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Fantasia de carnaval: Aonde acaba a “brincadeira”?

Carnaval: Realidade ou fantasia?


Quando personificamos o carnaval é comum que nossa mente nos remeta à uma
multidão de pessoas cobertas de confete e serpentina, que finalmente se sentem livres
para banhar-se de glitter em plena luz do dia, usar poucas roupas, em sua maioria
despojadas, ou fantasiar-se de forma caprichada, demandando uma dedicação de dias
ou até meses, rir à toa, entoar marchinhas, axés e/ou dançar frevo até o solado do
sapato cair – literalmente, às vezes.
Todavia, se partimos para uma visão mais detalhada, quase microscópica em meio à
multitude, enxergamos mulheres sofrendo assédio e tendo como justificativa de tal ato
sua pouca roupa e uma quantidade numerosa de pessoas fantasiadas de minorias
representativas. Exemplos muito comuns são homens e mulheres brancos usando seus
lindos e enormes cocares artificiais, homens vestidos de “nega maluca” que em suma
só é vista de forma cômica porque remete à duas partes que são renegadas ao longo
de quase 365 dias por apenas alguns reais: as travestis e os negros.
As marchinhas entoadas têm temas variados, mas duas das mais conhecidas
são: a que fala sobre a cabeleira de um tal Zezé e associa isso à uma dúvida sobre sua
sexualidade e a que nos narra a história de Maria “sapatão”, que de dia é Maria e de
noite é João, relatando de forma rasa o que se observa de uma mulher possivelmente
lésbica.
Por anos a fio o carnaval foi conhecido como a festa que tudo podia, lugar onde a
liberdade era o tema principal, e hoje podemos constatar que ser livre não é sinônimo
de invadir o espaço alheio, tampouco de agredir – de forma direta ou indireta – corpos,
profissões, culturas e/ou condições sexuais.
É entendível que haja um questionamento, por muitos visto como repentino, acerca de
tanta problematização e militância, e mais entendível ainda é a resposta a esse
questionamento. Ao fantasiar-se de indígena é assumido que o índio é parte do nosso
folclore, do nosso imaginativo talvez, e isso é falso. Índios são os verdadeiros
descobridores do Brasil e o reconhecimento que recebem é serem explorados
economicamente, sexualmente e culturalmente até a atualidade. Contudo, ao chegar
em meados de fevereiro ou início de março, como é o caso de 2019, esse povo é
lembrado por utilizar pouca ou nenhuma roupa - das que o homem branco trouxe para
nossas terras- e o maior símbolo representante de sua hierarquia enquanto comunidade
vira adorno de cabeça para muitos, inclusive para loiros de olhos azuis, os quais
descendem diretamente daqueles que são responsáveis por todo o desrespeito
disseminado durante o resto do ano.

As questões de gênero e sexualidade também recebem grandes golpes durante


essa festa que exala alegria, amor e fantasias. Para um primeiro exercício de reflexão
sobre o assunto, ao ouvirmos a expressão “nega maluca” é possível que todos
tenhamos uma imagem de um homem (normalmente de pele clara) com um vestido
curto, uma peruca que representa o cabelo crespo, lábios vermelhos e avantajados com
a ajuda de uma maquiagem de gosto duvidoso, enchimentos que representam seios
grandes, quadris fartos, nádegas enormes e uma pele pintada de preto ou marrom muito
escuro. Agora passemos àquela visão microscópica citada no início deste artigo.
Durante todo o ano –inclusive no carnaval- corpos negros são agredidos, deitados de
forma brutal, e apesar de serem maioria populacional, são minoria representativa a
ponto de as pessoas não saberem que na verdade não se pode ser neto ou filho de
escravos porque escravos não representam uma nação, nunca existiu no mapa um país
ou continente que originasse escravos, o que ocorreu de fato é que alguns povos foram
escravizados e no Brasil, infelizmente, ainda são. Para além dessa questão, a fantasia
de nega maluca nos faz questionar o paradoxo da hipersexualização do povo negro,
quando os enchimentos da fantasia são exagerados e nos mostram que aos olhos do
senhor feudal as mulheres negras servem sim para alguma coisa, está claro. A última
camada de problemas, se assim podemos chamar, é quando a sociedade aceita que
homens se vistam de mulheres para que isso sirva de escárnio, e em contrapartida, o
Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, perdendo inclusive para
a Arábia Saudita, onde a homossexualidade é criminalizada e lá não tem carnaval.
Depois de debater todos esses pontos, podemos pensar “Como um país tão
incompreensivo com sua própria cultura está caminhando para o avanço? ”e a
explicação é simples, o acesso à internet deu voz e evidência à pessoas como o atual
presidente e seus verdadeiros adoradores, entretanto, também deu voz à uma
resistência constituída por negros que foram invisibilizados durante séculos, à
população indígena que agora consegue denunciar o verdadeiro genocídio que ocorre,
e à população LGBTQ+ que luta diariamente na tentativa de sobrevivência em um país,
sobretudo, machista. Estas pessoas nos lembram a todo momento que o outro lado
existe, e que a festa que movimenta milhões -quiçá bilhões- de reais pode sim ser
divertida, aproveitada ao máximo e mesmo assim não enxovalhar nada nem ninguém.
A brincadeira existente na festa profana deve acabar quando questões culturais,
raciais, de gênero e sexualidade forem abordadas de forma desrespeitosa, violenta e
maldosa durante todo o ano e externadas em 4 dias e meio de muita folia e falta de
noção. É possível se colocar no lugar destas pessoas quando pensamos no absurdo
que seria ver alguém se fantasiando de um parente nosso que foi assassinado
brutalmente pelo simples fato de existir. Estamos em constante avanço quando
colocamos em discussão tais assuntos e o progresso é visível quando grandes veículos
de comunicação passam a dar “dicas” de como não transformar o sofrimento real dos
outros em fantasia.

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