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Aqui termina, Agamennon, o meu dever, e começa o seu.

Se você está em
condições, ou não, de cumprl-Io, não é da minha conta; é da alçada exclusiva da
sua consciência de homem, de jurista, de ministro, e- de cristão.
Autorizando-o a fazer desta o uso que lhe convier, abraça-o com estima, o
·sempre ãs suas ordens,
Sobral Pinto
REQUERIMENTO DE SOBRAL PINTO
A RAUL MACHADO, DE 02.03.37.
Exmo. Sr. Or. Raul Machado, Juiz do Tribunal de Segurança Nacional.
HERÁCLITO FONTOURASOBRALPINTO, advogado ex-officio de Harry
Berger, não se- conformando com o despacho de V. Exa.,que ordenou continuasse
esse acusado na prisão onde se acha, vem, com a devida vênia, expor e requerer ao
esprrito sereno e equilibrado de V. Exa.:
Um dos mais constantes cuidados da çivilização cristã tem sido o_estabele-
cimento, no selo dos povos que acatam os seus postulados, d 'um regime carcerário
que dê aos detentos, independentemente da sua condição social e da sua categoria
profissional, a noção exata de que não perderam, com a reclusão, as suas prerroga-
tivas de criatura racional. Crimino_so ou inocente, rico ou pobre, correligionário ou
adversário poll'tico, o encarcerado precisa de receber, nas prisões mantidas pelos
Estados que se dizem cristãos, a impressão de que oS poderes públicos continuam
a divisar nele aquela característica constante e irremovível, que o crime poderá ter
feito adormecer, mas não desaparecer totalmente: a sua espiritualidade, esta cente-
lha do divino incrustada na ganga frágil do organismo humano. Só com a submissão
a esta lei da racionalidade da nossa natureza poderá o Estado engrandecer e nobj·
fitar a sua árdua e penosa missão de punir e castigar.
Urge, assim, cjue os juízes e tribunais façam dispensar aos detentos, que
vivem nas prisões e cárceres, sujeitos à sua ação e fiscalização, um tratamento que
os impeça de se considerarem simples animais hidrófobos ou empestados.
Por isto, todos os que dedicam o melhor dos seUS esforços ã organização
dos regimes penitenciários nas sociedades modernas, não cessam, - como D".
Concepclón Arenal (ESTUDIOS PENITENCIAR lOS - vol. 2'1, pág. 283) - de
advertir: "O regime material a que fica sujeito o detento pode resumir-se assim:
Ar - Alimento - Vestuário - Cama e alfaias - Trabalho - Exerereio -
Descanso - Sono.
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c-
Ar - A cela deve ter capacidade suficiente e a ventilação necessária, para jeiras. A vista só deste vestuário, - se é que tais andrajos podem ser assim qualifi- (
que o ar seja tão puro quanto é indispensável à saúde do que o tem de respirar cados -, provoca nau se as incoercíveis. (
toda a noite e a maior parte do dia ... Tal é, Sr. Juiz, a prisão que destinaram para Harry Berger. Tal é, eminente
Os efeitos do extremo calor devem de ser atenuados por meio de .um bom (
Magistrado, o tratamento que lhe vem sendo dispensado.
sistema de ventilação, e, no que se refere ao frio rigoroso, o aquecimento poderá Semelhante desumanidade precisa de cessar, e de cessar imediatamente, (
se conseguir por meio de vapor, aproveitando o das máquinas motoras das indús- sob pena de deslustre para o prestrgio deste Tribunal de Segurança, que, para bem
trias estabelecidas". cumprir a sua árdua tarefa necessita de pautar a sua ação pelas normas inflex(veis C
Passando, então, a consagrada escritora a examinar a questão do vestuário, da serenidade e da justiça. (
diz que ele "como o alimento, tem de ser o necessário, porém de modo que pos-
sam" os detentos, com ele, contraírem ... hábitos de limpeza. Assim, por exemplo,
Tanto mais obrigatoriamente inadiável se torna a intervenção urgent(ssima
de V. Exa., Sr. Juh, quanto somos um povo que não tolera a crueldade, nem mes-
r
dar-se-ão meias, lenços. Para os tecidos do traje, há-de se buscar a maior duração e mo para com os irracionais, como o demonstra o decreto nl? 24.645, de 10 de (
abrigo" (lbid., pág. 289). julho de 1934, cujo artigo 1<? dispõe: "Todos os animais existentes no país são
Tratando, por fim, de resumir tudo o que lhe parece imprescind(vel ao tra- (
tutelados do Estado".
tamento dos detentos, conclui a mesma publicista: "Todas as regras que se dêem Para tornar eficiente tal tutela, esse mesmo decreto estatui: "Aquele que, (
sejam muito práticas, para que possam ser inflexíveis. O necessário psicológico, em lugar público ou privado, aplicar ou fizer aplicar maus tratos aos animais, in- (
para o alimento; o necessário para a limpeza, nas alfaias, e o necessário para o des- correrá em multa de 20$000 a 500$000 e na pena de prisão celular de 2 a 15
canso, na cama. Isto a justiça o exige, em harmonia com os meios de correção: dias, quer o delinqüente seja ou não o respectivo proprietário, sem prejuízo da (
torna-se ,duro o que é tratado com crueldade; não é meio de corrigir um homem o ação civil que possa caber" (art. 2<?). (
torná· lo duro" (lbid., pág. 291). E, para que ninguém possa invocar o benefício da ignorância nessa matéria,
Pois bem, Sr. Juiz, os responsáveis atuais pela guarda de Harry Berger pare- o art. 3C! do decreto supra mencionado define: "Consideram-se maus tratos: .... (
ce que atentaram em todas estas ponderações, mas para aplicar-lhe , precisamente, ; \I - Manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a (
e com conhecimento de causa, o regime oposto ao que deflue destes postulados, respiração, o movimen.to ou o descanso, aLi os privem de ar ou luz".
hoje universalmente aceitos e proclamados. Baseado nesta legislação um dos juízes dê,Curitiba, Estado do Paraná, Dr. (
Metido no socavão do lance inferior de uma das escadas da Polícia Especial, Antônio Leopoldo dos Santos, condenou João Mansur Karan à pena de 17 dias de (
a( passa Harry Berger os dias e- as noites, sem ar convenientemente renovado, sem prisão celular, e ã multa de 520$000, por ter morto a pancadas um" cavalo de sua
(
luz direta do sol, e sem o menor espaço para se locomover. cama, nem cadei- propriedade (doc. junto).
ra, nem banco. Apenas um colchão sobre o lagedo. De alfaias nenhuma not(cia. Ora, num pafs que se rege por uma tal legislação, que os Magistrados tim- (
Absolutamente segregado de todo e qualquer convívio humano, a ouvir, de mo- bram em aplicar, para, deste modo, resguardarem os próprios animais irracionais
(
mento a momento, as passadas dos soldados em trânsito pela escada, - sobre a sua dos maus tratos até de seus donos, não é poss(vel que Harry Berger permaneça,
cabeça - não pode usufruir nem os benefícios do repouso, nem os do silêncio. como até agora, meses e meses a fio, com a anuência do Tribunal de Segurança (
Nenhuma visita, nem de amigos, nem de parentes. Proibição de toda e qualquer Nacional, dentro de um socavão de escada, privado de ar, de luz e de espaço,
leitura, quer de jornais, quer de livros. AUsência total de correspondência: se a nin- envolto, além do mais, em andrajos, que, pela sua imundrcie, os próprios mendigos
guém escreve, ninguém,-também, lhe escreve. E como poderia ele, ainda, escrever, recusariam a vestir. (
se lhe sonegam tudo: papel, lápis e caneta. Assim, entram 0$ dias e as noites, Estes fatos, que o Suplicante está trazendo, por escrito, ao conhecimento (
vencem-se semanas sobre semanas, os meses uns aos outros, e Harry de V. Exa., assumem, neste momento, aspecto de particular gravidade, porque são
Berger, num isolamento alucinante, se vê invariavelmente entregue ao seu só pen- de molde a prejudicar o valor e a credibilidade da própria palavra oficial. (
samento, na imobilidade trágica de sua agonia sem fim, e do seu abandono até Com efeito, o Exmo. Sr. Presidente da República, dirigindo-se ao Congres- (
hoje sem remédio, apesar dos clamores estridentes do seu defensor impotente. so Nacional, em maio de 1936, dizia: "Como se conduziram as autoridades na difí-
I,
cil emergência - a moderação que não exclui a energia, a prudência que não dimi-
A roupa que traz, - calça e paletó sobre a pele -, ele não a muda desde meSes. Ne- nui o zelo - está no espírito de todos e na memória da popUlação. Apesar de (
la já não existe mais uma só superfície disponível onde se possam fixar novas su- insólita brutalidade dos atentados praticados contra a unidade nacional, da felonia
(
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,
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,
(
A filosofia que adotam e difundem é a do monismo, segundo o qual o con-
e perversa indiferença que revelaram os amotinados, não houve qualquer excesso
junto de todas as coisas deve ser reduzido ao só princípio da matéria. Dentro deste
por parte do Poder Público que não utilizou sequer, toda a sua amplitude, as
franquias concedidas pelo Poder Legislativo, procurando, apenas, deter e punir os
e
sistema, puramente materialista, a sociedade é regida por leis tão fatais incoercí·
responsáveis, declarados e reconhecidos. veis como as do mundo f(sico, que nos envolve e rodeia. A ciência assim, é,
na sua natureza, idêntica às ciências físico-químicas.
O Poder Executivo, deixando mesmo de atender à justa indignação das
classes conservadoras, manteve·se sempre sereno, não impondo castigos nem pro- O que compete, pois, aos sociólogos é descobrir: - à maneira dos físicos e
curando servir·se do momento para aniquilar os vencidos" (Publicação n9 3 do dos químicos - as leis necessárias que regem, independentemente da vontade
Departamento Nacional de Propaganda, pág. 13). individual do homem, os fatos sociais. Esta é a doutrinação constante de .Engels
Tempos após, S. Exa., voltando a tratar do assunto asseverava no discurso (ANTIOÜHRING - vol. 39, págs. 23/24, ed. franco da Alfred Costes): "A concep·
que, ao regressar de Petrópolis, proferiu em Benfica: "Como procedeu o governo, ção materialista da história parte deste. princípio que há produção,e coma produção
para salvaguardar as instituições, está no conhecimento e na memória de todos:- a troca de seus pl:'odutos, contituem a base de toda a ordem social; que, em cada
com rigor Sem desumanidade, firme, sem excessos" (Publicação n9 4 do Departa- uma das sociedades aparecidas na história, a repartição dos produtos, e com ela a
mento Nacional de Propaganda - pág. 6). formação e a hie'rarquia social das classes ou ordens que a compõem, se regula de
E para que nenhuma dúvida pudesse pairar no espírito de todos os cida- acordo com a natureza e o modo da produção, e de acordo com o modo de troca
dãos, sobre a serenidade dos órgãos do Poder Executivo, o primeiro Magistrado da das coisas produzidas. Assim, as causas últimas de todas as transformações sociais
Nação, com o peso de sua incontestada e incontestável autoridade, acrescentou e revoluções pOlíticas devem ser procuradas, não na cabeça dos homens, segundo a
(Ibid., pág. 10): "Posso afirmar-vos que, até agora, todos os detidos são tratados medida crescente em que eles penetram a verdade e a justiça mas nas mu-
com benignidade, atitude esta contrastando com os processos de violência que eles danças do modo de produção e de troca; elas devem ser procuradas não na filoso·
apregoam e sistematicamente praticam. Esse procedimento magnânimo não traduz fia, mas na economia da época estudada. Quando surge a idéia, de que as
fraqueza. Pelo contrário, é próprio dos fortes que nunca se na luta ções sociais existentes são irrácionais e injustas, que o racional se tornou tolice e o
e sabem manter, com igual inteireza, o deste mor e o sentimento de justiça huma- benef(cio, flagelo, isto é unicamente um ind(cio de que Se produziu, à revelia de
na". todos; nos métodos da produção e nas formas dé troca, tran,sformações com as
Ora, Sr. Juiz,.o Tribunal de Segurança Nacional, mais do que qualquer quais não se harmoniza mais a ordem social adaptadas às condições econômicas
outra instituição do país, deve de honrar a palavra do Exmo. Sr. Presidente da Re. anteriores. Quer _isto dizer, ao mesmo tempo, que oS meios de suprimir o mal-estar
pública, que, em circuntâncias tão solenes, - como já foi acentuado -, assegurou, descoberto devem necessariamente também se encontrar, - mais ou menos
reiteradamente, a toda a Nação, que nenhum preso polrtico seria tratado com volvidos - nas condições modificadas da produção. Estes meios não devem ser
desumanidade. inventados pelo cérebro, mas através do cérebro, nos fatos materiais
Entretanto, isto não vem acontecendo com Harry Berger. Posto à dispasi. existentes da produção".
ção do Tribunal de Segurança Nacional, o tratamento que lhe estão dando, apesar A ordem social, ássim, é mero reflexo da realidade 'econômica. E a desco-
do esforço em contrário do Suplicante, atenta contra todas as normas da civiliza- berta desta, e das leis necessárias que a regem, o homem a faz, através da sua inteli-
ção ocidental, pois, conforme foi já focalizado, infringe até dispositivos claros e gência, da mesma maneira e pelos mesmos processos com que descobre a realidade
terminantes da -legislação existente no pars em favor dos próprios animais irracio- fl'sico-química, e as leis Que a dominam.
nais.
Desta maneira, a análise do fenômeno .social deixa de ser um problema de
Não se argumente, como já se fez com o Suplicante, que bem pior seria o ordem normativa, para se transformar, conseqüentemente, numa questão de ordem
tratamento que Harry Berger faria dispensar aos burgueses brasileiros se vitoriosa especulativa. Em virtude desta transformação, os critérios de avaliação dos meios
tivesse sido a revolução de novembro de 1935, da qual era um dos chefes confes-
sos. e instrumentos de governo da sociedade não serão julgados à luz do qualitativo,
mas, inversamente, sob a imposição do quantitativQ. Dentro deste sistema, esses
Tal argumento, com ser auspicioso é, contudo, inequivocamente falso e im- meios e instrumentos governamentais não serão mais definidos de acordo com as
procedente.
n-ormas da distinção entre o bem e o mal, mas,ao contrário, consoante os impera·
Os comunistas quando lançam mão da violência contra os vencidos nada
tivos da distinção entre a verdade e o erro.
mais fazem do- que aplicar, com lógica, as leis do sistema que preconizam.
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(
Por isto, do mesmo modo, como, no domínio da astronomia, ninguém
ousaria dizer que a lei da atração universal é boa limitando-se apenas aafirmarque Em face, pois, do sistema social que os comunistas preco"nizam para reger a (
é verdadeira, assim também, no domrnio da sociedade, ninguém poderá dizer que vida das sociedades humanas, a violência por eles empregada encontra uma justifi·
cação lógica, e uma explicação política. (
a lei da socializaçio da propriedade é boa ou má, devendo tão somente declará-Ia
verdadeira ou. errada. Tal, porém, já não ocorre com os governantes brasileiros, que partem do (
No dia em que o desenvolvimento cientrfico do pensamento humano con- postulado de que o homem é, antes de tudo, um ser moral, cuja consciência 'psico-
(
seguir emprestar â ciência social este cunho de certeza e segurança de que já des- lógica é absolutamente irredutrvel aos princípios da matéria organizada, regendo·se
frutam as ciências "o governo das pessoas" será "substiturdo pela por uma norma espeCificamente djversa das leis da natureza Hsica. Na verdade, (
adminsitração das coisas e pela direção das operaçães de produção" (Engels - como ensina - LE DROIT OBJECTIF ET LA LOU POSITIVE,
(
Ibid., pág. 471. vaI. 19, págs. 16, 17, 181: "Esta regra social tal como a concebemos, não é uma lei
no sentido das leis do· mundo físico ou biológico, isto é, uma lei que exprime a (
Embora já existam, no mundo moderno, nos países de industrialização al-
tamente atingida, - sustentam os comunistas todas as condições para o estabeleci- simples relação de entre dois fenômenos. As leis do mundo físico ou bio- (
mento desta universal "adminsistração das coisas" e desta geral "direção das lógico são leis causa; a regra social é uma lei de fim '" Falou-se de uma biologia
operações de produção", continua, entretanto, a neles vigorar "0 governo das social. Falou-se mesmo de uma ou de uma dinâmica sociais. Estes_sistemas C
pessoas", porque a burguesia, empenhada em prosseguir na sua obra de espoliação surgiram na sua hora, e prestaram serviços;" mostraram o nada da teoria dos (
do proletariado, - que é o único produtor da riqueza - impede a realização desta tos individuais; estabeleceram que a não é um fato querido e artificial,
mas um 'fato espontâneo e natural. Eles erraram querendo identificar os fatos so- (
transformação social,· servindo-se, quais outros tantos instrumentos de compres-
são, precisamente do direito, da moral, e da religião, que nada mais representam, ciais e os fenômenos físlcos ou biológicos. Daí o "seu descrédito no atual momen- (
hoje em dia; senão meras criações artificiais do pensamento dos homens da classe to. Por mais que se faça não se poderá impedir que o fator essencial dos fatos
(
opresspra. O Estado, nesta fase da evolução histórica da humanidade, é o órgão sociais seja o próprio homem, ser consciente de seUs atos, é que pode afirmar que
expressivo desta "obra de opressão sistematizada. tem deles a consciência .. Não se poderá nunca demonstrar que as forças da nature- (
za e da vida sejam forças conscientes; elas o são talvez; ninguém nada sabe a tal
Nestas condições, cumpre derrubar este Estado burguês que está a entorpe- (
respeito; ninguém o saberá jamais; é possível que elas o sejam; tudo é posslvel;
cer a ascensão da humanidade para uma frase mais elevada de coletivo.
Ora, esta empreitada científica de destruição do Estado burguês só se
mas ninguém pode afirmá-lo. A cada ato humano a consciência individual se afir- (
ma. Esta força é livre? Ninguém o sabe. Mas, é certo que ela é uma força coriscien-
nará poss(vel através da viólência, cuja missão é assim definida por Engels (I bid., (
te. É certo, assim, que o homem tem consciência de se determinar por um fim.
vai. 29, pág. 721: ..... a violência desempenha ainda um outro papel na história,
Talvez, na realidade, o ato humano é determinado por causas. Entretanto, o ho- (
um papel revolucionário; ... ela é, segundo a palavra de Marx, a parteira da velha
mem age como se ele fosse determinado por um fim. Escolheu ele livremente este (
sociedade grávida de uma sociedade nova, o intrumentocom o aux.rlio do qual o
fim? Talvez. Em todo o caso ele o escolheu conscientemente. Os fenômenos do
movimento social quebra e substitui formas polfticas geladas e mortas... ".
mundo natural nos aparecem determinados por causas, necessárias ou contingen- (
Incumbe, assim, à violência, na conceituação da filosofia comunista, por tes, pouco importa. Os atos humanos nos aparecem determinados por fins escolhi-
em equação a ordem social com a ordem econômica.
dos livremente talvez, mas certamente escolhidos conscientemente. Eis porque a
Urge, entretanto, não deturpar a natureza-mesma desta violência. Esta não (
lei social é uma lei de fim; todo o fim é leg(timo, quando ele é conforme ã lei
é um ato humano bom ou mau. Erraria quem assim a classificasse, porque, no di- social, e todo o ato feito para atingir este fim tem um valor social, isto é, jurfdico. (,
zer de Engels (lbid. vai. 39, págs. 44/451, "as forças sociais de ação agem absoluta· A regra de direito é, então,·a regra da legitimidade dos fins, e por ar ela é inteira-
mente como as forças da natureza: cega, violenta, e destruidoramente desde que (
mente diferente da lei física ou biológica que é a lei das relações de causa para
não as reconhecemos e com elas não contamos ... E isto é particularmente verda- efeito. A regra de direito pode então denominar-se uma regra de conduta, pois que (
deiro das possantes forças produtivas de hoje. Enquanto nos obstinamos em recusar ela se aplica a vontades conscientes, pois que ela determina o valor relativo dos (
a compreender delas a natureza e o caráter, - e o modo de produção capitalista e atos conscientes do homem".
os seus defensores se opõem a que as compreendamos - estas formas agem apesar Segundo os imperativos desta concepção, o direito, a moral e a religião são, (
de nós, contra nós, e nos dominam ... ". na sua origem e nos seus fundamentos, manifestações ps(quicas tão reais em si
quanto as da matéria, e precisam de ser levadas em conta pela inteligência humana,
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- que tudo ordena- e dispõe - a fim de que as suas manifestações, na ação social, é por a sua I(ngua de fora para o moleque. O moleque pode ter ou não ter, de ma-
seja dada a primazia legítima sobre as manifestações do mundo Hsico. neira absoluta, nenhum respeito para com o presidente da Corte de Justiça; isto
Nos limites' desta concepção, os governantes só têm a faculdade de praticar é matéria que, gostosa mente, podemos considerar como autêntico mistério psi-
aquilo que é considerado lícito pelo direito, pela moral, e pela religião que domi- cológico. Mas, se o moleque tem, absolutamente, algum respeito ao preside.nte" da
nam e regem a consciência social e pol(tica do meio social em que vivem. Corte de Justiça, este respeito é certamente outorgado ao presidente da Corte de
Ora, 'o Brasil por ser um país de civilização cristã organizou um sistema Justiça unicamente porque ele nâ'o põe a sua !fngua de fora .
jurídico que repele, por iníquo injusto, o emprego da violência física e moral Assim, se o "'fribunal de Segurança Nacional quer punir, com eficiência,
como meio de governo, sobretudo quando é utilizado contra os detentos políticos. aqueles que em novembro de 1935 usaram da violência contra os leg(timos órgãos
,,
Pretender justificar, assim, com o exemplo dos governos comunistas, a da soberania nacional, necessita de afastar, firme e categoricamente, da sua ação \:
desumanidade implacável com que está sendo tratado Harry 8erger, é, - além d. punitiva todo e qualquer gesto de violência. Só â custa deste preço é que as suas
contradizer todas as afirmações teóricas da noss_a sistemática jurfqica - t dar razão sentenças se no seio da consciência cristã do povo brasileiro. Só assim, I:
aos doutrinadore? marxistas quando asseveram que o direito burguês é mera inven- elas poderão ser acatadas como obra de justiça serena.
ção artificial do pensamento explorador das possuidoras, empenhadas em Eis porque; M.M. Juiz, o Suplicante volta à presença de V. Exa. para re·
t
espoliar os proletários dos proveitos do produto industrial que eies não cessam de clamar, em nome da Justiça, contra o regime carcerário, desumano, que vem sendo
criar com a sua só força de trabalho. Recorrendo, na repressão legal aos inimigos aplicado a Harry Berger. Não é um favor que está a pleitear para o seu cliente. É
do regime, à prática da violência, que o seu direito teoricamente condena, os go- um diréito, indomável e' incoercrvel, que está a invocar, em nome da própria
vernantes burgueses nada mais fazem do que confirmar a argumentação da doutri- condição de criatura racional, de que nenhum tribunal pode demitir a- pessoa
na comunista, quando diz que esse direito é simples ficção do pensamento interes- de Harry 8erger.
seiro das classes: dirigentes, sem a menor base na realidade social do atual momento I mpõe-se, assim, que, Sem mais a delonga de um minuto, V. Exa. ordene,
histórico. com a sua autoridade de magistrado, que Harry Berger seja transferido, imediata-
Aliás, ninguém melhor do que Chesterton (ALL THINGS CONSIDERED,
págs. 222/223) escalpelou este sofisma grosseiro, só compreens"vel no seio das
mente, para uma cela condigna, onde, a par de cama, roupa, vestuário, e objetos
próprios para escrever, - de que está carecendo para a sua defesa -, se lhe per-
l
;[,
nações bárbaras de que a violência dos vencidos deve ser punida pelos vencedo- mita fazer que bem lhe aprouver, tudo, porém, dentro das normas de ,
res com medidas igualmente violentas. Eis, a tal respeito, a maravilhosa lição do vigilância prudente, que a administraçã'o carcerária costuma, em face dos detentos
saudoso e admirável moralista: "Qualquer que seja a verdade, é, entretanto, abso- oolfticos, por em prática, para evitar confabulações perigosas dos encarcerados
lutamente errado empregar o argumento de que nós europeus devemos fazer aos com os seus partidários políticos ainda em liberdade.
selvagens e aos asiáticos aquilo que os selvagens e asiáticos nos fazem, a nós. Eu Formulando o presente requerimento tem o Suplicante cumprido apenas
tenho visto, realmente, alguns polemistas usarem esta metáfora: Devemos comba- o Seu dever, oferecendo, entretanto, com isto, a V. Exa. adequada oportunidade
tê-Ias com as suas próprias armas". para que, sob os ditames imperiosos da sua consciência de homem e de Magis-
Muito bem; deixemos estes polemistas aplicarem a sua metáfora, e aplicá-Ia trado, possa V. Exa. cumprir o seu, com igual solicitude. 'I
literalmente. Vamos combater o sudanês com suas próprias armas. Suas proprias Requerendo a juntada da presente aos respectivos autos,
,
\

armas são grandes facas muitos grosseiras, e espingardas, no momento, arcaicas.


Suas próprias armas são, também, a tortura e a escravidão. Se nós os combater-
mos com a tortura e a escravidão, estaremos combatendo pessimamente, precisa-
mente como se nós C?s combatêssemos com facas grosseiras e espingardas velhas.
O que constitui toda a força de nossa civilização cristã, é que ela nos leva a comba-

P. D.eferimento.
Distrito Federal, 2 de março de 1937.
!
ter com as próprias armas dela, e não com as armas dos outros povos. Não é de a) Fontoura Sobral Pinto
" nenhum modo verdadeiro que a superioridade justifica o ditado: "Para velhaco, Advogado ex-oflicio
"
l
velhaco e meio". N'ão_ é absolutamente verdadeiro que se um moleque põe a sua
Ifngua de fora para o presidente da Corte de Justiça, o pre.idente da Corte de Jus·
tiça imediatamente conclua que a sua única possibilidade de mar)ter a sua-posição
(
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NOTfCIA DE A NOITE, ANEXADA AO REQUERIMENTO DE 2.3.37. CARTA DE LEOCADIA PRESTES A LUIZ CARLOS PRESTES.
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Condemiiado \lola morte do cavaBo !I
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Paris, 6/3/1937.
CUnlTYBA.23 ($rTvfco d'A do o magistrado recehldo, de todo li!
NOrrE) _ JI):to !\Iansuf K:H:tD. nesltl. paiz, felicit.lçócs pt'ltl lua .ttitudi!. (
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capitul, matou um ('3\":1110 de 1stnlo A pena Impo.\h a Maml'llf Karan , a
cS[)Jncal- .
o O nnima} prestava-lhe menor eumprido. et' hoje,- em t'!lIA.be .. · Meu Querido Filho, ('"
Incstima\"t'ls !icnÍtos, iluxiJitlndo--o na lcc1mentol ptnitenciariol d,a Brull. 'I'
mAnutenção de 6ua (AS::!,. Certo dJ'l. - r. - (
porém, conta M::msur O I('U .... - - _ .... Desejo de todo o coração que continues bem de saúde e ânimo forte. Até
amigo irNcionnl dcsobcdcccu-o.- Ti- (
nha que pagar por aryuelle E. hoje nada recebi de tua parte, embora, muitas tenham sido e.cartas enviadas para
"L'
empunhando- um chicotr. dcspc,.Jou a prisão onde te encontras desde março de 36. Ignoro se as recebeste. Hoje rasolvi
um" scrie tremenda clt golpes no cor- \ lt"• escrever-te de novo, esperando, desta vez, um melhor resultado, quero dizer, que
(
pf) dó anim:ll. 'que. ,entincfa profun- ( I;' ,
damente a rtidcu do caiu te cheguem às mãos estas linhas, portadoras do nosso amor e da. n01ll1 saudades,
por lerda. moter (,5lrehuch:mdo. r'
O aconlrcimcnll) impf('55ion o u & qU..:ln" n mas, principalmente para te dar urna gratíssima nat(eia que acabamos de receber.
o viram, E lIma denuncia (oi t A 27 de novembro nasceu em Berlim, em um hospital de uma prisão de mulheras, (!
"õlon , policia. EntreJ:uc Q f'm S
müo5 ria. justiça. ,loão J{a .. h tua filhinha a quam nossa querida Diga deu o noma de Anita Leocádlo, em honra
róln, depois de um movi· p. à heroína brasileira Anita Garibaldi e em atenção a tua mãe. Que criatura admirável (I
mrn!ndo e origin..:ll, que culminou num .' é .tua esposa e como é digna d. ti. Congratulamo-nos, efu.ivamante contigo pelo !
julgamento jnedito. foi eondcmnadn a
17 dhu de- prisão cellular e 6. mulla h auspicioso acontecimento. DepoiS dos transes por que passamos e da terrível incer-
de 620MOO. O jui1. Antonio Leopoldo p
dos-,Santa, foi o Aulor da scnl\"nC'i\, e
teza que pesava sobre a sorte da her61ca Diga e do precioso penhor que trazia em (,
flue ;) do seu seio, podes bem imaginar a indescrit(vel emoçio que nos dominou e ao mesmo
tempo a enorme alegria que encheu noSSOs corações ao termos conhecimento do
(
\'
1 deu 0' meios forense, do Paraná. ten· d "feliz sucesso. A nossa heróica Diga, somente a sua calma e paciGncia com que sou- l,
be suportar os terríveis sofrimentos morais porque passou devemos tão feliz acon- ( .'
tecimento. Junto vai a carta que dela'recebi, respondendo as que lhe havia escrito .. I
em janeiro último, e assim ficará a par sobre alguns detalhes sobre o nascimento (,
d. tua filhlnhe. Além dessa carta de 31 d. janeiro, nenhuma outra recebi, porém, (,
tenho escrito três vezes por mês, como determina o regulamento da prisão onde se
Nota: notícIa de A NoIte, de 29 de Janeiro de 1937, com que Sobral Pinto instruiu o seu pedi-
do pera Harry 8erger, baseado na Lei de Proteção aos Animais,
encontrão Por intermédio amigos, Já lhe enviei uni pequeno auxílio pecuniário,
aga'sálhos, etc. Por esse lado podes ficar tranqüilo, não nos descuidaremos des-
l,
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