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ISSN 1646-6977
Documento publicado em 01.04.2018
2017
E-mail de contato:
taianeventura@hotmail.com
RESUMO
Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA (2017), câncer é o nome dado a um conjunto
de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que
invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Já se
sabe que quando o corpo adoece incrementa-se um sofrimento psíquico que, por vezes, pode ser
somente uma resposta normal a um acontecimento catastrófico e inesperado. Porém, outras vezes
é observada uma exacerbação desse sofrimento que poderá, inclusive, agravar o quadro ou
dificultar a recuperação. No caso de crianças com câncer o adoecimento e a hospitalização
provocam experiências intensas e complexas que exigem a mobilização de recursos internos para
a adaptação necessária à situação atual, recursos esses dos quais, muitas vezes, a criança ainda não
dispõe devido ao seu grau de maturação . Com isto, o presente artigo objetiva compreender o
sentimento de crianças portadoras de câncer e as formas de enfrentamento da doença que as
mesmas criam através de intervenções lúdicas. Para tal, foi realizado um estudo de natureza
exploratória que teve como referencial a abordagem qualitativa, utilizando-se obras de referência
e artigos indexados na base de dados SciELO.
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This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0.
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INTRODUÇÃO
Segundo Carvalho e Viet (2008), a psico-oncologia pediátrica é uma área de conhecime nto
da Psicologia da Saúde que estuda a influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento e
manifestação do câncer infantil, além de estar aplicada aos cuidados com o paciente portador de
câncer, sua família e os profissionais envolvidos no seu tratamento.
grupo social, o que não deixa de representar uma forma de morte (TORRES,
1999; KOVÁCS, 1992 apud ALMEIDA, 2005, p.150).
Alguns dos sentimentos da criança que surgem nesse novo contexto estão relacionados ao
impedimento de fazer algo que gosta, se atrelando à angustia, afastamento do seu círculo social de
origem, ameaça e insegurança que impactará no seu tratamento. Como auxílio de enfrentame nto,
as atividades lúdicas aparecem propiciando uma forma espontânea de expressar sentimentos e
desejos, estimulando a adesão ao tratamento, minimizando as condições negativas impostas pela
hospitalização e favorecendo a comunicação com os envolvidos no processo.
É possível então perceber que durante seu desenvolvimento, a criança explora e interage com
o meio de forma contínua e recíproca, com isso torna-se necessário a criação de vias que facilite m
a adaptação da criança nesse novo contexto em que ela se encontra inserida. Segundo Zannon
(1991), é relevante o enfoque no desenvolvimento de repertórios comportamentais e a relação
funcional entre organismo e ambiente. Sendo assim, as atividades lúdicas aparecem como
repertórios que podem representar o estabelecimento de respostas de adesão ao tratamento,
comportamentos colaborativos ou a participação ativa dessa criança em processo de tomadas de
decisão.
OBJETIVO
MÉTODO
RESULTADOS
Durante o levantamento bibliográfico foi possível notar uma larga convergência quando o
assunto era “câncer infantil”. Na busca de artigos, todos os autores explanaram sobre as
intervenções lúdicas. Na base de dados SciELO foram utilizadas as palavras: “emoção”, “criança
hospitalizada”, “oncologia”, “psico-oncologia”, “brinquedos terapêuticos”, “brincar”, “criança
com câncer”. Foram selecionados somente os artigos que interligavam os três aspectos proposto
nessa pesquisa, a saber: “intervenção câncer infantil”.
Os capítulos de livros foram vinculados ao estudo após análise dos artigos e visto a
necessidade de buscar as obras base. Nesse sentido não foi delimitado o ano de publicação dos
livros, visto que, devido o conteúdo consistente, se tornaram obras indispensável para quem quer
trabalhar com a temática. Os 4 livros selecionados dataram 1991; 1996; 2004; 2008. E os capítulos
foram selecionados assim que identificado estreita relação com o tema proposto.
A metodologia das publicações que foram consultadas confluiu para estudos qualitativos
com elucidações empíricas e pesquisas teóricas. Com as pesquisas empíricas procurou-se legitimar
os achados teóricos fruto de pesquisas observacional.
DISCUSSÃO
Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA (2017), câncer é o nome dado a um conjunto
de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que
invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.
Multiplicando-se aceleradamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláve is,
ocasionando o desenvolvimento de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias
malignas. Em contrapartida, um tumor benigno demonstra apenas uma massa localizada de células
que se multiplicam lentamente e se equiparam ao seu tecido original, raramente constituindo um
risco de vida.
Psico-oncologia
De acordo com os autores, esses conhecimentos técnicos e teóricos, produzido pela interface
entre a psicologia e a oncologia, voltam-se para:
Sendo o câncer uma doença grave que gera no portador e em seus familiares diversas reações
emocionais impactantes para o tratamento, sente-se a necessidade desse profissional especialista
em oncologia, que saiba lidar com essas reações provocadas pela enfermidade, auxiliando na
aquisição de comportamentos facilitadores no enfrentamento desta doença, como baixos níveis de
ansiedade e estresse, administração de situações que podem desencadear quadros depressivos e
manejo de situações limite com pacientes, familiares e/ou cuidadores e quando necessário assistir
a equipe multiprofissional para total adesão do paciente.
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deve ser considerada criança toda pessoa
até doze anos de idade incompletos. É imprescindível pensar nessa delimitação de faixa etária para
fins de melhor compreensão do objeto estudado. E apesar de todas as variações que a idade da
criança vai exercer no planejamento e execução da intervenções proposta pelos profissiona is de
saúde, o artigo irá abarcar a temática de maneira geral, tendo como recorte apenas a idade máxima
estabelecida pelo ECA para demarcação dessa fase.
Uma dinâmica muito comum entre os familiares é a conspiração de silêncio. Com o intuito
de proteger os pequenos inicia-se no seio familiar um conluio com objetivo de esconde da criança
o seu diagnóstico. Essa situação em nada favorece a recuperação dos pequenos, ao contrário,
funciona como exacerbador de fantasias disfuncionais, mobilizando sentimentos desproporcionais
e irracionais de medo e insegurança. É importante que a criança seja informada sobre seu
diagnóstico de forma franca e adequada ao seu grau de maturação. O conhecimento favorece a
compreensão, o sentimento de confiança, dissipa fantasmas disfuncionais e corrobora com
comportamentos colaborativos.
O choque da neoplasia infantil também é sentido pelo sistema familiar. Quando a doença se
instaura há uma necessidade da família se reorganizar para voltar a responder de forma adequada
à situação indesejada. Se essa família não consegue se reestruturar voltando a responder de maneira
apropriada no controle de ansiedade e solução do problema inaugura-se uma crise resultando na
negação ou neutralização do problema, levando a uma desorganização que agravará a situação de
hospitalização.
Mudanças e constantes adaptações são necessárias para desempenhar o novo papel que o
adoecimento impôs. A rotina será constantemente alterada, as decisões que determinará a
vida/morte da criança serão delegadas aos pais, os irmãos saudáveis frequentemente serão
negligenciados em detrimento da urgência de cuidar do filho doente, porém essa negligê nc ia
acarreta a exacerbação de sentimento de culpa e impotência no cuidador responsável. Os filhos
sadios poderão apresentar sentimento de culpa e rejeição, manifestações psicossomáticas,
problemas escolares, etc. É necessário que o psicólogo interfira nessa relação não funcio na l,
intervindo com trabalho psicoeducativo de orientação. Informar a importância de contar sempre a
verdade aos outros filhos é uma maneira eficaz de desmitificar fantasias de abandono criadas pelos
filhos saudáveis.
A relação da díade mãe e pai também será afetada. Estudos indicam que quando o casal
encontra-se fragilizado a erupção de uma doença acaba influenciando de forma negativa essa
relação, possivelmente acarretando comportamentos de retaliação e culminando na separação. Em
contrapartida, se o casal encontra-se fortalecido há uma aproximação dessa díade em prol da
recuperação do filho doente. Esses estudos não são, de forma alguma, conclusivos, visto que a
“desestruturação familiar causada pelo diagnóstico de câncer infantil é inevitável, mas a forma
como cada membro da família irá reagir será singular, não havendo padrões de comportamento
ainda que estes possam ser previsíveis” (CARDOSO, 2007).
Intervenção
psicológica é promover a capacidade de lidar com eventos, antecipá-los e entender seus objetivos,
seu significado e finalidade, além de explicar o que ainda não está claro.
As atividades em grupo também são recursos que devem ser considerados, pelo profissio na l,
sempre que não haja impedimento orgânico (baixa imunidade, fraqueza, etc.) do paciente
pediátrico. Estudos indicam que o enfrentamento é favorecido por esse recurso, diminuindo,
inclusive, o isolamento social proveniente da enfermidade. Além de auxiliar na ressignificação da
situação atual imposta pela hospitalização e fornecer informações importantes ao profissio na l
referente a compreensão que a criança possui da sua doença. Já se sabe que indivíduos que detêm
informações sobre situações potencialmente aversivas ou ansiogênicas experimentam níveis mais
baixos de disfunções emocionais.
Com o propósito de compreender melhor quais sentimentos estão envolvidos nessa nova
condição de moléstia, o psicólogo poderá se apropriar de recursos que facilite seu entendime nto.
Atualmente diversos recursos são utilizados para tal finalidade, entre eles, o baralho das emoções.
Composto por cartas com desenhos que expressam diversas emoções, essa atividade é um
importante aliado na identificação das emoções, uma vez que facilitará a nomeação dos
sentimentos experimentado pela criança hospitalizada. É importante salientar que este recurso
deverá ser adaptado a realidade hospitalar, respeitando as medidas de seguranças necessárias desse
contexto. O psicoterapeuta poderá solicitar que o participante escolha a carta que representa sua
emoção atual e a expresse através de teatro ou palavras, sendo possível, também, outras formas de
manuseio a critério da criatividade do profissional.
É importante proporcionar espaços em que a criança possa expressar sua emoção dentro do
contexto hospitalar. Especialmente nesse ambiente, originalmente, regulador que fomenta a
repressão dos sentimentos buscando tamponar qualquer ruído que revele o insuportável do
adoecimento. Logo, a psicologia deve caminhar na contramão da lógica biomédica e promover
um ambiente onde a criança não seja silenciada, ignorada e invalidada. O grito, os choros e os
comportamentos de “birra” são aqui defendidos como uma construção psicológica complexa que
traduz as repercussões suscitadas pelo ambiente hostil ao qual ela foi submetida.
não são dois processos separados entre si mas, essencialmente, o mesmo processo,
e "[...] estamos autorizados a considerar fantasia como expressão central da reação
emocional"... Mas o contrário também é verdadeiro; a fantasia influencia os
sentimentos, pois toda representação criadora encerra em si elementos afetivos.
Ao ler uma história, imaginar algo, imediatamente experimentamos sentimentos
que emergem da nossa imaginação (VYGOTSKI, 1999 apud SAWAIA e SILVA,
2015).
CONCLUSÃO
O câncer irrompe na vida da criança como algo do inesperado, devido a fase na qual se
encontra estar constantemente associada a vida e a saúde. Esse mecanismo pode inviabilizar o
tratamento, tendo em vista que atitudes de negação ou neutralização do problema podem ser
utilizadas pelos cuidadores, postergando o tratamento e consequentemente diminuindo as chances
de cura. Os profissionais de saúde, em especial o psicólogo, deverá estar atento a essa dinâmica e
utilizar de recursos como a psicoeducação – entre outros – para contornar esses comportamentos
disfuncionais.
É importante ressaltar que essa necessidade de tamponar o assunto morte não é típico do
adoecimento infantil, sendo, na verdade, uma herança transgeracional. Uma forma de defesa
primitiva que reprime e censura todo contato evidente com a possibilidade de aniquilame nto.
Como a doença aparece como possibilidade real de finitude, os sentimentos a ela associados são
extremamente mobilizadores e capazes de fazer surgir crises significativas que culminará em
diversos transtornos, vivenciados tanto pela família quanto pelo portador da enfermidade.
Ao longo da história o brincar vem sendo compreendido por diversos estudiosos da área
como potencializador de diversas habilidades, destituindo o lugar declarado pelo senso comum
onde a brincadeira é percebida apenas como recreação. É cientificamente comprovado que crianças
sadias se beneficiam com a brincadeira incorporando em seu comportamento habilidades como: o
desenvolvimento da percepção corporal, temporal, equilíbrio, desenvolvimento do pensamento
abstrato, internalização de regras, etc. Não seria diferente com os pacientes pediátricos que apesar
de obterem ganhos mais modestos, devido as repercussões frente ao adoecimento, ainda assim
serão extremamente beneficiados com o uso desse método. Portanto, conclui-se que é impossíve l
dissociar as intervenções do psicólogo hospitalar das atividades lúdicas quando o assunto é
infância.
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