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Capítulo 1

O QUE É DHARMA?

Os seres humanos são os seres mais evoluídos. Eles possuem a


consciência claramente refletida, a qual os torna superiores aos
animais. Nenhum outro ser possui a consciência refletida de forma
tão clara. Os seres humanos podem discernir entre o bem e o mal
com o auxílio de sua consciência, e quando se deparam com
problemas podem resolvê-los com a ajuda da consciência. Nenhum
ser gosta de viver em penúria e sofrimento, e muito menos os seres
humanos, cuja consciência está apta a encontrar meios que possam
auxiliá-los. Uma vida sem dor e sofrimento é uma vida de felicidade
e bem-aventurança, e é isto que as pessoas almejam. Todas as
pessoas estão em busca de felicidade; na verdade, é próprio da
natureza humana buscar a felicidade. Vejamos agora o que as
pessoas fazem para alcançá-la e se conseguem alcançá-la por tais
meios.
Na busca de felicidade, as pessoas primeiramente são atraídas
por prazeres materiais. Elas tentam acumular riquezas e conquistar
poder e posição social para satisfazer o seu desejo de felicidade.
Aquele que tem cem rúpias (moeda indiana) não se satisfaz com essa
quantia e se empenha para conseguir mil rúpias; porém, mesmo que
consiga milhares de rúpias, não ficará satisfeito. Desejará um milhão,
e assim por diante. Também observamos que uma pessoa que exerce
sua influência sobre um município quer estendê-la ao nível de estado
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e que os líderes estaduais querem se tornar líderes nacionais e,


quando lá chegam, surge o desejo pela liderança mundial. A mera
aquisição de riqueza, poder e posição social não satisfaz a pessoa. A
aquisição de uma coisa limitada apenas criará o desejo de mais,
fazendo com que a busca de felicidade nunca chegue a um fim. A
ânsia de possuir não tem limites: é ilimitada e infinita.
Ainda que a conquista seja digna ou grandiosa, ela não poderá
impedir essa incessante busca individual por felicidade. Aqueles que
anseiam por riqueza não ficarão satisfeitos até venham obter riqueza
ilimitada. Também não se sentirá satisfeita a pessoa que busca poder,
posição e prestígio, a menos que ela os obtenha em proporções
ilimitadas. Entretanto, esse tipo de aquisição pertence a este mundo.
Este mundo é finito e não pode oferecer coisas infinitas.
Naturalmente, por maior que sejam as aquisições mundanas, até
mesmo todo o planeta, elas não teriam nenhuma característica
permanente ou infinita. O que, então, é esta coisa eterna e infinita
que poderá prover felicidade permanente?
Somente a Entidade Cósmica é infinita e eterna. Somente Ela
não tem limites. E o eterno desejo dos seres humanos por felicidade
só pode ser saciado com a realização do Infinito. A natureza efêmera
de posses mundanas, poder e posição social só pode levar uma
pessoa a concluir que nenhuma dessas coisas deste mundo finito e
limitado pode satisfazer o interminável anseio por felicidade. A
aquisição de tais coisas mundanas apenas faz surgir mais desejos.
Somente a realização do Infinito pode atender a esse anseio. Só pode
existir um Infinito, e este é a Entidade Cósmica.
Portanto, somente a Entidade Cósmica pode prover felicidade
permanente. Essa busca é a característica de cada ser humano. Na
realidade, por trás dessa busca humana está oculto o desejo, o anseio
de alcançar a Entidade Cósmica. Esta é a própria natureza de cada
ser vivo. Somente isto constitui o dharma de cada pessoa.
A palavra dharma significa propriedade, natureza ou
característica. A natureza do fogo é queimar e produzir calor. Essa é
a característica ou a propriedade do fogo, ou ainda a natureza do
fogo. Da mesma forma, o dharma ou a natureza do ser humano é
buscar a Entidade Cósmica.
O grau de divindade nos seres humanos é definido pela clareza
de sua consciência. Cada ser humano, por ter evoluído dos animais, é
Compêndio de Filosofia da Ananda Marga, Vol. 1 13

constituído de dois aspectos: o aspecto animal e o consciente, que o


distingue dos animais. Os animais expressam principalmente a
animalidade, enquanto os seres humanos, como possuem uma
consciência claramente manifestada, também são dotados de
racionalidade. A natureza animal dos seres humanos estimula as
tendências à vida animal ou aos prazeres materiais.
Devido a essa influência, eles vão em busca de comida, bebida e
outros atrativos físicos. Por influência da natureza animal, eles são
atraídos por esses prazeres e promovem sua busca. Porém, esses
atrativos não lhes proporcionam felicidade, porque sua busca por
felicidade é infinita. Os animais se satisfazem com esses prazeres
limitados, uma vez que seus anseios não são infinitos. Mesmo
quando é oferecida uma grande quantidade de qualquer coisa a um
animal, ele só come a porção de que necessita e não se preocupa com
o restante. Porém os seres humanos, certamente, agem de forma
diferente em tal situação. Isto apenas mostra que os animais se
satisfazem com coisas limitadas, enquanto os seres humanos têm
desejos ilimitados, embora em ambos os casos o desejo seja
estimulado e controlado pelo aspecto animal da vida. A diferença
entre os dois é que os seres humanos possuem uma consciência
claramente refletida e os animais não. Por causa da consciência é que
a busca humana por felicidade absoluta tem uma natureza infinita.
Essa consciência não se satisfaz com os prazeres físicos advindos de
posses, poder e posição social – coisas que, mesmo em grandes
proporções, são somente de caráter transitório. É a consciência que
inspira nos seres humanos o anseio pela Entidade Cósmica.
Os objetos do mundo físico – os atrativos materiais – não saciam
a sede de felicidade do coração humano. Mesmo assim, percebemos
que as pessoas se sentem atraídas por eles. A natureza animal
impulsiona as pessoas a satisfazerem seus desejos animais, mas a
racionalidade de suas consciências continua insaciável, uma vez que
tais prazeres são transitórios e efêmeros. Eles são incapazes de
aplacar a sede constante e ilimitada da consciência humana. Ocorre,
então, uma luta contínua nos seres humanos entre a natureza animal
e a racionalidade. A natureza animal os atrai para os prazeres
terrenos imediatos, enquanto a consciência, que não se satisfaz com
esses prazeres, os atrai para a Entidade Cósmica – o Infinito. Isto
resulta numa luta entre o aspecto animal e a consciência. Se os
prazeres físicos obtidos com as conquistas de poder e posição social
fossem intermináveis e infinitos, eles saciariam a eterna sede da
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consciência por felicidade. Todavia, eles não o conseguem, e é por


isso que a glória fugaz dos prazeres temporários nunca poderá
assegurar paz duradoura para a mente humana e levar a pessoa ao
êxtase.
O que diferencia os seres humanos dos animais é a sua
consciência claramente refletida. Por isso, não seria imperativo que
os seres humanos utilizassem sua consciência? Quando a consciência
permanece adormecida por causa da natureza animal, as pessoas
estão predestinadas a se comportar como animais. Na verdade, elas
se tornam piores do que os animais, visto que não a utilizam, mesmo
sendo dotadas de uma consciência claramente refletida. Tais pessoas
não merecem a denominação de seres humanos. Elas são animais na
forma humana.
A natureza da consciência é a busca do Infinito ou a realização
da Entidade Cósmica. Somente aqueles que utilizam suas
consciências e seguem os seus ditames merecem ser chamados de
seres humanos. Dessa forma, quando a pessoa faz uso apropriado de
sua consciência refletida, ela ganha o direito de ser chamada de ser
humano e descobre que o seu dharma (ou natureza) é somente
buscar o Infinito ou a Entidade Cósmica. Tal desejo pelo Infinito é a
qualidade inata, ou o dharma, que confere à pessoa uma qualificação
como ser humano.
A felicidade acontece quando se conquista o objeto desejado. Se
alguém não consegue o que deseja, não pode ser feliz, sentindo-se
triste e deprimido.
A consciência refletida nas pessoas – a única diferença em
relação aos animais – anseia pela Entidade Cósmica ou o Infinito.
Portanto, as pessoas só conseguem a verdadeira felicidade quando
atingem o estágio da Entidade Cósmica ou quando desenvolvem
esforços para alcançá-lo. A consciência não anseia por prazeres
mundanos, porque eles são finitos e não podem satisfazê-la. Assim,
concluímos que o dharma da humanidade é a realização do Infinito
ou da Entidade Cósmica. Somente por meio deste dharma é que as
pessoas podem desfrutar de felicidade e bem-aventurança eternas.
A característica ou dharma dos seres humanos é alcançar o
estágio de Brahma. Portanto, faz-se necessário verificarmos se
Brahma existe ou não, pois seria um esforço em vão tentar conseguir
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alguma coisa que não exista verdadeiramente. Se Brahma existe,


temos que saber o que Ele é.

Aparentemente, cada ação realizada por uma pessoa é executada


por seus órgãos sensoriais, ou indriyas. O número total de órgãos, ou
indriyas, é dez. Assim, quase todas as ações realizadas por uma
pessoa parecem ser consumadas por esses dez indriyas. Entretanto,
não é isto o que acontece de fato. Se a mente não atuasse por trás
deles, esses indriyas não poderiam fazer nada por si mesmos. A
mente é que trabalha, e os dez indriyas são apenas os instrumentos
por meio dos quais ela executa o trabalho. A ação, que se origina na
mente, só encontra um meio de expressão externo com a ajuda dos
indriyas. Para explicar isso, podemos tomar o exemplo de uma
pessoa que vê um livro. Apenas a mente é que visualiza o livro com
a ajuda dos olhos. Se a mente não funcionar, os olhos não poderão
ver o livro. Por exemplo, uma pessoa em estado inconsciente, devido
ao efeito de um anestésico ou por alguma outra razão, não é capaz de
ver o livro, mesmo que seus olhos estejam completamente abertos.
Em tal estado inconsciente, os olhos, mesmo sem estarem doentes,
não podem realizar a sua função natural, porque estão desconectados
da mente. É por isso que, sob o efeito da anestesia, os órgãos
sensoriais, ou indriyas, não funcionam, mesmo que estejam em
perfeito estado. Freqüentemente, quando estamos absortos em
pensamentos, não notamos uma pessoa nem reconhecemos um
amigo que esteja bem à nossa frente. Isto ocorre porque, mesmo que
os olhos estejam sadios e abertos, a mente – a qual realiza
verdadeiramente todas as ações – não se utiliza dos indriyas (os
olhos). A mente é que trabalha, e os indriyas apenas a ajudam a se
manifestar externamente.
Se a mente é a única que trabalha, vejamos como ela age através
desses indriyas. Por exemplo, o ato de olhar para um livro é uma
ação que a mente realiza com a ajuda dos olhos. Quando a mente vê
o livro, o que ocorre de fato é que a mente, com a ajuda dos olhos,
toma a forma de alguma coisa a que chamamos de livro. Essa figura
que a mente molda é diferente da imagem formada na retina, pois a
mente pode ver e tomar a forma de um livro, mesmo que os olhos
estejam fechados; porém, quando a mente não está funcionando, os
olhos não podem enxergar. Desse modo, durante a percepção visual,
a mente é que molda a forma do livro. Essa porção da mente que
molda o livro é chamada de “citta”, ou matéria-prima mental. Mas,
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tendo em conta que citta toma a forma do livro, deve haver, além de
citta, alguma outra entidade que realiza a função de ver. A parte da
mente que realiza a função de ver é chamada de ahaḿtattva (ou “eu
faço”). Porém, esse “eu” não será capaz de ver nada sem o “eu
existo”. Assim, deve haver uma outra parte da mente que seja
diferente dessas duas primeiras. Esta terceira porção da mente é a
que proporciona o “sentimento de eu”, sendo chamada de
mahatattva. Sem o sentimento da existência do “eu”, ou o
conhecimento do “ser”, nenhuma ação poderá ser realizada. Este
sentimento de "eu" (ou conhecimento do ser) vem de mahatattva, ou
buddhitattva.
O nome coletivo para essas três partes – citta, ahaḿtattva e
mahatattva – é mente (antahkarańa, ou força psíquica de
introversão). Todavia, estas três partes da mente são apenas as
manifestações evidentes da mente. É com a mente que se realiza a
ação de ver o livro, e isto é denominado de assimilação psíquica do
rúpa tanmátra [vibração do elemento sólido].
Tanmátra é um termo novo que merece uma explicação. A
fração microscópica de uma onda irradiada por um objeto e recebida
pelos indriyas é chamada de tanmátra, ou inferência. Para uma
melhor explicação, podemos dizer que a idéia do livro é concebida
com a ajuda do rúpa tanmátra (a vibração ideativa dos nervos cria
uma figura ou imagem na mente), quando a pessoa observa o livro.
Entretanto, se os olhos estiverem fechados ou se a pessoa estiver
num ambiente escuro, ela também poderá reconhecer o livro através
do tato. Neste caso, a idéia do livro será concebida graças a outro
tanmátra, isto é, ao tanmátra do tato, ou percepção táctil. Além
disso, se o livro estiver fora do alcance das mãos e da percepção
visual e alguém deixá-lo cair, será possível identificar o livro através
do tanmátra do som.
Citta entra em contato com os tanmátras apenas quando
ahaḿtattva assim o deseja. A percepção ou a identificação do livro
deve ser realizada por ahaḿtattva, pois citta por si só não possui a
capacidade de desempenhar nenhuma função. Quando ahaḿtattva
(ou parte da mente que age) quer ver um livro, citta entra em contato
com os órgãos da visão, ou seja, os olhos. Os olhos captam o rúpa
tanmátra do livro. Esse tanmátra, presente no ambiente em forma de
ondas, atinge citta por meio dos olhos, que são como uma porta de
contato entre citta e o mundo externo. Citta, então, assume a forma
Compêndio de Filosofia da Ananda Marga, Vol. 1 17

do livro; e ahaḿtattva o identifica ou o vê de acordo com a forma


assumida em citta. Do mesmo modo, quando ahaḿtattva quer
escutar alguma coisa, ele faz citta entrar em contato com os órgãos
auditivos (os ouvidos). Os ouvidos absorvem o tanmátra do som,
que sempre está presente no ambiente, através das ondas sonoras.
Citta, em função do impacto desse tanmátra, transforma-se no
próprio som e ahaḿtattva escuta esse som. Isto demonstra que citta
toma a forma do que quer que ahaḿtattva queira ou faça. Explicando
de outra forma, citta reflete as ações que ahaḿtattva realiza.
Já dissemos que citta, ahaḿtattva e mahatattva (ou buddhitattva)
constituem a mente. Citta apenas tem a capacidade de assumir a
forma pretendida por ahaḿtattva. Do mesmo modo, ahaḿtattva tem
apenas a capacidade de realizar ações. Ahaḿtattva pode apenas
trabalhar. Por isso, tem de haver alguma entidade que o faça
trabalhar. Essa entidade é mahatattva, ou buddhitattva, que dá à
pessoa o “sentimento de eu”. Esse “sentimento de eu” se origina na
mente, e é esse “eu” que faz com que ahaḿtattva e citta cumpram
suas respectivas funções mentais. Sem esse “eu” seria impossível
sentir ou ver o livro, mesmo que a influência de ahaḿtattva fizesse
citta assumir a forma do livro. Entretanto, esse “eu” é apenas uma
parte da mente. Ou seja, existe um outro “eu”, que é o “eu”
possuidor, ou o “eu” que tem consciência de que a mente existe. A
existência do “eu” na mente humana é uma prova de que existe outra
entidade real, a qual está além da mente e reconhece sua existência.
Esse “eu” – que é a entidade testemunhal, ou seja, a entidade que
testemunha a existência da mente e de buddhitattva (ou sentimento
de eu) – é chamado de átman, ou consciência individual. Assim,
através da introspecção e do pensamento concentrado, a pessoa pode
perceber que o átman e a mente – ou a consciência unitária e a mente
– são duas entidades separadas.
O átman (ou consciência unitária) e a mente são duas entidades
separadas, ainda que ambas estejam relacionadas entre si. Num
primeiro momento, vem o sentimento de que estou consciente da
minha existência. Então, esse mesmo “eu”, a prova aparente de
minha existência, me faz agir, e uma parte da minha mente, chamada
citta, assume a forma do livro através dos tanmátras, capacitando-
me a ver o livro. O “eu” que me proporciona consciência ou o “eu”
que testemunha a existência de minha mente, desse modo,
proporciona o sentimento de que o “eu existo” é o átman, ou
consciência individual. O “eu” que cria o sentimento de “eu existo” e
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também prova a existência do átman, ou consciência individual, é o


mahatattva. O “eu” que age ou vê o livro é ahaḿtattva, e citta é a
porção mental que assume a forma do livro e permite que ahaḿtattva
possa vê-lo. Isso mostra que o mesmo “eu” tem diferentes funções
em cada estágio.
O surgimento dessas diferentes funções do mesmo “eu” requer
um esclarecimento maior. A afirmativa de que “eu existo” pressupõe
a presença do “eu” que testemunha essa existência. Esta entidade
testemunhal é o átman (ou consciência unitária), e sua presença é
estabelecida pelo sentimento de existência que a pessoa manifesta
em cada ação. A comprovação da diferença entre o “eu existencial” e
o átman (ou consciência unitária) pode ser evidenciada pelo fato de
que este “eu” pressupõe a presença do meu átman, ou consciência
unitária. Esse sentimento prova que a consciência unitária é apenas
consciência e que, sem esta consciência, não seria possível existir.
Sem a consciência não pode haver nenhum sentimento de existência.
Quem mais poderia testemunhar a existência do “eu”? A
consciência, portanto, é essencial para criar o sentimento de
mahatattva ou buddhitattva. Explicando melhor, mahatattva (ou
buddhitattva) não pode existir sem o átman ou consciência unitária.
Todavia, a entidade testemunhal e o puro sentimento de “eu”
parecem ser diferentes formas funcionais do mesmo “eu”. Na
realidade, o “eu” que testemunha minha existência também se
manifesta no “eu” de “eu existo”. O “eu” testemunhal é a
consciência unitária (ou átman) que também se manifesta como
mahatattva (ou buddhitattva) e assim estabelece a sua própria
existência. A entidade testemunhal, ou consciência unitária, que
assume a função de “eu” do “eu existo” é conhecida como
mahatattva ou buddhitattva. Logo, a consciência unitária não é
apenas consciência, uma vez que possui uma qualidade que lhe
permite se manifestar por meio de diferentes funções. Essa qualidade
não é consciência, porque se assim fosse não haveria necessidade de
a consciência unitária se manifestar como mahatattva e se expressar
como o “eu” do “eu existo”, o qual é diferente da entidade
testemunhal. A consciência e sua qualidade são, portanto, duas
entidades separadas dentro do átman, ou consciência unitária. Uma
vez que essa qualidade é diferente da consciência, ela deve ter
surgido de alguma parte. Deve haver algum outro fator que permita
qualificar átman, fazendo-o manifestar-se como mahatattva. O fator
que dá essa qualidade ao átman é chamado de Prakrti. Em outras
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palavras, Prakrti qualifica átman, fazendo com que este se manifeste


como mahatattva e adquira o sentimento de “eu”.
É necessária uma explicação sobre Prakrti. Ela é a entidade que
controla os fenômenos naturais. Prakrti não significa natureza nem
qualidade. Por exemplo, pode-se afirmar que a capacidade de
queimar é a natureza do fogo. Deve haver algo que dê essa qualidade
ao fogo, assim como há alguma entidade que dá qualidade à
consciência unitária. Aquilo que qualifica a consciência unitária é a
própria Prakrti e não a qualidade expressada por Sua influência.
Prakrti é uma palavra em sânscrito derivada de pra – kr + ktin, que
significa fazer alguma coisa de uma forma especial. A consciência
unitária estabelece a sua existência somente quando é qualificada por
Prakrti. Em outras palavras, Prakrti qualifica a consciência unitária,
ou átman, para conferir-lhe o sentimento de sua existência. A energia
é um requisito fundamental para a realização de qualquer ação.
Tendo em conta que Prakrti realiza a ação de qualificar átman, ou
consciência unitária, Ela é uma força singular. Ela é o princípio que
qualifica a consciência unitária. É Prakrti que, com sua influência,
qualifica a consciência unitária, dando-lhe diferentes funções.
Prakrti é uma força singular – um princípio. Entretanto, algumas
perguntas surgem: Que princípio é este e de onde ele vem?
Prakrti é um princípio de Puruśa, o qual, através de Seu próprio
princípio, é influenciado e qualificado. Por ser um princípio de
Puruśa, Prakrti deve existir dentro de Puruśa. De fato, Ela sempre
existiu dentro d'Ele. A consciência unitária e sua Prakrti nunca
poderão ser separadas uma da outra, assim como a capacidade de
queimar não pode ser separada do fogo. Nenhuma coisa que adquira
uma determinada qualidade através da influência de um princípio (ou
força) poderá continuar a existir se este princípio (ou força) for
retirado dela. Os dois estarão sempre juntos; assim como a
consciência unitária e seu princípio, Prakrti. A consciência unitária e
sua Prakrti são inseparáveis como os dois lados de uma folha de
papel. A única função de Prakrti é criar continuamente diferentes
formas através de sua influência sobre a consciência.
A consciência unitária é a entidade testemunhal, a qual percebe a
sua existência somente quando é qualificada e manifestada como o
“eu” de “eu existo”. O princípio de Prakrti que estabelece a
existência da consciência unitária com a qualificação de Puruśa é
chamado de sattvaguńa (ou princípio sutil); e, conseqüentemente, a
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porção da mente que é formada para criar o sentimento de “eu


existo”, chama-se mahatattva ou buddhitattva. É mais correto dizer
que, sob a influência de sattvaguńa, a consciência unitária se
manifesta como mahatattva ou buddhitattva.
Cada ação pressupõe a existência de algo ou alguém que pratica
a ação. A não ser que eu existisse, jamais poderia enxergar. Aqui
também podemos notar que o “eu” tem duas funções ou dois
aspectos diferentes. A primeira função é a de entidade testemunhal
ou consciência, a qual, para provar ou manifestar a sua existência,
adquiriu o sentimento de “eu existo”, e o mesmo “eu” agora realiza a
função de ver. O “eu” de “eu existo” é o buddhitattva, que, para ver
alguma coisa, exerce a função de ver, além de estabelecer a
existência da consciência unitária. Quando a consciência unitária é
influenciada por Prakrti, ela se expressa como buddhitattva. Da
mesma forma, a capacidade adicional de realizar uma ação é também
criada pela influência de Prakrti sobre buddhitattva. Prakrti também
está presente em buddhitattva, uma vez que este é apenas uma
manifestação da consciência unitária, e Prakrti está predestinada a
existir junto com a consciência unitária em qualquer lugar e em
qualquer forma que puder existir. O princípio (ou guńa) de Prakrti
que dá essa qualidade ou capacidade a buddhitattva é chamado de
rajoguńa, ou princípio mutatório. Assim, quando buddhitattva é
influenciado por Prakrti, ele assume duas funções ou dois aspectos.
O último aspecto, que foi obtido de rajoguńa e que lhe dá a
capacidade ou a qualidade de realizar uma ação, é conhecido como
ahaḿtattva. Quer dizer, buddhitattva se manifesta como ahaḿtattva
quando é influenciado por rajoguńa, ou o princípio mutatório de
Prakrti.
Cada ação implica alguma conseqüência final. Por exemplo,
quando você olha para um livro, o resultado é que você vê o livro. Já
explicamos anteriormente como vemos o livro. Citta, que é uma
parte da mente, assimila o tanmátra que transmite a forma do livro e
molda essa forma. É esse livro que ahaḿtattva vê. Citta molda a
forma que ahaḿtattva quer. Quando ahaḿtattva vê o livro, citta se
transforma nesse livro e, quando ouve um som, citta se transforma
nesse som. Desse modo, citta é totalmente dependente de ahaḿtattva
para assumir uma forma. Está sempre mudando sua forma sob o
comando de ahaḿtattva. Então, citta deve ter uma relação muito
estreita com ahaḿtattva.
Compêndio de Filosofia da Ananda Marga, Vol. 1 21

A maneira como citta se forma requer um esclarecimento. Citta,


como já foi explicado anteriormente, é uma parte da mente, e
buddhitattva e ahaḿtattva constituem as outras duas partes.
Buddhitattva e ahaḿtattva são expressões da consciência unitária
formadas, respectivamente, pela influência de sattvaguńa de Prakrti
sobre a consciência unitária e de rajoguńa sobre buddhitattva. Em
outras palavras, a consciência unitária é que, sob a influência de
Prakrti, assume a função de ahaḿtattva, no segundo estágio.
Portanto, Prakrti está presente em ahaḿtattva e está destinada a
qualificá-lo mais ainda. Assim, Prakrti qualifica ahaḿtattva e este se
manifesta como citta. A qualidade de Prakrti que influencia
ahaḿtattva é chamada de tamoguńa, ou princípio estático. Por
influência de tamoguńa, ahaḿtattva (ou “eu faço”) assume a imagem
mental resultante de sua ação. Isto significa que, quando “eu” vejo o
livro, este “eu” é que toma a forma do livro. Dessa forma, um outro
“eu” surge devido à influência de tamoguńa. Durante a percepção,
este “eu” é que assume a imagem mental do livro. Este “eu”, que se
transforma no livro ou que absorve a sua forma, é citta. Assim, é a
consciência unitária que gradualmente se manifesta como citta.
Nos parágrafos anteriores, foi demonstrado através da lógica e
da coerência que é a consciência unitária que, sob a influência dos
diferentes princípios de Prakrti, manifesta-se gradualmente como
citta, e como resultado surge a mente. A existência da consciência
unitária é essencial para a mente – que é apenas uma manifestação
gradual da consciência unitária sob a influência qualificadora de
Prakrti. Na verdade, a mente não poderia ser formada sem a
presença do átman, ou consciência unitária. Porém, sabemos que a
mente está presente em cada indivíduo. Portanto, átman, ou
consciência unitária, também está presente em cada indivíduo. Há
inumeráveis indivíduos neste universo e, uma vez que o átman se
reflete em cada um deles, temos a impressão de que existem muitos
átmans ou consciências individuais. O nome coletivo para todos
esses átmans ou consciências individuais é Paramátman,
Bhúmácaetanya, Brahma ou Bhagaván. Assim como doze unidades
formam uma dúzia, vinte unidades constituem um grupo, e o nome
coletivo para um grande número de soldados é exército, também o
nome coletivo para todas as consciências unitárias é Paramátman,
Bhúmácaetanya ou Bhagaván. O nome Bhagaván não deve estar
relacionado com a idéia de uma figura humana poderosa, dotada de
mãos e pés. Ele é a combinação de todos os nossos átmans. A
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palavra do idioma português que mais se aproxima do significado de


átman, ou consciência unitária, é “alma”1, assim, Bhagaván também
pode ser chamado de Consciência Universal ou Alma Universal. Isto
mostra que Bhagaván existe de fato e que sua existência é definida
como: Paramátman ou Alma Universal; Bhúmácaetanya ou
Consciência Cósmica; ou Brahma, a Bem-Aventurança Eterna.

1 N.T.: No original, o autor fez a comparação com a palavra inglesa


“soul”.

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