assunto. Em mais centros urbanos. Afinal, torneira seca
levou à noção de que, pelo menos na de uma opor tunidade, chamou o em casa é capaz de mudar a relação
Amazônia e na Mata Atlântica (que presidente da Agência Nacional de dos cidadãos com esse bem essen‑
cobriam dois terços do território na‑ Águas, Vicente Andreu Guillo, entre cial, que, até há pouco tempo, pela
cional no século 16), a generosidade outros especialistas, para falar sobre abundância registrada por Caminha,
da natureza seria eterna e gratuita, o problema e buscar soluções. não preocupava o brasileiro, seja do
sem necessidade de manutenção. Nas audiências públicas nas co‑ Norte, do Sul, do Sudeste ou do Cen‑
Porém, a concentração da popu‑ missões da Casa, ficou evidente que tro‑Oeste.
lação em grandes cidades, a poluição o Brasil, apesar de registrar avanços,
e a degradação de mananciais e a precisa ampliar investimentos em se‑ Boa leitura!

Internautas enriquecem a pauta


Para ajudar na elaboração desta guntou sobre a integração das águas Atendendo a sugestão de Lucimara
edição, o perfil Notícias do Senado do Rio São Francisco. Eduardo dos Orlandi, ainda pelo Facebook, Em
no Twitter e no Facebook perguntou Santos Paiva, no Facebook, se in‑ Discussão! busca explicar a situação
aos internautas, em setembro, o que teressou por medidas para que não atual de escassez de água em São
eles gostariam de saber sobre o tema falte água, como a transferência do Paulo. A internauta, que cobra solu‑
escassez da água. Os leitores pedi‑ recurso entre os estados. Silva Júnior ções para superar o problema tam‑
ram que a revista abordasse o plane‑ citou os processos de dessalinização, bém em outros estados, foi uma das
jamento do abastecimento de água, tecnologia de conversão da água do dezenas de pessoas que se manifes‑
a descontaminação e o combate ao mar em potável que já acontece em taram nas redes sociais para ajudar a
desperdício por meio da educação vários estados e fora do país. construir esta edição.
ambiental, assuntos contemplados Jaqueline Zambon de Carvalho
nas próximas páginas. demonstrou preocupação quanto Twitter: @Agencia_Senado
Helena Corrêa, pelo Twitter, per‑ ao “fim da água que utilizamos”. Facebook: SenadoFederal
SUMÁRIO

Mesa do Senado Federal Contexto

Pedro França/agência senado


Presidente: Renan Calheiros
Primeiro-vice-presidente: Jorge Viana Desperdício e poluição
Segundo-vice-presidente: Romero Jucá País descuida da água
Primeiro-secretário: Flexa Ribeiro 6
Segunda-secretária: Ângela Portela
Terceiro-secretário: Ciro Nogueira Demanda será cada vez maior em Brasil não trata a maior
parte do esgoto urbano

Reprodução Blog Guia Ecológico


Quarto-secretário: João Vicente Claudino todo o mundo
Suplentes de secretário: Magno Malta, Jayme
Campos, João Durval e Casildo Maldaner
11 34
Governo investe pouco
Diretor-geral e secretário-geral da Mesa: Crescimento desordenado e
Luiz Fernando Bandeira em segurança hídrica
13 poluição põem Brasília em alerta
Expediente
36
Comitês de bacias encontram dificuldades
para atuar em todo o Brasil
37
Semiárido
reprodução

Diretor: Davi Emerich


Diretor-adjunto: Flávio de Mattos
Diretor de Jornalismo: Eduardo Leão
Sertão enfrenta a Leis e propostas
pior seca em 50 anos
A revista Em Discussão! é editada pela
Secretaria Agência e Jornal do Senado 16 Conflito entre lei e Constituição
Desde o século 16, há relatos
Diretor: Marco Antonio Reis
Diretor-adjunto: Flávio Faria sobre a calamidade na região
complica gestão hídrica
Editor-chefe: João Carlos Teixeira 17 40
Editores: Janaína Araújo, Joseana Paganine e

JOSÉ CRUZ/agência senado


Sylvio Guedes Proposta estimula reúso de água
Transposição do Rio São Francisco
Reportagem: Janaína Araújo, Joseana Paganine,
Larissa Bortoni e Sylvio Guedes só termina em 2015
43
Capa: Priscilla Paz sobre foto de freeimage.com Dessalinizar a água é
Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz 22 cada vez mais viável
Arte: Bruno Bazílio, Cássio Sales Costa,
Diego Jimenez e Priscilla Paz 45
Revisão: André Falcão, Fernanda Vidigal,
Pedro Pincer e Tatiana Beltrão
Pesquisa de fotos: Braz Félix e Leonardo Sá Crise hídrica
Tratamento de imagem: Afonso Celso no Sudeste Rediscussão
Circulação e atendimento ao leitor: (61) 3303-3333

Tiragem: 3.500 exemplares Plano Nacional de Banda Larga


Falta de chuvas expõe 48
Site: www.senado.leg.br/emdiscussao
E-mail: emdiscussao@senado.leg.br fragilidade do sistema
Próxima edição
Twitter: @Agencia_Senado
www.facebook.com/SenadoFederal 24 Veja e ouça mais em:
Tel.: 0800 612211
Praça dos Três Poderes, Anexo 1 do Como evitar perdas e Luiz Augusto Daidone/Prefeitura de Vargem
Prioridade para o Planalto, reforma
Senado Federal, 20º andar, 70165-920, Brasília, DF desperdícios de água 30 política entra em pauta em 2015
A reprodução do conteúdo é permitida, 49
desde que citada a fonte. Mudanças climáticas prometem
chuvas e estiagens mais intensas Saiba mais
Siga a tramitação dos projetos: www.senado.leg.br 33 50
Impresso pela Secretaria de
Editoração e Publicações (Segraf)
Escassez de água

E
m termos de água, o Brasil é privilegiado.
Não tem nem 3% da população mundial,
mas abriga 12% da água doce disponível
no globo. Essa participação sobe para 18%
quando se considera apenas a água de superfície —

DE SOBRA ,
excluindo-se as reservas em aquíferos subterrâneos,
os lençóis freáticos. As reservas superficiais nacionais
somam vazões médias de quase 180 milhões de litros
por segundo. Onze dos 50 rios mais caudalosos do
mundo estão aqui.

PROBLEMAS
O Brasil também aparece bem no subsolo: metade
do território nacional acomoda 20 bacias que garan-
tiriam uma vazão de 42,3 milhões de litros por se-
gundo. E, como são mais bem distribuídos pelo país
do que os rios e lagos, os aquíferos se revelam cru-
ciais para abastecer mais de metade da população.
Seria um cenário perfeito, não fossem os enormes
Falta de tratamento da água utilizada, problemas de saneamento básico que o Brasil en-
poluição dos mananciais, alteração no frenta. Em termos nacionais, três em cada dez domi-
regime de chuvas e maior disponibilidade cílios urbanos ainda não são abastecidos com água
do recurso longe dos grandes aglomerados potável. Nas regiões com menor acesso a rios, nas-
centes e aquíferos, o atendimento é precário. Nas
populacionais são desafios para o país, áreas e bairros mais pobres, o mesmo cenário. De
que tem grandes reservas hídricas acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA),
órgão federal que regula o setor, em 2015 só 29%
dos brasileiros contarão com um abastecimento
satisfatório.
Parte da responsabilidade é da
diversidade de climas e relevos, que É a quantidade de

52,5% influencia a distribuição dos recur-


sos hídricos pelo país. Na maior
água disponível
em um trecho de
um rio, lago ou
parte do Nordeste, ela é de menos aquífero durante
de 100 mil litros por segundo. Na um determinado
Reservatório do Amazônia (com 45% do território e tempo para aten-
Rio Jaguari (SP) em 80% da disponibilidade hídrica na- der as demandas
agosto de 2013... cionais, mas apenas 7% da popu- da região onde se
lação), a vazão chega a 74 milhões encontra. Também
de litros por segundo. Ou seja, nem pode ser o cálculo
sempre a água abundante está onde da diferença entre
o volume utilizá-
há mais gente, o que é o primeiro
vel e o volume já
e mais complexo desafio no abas- usado
tecimento. Afinal, além de captar a
...e no mesmo mês água, é preciso transportá-la.
deste ano, em imagens
feitas pela Nasa Poluição e estiagem
Em geral, a poluição e a redução da vazão dos
mananciais em épocas de estiagem são os principais

3,6%
fatores responsáveis pela escassez de água na maior
parte do mundo (há regiões onde a única solução é
Nas margens, o dessalinizar a água, por exemplo). Num ranking de
aumento das partes saneamento básico elaborado pelo Banco Mundial, o
claras indica o Brasil é apenas o 112º lugar entre 200 nações. Esta-
solo exposto pela No centro do tísticas como a que aponta que, na Região Norte, so-
estiagem prolongada reservatório, o tom mente 13% dos domicílios têm acesso a rede coletora
mais claro do verde de esgoto reforçam essa convicção. A ANA, em pes-
nas represas quisa divulgada no ano passado, disse ter encontrado
mostra que o volume
de água naquele água de qualidade “ruim” ou “péssima” em 44%
ponto já é bem menor dos pontos urbanos de coleta no país, contaminada,
NASA

principalmente, por esgoto doméstico.


7
Escassez de água

Muita água e muito desperdício


Abundante em recursos hídricos, Brasil polui rios, principalmente nas cidades, e perde água no sistema de abastecimento

47% Fonte de 39% Reservas naturais


Superficial abastecimento Subterrânea e artificiais

81%
Rios, lagos
e represas
180 milhões de 19%
14% litros/segundo Aquíferos
Mista
42,3 milhões
de litros/segundo

7% dos rios 44% das águas


urbanas estão poluídas
Preservação e lagos estão
poluídos

Tânia Rêgo/ABr
Rio Acari, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro: 11% - Boa Tratamento 6% - Ótima
poluição diminui a água disponível para o uso humano médio de água de 21,11% Qualidade 49% - Regular
Qualidade
da capacidade total, contra na fonte no consumo
75% - Boa
21,39% naquele ano. 35% - Ruim
Por causa da poluição, mesmo 1,2 mil municípios. Com a mais sentavam, em meados deste ano, A estiagem prolongada dei- 5% - Péssima 12% - Regular
um rio com boa vazão pode se baixa precipitação pluviométrica menos de 30% da capacidade, xou à mostra a incapacidade do 6% - Ruim
tornar impróprio para o uso hu- em décadas na Região Sudeste uma situação pior do que no ano país em prover segurança hídrica três vezes mais água que um bra- 1% - Péssima
mano. Um bom exemplo é o Rio como um todo, não só o desa- passado. Os reservatórios das hi- — abastecimento regular e satis- sileiro e duas vezes mais que um
Tietê (SP), que, em seus piores bastecimento de água virou ame- drelétricas do Sudeste e Centro- fatório de água — à população e francês. Desperdício de 1,2 milhão de litros/
momentos, ainda produz uma va- aça na maior cidade do país, São -Oeste, que respondem por cerca às atividades econômicas, princi- Além de, na média, o país con- segundo, que é cerca de 52% da água
zão de 60 mil litros por segundo. Paulo, como também há o temor de 70% da geração de eletrici- palmente agropecuária e indús- sumir água além daquilo que é tratada. Seria suficiente para atender mais
Acontece que, de toda essa vazão, de crise elétrica. dade, registravam, em meados tria, que respondem por 90% da recomendado pela Organização de 900 milhões de pessoas tendo como
apenas um terço é água natural; A Agência Nacional de Águas de outubro, a pior situação desde demanda. O consumo, em meio Mundial da Saúde (100 litros por padrão o consumo recomendado pela ONU
de 110 litros por dia por pessoa
o resto é produto de efluentes do- monitora, com os estados, 507 re- 2001, quando o Brasil enfrentava a todas essas dificuldades, seguiu dia), há muitas disparidades regio-
mésticos e industriais não trata- servatórios no semiárido, quase racionamento de energia, apontou em curva ascendente. Em 2010, nais. Se o índice nacional de abas-
dos, que são despejados no rio. Já todos voltados para o abasteci- o Operador Nacional do Sistema comparativamente a 2006, a re- tecimento é de 82,7%, no Norte e Distribuição do consumo
sem a necessária proteção vegetal mento. Desses, quase 50% apre- Elétrico (ONS): armazenamento tirada total de água das fontes de no Nordeste o atendimento é bem
ao seu redor, reservatórios e re- abastecimento subiu 29%, che- inferior: quatro em cada cinco 72% Agricultura
presas sofrem mais com seca e se Lavouras irrigadas, como as plantações de tomate em Goiás, gando a 2,3 milhões de litros por pessoas moram em cidades que
veem mais expostos ao assorea- respondem pelo maior consumo de água do Brasil segundo, muito em função do au- necessitam de ampliação do sis-
mento, que é o acúmulo de sedi- mento da demanda de água para tema de água.
mentos no fundo. irrigação, para viabilizar o cresci- Nas 100 maiores cidades, a dis-
Para piorar, desde o ano pas- mento da produção agrícola. ponibilidade hídrica é satisfatória 11% Pecuária
sado o país padece, em diversas O Atlas Brasil — abastecimento em apenas 28%; 72% precisam
regiões, de uma preocupante falta urbano de água, publicado pela de investimentos; 39%, de am-
de chuvas, que colocou boa parte ANA em 2011, apontou aumento pliar os sistemas, e 33%, de agre- 7% Indústria
do país em risco real e imediato no consumo de 7,1% entre 2009 gar novos mananciais, de acordo
de racionamento, segundo aler- e 2010, alcançando 159 litros per com a publicação Perdas Físicas
taram os especialistas convidados capita por dia. Outras fontes espe- em Sistemas de Abastecimento de
pela Comissão de Serviços de In- culam que já poderia estar em 187 Água, divulgado pela Associação 10% População
fraestrutura (CI) para um debate litros, chegando a 320 nos gran- Brasileira de Engenharia Sanitária
em junho. Faltar água nas áreas des centros urbanos. Não é pro- e Ambiental (Abes) em 2013. 86% Norte
semiáridas do Nordeste já é fe- blema exclusivo do Brasil. Os paí- População em 82% Nordeste
nômeno secular — a região vi- ses ricos têm um altíssimo grau de Cenário ideal cidades em que o 44% Centro-Oeste
abastecimento 44% Sudeste
veu sua pior seca em 50 anos en- consumo e lideram a classificação Para enfrentar esses problemas,
é deficiente 41% Sul
tre 2012 e 2013, afetando quase em termos globais. Por exemplo, o governo federal anunciou, em
Emater

10 milhões de pessoas e mais de um americano gasta, em média, 2013, um novo Plano Nacional de Fonte: ANA, Instituto Trata Brasil, SOS Mata Atlântica

8 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
9
Escassez de água

Em todo o mundo, a
demanda cresce e a oferta cai
São quatro as modalidades de mento, 40% a mais de água e 50% a que pouco mudou em relação à ges‑
consumo de água: agricultura, pro‑ mais de energia. Até 2050, a deman‑ tão da água desde a publicação do
dução energética, atividade industrial da por alimentos e por energia cres‑ relatório anterior, em 2009. Segundo
e abastecimento humano. O cresci‑ cerá 70% e 60%, respectivamente. dados da ONU, hoje 768 milhões de
mento constante da população mun‑ Ao mesmo tempo, a grande con‑ pessoas não dispõem de água trata‑
dial exige mais alimentos e energia centração de pessoas em cidades de da, 2,5 milhões de pessoas não têm
elétrica. As Nações Unidas (ONU) todo o mundo ameaça mananciais acesso a saneamento básico e 1,3
preveem que, em 2030, a sociedade como lagos, rios e lençóis freáticos. bilhão não sabe o que é ter eletrici‑
vai necessitar de 35% a mais de ali‑ Além de colocar em risco possíveis dade em casa. “Essa situação precisa
fontes hídricas, grandes quanti‑ de atenção urgente, pois é inaceitá‑
dades de água doce são utiliza‑ vel. Em geral, a pessoa que não tem
Panorama global das para o saneamento urbano. E acesso a água e a saneamento é a
a maior parte das águas residuais mesma que não possui energia elé‑
A Terra tem muita água, mas pouca
é devolvida para o ambiente sem trica em sua residência”, protestou
quantidade é doce e está disponível
tratamento, gerando danos para Michel Jarraud, secretário-geral da
para consumo e uso humano as pessoas e os ecossistemas. Organização Meteorológica Mundial
A ONU estima que a população durante o lançamento do relatório.
urbana mundial aumente de 3,4 Para viver com dignidade, espe‑
Onde está bilhões para 6,3 bilhões até 2050. cialistas explicam que uma pessoa
a água? Hoje, no total, a Terra tem cerca precisa de 110 litros por dia, dispo‑
Orange County Water District de 7,2 bilhões de habitantes. nível a uma distância de, no máximo,
Água de reúso no estado da Califórnia (EUA): opção para
o crescimento do consumo em países desenvolvidos 1.000 metros do local de moradia.
Relatório Entre as fontes hídricas aceitáveis,
97,5% O último Relatório Mundial estão ligações domésticas, fontes
Saneamento Básico (Plansab), retor-presidente da ANA, Vi- sadas, as perdas ficaram entre das Nações Unidas sobre o Desen- públicas, fossos, poços, nascentes
que projetava a universalização cente Andreu Guillo. Mas nem 30% e 60% da água tratada
da água do planeta volvimento dos Recursos Hídri- protegidas e coleta de águas pluviais.
dos serviços de água e esgoto sempre elas vêm sendo adotadas para consumo. Noventa delas é salgada cos (WWDR4), lançado este ano, A ONU defende que gerir bem a
até 2033. Porém, a proposta tra- a tempo, o que causa a insegu- não conseguiram reduções sig- prevê, como consequência das água significa não só dar prioridade
çou cenários que dificilmente se rança hídrica. nificativas (superiores a 10%) dificuldades crescentes de acesso ao tratamento dos recursos hídricos
materializarão. “Para a vontade política nas perdas de água entre 2011 à água, a intensificação das dispa‑ dentro dos governos, mas trazer a
No mais pessimista dos qua- existir, é necessário o envolvi- e 2012. O estudo estimou que ridades econômicas entre países, questão para o centro do debate so‑
dros desenhados pelo Plan- mento da sociedade. Não há uma diminuição de 10% em bem como entre setores econô‑ cial. Do ponto de vista prático, é pre‑
sab, o Brasil cresceria naque- uma intensa mobilização social termos nacionais agregaria R$ Dos 2,5% de água doce... micos ou mesmo entre regiões ciso investir em infraestrutura e em
las duas décadas a 3% ao ano, em relação a esse tema, propor- 1,3 bilhão à receita operacional dentro dos países. Além disso, o mecanismos de governança locais,
atividade capaz de viabilizar os cional ao risco que ele repre- com a água, equivalente a 42% documento adverte que os mais nacionais e internacionais, quando
investimentos de R$ 508 bi- senta. Se a água não entrar na do investimento no setor em pobres serão os mais prejudicados se trata da gestão de fontes de água
lhões no setor. Ao governo fe- agenda política da sociedade, 2010 para todo o país. por esse processo. que abarcam mais de uma nação,
deral, caberiam investimentos isso não vai virar realidade”, A insegurança hídrica que ... 68,9% As Nações Unidas constatam como a Bacia Amazônica.
a partir de R$ 13,5 bilhões por alertou. a Região Sudeste experimenta estão em geleiras
... 30,8%
ano, quando a média em 2012 agora é quase rotina no Nor- são águas
e 2013 foi de R$ 8,2 bilhões. Distantes da meta deste. Preocupado com os im- subterrâneas Quem consome mais? (litros/dia/per capita)
O senador Jorge Viana (PT-­ Os especialistas defendem, pactos que a seca prolongada
AC), um dos autores do pe- porém, que o enfoque deve se na região atendida pelo Rio São ... 0,3% 575
dido de debate sobre as estia- voltar não só para o aumento Francisco trouxe sobre a dispo- está em lagos e rios
493
gens no país, acha inadmissível da oferta, com a construção e nibilidade de água para con-
as crises de abastecimento ainda a ampliação de reservatórios e sumo humano e atividades pro- Quem consome a água?
acontecerem. adutoras. Além de investimen- dutivas, o então senador Kaká 366
“Parece que o Brasil foi pego tos nas empresas prestadoras Andrade (PDT-SE) cobrou en- 287
de surpresa com a crise de São para modernizar os sistemas gajamento do governo federal
Paulo. A ANA tem sistemas e reduzir as perdas, é preciso na solução do problema.
de previsão. Ela não é capaz conscientizar a população sobre “Não são raros relatos de ci- 70,1% 159 135
Agropecuária 110 85
de mudar o curso da natureza, o desperdício. dades com problemas no abas- 20% 50
mas tem bases capazes de prever Estamos, porém, ainda dis- tecimento de água e prejuízos Indústria 35
se vai haver uma situação mais tantes de atingir essa meta. O de agricultores que dependem
grave de abastecimento, inclu- ranking de saneamento básico de irrigação ou do transporte Estados Austrália México França Brasil Índia Mínimo China Egito Nigéria
9,9% Unidos recomendado
sive por conta do regime de divulgado pelo Instituto Trata hidroviário, de aquicultores e pela ONU
chuva”, observou. Brasil em agosto mostrou que, empresários do ramo do tu- Abastecimento
Soluções existem, diz o di- em 62 das 100 cidades anali- rismo”, disse o parlamentar. Fontes: Pnud, ANA e OMM

10 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
11
Escassez de água

FALTAM DINHEIRO

Elisa Finocchiaro
e PLANEJAMENTO
Durante os debates no Se- ­ revistas para a segunda etapa
p explicou Vicente Andreu Guillo.
nado, uma queixa unânime foi do PAC 2, somente 1.223 fo- Estudo da Associação Brasi-
a baixa prioridade política dada ram concluídas (17,2%) e outras leira de Engenharia Sanitária e
pelos vários governos a investi- 2.325 (32,6%) ainda estavam em Ambiental (Abes) confirma a in-
mentos na área de segurança hí- fase inicial de execução. formação e atribui os baixos ín-
drica, aliada às grandes dificul- Por sua vez, as empresas con- dices de investimento no setor à
dades encontradas para obter a cessionárias, municípios e estados incapacidade dos operadores de
aprovação para a construção de aumentaram de R$ 3,3 bilhões se financiarem. Em 2012, disse
novos reservatórios ou de proje- em 2011 para R$ 3,5 bilhões em a entidade, só 7 das 26 empresas
tos de transposição de águas de 2012 os investimentos, conforme estaduais de saneamento estavam
uma bacia para outra. Os repre- o Sistema Nacional de Informa- aptas a captar financiamentos.
sentantes do governo federal ale- ções sobre Saneamento (SNIS). “Os altos custos dessas em-
garam que os recursos destinados No entanto, o Atlas Brasil — presas (quadro de pessoal mal
subiram muito desde a década abastecimento urbano de água, dimensionado, ineficiência nas
passada, mas admitiram que editado pela Agência Nacional de compras, alto consumo de ener-
ainda há um longo caminho a ser Águas (ANA), indica que, apenas gia elétrica, altos índices de per-
Bacia do Rio Amazonas é a mais extensa rede hidrográfica do planeta, com 20% das águas doces do mundo percorrido. para proteção de mananciais su- das de água) e a baixa capacidade
Segundo balanço de junho perficiais usados como fonte de de geração de receitas (gestão co-
deste ano, o governo federal teria captação para abastecimento ur- mercial deficiente, não aproveita-

Brasil tem muita água, destinado, na soma dos dois Pro-


gramas de Aceleração do Cres-
cimento (PAC), R$ 33,5 bilhões
bano, seria preciso investir R$
47,8 bilhões (em valores de 2010)
em redes coletoras e estações de
mento de oportunidades na área
de saneamento industrial e pri-
vado, baixa agressividade comer-

mas mal distribuída em 2,9 mil obras de abasteci-


mento de água e 499 projetos de
recursos hídricos, incluindo
tratamento de esgotos em 52%
dos municípios brasileiros.
cial) diminuem a capacidade das
operadoras de obter recursos fi-
nanceiros, que seriam destinados
O Brasil é o país que mais pos- está numa posição confortável altas densidades demográficas nas irrigação e revitalização de Baixa capacidade ao seu plano de investimentos e,
sui água doce no mundo. A dis- em comparação com outros pa- Regiões Sul e Sudeste. Para au- rios e bacias. Porém, de Conforme o diretor-presidente também, a ações de melhoria ope-
ponibilidade hídrica brasileira é íses. A Bacia do Rio Amazonas é mentar a dificuldade, a topografia acordo com o site Con- da ANA, boa parte das empresas racional, como programas de re-
de 91,2 milhões de litros por se- a mais extensa rede hidrográfica do território brasileiro — as ca- tas Abertas, das 7.120 não se ressente do volume de re- dução de perdas de água”, admite
gundo. No que diz respeito a do planeta. Por ela, correm 20% deias montanhosas que separam o obra s de sa nea- cursos, mas, sim, da capacidade o estudo da Abes.
água para consumo humano, de das águas doces superficiais do litoral do interior do país — é um mento interna da execução de empreen- Além da carência de recursos,
acordo com o Relatório Mundial mundo. Quase um terço da água obstáculo ao acesso à água. dimentos, especialmente em ci- outro obstáculo a ser superado é a
das Nações Unidas sobre o Desen- doce do mundo está em aquíferos. dades médias e pequenas, que elaboração de bons projetos para
volvimento dos Recursos Hídricos O Brasil possui dois dos maiores Saúde hídrica não dispõem de áreas de plane- o abastecimento de água.
(WWDR4), o Brasil possui cerca do mundo: o Guarani, no Sul, e o O Conselho Mundial da Água jamento organizadas. “Tivemos, nos últimos 30
de 48 milhões de litros disponí- Alter do Chão, no Norte. (WWC, na sigla em inglês) clas- “Elas têm recursos, mas
veis por habitante por ano. sificou o Brasil em 50º lugar em não conseguem captar e
Os países com maior disponi- Desigualdade um ranking de saúde hídrica, que aplicar os recursos ade- Transposição do São
Francisco, em Cabrobó
bilidade hídrica anual per capita Entretanto, apesar de a situa- analisou 147 países. Os critérios quadamente, junto (PE): atraso em obras
são Canadá (América do Norte), ção ser aparentemente tranquila, foram quantidade de água doce com o plane- prejudica segurança
Noruega (Europa), Guiana Fran- existe uma distribuição desigual por habitante, parcela da popu- jamento”, hídrica no Nordeste
cesa e Suriname (América do dos recursos hídricos pelo terri- lação com água limpa e esgoto
Sul), Papua-Nova Guiné e Nova tório brasileiro. Grande parte das tratado, desperdício de água do-
Zelândia (Oceania), Gabão e Re- águas disponíveis, 80%, está na méstica, industrial e agrícola, po-
pública Democrática do Congo Amazônia, região que possui a luição da água e preservação am-
(África). Eles estão na faixa de 70 menor densidade demográfica e biental. Em primeiro lugar está a
milhões a 684 milhões de litros baixa demanda de atividade pro- Finlândia e, em último, o Haiti.
per capita/ano. Já as nações do dutiva. Em compensação, o Nor- A média nacional de perda de
norte da África, no deserto do Sa- deste dispõe de apenas 5% das água é de 38,8%, índice supe-
ara, apresentam taxas baixas, me- águas brasileiras. A região é a que rior à média mundial, de 35%, o

Adalberto Marques/MI
nos de 1 milhão de litros per ca- mais sofre com secas periódicas que faz com que o Brasil caia na
pita/ano, o que os coloca em situ- no Brasil (leia mais na pág. 16). classificação. Se a disponibilidade
ação de escassez hídrica. A maior parte da população se de água fosse o único critério do
A Agência Nacional de Águas concentra perto do litoral, longe ranking de saúde hídrica, o Brasil
(ANA) considera que o Brasil dos principais mananciais, com subiria para a 18ª posição.

12 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
13
Escassez de água

Abaixo do necessário politana de São Paulo é abastecida


Investimentos em saneamento não têm sido suficientes pelo Sistema Cantareira e esse pro-
para atingir meta de água e esgoto para todos jeto é da década de 70. A cidade

Saneago
cresceu, se tornou uma das maio-
pelo ritmo atual a meta res do mundo e parece que os in-
Investimentos em saneamento só será atingida em 2063
vestimentos ficaram muito aquém,
nos deixando reféns das circuns-
Ritmo ideal tâncias climáticas como a que a
R$ 12,5 bi anuais
gente está vivendo”, argumentou o
Ritmo atual
R$ 6,3 bi anuais senador Jorge Viana (PT-AC).
Inácio Arruda (PCdoB-CE)
lembra que, como em boa parte
2015 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 do Nordeste as longas estiagens
são um problema permanente, os
Investimentos em abastecimento de água estados foram obrigados a planejar
R$ 3,1 bi com antecedência.
87% “Acho que é preciso ter consci-
Prestadores
de serviços Prestadores ência de que tem de haver plane-
de serviços
10% jamento estratégico forte, com co-
Estados operação do governo federal e dos
Estados R$ 353 mi
Municípios R$ 103 mi 3% estados, e também compreensão
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Municípios de que os rios não são de um es-
Barragem João Leite, em Goiás,
Fontes: Ministério da Integração Nacional, CNI e SNIS tado, mas da Federação. E é o go- garante segurança hídrica para
verno federal que, em última ins- Goiânia sem precisar de energia
anos, uma urbanização intensa.
Havia grande déficit de infraes-
nha recursos para investir, tam-
bém não planejava nem desenvol-
tância, tem de dar a palavra final
em relação ao uso adequado desses
Esforço conjunto leva
trutura de abastecimento de água, via projetos”, apontou. mananciais”, opinou o senador. água para a capital goiana
que começou a ser superado de Vicente Andreu Guillo, da Engenheiro e empresário, o se-
forma mais intensa após a criação ANA, defende a imediata reto- nador Wilder Morais (DEM-GO) As diferenças políticas não im‑ mento. “Além da economia estimada r­ eser vatório é um problema. Por
do PAC”, alegou Irani Braga Ra- mada da construção de reservató- não admite a falta de entendi- pediram a parceria entre o governo em R$ 1 milhão por mês em energia conta disso, a estrada foi sinalizada
mos, secretário-executivo do Mi- rios no país. mento entre os Ministérios das Ci- federal e o governo de Goiás para a elétrica, Goiânia será a única cidade e há o monitoramento de cargas pe‑
nistério da Integração Nacional. “Há grande objeção à constru- dades e da Integração e os estados construção da maior obra de sanea‑ do país que poderá garantir o abas‑ rigosas. “A preservação dos recursos
Braga Ramos acredita que o go- ção de reservatórios e às transposi- e municípios. mento em curso no país. O Sistema tecimento de água em caso de apa‑ hídricos constitui questão essencial
verno federal já tem uma “atuação ções por conta dos impactos. Eles “A gente tem visto a falta de Produtor Mauro Borges deve entrar gão prolongado de energia”, disse o nos dias atuais e um dos cuidados
forte” no setor, mas a criação de são reais, mas precisamos colocar planejamento da infraestrutura em em operação em 2015 e vai produzir, engenheiro. consiste na fiscalização da ocupação
uma infraestrutura que dê segu- nessa contabilidade os ganhos e a todos os níveis. Investir em segu- inicialmente, 4 mil litros de água por Em audiência pública das Comis‑ do solo em torno de mananciais de
rança hídrica a todo o país depen- segurança. Parece que fazer um re- rança hídrica é prioridade, inde- segundo para os moradores de Goiâ‑ sões de Meio Ambiente, Defesa do abastecimento público”, esclareceu a
deria do início e da conclusão de servatório só traz problemas. Essa é pendentemente de região”, disse. nia e cidades vizinhas. Consumidor e Fiscalização e Controle promotora.
muitas obras no semiárido e ou- a visão geral. E, na verdade, As obras foram divididas em duas (CMA) e de Serviços de Infraestru‑

Lia de Paula/agência senado


Lia de Paula/agência senado
tras regiões críticas. ele oferece grande segurança etapas. A primeira foi a construção tura (CI), em junho, o senador Wil‑
“Ainda não pude comparar o hídrica, que precisa ser tam- da barragem do Ribeirão João Leite, der Morais alertou para a importân‑
investimento do começo da dé- bém contabilizada”, avaliou. com capacidade de armazenamen‑ cia do planejamento no trato com a
cada de 2000 para cá e antes. Só Guillo lembra que há in- to de 130 bilhões de litros de água, água.“Não consigo aceitar essa falta
sei que o Brasil já alcançou as me- vestimentos essenciais à se- numa área inundada de 1.040 hec‑ de entendimento entre ministérios,
tas estabelecidas na Agenda do gurança hídrica que as em- tares. A fase seguinte compreende a estados, União e municípios. A gente
Milênio para saneamento básico. presas não são incentivadas estação elevatória de água, a estação tem visto a falta de planejamento da
O problema é o ponto de partida a fazer, por não trazerem re- de tratamento e adutoras. infraestrutura em todos os níveis.”
em relação aos outros países do torno financeiro. A interli- No total, o empreendimento cus‑ As obra s do Sistema Produtor
mundo”, completou o secretário. gação entre os reservatórios, tou R$ 473 milhões e teve aporte de Mauro Borges, segundo Teixeira, ti‑
por exemplo, representa cus- recursos do BNDES, dos Ministérios veram como contrapartida mais de
Barragens polêmicas tos extras para as concessio- da Integração e das Cidades, do Ban‑ 30 projetos ambientais. A promotora
Para o senador José Pimen- nárias, mas não acrescenta co Interamericano de Desenvolvi‑ de Justiça da área de defesa do meio
tel (PT-CE), problema grave foi, um litro a mais em sua ca- mento (BID), do governo de Goiás e ambiente de Anápolis, Sandra Mara
mesmo, o fato de o Brasil ter fi- pacidade de captação — e, da empresa estadual de sanemamen‑ Garbelini, explicou que Goiás criou
cado praticamente três décadas consequentemente, venda — to, a Saneago. a área de proteção ambiental (APA)
sem fazer planejamento, período de água aos consumidores. O diretor de Engenharia da Sanea‑ do Ribeirão João Leite, que delimita a
marcado por sucessivas crises eco- Se isso tivesse sido feito antes go, Olegário Teixeira, explicou que a região mais sensível do reservatório.
nômicas, baixo crescimento e até em São Paulo, diz Guillo, a estação de tratamento de água está Uma cerca em todo o perímetro do
hiperinflação. crise hídrica vivida hoje no em uma área mais alta do que Goiâ‑ reservatório também garante a con‑
“O Brasil produzia exclusiva- Sistema Cantareira poderia Para o senador Inácio Arruda, a solução para
nia. Assim, boa parte da capital será servação do local.
“Investir em segurança hídrica é
mente para pagar a dívida pública, ter impactos muito menores. a questão hídrica está no planejamento, em abastecida por gravidade, sem preci‑ Segundo a promotora, porém, prioridade, independentemente de
interna e externa. E, como não ti- “Metade da região metro- cooperação entre as unidades da Federação sar de energia elétrica para bombea‑ o fato de a BR-153 cortar a área do região”, ressalta Wilder Morais

14 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
15
Escassez de água

Sede ancestral: relatos da


Soluções para o drama do seca desde o século 16
Nordeste chegam aos poucos O primeiro documento portu‑
guês que relata a seca no Nordeste
te e Vida Severina. Ambos foram
adaptados para o cinema e para a
Em 1979, repete-se o desastre. A
seca durou quase cinco anos. Assim
A seca que se abateu sobre o Com a baixa nos níveis dos re- que 50% dos reservatórios do se- é de 1552, de acordo com o histo‑ televisão. como aconteceu com os índios, no
semiárido nordestino de 2012 servatórios de água das hidrelé- miárido apresentavam, em julho riador Marco Antonio Villa, no livro Em 1932, a dura realidade do século 16, o século 20 assistiu a um
a 2013 foi a pior dos últimos tricas, foi preciso acionar as ter- de 2014, menos de 30% da ca- Vida e Morte no Sertão. De 1580 a sertão nordestino vai tornar conhe‑ grande êxodo de nordestinos em
50 anos, constatou a Organi- melétricas, cuja energia é mais pacidade. E, na avaliação dele, a 1583, os registros mostram prejuí‑ cida em todo o Brasil outra mazela: direção ao sul do país, fugindo da
zação Meteorológica Mundial cara e mais poluente. situação continuará crítica. zos da seca aos engenhos de cana‑ a “indústria da seca”. Poderosos da seca e em busca de melhores condi‑
(OMM), agência das Nações Como se não bastasse, os “A situação merece acompa- -de-açúcar e relatam o deslocamen‑ região utilizavam o argumento da ções de subsistência.
Unidas especializada em mo- açudes também estão sofrendo nhamento de toda a sociedade, to para o sul de cerca de 5 mil ín‑ seca para conseguir benefícios go‑ Mais crítico que o movimento
nitorar eventos climáticos. Em grandes baixas nos volumes pela sua gravidade. Os reserva- dios em busca de comida. vernamentais, como mais crédito e populacional pelo país é a ameaça à
relatório divulgado no início de água. Em outubro de 2014, tórios não foram plenamente re- A seca de 1877 foi a mais dra‑ perdão de dívidas. Não raro foram vida representada pela seca. Marco
deste ano, a organização rela- o Departamento Nacional de cuperados. O estado que mais mática de que se tem notícia. Após construídos poços e cisternas nas Antonio Villa estima que, em 150
tou perdas de aproximadamente Obras contra as Secas (Dnocs) recuperação teve no último pe- um período de 30 anos sem estia‑ terras dos latifundiários. O historia‑ anos, de 1825 a 1983, morreram no
R$ 20 bilhões em decorrência informou que alguns dos prin- ríodo das chuvas, em dezembro, gem, a falta de chuvas vitimou qua‑ dor Marco Antonio Villa afirma que, Nordeste, em decorrência da seca,
da estiagem prolongada. cipais açudes do Ceará estão em foi a Bahia. Os outros tiveram se metade da população que vivia em 1998, dos 8 mil açudes exis‑ cerca de 3 milhões de pessoas.
Em relação à criação de situação crítica. recuperação pequena, muito me- no sertão, segundo o professor da tentes no Ceará, somente 95 eram “No semiárido, o fracasso do Es‑
gado, por exemplo, pecuaristas O Açude do Castanhão, que nor que a desejável. Vamos par- Universidade Federal do Ceará públicos. “E o pior é que os 7.905 tado tornou-se mais transparente e
informaram a morte de 4 mi- abastece a região metropolitana tir para o próximo período seco (UFC) José Nilson Bezerra Campos, restantes foram quase todos cons‑ cruel devido à sucessão de secas e à
lhões de animais, sobretudo bo- de Fortaleza, está com apenas numa situação equivalente ou re- no artigo “Vulnerabilidade hidroló‑ truídos com dinheiro público.” grande mortandade”, escreve.
vinos, apenas em 2012, ano em 30% da capacidade. O de Ara- lativamente pior que a de 2013. gica do semiárido às secas”.
que se deu o auge da estiagem. ras, 13%, e o de Pentecoste, Hoje, o estado que apresenta o O episódio fez com que o impe‑

Orlando Brito
A informação é da pesquisa menos de 2%, ou seja, somente maior problema de reservação de rador dom Pedro II criasse uma co‑
Produção da Pecuária Munici- o chamado “volume morto”. água é Pernambuco”, informou missão para propor soluções para a
pal, do IBGE. O diretor-presidente da Agên- Guillo. seca. Pouco foi feito, no entanto. Em
Prejuízos também foram sen- cia Nacional de Águas (ANA), A situação não é nova. A seca 1909, já no regime republicano, foi
tidos na área de eletricidade. Vicente Andreu Guillo, disse do Nordeste é bem conhecida criada a Inspetoria de Obras Contra
as Secas (Iocs), que está na origem
Carcaças de gado na Paraíba: pecuaristas perderam do atual Departamento Nacional de
4 milhões de animais no auge da estiagem, em 2012 Obras contra as Secas (Dnocs).
Até a implantação da Sudene,

Nyll Pereira/aLPB
em 1959 pelo economista Celso
Furtado, durante o governo de Jus‑
celino Kubitschek, o Iocs era res‑
ponsável pela construção de açudes
e usinas hidrelétricas e o único ór‑
gão designado a socorrer as popu‑
lações flageladas pelas secas cíclicas
que assolam a região.
Apesar da criação do Iocs, as
estiagens adentraram o século 20,
produzindo tristes estatísticas. Em
1915, o governo do Ceará instalou
uma espécie de “campo de con‑
centração” às margens das cidades
para impedir a entrada de retiran‑
tes, provocando grande núme‑
ro de mortes por causa da fome e
das péssimas condições sanitárias.
A seca desse ano foi o mote para
o romance de estreia de Rachel de
Queiroz, O Quinze.
O drama humano provocado
pelo clima inóspito da região tam‑
bém foi explorado por outros auto‑
res em grandes obras da literatura
brasileira, como Graciliano Ramos,
no romance Vidas Secas, e João Ca‑ Castigadas por períodos prolongados de seca, famílias
bral de Melo Neto, no poema Mor- nordestinas migraram para o sul do país no século 20

16 
dezembro de 2014 
17
Escassez de água

Seco e populoso, semiárido

JOSÉ CRUZ/agência senado


de utilização de água de chuva
que podem tornar-se uma política
de ampliação da oferta hídrica abrange nove estados
nos grandes centros urbanos. Em
algumas cidades, isso já está acon- O clima semiárido se carac‑ rido é a Caatinga. Os rios são, na
tecendo", informou o secretário- teriza pelos baixos índices plu‑ maioria, intermitentes e possuem
-executivo do Ministério da In- viométricos e pela dificuldade índice baixo de escoamento, da
tegração Nacional, Irani Braga de previsão das estações chuvo‑ ordem de 4 litros por segundo. A
Ramos. sas. No Brasil, a região semiárida média nacional é de 21 litros por
Outra medida é a perfuração abrange grande parte dos territó‑ segundo.
e a recuperação de poços de água rios dos estados do Piauí, Ceará, Cerca de 22 milhões de pesso‑
em áreas críticas. Os recursos são Rio Grande do Norte, Paraíba, as vivem no semiárido brasileiro.
enviados pelo governo federal para Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Trata-se da região semiárida mais
execução pelos governos estaduais. Bahia, na Região Nordeste, e o populosa do mundo, segundo o
Até março deste ano, foram con- norte de Minas Gerais, na Região estudo da Câmara. Aproximada‑
cluídos 1.234 poços, ao custo de Sudeste. A região ficou conhecida mente 82% da população local
R$ 63,5 milhões. A prioridade é como Polígono das Secas. possui índice de desenvolvimento
dada a áreas com baixa disponibi- O semiárido brasileiro ocupa humano (IDH) baixo (0,65 numa
lidade de água para abastecimento 90% da Região Nordeste e 17% escala que vai de 0 a 1). Quanto
por carros-pipa. do estado de Minas Gerais, tota‑ mais próximo de 1, mais elevado.
Para o ministro da Integra- lizando 11,5% do território brasi‑ O índice brasileiro é 0,744.
ção Nacional, Francisco Teixeira, leiro. De acordo com o estudo re‑ A economia é marcada pela
a grande diferença em relação às alizado pela Câmara dos Deputa‑ atividade agropecuária, desta‑
medidas anteriores está em pro- dos Desafios à Convivência com cando-se a presença da agricul‑
gramas como o Bolsa Estiagem, a Seca, a estiagem no semiárido tura tradicional e, em algumas
associado ao Bolsa Família, que é um fenômeno cíclico: de 13 em localidades, da agricultura irriga‑
garantem renda à população mais 13 anos, há um ciclo curto de um da. Como a devastação é gran‑
pobre. O Bolsa Estiagem, no va- a dois anos de seca e, de 26 em de a cada período de seca, a re‑
lor de R$ 80, é pago a mais de 26 anos, há um ciclo mais longo cuperação econômica completa
Captação da água da chuva com calhas e canos: de 2011 a 220.417 pessoas em 600 municí- de três a cinco anos de seca. só se dá em um prazo de cinco a
2014, foram construídas quase 700 mil cisternas no Nordeste pios, segundo dados de outubro. O bioma dominante no semiá‑ seis anos.
O governo federal mantém
ainda o Garantia-Safra, para dar Açude do Boqueirão, na Paraíba: cerca de 22 milhões
A pior estiagem em 50 anos pelos brasileiros. Há relatos de es- de pessoas vivem na região semiárida do Brasil
tiagem na região desde o século
Seca no Nordeste entre 2012 e 2013 atingiu quase 10 milhões de pessoas 16, feitos pelos colonizadores por-
e deixou mais de 1,2 mil municípios em situação de emergência tugueses. Migração em massa,
fome, sede e miséria são as ma-
No Municípios em situação de emergência % de municípios atingidos no estado População afetada zelas associadas à seca nordestina
(leia a página anterior).
MA PI
71 | 196 | Soluções emergenciais
326.683 1.192.344 Para minimizar os efeitos da
CE seca, o Ministério da Integração
178 | Nacional desenvolve ações emer-
1.995.939 RN Situação da seca genciais, como a Operação Carro-
142 | Áreas em vermelho são as -Pipa, a cargo do Exército, em 890
500.000 mais críticas na região municípios nordestinos.
O governo federal também tem
PB
198 | acelerado a construção de cisternas,
918.666 parte do Programa Água para To-
dos. Cisternas são reservatórios que
PE captam água da chuva por meio de
126 |
1.281.618 sistema de calhas e canos.
Os municípios que fazem parte
SE AL do programa criam um comitê ges-
20 | 37 |
102.006 458.042 tor, que seleciona as famílias sem
acesso à água que receberão uma
Portal Tupanatinga

Deserto Verde
BA cisterna. De 2011 até agosto de
260 | 2014, foram construídas 694.943
2.971.684 cisternas.
Fontes: Ministério da Integração Nacional, Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites, IBGE "As cisternas são uma alternativa

18 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
19
Escassez de água

uma renda mínima a agricultores rido captam água diretamente do “O Ministério da Integração “As águas já deveriam ter che-

DNOCS
com renda familiar mensal igual rio. Com a estiagem, os rios seca- decidiu recentemente construir gado entre 2013 e 2014. Tive-
ou inferior a 1,5 salário mínimo e ram e as cidades não têm sistema essa adutora. Mas precisamos pen- mos problemas de execução nos
que perderam a safra. adutor que permita receber água sar numa infraestrutura de adu- canais, tivemos uma paralisação
“Os instrumentos de trans- de reservatórios e garantir segu- toras que tenha resiliência, que de 2011 a 2013, o que nos obri-
ferência de renda tornam o so- rança hídrica à população”, disse seja capaz de enfrentar esses perí- gou a voltar com o carro-pipa
frimento das pessoas menor do Guillo. odos de alternância chuva e seca, em várias cidades do Nordeste
que já foi no passado”, acredita o O dirigente citou o caso de Ju- que, infelizmente, nos parecem, Setentrional. Essas águas já po-
ministro. curutu, no Rio Grande do Norte, serão cada vez mais frequentes”, deriam ter diminuído a utiliza-
que capta do Rio Piranhas, mas explicou. ção do carro-pipa. Não iriam re-
Projetos estruturantes não tem adutora para a Barragem O senador José Pimentel (PT-​ solver em definitivo, mas dimi-
O Programa de Aceleração do Armando Ribeiro Gonçalves, que CE) cobrou mais agilidade para as nuiriam o sofrimento”, afirmou o
Crescimento 2 tem R$ 5,9 bilhões fica a 15 quilômetros. obras no Nordeste. senador.
para a construção de 1,6 mil sis-
temas de abastecimento de água,
como reservatórios elevados, que
permitem a distribuição de água
por meio de chafarizes, torneiras No Ceará, obras se maioria dos estados, não aconte‑
públicas e pequenas redes.
Também está prevista a cons-
estendem por 256 km ce. Por exemplo, existem estados
que nunca deram uma única ou‑ Barragem Armando Ribeiro Gonçalves,
trução de 20 barragens para abas- Em março, o governo federal 18 municípios do estado. torga. Existem estados que têm construída pelo Dnocs para garantir a
tecimento da população, para irri- inaugurou, no Ceará, o último tre‑ “Já reivindicamos um novo pro‑ um servidor cuidando da gestão perenidade do fluxo do Rio Piranhas-Açu
gação e para geração de energia, o cho de obras do Eixão das Águas, jeto para os 30 anos após esses de recursos hídricos. Com essa
que aumenta a capacidade de sus- um conjunto de adutoras, estações 30, para ter a garantia de que não realidade, é difícil ter uma gestão
tentabilidade econômica regional. elevatórias, reservatórios, aquedu‑ vamos ter nenhum tipo de colapso homogênea”, avaliou. Solução federativa
Com esse objetivo, foram alocados tos e canais com extensão de 256 na região metropolitana, onde está O planejamento não impediu,
R$ 2 bilhões. quilômetros. Estima-se que a obra metade da população cearense”, no entanto, que o sertão esteja no Rio Piranhas-Açu
Outra iniciativa é a construção de infraestrutura hídrica garantirá disse o senador Inácio Arruda. sofrendo com a seca que atinge
de sistemas adutores que possibi- o abastecimento de água para 4,2 De acordo com o diretor da o semiárido. Cerca de 125 mu‑ Um exemplo de bom uso dos cultura. Os usuários dos muni‑
litam o aproveitamento das águas milhões de pessoas da Região Me‑ ANA, Vicente Andreu Guillo, o Ce‑ nicípios cearenses, de um total recursos hídricos é o da Bacia cípios paraibanos de Coremas,
represadas em barragens ou açu- tropolitana de Fortaleza nos próxi‑ ará não tem só a melhor gestão de de 186, decretaram situação de Hidrográfica do Rio Piancó-Pira‑ Cajazeirinhas, Pombal, Paulista
des. A intenção é entregar 61 siste- mos 30 anos. águas do semiárido, mas do Brasil. emergência. A maior parte das ci‑ nhas-Açu, que abrange a Paraíba e Riacho dos Cavalos só podem
mas adutores em todo o Nordeste A o b r a i n t e g r a o PAC 2 “Eles têm planejamento e capa‑ dades está sendo abastecida por e o Rio Grande do Norte. Como captar água nas segundas, quar‑
e no norte de Minas Gerais, ao e consumiu R$ 1,5 bilhão. O Eixão cidade de execução. A água é um carros-pipa. Foram contratados a bacia é de fundamental impor‑ tas e sextas-feiras. Os usuários
custo de R$ 19,3 bilhões. se inicia no Açude Castanhão e, até dos pontos centrais das decisões 1.164 “pipeiros”, que trabalham tância para os dois estados, foi dos municípios de São Bento
“Muitos municípios do semiá- chegar a Fortaleza, abastece outros políticas no estado, coisa que, na sob coordenação do Exército. criado, em 2006, um comitê in‑ (PB), Jardim de Piranhas (RN) e
terestadual para gerir o uso das Jucurutu (RN) só podem captar
água nas terças, quintas e sába‑
Geraldo Magela/agência Senado

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL


águas.
Conf litos federat ivos p elo dos. No domingo, é proibida a
uso compar tilhado da s água s captação para essas atividades.
são cada vez mais comuns no O Rio Piranhas-Açu nasce na
Brasil. Formar comitês de bacias Serra de Piancó, na Paraíba, e
hidrográfica s de rios intermi‑ desemboca próximo à cidade de
tentes, como os do semiárido, Macau, no Rio Grande do Nor‑
é uma tarefa ainda mais difícil. te. Como a maioria dos rios do
No ­e ntanto, paraibanos e poti‑ semiárido nordestino, à exceção
guares foram bem-sucedidos na do São Francisco e do Parnaíba,
tarefa. é um rio intermitente (o fluxo
É o qu e af ir ma o direto r‑ d’água não é permanente). A
-presidente da ANA, Guillo: “A perenidade do fluxo é assegura‑
possibilidade de um marco regu‑ da por dois reservatórios cons‑
latório estabelecido pelo comitê truídos pelo Dnocs, o Coremas‑
de Bacia Hidrográfica Piancó‑ -Mãe d’Água, na Paraíba, e o
-Piranhas-Açu tem permitido a Armando Ribeiro Gonçalves, no
convivência numa região que Rio Grande do Norte.
está enfrentando a pior seca dos A bacia abarca 147 municí‑
últimos anos”. pios, sendo 102 na Paraíba e 45
Em outubro de 2014, dada a no Rio Grande do Norte. Nessas
situação de grave estiagem, a localidades, vivem aproximada‑
ANA restringiu o uso das águas mente 1,3 milhão de habitantes,
Senador José Pimentel cobra mais
agilidade para as obras do Nordeste, Infraestrutura hídrica deve garantir abastecimento para da bacia para irrigação e aqui‑ 67% deles na Paraíba.
a fim de diminuir uso de carros-pipa 4,2 milhões de pessoas da Região Metropolitana de Fortaleza

20 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
21
Escassez de água

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL

Jornal da UFRN
com adutoras, a exemplo do que talecimento das estruturas de con-
foi feito com a distribuição de servação e das ações preventivas
energia no Programa Luz para de preservação das nascentes e da
Todos. biodiversidade nos parques nacio-
“Para isso, tem água sobrando nais e estaduais na bacia do rio.
na região e a transposição não se- Entre as sugestões, está a proteção
ria necessária, mesmo no quadro e a revitalização das matas ciliares
atual da maior seca em 50 anos”, para conter erosões, inclusive com
avalia o especialista. o cercamento das nascentes.
A Agência Nacional de Águas
Revitalização (ANA) entende que a nascente do
Outra controvérsia em rela- Rio São Francisco na área de pre-
ção ao São Francisco é a sobrevi- servação do Parque Nacional da
vência do próprio rio. A Câmara Serra da Canastra está seca por
Consultiva Regional do Alto São causa da longa estiagem na Re-
Francisco, que é ligada ao Comitê gião Sudeste. Segundo a ANA, os
da Bacia Hidrográfica do Rio São impactos do fenômeno são senti-
Francisco, divulgou no final de dos especialmente no trecho que
setembro um documento que de- vai da nascente até a Usina Hi-
nuncia a grave situação do rio. drelétrica de Três Marias (MG)
De acordo com o documento, a e nos afluentes que não contam O professor João Abner considera
vazão do curso d’água está dimi- com reservatórios de regulariza- muito limitado o impacto social da
nuindo da nascente à foz. O texto ção das águas. Mais recentemente, transposição do São Francisco
adverte ainda que não se trata de a agência determinou que a vazão
uma crise pontual, mas histórica, do reservatório Três Marias seja
provocada por omissão e políticas reduzida dos atuais 150 mil litros São Francisco e melhorar a possi-
Obras em canal do Rio São Francisco, em Salgueiro (PE): projeto deveria ter sido inaugurado em 2012 desarticuladas de governos muni- por segundo para 120 mil litros bilidade de levar água aos mora-
cipais, estaduais e federais. A falta por segundo. O objetivo da ANA dores do semiárido seria a integra-
de uma gestão integrada da bacia é preservar o reservatório, que está ção da Bacia do Rio São Francisco

Polêmica, transposição a tem levado à exaustão.


Para contornar o problema, a
Câmara Consultiva Regional do
com 4,4% do volume útil.
Uma das soluções analisadas
pelo Ministério da Integração no
com a Bacia do Rio Tocantins,
entre os estados do Tocantins e da
Bahia. O ministério estuda as op-
é prometida para 2015 Alto São Francisco propõe a revi-
talização do rio, por meio do for-
Plano Nacional de Segurança Hí-
drica para aumentar a vazão do
ções de traçado para a integração
das águas.

Mesmo com obras em anda- Pelo projeto, o principal uso Porém, até hoje, o professor do

Mathias Fingermann
mento, o projeto de transposição das águas do São Francisco será o Departamento de Engenharia Ci-
do Rio São Francisco segue po- consumo humano e animal. Serão vil da Universidade Federal do
lêmico. O governo federal prevê beneficiados 12 milhões de habi- Rio Grande do Norte João Ab-
a conclusão do empreendimento tantes de 390 municípios de Per- ner Guimarães Júnior considera a
no fim de 2015, a um custo de R$ nambuco, Ceará, Paraíba e Rio obra muito limitada, com impac-
8,2 bilhões. Ao final, os dois ei- Grande do Norte, além de 325 tos numa área equivalente a me-
xos cortarão o semiárido, levando comunidades rurais que residem nos de 5% do semiárido.
a água do rio para quatro estados. a uma distância de 5 quilômetros “A transposição é um projeto
Não se trata de uma obra sim- da margem dos canais dos eixos restrito e inócuo com respeito à
ples. São 477 quilômetros de ca- norte e leste. realidade atual mais visível da
nais, com túneis e reservatórios Os técnicos do ministério ar- seca do Nordeste: a falência do
para bombeamento da água. Mas, gumentaram, em relatório de im- abastecimento hídrico das popu-
como acontece com a maioria das pacto ambiental produzido em lações rurais difusas que hoje são
obras brasileiras, a transposição 2004, que a transposição seria atendidas amplamente por milha-
do São Francisco também atra- a melhor opção para o forneci- res de carros-pipa”, alega.
sou — e ficou mais cara. Inicial- mento garantido de água à região. Segundo o professor, o custo
mente, a previsão era de que seria Outras hipóteses foram estudadas dos carros-pipa, de cerca de R$
inaugurada em 2012 por R$ 4,7 pelo ministério, como o uso de 350 por família por mês, é até 30
bilhões. Irregularidades e indícios águas subterrâneas, a dessaliniza- vezes o custo do abastecimento
de superfaturamento identificados ção (retirar o sal da água do mar), urbano convencional. Além disso,
pelo Tribunal de Contas da União o reaproveitamento de águas uti- na avaliação dele, ao contrário do
(TCU) também fazem parte do lizadas, o uso de cisternas para a que argumenta o governo, a solu-
empreendimento, que, segundo o captação de água da chuva, a in- ção para a falta d’água no semiá-
ministro da Integração Nacional, tegração com outras bacias hidro- rido passa, “prioritariamente e se-
Francisco Teixeira, estará 75% gráficas e a implantação de novos guramente”, por um amplo pro-
pronto até o fim de 2014. açudes. grama de abastecimento ­rural Nascente do São Francisco na Serra da Canastra (MG): vazão do curso d'água está diminuindo

22 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
23
Escassez de água

SÃO PAULO O gigantesco Cantareira


Composto por cinco barragens interligadas, sistema construído na década de 70 atende 9 milhões de pessoas

Estação
Res. Jacareí/Jaguari Elevatória ETA Guaraú
Res. Cachoeira Santa Inês Represa MG
Res. Atibainha Águas Claras
Oito reservatórios atendem 33 Instalou-se uma crise hídrica diretor-presidente da ANA. Res. Paiva
São Paulo Serra da Mantiqueira
cidades que integram a Grande sem precedentes. As fotos dos re- Durante esse período, afirmou Castro
São Paulo. Juntos, produzem 67 servatórios cada vez mais vazios as- Guillo, a ANA manteve “uma re-
mil litros de água por segundo sustaram a população. O governo lação positiva” com o governo de Bragança Reservatório

Rio
Municípios atendidos parcialmente Paulista Jacareí/Jaguari

Ati
para os 20 milhões de moradores. do estado adotou medidas para in- São Paulo, procurando ajudar na

ba
São Paulo, Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André Reservatório

ia
A distribuição da água para a po- centivar a economia: o combate criação de regras para gerenciar
Cachoeira
pulação é feita pela Companhia de das chamadas perdas físicas, cau- a água escassa. “É uma situação Rio Cachoeira
Saneamento Básico do Estado de sadas por vazamentos nas redes de muito delicada de impacto social, Municípios atendidos integralmente
Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Atibaia
São Paulo (Sabesp), que ficou cé- distribuição, e a troca de equipa- ambiental e econômico gravíssimo.
Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul
lebre por conta do agravamento da mentos, tubulações, hidrômetros e Estamos falando de uma região Reservatório
estiagem na região, a maior desde válvulas, redutores de pressão, além que representa 25% do PIB brasi- Represa Reservatório Paiva Castro Atibainha
Águas Claras Espelho d'água
1930, afetando principalmente o de uma varredura contra fraudes. leiro. Precisaríamos de uma posi- 86 km²
Estação de Tratamento
Sistema Cantareira, que, com seis Mais adiante, anunciou descontos ção mais forte da sociedade sobre de Água do Guaraú, onde Capacidade total
represas, abastece 9 milhões de e bônus nas contas de água para os qual das propostas é a mais ade- são tratados atualmente Túneis de ligação 982 bilhões de litros
pessoas em 11 cidades, incluindo a consumidores que economizassem. quada: manter um conforto de 33m³/s de água entre os reservatórios
Vazão máxima
capital. Porém, as medidas foram conside- retirada durante esse período au-
Serra da Cantareira 29 mil litros por segundo
Na década passada, as chuvas radas insuficientes por especialistas. mentando o risco ou reduzir essa
na região foram regulares. O sis- A persistente ausência de chu- retirada, de tal maneira que não Vazão na crise hídrica
São Paulo 16,6 mil litros por segundo
tema chegou a alcançar o nível vas levou à falta d'água nas tornei- haja um risco tão significativo no A Grande São Paulo consome
máximo pela primeira vez e, no ras em vários municípios, o mais futuro?”, questionou. 5 mil litros por segundo. Menor volume registrado no ano
início de 2011, verter água, cau- afetado deles foi Itu. “A água não A primeira medida emergencial Em 20 anos, previsão é que 3% da capacidade
consumo praticamente dobre
sando inclusive enchentes. Até ou- chegou e as retiradas em outubro, foi recorrer ao chamado volume 89,8% 82,5%
tubro de 2013, o nível da represa novembro, dezembro, janeiro e fe- morto do Sistema Cantareira, re-
67% 200
era normal. Porém, os quatro me- vereiro se mantiveram no mesmo serva de água que fica abaixo das Volume

volume em milímetros
ses seguintes, tipicamente chuvo- patamar. Havia tendência ao de- comportas das represas e que é 48,9% E as chuvas não vêm
anual médio
sos, foram de baixíssima captação. clínio, o que é normal no final do ­retirada com bombas. Essa reserva do Sistema 100
Choveu na região metropolitana ano e, depois, recuperação no perí- tem 400 bilhões de litros de água, 10,8%*
Cantareira
que fica a cerca de 100 quilôme- odo de chuvas. Mas isso não acon- dos quais 182,5 bilhões — a pri-
jan. fev. mar. abr. mai. jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
tros de distância, mas, se não cho- teceu. O declínio se acentuou”, meira cota — foram bombeados a 2010 2011 2012 2013 2014
ver na cabeceira do sistema, não explica Vicente Andreu Guillo, partir de 15 de maio. *Em 13 de novembro, incluídos volumes mortos 1 e 2 Média 2005–2012 2013 2014
adianta. Fonte: Sabesp
Diante do risco da seca, o go-
vernador Geraldo Alckmin quer O senador Eduardo Suplicy nar as causas da crise de abasteci-

Vagner Campos/Governo de São Paulo


usar as águas do Rio Paraíba do (PT-SP) defendeu a instalação de mento de água.
Sul, que abastece regiões do Rio bombas extras para retirar a água As chuvas chegaram no mês de
de Janeiro, para socorrer o Sis- do volume morto, alegando que o outubro, mas não foram suficien-
tema Cantareira. Depois de uma interesse público exigia a adoção
disputa que foi parar no Supremo dessa medida de caráter emergen-
Tribunal Federal, os governado- cial, garantindo-se as condições de
res do Rio de Janeiro e de Mi- qualidade e potabilidade. “Não ha-
nas Gerais fecharam acordo com via alternativa”, resumiu.
São Paulo, que pode viabilizar as O então senador Antonio Car-
obras pretendidas (veja texto na los Rodrigues (PR-SP) criticou a
próxima página). falta de planejamento do governo
A ANA afirmou, em outubro, paulista e da Sabesp para preve-
que a Sabesp teria descumprido o nir a crise. “Problemas de abaste-

Moreira Mariz/Agência Senado


limite de retirada de água autori- cimento não são somente por falta
zado no Cantareira, avançando de chuva, mas também por falta de
“sem permissão” sobre a segunda investimento. Especialmente numa
cota, o que foi negado pela Sa- região carente de bacias fluviais
besp. Alckmin responsabilizou o para atender a crescente demanda
governo federal pelo esvaziamento populacional”, afirmou.
de vários reservatórios, afirmando Para o então senador Odacir So-
Em maio, Sabesp iniciou
bombeamento emergencial
que foi dada prioridade à geração ares (PP-RO), os governos federal, Antonio Carlos Rodrigues criticou
da água do primeiro volume de energia elétrica, em detrimento estaduais, municipais têm que tra- o governo paulista por não agir
morto do Sistema Cantareira do abastecimento de água. balhar em conjunto para solucio- preventivamente diante da crise hídrica

24 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
25
Escassez de água

tes para evitar o uso da segunda litros por habitante, está distante
cota do volume morto. Antes do consumo do Rio de Janeiro
disso, o sistema tinha menos de (294 litros) ou do Distrito Federal
3% da capacidade disponível. (274 litros). Os paulistanos estão
Uma medida paliativa que tem na média do Sudeste, mais rico e
crescido é a perfuração de poços que mais consome água, acima da
artesianos. Em outubro, a Prefei- média nacional (159 litros).
tura de São Paulo lançou edital Também não é a campeã de
GERALDO MAGELA/Agência Senado

para contratação de empresas para desperdício. O Brasil tem índice


abertura de poços. A perfuração geral de 38,8% de perdas de água
tem de ser autorizada pelo Depar- nos sistemas de abastecimento. Se
tamento Estadual de Águas, pois forem classificados os 100 muni-
há risco de superexploração dos cípios que mais perdem, a capi-
aquíferos. Hoje existem cerca de tal paulista, com 38%, fica em
12 mil poços na região. 57º lugar, segundo o Instituto
São Paulo é a maior cidade do Trata Brasil. Ainda assim, a Sa-
Para o então senador Odacir Soares, só país, mas nem de longe a metró- besp contesta o número e diz que
haverá segurança hídrica com a atuação pole que mais consome água per os desperdícios hoje seriam de

Edilson Rodrigues/Agência Senado


conjunta da União, estados e municípios capita. Com uma média de 184 19,8%.

Socorro do Paraíba do Sul


Para reforçar o abastecimento de Paulo é discutido há mais de cinco ser apresentada até fevereiro de 2015.
água para a maior metrópole do país, anos, mas a retomada da proposta A Em Discussão!, o engenheiro
o governo de São Paulo quer transpor este ano causou reação negativa do Nazareno Mostarda Neto, secretá‑ Uso de água tratada para lavar carros
5 mil litros por segundo da Represa governo do Rio de Janeiro, que de‑ rio‑executivo do Comitê das Bacias e calçadas é considerado insustentável

Perdas e desperdício
do ponto de vista ambiental
Jaguari, no Rio Paraíba do Sul, para pende do rio para abastecer 11 mi‑ Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul,
o Reservatório Atibainha, no Sistema lhões de pessoas na Grande Rio. afirmou que há água suficiente para
Cantareira. A transposição só ocor‑ O Ministério Público Federal re‑ todos os usos, mas com parcimônia.
reria quando o reservatório receptor
estiver com nível abaixo de 35% ou
o doador acima de 75%. A ligação
correu ao Supremo Tribunal Federal
(STF) para impedir que a ANA auto‑
rizasse a Sabesp a tocar a obra. O mi‑
“Havendo modificação nas regras
de operação do sistema hidráulico
da Bacia do Rio Paraíba do Sul nos
agravam risco de escassez
entre as Represas Jaguari e Atibainha nistro do STF Luiz Fux promoveu au‑ momentos de escassez hídrica, prin‑ Cada gota de água economi- no Brasil, quanto preciso extrair para que isso ocorra, o estudo de-
depende da construção de 15 quilô‑ diência entre os governadores Geral‑ cipalmente minimizando a produção zada é importante, mas, ao con- para fornecer 10 litros de água? fende a aplicação de R$ 834 mi-
metros de túneis e canais, a um custo do Alckmin (SP), Luiz Fernando Pezão de energia elétrica, é possível que o trário do que o senso comum Eu preciso de 20 [litros]! Ou seja, lhões em recursos. Já o estudo
de R$ 830 milhões. O projeto é uma (RJ) e Alberto Pinto Coelho (MG), volume disponível seja suficiente para possa indicar, não é o desperdício estresso a quantidade de água de Perdas de Água: entraves ao avanço
das oito obras que o governo paulista em que foi fechado acordo pelo qual, atender a demanda de São Paulo. A com banhos demorados ou lava- que necessito para garantir o abas- do saneamento básico e riscos de
apresentou ao governo federal, com para tocar a obra, São Paulo terá que seca atual mostrou a urgência de usar gem de calçadas que mais põem tecimento”, explica Vicente An- agravamento à escassez hídrica no
custo total de R$ 3,5 bilhões. contar com o aval dos outros dois es‑ a água disponível de forma sustentá‑ em risco a segurança hídrica dos dreu Guillo, diretor-presidente da Brasil, do Instituto Trata Brasil,
O uso das águas do Paraíba do tados. Uma solução técnica sobre o vel, inclusive com melhoria do trata‑ brasileiros. Até porque menos de ANA. indicou que uma redução de ape-
Sul no abastecimento da Grande São uso da água do Paraíba do Sul deve mento de esgotos”, disse. 10% da água é destinada aos do- O senador Eduardo Suplicy nas 10% nas perdas já agregaria
micílios. Na verdade, estudos (PT-SP) cobrou investimentos de
apontam que a situação mais dra- todos os governos no combate às

Lia de Paula/Agência Senado


Reforço de 20% Represa do Funil Barra
RJ
mática está justamente nas empre- chamadas perdas físicas, por meio
Mansa sas operadoras — tubulações anti- da troca de equipamentos, tubu-
Ligação entre os sistemas terá 15 km de extensão e
aumentará em 20% a capacidade do Sistema Cantareira gas e malconservadas, por exem- lações, hidrômetros e válvulas, re-
plo. Em 2010, vazamentos, rou- dutores de pressão, além da exe-
MG Guaratinguetá Situações de uso da ligação bos e ligações clandestinas, falta cução de uma intensa varredura
l
do Su Quando um deles estiver acima de 75% de capacidade...
de medição ou medições incorre- atrás das fraudes, com o uso de
a
Res. Jacareí/ Sistema Pa raíb tas no consumo de água respon- equipamentos de alta tecnologia.
Jaguari Cantareira Rio Taubaté deram, na média nacional, por De acordo com a estratégia tra-
Res. Atibainha 37,5% das perdas de faturamento çada pela ANA no Atlas Brasil —
Represa das empresas. abastecimento urbano de água, to-
São José dos Campos
Jaguari O raciocínio é simples: se as dos os municípios teriam condi-
Jacareí ...ou quando um deles estiver abaixo de 35% de capacidade perdas são tão elevadas, é preciso ções de reduzir as perdas para pa-
Represa Paraibuna retirar do meio ambiente muito tamares de 30% até 2025. Mas,
mais água do que a população re-
almente necessita. “Se eu perco Suplicy sugere que seja dada prioridade
São Paulo Local da ligação 50%, que é o que acontece em vá- ao combate a perdas em tubulações do
rios serviços municipais de água sistema de abastecimento de água
Fonte: Proposta da Sabesp para a transposição do Rio Paraíba do Sul

26 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
27
Escassez de água

Como resultado, muitas vezes a industriais, recarga de aquíferos, as fontes de água de boa quali- zas química e biológica. São usa-
água tratada, depois de utilizada, aquicultura, construções. dade para abastecimento pú- dos pequenos lagos onde a água
é devolvida aos rios sem trata- Nesse sentido, os esgotos tra- blico e outros usos prioritários), lentamente — durante mais de
mento, como efluentes poluidores tados têm papel fundamental na mas cria uma opção econômica um ano — penetra o solo até
e esgotos. Na classificação mun- gestão sustentável dos recursos sustentável. chegar aos aquíferos, retornando
dial de aproveitamento dos recur- hídricos, como substituto para Há muitos níveis e formas de pura e cristalina. É praticamente
sos hídricos, o Brasil é apenas o o uso de águas destinadas a fins tratamento no reúso da água. A o mesmo processo usado nas esta-
86º país colocado, muito também agrícolas e de irrigação. O uso de- de melhor qualidade vem da adi- ções espaciais, que reciclam urina
em função do fraco desempenho les não só contribui para a con- ção de um processo de filtragem e fezes dos astronautas em água
no reúso de água, essencial para servação dos recursos (ao liberar por gravidade, depois das limpe- potável, oxigênio e adubo.
não sobrecarregar os mananciais.
O desconhecimento e a falta

Arquivo pessoal
de orientação e informação aos
cidadãos são os principais fato-
res que levam ao desperdício de
Secas e alta demanda do setor agrícola
são desafios no extremo sul do país

ABES
água. Dependendo do modelo
Combate às perdas pode garantir usado na casa, uma simples des- Para Alceu Bittencourt, cultura
recursos para ampliar oferta de água, carga do vaso sanitário pode con- brasileira que dá pouco valor Enquanto a média mundial de uso vouras irrigadas do país, com 984 mil ­alterando recentemente.
afirma Édison Carlos, do Trata Brasil à água tratada precisa ser alterada
sumir até 30 litros de água, en- de água na agricultura é de 70%, se‑ hectares, a maioria na metade sul do Antes com chuvas mais homogê‑
quanto as mais econômicas, aco- gundo a Organização das Nações estado. Dados da Organização das neas, a região pode ter um mês em
R$ 1,3 bilhão à receita operacio- pladas ao vaso, gastam no má- evento internacional sobre reúso Unidas (ONU), no Rio Grande do Sul Nações Unidas para a Agricultura e a que há muita precipitação em dois
nal com a água — quase metade ximo 6 litros (veja o infográfico de água realizado em outubro, na o percentual chega a 88,6%. O abas‑ Alimentação (FAO) revelam que 60% ou três dias e seca com temperaturas
de todo o investimento para o se- nas páginas 30 e 31). capital paulista. tecimento humano, segunda maior da água usada em projetos de irriga‑ muito altas no restante do período. A
tor em 2010. “As perdas nas grandes cidades demanda por água, consome apenas ção é perdida por fenômenos como a agricultura é, então, afetada por esse
“As perdas fazem com que mais Reúso de água brasileiras são cruéis com a neces- 5,4% dos recursos hídricos do estado, evaporação. Segundo os dados, uma ciclo de chuvas muito irregular, infor‑
água tenha que ser retirada da na- Limpar calçadas com água cor- sidade da disponibilidade hídrica. seguido por 3,3% do uso industrial e redução de 10% no desperdício po‑ ma o especialista.
tureza para cobrir a ineficiência. rente e lavar carros em lava a jato, A cultura de abundância nos leva 2,7% da criação de animais. deria abastecer o dobro da população “O que poderíamos estar expe‑
É preciso que governo federal, go- entre outros, são hábitos conside- a sermos lenientes, coniventes e Esse fato faz com que as altera‑ mundial. A ONU considera a agricul‑ rimentando é um processo de po‑
vernadores e prefeitos lutem por rados absurdos por especialistas. a acharmos que isso é simples. ções climáticas, especialmente as se‑ tura alvo prioritário para as políticas larização. Podemos ter muita chuva
reduções de perdas desafiadoras, Afinal, a água que sai da torneira Nunca vamos conseguir fazer cas causadas pelo fenômeno La Niña, de uso racional de água. em poucos dias e isso traz as conse‑
pois certamente resultarão em re- tem requisitos de qualidade eleva- com que a curva de consumo caia como a que ocorreu de novembro de Em debate no Senado, o secretário‑ quências de deslizamentos de terras
cursos financeiros para levar água dos para ser potável. apenas com medidas racionais. As 2011 a maio de 2012, tenham grande -executivo do Ministério da Integra‑ e enchentes urbanas, mas também
potável e esgotamento sanitário “A água tratada é um bem eco- pessoas, quando têm mais renda, impacto no consumo de água no es‑ ção Nacional, Irani Ramos, confirmou dias muito quentes. A época chuvosa
a quem não tem”, avalia Édison nômico obtido a custos cada vez consomem mais água. Devería- tado. O período do fenômeno coinci‑ que a metade sul do Rio Grande do é mais intensa e a estação seca tam‑
Carlos, presidente-executivo do mais elevados, mas a população mos levantar uma bandeira em re- de com o de maior consumo de água Sul enfrenta forte déficit hídrico. O bém”, explica Marengo, atualmente
Instituto Trata Brasil. segue imaginando que água é de lação às perdas”, completa Vicente para a produção de grãos. Segundo o climatologista José Marengo, do Ins‑ no Centro Nacional de Monitoramen‑
Essas perdas se devem ainda graça”, criticou Alceu Bittencourt, Andreu Guillo. Plano Estadual de Recursos Hídricos, tituto Nacional de Pesquisas Espaciais to e Alertas de Desastres Naturais.
à falta de investimentos em pro- da Associação Brasileira de Enge- O reúso faz parte de uma es- a demanda sobe muito nos meses de (Inpe) e integrante do Painel
gramas de reutilização da água nharia Sanitária e Ambiental em tratégia mais abrangente para o novembro, dezembro e janeiro, espe‑ Intergover na ment a l de
para fins industriais e comerciais. São Paulo (Abes-SP), durante um uso eficiente da água, que envolve cialmente para a irrigação de arroz nas Muda nç a s Climát i‑
também o controle de perdas e regiões central e sul do estado. cas (IPCC), afirma Erechim R io
Pel
desperdícios e a minimização da Inversamente, nos meses de inver‑ que o regime Santa Rosa o t as
Rio Ij
produção de efluentes e do con- no, as demandas por água são maiores de chuvas uí
R io P Santo Ângelo Passo Fundo
sumo de água. Na reutilização de na região do estado com maior con‑ do estado irati
ni Vacaria
água — chamada também de uso centração populacional (Grande Por‑ vem se São Borja
de águas residuais —, pode ha- to Alegre e Vale dos Sinos), ou seja, Rio das Antas

uai
g
ver ou não tratamento da água, na Bacia do Rio Guaíba. A explica‑

Uru
Santiago Caxias do Sul

R io
dependendo da finalidade para a ção é a maior atividade industrial e Rio Ibicuí Santa Cruz Lajeado
qual vai ser reutilizada. o abastecimento humano, que não Santa Maria do Sul Novo Hamburgo
Essas águas residuais trans- apresentam o efeito da sazonalidade, Uruguaiana
R io aí Rio Jacuí

Rio Sa
portam poluentes que, se não fo- como ocorre com a irrigação agrícola. Qu cac Porto Alegre
ara Va
R io

nt a M
rem retirados, podem prejudicar De acordo com a Agência Nacio‑ í
a qualidade das águas dos rios. Cerro Grande do Sul

aria
nal de Águas (ANA), o Rio Grande
Rio Camacuã
Mas, depois de reciclada, a água do Sul concentra a maior área de la‑ Santana do Livramento
pode ser usada para várias finali-
dades, como irrigação paisagística Bagé
Alteração climática caracterizada
e de campos para cultivos, refrige- Quantidade de Pelotas
pelo resfriamento anômalo das
ração e alimentação de caldeiras águas superficiais do Oceano
água comprometida
Pacífico, que traz diversas conse- Quantidade e qualidade de
Aviso em Santa Mônica, na Califórnia quências por conta da alteração da água comprometidas
Tempshill

(EUA): água de irrigação é reciclada, circulação dos ventos que levam à Fontes: ANA, IBGE e Trata Brasil
imprópria para consumo humano formação de chuvas.

28 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
29
Escassez de água

Os “ralos” por onde escorre a água tratada


De 20% a 60% da água das redes de abastecimento se perde no caminho entre as estações de
tratamento e o consumidor. Além disso, o desperdício e o uso inadequado são grandes nas residências

Escovando os dentes Fazendo a barba Banho Lavagem de roupas Lavagem de calçada Lavagem de carro
5 min 12 litros 5 min 12 litros 15 min 135 a 150 litros Máquina de 5 kg consome 135 litros* 15 min 300 litros 15 min 350 a 780 litros
Dica: Encha um copo com a água Dica: Use a pia como reservatório para Dica: Feche o chuveiro ao se ensaboar ou Dica: Sempre use a máquina de lavar na Dica: Não use a mangueira como Dica: Use dois baldes, um com água e
necessária para o enxágue lavar o aparelho de barbear lavar os cabelos. Reduza o tempo capacidade máxima de roupas vassoura. Primeiro limpe o local e depois sabão, outro com água limpa
Economia: Até 11 litros por vez Economia: Até 10 litros por vez Economia: Até 45 litros por vez lave usando baldes Economia: Até 700 litros por vez
Economia: Até 260 litros por vez

Vaso sanitário
Lavagem de louças
Até 30 litros* conforme modelo
15 min 120 litros
Dica: Instalar descargas de baixo consumo
e (ou) caixa d'água acoplada Dica: Limpe os restos de comida e jogue
Economia: Até 10 a 15 litros por vez no lixo. Encha a pia até a metade para
ensaboar e feche a torneira. Esvazie a pia
e encha até a metade novamente para
enxaguar
Economia: Até 100 litros por vez

Regar jardins
10 min 190 litros
Dica: Regue de manhã cedo ou à noite, o
que diminui a evaporação. Use mangueira
com esguicho
Economia: Até 100 litros por vez

78% do consumo doméstico


de água são no banheiro
Desperdícios na distribuição
Redes de abastecimento estão, em geral, malconservadas Uso da água de chuva
* Consumo de água em cada uso Tanto pode ser recolhida em baldes
Metade do prejuízo das quanto com a implantação de um sistema
De gota em gota, perdas se acumulam empresas é causado de coleta. Para ser potável, deve sofrer
por roubos, ligações filtração e cloração, o que pode ser feito com
clandestinas, falta de equipamento barato e simples. Pode ser usada
medição ou medições para lavagem geral, nos vasos sanitários etc.
incorretas. Reduzir
as perdas para 33% Calha coleta
representaria R$ água da chuva
Pequena rachadura Torneira pingando Filete de água 1,3 bilhão a mais no
na tubulação: lentamente: vazando: Mundo Brasil faturamento, ou metade Filtro
35% 38,8% dos investimentos em
6.000 1.500 10.000 abastecimento em 2010 Reservatório
litros/mês litros/mês litros/mês Bomba Água da rua

Fontes: Sabesp, ANA e Instituto de Educação e Pesquisa Ambiental.

30 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
31
entrevista com josé marengo, membro do painel intergovernamental sobre mudanças climáticas (ipcc)
Especialistas convocados pela ONU
renovaram em outubro alerta para
impactos do efeito estufa no clima

Em reunião da Comissão Mista


Permanente sobre Mudanças Cli-
Mudança climática já chegou
máticas (CMMC), o subsecretá- Os efeitos no clima em consequência As enchentes registradas no começo Depende do setor. A Embrapa está
rio-geral de Meio Ambiente, Ener- do aquecimento global esperados deste ano em Rondônia e a falta desenvolvendo há mais de dez anos
gia, Ciência e Tecnologia do Mi- para os próximos 25 anos já são de chuva no Sudeste são, em geral, variedades de culturas mais resistentes
nistério das Relações Exteriores, observados agora em várias partes fenômenos meteorológicos associados às secas e às altas temperaturas.
embaixador José Antônio Marcon- do mundo, inclusive no Brasil. O a causas naturais. O problema é Outra forma de adaptação é a
des de Carvalho, disse que o Brasil alerta é de José Marengo, doutor em que eles estão acontecendo mais construção de cisternas no Nordeste.
vai defender, na 20ª Conferência Meteorologia do Centro Nacional frequentemente. Antes eram Algo que tem funcionado em outros
das Partes da Convenção-Quadro de Monitoramento e Alerta de tratados como eventos de uma vez países é a transposição dos rios.
das Nações Unidas sobre Mudan- Desastres Nacionais (Cenadim) e a cada cem anos ou de uma vez a
ças Climáticas (COP-20) — em membro desde 1996 do IPCC. cada milênio. Ainda que a causa A população está esclarecida para os
dezembro de 2014 em Lima, Peru individual dos fenômenos sejam riscos de uma possível falta de água?
—, que seja mantida a regra do O último relatório do IPCC mostra processos naturais, sobre os quais o Em 2001 [durante a crise energética

IPCC
Protocolo de Kyoto, que obriga as que alguns impactos das mudanças homem não tem controle, é possível causada pela redução do nível dos
nações desenvolvidas a reduzirem climáticas previstos para o futuro afirmar que eles estão mudando de reservatórios das hidrelétricas por

Aquecimento global
a emissão de gases de efeito estufa. já estão aí. O que acontece? comportamento. É difícil atribuir a falta de chuvas] tivemos a mesma
Os países em desenvolvimento têm Os modelos projetam que essas seca do Sudeste à mudança climática, discussão, até que começou a chover
a possibilidade de estabelecer me- situações devem ficar piores no porque a seca é um fenômeno de e todo mundo esqueceu. Temos

pode causar mais secas tas voluntárias.


Segundo Carvalho, um novo
acordo global deve ser assinado em
futuro, mas achávamos que esses
fenômenos só seriam observados em
2030 ou 2040, mas já estão ocorrendo
curta duração e mudança climática
é um processo de longo prazo. A
gente não tem feito no Brasil esse
todas as evidências de que algo está
mudando, mas nada foi feito depois
do que se aprendeu em 2001. Se
O impacto das atividades hu- agravar se não houver redução na 2015, na COP-21, em Paris, dando extremos de chuvas mais frequentes tipo de estudo para saber qual o você toca os bolsos das pessoas,
manas sobre o clima, discutido in- emissão dos gases do efeito estufa aos países pelo menos cinco anos e intensos, nos últimos 50 e 60 anos, impacto das mudanças climáticas todo mundo reage. Essa é a forma
tensamente pela comunidade in- (GEE). O alerta foi repetido na úl- para implementar os compromis- em várias regiões do mundo, como o na seca na Região Sudeste. Estamos de adaptação mais rápida. Foi o que
ternacional, é logo apontado como tima reunião do IPCC, em 31 de sos assumidos. sudeste da América do Sul, que inclui estudando as causas meteorológicas. aconteceu em 2001. Todo mundo
um dos motivos para a seca tão se- outubro de 2014, em Copenhague, São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Deveria ter chovido bastante em queria pagar menos e pouparam 20%
vera que se abateu sobre o Sudeste na Dinamarca. O relatório aponta Aires. Em consequência, cresce a janeiro e em fevereiro de 2014, mas de energia. Participei de reuniões
brasileiro em 2013 e 2014. Ainda que a temperatura média da Terra quantidade de desastres naturais. Esses choveu quase 80% a menos. em 2001 e agora, em 2014. Quase
que não haja condições de com- aumentou 0,85 grau centígrado en- extremos de chuva são resultado do sempre voltamos à mesma situação.
provar definitivamente que a ação
do homem sobre a natureza seja a
tre 1880 e 2012 e que, até 2100,
poderá ficar pelo menos 4 graus
Planeta mais aumento de concentração dos gases
de efeito estufa e da urbanização.
A incidência e a intensidade das
secas na região do semiárido
Não é surpresa. Já aconteceu antes.
Este ano está sendo pior, porque a
causa da falta de chuvas, o Painel mais quente em comparação à era quente traz Onde antes havia a Mata Atlântica, nordestino também aumentaram? estiagem está mais longa. O clima
Intergovernamental sobre Mudan- pré-industrial. hoje há concreto. Além disso, muitas O clima está mudando. Não tem é o deflagrador de todo tipo de
ças Climáticas da ONU (IPCC) A opção indicada pelo IPCC consequências: vezes, como em São Paulo, chove como reverter o aquecimento global. problemas e, se isso não se resolve,
considera que a emissão de ga- para evitar uma catástrofe é um sobre a cidade, mas não sobre a região A única forma é se adaptar. Se a a gente pode ter problemas sociais.
ses que provocam o efeito estufa corte de 40% a 70% na emissão • M a i o r e s c a s s e z d e á g u a , da Cantareira, onde deveria chover. população do Nordeste não faz isso
aquece o planeta e já tem efeitos ir- dos GEE até 2050 e a total elimi- especialmente nas regiões sub‑ e as projeções mostram que a região A matriz energética do Brasil
reversíveis, que podem causar mais nação dessa poluição até o final tropicais. Qual a relação entre mudanças do semiárido pode passar para árido, depende muito da água. O que
secas e inundações, levando tam- do século. Uma saída é o aumento • Falta de alimentos, por conta do climáticas e a frequência de chuvas? podemos ter um problema muito pode acontecer com a geração de
bém à escassez de água em algu- no uso dos combustíveis renová- impacto nas colheitas de grãos maior. Podemos falar de um processo energia elétrica se os períodos de
mas regiões. veis dos atuais 30% para 80% até e na pesca. de desertificação, por exemplo. estiagem ficarem mais intensos?
Já se sabe, por exemplo, que o 2050. • Aceleração da extinção da s Sempre se pensou o Brasil como um
fenômeno El Niño, caracterizado espécies e de danos aos ecossis‑ O relatório do IPCC menciona que país com muita água, mas estamos
pelo aquecimento das águas do Legislativo atento temas. é preciso a sociedade se adaptar vendo áreas onde pode haver
Oceano Pacífico, tem efeitos no Ainda segundo o relatório, pre- • Correntes migratórias provo‑ à elevação da temperatura. Como redução de chuvas. Os grupos que
clima. No Brasil, observa-se a di- parado por cientistas de 80 países cadas pela perda de terras em essa adaptação acontece no Brasil? trabalham com segurança energética
minuição de chuvas no Norte e no incluindo o Brasil, nos primeiros decorrência do aumento do devem tentar fazer combinações
Nordeste e o aumento da tempe- dez anos do século 21, as emis- nível do mar. entre energias. Uma alternativa é o
ratura média no Sul e no Sudeste. sões de gases de efeito estufa foram • Riscos de inundações nas la‑ uso da energia eólica. Mas o Brasil
Por isso, há ocorrência de mais as mais altas da história. O perí- titudes do norte e do Pacífico é muito grande, com megacidades,
queimadas, que, com a derrubada odo entre 1983 e 2012 foi o mais equatorial. e as energias solar e eólica não
da floresta, de acordo com estudos quente dos últimos 800 anos no • Riscos de conflitos por causa da “O clima está conseguem satisfazer toda a demanda.
mudando. Não tem
do pesquisador Antônio Nobre, do Hemisfério Norte. Ainda que os falta de recursos. como reverter o Há de haver uma combinação de
Instituto Nacional de Pesquisas Es- impactos sejam distribuídos por • Impactos sobre a saúde provo‑ aquecimento global. todos os tipos de energia. O ideal é
paciais (Inpe), pode ter impacto na todo o mundo, populações pobres, cados pelas ondas de calor e a A única forma é se buscar fontes alternativas de energia
ASCOM ABC

falta de água no Sudeste. mais vulneráveis, estarão mais ex- proliferação de doenças infeccio‑ adaptar” e não depender exclusivamente
A situação vai continuar a se postas aos danos. sas transmitidas por mosquitos. de água ou de petróleo.

32 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
33
Escassez de água

Poluídos, rios urbanos não No saneamento, principal problema é a falta de esgotamento sanitário

ajudam no abastecimento
Índices melhoraram desde 2002, mas não o suficiente para cumprir a meta
do plano nacional. Somente 38% do esgoto produzido no país é tratado

Norte
Não basta ter água. É preciso Sinos (RS), Gravataí (RS), das Por isso, água para abasteci- Domicílios urbanos com Por tipo de serviço
ter água limpa. A última pesquisa Velhas (MG), Capibaribe (PE), mento humano está tendo que ser saneamento adequado Com 30,3% Nordeste
Indicadores de Desenvolvimento Caí (RS), Paraíba do Sul (RJ) e captada cada vez mais longe dos Sem Coleta de esgoto (%)
Sustentável (IBGE), publicada em Doce (ES). locais de consumo, nas grandes + de 2 6,4%
salários Com
2012, mostra que a falta de sane- O Tietê e o Iguaçu, aliás, es- cidades. “A poluição dos manan- Sem Abastecimento de água (%) 76,3%
mínimos
amento é um dos maiores proble- tão entre os dez mais poluídos do ciais é uma questão crítica. No per capita 82% 83,6 % 46,9%
mas do país. Grande quantidade mundo. A sujeira das águas dos caso da Região Metropolitana de 70,3%
de esgoto não tratado é lançada rios próximos a cidades impede São Paulo, as águas dos Rios Ta- Brasil 63% Centro-Oeste
em rios, lagos e represas, consti- que elas sejam utilizadas para manduateí, Pinheiros e Tietê não 51,7%
tuindo um dos principais fato- 6,4%
abastecimento da população em existem para consumo, por causa
Até ½ 38,4 %
3 em cada 10
Sudeste
res do baixo índice de qualidade caso de crise hídrica, como acon- da poluição. O Tietê, lá na frente, salário 49,0 7,5% 3,5
% %
da água, o que ameaça a saúde tece agora na capital paulista. é limpo, mas a disponibilidade mínimo domicílios urbanos
da população e a preservação do da água na região de São Paulo é per capita não possuíam coleta
meio ambiente. Esgoto zero”, alertou o diretor da ANA, Brasil
de esgoto Sul
Os mananciais são poluídos O Rio Tietê, por exemplo, re- Vicente Andreu Guillo. 2002 2012 6,9%
3,5%
principalmente nos trechos em cebe resíduos industriais e esgoto O problema se repete na capi- Fonte: IBGE 27,7%
áreas urbanas, atravessam zonas não tratado de 19 dos 39 municí- tal fluminense. “A cidade do Rio 30,5%
industrializadas e de intensa ativi- pios da Região Metropolitana de de Janeiro tem que captar cerca de
dade agrícola ou passam por cida- São Paulo. Diariamente, são des- 120 mil litros por segundo para com a captação de água nos ma- deve ser tratado e devolvido aos O senador Jorge Viana (PT-​
des de médio e grande portes. É o pejadas 690 toneladas de esgoto tratar cerca de 50 mil litros por nanciais, que é levada por adutora mananciais. AC) lembrou ranking elaborado
caso dos Rios Tietê, na cidade de no rio mais importante do estado segundo. Ou seja, a grande maio- até a estação de tratamento. De- Em relação à coleta de esgoto, pelo Banco Mundial, que coloca
São Paulo, e Iguaçu, em Curitiba, dono da maior economia no país. ria dessa água é destinada à dilui- pois de tratada, a água é armaze- o Brasil ainda tem muito por fa- o Brasil na 112ª posição em lista
campeões de poluição no Brasil. Nos anos 1990, a mancha de po- ção de poluentes para transformar nada em reservatório e distribuída zer. Quase 30% dos domicílios de 200 países com relação a sane-
Além deles, os outros rios mais luição no Tietê chegou a 100 qui- a água em água tratada”, contou. para a população. A água suja é brasileiros ainda não têm sanea- amento básico (água e esgoto). “O
poluídos do país são Ipojuca (PE), lômetros de extensão. O ciclo do saneamento começa coletada pela rede de esgoto, que mento adequado, segundo a Sín- país ainda está aquém, no acesso
tese de Indicadores Sociais 2013 a saneamento básico, de países
(IBGE). O conceito de sanea- desenvolvidos e até de alguns vi-
Rio Tietê, que cruza São Paulo, está entre os dez mais poluídos do
mundo e não oferece nem sequer 1 litro d'água para uso no local
mento adequado abrange serviços zinhos da América do Sul. Mas é
essenciais para tornar a moradia preciso dizer que os investimentos
saudável e digna: abastecimento aumentaram”, completou.
de água e esgotamento sanitário
ligados à rede geral, coleta de lixo
e iluminação elétrica.
Desses itens, o maior problema
é o esgotamento sanitário, que
falta a quase todos os domicílios
sem saneamento adequado. Ape-
nas 5,9% não possuem coleta de
lixo e 0,2% não tem eletricidade.
Quando o assunto é trata-
mento, a situação é pior ainda. Se-
gundo dados do Instituto Trata
Brasil, apenas 38% do esgoto pro-
duzido no país é tratado. O resto
é devolvido à natureza sem o
devido tratamento.

Geraldo Magela/Agência Senado


Além de não coletar e tratar o
esgoto, o país não fiscaliza a qua-
lidade da água. Dos 5.570 muni-
cípios brasileiros, 2.659 não mo-
nitoravam a qualidade da água.
Quase a ­metade, 2.676, também

Fernando Stankuns
não possui plano de saneamento
básico. Os d­ ados fazem parte da Ao lamentar que Brasil seja apenas o
Pesquisa de Informações Básicas 112º país em saneamento, Jorge Viana
Municipais (IBGE), de 2013. pediu mais investimentos no setor


35
Escassez de água

Os investimentos, no entanto, mento, que leva em conta a co- são do saneamento caiu em vez de
têm sido insuficientes para atingir bertura atual e a evolução nos úl- aumentar. Na década de 2000, as
a meta do Plano Nacional de Sa- timos anos. Quanto mais perto redes cresciam 4,6% por ano. No
neamento Básico (Plansab), que é do ­número 1, melhor o índice. entanto, de 2010 para cá, a taxa
resolver até 2033 os problemas da O Brasil obteve uma nota 0,581, encolheu para 4,1%.
área no Brasil. De acordo com re- porque foi mal nos dois quesi- Para universalizar a cobertura
latório do Instituto Trata Brasil e tos. Ou seja, não tem boa cober- até 2033, o instituto calcula inves-
do Conselho Empresarial Brasi- tura nem a ampliou significativa- timento total da ordem de R$ 313
leiro para o Desenvolvimento Sus- mente nos últimos anos. O pior bilhões, cerca de R$ 15,6 bilhões
tentável, no atual ritmo de libera- desenvolvimento sanitário foi por ano. O Ministério das Cida-
ção de recursos, essa meta só será identif icado na Região Norte des afirma que entre 2011 e 2013

Conrad Rosa
atingida em 2050. (0,373) e o melhor, no Centro- a média do gasto anual ficou em
O ranking feito pelo insti- -Oeste (0,660). R$ 8,2 bilhões, por meio do Pro-
tuto tem como base o Índice Como se não bastasse, o relató- grama de Aceleração do Cresci-
de Desenvolvimento do Sanea- rio mostra que o ritmo de expan- mento (PAC 2).

Rio intermitente na região do Cariri:

Considerada ideal,
dificuldade para criar comitês de bacias
de cursos d'água sem fluxo contínuo
Cultivo de morango em
Brasília já vive Brazlândia (DF) tem alta

lei esbarra na realidade


demanda de água e corre risco

estado de alerta durante a estação seca

A estação seca, que pode durar Em vigor desde 1997, a Lei missão de Infraestrutura do Se- burocracia emperram o processo e
quatro ou cinco meses na capital da 9.433/1997, também conhecida nado, o diretor-presidente da contribuem para a ineficácia dos
República, não é uma ameaça tão como Lei das Águas, instituiu a ANA, Vicente Andreu Guillo, comitês, deixando-os à mercê de
grande ao abastecimento de água Política Nacional de Recursos Hí- abordou a dificuldade de imple- interesses políticos conjunturais.
de qualidade quanto a poluição e o dricos e criou o Sistema Nacio- mentação da lei por ela não ser Para a especialista, órgãos ges-
aumento da demanda por conta do nal de Gerenciamento de Recur- fruto de uma cultura e de proce- tores ignoram deliberações apro-
crescimento populacional desorde‑ sos Hídricos (Singreh). A lei teve dimentos já existentes no país, e vadas pelos comitês de bacia, con-
nado. O sistema de monitoramento inspiração no modelo de gestão sim idealizada a partir de um mo- tribuindo para o descrédito do
da Agência Reguladora de Águas, francês e é considerada moderna delo. Guillo defende que a legisla- modelo. Entre outras questões
Energia e Saneamento Básico do e inovadora por assegurar meca- ção possa refletir melhor as espe- desafiadoras apontadas por Ana
Ana Volpe/agência senado

Distrito Federal (Adasa) já aponta nismos de participação dos usuá- cificidades do território nacional, Cristina, estão também o pouco
áreas em estado de alerta ou estado rios de água e de representantes de com mecanismos mais apropria- envolvimento da sociedade, a ado-
crítico também pela devastação da segmentos da sociedade. dos para a participação popular. ção da bacia hidrográfica como
vegetação nativa, ocupações irregu‑ Como integrantes do Singreh, — A lei se aplica muito bem unidade de planejamento dife-
lares e assoreamento dos rios. os comitês de bacias hidrográficas a regiões como a Sudeste, onde é rente da divisão política do país e
A deterioração da natureza, o reúnem representantes do poder possível constituir comitês, com a compatibilização das atribuições
desmatamento e o crescimento ur‑ público, usuários e comunidades áreas, densidade demográfica e institucionais em rios de domínio
bano descontrolado vêm ameaçando da água tratada foi perdida no pro‑ que estão sob maior risco. para buscar soluções conjuntas de recursos capazes de transformá- federal e estaduais.
os mananciais e os reservatórios de cesso. Em 2013, o número aumentou — O crescimento populacional e ­melhoria da qualidade e quanti- -los em organismos vivos. Mas é
água na jovem capital do país. É o para 25,6%. o lançamento de esgotos e, princi‑ dade da água. muito difícil imaginar comitês Financiamento inicial
caso, por exemplo, da Barragem do Nesse passo, as séries históricas palmente, de resíduos sólidos com‑ Porém, em audiência na Co- que atendam toda a Amazônia, Em estudo sobre a Política Na-
Rio Descoberto, que abastece 65% de vistoria demonstram que cada prometem os córregos da região, com os 4 milhões de quilômetros cional de Recursos Hídricos, a
da população do Distrito Federal. vez mais áreas apresentam disponi‑ que têm pouca capacidade de recu‑ quadrados, e o semiárido com a consultora legislativa da Câmara

José Cruz/Agência Senado


A barragem localiza-se em uma bilidade hídrica em estado de alerta peração — alertou Welber Ferreira. maioria de seus rios intermitentes Ana Cristina Schwingel avalia que
área que recebe a água da chuva ou crítico. Segundo informações da Ada‑ — analisa. um caminho para solucionar o
que carrega muita sujeira das cida‑ Welber Ferreira, especialista da sa, com altitude que varia de 600 Segundo Ana Cristina Mas- problema inicial de financiamento
des vizinhas para o reser vatório, Adasa, avalia ainda que a região a 1.100 metros acima do nível do carenhas, especialista em direito dos comitês seria a previsão na lei
provocando poluição por lixo e fer‑ de Brazlândia, onde está localiza‑ mar, o Distrito Federal é um berço ambiental e recursos hídricos, a de que, logo após a constituição
tilizantes e o assoreamento do lago. da a Barragem do Descoberto, está de nascentes de rios que pertencem maior dificuldade está na falta de desses organismos, aprovada pelo
Em consequência, o índice de quali‑ sob risco ainda maior por conta às Bacias do São Francisco, Tocan‑ estruturação dos comitês de bacia, respectivo conselho, recursos fi-
dade da água piora. da grande demanda da agricultura tins e Paraná, apresentando baixas principalmente por falta de recur- nanceiros lhes sejam destinados
Com isso, a Companhia de Sanea‑ ­local, especialmente no período de vazões, que diminuem nos períodos sos financeiros. Ela argumenta para que executem os planos e ins-
mento Ambiental do Distrito Federal seca. Escassez também pode ocorrer de seca. Nas sete bacias do Distrito que a indefinição da origem e do talem as agências de bacia.
(Caesb) tem que intensificar o pro‑ na região do Pipiripau, em Planalti‑ Federal, quatro áreas já têm qualida‑ montante dos recursos a serem De acordo com a consultora,
cesso de purificação da água para na, na região noroeste do Distrito de da água preocupante, ainda que aplicados, a forma de repasse e a inicialmente o dinheiro viria do
evitar a perda da qualidade. Atual‑ Federal. Em relação à qualidade, o o monitoramento da Adasa indique Orçamento da União e dos esta-
mente, a Caesb oferece 8,5 mil li‑ ­e specialista explica que Taguatin‑ que a qualidade das águas dos rios Vicente Guillo, da ANA, considera dos até que a porcentagem dos re-
tros por segundo para consumo. De ga e Ceilândia, a s dua s maiores­­ do DF esteja situada nas faixas “mé‑ aplicação da lei difícil por ela não cursos advindos da cobrança pelo
acordo com a Adasa, em 2012, 24% cidades do Distrito Federal, são as dia” e “boa”. ser fruto da cultura local uso da água (prevista na Lei das

36 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
37
Escassez de água

Águas) seja suficiente para finan- PCJ, uma diretoria colegiada e a como decorrência da transposição O consultor legislativo da Câ- maiores desafios encontrados para dos critérios técnicos de difícil
ciar todos os comitês. Agência das Bacias PCJ. No âm- do Paraíba do Sul. “A divergência mara dos Deputados Maurício implantar a cobrança pelo uso. mensuração.
bito do comitê, são 12 câmaras de legislações de Minas Gerais e Boratto Viana, especialista em di- Ele afirma que há grande com- “Saber o que e quanto os seto-
Conflitos estaduais técnicas com mais de 800 entida- do Rio de Janeiro é uma grande reito ambiental, aponta que o ca- plexidade para definir a quanti- res jogam nos rios também é outra
Encontro no Centro de Estu- des e mais de 1.000 pessoas físicas dificuldade para a gestão dessas dastro dos usuários de água e a dade consumida pela irrigação, etapa que dificulta a implementa-
dos e Debates Estratégicos da Câ- participando das reuniões mensais. águas”, observou Aparecida. quantidade usada do recurso são os maior usuário de água, por conta ção da cobrança”, acrescenta.
mara reuniu representantes dos Representante do Comitê de
comitês de bacia hidrográfica do Integração da Bacia Hidrográfica

Gustavo Lima/CD
Rio Paraíba do Sul (Ceivap) e dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jun-
diaí (PCJ), pioneiros no país.
do Paraíba do Sul, Maria Apare-
cida Vargas relata situação pare-
cida. O rio atravessa três estados,
Lei não evita conflitos no uso da água
O economista Sérgio Razera, com legislações por vezes confli- A geração de energia no Brasil
diretor da Agência das Bacias tantes. Há o Ceivap, o comitê fe- tem fonte majoritariamente hídrica
dos Rios Piracicaba, Capivari e deral e sete comitês estaduais — e o setor elétrico é o gestor priori-
Jundiaí (PCJ), relatou que, por um em São Paulo, dois em Minas tário das águas. No entanto, a ou-
abranger áreas de dois estados e Gerais e quatro no Rio de Janeiro torga e a utilização de recursos hí-
rios de domínios federal e estadu- —, além do comitê do Guandu, dricos para geração de energia, de
ais, existem três comitês de bacia acordo com a Lei das Águas, devem
— o mineiro, o paulista e o fede- Razera disse que mais de preservar o uso múltiplo dos cur-
800 entidades e de 1.000
ral —, que funcionam integrados pessoas atuam na gestão da
sos d’água e, em caso de escassez, a
e têm o mesmo plano de bacia. Bacia dos Rios Piracicaba, prioridade é o consumo humano e a
Há ainda o plenário dos comitês Capivari e Jundiaí dessedentação de animais.
Porém, o uso múltiplo da água
previsto em lei pode levar a con-
Usina de Itaipu, na fronteira com o

Resistências à cobrança são fortes


flitos entre os usuários, especial- Paraguai: setor elétrico é o gestor
mente nos momentos de escassez. prioritário das águas no Brasil

Itaipu
A geração hídrica de energia com-
Segundo informações da Agên- xado nos comitês de bacia hidro- cobrança pelo uso da água é um pete com a irrigação das lavouras
cia Nacional de Águas (ANA), gráfica a partir de pacto entre os instrumento tributário importante agrícolas e o consumo humano, a prática de reúso da água. Outra das águas, historicamente con-
atualmente são cobrados valores usuários da água, a sociedade civil por ter o valor definido na bacia podendo ainda prejudicar a pesca e solução que aumenta a disponibili- troladas e avaliadas pelo setor elé-
pelo uso da água nas bacias hidro- e o poder público. Os comitês pro- hidrográfica, onde também ocor- a navegação devido às operações de dade hídrica para a população, di- trico, pode ser reduzida se também
gráficas de rios da União e de São põem ao respectivo conselho de re- rem a arrecadação e a aplicação dos hidrelétricas, que ocasionam flutu- minuindo o conflito, é investir em aumentarem os investimentos em
Paulo, Minas Gerais, Rio de Ja- cursos hídricos — estadual ou na- recursos. Ele ressalta, porém, que a ações nos níveis de água dos rios e sistemas de tratamento de esgoto, fontes de energia renováveis como
neiro, Ceará e Paraná. Prevista na cional — os mecanismos e os va- implementação é muito difícil no lagos. A poluição dos mananciais aponta o consultor legislativo da eólica e solar, explica o consultor.
Lei das Águas para dar ao usuário lores de cobrança a serem adotados território nacional devido às dife- causada pelo crescimento desor- Câmara dos Deputados Maurício Ele ressalta a necessidade de esti-
uma indicação do real valor do re- na área de atuação, para que sejam renças de disponibilidades hídricas denado piora a competição pelos Boratto Viana. mular o uso de múltiplas fontes
curso, a cobrança foi criada tam- aprovados e passem a ser cobrados e do poder econômico em cada re- recursos hídricos, também larga- — Num país que tem 85% do energéticas para escapar da depen-
bém para incentivar o uso racional pela ANA, no caso de rios de do- gião do país e por causa de setores mente usados na indústria. contingente na área urbana, é pre- dência hídrica.
da água e obter verba para recupe- mínio da União, e pelos respecti- da indústria e da agricultura. Segundo Ivanildo Hespanhol, ciso tratar a água que é consumida — É possível evitar gastos com
ração das bacias. vos órgãos gestores, para águas de “Há uma indisposição a esse professor da Universidade de São para evitar a escassez e impedir que linhas de transmissão de hidrelé-
A cobrança não é um imposto, domínio dos estados. instrumento. O setor industrial Paulo (USP) e diretor do Centro o esgoto seja dispensado na natu- tricas, que atualmente precisam
mas a remuneração pelo uso de Na avaliação do diretor da alega que a cobrança vai elevar o Internacional de Referência em reza — diz Boratto. ser instaladas em áreas ambiental-
um bem público, cujo preço é fi- ANA, Vicente Andreu Guillo, a custo da implementação de uma Reúso de Água, diante da tendên- No cenário de escassez, a com- mente mais vulneráveis, como a
fábrica em determinada região e cia de crescimento populacional petição para exploração energética Amazônia — afirma.
os pequenos e médios agricultores e industrial, uma das opções ado-
Na Amazônia, a grande quantidade de veem nela a inviabilização da agri- tadas para aumentar a disponi-
recursos hídricos torna inconcebível a cultura irrigada”, explicou. bilidade hídrica é importar água
cobrança pelo uso da água Guillo argumenta que a co- de bacias cada vez mais distantes,
brança foi concebida para ser não uma solução onerosa e geradora de
só um elemento didático, visando volumes adicionais de esgoto.
ao uso racional da água, mas para — É necessário um novo pa-
também refletir o valor da escassez radigma, baseado nos conceitos
do recurso. “Na Amazônia é im- de conservação e reúso de água
possível pensar em cobrança pelo — defende.
uso da água tamanha é a oferta do
recurso naquela região, muito em- Reúso e tratamento

Prêmio Odebrecht

Luiz Marques/CD
bora os problemas de poluição es- Hespanhol argumenta que a
tejam acontecendo. Mas produzirí- tecnologia e os fundamentos am-
amos um paradoxo porque a região bientais de saúde pública permi-
Neil Palmer/CIAT

de maior escassez é o semiárido, tem o uso dos recursos disponíveis


que, por sua vez, é a mais pobre do localmente para gerir adequada- Os especialistas Hespanhol, da USP, e Boratto, da Câmara, concordam que é preciso
Brasil”, pondera. mente a demanda e implementar criar cultura de reúso de água no Brasil como forma de superar a escassez hídrica

38 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
39
pROPOSTAS

QUEM CUIDA
gestão para o repasse de recursos deliberativa dos comitês de bacia. sobre o domínio dos rios não favo-
financeiros para agências de água. Para ele, a questão ainda não rece- rece a gestão integrada de recursos
Jander Duarte, pesquisador da beu a atenção que exige na propor- hídricos.
Coordenação dos Programas de ção de sua grandeza. “Atualmente não há uma solu-
Pós-Graduação de Engenharia da “Para o estado, há outras prio- ção infralegal, no âmbito de recur-

DAS ÁGUAS?
Universidade Federal do Rio de Ja- ridades, principalmente políticas, sos hídricos, que possa solucionar
neiro (Coppe/UFRJ), explica que econômicas e fiscais, que fazem esse tipo de conflito. Precisaríamos
a lei pretende descentralizar o ge- dos recursos hídricos uma questão de um arranjo na Constituição em
renciamento dos recursos hídricos menor, pois o pensamento domi- relação a esse tema, uma precisão
pela ação participativa dos comi- nante é que os problemas de escas- maior para que se evitem proble-
tês de bacia para garantir quali- sez de água sempre foram resolvi- mas dessa natureza”, defendeu.
dade e quantidade de água para a dos de alguma forma”, argumenta. O diretor da ANA mencionou
atual e as futuras gerações. A legis- propostas para mudar o domí-
lação determina que os comitês se- Conflitos nio sobre as águas. Uma delas —
Constituição e lei federal regulam o setor, mas criam confusão no
jam compostos por representantes Em audiência das Comissões de mais radical, segundo ele — esta-
gerenciamento dos recursos hídricos, submetido a diferentes níveis de governo da União e de estados e municípios Infraestrutura e de Meio Ambiente beleceria que as águas superficiais,
situados em área de atuação da ba- do Senado, o diretor-presidente quando conectadas, são sempre de

A
Política Nacional de Re- sobre os rios, o que gera conflitos domínio ora federal, ora estadual, cia, além dos usuários e de entida- da Agência Nacional de Águas domínio federal. A exceção seria
cursos Hídricos e a Cons- sobre o aproveitamento da água, já a Agência Nacional de Águas des civis de recursos hídricos. (ANA), Vicente Andreu Guillo, feita aos rios que nascem e correm
tituição duelam quando a que os territórios de muitas bacias (ANA) vem efetuando convênios Mas o pesquisador aponta que a ressaltou que a ideia de colabora- para o mar, percorrendo somente o
questão é o domínio dos integram mais de um estado. de integração com os estados Constituição refere-se ao domínio ção federativa dos rios é positiva, território do mesmo estado.
rios brasileiros. Ao mesmo tempo Segundo Benedito Braga, pro- sob a intervenção dos comitês dos corpos hídricos de forma con- mas, em momentos de crise hí- Outra opção seria estabelecer o
em que a Lei das Águas — como a fessor da Universidade de São de bacias hidrográficas. Braga, fusa, gerando diferentes interpreta- drica, tende a produzir situações de domínio federal sobre bacias onde

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL


política é conhecida — dá autono- Paulo (USP) e presidente do Con- que é ex-diretor da ANA, relata ções. Duarte acrescenta que os es- difícil resolução, podendo induzir haja barragens e canais que conte-
mia para que os comitês de bacias selho Mundial da Água (WWC, também a existência de contratos tados têm demonstrado pouca co- a diferentes entendimentos sobre nham águas da União doando ou
hidrográficas gerenciem os recursos na sigla em inglês), para tentar via- de cooperação para apoio técnico operação nas ações de gestão das de quem seria a responsabilidade recebendo. Dessa maneira, disse
hídricos, a Constituição reconhece bilizar uma gestão compartilhada e financeiro aos estados que dele águas, chegando, em alguns casos, em relação ao manancial. Para ele, Guillo, haverá um árbitro comum
o domínio da União e dos estados dos recursos hídricos, em razão do necessitam e ainda contratos de a ignorar ou reduzir a competência a resolução judicial dos conflitos para tentar solucionar os conflitos.

O São Francisco (na foto,


em trecho com obras de
transposição) é um rio
de domínio da União que
atravessa cinco estados:
conflitos e confusões na
gestão dos recursos hídricos

40 
Propostas

Redução de imposto para reúso de água


Torneiras com mecanismo
automático de vedação de
água podem ser obrigatórias
em banheiros de uso coletivo
A reutilização de água pode ga-
nhar impulso no Brasil a partir
de projeto de lei que cria incenti-
vos tributários. Essa é a proposta
do senador Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB), que sugere a redu-
ção de 75% do Imposto de Renda
para empresas produtoras ou dis-
tribuidoras de água de reúso e alí-

Alessandro Dantas/Agência Senado


quota zero da contribuição para o

Waldemir Barreto/Agência Senado


PIS-Pasep e da Cofins que incidi-
rem sobre a receita de venda ou de

Jefferson Rudy/Agência Senado


tratamento de água de reúso.
O PLS 12/2014 reduz também
a zero a alíquota do Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI),
da contribuição para o PIS-Pasep
e da Cofins em aquisições de má-
quinas e equipamentos destinados Água tratada não deve ser Para Cássio Cunha Lima, estímulos
a instalação, manutenção, amplia- desperdiçada em funções menos devem ser dados a iniciativas que
nobres, diz o relator Cícero Lucena racionalizem o uso da água
ção ou modernização de planta de
tratamento de água de reúso. O

Tecnologia contra o desperdício senador ressalta que as medidas


propostas incentivam o reaprovei-
tamento de recursos hídricos ao
reúso da água diante da escassez
observada em certas regiões e do
elevado custo associado ao tra-
­combate a incêndios.
O relator, cujo parecer favorá-
vel aguarda votação, argumenta
Realidade em muitos prédios re- truídos a partir da lei aprovada de- diminuir os custos de produção tamento de água. Segundo ele, o que isenções fiscais podem levar o
cém-construídos, o uso de tornei- verão ser equipados de torneiras e ainda contribuem com o desen- projeto tem o mérito de promover Estado a induzir indivíduos e em-
ras com dispositivo de vedação au- com mecanismo automático de ve- volvimento de tecnologias para a racionalidade no uso da água presas à sustentabilidade ambien-
tomática de água nos banheiros de dação de água, eletrônico ou me- maior aproveitamento da água. tratada, que não deve ser desper- tal, podendo de fato estimular o
uso coletivo é tema de projeto de cânico. Pelo texto, novas edifica- O projeto segue a Resolução diçada em funções menos no- reúso de água. Depois de ser ana-
lei em análise no Senado Federal. ções que não apresentarem o equi- 54/2005 do Conselho Nacional bres, como, na área urbana, a ir- lisado pela CMA, o PLS 12/2014
A obrigatoriedade do dispositivo pamento poderão não ter o habite- de Recursos Hídricos (CNRH) rigação paisagística, a lavagem de será enviado para decisão termi-
nas novas edificações, determinada -se. A fiscalização necessária fica a sobre conservação de água e ob- logradouros públicos e veículos, nativa da Comissão de Assuntos
pela proposta, pode levar a uma cargo dos órgãos competentes de serva diretriz da ONU: a não a desobstrução de tubulações e o Econômicos (CAE).
Geraldo Magela/Agência Senado

significativa economia de água. cada município. ser que haja grande disponibili-
O PLC 51/2014 faz parte das A intenção da proposta é mini- dade, nenhuma água de boa qua-

Reprodução/Blog Giba Marson


propostas em tramitação que fo- mizar o grande desafio a ser en- lidade deve ser utilizada em ativi-
mentam políticas públicas de ra- frentado nos próximos anos, con- dades que tolerem águas de qua-
cionalização do uso da água e de siderando alerta de diversas or- lidade inferior. É definido como
conscientização da população. O ganizações para o desperdício e a reúso de água a utilização de es-
incentivo previsto no projeto leva contaminação dos mananciais de goto tratado e água descartada
em conta o alerta da Organiza- águas potáveis no mundo. O dis- de edifícios, indústrias, agroin-
ção das Nações Unidas (ONU) de positivo automático nas torneiras, Senador Rodrigo Rollemberg concorda dústrias e agropecuária, desde
que, até 2025, 3 bilhões de pessoas assim como nas descargas de va- com proposta, mas teme invadir que dentro dos padrões exigidos
competência dos municípios
estarão sujeitas a estresse hídrico, sos sanitários, é um passo no sen- para a ­utilização nas finalidades
caso sejam mantidas as condições tido de evitar o anunciado colapso pretendidas.
atuais de utilização, disponibili- no fornecimento de água. A evolu- social da projeto. No entanto, ex-
dade e gestão da água. ção tecnológica nas descargas, por plica que, ao tratar de normas de Funções menos nobres
Segundo o Instituto Brasileiro exemplo, faz com que um disposi- edificação e de critérios de licen- Para o relator do texto na
de Geografia e Estatística (IBGE), tivo novo gaste entre 3 e 6 litros de ciamento, a proposta pode interfe- Comissão de Meio Ambiente
6 em cada 10 municípios com po- água, enquanto nos antigos o gasto rir na competência dos municípios, (CMA), senador Cícero Lucena
pulação acima de 100 mil habitan- pode ser de 20 a 40 litros em um determinando-lhes medidas admi- (PSDB-PB), a proposta também
tes apresentam perdas estimadas único acionamento. nistrativas por lei federal. está em harmonia com a Polí-
entre 20% e 50% do volume de No Senado, a proposta já foi Por conta disso, Rollemberg tica Nacional de Recursos Hídri-
água captada. aprovada pela Comissão de Desen- sugere que o texto seja analisado cos e considera a importância do
O projeto prevê que todos os volvimento Regional (CDR). O também pela Comissão de Cons-
banheiros de uso coletivo localiza- relator, senador Rodrigo Rollem- tituição e Justiça (CCJ). O projeto Águas de reúso podem ser utilizadas
dos em edifícios públicos, comer- berg (PSB-DF), reconhece a im- ainda deve passar pela Comissão para limpar ruas, irrigar jardins, lavar
ciais e residenciais que forem cons- portância ambiental, econômica e de Meio Ambiente (CMA). carros e combater incêndios

42 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 43
Propostas

Mudança de vazão dependerá dos comitês Saída pelo mar: aumenta o


A participação dos comitês de representação de todos os envolvi- surge quando a alteração da vazão
bacia hidrográfica pode passar a
ser obrigatória nas decisões sobre
alterações na vazão de reservató-
dos, ou seja, o poder público, os
usuários de água (empresas, indús-
trias, hidrelétricas etc.) e as entida-
outorgada na operação do reser-
vatório repercute nos usos múlti-
plos de recursos hídricos instala-
uso de água dessalinizada
rios de água. Esse é o objetivo de des civis de recursos hídricos. dos na bacia, como abastecimento A dessalinização da água do zada em análises de mercado de processo não só compensa como é
projeto (PLS 288/2014) do então O projeto modifica a Lei das humano, transporte aquaviário e mar e de águas salobras é co- tecnologias limpas, estimou que, a melhor opção.
senador Kaká Andrade (­ PDT­-SE) Águas (Lei 9.433/1997), que irrigação. mum em países desérticos ou com até 2016, seriam aplicados US$
que busca fortalecer a legitimi- atualmente prevê a deliberação A prestação desses ser vi- pouca disponibilidade de água 87,8 bilhões em plantas de dessa- Alternativa brasileira
dade das decisões por meio da da Agência Nacional de Águas ços pode até ser inviabilizada, potável, como no Oriente Médio linização no mundo todo. Atual- No Brasil, o Programa Água
(ANA) em articulação com o como ocorreu, em meados de ju- e na África. Mas o seu uso não mente, existem 13,8 mil instala- Doce (PAD), do Ministério do
Operador Nacional do Sistema lho deste ano, com a suspensão se restringe a esses locais e já está ções e a previsão está próxima de Meio Ambiente (MMA), investe
Elétrico (ONS) nas alterações de das atividades da última empresa bastante difundido no mundo. se confirmar. em sistemas de dessalinização
vazão outorgada. que operava transporte hidroviá- Segundo a Associação Internacio- Ainda que os custos estejam para oferecer água com qualidade
“No momento dessas altera- rio de grãos na Bacia do Rio São nal de Dessalinização (IDA), o caindo, tornar potável a água do a populações de baixa renda em
ções, os interesses do setor elétrico Francisco. tratamento já é utilizado em 150 mar ainda é caro: a energia ne- comunidades do semiárido.
têm preponderado sobre as neces- “Essa realidade precisa mudar. países, como Austrália, Estados cessária para produzir mil litros é, O PAD atende todo o Nordeste
sidades dos demais setores usuá- O comitê de bacia hidrográfica Unidos, Espanha e Japão. em média, de 8 quilowatts-hora, e o norte de Minas Gerais, onde a
rios da bacia hidrográfica”, argu- não pode ser mero espectador das O caminho para ampliar a equivalente ao consumo diário de disponibilidade hídrica é baixa e a
menta o senador. decisões, pois ele é peça funda- oferta de água parece óbvio. Afi- uma casa de três quartos no Bra- salinidade das águas subterrâneas é
A mudança levou em conta a mental na conciliação dos interes- nal, 97,5% da água do planeta sil. Sem falar nos investimentos elevada. Iniciado como Programa
disputa pelo uso de recursos hídri- ses de usuários da bacia hidrográ- azul está no mar. Antes caras, as para construção das plantas. Água Boa, em 1997, para desen-
Moreira Mariz/Agência Senado

cos com a escassez de chuvas re- fica e, por isso, deve também deli- técnicas de dessalinização estão Porém, à falta de fontes dispo- volver técnicas de dessalinização,
gistrada de maneira mais intensa berar sobre o tema”, afirma Kaká evoluindo e a redução de custos já níveis — casos na Austrália, em atualmente o PAD concentra-se na
nos últimos meses. O conf lito Andrade. viabiliza a ampliação do uso. ilhas do Caribe ou no Oriente manutenção e no aproveitamento
Caberá à Comissão de Serviços A consultoria norte-ameri- Médio (que produz 75% da água da estrutura de dessalinizadores
Para o então senador Kaká Andrade, os
de Infraestrutura (CI) a palavra cana Pike Research, especiali- dessalinizada do mundo) —, o instalados na década de 90.
comitês de bacias não devem só acatar final sobre o projeto.
decisões, mas deliberar sobre águas

Arquipélago de Fernando de Noronha,

Recorrer à chuva para evitar torneira seca

Andrei Gibbon Neves


no litoral pernambucano, é quase todo
abastecido por água dessalinizada

Novos prédios residenciais e sos naturais e proteção ao meio cos (CAE) e de Assuntos Sociais
comerciais, além de edificações ambiente. (CAS), respectivamente. Agora
destinadas a hospitais e escolas, O senador propõe redução de aguarda parecer do senador Ani-
poderão contar com sistemas de pelo menos metade da taxa de bal Diniz (PT-AC) em decisão
coleta, armazenamento e utiliza- drenagem de águas pluviais urba- terminativa da Comissão de Meio
ção de águas pluviais. A ideia é nas cobrada de condomínios resi- Ambiente (CMA).
evitar o uso inadequado de água denciais ou comerciais, hospitais e
potável para limpeza de calçadas, escolas que adotarem sistemas de
irrigação de áreas verdes e descar- captação e uso de águas pluviais.
gas sanitárias. Outro efeito seria A cobrança, feita pelo governo
atenuar o fluxo das águas pluviais aos proprietários de lotes urba-
quando houver chuvas intensas, nos, está prevista na Lei do Sane-
especialmente nos grandes centros amento Básico (lei 11.445/2007).
urbanos. João Durval lembra que nos
“O projeto tem o sentido de ga- grandes centros urbanos do Su-
rantir o abastecimento hídrico de deste, Nordeste e Sul — onde re-
nossas cidades e de promover prá- side a maioria da população bra-
ticas de uso racional desse pre- sileira — já se observam proble-
Pedro França/Agência Senado

cioso recurso”, ressaltou o senador mas de abastecimento de água


João Durval (PDT-BA), autor da decorrentes do consumo intenso,
proposta. desperdício, baixa disponibili-
O pr oj e t o d e l e i ( PL S dade hídrica e degradação de
112/2013) busca incluir em lei fe- mananciais.
deral normas municipais que já A proposta já recebeu parecer
vêm sendo adotadas em algumas favorável em 2013 do então sena-
cidades, como Rio de Janeiro, dor Sérgio Souza e da senadora Proposta de Durval promove práticas
Curitiba e São Paulo, onde exis- Lúcia Vânia (PSDB-GO) nas Co- de uso racional da água e alternativa
tem medidas de defesa dos recur- missões de Assuntos Econômi- para atenuar fluxo em chuvas intensas

44 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 45
Propostas

Moreira Mariz/Agência Senado


Arquivo pessoal
por retirar não somente os sais da
água, mas também microorganis- Israel quer
mos, bactérias e fungos, deixando
a água potável para o uso hu- atingir 100% de
mano. Ele também ressalta a via-
bilidade econômica da técnica uti-
dessalinização
lizada no Brasil.
“Entre os outros processos tér-
em cinco anos
micos de dessalinização, a destila- Israel é o líder mundial em reuti‑
ção tem um custo de 10 a 15 vezes lização de água, em todos os méto‑
superior ao de técnicas com mem- dos. O governo investe maciçamente
branas. Com a osmose inversa, é em dessalinização — mais de US$
possível gastar apenas R$ 1 para 3,5 bilhões por ano, com 39 unida‑
dessalinizar mil litros de água sa- des em funcionamento. Em outu‑
lobra e entre R$ 1,50 e R$ 2 de bro de 2013, foi inaugurada a maior
água do mar”, expõe França. delas, em Sorek, produzindo 227
O especialista afirma que atu- bilhões de litros por ano. Atualmen‑
almente o esforço do Labdes é le- te, mais da metade da água potável
var a dessalinização para todas as consumida vem do mar (600 bilhões
Professor Kepler França diz que João Vicente Claudino apresentou
intenção é levar água dessalinizada a
capitais do litoral brasileiro a fim projeto para baratear aparelhos usados
de litros por ano) e a meta é, em
todas as cidades do litoral brasileiro de minimizar a escassez de água para dessalinização de água pouco mais de cinco anos, chegar a
provocada pelo grande consumo 100%, informou o dirigente do ser‑
em condomínios à beira-mar. Se- viço meteorológico do país, Giora
A Universidade Federal de Cam- gundo ele, a dessalinização é viá- No Congresso, um projeto de Gershtein, que participou em outu‑
pina Grande (UFCG), na Paraíba, vel para evitar situações de desa- lei foi apresentado em 2009 pelo bro, no Rio de Janeiro, de um evento
tem trabalhado com o MMA em bastecimento, como a que ocorre senador João Vicente Claudino organizado pela Embrapa.
sistemas de dessalinização. A téc- em São Paulo, e tem um custo (PTB-PI) para conceder isenção O consumo per capita de água
nica utilizada pelo Laboratório de menor do que a construção de ca- do Imposto sobre Produtos Indus- na região é de 140 litros por dia e as
Referência em Dessalinização (La- nais para levar água aos grandes trializados (IPI) a aparelhos de des- três fontes — chuva, Mar da Galileia
bdes), do Departamento de Enge- centros urbanos. tilação e de osmose inversa usados e três aquíferos — passaram por di‑
nharia Química da instituição, é na dessalinização de água. Para ele, ficuldades recentes. Com 60% do
a osmose inversa — passagem da Risco ambiental a proposta pode ajudar a comba- território em área de deserto, Israel
água por membranas filtrantes. O A destinação ambientalmente ter os problemas crônicos de falta é muito dependente da agricultura
processo é responsável, por exem- correta dos rejeitos do processo de água nas regiões semiáridas do irrigada, com a qual precisa alimen‑
plo, pelo abastecimento de água no de dessalinização é um dos desa- país, já que máquinas de dessalini- tar 8 milhões de habitantes. Quase
Arquipélago de Fernando de Noro- fios enfrentados e deve ser ponde- zação de água têm sido adquiridas metade da irrigação é feita com água
nha há uma década. rada. Isso porque a osmose reversa por diversas prefeituras para aten- dessalinizada.
O professor Kepler Borges gera outro tipo de água, muito sa- der a população durante os perí- Israel adota outras medidas para

IDE Technologies
França, coordenador do Labdes, lina, com risco de contaminação odos de seca e o uso delas é mais garantir a segurança hídrica. O espe‑
esteve à frente do programa do ambiental elevado. E, geralmente, econômico do que o transporte de cialista em saneamento Menahem Li‑
ministério desde o início e explica esse rejeito é devolvido ao solo ou água por caminhões-pipa. bhaber relatou a experiência israelen‑
que a osmose inversa é responsável até aos cursos d'água. Apesar de aprovado pelas Co- se de reúso de água em um simpósio
missões de Meio Ambiente (CMA) internacional realizado em 2012, em Maior estação de dessalinização de
ULBRA Campus Gravataí

e de Assuntos Econômicos do Se- Curitiba. Segundo ele, desde 1955 água de Israel, inaugurada em 2013, na
nado (CAE), o projeto foi rejei- a reutilização é política nacional e, cidade de Sorek, a 15 km de Telaviv
tado na Câmara, onde o pare- com 80% de reúso da água domés‑
cer da Comissão de Finanças e tica (400 bilhões de litros por ano), o tern, Lingen e Eltmann. Semelhantes gistros das primeiras experiências
Tributação considerou-o inade- país está muito à frente de Espanha tecnologias são aplicadas no Brasil na ainda na década de 1930, nas cida‑
quado financeira e orçamentaria- (14%), Austrália (9%) e Itália (8%), cervejaria Ambev (RJ) e na fábrica de des californianas de San Francisco
mente. Citando as Leis de Dire- por exemplo. medicamentos Diosynth (SP). e Orange e na Flórida, estado que
trizes Orçamentárias de 2011 (Lei Indústrias de muitos países estão De acordo com um estudo finan‑ reutiliza 2,7 bilhões de litros de água
12.309/2010) e de Responsabili- conseguindo usar a água com mais ciado pela União Europeia, a Europa por dia. O objetivo raramente é o de
dade Fiscal (Lei Complementar eficiência. O Japão, há meio século, e os países do Mediterrâneo estariam produzir água potável, mas apenas
101/2000), o relator, deputado Ed- gastava 49 milhões de litros para pro‑ demorando a definir em que exten‑ água reciclada para a abastecer a in‑
mar Arruda (PSC-PR), deteve-se na duzir US$ 1 milhão em mercadorias. são será permitido o reúso de água dústria ou regar os extensos grama‑
forma, apontando que não pode ha- Hoje, o volume é inferior a 12 milhões devido a resistências dos legisladores dos dos incontáveis campos de gol‑
ver proposta de renúncia fiscal sem de litros. Na Alemanha, já é comum e da opinião pública. Mesmo assim, fe nos dois estados. País conhecido
que a compensação seja prevista. o uso das tecnologias de filtração por existem diversos projetos em anda‑ por seu temperamento perdulário,
membrana e tratamento anaeróbico mento por toda a Europa, de Reino a maior economia do mundo faz o
Estação de dessalinização, em Fernando no reúso de efluente tratado da in‑ Unido e França até Croácia e Letônia, mesmo em relação aos recursos hí‑
de Noronha: processo é cada vez mais dústria do papel e em lavanderias de passando por Espanha e a Itália. dricos: menos de 0,3% da água usa‑
viável economicamente cidades como ­Stuttgart, Kaiserlau‑ Nos Estados Unidos, existem re‑ da provém de reciclagem.

46 
dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
47
Banda larga próxima edição

Wanderley Pessoa/MEC
Reforma política

Marcos Oliveira/agência Senado


é prioridade
Alterações na legislação política e eleitoral, polêmicas e
complexas, estarão no topo da pauta do Congresso em 2015

As manifestações populares em acordo com estudiosos, vantagens e


junho do ano passado e as eleições desvantagens.
deste ano recolocaram a reforma No momento, a Câmara discute
política no centro do debate. De- um projeto de reforma elaborado
Edição 6, dezembro de 2011 pois de reeleita, a presidente Dilma no ano passado. Entre as inovações
Rousseff anunciou que o tema será sugeridas, estão o financiamento
prioridade no novo mandato. público das campanhas eleitorais e
A presidente sugere que uma a limitação do número de partidos
Dificuldades para implantação do consulta popular — plebiscito ou políticos. Presidente do Congresso, Renan

Faltam recursos plano, tema da edição 6, persistem


pelo menos desde o início de 2011
referendo — envolva os eleitores
na escolha da melhor organização
política para o país. Há ainda uma
Nas eleições passadas, 28 siglas
obtiveram vagas na Câmara dos
Deputados, o que dificulta a cons-
Calheiros considera que cabe ao
Legislativo a missão de conduzir
as mudanças no sistema

e melhor gestão
proposta de que seja convocada trução de uma maioria parlamen-
uma constituinte específica para tar. Uma das soluções, a chamada vaga quem obtiver a maioria de vo-
tratar do assunto. cláusula de barreira, prevê que os tos em um determinado território)
Qualquer que seja a forma de partidos devem reunir um mínimo e ainda a votação apenas em listas
Comissão conclui relatório sobre universalização da banda larga e admite que consulta, o presidente do Con- de votos para ter registro defini- de candidatos, definidas pelos par-
expansão do acesso rápido à internet depende de mais verbas e articulação do setor gresso, senador Renan Calheiros, tivo — fórmula que já foi julgada tidos em convenção.
defende que compete ao Legislativo inconstitucional pelo Supremo Tri- Outros temas, como o fim da
Reativada em 2010 para cuidar mes em responsabilizar governo e a­ umento de 82% nos últimos qua- conduzir as alterações no sistema bunal Federal, em 2006. reeleição, a unificação de todas as
do Plano Nacional de Banda Larga empresas de telefonia pelo atraso tro anos no acesso à banda larga político e eleitoral. Uma das mudanças que parece eleições (hoje as municipais ocor-
(PNBL), a Telebras convive com na universalização da internet. e cobertura em 4.912 dos 5.570 Apesar de, a cada eleição, o tema ter maior apoio é o fim das coli- rem em datas diferentes das nacio-
dificuldades orçamentárias que di- “É obrigação do Estado. Está na municípios. surgir como uma urgência, mu- gações para eleições proporcionais nais) e o fim da obrigatoriedade do

Marri Nogueira/Agência SEnado


ficultam a prometida universali- Constituição, na Lei Geral de Te- Para Anibal Diniz, o cenário danças nessa área não são fáceis. (deputados federal, estadual e dis- voto, também estão sob análise.
zação do acesso à internet rápida. lecomunicações e agora no Marco de críticas variadas deixa claro que Muito polêmicas, propostas de re- trital e vereadores). Mas a altera- Essas complexas questões serão
Essa é uma das conclusões do re- Civil da Internet. Cabe ao governo falta articulação ao setor. “Além do forma política esperam votação na ção da forma de escolha para esses tema de Em Discussão! na edi-
latório apresentado pelo senador garantir investimento público em dinheiro, se não houver gestão, a Câmara dos Deputados há mais cargos não tem um consenso mí- ção prevista para fevereiro de 2015,
Anibal Diniz (PT-AC), incumbido locais onde não há atrativo para a coisa não vai. O tema é transver- de uma década. Isso porque, além nimo. Há partidos que defendem o com o início dos trabalhos do re-
pela Comissão de Ciência e Tecno- iniciativa privada”, afirma a repre- sal e é preciso articular Telebras, de complexos, os diferentes siste- voto em distritos (em que ganha a novado Congresso Nacional.
logia (CCT) de acompanhar a im- sentante da associação de consu- Eletrobras, que possui a rede de mas políticos e eleitorais têm, de
plantação do plano. midores Proteste, Flavia Lefèvre. fibra ótica, os órgãos do governo
Além da falta de recursos, outro A responsabilidade das operadoras e a iniciativa privada em uma câ-
empecilho para que o país atinja a estaria também em práticas como mara setorial”, disse o Manifestação na Esplanada dos
Ministérios em junho de 2013:
meta de 90 milhões de pontos de os baixos limites de download e a senador.
José Cruz/Agência SEnado

população pediu mudanças


acesso com alta velocidade (pelo venda casada com a telefonia fixa,
menos 1 megabyte) este ano é a o que encarece o preço dos pacotes.
falta de um satélite geoestacionário As empresas reclamam da alta O senador Anibal
que leve o sinal de internet às regi- carga tributária do setor (até 43%) Diniz é autor do
ões mais isoladas. “Hoje, mais de e da burocracia. “A demora em se relatório que avalia
2 mil municípios não têm conexão conseguir licença para uma antena o Plano Nacional de
Banda Larga
por fibra óptica. Para localidades passa de 18 meses”, ressalta o pre-
isoladas, dependemos do satélite”, sidente do sindicato das empresas,
explica o senador. Eduardo Levy.
Ouvidas na CCT para a ela- Embora reconheça que a ve-
boração do relatório de acompa- locidade média da internet brasi-
nhamento do Plano Nacional de leira ainda está aquém do ideal,
Banda Larga, as entidades de de- o governo se defende lançando
fesa do consumidor foram unâni- mão de números que indicam

48 
49
Saiba mais
Audiências públicas para tratar do
abastecimento de água no Brasil

3/11/2013
Audiência pública da Comissão de Serviços
de Infraestrutura e da Subcomissão
Permanente sobre Obras de Preparação
para a Seca. http://bit.ly/11yvfH2
• Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA)

4/6/2014
Audiência pública da Comissão de Serviços
de Infraestrutura e da Comissão de Meio
Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização
e Controle. http://bit.ly/11GH3b0
• Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA)
• Irani Braga Ramos, secretário-executivo do
Ministério da Integração Nacional

Relatórios, documentos
e estudos científicos
• Atlas Brasil — abastecimento urbano de água
(ANA, 2010). http://bit.ly/10Sb6LK
• Os Múltiplos Desafios da Água (Câmara dos
Deputados, 2006). http://bit.ly/1tDJtNb
• Breves Considerações sobre a Política Nacio-
nal de Recursos Hídricos (Câmara dos Deputa‑
dos, 2008). http://bit.ly/1xv9QLt
• Desafios do Gerenciamento dos Recursos Hí-
dricos nas Transferências Naturais e Artificiais
Envolvendo Mudança de Domínio Hídrico
(UFRJ, 2005). http://bit.ly/1xfCG3L
• Síntese de Indicadores Sociais (IBGE, 2013).
http://bit.ly/YXzwTu
• Ranking do Saneamento (Instituto Trata Brasil,
2012). http://bit.ly/1xfCp0H
• Vulnerabilidades Hidrológicas do Semiárido às
Secas (Ipea, 1997). http://bit.ly/1tDIdd5
• The United Nations World Water Develop-
ment Repor t — water and energy, vol. 1
(ONU, 2014). http://bit.ly/1reO0sa
• The United Nations World Water Develop-
• Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil ment Report — facing the challenges, vol. 2
(ANA, 2013). http://bit.ly/14i7mFu (ONU, 2014). http://bit.ly/1gRiVBJ
• Panorama da Qualidade das Águas Superficiais • Perdas em Sistemas de Abastecimento de
do Brasil (ANA, 2012). http://bit.ly/1BgVjHf Água (Abes, 2013). http://bit.ly/1sy8Akc
• Desafios à Convivência com a Seca (Câmara • Climate Change ( IPCC, 2014). http://bit.
dos Deputados, 2014). http://bit.ly/1xqvkYG ly/1wzwdiq

50 
dezembro de 2014
ESCASSEZ DE ÁGUA

Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 23 - dezembro de 2014

Grandes temas nacionais

EscassEz dE água
A cada edição, a cobertura
cada gota completa de um assunto debatido
é preciosa no Senado Federal que afeta a vida
Falta de chuva evidencia insegurança
hídrica no país. Senado analisa soluções
de milhões de brasileiros. Leia esta
LEia também e as demais edições também em
Expansão da banda larga espera mais recursos
Reforma política é prioridade na pauta de 2015 www.senado.leg.br/emdiscussao

RESÍDUOS SÓLIDOS ESPIONAGEM CIBERNÉTICA COPA DO MUNDO FINANCIAMENTO DA SAÚDE

Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 22 - outubro de 2014 Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 21 - julho de 2014 Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 20 - abril de 2014 Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 5 - Nº 19 - fevereiro de 2014

RESÍDUOS SÓLIDOS ESPIONAGEM CIBERNÉTICA


financiamento da saúde

Lixões persistem Rede vulnerável COPA 2014

Maioria das cidades ignora lei e agride


Para CPI, é preciso aparelhar inteligência
nacional e melhorar gestão da internet
À espera de resgate
meio ambiente. Senado busca saída Com missão de oferecer serviços a todos, Sistema Único de Saúde tem
menos dinheiro que a rede privada. Senado quer investimentos da União
Em Brasília, mais de 2,7 mil toneladas
de lixo são depositadas todos os dias,
a 16 km da Praça dos Três Poderes

REDISCUSSÃO
Peças de motos terão
padrão de qualidade
Veja também
Cadastro ambiental tira Código Florestal do papel PRÓXIMA EDIÇÃO redisCussãO PróximA ediçãO

Na próxima edição, a escassez de água no país O futuro do lixo Prioridade na adoção a Os resultados da CPi da
criança com deficiência espionagem Cibernética

MOBILIDADE URBANA TERRAS-RARAS DÍVIDA PÚBLICA ADOÇÃO

Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 4 - Nº 18 - novembro de 2013

MOBILIDADE URBANA

Hora de mudar
os rumos Excesso de carros, má qualidade do transporte
público coletivo e falta de investimentos desafiam
o futuro das grandes cidades brasileiras

EDUCAÇÃO PÚBLICA TRÂNSITO DE MOTOS INOVAÇÃO TECNOLÓGICA RIO+20

S-ar putea să vă placă și