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Abel Barros Baptista O Livro Agreste Editora Unicamp 2005 2 O CANONE COMO FORMAGAO A TEORIA DA LITERATURA BRASILEIRA DE ANTONIO CANDIDO! © cardter luso-brasileiro do conhecido fosso que separa as duas litera- turas — ou seja, o fato de ser cavado pela exclusdo reciproca — fica muito bem ilustrado pelo nome de Antonio Candido. Por um lado, ¢ imposs{vel um sujeito aproximar-se da literatura brasileira sem que de imediato depare com ele, desde logo, na mais influente teoria da literatura brasileira, exposta na obra Formagéo da Literatura brasileira (1959); depois, a assinar ensaios sobre quase to- dos os escritores deci: tudo a que se configurou na base do movimento modernista de 22; vamos encontrd-lo constantemente citado, ora como referéncia, ora vos da literatura brasileira novecentista, sobre- como abonagao, ¢ constantemente mencionado a titulo de “mestre”, “critico de referéncia”, “o maior ensafsta brasileiro”, “o nosso mais im- portante critico literdtio”; e vamos, enfim, encontré-lo também no uso recorrente de certo vocabulério que forjou, sem mengio de autor ou até ignorando-o: “formagao” da literatura brasileira (ou da “leitura”, ou do “leitor”, ou da “classe operdria”...), “nosso sistema literdrio” ou “ma- nifestagées literdrias” so exemplos de expressGes singulares da teoria candidiana, entretanto tornadas lugares-comuns da critica literdria bra- sileira. Acresce que a reputago de Antonio Candido ultrapassa o cfr- culo especializado dos estudos literdrios, afirmando-se também en- quanto exemplo de “conexao entre valores estéticos, éticos e polfticos”, nesse campo muito geral ora eufemisticamente chamado “empenha- mento clvico”, ora dramaticamente designado “luta politica”. Perce- Al Abel Barros Baptista be-se assim 0 escandalo das declaragées, por ocasido da atribuigao do dito prémio Camées, de certos intelectuais ¢ professores portugueses, quando, em toda a inocéncia, deixaram perceber que nunca se lhes tinha deparado antes o nome “Antonio Candido”. Por outro lado, Antonio Candido tem escassa ou até nenhuma relagdo critica com a literatura e a cultura portuguesa. Na sua imensa bibliografia, ndo se encontra sendo um ensaio de matéria portuguesa, dedicado a Ega de Queirés? — salvo erro, ¢ salvo também aqueles textos portugueses, anteriores & Independéncia do Brasil, que abor- da na perspectiva da “formagio da literatura brasileira”, Sendo de- certo um grande critico, trata-se de um grande cr{tico para quem a literatura portuguesa se tornou assunto do passado: como se a teoria da “formacao da literatura brasileira”, constituindo-se, removesse a literatura portuguesa do campo da sua atividade, exclusao paciffica ¢ trangiiila, sem necessidade de mais argumento ou justificago. Com Antonio Candido, passar-se-ia, assim — e a correspondéncia é a todos os tftulos decisiva, ilustrando o lugar histérico do seu trabalho —, 0 que ele préprio, num “panorama para estrangeiros”, definiu como a diferenga entre o Romantismo e o movimento modernista no Brasil: “enquanto o primeiro procura superar a influéncia portuguesa e afir- mar contra ela a peculiaridade literdéria do Brasil, o segundo ja des- conhece Portugal, pura e simplesmente”.} A analogia é mais pertinente do que injusta. Injusta, sem dtivida: Candido nao desconhece, muito menos “pura e simplesmente”, a li- teratura portuguesa, e qualquer freqiientador ass{duo do seu ensafsmo o percebe sem mais dificuldade. S6 que 0 mesmo se poderia dizer, ¢ é esse 0 ponto, do Modernismo brasileiro de 22. “Desconhece” Portugal? E “pura e simplesmente”? Nada custa provar que o verbo é inadequado e ambos os advérbios excessivos, para dizer 0 minimo, e por isso a for- mulago resulta falsa.‘ Mas também ela mais pertinente do que fal- sa: € que nao podia ser mais exata quando escrita por Antonio Can- dido. Se Mario de Andrade, em carta a Drummond, 0 censura por escrever “o poeta chega & estagao” em vez de “o poeta chega na esta- gio” s6 porque “Portugal paisinho desimportante para nés diz as- sim”,? no est4 a ignorar Portugal nem pura nem simplesmente:° po- rém, em larga medida, a complicagao de tal censura decorre da fina- lidade, que animava o Modernismo de 22 ¢ era naquela particular 42

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