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Escassez de água
Cada gota
é preciosa
Falta de chuva evidencia insegurança
hídrica no país. Senado analisa soluções
Leia também
Expansão da banda larga espera mais recursos
Reforma política é prioridade na pauta de 2015
reprodução/Johann M. RUGENDAS
Aos leitores
“Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.”
Pero Vaz de Caminha, em 1º de maio de 1500
E
m termos de água, o Brasil é privilegiado.
Não tem nem 3% da população mundial,
mas abriga 12% da água doce disponível
no globo. Essa participação sobe para 18%
quando se considera apenas a água de superfície —
DE SOBRA ,
excluindo-se as reservas em aquíferos subterrâneos,
os lençóis freáticos. As reservas superficiais nacionais
somam vazões médias de quase 180 milhões de litros
por segundo. Onze dos 50 rios mais caudalosos do
mundo estão aqui.
PROBLEMAS
O Brasil também aparece bem no subsolo: metade
do território nacional acomoda 20 bacias que garan-
tiriam uma vazão de 42,3 milhões de litros por se-
gundo. E, como são mais bem distribuídos pelo país
do que os rios e lagos, os aquíferos se revelam cru-
ciais para abastecer mais de metade da população.
Seria um cenário perfeito, não fossem os enormes
Falta de tratamento da água utilizada, problemas de saneamento básico que o Brasil en-
poluição dos mananciais, alteração no frenta. Em termos nacionais, três em cada dez domi-
regime de chuvas e maior disponibilidade cílios urbanos ainda não são abastecidos com água
do recurso longe dos grandes aglomerados potável. Nas regiões com menor acesso a rios, nas-
centes e aquíferos, o atendimento é precário. Nas
populacionais são desafios para o país, áreas e bairros mais pobres, o mesmo cenário. De
que tem grandes reservas hídricas acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA),
órgão federal que regula o setor, em 2015 só 29%
dos brasileiros contarão com um abastecimento
satisfatório.
Parte da responsabilidade é da
diversidade de climas e relevos, que É a quantidade de
3,6%
fatores responsáveis pela escassez de água na maior
parte do mundo (há regiões onde a única solução é
Nas margens, o dessalinizar a água, por exemplo). Num ranking de
aumento das partes saneamento básico elaborado pelo Banco Mundial, o
claras indica o Brasil é apenas o 112º lugar entre 200 nações. Esta-
solo exposto pela No centro do tísticas como a que aponta que, na Região Norte, so-
estiagem prolongada reservatório, o tom mente 13% dos domicílios têm acesso a rede coletora
mais claro do verde de esgoto reforçam essa convicção. A ANA, em pes-
nas represas quisa divulgada no ano passado, disse ter encontrado
mostra que o volume
de água naquele água de qualidade “ruim” ou “péssima” em 44%
ponto já é bem menor dos pontos urbanos de coleta no país, contaminada,
NASA
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Escassez de água
81%
Rios, lagos
e represas
180 milhões de 19%
14% litros/segundo Aquíferos
Mista
42,3 milhões
de litros/segundo
Tânia Rêgo/ABr
Rio Acari, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro: 11% - Boa Tratamento 6% - Ótima
poluição diminui a água disponível para o uso humano médio de água de 21,11% Qualidade 49% - Regular
Qualidade
da capacidade total, contra na fonte no consumo
75% - Boa
21,39% naquele ano. 35% - Ruim
Por causa da poluição, mesmo 1,2 mil municípios. Com a mais sentavam, em meados deste ano, A estiagem prolongada dei- 5% - Péssima 12% - Regular
um rio com boa vazão pode se baixa precipitação pluviométrica menos de 30% da capacidade, xou à mostra a incapacidade do 6% - Ruim
tornar impróprio para o uso hu- em décadas na Região Sudeste uma situação pior do que no ano país em prover segurança hídrica três vezes mais água que um bra- 1% - Péssima
mano. Um bom exemplo é o Rio como um todo, não só o desa- passado. Os reservatórios das hi- — abastecimento regular e satis- sileiro e duas vezes mais que um
Tietê (SP), que, em seus piores bastecimento de água virou ame- drelétricas do Sudeste e Centro- fatório de água — à população e francês. Desperdício de 1,2 milhão de litros/
momentos, ainda produz uma va- aça na maior cidade do país, São -Oeste, que respondem por cerca às atividades econômicas, princi- Além de, na média, o país con- segundo, que é cerca de 52% da água
zão de 60 mil litros por segundo. Paulo, como também há o temor de 70% da geração de eletrici- palmente agropecuária e indús- sumir água além daquilo que é tratada. Seria suficiente para atender mais
Acontece que, de toda essa vazão, de crise elétrica. dade, registravam, em meados tria, que respondem por 90% da recomendado pela Organização de 900 milhões de pessoas tendo como
apenas um terço é água natural; A Agência Nacional de Águas de outubro, a pior situação desde demanda. O consumo, em meio Mundial da Saúde (100 litros por padrão o consumo recomendado pela ONU
de 110 litros por dia por pessoa
o resto é produto de efluentes do- monitora, com os estados, 507 re- 2001, quando o Brasil enfrentava a todas essas dificuldades, seguiu dia), há muitas disparidades regio-
mésticos e industriais não trata- servatórios no semiárido, quase racionamento de energia, apontou em curva ascendente. Em 2010, nais. Se o índice nacional de abas-
dos, que são despejados no rio. Já todos voltados para o abasteci- o Operador Nacional do Sistema comparativamente a 2006, a re- tecimento é de 82,7%, no Norte e Distribuição do consumo
sem a necessária proteção vegetal mento. Desses, quase 50% apre- Elétrico (ONS): armazenamento tirada total de água das fontes de no Nordeste o atendimento é bem
ao seu redor, reservatórios e re- abastecimento subiu 29%, che- inferior: quatro em cada cinco 72% Agricultura
presas sofrem mais com seca e se Lavouras irrigadas, como as plantações de tomate em Goiás, gando a 2,3 milhões de litros por pessoas moram em cidades que
veem mais expostos ao assorea- respondem pelo maior consumo de água do Brasil segundo, muito em função do au- necessitam de ampliação do sis-
mento, que é o acúmulo de sedi- mento da demanda de água para tema de água.
mentos no fundo. irrigação, para viabilizar o cresci- Nas 100 maiores cidades, a dis-
Para piorar, desde o ano pas- mento da produção agrícola. ponibilidade hídrica é satisfatória 11% Pecuária
sado o país padece, em diversas O Atlas Brasil — abastecimento em apenas 28%; 72% precisam
regiões, de uma preocupante falta urbano de água, publicado pela de investimentos; 39%, de am-
de chuvas, que colocou boa parte ANA em 2011, apontou aumento pliar os sistemas, e 33%, de agre- 7% Indústria
do país em risco real e imediato no consumo de 7,1% entre 2009 gar novos mananciais, de acordo
de racionamento, segundo aler- e 2010, alcançando 159 litros per com a publicação Perdas Físicas
taram os especialistas convidados capita por dia. Outras fontes espe- em Sistemas de Abastecimento de
pela Comissão de Serviços de In- culam que já poderia estar em 187 Água, divulgado pela Associação 10% População
fraestrutura (CI) para um debate litros, chegando a 320 nos gran- Brasileira de Engenharia Sanitária
em junho. Faltar água nas áreas des centros urbanos. Não é pro- e Ambiental (Abes) em 2013. 86% Norte
semiáridas do Nordeste já é fe- blema exclusivo do Brasil. Os paí- População em 82% Nordeste
nômeno secular — a região vi- ses ricos têm um altíssimo grau de Cenário ideal cidades em que o 44% Centro-Oeste
abastecimento 44% Sudeste
veu sua pior seca em 50 anos en- consumo e lideram a classificação Para enfrentar esses problemas,
é deficiente 41% Sul
tre 2012 e 2013, afetando quase em termos globais. Por exemplo, o governo federal anunciou, em
Emater
10 milhões de pessoas e mais de um americano gasta, em média, 2013, um novo Plano Nacional de Fonte: ANA, Instituto Trata Brasil, SOS Mata Atlântica
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Escassez de água
Em todo o mundo, a
demanda cresce e a oferta cai
São quatro as modalidades de mento, 40% a mais de água e 50% a que pouco mudou em relação à ges‑
consumo de água: agricultura, pro‑ mais de energia. Até 2050, a deman‑ tão da água desde a publicação do
dução energética, atividade industrial da por alimentos e por energia cres‑ relatório anterior, em 2009. Segundo
e abastecimento humano. O cresci‑ cerá 70% e 60%, respectivamente. dados da ONU, hoje 768 milhões de
mento constante da população mun‑ Ao mesmo tempo, a grande con‑ pessoas não dispõem de água trata‑
dial exige mais alimentos e energia centração de pessoas em cidades de da, 2,5 milhões de pessoas não têm
elétrica. As Nações Unidas (ONU) todo o mundo ameaça mananciais acesso a saneamento básico e 1,3
preveem que, em 2030, a sociedade como lagos, rios e lençóis freáticos. bilhão não sabe o que é ter eletrici‑
vai necessitar de 35% a mais de ali‑ Além de colocar em risco possíveis dade em casa. “Essa situação precisa
fontes hídricas, grandes quanti‑ de atenção urgente, pois é inaceitá‑
dades de água doce são utiliza‑ vel. Em geral, a pessoa que não tem
Panorama global das para o saneamento urbano. E acesso a água e a saneamento é a
a maior parte das águas residuais mesma que não possui energia elé‑
A Terra tem muita água, mas pouca
é devolvida para o ambiente sem trica em sua residência”, protestou
quantidade é doce e está disponível
tratamento, gerando danos para Michel Jarraud, secretário-geral da
para consumo e uso humano as pessoas e os ecossistemas. Organização Meteorológica Mundial
A ONU estima que a população durante o lançamento do relatório.
urbana mundial aumente de 3,4 Para viver com dignidade, espe‑
Onde está bilhões para 6,3 bilhões até 2050. cialistas explicam que uma pessoa
a água? Hoje, no total, a Terra tem cerca precisa de 110 litros por dia, dispo‑
Orange County Water District de 7,2 bilhões de habitantes. nível a uma distância de, no máximo,
Água de reúso no estado da Califórnia (EUA): opção para
o crescimento do consumo em países desenvolvidos 1.000 metros do local de moradia.
Relatório Entre as fontes hídricas aceitáveis,
97,5% O último Relatório Mundial estão ligações domésticas, fontes
Saneamento Básico (Plansab), retor-presidente da ANA, Vi- sadas, as perdas ficaram entre das Nações Unidas sobre o Desen- públicas, fossos, poços, nascentes
que projetava a universalização cente Andreu Guillo. Mas nem 30% e 60% da água tratada
da água do planeta volvimento dos Recursos Hídri- protegidas e coleta de águas pluviais.
dos serviços de água e esgoto sempre elas vêm sendo adotadas para consumo. Noventa delas é salgada cos (WWDR4), lançado este ano, A ONU defende que gerir bem a
até 2033. Porém, a proposta tra- a tempo, o que causa a insegu- não conseguiram reduções sig- prevê, como consequência das água significa não só dar prioridade
çou cenários que dificilmente se rança hídrica. nificativas (superiores a 10%) dificuldades crescentes de acesso ao tratamento dos recursos hídricos
materializarão. “Para a vontade política nas perdas de água entre 2011 à água, a intensificação das dispa‑ dentro dos governos, mas trazer a
No mais pessimista dos qua- existir, é necessário o envolvi- e 2012. O estudo estimou que ridades econômicas entre países, questão para o centro do debate so‑
dros desenhados pelo Plan- mento da sociedade. Não há uma diminuição de 10% em bem como entre setores econô‑ cial. Do ponto de vista prático, é pre‑
sab, o Brasil cresceria naque- uma intensa mobilização social termos nacionais agregaria R$ Dos 2,5% de água doce... micos ou mesmo entre regiões ciso investir em infraestrutura e em
las duas décadas a 3% ao ano, em relação a esse tema, propor- 1,3 bilhão à receita operacional dentro dos países. Além disso, o mecanismos de governança locais,
atividade capaz de viabilizar os cional ao risco que ele repre- com a água, equivalente a 42% documento adverte que os mais nacionais e internacionais, quando
investimentos de R$ 508 bi- senta. Se a água não entrar na do investimento no setor em pobres serão os mais prejudicados se trata da gestão de fontes de água
lhões no setor. Ao governo fe- agenda política da sociedade, 2010 para todo o país. por esse processo. que abarcam mais de uma nação,
deral, caberiam investimentos isso não vai virar realidade”, A insegurança hídrica que ... 68,9% As Nações Unidas constatam como a Bacia Amazônica.
a partir de R$ 13,5 bilhões por alertou. a Região Sudeste experimenta estão em geleiras
... 30,8%
ano, quando a média em 2012 agora é quase rotina no Nor- são águas
e 2013 foi de R$ 8,2 bilhões. Distantes da meta deste. Preocupado com os im- subterrâneas Quem consome mais? (litros/dia/per capita)
O senador Jorge Viana (PT- Os especialistas defendem, pactos que a seca prolongada
AC), um dos autores do pe- porém, que o enfoque deve se na região atendida pelo Rio São ... 0,3% 575
dido de debate sobre as estia- voltar não só para o aumento Francisco trouxe sobre a dispo- está em lagos e rios
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gens no país, acha inadmissível da oferta, com a construção e nibilidade de água para con-
as crises de abastecimento ainda a ampliação de reservatórios e sumo humano e atividades pro- Quem consome a água?
acontecerem. adutoras. Além de investimen- dutivas, o então senador Kaká 366
“Parece que o Brasil foi pego tos nas empresas prestadoras Andrade (PDT-SE) cobrou en- 287
de surpresa com a crise de São para modernizar os sistemas gajamento do governo federal
Paulo. A ANA tem sistemas e reduzir as perdas, é preciso na solução do problema.
de previsão. Ela não é capaz conscientizar a população sobre “Não são raros relatos de ci- 70,1% 159 135
Agropecuária 110 85
de mudar o curso da natureza, o desperdício. dades com problemas no abas- 20% 50
mas tem bases capazes de prever Estamos, porém, ainda dis- tecimento de água e prejuízos Indústria 35
se vai haver uma situação mais tantes de atingir essa meta. O de agricultores que dependem
grave de abastecimento, inclu- ranking de saneamento básico de irrigação ou do transporte Estados Austrália México França Brasil Índia Mínimo China Egito Nigéria
9,9% Unidos recomendado
sive por conta do regime de divulgado pelo Instituto Trata hidroviário, de aquicultores e pela ONU
chuva”, observou. Brasil em agosto mostrou que, empresários do ramo do tu- Abastecimento
Soluções existem, diz o di- em 62 das 100 cidades anali- rismo”, disse o parlamentar. Fontes: Pnud, ANA e OMM
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Escassez de água
FALTAM DINHEIRO
Elisa Finocchiaro
e PLANEJAMENTO
Durante os debates no Se- revistas para a segunda etapa
p explicou Vicente Andreu Guillo.
nado, uma queixa unânime foi do PAC 2, somente 1.223 fo- Estudo da Associação Brasi-
a baixa prioridade política dada ram concluídas (17,2%) e outras leira de Engenharia Sanitária e
pelos vários governos a investi- 2.325 (32,6%) ainda estavam em Ambiental (Abes) confirma a in-
mentos na área de segurança hí- fase inicial de execução. formação e atribui os baixos ín-
drica, aliada às grandes dificul- Por sua vez, as empresas con- dices de investimento no setor à
dades encontradas para obter a cessionárias, municípios e estados incapacidade dos operadores de
aprovação para a construção de aumentaram de R$ 3,3 bilhões se financiarem. Em 2012, disse
novos reservatórios ou de proje- em 2011 para R$ 3,5 bilhões em a entidade, só 7 das 26 empresas
tos de transposição de águas de 2012 os investimentos, conforme estaduais de saneamento estavam
uma bacia para outra. Os repre- o Sistema Nacional de Informa- aptas a captar financiamentos.
sentantes do governo federal ale- ções sobre Saneamento (SNIS). “Os altos custos dessas em-
garam que os recursos destinados No entanto, o Atlas Brasil — presas (quadro de pessoal mal
subiram muito desde a década abastecimento urbano de água, dimensionado, ineficiência nas
passada, mas admitiram que editado pela Agência Nacional de compras, alto consumo de ener-
ainda há um longo caminho a ser Águas (ANA), indica que, apenas gia elétrica, altos índices de per-
Bacia do Rio Amazonas é a mais extensa rede hidrográfica do planeta, com 20% das águas doces do mundo percorrido. para proteção de mananciais su- das de água) e a baixa capacidade
Segundo balanço de junho perficiais usados como fonte de de geração de receitas (gestão co-
deste ano, o governo federal teria captação para abastecimento ur- mercial deficiente, não aproveita-
Adalberto Marques/MI
nos de 1 milhão de litros per ca- mais sofre com secas periódicas que faz com que o Brasil caia na
pita/ano, o que os coloca em situ- no Brasil (leia mais na pág. 16). classificação. Se a disponibilidade
ação de escassez hídrica. A maior parte da população se de água fosse o único critério do
A Agência Nacional de Águas concentra perto do litoral, longe ranking de saúde hídrica, o Brasil
(ANA) considera que o Brasil dos principais mananciais, com subiria para a 18ª posição.
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Escassez de água
Saneago
cresceu, se tornou uma das maio-
pelo ritmo atual a meta res do mundo e parece que os in-
Investimentos em saneamento só será atingida em 2063
vestimentos ficaram muito aquém,
nos deixando reféns das circuns-
Ritmo ideal tâncias climáticas como a que a
R$ 12,5 bi anuais
gente está vivendo”, argumentou o
Ritmo atual
R$ 6,3 bi anuais senador Jorge Viana (PT-AC).
Inácio Arruda (PCdoB-CE)
lembra que, como em boa parte
2015 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 do Nordeste as longas estiagens
são um problema permanente, os
Investimentos em abastecimento de água estados foram obrigados a planejar
R$ 3,1 bi com antecedência.
87% “Acho que é preciso ter consci-
Prestadores
de serviços Prestadores ência de que tem de haver plane-
de serviços
10% jamento estratégico forte, com co-
Estados operação do governo federal e dos
Estados R$ 353 mi
Municípios R$ 103 mi 3% estados, e também compreensão
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Municípios de que os rios não são de um es-
Barragem João Leite, em Goiás,
Fontes: Ministério da Integração Nacional, CNI e SNIS tado, mas da Federação. E é o go- garante segurança hídrica para
verno federal que, em última ins- Goiânia sem precisar de energia
anos, uma urbanização intensa.
Havia grande déficit de infraes-
nha recursos para investir, tam-
bém não planejava nem desenvol-
tância, tem de dar a palavra final
em relação ao uso adequado desses
Esforço conjunto leva
trutura de abastecimento de água, via projetos”, apontou. mananciais”, opinou o senador. água para a capital goiana
que começou a ser superado de Vicente Andreu Guillo, da Engenheiro e empresário, o se-
forma mais intensa após a criação ANA, defende a imediata reto- nador Wilder Morais (DEM-GO) As diferenças políticas não im‑ mento. “Além da economia estimada r eser vatório é um problema. Por
do PAC”, alegou Irani Braga Ra- mada da construção de reservató- não admite a falta de entendi- pediram a parceria entre o governo em R$ 1 milhão por mês em energia conta disso, a estrada foi sinalizada
mos, secretário-executivo do Mi- rios no país. mento entre os Ministérios das Ci- federal e o governo de Goiás para a elétrica, Goiânia será a única cidade e há o monitoramento de cargas pe‑
nistério da Integração Nacional. “Há grande objeção à constru- dades e da Integração e os estados construção da maior obra de sanea‑ do país que poderá garantir o abas‑ rigosas. “A preservação dos recursos
Braga Ramos acredita que o go- ção de reservatórios e às transposi- e municípios. mento em curso no país. O Sistema tecimento de água em caso de apa‑ hídricos constitui questão essencial
verno federal já tem uma “atuação ções por conta dos impactos. Eles “A gente tem visto a falta de Produtor Mauro Borges deve entrar gão prolongado de energia”, disse o nos dias atuais e um dos cuidados
forte” no setor, mas a criação de são reais, mas precisamos colocar planejamento da infraestrutura em em operação em 2015 e vai produzir, engenheiro. consiste na fiscalização da ocupação
uma infraestrutura que dê segu- nessa contabilidade os ganhos e a todos os níveis. Investir em segu- inicialmente, 4 mil litros de água por Em audiência pública das Comis‑ do solo em torno de mananciais de
rança hídrica a todo o país depen- segurança. Parece que fazer um re- rança hídrica é prioridade, inde- segundo para os moradores de Goiâ‑ sões de Meio Ambiente, Defesa do abastecimento público”, esclareceu a
deria do início e da conclusão de servatório só traz problemas. Essa é pendentemente de região”, disse. nia e cidades vizinhas. Consumidor e Fiscalização e Controle promotora.
muitas obras no semiárido e ou- a visão geral. E, na verdade, As obras foram divididas em duas (CMA) e de Serviços de Infraestru‑
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Escassez de água
Orlando Brito
A informação é da pesquisa menos de 2%, ou seja, somente maior problema de reservação de rador dom Pedro II criasse uma co‑
Produção da Pecuária Munici- o chamado “volume morto”. água é Pernambuco”, informou missão para propor soluções para a
pal, do IBGE. O diretor-presidente da Agên- Guillo. seca. Pouco foi feito, no entanto. Em
Prejuízos também foram sen- cia Nacional de Águas (ANA), A situação não é nova. A seca 1909, já no regime republicano, foi
tidos na área de eletricidade. Vicente Andreu Guillo, disse do Nordeste é bem conhecida criada a Inspetoria de Obras Contra
as Secas (Iocs), que está na origem
Carcaças de gado na Paraíba: pecuaristas perderam do atual Departamento Nacional de
4 milhões de animais no auge da estiagem, em 2012 Obras contra as Secas (Dnocs).
Até a implantação da Sudene,
Nyll Pereira/aLPB
em 1959 pelo economista Celso
Furtado, durante o governo de Jus‑
celino Kubitschek, o Iocs era res‑
ponsável pela construção de açudes
e usinas hidrelétricas e o único ór‑
gão designado a socorrer as popu‑
lações flageladas pelas secas cíclicas
que assolam a região.
Apesar da criação do Iocs, as
estiagens adentraram o século 20,
produzindo tristes estatísticas. Em
1915, o governo do Ceará instalou
uma espécie de “campo de con‑
centração” às margens das cidades
para impedir a entrada de retiran‑
tes, provocando grande núme‑
ro de mortes por causa da fome e
das péssimas condições sanitárias.
A seca desse ano foi o mote para
o romance de estreia de Rachel de
Queiroz, O Quinze.
O drama humano provocado
pelo clima inóspito da região tam‑
bém foi explorado por outros auto‑
res em grandes obras da literatura
brasileira, como Graciliano Ramos,
no romance Vidas Secas, e João Ca‑ Castigadas por períodos prolongados de seca, famílias
bral de Melo Neto, no poema Mor- nordestinas migraram para o sul do país no século 20
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Escassez de água
Deserto Verde
BA cisterna. De 2011 até agosto de
260 | 2014, foram construídas 694.943
2.971.684 cisternas.
Fontes: Ministério da Integração Nacional, Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites, IBGE "As cisternas são uma alternativa
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Escassez de água
uma renda mínima a agricultores rido captam água diretamente do “O Ministério da Integração “As águas já deveriam ter che-
DNOCS
com renda familiar mensal igual rio. Com a estiagem, os rios seca- decidiu recentemente construir gado entre 2013 e 2014. Tive-
ou inferior a 1,5 salário mínimo e ram e as cidades não têm sistema essa adutora. Mas precisamos pen- mos problemas de execução nos
que perderam a safra. adutor que permita receber água sar numa infraestrutura de adu- canais, tivemos uma paralisação
“Os instrumentos de trans- de reservatórios e garantir segu- toras que tenha resiliência, que de 2011 a 2013, o que nos obri-
ferência de renda tornam o so- rança hídrica à população”, disse seja capaz de enfrentar esses perí- gou a voltar com o carro-pipa
frimento das pessoas menor do Guillo. odos de alternância chuva e seca, em várias cidades do Nordeste
que já foi no passado”, acredita o O dirigente citou o caso de Ju- que, infelizmente, nos parecem, Setentrional. Essas águas já po-
ministro. curutu, no Rio Grande do Norte, serão cada vez mais frequentes”, deriam ter diminuído a utiliza-
que capta do Rio Piranhas, mas explicou. ção do carro-pipa. Não iriam re-
Projetos estruturantes não tem adutora para a Barragem O senador José Pimentel (PT- solver em definitivo, mas dimi-
O Programa de Aceleração do Armando Ribeiro Gonçalves, que CE) cobrou mais agilidade para as nuiriam o sofrimento”, afirmou o
Crescimento 2 tem R$ 5,9 bilhões fica a 15 quilômetros. obras no Nordeste. senador.
para a construção de 1,6 mil sis-
temas de abastecimento de água,
como reservatórios elevados, que
permitem a distribuição de água
por meio de chafarizes, torneiras No Ceará, obras se maioria dos estados, não aconte‑
públicas e pequenas redes.
Também está prevista a cons-
estendem por 256 km ce. Por exemplo, existem estados
que nunca deram uma única ou‑ Barragem Armando Ribeiro Gonçalves,
trução de 20 barragens para abas- Em março, o governo federal 18 municípios do estado. torga. Existem estados que têm construída pelo Dnocs para garantir a
tecimento da população, para irri- inaugurou, no Ceará, o último tre‑ “Já reivindicamos um novo pro‑ um servidor cuidando da gestão perenidade do fluxo do Rio Piranhas-Açu
gação e para geração de energia, o cho de obras do Eixão das Águas, jeto para os 30 anos após esses de recursos hídricos. Com essa
que aumenta a capacidade de sus- um conjunto de adutoras, estações 30, para ter a garantia de que não realidade, é difícil ter uma gestão
tentabilidade econômica regional. elevatórias, reservatórios, aquedu‑ vamos ter nenhum tipo de colapso homogênea”, avaliou. Solução federativa
Com esse objetivo, foram alocados tos e canais com extensão de 256 na região metropolitana, onde está O planejamento não impediu,
R$ 2 bilhões. quilômetros. Estima-se que a obra metade da população cearense”, no entanto, que o sertão esteja no Rio Piranhas-Açu
Outra iniciativa é a construção de infraestrutura hídrica garantirá disse o senador Inácio Arruda. sofrendo com a seca que atinge
de sistemas adutores que possibi- o abastecimento de água para 4,2 De acordo com o diretor da o semiárido. Cerca de 125 mu‑ Um exemplo de bom uso dos cultura. Os usuários dos muni‑
litam o aproveitamento das águas milhões de pessoas da Região Me‑ ANA, Vicente Andreu Guillo, o Ce‑ nicípios cearenses, de um total recursos hídricos é o da Bacia cípios paraibanos de Coremas,
represadas em barragens ou açu- tropolitana de Fortaleza nos próxi‑ ará não tem só a melhor gestão de de 186, decretaram situação de Hidrográfica do Rio Piancó-Pira‑ Cajazeirinhas, Pombal, Paulista
des. A intenção é entregar 61 siste- mos 30 anos. águas do semiárido, mas do Brasil. emergência. A maior parte das ci‑ nhas-Açu, que abrange a Paraíba e Riacho dos Cavalos só podem
mas adutores em todo o Nordeste A o b r a i n t e g r a o PAC 2 “Eles têm planejamento e capa‑ dades está sendo abastecida por e o Rio Grande do Norte. Como captar água nas segundas, quar‑
e no norte de Minas Gerais, ao e consumiu R$ 1,5 bilhão. O Eixão cidade de execução. A água é um carros-pipa. Foram contratados a bacia é de fundamental impor‑ tas e sextas-feiras. Os usuários
custo de R$ 19,3 bilhões. se inicia no Açude Castanhão e, até dos pontos centrais das decisões 1.164 “pipeiros”, que trabalham tância para os dois estados, foi dos municípios de São Bento
“Muitos municípios do semiá- chegar a Fortaleza, abastece outros políticas no estado, coisa que, na sob coordenação do Exército. criado, em 2006, um comitê in‑ (PB), Jardim de Piranhas (RN) e
terestadual para gerir o uso das Jucurutu (RN) só podem captar
água nas terças, quintas e sába‑
Geraldo Magela/agência Senado
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Escassez de água
Jornal da UFRN
com adutoras, a exemplo do que talecimento das estruturas de con-
foi feito com a distribuição de servação e das ações preventivas
energia no Programa Luz para de preservação das nascentes e da
Todos. biodiversidade nos parques nacio-
“Para isso, tem água sobrando nais e estaduais na bacia do rio.
na região e a transposição não se- Entre as sugestões, está a proteção
ria necessária, mesmo no quadro e a revitalização das matas ciliares
atual da maior seca em 50 anos”, para conter erosões, inclusive com
avalia o especialista. o cercamento das nascentes.
A Agência Nacional de Águas
Revitalização (ANA) entende que a nascente do
Outra controvérsia em rela- Rio São Francisco na área de pre-
ção ao São Francisco é a sobrevi- servação do Parque Nacional da
vência do próprio rio. A Câmara Serra da Canastra está seca por
Consultiva Regional do Alto São causa da longa estiagem na Re-
Francisco, que é ligada ao Comitê gião Sudeste. Segundo a ANA, os
da Bacia Hidrográfica do Rio São impactos do fenômeno são senti-
Francisco, divulgou no final de dos especialmente no trecho que
setembro um documento que de- vai da nascente até a Usina Hi-
nuncia a grave situação do rio. drelétrica de Três Marias (MG)
De acordo com o documento, a e nos afluentes que não contam O professor João Abner considera
vazão do curso d’água está dimi- com reservatórios de regulariza- muito limitado o impacto social da
nuindo da nascente à foz. O texto ção das águas. Mais recentemente, transposição do São Francisco
adverte ainda que não se trata de a agência determinou que a vazão
uma crise pontual, mas histórica, do reservatório Três Marias seja
provocada por omissão e políticas reduzida dos atuais 150 mil litros São Francisco e melhorar a possi-
Obras em canal do Rio São Francisco, em Salgueiro (PE): projeto deveria ter sido inaugurado em 2012 desarticuladas de governos muni- por segundo para 120 mil litros bilidade de levar água aos mora-
cipais, estaduais e federais. A falta por segundo. O objetivo da ANA dores do semiárido seria a integra-
de uma gestão integrada da bacia é preservar o reservatório, que está ção da Bacia do Rio São Francisco
Mesmo com obras em anda- Pelo projeto, o principal uso Porém, até hoje, o professor do
Mathias Fingermann
mento, o projeto de transposição das águas do São Francisco será o Departamento de Engenharia Ci-
do Rio São Francisco segue po- consumo humano e animal. Serão vil da Universidade Federal do
lêmico. O governo federal prevê beneficiados 12 milhões de habi- Rio Grande do Norte João Ab-
a conclusão do empreendimento tantes de 390 municípios de Per- ner Guimarães Júnior considera a
no fim de 2015, a um custo de R$ nambuco, Ceará, Paraíba e Rio obra muito limitada, com impac-
8,2 bilhões. Ao final, os dois ei- Grande do Norte, além de 325 tos numa área equivalente a me-
xos cortarão o semiárido, levando comunidades rurais que residem nos de 5% do semiárido.
a água do rio para quatro estados. a uma distância de 5 quilômetros “A transposição é um projeto
Não se trata de uma obra sim- da margem dos canais dos eixos restrito e inócuo com respeito à
ples. São 477 quilômetros de ca- norte e leste. realidade atual mais visível da
nais, com túneis e reservatórios Os técnicos do ministério ar- seca do Nordeste: a falência do
para bombeamento da água. Mas, gumentaram, em relatório de im- abastecimento hídrico das popu-
como acontece com a maioria das pacto ambiental produzido em lações rurais difusas que hoje são
obras brasileiras, a transposição 2004, que a transposição seria atendidas amplamente por milha-
do São Francisco também atra- a melhor opção para o forneci- res de carros-pipa”, alega.
sou — e ficou mais cara. Inicial- mento garantido de água à região. Segundo o professor, o custo
mente, a previsão era de que seria Outras hipóteses foram estudadas dos carros-pipa, de cerca de R$
inaugurada em 2012 por R$ 4,7 pelo ministério, como o uso de 350 por família por mês, é até 30
bilhões. Irregularidades e indícios águas subterrâneas, a dessaliniza- vezes o custo do abastecimento
de superfaturamento identificados ção (retirar o sal da água do mar), urbano convencional. Além disso,
pelo Tribunal de Contas da União o reaproveitamento de águas uti- na avaliação dele, ao contrário do
(TCU) também fazem parte do lizadas, o uso de cisternas para a que argumenta o governo, a solu-
empreendimento, que, segundo o captação de água da chuva, a in- ção para a falta d’água no semiá-
ministro da Integração Nacional, tegração com outras bacias hidro- rido passa, “prioritariamente e se-
Francisco Teixeira, estará 75% gráficas e a implantação de novos guramente”, por um amplo pro-
pronto até o fim de 2014. açudes. grama de abastecimento rural Nascente do São Francisco na Serra da Canastra (MG): vazão do curso d'água está diminuindo
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Escassez de água
Estação
Res. Jacareí/Jaguari Elevatória ETA Guaraú
Res. Cachoeira Santa Inês Represa MG
Res. Atibainha Águas Claras
Oito reservatórios atendem 33 Instalou-se uma crise hídrica diretor-presidente da ANA. Res. Paiva
São Paulo Serra da Mantiqueira
cidades que integram a Grande sem precedentes. As fotos dos re- Durante esse período, afirmou Castro
São Paulo. Juntos, produzem 67 servatórios cada vez mais vazios as- Guillo, a ANA manteve “uma re-
mil litros de água por segundo sustaram a população. O governo lação positiva” com o governo de Bragança Reservatório
Rio
Municípios atendidos parcialmente Paulista Jacareí/Jaguari
Ati
para os 20 milhões de moradores. do estado adotou medidas para in- São Paulo, procurando ajudar na
ba
São Paulo, Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André Reservatório
ia
A distribuição da água para a po- centivar a economia: o combate criação de regras para gerenciar
Cachoeira
pulação é feita pela Companhia de das chamadas perdas físicas, cau- a água escassa. “É uma situação Rio Cachoeira
Saneamento Básico do Estado de sadas por vazamentos nas redes de muito delicada de impacto social, Municípios atendidos integralmente
Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Atibaia
São Paulo (Sabesp), que ficou cé- distribuição, e a troca de equipa- ambiental e econômico gravíssimo.
Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul
lebre por conta do agravamento da mentos, tubulações, hidrômetros e Estamos falando de uma região Reservatório
estiagem na região, a maior desde válvulas, redutores de pressão, além que representa 25% do PIB brasi- Represa Reservatório Paiva Castro Atibainha
Águas Claras Espelho d'água
1930, afetando principalmente o de uma varredura contra fraudes. leiro. Precisaríamos de uma posi- 86 km²
Estação de Tratamento
Sistema Cantareira, que, com seis Mais adiante, anunciou descontos ção mais forte da sociedade sobre de Água do Guaraú, onde Capacidade total
represas, abastece 9 milhões de e bônus nas contas de água para os qual das propostas é a mais ade- são tratados atualmente Túneis de ligação 982 bilhões de litros
pessoas em 11 cidades, incluindo a consumidores que economizassem. quada: manter um conforto de 33m³/s de água entre os reservatórios
Vazão máxima
capital. Porém, as medidas foram conside- retirada durante esse período au-
Serra da Cantareira 29 mil litros por segundo
Na década passada, as chuvas radas insuficientes por especialistas. mentando o risco ou reduzir essa
na região foram regulares. O sis- A persistente ausência de chu- retirada, de tal maneira que não Vazão na crise hídrica
São Paulo 16,6 mil litros por segundo
tema chegou a alcançar o nível vas levou à falta d'água nas tornei- haja um risco tão significativo no A Grande São Paulo consome
máximo pela primeira vez e, no ras em vários municípios, o mais futuro?”, questionou. 5 mil litros por segundo. Menor volume registrado no ano
início de 2011, verter água, cau- afetado deles foi Itu. “A água não A primeira medida emergencial Em 20 anos, previsão é que 3% da capacidade
consumo praticamente dobre
sando inclusive enchentes. Até ou- chegou e as retiradas em outubro, foi recorrer ao chamado volume 89,8% 82,5%
tubro de 2013, o nível da represa novembro, dezembro, janeiro e fe- morto do Sistema Cantareira, re-
67% 200
era normal. Porém, os quatro me- vereiro se mantiveram no mesmo serva de água que fica abaixo das Volume
volume em milímetros
ses seguintes, tipicamente chuvo- patamar. Havia tendência ao de- comportas das represas e que é 48,9% E as chuvas não vêm
anual médio
sos, foram de baixíssima captação. clínio, o que é normal no final do retirada com bombas. Essa reserva do Sistema 100
Choveu na região metropolitana ano e, depois, recuperação no perí- tem 400 bilhões de litros de água, 10,8%*
Cantareira
que fica a cerca de 100 quilôme- odo de chuvas. Mas isso não acon- dos quais 182,5 bilhões — a pri-
jan. fev. mar. abr. mai. jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
tros de distância, mas, se não cho- teceu. O declínio se acentuou”, meira cota — foram bombeados a 2010 2011 2012 2013 2014
ver na cabeceira do sistema, não explica Vicente Andreu Guillo, partir de 15 de maio. *Em 13 de novembro, incluídos volumes mortos 1 e 2 Média 2005–2012 2013 2014
adianta. Fonte: Sabesp
Diante do risco da seca, o go-
vernador Geraldo Alckmin quer O senador Eduardo Suplicy nar as causas da crise de abasteci-
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Escassez de água
tes para evitar o uso da segunda litros por habitante, está distante
cota do volume morto. Antes do consumo do Rio de Janeiro
disso, o sistema tinha menos de (294 litros) ou do Distrito Federal
3% da capacidade disponível. (274 litros). Os paulistanos estão
Uma medida paliativa que tem na média do Sudeste, mais rico e
crescido é a perfuração de poços que mais consome água, acima da
artesianos. Em outubro, a Prefei- média nacional (159 litros).
tura de São Paulo lançou edital Também não é a campeã de
GERALDO MAGELA/Agência Senado
Perdas e desperdício
do ponto de vista ambiental
Jaguari, no Rio Paraíba do Sul, para pende do rio para abastecer 11 mi‑ Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul,
o Reservatório Atibainha, no Sistema lhões de pessoas na Grande Rio. afirmou que há água suficiente para
Cantareira. A transposição só ocor‑ O Ministério Público Federal re‑ todos os usos, mas com parcimônia.
reria quando o reservatório receptor
estiver com nível abaixo de 35% ou
o doador acima de 75%. A ligação
correu ao Supremo Tribunal Federal
(STF) para impedir que a ANA auto‑
rizasse a Sabesp a tocar a obra. O mi‑
“Havendo modificação nas regras
de operação do sistema hidráulico
da Bacia do Rio Paraíba do Sul nos
agravam risco de escassez
entre as Represas Jaguari e Atibainha nistro do STF Luiz Fux promoveu au‑ momentos de escassez hídrica, prin‑ Cada gota de água economi- no Brasil, quanto preciso extrair para que isso ocorra, o estudo de-
depende da construção de 15 quilô‑ diência entre os governadores Geral‑ cipalmente minimizando a produção zada é importante, mas, ao con- para fornecer 10 litros de água? fende a aplicação de R$ 834 mi-
metros de túneis e canais, a um custo do Alckmin (SP), Luiz Fernando Pezão de energia elétrica, é possível que o trário do que o senso comum Eu preciso de 20 [litros]! Ou seja, lhões em recursos. Já o estudo
de R$ 830 milhões. O projeto é uma (RJ) e Alberto Pinto Coelho (MG), volume disponível seja suficiente para possa indicar, não é o desperdício estresso a quantidade de água de Perdas de Água: entraves ao avanço
das oito obras que o governo paulista em que foi fechado acordo pelo qual, atender a demanda de São Paulo. A com banhos demorados ou lava- que necessito para garantir o abas- do saneamento básico e riscos de
apresentou ao governo federal, com para tocar a obra, São Paulo terá que seca atual mostrou a urgência de usar gem de calçadas que mais põem tecimento”, explica Vicente An- agravamento à escassez hídrica no
custo total de R$ 3,5 bilhões. contar com o aval dos outros dois es‑ a água disponível de forma sustentá‑ em risco a segurança hídrica dos dreu Guillo, diretor-presidente da Brasil, do Instituto Trata Brasil,
O uso das águas do Paraíba do tados. Uma solução técnica sobre o vel, inclusive com melhoria do trata‑ brasileiros. Até porque menos de ANA. indicou que uma redução de ape-
Sul no abastecimento da Grande São uso da água do Paraíba do Sul deve mento de esgotos”, disse. 10% da água é destinada aos do- O senador Eduardo Suplicy nas 10% nas perdas já agregaria
micílios. Na verdade, estudos (PT-SP) cobrou investimentos de
apontam que a situação mais dra- todos os governos no combate às
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Escassez de água
Como resultado, muitas vezes a industriais, recarga de aquíferos, as fontes de água de boa quali- zas química e biológica. São usa-
água tratada, depois de utilizada, aquicultura, construções. dade para abastecimento pú- dos pequenos lagos onde a água
é devolvida aos rios sem trata- Nesse sentido, os esgotos tra- blico e outros usos prioritários), lentamente — durante mais de
mento, como efluentes poluidores tados têm papel fundamental na mas cria uma opção econômica um ano — penetra o solo até
e esgotos. Na classificação mun- gestão sustentável dos recursos sustentável. chegar aos aquíferos, retornando
dial de aproveitamento dos recur- hídricos, como substituto para Há muitos níveis e formas de pura e cristalina. É praticamente
sos hídricos, o Brasil é apenas o o uso de águas destinadas a fins tratamento no reúso da água. A o mesmo processo usado nas esta-
86º país colocado, muito também agrícolas e de irrigação. O uso de- de melhor qualidade vem da adi- ções espaciais, que reciclam urina
em função do fraco desempenho les não só contribui para a con- ção de um processo de filtragem e fezes dos astronautas em água
no reúso de água, essencial para servação dos recursos (ao liberar por gravidade, depois das limpe- potável, oxigênio e adubo.
não sobrecarregar os mananciais.
O desconhecimento e a falta
Arquivo pessoal
de orientação e informação aos
cidadãos são os principais fato-
res que levam ao desperdício de
Secas e alta demanda do setor agrícola
são desafios no extremo sul do país
ABES
água. Dependendo do modelo
Combate às perdas pode garantir usado na casa, uma simples des- Para Alceu Bittencourt, cultura
recursos para ampliar oferta de água, carga do vaso sanitário pode con- brasileira que dá pouco valor Enquanto a média mundial de uso vouras irrigadas do país, com 984 mil alterando recentemente.
afirma Édison Carlos, do Trata Brasil à água tratada precisa ser alterada
sumir até 30 litros de água, en- de água na agricultura é de 70%, se‑ hectares, a maioria na metade sul do Antes com chuvas mais homogê‑
quanto as mais econômicas, aco- gundo a Organização das Nações estado. Dados da Organização das neas, a região pode ter um mês em
R$ 1,3 bilhão à receita operacio- pladas ao vaso, gastam no má- evento internacional sobre reúso Unidas (ONU), no Rio Grande do Sul Nações Unidas para a Agricultura e a que há muita precipitação em dois
nal com a água — quase metade ximo 6 litros (veja o infográfico de água realizado em outubro, na o percentual chega a 88,6%. O abas‑ Alimentação (FAO) revelam que 60% ou três dias e seca com temperaturas
de todo o investimento para o se- nas páginas 30 e 31). capital paulista. tecimento humano, segunda maior da água usada em projetos de irriga‑ muito altas no restante do período. A
tor em 2010. “As perdas nas grandes cidades demanda por água, consome apenas ção é perdida por fenômenos como a agricultura é, então, afetada por esse
“As perdas fazem com que mais Reúso de água brasileiras são cruéis com a neces- 5,4% dos recursos hídricos do estado, evaporação. Segundo os dados, uma ciclo de chuvas muito irregular, infor‑
água tenha que ser retirada da na- Limpar calçadas com água cor- sidade da disponibilidade hídrica. seguido por 3,3% do uso industrial e redução de 10% no desperdício po‑ ma o especialista.
tureza para cobrir a ineficiência. rente e lavar carros em lava a jato, A cultura de abundância nos leva 2,7% da criação de animais. deria abastecer o dobro da população “O que poderíamos estar expe‑
É preciso que governo federal, go- entre outros, são hábitos conside- a sermos lenientes, coniventes e Esse fato faz com que as altera‑ mundial. A ONU considera a agricul‑ rimentando é um processo de po‑
vernadores e prefeitos lutem por rados absurdos por especialistas. a acharmos que isso é simples. ções climáticas, especialmente as se‑ tura alvo prioritário para as políticas larização. Podemos ter muita chuva
reduções de perdas desafiadoras, Afinal, a água que sai da torneira Nunca vamos conseguir fazer cas causadas pelo fenômeno La Niña, de uso racional de água. em poucos dias e isso traz as conse‑
pois certamente resultarão em re- tem requisitos de qualidade eleva- com que a curva de consumo caia como a que ocorreu de novembro de Em debate no Senado, o secretário‑ quências de deslizamentos de terras
cursos financeiros para levar água dos para ser potável. apenas com medidas racionais. As 2011 a maio de 2012, tenham grande -executivo do Ministério da Integra‑ e enchentes urbanas, mas também
potável e esgotamento sanitário “A água tratada é um bem eco- pessoas, quando têm mais renda, impacto no consumo de água no es‑ ção Nacional, Irani Ramos, confirmou dias muito quentes. A época chuvosa
a quem não tem”, avalia Édison nômico obtido a custos cada vez consomem mais água. Devería- tado. O período do fenômeno coinci‑ que a metade sul do Rio Grande do é mais intensa e a estação seca tam‑
Carlos, presidente-executivo do mais elevados, mas a população mos levantar uma bandeira em re- de com o de maior consumo de água Sul enfrenta forte déficit hídrico. O bém”, explica Marengo, atualmente
Instituto Trata Brasil. segue imaginando que água é de lação às perdas”, completa Vicente para a produção de grãos. Segundo o climatologista José Marengo, do Ins‑ no Centro Nacional de Monitoramen‑
Essas perdas se devem ainda graça”, criticou Alceu Bittencourt, Andreu Guillo. Plano Estadual de Recursos Hídricos, tituto Nacional de Pesquisas Espaciais to e Alertas de Desastres Naturais.
à falta de investimentos em pro- da Associação Brasileira de Enge- O reúso faz parte de uma es- a demanda sobe muito nos meses de (Inpe) e integrante do Painel
gramas de reutilização da água nharia Sanitária e Ambiental em tratégia mais abrangente para o novembro, dezembro e janeiro, espe‑ Intergover na ment a l de
para fins industriais e comerciais. São Paulo (Abes-SP), durante um uso eficiente da água, que envolve cialmente para a irrigação de arroz nas Muda nç a s Climát i‑
também o controle de perdas e regiões central e sul do estado. cas (IPCC), afirma Erechim R io
Pel
desperdícios e a minimização da Inversamente, nos meses de inver‑ que o regime Santa Rosa o t as
Rio Ij
produção de efluentes e do con- no, as demandas por água são maiores de chuvas uí
R io P Santo Ângelo Passo Fundo
sumo de água. Na reutilização de na região do estado com maior con‑ do estado irati
ni Vacaria
água — chamada também de uso centração populacional (Grande Por‑ vem se São Borja
de águas residuais —, pode ha- to Alegre e Vale dos Sinos), ou seja, Rio das Antas
uai
g
ver ou não tratamento da água, na Bacia do Rio Guaíba. A explica‑
Uru
Santiago Caxias do Sul
R io
dependendo da finalidade para a ção é a maior atividade industrial e Rio Ibicuí Santa Cruz Lajeado
qual vai ser reutilizada. o abastecimento humano, que não Santa Maria do Sul Novo Hamburgo
Essas águas residuais trans- apresentam o efeito da sazonalidade, Uruguaiana
R io aí Rio Jacuí
Rio Sa
portam poluentes que, se não fo- como ocorre com a irrigação agrícola. Qu cac Porto Alegre
ara Va
R io
nt a M
rem retirados, podem prejudicar De acordo com a Agência Nacio‑ í
a qualidade das águas dos rios. Cerro Grande do Sul
aria
nal de Águas (ANA), o Rio Grande
Rio Camacuã
Mas, depois de reciclada, a água do Sul concentra a maior área de la‑ Santana do Livramento
pode ser usada para várias finali-
dades, como irrigação paisagística Bagé
Alteração climática caracterizada
e de campos para cultivos, refrige- Quantidade de Pelotas
pelo resfriamento anômalo das
ração e alimentação de caldeiras águas superficiais do Oceano
água comprometida
Pacífico, que traz diversas conse- Quantidade e qualidade de
Aviso em Santa Mônica, na Califórnia quências por conta da alteração da água comprometidas
Tempshill
(EUA): água de irrigação é reciclada, circulação dos ventos que levam à Fontes: ANA, IBGE e Trata Brasil
imprópria para consumo humano formação de chuvas.
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Escassez de água
Escovando os dentes Fazendo a barba Banho Lavagem de roupas Lavagem de calçada Lavagem de carro
5 min 12 litros 5 min 12 litros 15 min 135 a 150 litros Máquina de 5 kg consome 135 litros* 15 min 300 litros 15 min 350 a 780 litros
Dica: Encha um copo com a água Dica: Use a pia como reservatório para Dica: Feche o chuveiro ao se ensaboar ou Dica: Sempre use a máquina de lavar na Dica: Não use a mangueira como Dica: Use dois baldes, um com água e
necessária para o enxágue lavar o aparelho de barbear lavar os cabelos. Reduza o tempo capacidade máxima de roupas vassoura. Primeiro limpe o local e depois sabão, outro com água limpa
Economia: Até 11 litros por vez Economia: Até 10 litros por vez Economia: Até 45 litros por vez lave usando baldes Economia: Até 700 litros por vez
Economia: Até 260 litros por vez
Vaso sanitário
Lavagem de louças
Até 30 litros* conforme modelo
15 min 120 litros
Dica: Instalar descargas de baixo consumo
e (ou) caixa d'água acoplada Dica: Limpe os restos de comida e jogue
Economia: Até 10 a 15 litros por vez no lixo. Encha a pia até a metade para
ensaboar e feche a torneira. Esvazie a pia
e encha até a metade novamente para
enxaguar
Economia: Até 100 litros por vez
Regar jardins
10 min 190 litros
Dica: Regue de manhã cedo ou à noite, o
que diminui a evaporação. Use mangueira
com esguicho
Economia: Até 100 litros por vez
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entrevista com josé marengo, membro do painel intergovernamental sobre mudanças climáticas (ipcc)
Especialistas convocados pela ONU
renovaram em outubro alerta para
impactos do efeito estufa no clima
IPCC
Protocolo de Kyoto, que obriga as que alguns impactos das mudanças homem não tem controle, é possível causada pela redução do nível dos
nações desenvolvidas a reduzirem climáticas previstos para o futuro afirmar que eles estão mudando de reservatórios das hidrelétricas por
Aquecimento global
a emissão de gases de efeito estufa. já estão aí. O que acontece? comportamento. É difícil atribuir a falta de chuvas] tivemos a mesma
Os países em desenvolvimento têm Os modelos projetam que essas seca do Sudeste à mudança climática, discussão, até que começou a chover
a possibilidade de estabelecer me- situações devem ficar piores no porque a seca é um fenômeno de e todo mundo esqueceu. Temos
falta de água no Sudeste. mais vulneráveis, estarão mais ex- proliferação de doenças infeccio‑ adaptar” e não depender exclusivamente
A situação vai continuar a se postas aos danos. sas transmitidas por mosquitos. de água ou de petróleo.
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Escassez de água
Poluídos, rios urbanos não No saneamento, principal problema é a falta de esgotamento sanitário
ajudam no abastecimento
Índices melhoraram desde 2002, mas não o suficiente para cumprir a meta
do plano nacional. Somente 38% do esgoto produzido no país é tratado
Norte
Não basta ter água. É preciso Sinos (RS), Gravataí (RS), das Por isso, água para abasteci- Domicílios urbanos com Por tipo de serviço
ter água limpa. A última pesquisa Velhas (MG), Capibaribe (PE), mento humano está tendo que ser saneamento adequado Com 30,3% Nordeste
Indicadores de Desenvolvimento Caí (RS), Paraíba do Sul (RJ) e captada cada vez mais longe dos Sem Coleta de esgoto (%)
Sustentável (IBGE), publicada em Doce (ES). locais de consumo, nas grandes + de 2 6,4%
salários Com
2012, mostra que a falta de sane- O Tietê e o Iguaçu, aliás, es- cidades. “A poluição dos manan- Sem Abastecimento de água (%) 76,3%
mínimos
amento é um dos maiores proble- tão entre os dez mais poluídos do ciais é uma questão crítica. No per capita 82% 83,6 % 46,9%
mas do país. Grande quantidade mundo. A sujeira das águas dos caso da Região Metropolitana de 70,3%
de esgoto não tratado é lançada rios próximos a cidades impede São Paulo, as águas dos Rios Ta- Brasil 63% Centro-Oeste
em rios, lagos e represas, consti- que elas sejam utilizadas para manduateí, Pinheiros e Tietê não 51,7%
tuindo um dos principais fato- 6,4%
abastecimento da população em existem para consumo, por causa
Até ½ 38,4 %
3 em cada 10
Sudeste
res do baixo índice de qualidade caso de crise hídrica, como acon- da poluição. O Tietê, lá na frente, salário 49,0 7,5% 3,5
% %
da água, o que ameaça a saúde tece agora na capital paulista. é limpo, mas a disponibilidade mínimo domicílios urbanos
da população e a preservação do da água na região de São Paulo é per capita não possuíam coleta
meio ambiente. Esgoto zero”, alertou o diretor da ANA, Brasil
de esgoto Sul
Os mananciais são poluídos O Rio Tietê, por exemplo, re- Vicente Andreu Guillo. 2002 2012 6,9%
3,5%
principalmente nos trechos em cebe resíduos industriais e esgoto O problema se repete na capi- Fonte: IBGE 27,7%
áreas urbanas, atravessam zonas não tratado de 19 dos 39 municí- tal fluminense. “A cidade do Rio 30,5%
industrializadas e de intensa ativi- pios da Região Metropolitana de de Janeiro tem que captar cerca de
dade agrícola ou passam por cida- São Paulo. Diariamente, são des- 120 mil litros por segundo para com a captação de água nos ma- deve ser tratado e devolvido aos O senador Jorge Viana (PT-
des de médio e grande portes. É o pejadas 690 toneladas de esgoto tratar cerca de 50 mil litros por nanciais, que é levada por adutora mananciais. AC) lembrou ranking elaborado
caso dos Rios Tietê, na cidade de no rio mais importante do estado segundo. Ou seja, a grande maio- até a estação de tratamento. De- Em relação à coleta de esgoto, pelo Banco Mundial, que coloca
São Paulo, e Iguaçu, em Curitiba, dono da maior economia no país. ria dessa água é destinada à dilui- pois de tratada, a água é armaze- o Brasil ainda tem muito por fa- o Brasil na 112ª posição em lista
campeões de poluição no Brasil. Nos anos 1990, a mancha de po- ção de poluentes para transformar nada em reservatório e distribuída zer. Quase 30% dos domicílios de 200 países com relação a sane-
Além deles, os outros rios mais luição no Tietê chegou a 100 qui- a água em água tratada”, contou. para a população. A água suja é brasileiros ainda não têm sanea- amento básico (água e esgoto). “O
poluídos do país são Ipojuca (PE), lômetros de extensão. O ciclo do saneamento começa coletada pela rede de esgoto, que mento adequado, segundo a Sín- país ainda está aquém, no acesso
tese de Indicadores Sociais 2013 a saneamento básico, de países
(IBGE). O conceito de sanea- desenvolvidos e até de alguns vi-
Rio Tietê, que cruza São Paulo, está entre os dez mais poluídos do
mundo e não oferece nem sequer 1 litro d'água para uso no local
mento adequado abrange serviços zinhos da América do Sul. Mas é
essenciais para tornar a moradia preciso dizer que os investimentos
saudável e digna: abastecimento aumentaram”, completou.
de água e esgotamento sanitário
ligados à rede geral, coleta de lixo
e iluminação elétrica.
Desses itens, o maior problema
é o esgotamento sanitário, que
falta a quase todos os domicílios
sem saneamento adequado. Ape-
nas 5,9% não possuem coleta de
lixo e 0,2% não tem eletricidade.
Quando o assunto é trata-
mento, a situação é pior ainda. Se-
gundo dados do Instituto Trata
Brasil, apenas 38% do esgoto pro-
duzido no país é tratado. O resto
é devolvido à natureza sem o
devido tratamento.
Fernando Stankuns
não possui plano de saneamento
básico. Os d ados fazem parte da Ao lamentar que Brasil seja apenas o
Pesquisa de Informações Básicas 112º país em saneamento, Jorge Viana
Municipais (IBGE), de 2013. pediu mais investimentos no setor
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Escassez de água
Os investimentos, no entanto, mento, que leva em conta a co- são do saneamento caiu em vez de
têm sido insuficientes para atingir bertura atual e a evolução nos úl- aumentar. Na década de 2000, as
a meta do Plano Nacional de Sa- timos anos. Quanto mais perto redes cresciam 4,6% por ano. No
neamento Básico (Plansab), que é do número 1, melhor o índice. entanto, de 2010 para cá, a taxa
resolver até 2033 os problemas da O Brasil obteve uma nota 0,581, encolheu para 4,1%.
área no Brasil. De acordo com re- porque foi mal nos dois quesi- Para universalizar a cobertura
latório do Instituto Trata Brasil e tos. Ou seja, não tem boa cober- até 2033, o instituto calcula inves-
do Conselho Empresarial Brasi- tura nem a ampliou significativa- timento total da ordem de R$ 313
leiro para o Desenvolvimento Sus- mente nos últimos anos. O pior bilhões, cerca de R$ 15,6 bilhões
tentável, no atual ritmo de libera- desenvolvimento sanitário foi por ano. O Ministério das Cida-
ção de recursos, essa meta só será identif icado na Região Norte des afirma que entre 2011 e 2013
Conrad Rosa
atingida em 2050. (0,373) e o melhor, no Centro- a média do gasto anual ficou em
O ranking feito pelo insti- -Oeste (0,660). R$ 8,2 bilhões, por meio do Pro-
tuto tem como base o Índice Como se não bastasse, o relató- grama de Aceleração do Cresci-
de Desenvolvimento do Sanea- rio mostra que o ritmo de expan- mento (PAC 2).
Considerada ideal,
dificuldade para criar comitês de bacias
de cursos d'água sem fluxo contínuo
Cultivo de morango em
Brasília já vive Brazlândia (DF) tem alta
A estação seca, que pode durar Em vigor desde 1997, a Lei missão de Infraestrutura do Se- burocracia emperram o processo e
quatro ou cinco meses na capital da 9.433/1997, também conhecida nado, o diretor-presidente da contribuem para a ineficácia dos
República, não é uma ameaça tão como Lei das Águas, instituiu a ANA, Vicente Andreu Guillo, comitês, deixando-os à mercê de
grande ao abastecimento de água Política Nacional de Recursos Hí- abordou a dificuldade de imple- interesses políticos conjunturais.
de qualidade quanto a poluição e o dricos e criou o Sistema Nacio- mentação da lei por ela não ser Para a especialista, órgãos ges-
aumento da demanda por conta do nal de Gerenciamento de Recur- fruto de uma cultura e de proce- tores ignoram deliberações apro-
crescimento populacional desorde‑ sos Hídricos (Singreh). A lei teve dimentos já existentes no país, e vadas pelos comitês de bacia, con-
nado. O sistema de monitoramento inspiração no modelo de gestão sim idealizada a partir de um mo- tribuindo para o descrédito do
da Agência Reguladora de Águas, francês e é considerada moderna delo. Guillo defende que a legisla- modelo. Entre outras questões
Energia e Saneamento Básico do e inovadora por assegurar meca- ção possa refletir melhor as espe- desafiadoras apontadas por Ana
Ana Volpe/agência senado
Distrito Federal (Adasa) já aponta nismos de participação dos usuá- cificidades do território nacional, Cristina, estão também o pouco
áreas em estado de alerta ou estado rios de água e de representantes de com mecanismos mais apropria- envolvimento da sociedade, a ado-
crítico também pela devastação da segmentos da sociedade. dos para a participação popular. ção da bacia hidrográfica como
vegetação nativa, ocupações irregu‑ Como integrantes do Singreh, — A lei se aplica muito bem unidade de planejamento dife-
lares e assoreamento dos rios. os comitês de bacias hidrográficas a regiões como a Sudeste, onde é rente da divisão política do país e
A deterioração da natureza, o reúnem representantes do poder possível constituir comitês, com a compatibilização das atribuições
desmatamento e o crescimento ur‑ público, usuários e comunidades áreas, densidade demográfica e institucionais em rios de domínio
bano descontrolado vêm ameaçando da água tratada foi perdida no pro‑ que estão sob maior risco. para buscar soluções conjuntas de recursos capazes de transformá- federal e estaduais.
os mananciais e os reservatórios de cesso. Em 2013, o número aumentou — O crescimento populacional e melhoria da qualidade e quanti- -los em organismos vivos. Mas é
água na jovem capital do país. É o para 25,6%. o lançamento de esgotos e, princi‑ dade da água. muito difícil imaginar comitês Financiamento inicial
caso, por exemplo, da Barragem do Nesse passo, as séries históricas palmente, de resíduos sólidos com‑ Porém, em audiência na Co- que atendam toda a Amazônia, Em estudo sobre a Política Na-
Rio Descoberto, que abastece 65% de vistoria demonstram que cada prometem os córregos da região, com os 4 milhões de quilômetros cional de Recursos Hídricos, a
da população do Distrito Federal. vez mais áreas apresentam disponi‑ que têm pouca capacidade de recu‑ quadrados, e o semiárido com a consultora legislativa da Câmara
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dezembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao
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Escassez de água
Águas) seja suficiente para finan- PCJ, uma diretoria colegiada e a como decorrência da transposição O consultor legislativo da Câ- maiores desafios encontrados para dos critérios técnicos de difícil
ciar todos os comitês. Agência das Bacias PCJ. No âm- do Paraíba do Sul. “A divergência mara dos Deputados Maurício implantar a cobrança pelo uso. mensuração.
bito do comitê, são 12 câmaras de legislações de Minas Gerais e Boratto Viana, especialista em di- Ele afirma que há grande com- “Saber o que e quanto os seto-
Conflitos estaduais técnicas com mais de 800 entida- do Rio de Janeiro é uma grande reito ambiental, aponta que o ca- plexidade para definir a quanti- res jogam nos rios também é outra
Encontro no Centro de Estu- des e mais de 1.000 pessoas físicas dificuldade para a gestão dessas dastro dos usuários de água e a dade consumida pela irrigação, etapa que dificulta a implementa-
dos e Debates Estratégicos da Câ- participando das reuniões mensais. águas”, observou Aparecida. quantidade usada do recurso são os maior usuário de água, por conta ção da cobrança”, acrescenta.
mara reuniu representantes dos Representante do Comitê de
comitês de bacia hidrográfica do Integração da Bacia Hidrográfica
Gustavo Lima/CD
Rio Paraíba do Sul (Ceivap) e dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jun-
diaí (PCJ), pioneiros no país.
do Paraíba do Sul, Maria Apare-
cida Vargas relata situação pare-
cida. O rio atravessa três estados,
Lei não evita conflitos no uso da água
O economista Sérgio Razera, com legislações por vezes confli- A geração de energia no Brasil
diretor da Agência das Bacias tantes. Há o Ceivap, o comitê fe- tem fonte majoritariamente hídrica
dos Rios Piracicaba, Capivari e deral e sete comitês estaduais — e o setor elétrico é o gestor priori-
Jundiaí (PCJ), relatou que, por um em São Paulo, dois em Minas tário das águas. No entanto, a ou-
abranger áreas de dois estados e Gerais e quatro no Rio de Janeiro torga e a utilização de recursos hí-
rios de domínios federal e estadu- —, além do comitê do Guandu, dricos para geração de energia, de
ais, existem três comitês de bacia acordo com a Lei das Águas, devem
— o mineiro, o paulista e o fede- Razera disse que mais de preservar o uso múltiplo dos cur-
800 entidades e de 1.000
ral —, que funcionam integrados pessoas atuam na gestão da
sos d’água e, em caso de escassez, a
e têm o mesmo plano de bacia. Bacia dos Rios Piracicaba, prioridade é o consumo humano e a
Há ainda o plenário dos comitês Capivari e Jundiaí dessedentação de animais.
Porém, o uso múltiplo da água
previsto em lei pode levar a con-
Usina de Itaipu, na fronteira com o
Itaipu
A geração hídrica de energia com-
Segundo informações da Agên- xado nos comitês de bacia hidro- cobrança pelo uso da água é um pete com a irrigação das lavouras
cia Nacional de Águas (ANA), gráfica a partir de pacto entre os instrumento tributário importante agrícolas e o consumo humano, a prática de reúso da água. Outra das águas, historicamente con-
atualmente são cobrados valores usuários da água, a sociedade civil por ter o valor definido na bacia podendo ainda prejudicar a pesca e solução que aumenta a disponibili- troladas e avaliadas pelo setor elé-
pelo uso da água nas bacias hidro- e o poder público. Os comitês pro- hidrográfica, onde também ocor- a navegação devido às operações de dade hídrica para a população, di- trico, pode ser reduzida se também
gráficas de rios da União e de São põem ao respectivo conselho de re- rem a arrecadação e a aplicação dos hidrelétricas, que ocasionam flutu- minuindo o conflito, é investir em aumentarem os investimentos em
Paulo, Minas Gerais, Rio de Ja- cursos hídricos — estadual ou na- recursos. Ele ressalta, porém, que a ações nos níveis de água dos rios e sistemas de tratamento de esgoto, fontes de energia renováveis como
neiro, Ceará e Paraná. Prevista na cional — os mecanismos e os va- implementação é muito difícil no lagos. A poluição dos mananciais aponta o consultor legislativo da eólica e solar, explica o consultor.
Lei das Águas para dar ao usuário lores de cobrança a serem adotados território nacional devido às dife- causada pelo crescimento desor- Câmara dos Deputados Maurício Ele ressalta a necessidade de esti-
uma indicação do real valor do re- na área de atuação, para que sejam renças de disponibilidades hídricas denado piora a competição pelos Boratto Viana. mular o uso de múltiplas fontes
curso, a cobrança foi criada tam- aprovados e passem a ser cobrados e do poder econômico em cada re- recursos hídricos, também larga- — Num país que tem 85% do energéticas para escapar da depen-
bém para incentivar o uso racional pela ANA, no caso de rios de do- gião do país e por causa de setores mente usados na indústria. contingente na área urbana, é pre- dência hídrica.
da água e obter verba para recupe- mínio da União, e pelos respecti- da indústria e da agricultura. Segundo Ivanildo Hespanhol, ciso tratar a água que é consumida — É possível evitar gastos com
ração das bacias. vos órgãos gestores, para águas de “Há uma indisposição a esse professor da Universidade de São para evitar a escassez e impedir que linhas de transmissão de hidrelé-
A cobrança não é um imposto, domínio dos estados. instrumento. O setor industrial Paulo (USP) e diretor do Centro o esgoto seja dispensado na natu- tricas, que atualmente precisam
mas a remuneração pelo uso de Na avaliação do diretor da alega que a cobrança vai elevar o Internacional de Referência em reza — diz Boratto. ser instaladas em áreas ambiental-
um bem público, cujo preço é fi- ANA, Vicente Andreu Guillo, a custo da implementação de uma Reúso de Água, diante da tendên- No cenário de escassez, a com- mente mais vulneráveis, como a
fábrica em determinada região e cia de crescimento populacional petição para exploração energética Amazônia — afirma.
os pequenos e médios agricultores e industrial, uma das opções ado-
Na Amazônia, a grande quantidade de veem nela a inviabilização da agri- tadas para aumentar a disponi-
recursos hídricos torna inconcebível a cultura irrigada”, explicou. bilidade hídrica é importar água
cobrança pelo uso da água Guillo argumenta que a co- de bacias cada vez mais distantes,
brança foi concebida para ser não uma solução onerosa e geradora de
só um elemento didático, visando volumes adicionais de esgoto.
ao uso racional da água, mas para — É necessário um novo pa-
também refletir o valor da escassez radigma, baseado nos conceitos
do recurso. “Na Amazônia é im- de conservação e reúso de água
possível pensar em cobrança pelo — defende.
uso da água tamanha é a oferta do
recurso naquela região, muito em- Reúso e tratamento
Prêmio Odebrecht
Luiz Marques/CD
bora os problemas de poluição es- Hespanhol argumenta que a
tejam acontecendo. Mas produzirí- tecnologia e os fundamentos am-
amos um paradoxo porque a região bientais de saúde pública permi-
Neil Palmer/CIAT
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pROPOSTAS
QUEM CUIDA
gestão para o repasse de recursos deliberativa dos comitês de bacia. sobre o domínio dos rios não favo-
financeiros para agências de água. Para ele, a questão ainda não rece- rece a gestão integrada de recursos
Jander Duarte, pesquisador da beu a atenção que exige na propor- hídricos.
Coordenação dos Programas de ção de sua grandeza. “Atualmente não há uma solu-
Pós-Graduação de Engenharia da “Para o estado, há outras prio- ção infralegal, no âmbito de recur-
DAS ÁGUAS?
Universidade Federal do Rio de Ja- ridades, principalmente políticas, sos hídricos, que possa solucionar
neiro (Coppe/UFRJ), explica que econômicas e fiscais, que fazem esse tipo de conflito. Precisaríamos
a lei pretende descentralizar o ge- dos recursos hídricos uma questão de um arranjo na Constituição em
renciamento dos recursos hídricos menor, pois o pensamento domi- relação a esse tema, uma precisão
pela ação participativa dos comi- nante é que os problemas de escas- maior para que se evitem proble-
tês de bacia para garantir quali- sez de água sempre foram resolvi- mas dessa natureza”, defendeu.
dade e quantidade de água para a dos de alguma forma”, argumenta. O diretor da ANA mencionou
atual e as futuras gerações. A legis- propostas para mudar o domí-
lação determina que os comitês se- Conflitos nio sobre as águas. Uma delas —
Constituição e lei federal regulam o setor, mas criam confusão no
jam compostos por representantes Em audiência das Comissões de mais radical, segundo ele — esta-
gerenciamento dos recursos hídricos, submetido a diferentes níveis de governo da União e de estados e municípios Infraestrutura e de Meio Ambiente beleceria que as águas superficiais,
situados em área de atuação da ba- do Senado, o diretor-presidente quando conectadas, são sempre de
A
Política Nacional de Re- sobre os rios, o que gera conflitos domínio ora federal, ora estadual, cia, além dos usuários e de entida- da Agência Nacional de Águas domínio federal. A exceção seria
cursos Hídricos e a Cons- sobre o aproveitamento da água, já a Agência Nacional de Águas des civis de recursos hídricos. (ANA), Vicente Andreu Guillo, feita aos rios que nascem e correm
tituição duelam quando a que os territórios de muitas bacias (ANA) vem efetuando convênios Mas o pesquisador aponta que a ressaltou que a ideia de colabora- para o mar, percorrendo somente o
questão é o domínio dos integram mais de um estado. de integração com os estados Constituição refere-se ao domínio ção federativa dos rios é positiva, território do mesmo estado.
rios brasileiros. Ao mesmo tempo Segundo Benedito Braga, pro- sob a intervenção dos comitês dos corpos hídricos de forma con- mas, em momentos de crise hí- Outra opção seria estabelecer o
em que a Lei das Águas — como a fessor da Universidade de São de bacias hidrográficas. Braga, fusa, gerando diferentes interpreta- drica, tende a produzir situações de domínio federal sobre bacias onde
40
Propostas
significativa economia de água. cada município. ser que haja grande disponibili-
O PLC 51/2014 faz parte das A intenção da proposta é mini- dade, nenhuma água de boa qua-
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Propostas
cos com a escassez de chuvas re- fica e, por isso, deve também deli- técnicas de dessalinização estão Porém, à falta de fontes dispo- volver técnicas de dessalinização,
gistrada de maneira mais intensa berar sobre o tema”, afirma Kaká evoluindo e a redução de custos já níveis — casos na Austrália, em atualmente o PAD concentra-se na
nos últimos meses. O conf lito Andrade. viabiliza a ampliação do uso. ilhas do Caribe ou no Oriente manutenção e no aproveitamento
Caberá à Comissão de Serviços A consultoria norte-ameri- Médio (que produz 75% da água da estrutura de dessalinizadores
Para o então senador Kaká Andrade, os
de Infraestrutura (CI) a palavra cana Pike Research, especiali- dessalinizada do mundo) —, o instalados na década de 90.
comitês de bacias não devem só acatar final sobre o projeto.
decisões, mas deliberar sobre águas
Novos prédios residenciais e sos naturais e proteção ao meio cos (CAE) e de Assuntos Sociais
comerciais, além de edificações ambiente. (CAS), respectivamente. Agora
destinadas a hospitais e escolas, O senador propõe redução de aguarda parecer do senador Ani-
poderão contar com sistemas de pelo menos metade da taxa de bal Diniz (PT-AC) em decisão
coleta, armazenamento e utiliza- drenagem de águas pluviais urba- terminativa da Comissão de Meio
ção de águas pluviais. A ideia é nas cobrada de condomínios resi- Ambiente (CMA).
evitar o uso inadequado de água denciais ou comerciais, hospitais e
potável para limpeza de calçadas, escolas que adotarem sistemas de
irrigação de áreas verdes e descar- captação e uso de águas pluviais.
gas sanitárias. Outro efeito seria A cobrança, feita pelo governo
atenuar o fluxo das águas pluviais aos proprietários de lotes urba-
quando houver chuvas intensas, nos, está prevista na Lei do Sane-
especialmente nos grandes centros amento Básico (lei 11.445/2007).
urbanos. João Durval lembra que nos
“O projeto tem o sentido de ga- grandes centros urbanos do Su-
rantir o abastecimento hídrico de deste, Nordeste e Sul — onde re-
nossas cidades e de promover prá- side a maioria da população bra-
ticas de uso racional desse pre- sileira — já se observam proble-
Pedro França/Agência Senado
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Propostas
IDE Technologies
França, coordenador do Labdes, lina, com risco de contaminação odos de seca e o uso delas é mais garantir a segurança hídrica. O espe‑
esteve à frente do programa do ambiental elevado. E, geralmente, econômico do que o transporte de cialista em saneamento Menahem Li‑
ministério desde o início e explica esse rejeito é devolvido ao solo ou água por caminhões-pipa. bhaber relatou a experiência israelen‑
que a osmose inversa é responsável até aos cursos d'água. Apesar de aprovado pelas Co- se de reúso de água em um simpósio
missões de Meio Ambiente (CMA) internacional realizado em 2012, em Maior estação de dessalinização de
ULBRA Campus Gravataí
e de Assuntos Econômicos do Se- Curitiba. Segundo ele, desde 1955 água de Israel, inaugurada em 2013, na
nado (CAE), o projeto foi rejei- a reutilização é política nacional e, cidade de Sorek, a 15 km de Telaviv
tado na Câmara, onde o pare- com 80% de reúso da água domés‑
cer da Comissão de Finanças e tica (400 bilhões de litros por ano), o tern, Lingen e Eltmann. Semelhantes gistros das primeiras experiências
Tributação considerou-o inade- país está muito à frente de Espanha tecnologias são aplicadas no Brasil na ainda na década de 1930, nas cida‑
quado financeira e orçamentaria- (14%), Austrália (9%) e Itália (8%), cervejaria Ambev (RJ) e na fábrica de des californianas de San Francisco
mente. Citando as Leis de Dire- por exemplo. medicamentos Diosynth (SP). e Orange e na Flórida, estado que
trizes Orçamentárias de 2011 (Lei Indústrias de muitos países estão De acordo com um estudo finan‑ reutiliza 2,7 bilhões de litros de água
12.309/2010) e de Responsabili- conseguindo usar a água com mais ciado pela União Europeia, a Europa por dia. O objetivo raramente é o de
dade Fiscal (Lei Complementar eficiência. O Japão, há meio século, e os países do Mediterrâneo estariam produzir água potável, mas apenas
101/2000), o relator, deputado Ed- gastava 49 milhões de litros para pro‑ demorando a definir em que exten‑ água reciclada para a abastecer a in‑
mar Arruda (PSC-PR), deteve-se na duzir US$ 1 milhão em mercadorias. são será permitido o reúso de água dústria ou regar os extensos grama‑
forma, apontando que não pode ha- Hoje, o volume é inferior a 12 milhões devido a resistências dos legisladores dos dos incontáveis campos de gol‑
ver proposta de renúncia fiscal sem de litros. Na Alemanha, já é comum e da opinião pública. Mesmo assim, fe nos dois estados. País conhecido
que a compensação seja prevista. o uso das tecnologias de filtração por existem diversos projetos em anda‑ por seu temperamento perdulário,
membrana e tratamento anaeróbico mento por toda a Europa, de Reino a maior economia do mundo faz o
Estação de dessalinização, em Fernando no reúso de efluente tratado da in‑ Unido e França até Croácia e Letônia, mesmo em relação aos recursos hí‑
de Noronha: processo é cada vez mais dústria do papel e em lavanderias de passando por Espanha e a Itália. dricos: menos de 0,3% da água usa‑
viável economicamente cidades como Stuttgart, Kaiserlau‑ Nos Estados Unidos, existem re‑ da provém de reciclagem.
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Banda larga próxima edição
Wanderley Pessoa/MEC
Reforma política
e melhor gestão
proposta de que seja convocada trução de uma maioria parlamen-
uma constituinte específica para tar. Uma das soluções, a chamada vaga quem obtiver a maioria de vo-
tratar do assunto. cláusula de barreira, prevê que os tos em um determinado território)
Qualquer que seja a forma de partidos devem reunir um mínimo e ainda a votação apenas em listas
Comissão conclui relatório sobre universalização da banda larga e admite que consulta, o presidente do Con- de votos para ter registro defini- de candidatos, definidas pelos par-
expansão do acesso rápido à internet depende de mais verbas e articulação do setor gresso, senador Renan Calheiros, tivo — fórmula que já foi julgada tidos em convenção.
defende que compete ao Legislativo inconstitucional pelo Supremo Tri- Outros temas, como o fim da
Reativada em 2010 para cuidar mes em responsabilizar governo e a umento de 82% nos últimos qua- conduzir as alterações no sistema bunal Federal, em 2006. reeleição, a unificação de todas as
do Plano Nacional de Banda Larga empresas de telefonia pelo atraso tro anos no acesso à banda larga político e eleitoral. Uma das mudanças que parece eleições (hoje as municipais ocor-
(PNBL), a Telebras convive com na universalização da internet. e cobertura em 4.912 dos 5.570 Apesar de, a cada eleição, o tema ter maior apoio é o fim das coli- rem em datas diferentes das nacio-
dificuldades orçamentárias que di- “É obrigação do Estado. Está na municípios. surgir como uma urgência, mu- gações para eleições proporcionais nais) e o fim da obrigatoriedade do
48
49
Saiba mais
Audiências públicas para tratar do
abastecimento de água no Brasil
3/11/2013
Audiência pública da Comissão de Serviços
de Infraestrutura e da Subcomissão
Permanente sobre Obras de Preparação
para a Seca. http://bit.ly/11yvfH2
• Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA)
4/6/2014
Audiência pública da Comissão de Serviços
de Infraestrutura e da Comissão de Meio
Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização
e Controle. http://bit.ly/11GH3b0
• Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA)
• Irani Braga Ramos, secretário-executivo do
Ministério da Integração Nacional
Relatórios, documentos
e estudos científicos
• Atlas Brasil — abastecimento urbano de água
(ANA, 2010). http://bit.ly/10Sb6LK
• Os Múltiplos Desafios da Água (Câmara dos
Deputados, 2006). http://bit.ly/1tDJtNb
• Breves Considerações sobre a Política Nacio-
nal de Recursos Hídricos (Câmara dos Deputa‑
dos, 2008). http://bit.ly/1xv9QLt
• Desafios do Gerenciamento dos Recursos Hí-
dricos nas Transferências Naturais e Artificiais
Envolvendo Mudança de Domínio Hídrico
(UFRJ, 2005). http://bit.ly/1xfCG3L
• Síntese de Indicadores Sociais (IBGE, 2013).
http://bit.ly/YXzwTu
• Ranking do Saneamento (Instituto Trata Brasil,
2012). http://bit.ly/1xfCp0H
• Vulnerabilidades Hidrológicas do Semiárido às
Secas (Ipea, 1997). http://bit.ly/1tDIdd5
• The United Nations World Water Develop-
ment Repor t — water and energy, vol. 1
(ONU, 2014). http://bit.ly/1reO0sa
• The United Nations World Water Develop-
• Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil ment Report — facing the challenges, vol. 2
(ANA, 2013). http://bit.ly/14i7mFu (ONU, 2014). http://bit.ly/1gRiVBJ
• Panorama da Qualidade das Águas Superficiais • Perdas em Sistemas de Abastecimento de
do Brasil (ANA, 2012). http://bit.ly/1BgVjHf Água (Abes, 2013). http://bit.ly/1sy8Akc
• Desafios à Convivência com a Seca (Câmara • Climate Change ( IPCC, 2014). http://bit.
dos Deputados, 2014). http://bit.ly/1xqvkYG ly/1wzwdiq
50
dezembro de 2014
ESCASSEZ DE ÁGUA
EscassEz dE água
A cada edição, a cobertura
cada gota completa de um assunto debatido
é preciosa no Senado Federal que afeta a vida
Falta de chuva evidencia insegurança
hídrica no país. Senado analisa soluções
de milhões de brasileiros. Leia esta
LEia também e as demais edições também em
Expansão da banda larga espera mais recursos
Reforma política é prioridade na pauta de 2015 www.senado.leg.br/emdiscussao
Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 22 - outubro de 2014 Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 21 - julho de 2014 Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 20 - abril de 2014 Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 5 - Nº 19 - fevereiro de 2014
REDISCUSSÃO
Peças de motos terão
padrão de qualidade
Veja também
Cadastro ambiental tira Código Florestal do papel PRÓXIMA EDIÇÃO redisCussãO PróximA ediçãO
Na próxima edição, a escassez de água no país O futuro do lixo Prioridade na adoção a Os resultados da CPi da
criança com deficiência espionagem Cibernética
MOBILIDADE URBANA
Hora de mudar
os rumos Excesso de carros, má qualidade do transporte
público coletivo e falta de investimentos desafiam
o futuro das grandes cidades brasileiras