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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0068842-57.2015.8.26.0050 e código E1CB28.
DECISÃO
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS ALBERTO CORREA DE ALMEIDA OLIVEIRA, liberado nos autos em 08/11/2018 às 20:17 .
Classe - Assunto Ação Penal - Procedimento Ordinário - Falsificação / Corrupção /
Adulteração / Alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais
Autor: Justiça Pública
Declarante (Passivo) e Réu: DESCONHECIDO IP 188/2015 e outros
Vistos.
É o relatório.
D E C I D O:
Uma questão que sempre suscitou a nossa curiosidade, diz respeito à consideração
de substâncias ou de produtos cuja entrega ao consumo de terceiros possa evidenciar a tipificação
de infrações penais.
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Isso porque, ao lado da preocupação jurídica justa por parte do Estado, seja com o
aspecto da higidez da saúde das pessoas ou ainda como proteção da boa-fé das pessoas, não se
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olvidando casos polêmicos que envolveram a venda de placebos como medicamentos ou ainda
substâncias que fazem mal à saúde, existem questões de natureza popular cuja ação terapêutica não
faz mal à saúde e atua mais na parte psicológica do que na física.
O objeto do estudo é importante, uma vez que as sanções para infrações penais
como ocorre em crimes que tutelam a saúde pública, como é o caso do artigo 273 do Código Penal,
envolvem punições gravíssimas.
Trata-se de uma presunção automática de que aquilo que não está autorizado e que
possua finalidade ou efeitos terapêuticos, por si só, já represente uma infração penal quando
ausente a autorização por órgão responsável.
Tal consideração é fundamental, uma vez que se tratando de crime que tenha como
a objetividade de proteção jurídica a saúde pública, necessária a demonstração do efetivo prejuízo,
o que não pode presumir apenas pela inadequação administrativa da entrega do bem para o
consumo.
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natureza diversa da penal, o que pode levar a uma falsa tipicidade se a objetividade jurídica não for
investigada tanto na norma penal como na norma complementar.
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Essa tipicidade penal aparente ocorre nos casos que envolvem normas penais em
branco, mais precisamente aquelas que necessitam de outras normas de natureza diversa para a
complementação e com isso estabelecer a tipicidade de uma conduta, como também em outros
casos cujo elemento do tipo penal “fins terapêuticos” dependa de uma interpretação.
Diz-se aparente, uma vez que parece que existe a tipicidade necessária para a
existência da infração penal, mas de fato ela não existe, uma vez que não se verifica a violação da
objetividade jurídica da norma penal ou ainda não há adequação entre a objetividade jurídica da
norma penal e da norma complementar.
Tais normas de natureza mista, como são os casos das determinações de órgãos
como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com o estabelecimento de direitos e
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de obrigações, possuem uma objetividade administrativa que está ligada a ordenação e controle
administrativo de atividades, produtos etc., como também uma objetividade jurídica de proteger a
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saúde pública.
Logo, não basta que a conduta do indigitado infrator penal viole as posturas
eminentemente administrativas da ANVISA, necessário que se demonstre que a conduta representa
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risco real para a saúde ou para a boa-fé do consumidor para existir o crime imputado.
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Obviamente, não deixamos de considerar o fato de que alguns questionarão tal
posicionamento ao alegarem que não é isso que se apreende da leitura do artigo 273, § 1º-B do
Código Penal.
Todavia, não podemos esquecer que a interpretação literal de uma norma jurídica
não representa a melhor forma de interpretação normativa dentro de um sistema jurídico.
Tal distinção é importante para que não haja a falsa tipificação de crime, o que
representa algo mais grave do que uma infração meramente administrativa e com consequências
mais graves por parte do Estado contra o violador da norma.
Importante mencionar que o Direito Penal e a sua ação dentro do sistema jurídico,
mormente em casos como normas penais em branco, deve ser reservado para casos em que haja a
efetiva violação da objetividade jurídica e não apenas de norma administrativa que representa
menus com relação ao outro.
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Não são devidas custas processuais, arquive-se oportunamente.
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P.R.I.C.
(Assinatura digital)
CARLOS ALBERTO CORRÊA DE ALMEIDA OLIVEIRA
Juiz de Direito