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DISCIPLINA: SEMÂNTICA e PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

TEXTO, MECANISMOS DE COESÃO E ARGUMENTAÇÃO


Regina Souza Gomes (UFRJ)

Os textos não são sequências ou somatórios de frases, mas constituem um todo de sentido,
estruturado de modo que as suas partes estejam umas em relação às outras e só assim possam ser
interpretadas. Os textos possuem marcas do contexto sócio-histórico em que foram produzidos, todos
são objetos históricos. Do ponto de vista da superfície textual, além dos enunciados postos, explícitos,
outros conteúdos podem ser inferidos a partir deles, informações implícitas marcadas ou não no
enunciado (pressupostos e subentendidos).
Ao tratar dos textos, nós o abordaremos sob dois aspectos: primeiramente atentaremos para os
recursos que empregam elementos de natureza linguística, da sua superfície, que são responsáveis pela
coerência e coesão textuais e, posteriormente, os elementos de natureza discursiva, enunciativa, que são
responsáveis por construir sua argumentatividade.

Mecanismos de referenciação e sequenciação

Todo texto tem mecanismos que constroem o encadeamento coerente e organizado de seu
conteúdo, recursos que permitem retomadas de elementos textuais já enunciados e outros que
possibilitam a sequenciação das ideias. Num texto, deve haver equilíbrio entre os conteúdos já ditos,
retomados e conteúdos novos, que fazem o texto progredir.
Uma das formas de construir a unidade semântica do texto e dar-lhe coesão e coerência é um
procedimento chamado de referenciação. Segundo Koch e Elias,

Denomina-se referenciação as diversas formas de introdução, no texto, de novas


entidades ou referentes. Quando tais referentes são retomados mais adiante ou
servem de base para a introdução de novos referentes, tem-se o que se denomina
progressão referencial (KOCH; ELIAS, 2006, p. 123).

Esses referentes não devem ser entendidos como elementos linguísticos que espelham o mundo
diretamente, ou como etiquetas, mas sim como construções (e reconstruções), no próprio discurso, das
coisas do mundo, como são percebidas e vistas pelos falantes. As estratégias de referenciação incluem a
introdução de um objeto de discurso, sua manutenção ou retomada ou mesmo sua desfocalização, pela
introdução de um novo objeto de discurso que passa a ser o foco. Os textos abaixo, cartas de leitores
publicadas no jornal Folha de S. Paulo, em seção específica, servirão como exemplos de como se dá a
referenciação nos textos:

TEXTO I
CPI do Cachoeira
É claro que Márcio Thomaz Bastos, autor do artigo “Serei eu o juiz do meu cliente?”
(Tendências/Debates, 14/06), não deve ser o juiz de seus clientes. Ele é um advogado e tem o
dever de defendê-los, mas, no caso específico de Carlinhos Cachoeira, deveria ter ficado de
fora. Thomaz Bastos foi ministro da Justiça e comandou, de certa forma, a investigação sobre
Cachoeira realizada pela Polícia Federal.
MARIA S. GARCIA
(Curitiba, PR)
TEXTO II
Li com atenção o artigo “Serei eu o juiz do meu cliente?”, de Márcio Thomaz Bastos. O
insigne jurista adverte para o “apedrejamento moral, não presunção de inocência” de seu
cliente. Ouso discordar do ex-ministro da Justiça. Acho que a indignação dos brasileiros é
uma reação normal de cidadãos cansados do rodízio de pizzas servido pelo sistema
judiciário e político neste país de impunidade chamado Brasil. Acho, sinceramente, que o
nobre e competente jurista deveria escolher melhor seus clientes.
LUIZ CEZARE VIEIRA
(Florianópolis, SC)
(Painel do Leitor, Folha de S. Paulo,
09/06/12)

No Texto I, é introduzido um “objeto” discursivo, Márcio Thomaz Bastos. Ele é retomado


por sintagmas nominais ( autor do artigo “Serei eu o juiz do meu cliente?” , Thomaz Bastos),
pronomes (ele) ou mesmo pode ser inferido pela terminação verbal dos verbos (tem, deveria, que
apresentam elíptico o termo que lhes serve de sujeito). Com a retomada do termo, vai se
construindo no texto uma imagem do sujeito de que se fala, por meio da predicação que recai sobre
as expressões nominais, pronomes, elipses (é advogado, foi ministro da Justiça, investigador de
Cachoeira...). A maneira como o referente Márcio Thomaz Bastos é retomado no Texto II mostra
outro modo de construção desse “objeto de discurso”: insigne jurista, ex-ministro da Justiça, nobre
e competente jurista são algumas das expressões que são utilizadas, demonstrando um tom irônico,
dada a forma cerimoniosa com que o enunciador faz referência ao advogado, contraposta às
expressões menos formais (“cidadãos cansados do rodízio de pizzas servido pelo sistema
judiciário...”, por exemplo) e à crítica feita pelo missivista ao comportamento de Bastos.
É importante observar que alguns dos termos introduzidos exigem, para sua compreensão,
um conhecimento intertextual, como é o caso do Texto II, que nem cita o nome do tal “cliente”.
Assim, as cartas dos leitores pressupõem o conhecimento do leitor sobre conjunto de notícias que
saíram no jornal sobre Carlinhos Cachoeira, cliente de Thomaz Bastos, ou mesmo a leitura do
artigo “Serei eu o juiz do meu cliente?”, citado na carta dos leitores, para que sejam interpretadas.
Ao retomar um determinado referente por meio de diversos recursos (expressões nominais
definidas, pronomes, elipses, etc.), o produtor do texto evita a repetição de mesmos termos,
tornando o texto mais interessante, menos enfadonho e repetitivo. Mas não é raro que a repetição
pura e simples possua um papel importante, dependendo da intencionalidade enunciativa. Em
reportagem sobre os embates entre a Reitora da Universidade de São Paulo (USP), Suely Vilela, os
estudantes e os professores (“Para dirigentes, reitora não aceita enfrentar divergências”, Folha de S.
Paulo, 21/06/09), o jornalista, ao relatar os fatos, emprega a repetição para a retomada de um
referente como recurso argumentativo importante:

A farmacêutica, de 55 anos, formada no campus de Ribeirão Preto,


mestrado a respeito das toxinas do veneno de escorpião brasileiro “Tityus
serrulatus”, doutorado sobre o “Tityus serrulatus” e livre-docência sobre
“Tityus serrulatus”, é considerada na USP como uma pessoa centralizadora
– não aceita ser contrariada.
Ao repetir insistentemente o nome do escorpião brasileiro, eterno objeto de estudo da
pesquisadora, o narrador julga e desqualifica, com humor, a profundidade e abrangência do
conhecimento da Reitora, que deveria ser universal e amplo, segundo a expectativa social do saber
acadêmico.
É importante observar que, quando a repetição não atende a uma intencionalidade
específica, deve ser evitada. E as escolhas de expressões para as retomadas são significativas,
instauram um julgamento do enunciador do texto e inscrevem um ponto de vista, um
posicionamento em relação aos elementos que constroem o texto. Essas retomadas produzem
também a manutenção do tema, ao mesmo tempo em que permitem organizar a coerência temática
e ideológica construída no texto, dando-lhe unidade, coerência e direção argumentativa.
Além da atividade de referenciação, outro importante procedimento para fazer o texto
progredir é a sequenciação. A sequenciação pode se apresentar com recorrências (emprego de
paráfrases, de paralelismos, de recorrências de tempos verbais, etc.) ou sem recorrências,
construindo a progressão temática e o encadeamento de enunciados, criando um elo semântico entre
eles. Apenas comentaremos um desses recursos, ilustrando-os com os Textos I e II acima
transcritos. Um deles é o encadeamento, que pode ocorrer por meio de um elemento articulador dos
enunciados (um conector), por conexão, portanto, ou pode ocorrer por justaposição (sem termo
articulador).
No texto I, observamos um comentário sobre Mário Thomaz Bastos, a partir do texto por ele
escrito no próprio jornal, e seu comportamento ao assumir a defesa de Carlinhos Cachoeira.
Observamos que o primeiro e o segundo enunciados estão justapostos e não apresentam nenhum
termo específico que os relacione. Mesmo sem ter um conector explicitando a ligação semântica,
percebe-se que as orações “Ele é advogado e tem o dever de defendê-los” explicam a razão pela
qual o autor do artigo não deve ser o juiz de seus clientes, informação dada na sentença anterior.
Como são argumentos que orientam para uma mesma conclusão (Bastos não deve ser juiz de seu
cliente), estão encadeados pelo conector e. Essas duas afirmativas são contrapostas à oração que se
segue, encadeadas pelo articulador mas (“mas, no caso específico de Carlinhos Cachoeira, deveria
ter ficado de fora.”). Esse conector liga, assim, enunciados de conteúdos contrários ou que levam a
conclusões contrárias, operação chamada contrajunção. A última sentença, justaposta à anterior,
novamente é uma explicação implícita do enunciado de que Bastos deveria ter ficado de fora da
defesa de Cachoeira (o advogado já esteve diretamente implicado na investigação do cliente, tem
então informações privilegiadas). Novamente, as duas sentenças, encadeadas pelo conectivo e,
reúnem argumentos que orientam para uma mesma conclusão, descrita acima.
Tendo tido uma ideia de como os elementos da superfície textual podem construir a unidade
e o encadeamento do texto, dando-lhe coesão e coerência (a referenciação e a sequenciação),
observaremos outros mecanismos, de ordem discursiva, concernente à organização semântica mais
profunda, também fundamentais na construção de um texto eficaz e interessante.

Recursos discursivos: enunciação e argumentação

Tomemos os mesmos textos (I e II) para tratarmos de alguns dos recursos discursivos
empregados. A observação de seu emprego torna o produtor do texto mais consciente das
estratégias adequadas a seus propósitos argumentativos, fazendo seu leitor crer em seu dizer (ou
pelo menos considerá-lo como merecedor de atenção), aceitando seu ponto de vista como verídico
ou possível.
Um dos mecanismos discursivos a que devemos atentar é a escolha da projeção da
enunciação em primeira ou em terceira pessoa. Essa escolha cria um efeito de sentido de
subjetividade ou objetividade, respectivamente. No Texto I, o comentário é realizado sem que haja
marcas linguísticas da presença do enunciador e referências à situação de comunicação no texto, os
chamados dêiticos. O narrador optou pelo uso da terceira pessoa em todo o texto, diferentemente do
narrador do Texto II, que explicita a sua presença pela projeção de um eu que fala, expresso pela
marca de primeira pessoa nos verbos (li, ouso, acho). No primeiro texto, as afirmações tomam uma
feição de objetividade, de distanciamento, enquanto no segundo, o efeito de subjetividade é o que
prevalece. Neste último, a reiteração do verbo achar, que explicita a declaração subjetiva da crença
pessoal e de assunção das avaliações feitas. São duas formas de fazer crer, mas isso não significa
que no Texto I não haja marcas de subjetividade presentes.
Na carta de Maria S. Garcia (Texto I), outro recurso, a modalização, marca a presença da
enunciação no enunciado. A modalização é um mecanismo pelo qual um enunciado, dito modal,
sobredetermina outro enunciado, indicando o modo como ele deve ser tomado (como certo,
verdadeiro, obrigatório, necessário, possível, provável, crível, duvidoso, hipotético, etc.). Portanto,
indica o julgamento do enunciador em relação ao dito. No Texto I, a oração “É claro”, modaliza o
enunciado seguinte (“que Márcio Thomaz Bastos [...] não deve ser o juiz de seus clientes”),
tornando-o evidente, certo, verdadeiro. O uso do modo indicativo dos verbos ser e dever, nesse
mesmo enunciado, é outra marca da modalidade epistêmica (relativa ao saber e ao crer) da certeza.
O verbo dever é um elemento modal, que mostra, nesse caso, uma obrigação que modifica os
enunciados que determina (não ser juiz dos clientes, ter ficado de fora [da defesa de Cachoeira]).
Na oração “mas, no caso específico de Carlinhos Cachoeira, deveria ter ficado de fora”, o fato de o
verbo dever estar no futuro do pretérito indica uma hipótese (ou seja, a obrigação moral de o ex-
ministro ficar de fora no caso de Carlinhos Cachoeira é uma hipótese que não se realizou). Ao
modificar as afirmações feitas pela certeza, pela veridicidade, pela obrigação, pelo hipotético, o
enunciador vai direcionando o modo como o leitor deve tomá-las e compreendê-las.
Outro recurso para dar credibilidade ao texto e encaminhar o leitor para a aceitação de certos
valores é o emprego da intertextualidade, da citação. Nos dois textos que nos servem de ilustração,
a alusão a um texto escrito por Márcio Thomaz Bastos, com a citação do título e, no caso do Texto
I, a seção do jornal e data em que foi publicado, torna os comentários feitos credíveis, já que se
baseiam no próprio discurso do ex-ministro. A citação de uma expressão do próprio advogado,
marcada pelas aspas, cria o efeito de debate equilibrado e de consideração do ponto de vista
contrário, mostrando que os comentários são fruto de uma reflexão cuidadosa (“Li com atenção o
artigo...”), portanto, confiável.
Outra maneira de fazer crer nas considerações apresentadas nas duas cartas é construir a
qualificação do enunciador. Nas duas cartas, há informações que demonstram o conhecimento do
autor em relação à personalidade criticada. Ambos demonstram saber que Bastos já foi Ministro da
Justiça e comandou a investigação de Cachoeira, além de ter informações sobre as acusações que
pesam sobre este. Mostram-se, então, sujeitos atualizados em relação aos fatos concernentes à
política, cientes das obrigações relativas às ações jurídicas envolvidas no caso e leitores assíduos do
jornal. Essas qualificações autorizam-nos a dar sua opinião sobre as declarações de Bastos no artigo
citado e sobre seu comportamento ao aceitar defender Cachoeira. O uso da norma padrão é outro
recurso importante para qualificação do autor, nesse gênero de texto.
Nos textos, também está construída a imagem do destinatário das cartas, leitores do jornal.
São também sujeitos conhecedores das atualidades na política, de modo que possam inferir certas
informações que estão implícitas nos textos. Não há nenhuma descrição do “caso específico de
Carlinhos Cachoeira” (o Texto II nem faz menção ao nome do “cliente” do ex-ministro!), por
exemplo.
A previsão precisa e a inscrição no texto das qualificações do leitor (seus saberes, suas
crenças, seus pontos de vista, etc.) são fundamentais para que o texto seja compreensível e cumpra
sua função com eficácia. Do mesmo modo, a construção de uma imagem positiva do autor (dotado
de um saber sobre os assuntos de que trata e de um saber dizer, empregando recursos variados e
perspicazes de argumentação) é fundamental para a escrita de um bom texto. No Texto II, por
exemplo, a ironia é uma figura de linguagem que torna a crítica ao jurista mais mordaz e
interessante. Essa figura se explica por uma oposição entre o dito e o dizer, produzindo efeito
humorístico, geralmente. Na carta do leitor, as qualidades enunciadas sobre Bastos (insigne, nobre,
competente), em tom cerimonioso e respeitoso (o dito), opõem-se à intencionalidade de criticar
duramente o jurista (o seu dizer).
Outro recurso que se baseia na construção de uma imagem perspicaz do leitor é o emprego
de implícitos, especialmente o subentendido. No Texto II, o missivista insinua, por meio desse
implícito, que o advogado Thomaz Bastos pode ter informações privilegiadas sobre as acusações de
seu cliente ou até influência política na condução do processo, já que comandou a investigação
sobre ele feita pela Polícia Federal como então Ministro da Justiça. Essa insinuação não é assumida
claramente pelo enunciador, não está explicitada nos enunciados, mas seu conteúdo é deixado a
cargo do leitor, que deve ter a argúcia de apreendê-lo. Esse implícito, o subentendido, é uma forma
de dizer sem dizer, que apenas é inferido pelo contexto linguístico ou situacional, mas o autor pode
sempre negar que tenha dito o que disse.
Esses são alguns dos procedimentos discursivos e argumentativos que podem tornar os
textos mais bem escritos e adequados, fazendo com que os leitores assumam o ponto de vista do
autor e aceitem seus valores e proposições ou possibilitem reflexão e visão crítica, proporcionando
prazer na leitura.

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