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DE
INTRODUÇÃO À
HERMENÊUTICA
SANTOS
2016
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ÍNDICE
CAPÍTULO 1
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ESTUDOS PRÉVIOS SOBRE LINGUAGEM
a) Introdução
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- como conceito geral : qualquer técnica considerada capaz de fornecer
informações sobre um objeto
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- L I V R O é o suporte físico – no caso, um conjunto de signos gráficos (letras)
- a significação, por sua vez, será aquilo que a palavra “livro”, a lembrança que me
desperta, como, por exemplo, a imagem do livro que eu tenha lido e gostado muito
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BARROS CARVALHO, Paulo de. Língua e Linguagem – Signos Lingüísticos – Funções, formas e tipos de
linguagem – Hierarquia de linguagens. In apostila do curso de Filosofia do Direito I(lógica jurídica) no
programa de mestrado em direito da PUC/SP, 2o semestre de 2002
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e) Enunciado e proposição
Exemplifiquemos:
f) Conceito e definição
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Para melhor clarearmos referida diferença, voltamos a citar
Ricardo Guibourg para quem se temos um filho, escolheremos para ele um
nome que soe bem, sendo que a nossa escolha não é determinada por
condições próprias de nosso filho e que nos induzem a chamá-lo de João ou de
Manoel, vez que um nome próprio é um produto de pura preferência.
No entanto, no mundo é possível distinguirmos infinitos
indivíduos : homens, baratas, moléculas de hidrogênio, plantas, sendo óbvio
que não é possível pôr nomes próprios a cada um.
CAPÍTULO II
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CONCEITOS DE DIREITO E CIÊNCIA DO DIREITO
a) Direito positivo
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sempre influenciando outros. E como toda interação perturba os indivíduos em
comunicação recíproca, para que a sociedade possa conservar-se é preciso delimitar
a atividade das pessoas que a compõem, mediante normas jurídicas.
Temos, assim, que o direito atua sobre o comportamento
humano intersubjetivo, isto é, as condutas dos seres humanos em relação a outros
seres humanos, sendo o direito positivo o conjunto de normas jurídicas
estabelecidas pelo poder político que se impõem e regulam a vida social de um
dado povo em determinada época.
b) Ciência do direito
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Não é fácil fixar o conceito de filosofia, ante a pluralidade de
significados, sendo que conceituar a filosofia geral, sem dúvida alguma, uma
tomada de posição em relação ao todo pensado em relação à palavra “filosofia”.
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Responderemos através da análise de 2(dois) pontos : a) análise
do que vem a ser “direito” e “norma jurídica” b) Diferenciação entre direito
positivo e ciência do direito.
E complementa o Professor :
E conclui :
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A análise é feita sobre o “direito positivo” e não sobre a “ciência do direito”
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CAVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo : Saraiva,7aedição,atualizada, 1995
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integralidade existencial de uma norma jurídica. Às vezes, os dispositivos de um
diploma definem uma, algumas, mas nem todas as noções necessárias para a
integração do juízo e, ao tentar enuncia-lo verbalmente, expressando a
correspondente proposição, encontramo-lo incompleto, havendo a premência de
consultar outros textos do direito em vigor. “6
- não se pode confundir “lei” (lato sensu) com “norma jurídica”, vez que esta
última tem um caráter mais amplo do que a “lei”, pois a norma jurídica é o
juízo hipotético completo, isto é, o comando completo pretendido pelo
direito positivo, em que se enlaça determinada conseqüência à realização de
um evento, contendo uma previsão abstrata (antecedente da norma) que,
ocorrendo, leva à formação de uma relação jurídica (conseqüente da norma)),
que envolve direitos e deveres das partes (sujeitos da norma), o que, na maior
parte das vezes, não se encontra em uma única “lei”, sendo o cientista do
direito obrigado a recorrer a inúmeras legislações para, compreendendo o
significado de cada elemento contido na disposição legal, poder apontar a
integralidade do comando abstrato.
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Textos extraídos da obra “Curso de Direito Tributário”, de Paulo de Barros Carvalho, editora Saraiva, 7a.
edição atualizada, 1995, pp. 7 e 8
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relação jurídica (ex.: dever de pagar o IPTU e direito do Fisco cobrar o
tributo).
CAPÍTULO III
CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO
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Neste capítulo procuraremos responder à pergunta “o que é a
interpretação ?”.
Interessantíssimo que o estudo da interpretação seja tão exíguo
na ciência do direito. Todos interpretam as leis ou até mesmo a Constituição, mas
pouquíssimos são capazes de afirmar, com bases sólidas, qual o procedimento por
eles utilizado, qual fora a finalidade do procedimento interpretativo e o que se
perseguiu com o trabalho interpretativo. E mais, no trabalho interpretativo, em raras
oportunidades há a reflexão do papel da interpretação na realização do direito.
Não podemos esconder que a nossa preocupação com a
interpretação se tornou efetivamente existente nos estudos que estamos enfrentando
no programa de pós-graduação, inclusive no sentido de podermos hoje afirmar que
“interpretar é realizar o direito”.
A questão que se coloca é em que incide a interpretação, sobre
que objeto incide o trabalho interpretativo. Interpreta-se o “Direito” ou interpreta-se
“enunciados prescritivos” (entendendo-se “enunciados“ como “produto da atividade
psicofísica de enunciação). Apresenta-se como um conjunto de fonemas ou de
grafemas que, obedecendo a regras gramaticais de determinado idioma,
consubstancia a mensagem expedida pelo sujeito emissor para ser recebida pelo
destinatário”).
Importante, nesse ponto, distinguirmos o Direito e as Leis
(enunciados prescritivos) e, com tal objetivo, transcrevemos trechos das lições de
Friedrich Augusto von Hayek :
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“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude da lei”
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“ O falar em linguagem remete o pensamento, forçosamente,
para o sentido de outro vocábulo : signo. Como unidade de um
sistema que permite a comunicação inter-humana, signo é um
ente que tem o status lógico de relação. Nele, um suporte físico
se associa a um significado e a uma significação, para
aplicarmos a terminologia husserliana. O suporte físico, da
linguagem idiomática, é a palavra falada (ondas sonoras, que
são matéria, provocadas pela movimentação de nossas cordas
vocais, no aparelho fonético) ou a palavra escrita (depósito de
tinta no papel ou de giz na lousa). Esse dado, que integra a
relação síginica, como o próprio nome indica, tem natureza
física, material. Refere-se a algo do mundo exterior ou interior,
da existência concreta ou imaginária, atual ou passada, que é
seu significado; e suscita em nossa mente uma noção, idéia ou
conceito, que chamamos de significação.”
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mental (C.K. Odgen – I. ª Richards, The meaning of Meaning,
1952 (1ª ed., 1923), p. 57; DUCASSE, em Journal of Symbolic
Logic, 1939, n. 4), a semiótica americana apresentou outra
doutrina fundamental da I., que toma como base o
comportamento. Os pressupostos dessa doutrina são
encontrados na obra de Peirce, que entendeu a I. como um
processo triádico que se dá entre um signo, seu objeto e seu
interpretante, constituindo este último a relação entre o
primeiro e o segundo termo (Coll. Pap. 5.484).”
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Do todo exposto, podemos concluir, como nossa definição de
“interpretação de lei” o procedimento de obtenção do significado de um
determinado enunciado prescritivo, a partir da interação entre o instrumento
de observação(o texto legal) e a coisa observada (a situação fática concreta,
com todas as suas peculiaridades), tendo como finalidade a prática do Direito.
CAPÍTULO IV
A FINALIDADE DO DIREITO
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Fomos claro ao afirmar no capítulo anterior que a interpretação da
lei(enunciado prescritivo) é um instrumento sine qua non para a prática do direito.
Se a “lei” fora adotada pela nossa sociedade como o instrumento
efetivo de fixação do comportamento intersubjetivo, fixando direitos e deveres, a
realização do Direito somente se realizará a partir da incidência do trabalho
interpretativo na lei, produzindo a norma jurídica aplicável ao caso concreto.
Os meios justificam os fins. Assim, é condição necessária para a
efetiva compreensão do trabalho interpretativo, fixarmos qual a finalidade do
Direito. Nesse ponto, importante ressaltarmos que, como bem ensina Jean-Louis
Bergel, “os diversos sistemas jurídicos sempre estão confrontados com duas
grandes alternativas : a justiça ou a utilidade de um lado(A), o individualismo ou o
coletivismo do outro(B)”
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traduz uma escolha fundamental entre tendências idealistas (A) e tendências
positivistas(B).”
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limitar o direito a um reflexo servil dos atos, mesmo dos mais
condenáveis, ao passo que ele também pode dominá-los, e de
consagrar um determinismo inquietante em geral inexato
quando a vontade humana pode impor suas escolhas”
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O terceiro momento, que nos parece ser de uma
característica eminentemente normativa concretizante, busca a regulação da
sociedade tentando-se a máxima justiça possível. Isto é, alia a finalidade de
“pacificação social” com a de “produzir a justiça no caso concreto”. Por esse
modelo, norma jurídica seria a norma (vista como juízo do enunciado
prescritivo(lei) mais a situação normada. Sobre essa característica normativa-
concretizante, transcrevemos os ensinamentos de Miguel Reale :
“ Durante séculos... a busca da solução justa era o valor central que o juiz
devia levar em conta, e os critérios do justo eram comuns ao direito, à
moral e à religião...” (p. 183)
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com as prescrições legais. O juiz não deveria violar a lei, aplicando
critérios de justiça que lhe fossem próprios : sua vontade e seu senso de
eqüidade deveriam inclinar-se diante da manifestação da vontade geral,
tal como era dada a conhecer pela legislação.” (p.184)
“ Desde o processo de Nuremberg... notamos na maioria dos teóricos do
direito, e não apenas entre os partidários tradicionais do direito natural,
uma orientação antipositivista que abre um espaço crescente, na
interpretação e na aplicação da lei, para a busca de uma solução que seja
não só conforme à lei, mas também eqüitativa, razoável, aceitável, em
uma palavra, que possa ser, ao mesmo tempo justa e conciliável com o
direito em vigor” (p.184)
CAPÍTULO V –
AS ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO
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decorrer da história.
Com tal objetivo, apresentamos breves explanações sobre as
características das seguintes escolas de interpretação : “Escola da Exegese”, “Escola
Histórica”, “Norma Pura de Hans Kelsen”, “Direito Vivo de Ehrlich” e a
“Interpretação Sociológica”. Servirão como base de informações as obras de Jean
Louis-Bergel e Wellington Pacheco de Barros.
A “Escola da Exegese”
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A “Escola Histórica”
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daquela”.
Máximo Pacheco G., reproduzindo o próprio Kelsen sobre o método
de interpretação da Teoria Pura do direito, transcreve que a teoria do Direito
Positivo não estabelece qualquer critério e não indica qualquer método que permita
dar preferência a uma das diversas possibilidades contidas no marco de uma norma.
Para Kelsen, o Direito não toca a realidade, a norma jurídica é
constituída num ciclo hermético de auto-produção que não envolve a efetiva análise
do fato concreto normado. Para Kelsen, os fatos eram objeto da Sociologia Jurídica
e não do Direito; os valores eram objeto da Filosofia do Direito e não do Direito.
Se de um lado a interpretação normativa abstrata proposta por Kelsen
não é capaz de levar à finalidade da “nova visão de Direito”, que é por nós adotada,
a noção de sistema proposta por Kelsen é de relevo para a análise interpretativa, vez
que, mesmo o direito não sendo somente lógica, não sendo somente sistema, é
“também” um sistema que “também” deve ser analisado logicamente.
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centralizado.
A “interpretação sociológica”
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menos da forma como apontada por Wellington Pacheco Barros. Como já exposto,
os signos (as palavras) são polissêmicos, tem a possibilidade de conter vários
significados, cabendo ao intérprete adotar aquele significado que mais se
compatibiliza com o contexto social e com os ditames da justiça.
CAPÍTULO VI –
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ao próprio Direito (que acaba não cumprindo o seu desiderato), mas, também e
principalmente, à sociedade, que não vê o Estado cumprindo o seu papel de
“construir uma sociedade livre, justa e solidária”, com a promoção do “bem de
todos”(incisos I e IV do artigo 3º da Constituição Federal de 1988).
Importante para esta reflexão as palavras de Lenio Luiz Streck :
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judiciais, que utilizam a “interpretação”(ou melhor, a “pseudo-interpretação”) como
forma de dar cabo ao processo e não no intuito de garantir uma decisão justa e
compatível com os valores contemporâneos cultuados pela sociedade.
A maior prova dessa “insensibilidade” do Judiciário, que, deixamos
claro, estende-se aos Advogados, Juristas, Membros do Ministério Público, enfim, a
toda a comunidade jurídica (mas que se torna mais visível no Judiciário, ante a
“coisa julgada” formada sobre suas decisões), são as fundamentações das sentenças
e acórdãos. Pergunta-se, quantas vezes, em nossa experiência judiciária,
encontramos sentenças cuja fundamentação demonstram um trabalho interpretativo
de cunho concretizante, com a avaliação das várias possibilidades de solução
(virtualidade) e a escolha da possibilidade que mais se compatibiliza com os valores
contemporâneos cultuados pela sociedade e com o sentimento de justiça ? É muito
raro tal comportamento. Normalmente, as decisões judiciais mantêm, em suas
fundamentações, amplo espaço para a análise da prova produzida nos autos, e um
minúsculo espaço no corpo da decisão para a interpretação da lei. Tudo ocorre como
se o texto legal já fosse absolutamente auto-explicativo, sendo que a sua citação
(sob a forma normalmente numérica : artigo “x” da Lei “y”) já fosse suficiente para
a “fundamentação” exigida no inciso IX do artigo 93 da Constituição Federal
(“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade...”). Tais “pseudo-
fundamentações”, que são fruto de uma “pseudo-interpretação” não cumprem o seu
papel constitucional, tanto no que se refere ao artigo X do artigo 93, quanto aos
incisos II e IV do artigo 3º, ambos da CF/88).
E é exatamente com o intuito de, não só constatar a ocorrência desse vício
interpretativo usual e atual, como também de encontrar meios para modificar tal
situação, que tal trabalho, que visa efetivamente uma compreensão do que é a
“interpretação jurídica”, de qual é a sua finalidade e de qual o procedimento
adequado para o alcance de seus fins, vale a pena, no sentido não só de
interpretarmos o inciso III do artigo 2º da Lei 9.296/96, mas também de interpretar
qualquer enunciado prescritivo.
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