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Ponto de fuga

A vanguarda do tédio
A Bienal anterior, que não teve os
favores da crítica, foi muito poética;
poesia passada, que sobressai ainda
mais no contraste com o
alinhamento indiferente das obras
expostas na atual

JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA

Tão perversa é a palavra "crítica". Em velhos tempos, era moda dizer: "É preciso ser
crítico". Ter "postura crítica" ou "consciência crítica" seria o apogeu de uma atitude
soberana, capaz de compreender o mundo para além de suas aparências e, mais ainda,
de transformá-lo.
Hoje, percebe-se facilmente que, engolida assim, "crítica" quer dizer o seu avesso. Basta
invocá-la como um abracadabra e pronto: o pensamento se satisfaz na superioridade que
imagina ter encontrado. Substitui o desconforto do exame e da dúvida pela certeza
cômoda das convicções que se acreditam lúcidas: não o são, está claro, exatamente
porque feitas de crenças que se tornaram crendices.
A palavra "crítica", desse jeito, torna-se um "comigo não, violão" reificado: vira
talismã, vira mantra. Transforma quem o pronuncia num sacerdote da sapiência, num
ser superior aos outros mortais.

Cercas
A 27ª edição da Bienal de São Paulo enfileira, com monotonia indiferente, instalações,
vídeos e algumas, poucas, pinturas. Bate, com insistência, na tecla do politicamente
correto. Protege-se com a retaguarda dos bons sentimentos, contra os quais não se pode
levantar nem um dedo mindinho: ódio à repressão, à segregação, às opressões cruéis, às
tiranias.
O problema é que o inferno das artes está atapetado de bons sentimentos. Há, nesta
bienal, como sempre, talvez menos do que sempre, aqui e ali, algum artista interessante.
É claro que isso não basta. O álibi das intenções éticas e intelectuais não consegue
substituir o interesse da criação. Ora, as metáforas grossas e rasteiras se sucedem,
evidentes, enormes, em obras feitas para apanhar, nas suas armadilhas, o intelectual
incauto e bem-intencionado. Nem um pingo de reflexão, nem um pingo de sutileza
nessa seqüência. Ao contrário, um martelar autoritário do bom pensar e do bem
pensante.

Ordem
A crença pode ser sincera, ingênua e pura: deve ser esse o caso das convicções que
presidem a 27ª Bienal. Mas não importa: ao afirmar-se como impositiva, a mostra
elimina debate e contradição. Com todos os seus defeitos e problemas, o velho sistema
de representações nacionais tinha pelo menos um mérito: ele limitava a autoridade do
curador. Podia ser desigual, podia introduzir disparates na seleção, mas seu caráter
aleatório era, por isso mesmo, fecundo. Trazia problemas para os responsáveis,
ensinava-os, justamente, o viver junto. Na atual mostra, os artistas não vivem juntos;
vivem debaixo: da idéia, do conceito, das determinações imperiosas.

Asfixia
Outro ponto é que as ambições intelectuais dos critérios parecem ter dispensado
qualquer vontade de entrelaçar as obras, de permitir coerências, contrastes ou
discrepâncias entre elas. A anterior, de número 26, que não teve os favores da crítica,
foi, na verdade, muito poética; poesia passada, que sobressai ainda mais no contraste
com o alinhamento indiferente das obras expostas na atual.
Essas obras não estão juntas, no sentido que lhes daria Roland Barthes e que inspirou o
título da mostra ["Como Viver Junto"]. Barthes possuía uma intuição sensível muito
forte, pensava por exemplos expressivos e articulados, em associações tantas vezes
novas e surpreendentes, que se exasperavam uns aos outros ou se harmonizavam.
Aqui, ao contrário, as obras seguem-se numa apatia displicente. O que torna difícil
qualquer expressão de novo, de descoberta ou de fascínio.

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