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OS SEGREDOS DO AMOR.
RESUMO:
A partir da constatação de que o contemporâneo realizador chinês Wong Kar-Wai é
um formalista e cultua a imagem, propõe-se neste ensaio refletir a estética do seu
fazer cinematográfico, no filme 2046 – os segredos do amor (2046, China, 2004),
seus elementos formais, estéticos; sustentada sobretudo, pelos teóricos franceses
Gilles Deleuze e Jacques Aumont, e por outros teóricos do cinema.
Palavras-chave: Estética. Imagem. Culto. Arte. W.Kar-Wai.
Résumé
En partant de la constatation que le réalisateur chinois, il contemporain Wong Kar-
Wai, est un formaliste et fait culte à l`image, on propose dans cet article reflexir la
esthétique de sa façon de faire du cinema, dans son film 2046 – les secrets d`amour
(2046, Chine, 2004), des éléments formels, esthétiques. Basée sur les théories,
principalment, des auteurs français: Gilles Deleuze et Jacques Aumont, et par
d`autres théoriciens du cinéma.
Mots-Clès: Esthétiques. Image. Culte. Art. W.Kar-Wai.
W.K.Wai
1. Palavras Primeiras
A proposta deste ensaio é voltar-se para uma reflexão estética dos elementos
visuais utilizados por Wong Kar-Wai1 no seu filme 2046 - os segredos do amor.
Partindo da mirada de que esse diretor faz um cinema que cultua à imagem, pretendo
investigar como ele cria, recria e exercita o formalismo.
Jacques Aumont2, afirma que “a forma é a estrutura dos elementos visuais que
compõem um objeto visível” (1993, p.274). O teórico argumenta que a teoria da
Gestalt3 define “a forma como esquema de relações invariantes entre certos elementos
(1993, p.68)’. Ou seja, no caso do cinema é a maneira de como se estrutura e dispõe
as partes do todo (os elementos de determinada imagem) e o modo pelo qual
construímos o campo visual (objeto-espaço-tempo) e pelo qual se revela a nossa
percepção daquilo que vemos na tela, no quadro fílmico. Como instrumento para
identificar as escolhas estéticas e desvelar a expressividade cinematográfica de Wong
Kar-Wai, assim como para estabelecer um diálogo com seu cinema, selecionei,
principalmente os autores Jacques Aumont e Gilles Deleuze4; e ainda Christian Metz5,
Francis Vanoye6 e Anne Goliot-Lété7, dentre outros teóricos do cinema.
Com esses autores, espero encontrar sustentação teórica para minhas intuições,
reflexões e interpretações.
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Designer que trabalhou com publicidade, roteirista e cineasta reconhecido no campo do cinema,
nascido em Shanghai, China, na Ásia, em 1958, viveu maior parte da sua vida em Hong Kong
atualmente vive nos U.S.A.
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Nasceu na França em 1942, é ainda professor atuante em Paris, e teórico de análise fílmica e estética
do cinema, tem como principais obras: A imagem (1993), A estética do cinema (1994) e O olho
interminável-cinema e pintura (2004).
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A Gestalt (palavra alemã, que significa dar forma) ou teoria da forma, surgiu no início do século XX.
A Escola da Gestalt, como ficou conhecida, desenvolveu uma teoria da percepção com base em um
rigoroso método experimental, que possibilitou a compreensão da maneira como se ordenam ou se
estruturam, no nosso cérebro, as formas que percebemos.
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Um dos mais importantes filósofos do séc. XX foi professor, teorizou também sobre o cinema e outras
artes. Nasceu na França em 1925 e faleceu em 1992. Tem como principais obras cinematográficas: A
imagem-movimento (1985) e A imagem-tempo (1990).
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, teórico da semiologia e psicanálise do cinema, foi professor em Paris. Nasceu na França em 1931 e
faleceu em 1993. Suas principais obras são: A significação no cinema (1968), Linguagem e cinema
(1971) e O significante imaginário (1977).
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É professor emérito de estudos cinematográficos da Universidade Paris X, Nanterre. Suas principais
obras traduzidas para o português são: Usos da linguagem – Problemas e técnicas na produção oral e
escrita (1979) e Ensaio sobre análise fílmica (1994), em colaboração com a autora Anne Goliot-Lété.
7
Conferencista e pesquisadora da Universidade Paris VII, Denis Diderot.
2
O termo estética, conforme Aumont (1993, p.302), “O termo Estética, forjado
na metade do século XVIII, a partir da raiz grega aesthesis, sensação, sentimento, a
palavra designou primeiro, com precisão, o estudo das sensações e dos sentimentos
produzidos pela obra de arte”.
A palavra estética, aos poucos, passou a abranger toda reflexão que tem por
objeto as artes em geral ou uma arte específica. Engloba o estudo dos objetos
artísticos e os efeitos que provocam no observador, abrangendo os valores artísticos, a
percepção e a questão do gosto. Contemporaneamente, sob uma perspectiva
fenomenológica (de um conjunto de fenômenos), não existe mais a idéia de um único
valor estético, a partir do qual julgamos todas as obras de arte. Cada objeto artístico
estabelece sua própria beleza, ou seja, o tipo de valor pelo qual será julgado. Os
objetos artísticos são belos porque são autênticos, segundo seus modos de serem
singulares, e carregam significados que só podem ser percebidos por meio da
experiência estética.
Perguntado numa entrevista8 sobre o que era o seu filme 2046 os segredos do
amor, Kar-Wai respondeu: “O filme é sobre promessa. Em 1997, o governo da China
prometeu 50 anos de mudanças. Eu pensei que deveria fazer um filme sobre
promessas. O filme se passa em 2046, é um filme futurístico, mas não de ficção
científica”. Num outro momento de sua fala o diretor relata também, que é um filme
sobre o amor, sobre homens e mulheres à procura de amor.
Não obstante a origem do realizador seja oriental, seu cinema é bastante
ocidentalizado. Quanto ao título do filme, é uma referência que o diretor faz ao ano de
2046, ano em que Hong Kong (antiga colônia inglesa e a cidade em que foi filmada a
maioria das cenas de seus filmes) perderá sua autonomia político-cultural e passará a
fazer parte definitivamente da administração econômico-política e cultural chinesa
(esse é um elemento, extra-diegético - fora da narrativa).
Kar-Wai dirigiu dez longas metragens desde 1989 até 2007, são eles: Conflito
mortal (1988), Dias selvagens (1991), Cinzas do tempo (1994), Amores Expressos
(1994), Anjos caídos (1995), Felizes Juntos (1997), Amor à flor da pele (2000), 2046
- os segredos do amor (2004), Eros (2004) e Um beijo roubado (2007). Somente o
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Concedida ao IndieWire e publicada no site Zeta Filmes em 2008, está disponível em
http://cinefabico.wordpress.com/2010/04/14/entrevista-com-wong-kar-wai/, acesso em 20/05/2013.
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último não foi filmado em Hong Kong (ver mais detalhes sobre o histórico da sua
filmografia em anexo). Ao ambientar praticamente toda sua cinematografia em Hong
Kong, se ampara em vestígios da memória e na nostalgia dessa metrópole que, para
ele, já não existe mais.
Além da direção, produção, e com roteiro próprio, Kar-Wai, constroi o enredo
de 2046 com as histórias de amor (de nomadismo afetivo) e a trajetória do escritor
Chow Mo-Wan – o protagonista (Tony Leung Chiu Wan), ele retorna a Hong Kong
para escrever o romance 2046 e se hospeda num hotel. Ele assume a personalidade de
um conquistador, de um “Dom Juan”, e inicia uma série de relações amorosas com
quatro diferentes belas mulheres: as atrizes Carina Lau (como as prostitutas
Lulu/Mimi - a prostituta mais velha), Ziyi Zhang (como Bai - a prostituta jovem),
Gong Li (como Su Li Zhen – a jogadora de cartas), e Faye Wong (como a filha do
dono do hotel), por quem Chow se apaixona (mas esse amor não se realiza). Todas
vivem e se hospedam no quarto 2046, em frente ao seu.
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de um tempo que já se foi, de um “tempo perdido”.
E Aumont:
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elementos que fazem à imagem e com os quais o espectador se defronta.
(Aumont, 1993, p.136)
10
seguido de movimentos de câmera (recurso que confunde a geografia espacial da
cena) e é escolhido por Kar-Wai, para mostrar primeiro o espaço, para depois
descrevê-lo lentamente, por exemplo, à medida que sublinha os gestos dos
personagens com movimentos de câmera lenta. A descrição do que foi filmado é
mostrado por partes, como se a câmera prolongasse seu tempo, adaptando o cenário a
uma dimensão de espaço distorcido e atemporal, o que pode ser visto na cena no
início do filme, em que Chow (ainda em Singapura) e Su Li-Zhen estão a decidir seus
destinos num bar.
Aumont (1993, p. 154) nos fala de outros tipos de enquadramento que gostaria
de citar: “O superenquadramento (o quadro dentro do quadro, criação de centros
visuais) e reenquadramento (movimento do quadro que prioriza um
sujeito/personagem)”. Técnicas que Kar-Wai também utiliza muito em 2046, através
de espelhos, janelas, paredes, portas, cortinas etc. Ilustro abaixo como exemplo a cena
em que Chow está jantando num restaurante com a filha do dono do hotel.
O figurino “anos 60”, feito por William Chang (que fez também a montagem
do filme), objetiva exaltar a beleza e elegância, sobretudo, das mulheres de 2046, uma
beleza ideal, um efeito estético que pretende quase esculturá-las - exemplo ilustrado
abaixo num momento em que a jovem prostituta está sozinha no seu quarto do hotel e
em outro momento em que ela está com Chow, também no quarto do hotel (o corpo
da moça parece uma escultura).
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Fotos exemplo do recurso: oposição entre a superfície e profundidade de campo
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que ele crê ser Su Li-Zhen, sua antiga amada (lamentando tê-la perdido). Porém, Su
Li-Zhen foi sua paixão no filme Amor à flor da pele, e não em 2046.
Kar-Wai na entrevista, dada por ele ao site já citado nesse ensaio, declara que
o cinema permite jogar com o tempo: passado, presente e futuro, e ele faz, a meu ver,
bom proveito desse recurso em seus filmes. Vejamos um conceito que tem a ver com
esse assunto: as “imagens-lembrança”, conceito criado por Bergson e citado por
Deleuze, a relação da imagem atual com a imagem-lembrança cria um circuito
fechado que vai do presente ao passado, mas que depois nos traz de volta ao presente
(Deleuze, Apud Bergson, 1990, p.63). Essa relação elaborada através do flashback em
2046 ilustra bem esse isso, através das “imagens-lembrança” dos personagens.
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enquadramento como um gesto criador” (Aumont, 2004, p.224).
O cineasta chinês tem outras influências: como o uso expressivo da cor do
cineasta japonês Yasujiro Ozu10. Também se inspira, ao construir a temática de 2046
na impossibilidade do amor, no desencanto existencial e na melancolia fílmica do
cineasta italiano Michelangelo Antonioni (conhecido como cineasta da
incomunicabilidade). Antonioni, muito cuidadoso com a beleza visual de suas
imagens, inovou muito o cinema italiano. Fez filmes dos anos 50 até recentemente,
pouco antes de falecer, em julho 2008.
Vamos a questão da mise-en-scène. Com origem no teatro, esse termo
significa encenação, a forma de dispor a entrada e saída dos personagens no espaço do
quadro, de organizar e equilibrar os objetos, a escolha dos movimentos de câmera e
enquadramentos, ou seja, os meios pelos quais um cineasta imprime sua “marca”, sua
singularidade, o estilo de seus filmes.
Há em 2046 uma coerência de estilo de Kar-Wai, vista já anteriormente em
outros de seus filmes: Amores expressos e Amor à flor da pele, como a duração dos
planos alongada, efeitos de câmera lenta (que magnificam e solenizam os gestos e os
trajetos dos personagens) e o uso lacunar do plano (que enquadra o/s personagem/ns
deixando espaços vazios dentro do quadro). O valor do plano para Kar-Wai nunca é
somente um sintagma11 (Metz, 2006, p.147), que se junta a outros planos no
desenvolvimento da narrativa, é também um fluxo de outras imagens, de lembranças,
do que já se passou em outros filmes seus, é um eco que se repercute dentro do tempo
de 2046, do tempo infinito e rico de seu cinema. Wong Kar-Wai constrói muito de
seus filmes jogando com efeitos de oposição, com os planos largos, e na gestualidade
dos corpos, dos personagens, ou seja, na montagem. A importância do estatuto do
plano para Kar-Wai pode ser visto, por exemplo, na cena descrita abaixo. Na
separação entre Chow e jogadora de cartas, no final do filme, vimos eles se
despedindo, ele parte em direção à direita, ela fica e começa a chorar apoiada contra o
muro, com a face em parte escondida como numa cumplicidade instintiva com a
superfície do muro, onde ali encontra a sustentação que lhe falta. Vemos de novo a
imagem de Chow indo embora pela direita; e ela pela esquerda. A posição e direção
dos gestos e dos olhares dos atores são pensados para dar sentido à separação, são
focados separadamente nos rostos; e em câmera lenta. Esse plano faz eco a outros
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planos de 2046, criando assim e completando a atmosfera da cena da separação do
casal.
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nova reconfiguração espaço-temporal da narrativa em 2046. Obtida por meio da
“imagem-tempo direta” que possibilita ao espectador uma dimensão proustiana,
dimensão na qual objetos e personagens ocupam no tempo um lugar incomensurável
ao que tem no espaço (Deleuze, 1985, p.53). No cinema moderno, completa Deleuze:
“a imagem-tempo tornou-se direta tanto quanto o tempo descobriu novos aspectos por
essência e não por acidente, quanto à montagem ganhou novo sentido” (1985, p.322).
Nesse sentido, Kar-Wai nos traz uma configuração do cinema contemporâneo,
ou, se quiserem, pós-moderno, com uma poesia imagética, uma poesia do detalhe,
podemos, portanto, perceber através do que vemos na tela de 2046 e do que
descrevemos nessa análise, uma configuração rica em elementos artísticos, de
vanguarda - numa tentativa de criar novos significados da imagem.
Em sua busca constante em valorizar a forma, Kar-Wai usa, como já citei,
elementos da arte pictórica (cores fortes, nuances, contrastes) visando melhor
trabalhar a plasticidade e causar mais emoção com suas imagens - dessa maneira, “o
fílmico quis absorver também o pictórico” (Aumont, 2004, p.168). O diretor
potencializa, todos esses recursos visuais, a direção de arte, para narrar histórias de
amor em 2046 (que nunca se concretizam, que não avançam); que ecoam na
sensualidade dos movimentos dos personagens e nos movimentos e ângulos de
câmera, que operam no filme uma temporalização da imagem.
De acordo com Aumont (1993, p.160) “as imagens temporalizadas se
modificam ao longo do tempo, pelo efeito do dispositivo que as produz e apresenta”.
Um exemplo de temporalização da imagem pode ser visualizado abaixo na cena em
que a filha do dono do hotel está fumando e é prolongado, alongado o tempo do
levantar do seu cigarro; cortando posteriormente para um rápido desvio de olhar do
protagonista-Chow, que a observava.
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A narrativa de 2046 é reforçada por uma imagem diacrônica, como diz Metz
(2006), uma imagem que transita em vários tempos: passado, presente e futuro. E pela
concepção espacial representada no filme de forma fragmentada, como numa
memória afetiva (como relatos de um diário), e em ambientes internos de dimensões
limitadas. Ambientes – espaços, os quais se desenrolam as cenas em que nos são
apresentadas e concluídas no filme, na reflexão dessa obra de arte: 2046 - os
segredos do amor.
O diretor faz, portanto, uso de diversos recursos para criar impacto visual do
filme, chamando com isso a atenção para a superfície da tela, o que também se
confirma pela sua escolha do formato scope para fortalecer a narrativa intimista do
filme. O trabalho plástico como já foi caracterizado, os elementos visuais da
composição imagética e sua significação no filme em questão cultuam a imagem, e
mesmo assim não é excessivo nem redundante, porque não se submete apenas à
narrativa e nem é apenas decorativo.
Além do seu desejo em exprimir o belo, a estética de Kar-Wai provém de um
pensamento sensorial que quer comunicar seus sentimentos e dos seus personagens
através das imagens. Como diz Aumont no livro O olho interminável (2004, p.172),
“só um cinema não narrativo, uma cinetização da pintura pode ter por categorias
formais, valores puramente plásticos, tais como a pintura os conhece”.
E Kar-Wai pertence a esse cinema citado por Aumont, que valoriza a forma,
pertence a um regime estético pós-moderno, e isso podemos ver nas composições e na
forma que ele cria seus filmes. Sua preocupação não é de retransmitir uma conjuntura
existente como no cinema clássico (em que a linearidade da narrativa se destaca e que
a importância desse tipo de cinema está na história) ou de uma escola específica, mas
de recriar o cinema a partir de outras artes e da sua própria; de criar o seu sistema, sua
estética. O cinema de Kar-Wai prima pela forma como domínio vivo, pelo culto dos
valores plásticos. Ele não está dentro da lógica da representação canônica (que só
pode existir em virtude de convenções, regras dadas), mas da sensação e de uma
possibilidade de criar, inovar. Tornar visível essa diferença, que traz a sua
expressividade cinematográfica. É afirmar que o cinema ainda não deu tudo, que não
pode partir somente de convenções e que pode sempre dar mais.
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Aumont (1993) citando Gombrich (1974) nos diz que a expressividade da obra
de arte não pode estar contida na obra como dado e que está principalmente
extrínseca. Diante disso, percebe-se que Kar-Wai busca expressar em 2046,
significados que estão não só dentro do filme em si, mas entremeado por outras
influências culturais, artísticas, estéticas, por sinal bem equilibradas.
4. Palavras Findas
A idéia de construir, de escrever esse artigo partiu de uma reflexão que levasse
em conta a expressividade estética de Wong-Kar-Wai, do filme 2046, a partir dos
conceitos dos teóricos do cinema, que utilizamos ao longo dessa análise fílmico-
estética. Esperamos ter demonstrado o que propomos – investigar as escolhas estéticas
desse realizador chinês, e como ele transforma seu filme em vestígio do seu gesto, do
seu estilo, através dos elementos visuais e formais (tais como enquadramento,
composição, iluminação, fotografia, cenário, figurino etc.). E claro, como diz Vanoye
e Goliot-Lété (1994), a atitude, interpretação e produção de sentido fílmico depende
de cada analista. No cinema desse diretor a própria imagem já é uma narrativa em si, e
esse é um conceito que Deleuze defende no seu livro A Imagem-Tempo (1990).
Ao longo desse ensaio, pude perceber como o realizador Wong Kar-Wai cria o
universo estético do seu filme 2046, a bela história de amor dos personagens, seres
errantes, nômades, que alimentam em seus corações ideais de amor que talvez nem os
cabe, que alimentam lembranças afetivas infindas, de um tempo que já se foi e de
sentimentos que emergem irrompendo os limites do quadro fílmico. Diz Vanoye e
Goliot-Lété: “Analisar um filme é também situá-lo num contexto, numa história. E, se
considerarmos o cinema como arte, é situar o filme em uma história das formas
fílmicas. Assim como os romances, as obras pictóricas ou musicais, os filmes
inscrevem-se em correntes, em tendências e até em escolas estéticas, ou nelas se
inspiram a posteriori” (1994, p.23).
O cinema desse realizador de Hong Kong, é um cinema de arte, seu estilo, é
permeado de referências estéticas, e estas referências estão agregadas à forma em que
ele constrói o filme 2046 – os segredos do amor.
Para findar, gostaria de trazer uma citação de Wong Kar-Wai em seu filme
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2046: “Quando a peônia floresce, fica alta e então se vai, ela quer dizer sim ou não?”
Essa frase foi usada pelo diretor no final do filme (a peônia é uma flor delicada que
precisa de muito cuidado). Nesse sentido, Kar-Wai, um cineasta que prima e cultua a
imagem, dá sentido à beleza de suas imagens e compõe os quadros dos seus filmes a
partir do seu gosto pessoal, de suas referências artísticas, do seu encanto pelo estético.
REFERÊNCIAS
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Filme: 2046 – os segredos do amor - Título Original: 2046
Gênero: Romance, Duração: 127 minutos
Paises/Ano de Lançamento (China / Hong Kong / França/ Alemanha): 2004
Site Oficial: www.sonyclassics.com/2046
Estúdios: Columbia Pictures Corporation / Block 2 Pictures Inc. / Jet Tone Films /
Classic S.r.l. / China Film Co-Production Corporation / Fortissimo Film / France 3
Cinéma / Orly Films / Paradis Films / Shanghai Film Studios / Zweites Deutsches
Fernshen / arte France Cinéma
Distribuidores: 20th Century Fox / Buena Vista International / Sony Pictures Classics
Roteiro, Produção e Direção: Wong Kar-Wai.
Música: Peer Raben e Shigeru Umebayashi
Fotografia: Christopher Doyle, Lai Yiu-Fai e Kwan Pung-Leung
Desenho de Produção, Figurino e Edição/montagem: William Chang
Direção de Arte: Alfred Yau Wai Ming
Efeitos Especiais: BUF Compagnie
Elenco: Tony Leung Chiu Wai - Mo Wan Chow (protagonista), Gong Li (Su Li Zhen),
Kimura Takuya (Tak), Wong Faye (Wang Jing Wen), Zhang Ziyi (Bai Ling), Carina
Lau (Lulu / Mimi), Sum Wang (Sr. Wang), Siu Ping Lam (Ah Ping), Maggie Cheung,
Chang Chen.
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