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PAN-AMAZÔNIA
Visão Histórica, Perspectivas
de Integração e Crescimento
1ª Edição
Manaus
Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM)
2015
Lillian Alvares
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília
e pela Université du Sud Toulon-Var, Professora da Faculdade de
Ciência da Informação da Universidade de Brasília.
Ricardo Nogueira
Doutor pela Universidade de São Paulo, professor do Departamento
de Geografia da Universidade Federal do Amazonas e do Programa
de Pós-graduaçao em Geografia.
Jaime Benchimol
Economista e empresário
Introdução........................................................................................ 35
Capítulo 1 | Pan-Amazônia: cooperação e integração
para o desenvolvimento
Osiris M. Araújo da Silva.................................................................... 37
Capítulo 2 | Amazônia já é verde:
precisa é de uma base econômica que assim a mantenha
Bertha K. Becker................................................................................. 85
Capítulo 3 | Amazônia, população e modernidade
Márcio Souza..................................................................................... 93
Capítulo 4 | O novo modelo colonial amazônico:
reflexões sobre cenários possíveis
Violeta Refkalefsky Loureiro................................................................. 109
Capítulo 5 | A conservação da biodiversidade como
estratégia competitiva para a Amazônia no antropoceno
José Maria Cardoso da Silva................................................................ 139
Capítulo 6 | A logística e a defesa da Amazônia Ocidental
Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira....................................... 157
Capítulo 7 | A Marinha na Amazônia Ocidental
e sua contribuição para a defesa e desenvolvimento
sustentável da região
Domingos Savio Almeida Nogueira...................................................... 175
Capítulo 8 | A atuação da Força Aérea na Amazônia Ocidental
José Mendonça de Toledo Lobato........................................................... 199
Capítulo 9 | Sistema de proteção da Amazônia: modelo
de governança singular do território amazônico brasileiro
Rogério Guedes Soares......................................................................... 207
Capítulo 10 | Zona Franca de Manaus (ZFM):
circunstâncias históricas, cenário contemporâneo
e agenda de aperfeiçoamento
José Alberto Machado da Costa e Rosa Oliveira de Pontes....................... 221
Pan-Amazônia:
cooperação e integração
para o desenvolvimento
Osiris M. Araújo da Silva
Introdução
Ao menos três fatos marcantes redefiniram a geopolítica mundial
no quarto final do século XX: a unificação da Europa, a emergência da
China como potência econômica e a crise mundial de 2008. A partir
desses eventos, o mundo deixou de ser unipolar e sem perspectiva de
se tornar bipolar, a partir da recusa chinesa em covalidar essa via.
O novo formato geopolítico capaz de suportar interesses econômicos,
políticos e diplomáticos a partir do século XXI é multipolar, tendência
prevalente e que aponta a necessidade irremediável de integração
dos interesses comerciais, logísticos e de intercâmbios econômicos
processados ao redor da Terra.
A América do Sul segue a tendência ao constituir blocos
econômicos sub-regionais, como Mercosul, restrito, e Aliança do
Pacífico, mais aberta pois integrada ao México, e, por extensão, aos
Estados Unidos e ao resto do mundo. Há um “sub-bloco” localizado no
coração de nosso continente que busca espaço e significância geopolítica
e econômica, a Amazônia multinacional, a Grande Amazônia ou Pan-
Amazônia, formada, como se verá adiante, por expressivas porções
territoriais de Brasil, Venezuela, Guiana, Suriname, Colômbia,
Equador, Peru e Bolívia.
O que nós, sul-americanos, sabemos a respeito desse extenso
território, praticamente perdido no interior dos países que o formam e
mantêm, mas que relativamente pouco se ocupam em priorizar ações
de governo voltadas à promoção do seu desenvolvimento econômico e
social? Não o suficiente, é certo, embora esforços governamentais, da
Amazônia em perspectiva
A fronteira da Amazônia é muito porosa. Os povos das
fronteiras não são apenas brasileiros. Os índios do Alto
Rio Negro, por exemplo, também são colombianos. Falam
o tucano, a língua geral, falam português, e alguns falam
espanhol. Você ouve muitos reacionários dizerem: “Não tem
que dar terra para os índios, eles já têm muita terra”. Isso é uma
coisa de louco. O que não pode é proibir o Estado de entrar
em terras indígenas. E, de fato, elas são usufruto, não são
propriedade dos índios. Por isso foi decidido que eles podem
ficar na Raposa Serra do Sol, e que os arrozeiros têm que
sair. Eles invadiram terras indígenas. A presença do Estado
é importante, até mesmo para expulsar os missionários. Sou
contra a presença de evangélicos, de tudo que é missionário.
Saiam da Amazônia! Se a terra foi garantida para os índios,
que a cultura deles também seja garantida. Sou a favor de uma
ocupação das fronteiras pelo Exército e pela Marinha. É uma
questão de soberania, porque ninguém calcula a riqueza da
Amazônia. Ninguém sabe. (...), mas acredito que o manejo
florestal é totalmente possível. A Amazônia possibilita muitas
opções econômicas, de perfumes e cosméticos a plantas
medicinais e uma variedade enorme de frutas. Mas você tem
que envolver os pesquisadores que moram na região. Gente
do Museu Goeldi, do Inpa, da Embrapa, das universidades.
Infelizmente, essas pessoas não são ouvidas (MILTON
HATOUM, 2009).
País Percentual
Bolívia 70
Peru 65
Brasil 55
Equador 50
Colômbia 35
Venezuela 8
Guianas 3
Fonte: Souza, 2009.
Cooperação científica
Toda essa complexidade é ainda agravada pelo distanciamento
estabelecido entre os diversos países que compõem a Pan-Amazônia.
O nível de diálogo e cooperação técnica e diplomática é tênue,
distanciado e ineficaz. Difícil de crer, porém os diversos órgãos de
pesquisa da região, como o Instituto Amazónico de Investigaciones
Científicas SINCHI, da Colômbia, o Instituto de Investigación de la
Amazonia Peruana (IIAP) e o Instituto de Pesquisas da Amazônia
(Inpa) não mantêm vínculos explícitos e agendas compartidas em
setores da pesquisas com objetivos e metas comuns. De igual modo
ocorre em relação às universidades. Evidentemente, em muitos pontos
seria ideal estabelecer currículos comuns, possibilitando, assim, maior
troca de informações e resultados de pesquisa de interesses recíprocos.
A Universidade Nacional da Colômbia, Sede Amazônia (Letícia),
a Universidade Central do Equador ou a Universidade Federal do
Amazonas, do Acre, de Rondônia, do Pará, etc., poderiam estudar
e certamente encontrar resultados mais rápidos e eficazes para
diversos problemas da região, caso interagissem ações em áreas de
Cooperação econômica
Machado (2009, p. 3), professor da Universidade Federal do
Amazonas (Ufam), escreveu:
A população que vive na parte amazônica dos diversos países
que participam do bioma é estimada em torno de 28 milhões
de pessoas. Juntando-se a população dos estados da Amazônia
brasileira com a totalidade da população dos demais países da
Amazônia Continental, essa estimativa aproxima-se de 140
milhões (ARAGÓN, 2005). Trata-se, pois, de um mercado
significativo, mas muito pouco dinamizado.
Polos alternativos
Há certamente longo caminho a percorrer em busca de efetiva
integração dos países pan-amazônicos. Benchimol (2003) acreditava
que o ponto de partida para a promoção da integração e do
crescimento econômico da região advém da necessidade de incentivar
fortemente alguns projetos e criar novos polos, alguns históricos
e outros inovadores. Considerava fundamental a necessidade de
repensar e fazer uma releitura do passado. Salienta, no documento,
que muitas das produções florestais podem ser reativadas, desde que
modernizadas com introdução de tecnologias modernas, eficientes e
autossustentáveis.
Dentre os polos considerados, ele cita, adicionalmente: o
de especiarias, de essências aromáticas, de produção de óleos de
dendê (palm oil), coco, babaçu, andiroba, patauá e outras palmáceas;
heveicultura, biotecnológico, varzeano agrícola, frutícola, floricultura
e plantas ornamentais, palmiteiro, pesca e piscicultura, pasta
química de celulose e papel, polo madeireiro e moveleiro, pecuário
e criatório.
Destaque especial ao polo gás-petroquímico a partir das
reservas do Equador, Colômbia, Bolívia, Venezuela e do Norte do
Brasil. Aproximadamente uma dezena de bacias sedimentares
estão situadas na Amazônia Legal brasileira, perfazendo quase 2/3
dessa área territorial. Três delas – bacias do Solimões, Amazonas e
Paranaíba – são as mais importantes, não só pelo tamanho ( juntas
ocupam aproximadamente 1,5 milhão de Km²), mas principalmente
pelo seu potencial. A Bacia do Solimões (Urucu, Coari) é a terceira
bacia sedimentar em produção de óleo no Brasil, com reserva de
132 milhões de barris de petróleo. Em segundo lugar vem o Estado
do Espírito Santo, com produção de 169 milhões barris de petróleo
e gás/dia, e do Rio de Janeiro – maior polo brasileiro de produção
petrolífera, com cerca de 1,8 milhão barris de petróleo e gás por dia
– o equivalente a pouco mais de 84% de toda a produção dos campos
nacionais.
No entanto, a principal vocação da Amazônia é o gás natural.
Informes da Petrobras indicam que o Estado do Amazonas tem a
segunda maior reserva brasileira de gás natural do país, com total de
44,5 bilhões de metros cúbicos. Nas outras duas bacias também têm
sido encontradas acumulações de gás.
Turismo
Outros campos de negócios – como se verá mais adiante – cabem
nesse raciocínio. Um dos mais importantes diz respeito à indústria do
turismo. O brasileiro comum não tem ideia do que sejam o Equador,
a Colômbia, o Peru, a Bolívia. Muitos vão a Miami ou ao Caribe sem a
noção do que estão perdendo ao não conhecer cidades extraordinárias
como Bogotá, Lima e Quito, a belíssima e civilizada Medellin e as
históricas Cartagena, Cuzco, Machu Picchu, o Lago Titicaca, Guayaquil,
Cuenca, as belas praias do Pacífico ou as Ilhas Galápagos, Caracas,
Maracaibo, e muitas outras.
Há muitas ilhas caribenhas pouco visitadas por turistas da
região. Enorme potencial à espera de um planejamento estratégico
que privilegie a implantação de infraestruturas locais, voos acessíveis
Relações de troca
O intercâmbio comercial da Pan-Amazônia é ainda incipiente,
embora vastos os campos de possibilidades. Segundo Machado (2009)
através dos estados do Pará e Amazonas e, mais recentemente, o Estado
de Rondônia, tem ampliado seu comércio com os países pan-amazônicos.
Mas ele se dá com poucos países e com uma pauta de produtos bastante
aquém do potencial. Em relação à América do Sul, esse potencial se
amplia para uma escala que propiciaria aos estados amazônicos do
Brasil um mercado de grandes dimensões, próximo territorialmente,
com similaridade cultural e com facilidades aduaneiras em construção.
Machado (2009) salienta que, com acesso aos mercados da costa
leste do Pacífico, a chegada à Ásia se torna o passo seguinte natural.
E então, esse grande e rico mercado passaria a ter conexão célere com
a Amazônia, beneficiando-a em vários aspectos. Exemplos de fluxos
comerciais capazes de trazer efeito virtuoso para a região podem ser
citados:
a) componentes eletrônicos fabricados na Ásia e importados em
grandes volumes pelo Polo Industrial de Manaus;
Expansão comercial
A propósito, esteve em visita a Manaus, capital do estado brasileiro
do Amazonas, no mês de maio de 2014, comitiva empresarial da
província peruana de Loreto, chefiada pelo governador Yván Vásquez
Valera, e assessores. Na oportunidade foram realizados encontros
Biodiversidade exótica
Homma (2013), pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental,
procede à extensa análise do quadro da produção agropecuária na
Amazônia e das potencialidades que podem se confirmar como
produto da biodiversidade. Suas análises levam em conta que
A despeito da ênfase na biodiversidade nativa, grande
parte da agropecuária amazônica está apoiada em plantas
e animais de outros continentes ou de outras áreas extra-
Amazônia, podendo-se destacar a soja, algodão, milho,
arroz, feijão, juta, pimenta-do-reino, bananeira, laranjeira,
Ações estruturantes
Em seguida ao encontro da missão da província de Loreto
mantido com o governo do Estado do Amazonas, ocorreu uma rodada
de negociações com as classes empresariais na Federação das Indústrias
do Amazonas (Fieam). Na ocasião, procedeu-se a uma análise crítica
das ações comprometidas pelos países e ainda não implementadas.
Iniciativas que precisam de esforços conjuntos de peso, tendo em vista
torná-las efetivas ao esforço de integração da região.
Dentre os pontos abordados, salientam-se os seguintes:
a) ligação aérea e fluvial com Iquitos, com o estabelecimento de
condições de navegabilidade com Tabatinga;
b) modernização das instalações portuárias de Iquitos –
Implantação do Terminal Alfandegário na cidade sob
responsabilidade da iniciativa privada;
c) por meio de acordo de governo, estabelecer política de
subsídios ao custo de combustíveis de Manaus a Iquitos;
Organização produtiva
São frágeis os laços que impulsionam as relações produtivas na
Pan-Amazônia. Por isso mesmo a região, repetindo erros e omissões
do passado, não avança, mantém-se presa a relações comerciais pouco
significativas. E assim não constrói uma agenda desenvolvimentista,
nem consegue promover a integração econômica e social plena das
nações que a integram.
Sabe-se o quanto são ricos os territórios no que pertine à
potencialidade de sua biodiversidade, como mencionado em diversos
capítulos desta obra. Riquezas essas que, contraditoriamente, não
conseguem se transformar em produtos de aceitação internacional,
avidamente demandados por mercados os mais diversos, posto que
fortemente valorizados caso viessem a aplicar em suas embalagens o
selo Amazônia.
Segundo Becker (2011), desprovida que é de cadeias produtivas
completas e de uma rede de cidades que impulsionem a economia
e a integração, nela dominam ainda os processos de expansão da
fronteira móvel destruindo a natureza. Contrapondo-se ao “modo de
uso” tradicional, que se baseia na exploração indiscriminada de seus
recursos, Becker acredita numa mudança de paradigma em substituição
Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica (OTCA)
Segundo o embaixador Patriota (2011), ex-ministro das Relações
Exteriores do Brasil, em 1978, quase 10 anos antes de o relatório
Nosso Futuro Comum da ONU consagrar o conceito de desenvolvimento
sustentável, oito países sul-americanos reuniam-se, por iniciativa
brasileira, com o objetivo de promover o desenvolvimento harmônico da
Amazônia e de suas populações. Desse encontro, resultou a assinatura
do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA). Vinte anos depois, era
criada a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA),
única organização internacional multilateral sediada no Brasil,
buscando fortalecer a implementação dos propósitos do TCA.
A Amazônia é, assim,
a única região do planeta a contar com uma organização
internacional própria, formada pelos Estados que partilham
seu território (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana,
Peru, Suriname e Venezuela) e dedicada à sua conservação
e ao bem-estar de suas populações. É um exemplo de
grupo regional que, desde a origem, firmou-se como bloco
socioambiental (PATRIOTA, 2011).
3
Global Environmental Facility.
Desafios e oportunidades
para a cooperação amazônica
No período de 23 a 24 de novembro de 2011, realizou-se em
Manaus o seminário Desafios e Oportunidades da Cooperação
Amazônica, ocasião em foram discutidos assuntos de importância
central para o futuro da OTCA. Dentre os temas constantes da
agenda: o valor estratégico da Amazônia, a participação da sociedade
amazônica, a Amazônia no cenário internacional e a organização de
um modelo econômico sustentável para a região. Esteve presente a
cúpula do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MME) ligada
à OTCA, além de especialistas que se ocupam da temática Amazônia.
O seminário apresentou algumas falhas que certamente
comprometeram sua eficácia. A primeira delas, rara presença de
ministros das Relações Exteriores ou diplomatas representantes dos
países integrantes da OTCA. Igualmente, a sociedade tão-pouco tomou
conhecimento do evento, daí sua razoavelmente baixa afluência.
A concepção de um evento fechado, restrito à comunidade oficial
do Tratado, pode ser um sinal de distanciamento bastante prejudicial.
Evidentemente, não creio que esse seja a política, porém a realidade é
que pouca gente tem uma noção precisa da existência da OTCA. Ora,
como então pretender que a entidade represente anseios e expectativas
da sociedade amazônica?
Síntese do quadro ora apontado foi apresentado pela jornalista
Vieira (2011), do jornal A Crítica, de Manaus, em primoroso artigo “O
Que Quer a OTCA?” publicado em sua coluna semanal. Sua análise
Considerações finais
A Amazônia sul-americana é, sem dúvida, o desafio maior do
mundo contemporâneo. No século XXI, semelhante ao contorno
do Cabo da Boa Esperança, à consolidação da circunavegação e
ao estabelecimento de relações comerciais com o Oriente, que se
processaram no século XVI.
Diante das questões levantadas neste estudo, pode-se concluir o
seguinte:
a) A Pan-Amazônia deve aproveitar as sinergias proporcionadas
por cada país membro e promover a plena integração
cultural, social, técnico-científica, educacional e econômica.
b) Somente esse relacionamento compartido vai proporcionar
meios de cooperação e avanços nos diversos campos de
atividades.
c) O alcance desse objetivo pressupõe o desenvolvimento
de esforços máximos visando à integração do ensino, das
universidades e dos centros de pesquisa em busca de soluções
comuns que digam respeito às expectativas da região em relação
à saúde pública, biotecnologia, nanotecnologia, a produtos em
geral de nossa biodiversidade, e ao turismo ecológico.
Referências
ARAGÓN, L. E. População e meio ambiente na Pan-Amazônia. Belém: UFPA/
NAEA, 2007.
MELLO, Thiago de. Amazonas: pátria da água. 2 ed. São Paulo: Boccato, 2007.
Amazônia já é verde:
precisa é de uma base
econômica que assim
a mantenha1
Bertha K. Becker
1
Original publicado disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/
bertha-becker-pelo-desenvolvimento-regiao-amazonica-679035.shtml>. Acesso em: 10 out.
2014.
Referências
BECKER, B. K. Amazonian frontiers at the beginning of 21th century.
In: HOGAN, D. J; TOLMASQUIN, M. T. (Org.). Human dimensions of global
environmenal change: brazilian perspectives. Rio de Janeiro: ABC, 2001. v. 1.
p. 301-323.
Amazônia, população
e modernidade
Márcio Souza
Sobre essa questão deve-se ter uma visão correta, evitando cair
no catastrofismo de certos defensores de nossa integridade, que não
foram convidados por nós a fazer nossa defesa, mas que insistem em
soluções salvacionistas, sem nenhuma base científica que reduzem a
Amazônia, da mesma forma que os militares o fizeram, a um território
sem tradição cultural ou história, que precisa ser ocupado por suas
boas intenções. O ambientalista Fatheuer (1993, p. 233) observa que:
a ecologização total da Amazônia esvazia a região de suas
características sociais. É fácil de compreender porque,
no modelo de equilíbrio ecológico todas as intervenções
humanas são classificadas como prejudiciais. Exagerando:
o homem aparece, a não ser que seja índio, como destruidor,
como predador. Ele nem poderia deixar de sê-lo. A crítica
ao desenvolvimento da Amazônia se volta assim não contra
um modelo histórico, econômico e socialmente determinado
de apropriação, mas contra todo e qualquer aproveitamento
humano.
Referências
FATHEUER, T. W. Wer zerstoert, wersttet Amazonien? Lateinamerika
Nachricthen, p. 233, 1993.
Introdução
Este texto tem por objetivo resumir algumas reflexões sobre
a Amazônia que tenho desenvolvido mais aprofundadamente em
trabalhos de pesquisa nas últimas décadas.
O primeiro ponto que desejo frisar é que o modelo primário-
exportador que vinha marcando a Amazônia desde o período colonial
mudou recentemente seu perfil, e converteu-se numa forma de
neocolonialismo em que a região se vê hoje tão enredada quanto esteve
no passado.
O segundo é que, apesar de outras regiões brasileiras que tiveram
um passado similar terem conseguido combinar o modelo primário-
exportador com modelos mais avançados de organização da economia
e da vida social, tal não aconteceu com a Amazônia. Ao contrário
disso, tem havido uma reestruturação e aprofundamento do modelo
primário-exportador que, de agroexportador baseado em produtos
florestais que vinha sendo desde o período colonial, tem agora suas
bases fincadas no subsolo da região – na mineração e na siderurgia.
O terceiro ponto é que até os anos 70 a região representava a
última fronteira de expansão do extrativismo e do campesinato;
entretanto, em apenas duas décadas (80/90) converteu-se numa fronteira
de commodities. Sobre a nova fase – como fronteira de commodities -, em
que a hidrelétrica de Tucuruí se apresenta como ato inaugural, pelo
menos duas considerações parecem se fazer necessárias:
a) diferentemente do que ocorria no período colonial, em que
a Metrópole decidia a forma de ocupação e exploração da
região, a nova fase da região como fronteira de commodities
tem tido o governo federal como importante estimulador; ou
seja, apesar de o mundo estar hoje muito mais globalizado do
que em qualquer momento da história, tanto a estruturação
dos componentes da nova fase quanto sua vinculação com o
mercado mundial têm dependido mais de decisões internas
do país do que das condições externas, como ocorria no
passado;
b) o papel do Estado brasileiro como estimulador e indutor do
aprofundamento do modelo primário-exportador é algo
paradoxal porque o modelo somente tem aumentado as
desigualdades regionais, em desfavor da região; e porque
coloca a região numa tripla dependência – do mercado
1
Embora já não fossem chamadas de drogas do sertão e sim de produtos extrativos ou do
extrativismo, boa parte dos produtos consistia, tal como antes, de óleos vegetais, sementes,
temperos, etc.
2
O crescimento populacional dos estados da Região Norte (englobando os 7 estados totalmente
amazônicos: Amapá, Acre, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins) entre os anos
1960 /2010 foi o mais vertiginoso do país, passando de apenas 2,5 milhões de habitantes em
1960 para quase 16 milhões em apenas 50 anos: 1960 – 2.579.442; 1970 – 3.603.860; 1980
– 5.880.268 ; 1991 – 10.030.556; 2000 – 12.911.170; 2010 – 15.864.402. Fonte: IBGE (1960;
1970;1980; 1991; 2000; 2010).
3
Entre 1981 e 1990 o crescimento máximo do PIB foi de 1,6%, enquanto a população crescia
num ritmo veloz. A inflação em 1984 foi de 224% e, apesar dos diversos planos econômicos,
ela persitiu durante o regime democrático que teve início em 1985. A inflação seguiu
descontrolada até 1994, quando foi implantado o Plano Real (GUEDES FILHO, 2007).
6
A Prova Brasil é um exame nacional aplicado a estudantes da 5º e 9º séries (antigas 4ª e 8ª
séries) do Ensino Fundamental de escolas da rede pública; objetiva avaliar o domínio dos
alunos em língua portuguesa e matemática.
7
Loureiro (1993), Loureiro (2001).
8
Loureiro (2009).
9
Loureiro (2009).
Considerações finais
O passado deve servir de reflexão e aprendizado, e não como
sina ou destino futuro. É preciso considerar que o futuro é construído
sobre utopias formuladas no presente e não, necessariamente, como
uma continuidade do passado. E que, entre o passado e o futuro, há
um presente que nos chama à razão e nos incita a uma ruptura com o
passado e à projeção de um futuro melhor e mais solidário.
Estabelecer uma ruptura com o passado significa experimentar
novos caminhos, testar possibilidades e aproveitar oportunidades com
base nas riquezas regionais e nos saberes locais mas, fazê-lo com o
Referências
BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm>. Acesso em: 15 set. 2013.
IBGE. Censo demográfico 1960. Minas Gerais, 1960. Disponível em: <http://
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/68/cd_1960_v1_t9_mg.pdf>.
Acesso em: 15 set. 2014.
IBGE. Censo demográfico 1970. Rio de Janeiro, 1970. Disponível em: <http://
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/instrumentos_de_coleta/doc0055.pdf >.
Acesso em: 15 set. 2014.
IBGE. Contas regionais 2011. Rio de Janeiro, 2011a. Anexo: lista de unidades
federativas, regiões por PIB e PIB per capita. Disponível em: <http://www.ibge.
gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2011/>. Acesso em: 15 set.
2014.
A conservação da
biodiversidade como
estratégia competitiva para
a Amazônia no antropoceno
José Maria Cardoso da Silva
O que é a Amazônia?
A Amazônia estende-se por uma área de cerca de sete milhões de
quilômetros quadrados. Comparado com os outros dois maiores blocos
de floresta tropical do planeta, a Amazônia é três vezes maior do que as
florestas do Congo, na região central da África, e oito vezes maior do
que as florestas da ilha de Nova Guiné. Como único e contínuo bloco
de floresta, somente as florestas boreais da Rússia são maiores, mas são
muito mais pobres do que a Amazônia em termos de biodiversidade
(MITTERMEIER et al., 2002). Atualmente, a Amazônia representa
53% do que resta das florestas tropicais existentes no planeta
(MITTERMEIER et al., 2003).
A Amazônia no Antropoceno
A Amazônia já perdeu cerca de 20% de sua vegetação original.
Importante parte da conversão da floresta está concentrada no
Brasil, principalmente nos Estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso,
Rondônia e Acre. Os 80% restantes estão divididos em dois grandes
grupos: (a) as áreas protegidas (cerca de 50%) que incluem todas as
unidades de conservação de uso direto e indireto, terras indígenas
e outros espaços legalmente dedicados à conservação; (b) as áreas
florestais não protegidas (cerca de 30%), que são as áreas de floresta,
geralmente públicas, cujo destino ainda não foi estabelecido pelos
governos nacionais.
Assumindo um cenário muito otimista no qual as áreas protegidas
serão efetivamente implementadas e as populações tradicionais da região
receberão apoio para manejar e manter a integridade de suas extensas
terras, então o futuro da Amazônia como gigantesco sistema ecológico
funcional será decidido pela alocação dos 30% de florestas ainda não
protegidas. Se os 30% forem mantidos como florestas intactas ou sob
algum tipo de manejo sustentável, então a Amazônia poderá continuar
prestando os serviços ambientais que todos nós estamos acostumados
a ver. Se os 30% forem convertidos em ecossistemas simplificados,
corre-se o risco de que a região entre em colapso por meio das sinergias
criadas entre mudanças climáticas globais, desmatamento e incêndios
florestais, com consequências desastrosas para bilhões de pessoas ao
redor do planeta (VERGARA; SCHOLZ, 2011). A América do Sul e o
mundo precisam que entre 70 e 80% da Amazônia continuem sendo
floresta (SAMPAIO ET AL., 2007).
No Antropoceno, extensas áreas de florestas serão a exceção.
Elas serão oásis de recursos naturais abundantes e disponíveis que
sustentarão amplo conjunto de bens e serviços de alto valor agregado
e indispensáveis para a porção da humanidade que viverá distante
de tais áreas. Como qualquer recurso escasso, o valor destas áreas
naturais intactas para a humanidade aumentará significativamente
(BECKER, 2005). Assumindo que as tendências de uso dos recursos
naturais ao redor do mundo não mudem significativamente nos
próximos 50-100 anos, então é possível predizer que a melhor opção
para os países amazônicos é fazer um esforço concreto para promover
o desenvolvimento socioeconômico da população atual mantendo seus
estoques atuais de recursos naturais renováveis intactos. Se fizerem
isso, estes países terão uma vantagem competitiva enorme no futuro.
Eles poderão se tornar as próximas lideranças globais.
Amazônia: o epicentro do
desenvolvimento sustentável global
O conceito de proteger a Amazônia agora para garantir
uma liderança global no futuro não é novo (BECKER, 2005). Ele já
faz parte das políticas nacionais de vários países sul-americanos.
países como Colômbia e Peru já adotam como política nacional a
conservação total dos seus setores amazônicos. Países como Guiana,
por exemplo, estão adotando políticas de desenvolvimento de baixo
carbono. A França continua mantendo os altos subsídios econômicos
para garantir a integridade florestal da sua Guiana. Apesar dos
avanços nas suas políticas nacionais para conter o desmatamento, os
maiores vilões regionais do desmatamento continuam sendo Brasil e
Bolívia. Na Bolívia, grande parte do desmatamento é gerada a partir
da expansão da agricultura brasileira rumo ao país vizinho. No caso
do Brasil, o desmatamento é causado pela expansão da pecuária e da
agricultura, seguindo o estabelecimento de estradas e outras obras de
infraestrutura. Mesmo que não haja nenhuma justificativa racional
para continuar substituindo a floresta amazônica por ecossistemas
Floresta produtiva
O programa floresta produtiva é um programa moderno de
desenvolvimento rural para áreas florestais, cujos objetivos principais
de curto prazo são reduzir o desmatamento bruto a quase zero e retirar
da miséria extrema todas as populações rurais vivendo dentro ou fora
de áreas protegidas. O programa deve ter três amplos subprogramas:
(a) criação e consolidação de áreas protegidas; (b) programa de
transferência de renda e (c) planos locais de desenvolvimento sustentável.
O componente de áreas protegidas tem como objetivo principal
proteger 80% da Amazônia com a criação de unidades de conservação,
sejam elas públicas ou privadas, terras indígenas e outros mecanismos
de conservação, tais como reservas de água ou reservas de carbono.
A fundamentação lógica para esse argumento é a evidência histórica
de que as áreas protegidas são ainda a forma mais efetiva de conter o
desmatamento na região (VIEIRA; SILVA; TOLEDO, 2005; RAISG,
2012). A criação de áreas protegidas retira terra pública do mercado
e diminui significativamente as expectativas de ganhos futuros pelos
atores sociais que vivem da especulação fundiária. Além disso, ela
transfere para as populações locais os direitos de uso de seus territórios
tradicionais, diminuindo assim a concentração de poder nas mãos de
poucos. Assim, as áreas protegidas ajudam também a reduzir conflitos
e trazer paz à região. Já que a maioria das áreas cobertas por floresta
ainda são públicas, a criação formal de áreas protegidas permitiria
também maior controle público sobre seu manejo e a criação de
mecanismos de parceria público-privadas para mantê-las dentro
dos melhores critérios globais de sustentabilidade. Como a moderna
ecologia sugere, as áreas protegidas não devem ser manejadas de
maneira isolada, mas sim gerenciadas como partes de extensos
corredores de biodiversidade, visando garantir a conectividade de
Cidades sustentáveis
Cidades sustentáveis são clara necessidade da Amazônia, pois
cerca de 65% da população regional é urbana (ARA, 2011). A tendência
futura é que as populações das cidades da região continuem crescendo
cada vez mais. Infelizmente a maioria das cidades amazônicas
possui qualidade de vida muito baixa, com carências enormes na
infraestrutura e serviços públicos de qualidade, tais como educação,
saneamento e saúde (SANTOS et al., 2014). Além disso, a diversificação
econômica dos centros urbanos é reduzida e muitas dependem
totalmente de repasses dos governos centrais para pagar suas contas.
Infelizmente, mesmo as maiores cidades amazônicas, que possuem
orçamentos significativos e melhor governança, estão longe de atingir
patamares adequados de sustentabilidade (PARANAGUÁ et al., 2003).
Portanto, há a necessidade de se desenhar extenso programa regional
de investimentos estratégicos nas cidades amazônicas para torná-las
lugares aprazíveis para viver e ao mesmo tempo criar modelos de
convivência integrada com as vastas florestas e rios da região.
Os centros urbanos devem se tornar importantes polos de
desenvolvimento tecnológico e produção sustentável. Investimentos
públicos para criar e manter universidades e institutos de pesquisa
científica e tecnológica que formem novos recursos humanos e gerem
inovação contínua são indispensáveis. O conceito de agrupar as cidades
em clusters estratégicos voltados para o beneficiamento dos produtos
da região e prestação de serviços poderá criar a sinergia necessária
para gerar emprego, renda e dinamismo econômico. Essencial é
que os clusters de produção adotem o conceito de economia circular
(WORLD ECONOMIC FORUM, 2014) desde o seu design, criando
cedo uma marca forte de sustentabilidade para os produtos da região.
Os países poderiam trabalhar juntos para dinamizar as cidades-irmãs
nas fronteiras (e.g., Letícia-Tabatinga, Bonfim-Lethem, etc.) e assim
aumentar a sinergia positiva dos seus investimentos.
Referências
ARTICULAÇÃO REGIONAL AMAZÔNICA – ARA. A Amazônia e os objetivos
do milênio. Quito, 2011.
BARNOSKY, A. D. et al. Has the Earth’s sixth mass extinction already arrived?
Nature, v. 471, p. 51-57, 2011.
MORA, C. et al. How many species are there on Earth and in the Ocean. PLOS
Biology, E1001127, 2011.
A logística e a defesa da
Amazônia Ocidental
Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
Introdução
O valor estratégico da Amazônia brasileira para o Brasil e o
mundo é inconteste e explícito. Entre outros atributos, a região abriga
uma biodiversidade ímpar, razão pela qual é o epicentro da agenda
mundial do debate sobre a preservação do meio ambiente. É detentora
de abundantes recursos hídricos, tais como a maior bacia hidrográfica
do mundo, o que a torna a maior reserva de água doce do planeta.
Detém invejáveis recursos energéticos e fontes alternativas, motivo pelo
qual é considerada a nova fronteira energética. Possui incalculáveis
riquezas minerais, tais como ouro, diamante, minério de ferro e
minerais estratégicos, as chamadas “terras raras”1, as quais possuem
uma infinidade de aplicações.
1
Nome dado a 17 elementos químicos da tabela periódica que ganham cada vez mais destaque
nas evoluções tecnológicas da atualidade. Isso porque, pelas características eletrônicas,
magnéticas, ópticas e catalíticas, melhoram o desempenho de materiais que integram
lâmpadas, telas de celulares ou motores e baterias.
3
Os ianomâmis são índios que habitam o Brasil e a Venezuela. A noroeste de Roraima estão
situadas 197 aldeias que somam 9.506 pessoas, e ao norte do Amazonas estão situadas
58 aldeias que somam 6.510 pessoas. Na Venezuela somam cerca de 12.000 pessoas residentes
no sul dos Estados Bolívar e Amazonas.
Nesse contexto, por meio da 12ª RM, o CMA vem adotando uma
série de ações voltadas para a mencionada transformação logística, das
quais se destaca o Campo de Prova da 12ª RM.
Resultante do I Simpósio de Logística Interagências da Amazônia
Ocidental, realizado em 2013, pelo Comando da 12ª RM, o Campo de
Prova da 12ª RM tem dois claros objetivos. O primeiro é o de inserir,
indubitavelmente, a logística militar na era do conhecimento, na qual
estamos expostos a velocidade das inovações tecnológicas, por meio de
estudos e pesquisas voltadas para ferramentas e produtos inovadores.
O segundo é o de avaliar produtos e serviços destacados e sabidamente
aprovados, antecipando-se a possíveis aquisições futuras a fim de
garantir a eficiência no emprego dos recursos, evitando interrupções
de projetos já em andamento causadas por falhas técnicas ou pela
inadequabilidade de emprego na Região Amazônica.
Diante das premissas fundamentais do CMA, o Comando da
12ª Região Militar elencou um stakeholder4 prioritário, para o qual todas
as ações deveriam estar direta ou indiretamente voltadas. O stakeholder
prioritário é o Pelotão Especial de Fronteira (PEF).
Relevante ressaltar que os 24 PEF situados na Amazônia Ocidental
enfrentam inúmeros óbices em seu cotidiano em decorrência de vários
fatores, sobretudo pelo isolamento e pela falta de infraestrutura de toda
ordem, pois estão localizados em áreas inóspitas da selva amazônica
brasileira, o que limita substancialmente a operacionalidade dessas
unidades. Dentre esses contratempos, quatro temas merecem destaques,
quais sejam: água, energia, comunicação e dignidade (THEOPHILO
GASPAR DE OLIVEIRA, 2013a).
A água potável é considerada por integrantes dos PEF como o
problema prioritário a ser resolvido, pois a inexistência de um sistema
que garanta o fornecimento de água potável de forma efetiva contribui
para a disseminação de doenças, ocasionando danos à saúde dos
militares e de seus dependentes. Atualmente, os recursos utilizados são
a captação de água dos rios, de poços artesianos e da chuva, sendo
feitos de maneira improvisada e sem o adequado tratamento.
Destarte, o Campo de Prova da 12ª RM realizou avaliações em
produtos voltados para o tratamento de água para o consumo humano,
tais como o equipamento portátil do Instituto Amazônia e a Estação de
4
Stakeholder é a terminologia utilizada para indicar um público de interesse, grupos ou
indivíduos que afetam e são significativamente afetados pelas atividades da organização:
clientes, colaboradores, acionistas, fornecedores, distribuidores, imprensa, governo,
comunidade, entre outros (HARRISON, 2005. p. 31.).
Considerações finais
Este artigo procurou, no primeiro momento, mostrar a relevância
das ações de defesa e de proteção da Amazônia para o uso sustentável
de suas riquezas pelas gerações futuras.
Nessa mostra, destacou o poder de polícia concedido ao Exército
Brasileiro para atuar contra os crimes transfronteiriços e ambientais,
atuando por meio de ações preventivas e repressivas. Acentuou o
6
Por intermédio do Plano de Apoio à Amazônia, o CMA, a 12ª RM e o VII Comando Aéreo
Regional (VII Comar) desencadeiam, um planejamento para o transporte de suprimento, com
prioridade para gêneros frigorificados, com a finalidade de suprir as organizações militares
mais isoladas.
Referências
BRASIL. Lei Complementar nº 117, de 02 de setembro de 2004. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 03 set. 2004. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 maio 2010.
VERDE OLIVA. Nossa força na Amazônia. Verde Oliva, v. 30, n. 176, out./dez.
2002. Disponível em: <http://pt.calameo.com/read/00123820643e6e0b8ee6a>.
Acesso em: 05 jul. 2014.
A Marinha na Amazônia
Ocidental e sua
contribuição para a
defesa e desenvolvimento
sustentável da região
Domingos Savio Almeida Nogueira
Figura 6. Situação
por modal de
transporte.
Fonte: Agência
Nacional de
Transportes
Aquaviários, 2015.
A atuação da Marinha
do Brasil em águas amazônicas
Na Amazônia Ocidental, a Marinha do Brasil (MB) iniciou
suas atividades em 1728, quando foi criada a Divisão Naval do Norte,
sediada em Belém do Grão-Pará, de onde passou a ser exercido o
controle do acesso de navios ao Rio Amazonas, necessário, em face da
abertura desse rio à navegação internacional. Desde então, surgiram os
primeiros indícios de uma futura e perene amizade entre os três países
lindeiros ao mesmo rio.
A partir de 2005, com a transformação do antigo Comando Naval
da Amazônia Ocidental (CNAO), sediado em Manaus, em Comando do
9º Distrito Naval (Com9ºDN), incrementou-se ainda mais o controle de
áreas ribeirinhas brasileiras nessa vasta região, acentuando o papel da
Marinha como essencial, devido ao império exercido pelas águas. Para
a MB, a partir dessa data, outras conquistas foram somando-se, como a
aquisição de novos meios operativos e a criação de novas Organizações
Militares (OM), distribuídas por quatro estados: Amazonas, Roraima,
Rondônia e Acre; fato que potencializou a atuação da Força Naval
quanto à Segurança do Tráfego Aquaviário, em uma região onde a
malha hidroviária navegável alcança cerca de 22 mil Km de extensão e
por onde trafegam mais de 35 mil embarcações.
Figura 9. Comando do
9º Distrito Naval.
Fonte: Acervo da Marinha
do Brasil, 2015.
Conclusão
Por fim, vale ressaltar que urge a destinação de recursos, visando
atender necessidades imediatas de melhoramentos da infraestrutura
dos rios amazônicos, a fim de garantir eficaz aplicação do Poder Naval
na Amazônia Ocidental; garantir a segurança da navegação; fomentar o
comércio via modal hidroviário, mais barato e menos poluente; fomentar
a indústria naval, para a geração de portos organizados e seguros; além
de fomentar a ciência, a tecnologia e a inovação, tanto das atividades
navais, quanto na sustentabilidade necessária à Bacia Amazônica (meio
ambiente, aquicultura, pesca, e outros). Com isso, poderemos afiançar
que a Amazônia será desenvolvida sustentavelmente, em prol do bem-
estar de sua população, sem impactos à sua pujante natureza.
Referências
BRASIL. Lei nº 9.537, de 11 de Dezembro de 1997. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 dez. 1997. Seção 1, p. 29510.
em Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Porto Velho (RO). Essas unidades
militares são importantes pontos logísticos para a Aeronáutica e
sediam esquadrões aéreos que possuem aeronaves que decolam todos
os dias com o intuito de garantir a soberania brasileira. Ao todo são
sete esquadrões aéreoas, que operam com oito aeronaves diferentes.
Na extensa relação estão as aeronaves F-5EM Tiger, C-97 Brasília, C-95
Bandeirante, C-98 Caravan, C-105 Amazonas, H-60L Black Hawk,
A-29 Super Tucano e AH-2 Sabre, que realizam variadas operações
que contribuem para o apoio e a defesa da região.
A Base Aérea de Manaus (BAMN), tida por muitos militares
da FAB como a mais operacional da Aeronáutica, possui mais de
40 anos de história e evolui conforme sua crescente responsabilidade e
importância no cenário nacional, visto que, cada vez mais, a Amazônia
ganha destaque nos contextos nacionais e internacionais. Sua principal
função é apoiar as unidades sediadas. Esta organização é sede de quatro
unidades aéreas, uma de infantaria, uma de artilharia antiaérea e uma
de suprimento da Força Aérea Brasileira, tornando-se a principal base
logística da FAB na Amazônia e uma das mais importantes do Brasil.
Uma das unidades aéreas instalada na BAMN é o Primeiro
Esquadrão do Quarto Grupo de Aviação (1°/4° GAv), o Esquadrão
Pacau. Criado em julho de 1947, inicialmente com sede na Base Aérea
de Fortaleza (CE), foi, em 2002, transferido para a Base Aérea de Natal
(RN). Sua instalação na Base Aérea de Manaus ocorreu apenas em
2010, com o objetivo de atender à Estratégia Nacional de Defesa.
Esquadrão de caça, o Pacau cumpre a missão de resguardar
o espaço aéreo na Amazônia Ocidental. Nesse sentido, operando a
aeronave F-5EM, está em alerta 24 horas por dia, durante os 365 dias
do ano, para resguardar a fronteira norte do Brasil. A dedicação e o
profissionalismo de seus militares renderam ao Esquadrão o título de
“A Sorbonne da Caça”.
A Força Aérea possui mais dois esquadrões aéreos de caça na
região. Um sediado na Base Aérea de Boa Vista (BABV), o Primeiro
esquadrão do terceiro Grupo de Aviação (1°/3° GAv), e outro operando
na Base Aérea de Porto Velho (BAPV), o Segundo Esquadrão do
Terceiro Grupo de Aviação (2°/3° GAv). Ambos atuam com a aeronave
A-29 Super Tucano.
A Base Aérea de Manaus também sedia dois esquadrões voltados
para a aviação de transporte. O Sétimo Esquadrão de Transporte
Aéreo (7° ETA), Esquadrão Cobra, foi criado em julho de 1983.
Sistema de Proteção
da Amazônia: modelo de
governança singular do
território amazônico brasileiro
Rogério Guedes Soares
Introdução
A Amazônia é o maior bioma do Brasil: num território de
4,196.943 milhões de km2 (IBGE, 2004), crescem 2.500 espécies de
árvores (ou um terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil
espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul).
A Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo:
cobre cerca de 6 milhões de km2 e tem 1.100 afluentes. Seu principal
rio, o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano Atlântico,
lançando ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo.
As estimativas situam a região como a maior reserva de madeira
tropical do mundo. Seus recursos naturais, que, além da madeira,
incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e minérios, por
exemplo, representam abundante fonte de riqueza natural. A região
abriga também grande riqueza cultural, incluindo o conhecimento
tradicional sobre os usos e a forma de explorar esses recursos naturais
sem esgotá-los nem destruir o habitat natural.
Toda essa grandeza não esconde a fragilidade do ecossistema
local, porém, a floresta vive a partir de seu próprio material orgânico,
e seu delicado equilíbrio é extremamente sensível a quaisquer
interferências. Os danos causados pela ação antrópica são muitas vezes
irreversíveis.
A Amazônia brasileira, denominada Amazônia Legal, abrange
os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia,
Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, perfazendo uma superfície
de mais de cinco milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a
60% do território brasileiro.
São 763 municípios, com população que, em 2007, já somava quase
25 milhões de pessoas, sendo que mais de 70% vivem nas áreas urbanas
(IBGE, 2007). O contingente populacional indígena tem crescido nos
últimos anos, sendo estimado em 400 mil, distribuído principalmente
nas terras indígenas (1,02 milhões de km) (IBGE, 2007).
A diversidade étnica é outra característica da região. Estimam-se
em 200 os grupos étnicos, que falam cerca de 170 línguas e dialetos
diferentes. Quase 200 milhões de hectares na Amazônia Legal (40% do
território) constituem-se de área protegidas ou de destinação específica
(unidades de conservação, terras indígenas, terras quilombolas e áreas
militares). O PIB regional de 2006 foi da ordem de R$ 175 bilhões
(8% do total nacional) resultando num PIB per capita de R$ 6,5 mil,
Histórico
Na década de 90, o governo brasileiro, em reconhecimento a
uma série de problemas diagnosticados na região, como a deficiente
infraestrutura de apoio às decisões governamentais, a atuação
ineficaz das instituições públicas, a falta de atuação multidisciplinar
integrada, a reconhecida dificuldade de proteger o ecossistema, a
quase inexistência de sistema de controle, fiscalização, monitoramento
e vigilância, aliadas à complexidade das questões socioeconômicas,
ecológicas e culturais, e, mais ainda, a existência de pressões externas
para a internacionalização da Amazônia, concebe dois movimentos:
a criação de um sistema nacional de coordenação que propicie a
atuação integrada e coordenada de seus órgãos na Amazônia, e outro,
a viabilização de meios tecnológicos para a vigilância e monitoramento
sistemático que produza informações para o planejamento e a execução
das ações finalísticas, em resposta aos problemas de gestão e controle
da região. Constituem-se, então, o Sistema de Proteção da Amazônia
Atividades permanentes
O trabalho do Sipam tem funcionado de forma sistemática,
e o valor que agrega decorre da sua capacidade em implantar e
harmonizar diversos subsistemas de gestão tendo como finalidade a
manutenção e atualização da infraestrutura tecnológica, a produção
de conhecimento e, para a realização destas, a coordenação/integração
dos mecanismos organizacionais e institucionais envolvidos, na busca
de prover informação e conhecimento da Região Amazônica. Foram
estruturados quatro programas permanentes:
SIPAMCidade
O Programa SIPAMCidade tem como objetivo capacitar, gratui
tamente, os municípios da Amazônia Legal no uso de geotecnologias
para apoiar as ações de planejamento e ordenamento territorial.
Durante a capacitação, os técnicos recebem um CD-Rom, contendo
uma base de dados digital, recortada por município, composta por
dados raster (imagens de satélite) e dados vetoriais (mapas temáticos,
tais como vegetação, hidrografia, solo, dentre outros), disponíveis
Telecomunicação satelital
Atualmente o Sipam conta com uma rede de comunicações
composta por cerca de 700 terminais de usuários remotos, com
tecnologia VSAT (Very Small Aperture Terminal), possibilitando acesso
à internet e telefonia; são instalados em pontos isolados e estratégicos
da região, e em alguns casos significam o único meio de comunicação
da população. Os terminais são cedidos, mantidos e instalados pelo
Censipam na Amazônia para os diversos órgãos parceiros, como
prefeituras, Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Defesa Civil, ICMBio,
DPF, Exército, Aeronáutica, Marinha, Funai e governos dos Estados
(figura 4). Como exemplo do uso desses terminais, podemos citar:
(i) Instalação de VSAT em todas as Comarcas do Amazonas para
atender ao Programa Projudi, desenvolvido pelo Tribunal de Justiça
Atividades especiais
Estas atividades correspondem às demandas específicas que
são encaminhadas pelos órgãos parceiros a partir da integração das
políticas públicas prioritárias para região.
Arco Verde
O Sipam realizou o trabalho de monitoramento dos 43 muni
cípios embargados, prioritários para as ações de prevenção e combate
ao desmatamento, conforme a Portaria 102, de 24 de março de 2009
(BRASIL, 2009), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Foram
coletadas imagens R99/SAR, pelo sensor de Radar de Abertura
Terra Legal
Programa Terra Legal, criado pelo governo federal pela
Lei nº 11.952 (BRASIL, 2009), para titular a propriedade de terras
públicas de até 15 módulos fiscais, localizadas na Amazônia. As áreas
regularizadas são monitoradas por meio de imagens de satélite.
O resultado desse monitoramento é a ação imediata e pontual
sobre as propriedades que não estiverem cumprindo as cláusulas
contratuais de preservação do meio ambiente e sustentabilidade.
Nesta parceria, o trabalho do Sipam é gerar informações sobre o
monitoramento, e repassá-las à Coordenação Nacional do Terra Legal.
Anualmente é gerado um levantamento que permite o mapea
mento atualizado das terras públicas federais, sua destinação e a
evolução das ocupações, garantindo assim o cumprimento da cláusula
ambiental dessas áreas. Além disso, o Sipam vem utilizando seus
meios de inteligência tecnológica, como a mineração de dados, para
identificar possíveis fraudes.
Arco de Fogo
O Censipam apoia as operações de combate e controle do
desmatamento e outros ilícitos, por meio do trabalho de inteligência
tecnológica, com ações integradas com a Polícia Federal, o Ibama,
a Força Nacional de segurança e a Polícia Rodoviária Federal, além
de participar da Comissão Interministerial de Combate aos Crimes
e Infrações Ambientais (CICCIA). Para essas ações, fornece material
cartográfico de apoio (cartas imagens, imagens de satélite, mapas
temáticos, croquis de operação) e relatórios para o direcionamento de
ações, ambientação das equipes de campo e otimização de recursos.
Também gera relatórios de inteligência resultantes de um trabalho
de auditoria nos Documentos de Origem Florestal (DOFs) e Guias
Cartografia da Amazônia
O Projeto da Cartografia da Amazônia tem com o principal
objetivo mapear, em escala mais detalhada (1:100.000), os vazios
cartográficos na região, que equivalem a cerca de 1,8 milhão de
quilômetros quadrados da Amazônia que não possui informações
cartográficas na referida escala.
O Censipam é o gestor do projeto, e os executores são Exército
Brasileiro, Marinha do Brasil, Força Aérea Brasileira e Serviço
Geológico do Brasil (CPRM), que realizam as cartografias náuticas,
terrestre e geológica.
Até a conclusão do projeto, vários produtos cartográficos
intermediários serão divulgados para subsidiar pesquisadores ou mesmo
auxiliar na gestão pública. Durante a execução, o governo federal
investe R$ 350 milhões. O projeto permitirá melhor conhecimento
da Amazônia brasileira, geração de informações estratégicas para
o monitoramento de segurança e defesa nacional, em especial nas
fronteiras e maior segurança a navegação. A cartografia auxiliará
ainda no planejamento e execução dos projetos de infraestrutura, como
rodovias, ferrovias, gasodutos e hidrelétricas, além da demarcação de
áreas de assentamento, áreas de mineração, agronegócios, elaboração
de zoneamento ecológico, econômico e de ordenamento territorial,
segurança territorial, escoamento da produção e desenvolvimento
regional.
Considerações finais
O tema Amazônia é tratado com alta importância, não somente
pela sociedade brasileira, mas também pela comunidade internacional.
O investimento feito pelo governo brasileiro na implantação do Sipam
vem demonstrando resultados satisfatórios, por exemplo, o uso de
geotecnologias é fundamental para se conhecer e fortalecer a gestão
do território amazônico, que abriga 30% da diversidade biológica
do planeta, tem a maior bacia de água doce da terra, um terço das
florestas tropicais úmidas do planeta e gigantescas reservas minerais.
Para proteger toda essa riqueza e desenvolver econômica e socialmente
a Amazônia, que abrange 60% do território brasileiro, é necessário um
Referências
BRASIL. Decreto 4.200 de 17 de abril de 2002. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 abr. 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4200.htm>. Acesso em: 10 out. 2011.
IBGE. Síntese dos indicadores sociais: uma análise das condições de vida
da população brasileira. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.
ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/
sinteseindicsociais2007/indic_sociais2007.pdf>. Acesso em: 10 out. 2011.
Antecedentes propiciadores
As características do desenvolvimento implantado no Brasil
a partir da década de 30 do século XX decorreram de ideologias
que dominavam alguns países, especialmente na América Latina,
e que tinham como premissas o crescimento econômico, com
perfil nacionalista, pautado na promoção e proteção da indústria,
utilizando-se de mecanismos de substituição de importação, visando
modificar o perfil de países eminentemente agroexportadores. Tais
perspectivas foram estimuladas pelo crescente mercado interno
nacional e o anseio da sociedade brasileira pela industrialização,
circunstâncias que criaram as condições para o fomento da estrutura
industrial (BRUM, 2005), com o Estado assumindo o papel de indutor
e atuando como principal agente das políticas implementadas.
O desenvolvimentismo, como ficou denominada essa fase,
esteve presente no Brasil com fortes traços até os anos 80 do século
XX, com predominância para o período de Getúlio Vargas, Juscelino
Kubitscheck e primeiros anos dos governos militares, foi determinante
para a concepção do modelo de desenvolvimento proposto para a
Região Amazônica – especialmente para a criação da Zona Franca
de Manaus (ZFM). Ele acabou assimilando as matrizes teóricas do
desenvolvimentismo, que dava ênfase às ideias keynesianas com seu
modelo de estado regulador da economia, à teoria estruturalista ou
cepalina do subdesenvolvimento1, à teoria de polos de desenvolvimento
baseada nos estudos de François Perroux, aperfeiçoada por Albert
Hischman e mais tarde ampliada por Michel Porter, por meio de sua
teoria dos aglomerados. Em síntese, essa teoria considera os polos
como sendo “complexos industriais com identificação geográfica,
sendo liderados por indústrias motrizes com atividades ligadas nas
relações insumo-produto”. Quando esses polos passam a provocar
transformações estruturais e expansão do produto e do emprego no
meio que estão inseridos, tornam-se polos de desenvolvimento (SOUSA,
2005, p. 180).
O desenvolvimentismo adotava ainda como instrumento os
processos de substituição de importação e de redução ou eliminação
de encargos fiscais, que foram defendidos por Maria da Conceição
Tavares, dentre outros pensadores, para quem o modelo de substituição
1
A partir de estudos da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) que questionava
a especialização das economias latino-americanas voltadas à exportação, condenando-as ao
subdesenvolvimento, tendo como sua principal referência os estudos de Raúl Prebisch e Celso
Furtado.
Mudanças no tempo
Ótica federal
O projeto do deputado federal Francisco Pereira da Silva (AM),
emendado pelo deputado Maurício Joppert, relator da matéria, constituiu
o marco legislativo, em 1957, para a implantação de um “porto livre”
2
Trata-se de operação criada pela Lei n.° 5.173, de 27 de outubro de 1966.
3
Lei n.° 4.069-B, de 12 de junho de 1962, assegurava a isenção de imposto de renda para
empresas localizadas na Amazônia que atuassem no beneficiamento ou manufatura de matéria-
prima regional (borracha, juta e similares ou sementes oleaginosas). Tal regra se tornaria a
base dos incentivos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), quatro
anos depois (BRASIL, 1962).
4
Decreto n.° 61.244, de 28 de agosto de 1967 (BRASIL, 1967b), regulamentando o Decreto-Lei
n.° 288/67.
5
Na atualidade a Suframa é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC).
6
Decreto n.° 63.105, de 15 de agosto de 1968 (GARCIA, 2008, p. 61).
7
O primeiro projeto industrial com os estímulos do DL 288/67 foi aprovado em 1968 da
empresa Beta S.A,Indústria e Comércio, empresa produtora de joias, titular do certificado n.°
01. (GARCIA, 2008, p. 59). Empresa não mais existente.
8
Decreto n° 92.560, de 19 de abril de 1986. (GARCIA, 2008, p. 104).
10
Até 31 de março de 1991.
11
Ressalte-se que os bens de informática, veículos automotores, tratores e outros veículos
terrestres, bem como suas partes e peças, foram excluídos dos benefícios.
12
A lém de autorizar futuras definições por meio de portaria interministerial, da parte dos
Ministérios da Integração Regional, da Indústria, Comércio e Turismo e da Ciência e
Tecnologia.
13
A LCs criadas e já implantadas: Tabatinga, Estado do Amazonas; Boa Vista e Bonfim, Estado
de Roraima; Macapá-Santana, Estado do Amapá; e Guajará-Mirim, Estado de Rondônia.
ALCs criadas e não implantadas: Paracaima e Bonfim, Estado de Roraima; e Brasileia e
Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre. Disponível em: <http://www.suframa.gov.br/suframa_
descentralizadas_alcs.cfm.>. Acesso: em 7 mar. 2011.
14
Suspensão do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto de Importação (II),
que somente são concedidos na entrada de produtos específicos que visem ao beneficiamento
de produtos regionais e à industrialização de acordo com projeto aprovado que leve em conta
a vocação regional.
Ótica estadual
Em 1968, a política já existente de incentivos fiscais no Estado do
Amazonas foi adaptada ao cenário decorrente da efetiva entrada em
funcionamento da ZFM. A partir de então, vigoraram várias leis que
se sucederam, governo a governo16, visando estabelecer mecanismos
indutores do desenvolvimento do Estado pela via da renúncia fiscal.
Os incentivos fiscais estaduais basearam-se, essencialmente, em
concessões associadas ao Imposto sobre a Circulação de Mercadorias
e Prestação de Serviços de Transporte e de Comunicações (ICMS),
visando contribuir com o aumento das vantagens comparativas na
atração de projetos industriais para o PIM. A princípio, ocorria o efetivo
recolhimento integral do tributo, no prazo regular, e a restituição
do valor pago se dava após 60 dias do ingresso dos recursos nos
cofres públicos, com devolução integral ou parcial17. Posteriormente,
apesar de mantida a expressão restituição, passou a ocorrer a
devolução imediatamente após o seu recolhimento. Na atualidade18,
a denominação do “incentivo” passou a ser “crédito estímulo”, e
além desse são asseguradas outras modalidades de benefícios com a
15
Suframa. Incentivos. Disponível em: <http://www.suframa.gov.br/zfm_incentivos.cfm. Acesso
em: 15 out. 2009, e Lei n.° 10.865/2004.
16
1. Governo Danilo de Mattos Areosa: Lei n.° 839, de 17 de dezembro de 1968 e Lei n.° 958, de
9 de setembro de 1970; 2. Governo José Bernardino Lindoso: Lei n.° 1.370, de 28 de dezembro
de 1979; 3. Governo Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo: Lei n.° 1.605, de 25 de julho de
1983 e Lei n.° 1.699, de 13 de setembro de 1985; 4.Governo Amazonino Mendes: Lei n.° 1.939,
de 27 de dezembro de 1989 e Lei n.° 2.390, de 08 de maio de 1996; 5.Governo Carlos Eduardo
de Souza Braga: Lei n.° 2.826, de 29 de setembro de 2003, atualmente em vigor.
17
Até a Lei n.° 551/66 a restituição era considerada crédito ao contribuinte para as operações
subseqüentes, obedecido o prazo de 60 dias.
18
A partir da Lei n.º 2.826/03.
Ótica municipal
O Município de Manaus está totalmente contido na área da
ZFM e desse modo, atendendo ao disposto no Decreto-Lei n.° 288/67,
editou norma (BRASIL, 1967a) isentando empresas, profissionais
autônomos, prestadores de serviço com ou sem estabelecimento fixo,
do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Esta isenção
foi, posteriormente, ratificada pela Lei Municipal n.° 1.167/7322. Por
aproximadamente 20 anos o município de Manaus concedeu essa
20
Lei n.° 839/68 – criou o Fundo de Investimento para o Desenvolvimento do Estado do
Amazonas (Fideam) constituído por recursos correspondentes ao recolhimento de cinco por
cento do imposto restituído, destinados a aplicação em projetos agropecuários e programas
de estudos e pesquisas. Lei n.° 1.370/79 – manteve o percentual de participação das empresas
que, posteriormente, foi elevado para dez por cento do imposto restituído que, neste caso, se
destinava às empresas industriais, agropecuárias e de serviços, consistindo a assistência tanto
através de financiamentos com linhas de crédito favorecidas quanto de outros subsídios tais
como terrenos a preços subsidiados e galpões fabris.
21
Pela Lei n.° 1.115, de 15 de abril de 1974.
22
Lei Municipal n.° 1.167, de 30 de novembro de 1973. Art. 47 “Ficam isentos do Imposto
sobre Serviços as empresas ou profissionais autônomos, prestadores de serviço, pelo prazo
estabelecido no Decreto-Lei Federal 288/67, que instituiu a ZFM.”
Cenário atual
Êxitos, contradições e entraves
A ZFM destaca-se como política de desenvolvimento regional
na Amazônia por sua longevidade, pelos resultados socioeconômicos
23
Lei n.° 1.883, de 16 de dezembro de 1986 e Decreto n.° 5.626, de 6 de janeiro de 1987.
24
Lei n.° 2.054 de 28 de dezembro de 1989, que estabelece normas relativas à concessão de
incentivos fiscais a microempresas.
26
A rt. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de
comércio, de exportação e importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos,
a partir da promulgação da Constituição. Parágrafo único. Somente por lei federal podem ser
modificados os critérios que disciplinaram ou venham a disciplinar a aprovação dos projetos
na Zona Franca de Manaus. Art. 92. São acrescidos dez anos ao prazo fixado no art. 40 deste
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
28
Palavra original utilizada pelo autor – refracções.
29
No Direito português, o ato administrativo goza de uma tendência à imutabilidade com o
objetivo de proteger os interesses da legalidade e da irretroatividade.
30
A ADI n.° 310-1, do Governo do Estado do Amazonas, de 1990, somente em 19/02/2014, ou
seja, 24 anos depois, teve julgamento de mérito, subsistindo a matéria de que tratava com
garantia precária, por decisão liminar.
31
Relatório “Nosso Futuro Comum” desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid (ONU, 1987).
32
Estados do Acre, Amapá, Amazonas, parte do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia,
Roraima e Tocantins.
33
A rea desmatada. Disponível em: <http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php>. Acesso em: 07
abr. 2014.
34
Os autores avaliaram os estudos de: Walker (1987); Agelsen (1995); Rudele Roper (1996);
Murali e Hedge (1997); Geist e Lambim (2001).
Amapá. Considerando o ano de 2002 como base, o PIB dos estados teve
as seguintes taxas percentuais de crescimento: Rondônia: 257,84; Pará:
244,40; Tocantins: 222,07; Acre: 206,59; Roraima: 200,57; Amazonas:
196,25; e Amapá: 172,46. Considere-se que esse foi um período de boom
na ZFM, pelo fato de ter decorrido logo após a ampliação de seu prazo
de vigência (em 2002). Entretanto, para algumas economias da região,
baseadas em commodities minerais e agropecuárias, o período inclui os
efeitos da crise internacional de 2008, situação que chegou a causar
crescimento negativo (-0,2%) no PIB do Pará, em 2009.
Entre as três maiores economias da região o Amazonas teve o
menor crescimento em participação na economia brasileira: o Pará
representava 1,7% e passou para 2,1%; Rondônia representava 0,5% e
passou para 0,7%; o Amazonas representava 1,5% e passou para 1,6%,
ou seja, ampliou apenas 0,1pp, embora possua robusto polo industrial
e seja beneficiado pelos incentivos da ZFM.
Em relação à representatividade da economia do Amazonas na
Região Norte, constata-se perda de participação. O Pará, mesmo tendo
sido afetado severamente pela crise de 2008 (decresceu em -0,2% no
PIB) contribuía, em 2002, com 37,0% e, em 2011, passou para 39,5%.
Rondônia passou de 11,2% para 12,5%; já o Amazonas diminuiu de
31,4% para 28,9%. São evidências de perda de dinamismo em relação
aos demais estados da Região Norte.
Em consonância com tais indicativos, estudo recente (maio 2014)
publicado por respeitável instituição financeira (ITAÚ, 2014), também
constata, para o Amazonas, tendência de contínuos decréscimos no
desempenho de seu PIB, a saber: 2003-2007: 6,5%; 2008-2013: 3,31 e
2014-2020: 2,5%.
A economia do Amazonas é, hegemonicamente, decorrente
do PIM, o que enseja uma composição seu PIB de forma bastante
distinta do Brasil. Em 2011 (IBGE, 2011), no Amazonas, a indústria
como um todo contribuiu com 41,7% do Valor Adicionado Bruto
(VAB), enquanto no Brasil essa taxa foi de apenas 27,5%. Essa é
uma constatação relevante, sobretudo quando se considera apenas
a indústria de transformação – segmento central da indústria no
estado – na qual a contribuição foi de 30,5%, enquanto no Brasil foi
14,6%, ou seja, menos da metade. E o desempenho da indústria de
transformação no estado é também bastante diferente do Brasil, pois
que, seu crescimento, entre 2007-2011, foi de 43,3%, enquanto no
Brasil foi 32,3, ou seja, 10 pp menor.
Fonte: Construído em parceria com Mauro Thury Sá Vieira, com dados da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS), obtidos em http://bi.mte.gov.br/bgcaged/login.
php, acessado entre 07/04/2014 e 07/05/2014.
Considerações finais
No mês de conclusão deste artigo (agosto 2014), os jornais de
Manaus têm publicado, em paralelo com a euforia da prorrogação,
sinais de que há motivos reais para se considerar que a simples
ampliação de seu prazo de validade é insuficiente para recompor seu
dinamismo.
A Crítica de 6 de agosto de 2014 noticia, com base em pesquisa do
IBGE, que a produção industrial do Amazonas, no mês de junho, liderou
o ranking de queda entre todos os demais estados, com -9,3%, e que na
comparação com o mesmo período de 2013, o estado também teve a
pior queda, com -16,1%. Informa também, que em 2014, esse é o quarto
mês que apresenta queda desse agregado econômico. No mesmo jornal,
no dia 12-08-2014, o senhor Paulo S. Takeuchi, diretor-Executivo de
Relações Institucionais da Moto Honda da Amazônia (uma das maiores
empresas da ZFM), publicou um artigo com o sugestivo título “De volta
à realidade”, no qual registra que o segmento de duas rodas – o segundo
mais importante da ZFM – deverá fechar o ano com desempenho
inferior ao de 2013, que já tinha sido inferior ao de 2012, 2011 e
2010. Ademais, aponta um cenário pouco atraente com instabilidades
econômicas, incerteza quanto ao futuro, alta inflação e juros, nível de
endividamento da população e consequente inadimplência, tudo isso
refletindo em perspectivas nada satisfatórias.
Merece, portanto, refletir que do projeto original da ZFM – e
sua ancoragem histórica, teórica e estratégica – pouco restou, a não
ser, essencialmente, os diferenciais tributários, ainda assim reduzidos
ao longo tempo e hoje baseados em uma legislação extensa e complexa
que só lhe agregam, continuamente, insegurança jurídica, como
analisado à exaustão ao longo do texto. As garantias constitucionais
agora previstas até 2073 não terão o condão de fazer desaparecer essa
herança de tanto tempo de desfiguração.
Sem encaminhamento efetivo da agenda de providências
elencadas anteriormente, e/ou outras que possam vir a ser apontadas
por estudiosos do tema, a atratividade para novos investimentos fica
comprometida. E é urgente que algo seja feito, pois esse estado de espera
que já era vivenciado por todos desde antes – quando ainda se aguardava
pelo desfecho legislativo em torno da prorrogação – prossegue agora
Referências
AMAZONAS. Governador (1966-1971 : Danilo Duarte de Mattos Areosa).
Mensagem à Assembléia Legislativa do Estado: 31 de março de 1970. Manaus:
Palácio Real, 1970.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D47757.htm>. Acesso
em: 12 ago. 2014.
DINIZ, Marcelo B.; MOTA, José Aroudo; MACHADO, José Alberto de.
O desmatamento da Amazônia em perspectiva. In: RIVAS, Alexandre; MOTA,
José Aroudo; MACHADO, José Alberto de. (Org.). Instrumentos econômicos
para a proteção da Amazônia. Curitiba: CRV, 2009.
IBGE. Produto Interno Bruto dos municípios. 2010. Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pibmunicipios/2010/default_pdf.
shtm>. Acesso em: 15 jul. 2014.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 23. ed.
São Paulo: Malheiros, 2004.
Caminhos da agropecuária
amazônica como instrumento
de desenvolvimento
Alfredo Kingo Oyama Homma
Introdução
Acompanhei a evolução da agricultura na Amazônia nos últimos
45 anos, quando iniciei minhas atividades em Manaus após a conclusão
do curso de agronomia em 1970, na Universidade Federal de Viçosa
(UFV). Seria imaginar o mesmo percurso para aqueles que estão
iniciando no presente para perscrutar a Amazônia em 2060. No início
da década de 1970, um cidadão comum jamais poderia imaginar o uso
de internet, celular, netbook, ultrabook, Ipod, Ipad, tablet, TV de plasma,
ponte sobre os rios Guamá e Negro, torres de transmissão da altura da
Torre Eiffel, etc., como algo rotineiro na Amazônia (BLAINEY, 2012).
O primeiro salário como profissional foi para adquirir uma máquina
de escrever Olivetti Lettera 22, considerada prática na época. Imaginar
como seria a agricultura na Amazônia para as próximas quatro
décadas, inter-relacionando com outros setores da economia, constitui
um desafio sem precedentes.
Nasci em 1947, em Parintins, Amazonas, para onde meu pai
imigrou em 1933, da Província de Niigata, norte do Japão. Largou
o primeiro ano de Direito em Tóquio para frequentar a Escola de
Imigração e Colonização recém-aberta por Tsukasa Uyetsuka (1890-
1978) para treinar os emigrantes para a Amazônia. A minha mãe
chegou com seus pais, da Província de Okayama, sul do Japão, também,
embalados no grande projeto de emigração de Tsukasa Uyetsuka, mas
em navios diferentes, e se casaram no Brasil. Tiveram três filhos, sendo
dois homens e uma mulher. O navio, a província de origem e o ano de
chegada passam a ser o ponto de identificação entre os emigrantes que
deixaram o Japão.
O meu avô materno Ryota Oyama (1882-1972), foi quem efetuou
a aclimatação da juta. Os japoneses que chegaram a Parintins se
estabeleceram em área de várzea, para cultivar a juta, que marcou o
início da agricultura na Amazônia e do processo de agroindustrialização
local com a instalação dos jutifícios. O sucesso decorreu da mão de
obra liberada dos seringais, provocada pela crise da borracha, e da
II Guerra Mundial, ao impedir a importação da juta indiana. No seu
auge, na década de 1960, chegou a contribuir com um terço do PIB
do Estado do Amazonas, e com mais de 60 mil famílias envolvidas no
seu cultivo. Foi uma atividade muito importante na economia pós-crise
da borracha e da economia pré-Zona Franca de Manaus, marcando
o segundo ciclo da economia do Amazonas. O cultivo praticamente
desapareceu com o aparecimento de fibras sintéticas, o deslocamento
de mão de obra para as atividades da Zona Franca de Manaus, o
2
Observa-se Maria Pinheiro Fernandes Corrêa, o autor, Luiz Januário Magalhães Aroeira,
Fernando Antônio Araújo Campos, Antônio Francisco Souza, técnico do Campo Experimental
de Porto Velho, Luiz Fernando Monteiro, técnico do Campo Experimental de Rio Branco.
Sentados: Marcos Antonino Porto (Campo Experimental de Boa Vista), Luiz Carlos Almeida,
João Maria Japhar Berniz, Acilino do Carmo Canto.
Número de
Ano Local Objetivo
produtores
Colônia Japonesa
1972 SAFs 20
Ephigênio Salles (Manaus)
1972 Alenquer Semente de juta 97
Culturas perenes
1982 Igarapé-Açu e Tomé-Açu 151
(BIRD)
Pequenos
1982 Capitão-Poço 85
produtores (BIRD)
Pequenos
1992 Santarém-Cuiabá 68
produtores (IITF)
Mecanização
1994 Irituia 24
agrícola
Mecanização
1994 São Miguel do Guamá 19
agrícola
Mecanização
1994 Tracuateua 45
agrícola
São Miguel do Guamá e
1994 Mandioca 40
Irituia
1994 Bragança Caupi 30
Continua...
Tabela 1. Continuação.
Número de
Ano Local Objetivo
produtores
Pequenos
2001 Nova Ipixuna 78
produtores
Gliricidia (tutor
2003 Tomé-Açu 36
vivo pimenta)
Nordeste Paraense e Ilha
2005/2007 Bacuri 108
de Marajó
2006/07 Tomé-Açu SAFs 96
Pequenos
2013 Tailândia produtores com 31
dendezeiro
Pequenos
2013 Viseu e Tomé-Açu 68
produtores
Fonte: O autor.
a) A experiência na Transamazônica
Em 1970, durante o Governo Médici, quando cursava o último
ano de agronomia na Universidade Federal de Viçosa, era anunciada
a abertura da rodovia Transamazônica, conectando o Nordeste
brasileiro até o Estado do Acre. A visita a uma das regiões castigadas
pela seca do Nordeste, naquele ano, levou o presidente Médici (1905-
1985) a desenvolver a ideia de transferir contingentes populacionais do
Nordeste para áreas desabitadas da Amazônia, surgindo a famosa frase
“terra sem homens para homens sem terra”.
Em 1975, como parte da minha pesquisa de tese de Mestrado em
Economia Rural, da Universidade Federal de Viçosa, tive a oportunidade
de entrevistar 124 colonos recém-instalados, aplicando extenso
questionário na Transamazônica, no trecho Altamira/Medicilândia.
Esse primeiro contato com a Transamazônica mostrava as dificuldades
e as agruras na visão dos migrantes, na busca de sonhos e esperanças
na Amazônia. Em pleno mês de julho de 1975, no qual foi feita nossa
pesquisa de campo, sediados em Brasil Novo e em Medicilândia, rodando
em um jipe com um motorista e técnico agrícola capixaba cedido pelo
Incra e um colega de graduação da UFV, verificamos a improvisação
dos colonos, atormentados pela falta de transporte, doenças, e tragédias
Considerações finais
Há grandes oportunidades para o desenvolvimento da
agricultura na Amazônia utilizando as áreas já desmatadas, cumprindo
os preceitos legais do Novo Código Florestal e das questões éticas.
É indispensável o desenvolvimento de uma agricultura tropical, com
Referências
A PEQUENA produção rural e as tendências do desenvolvimento agrário
brasileiro: ganhar tempo é possível? Brasília: CGEE, 2013.
ABRAF. Anuário estatístico ABRAF 2013 ano base 2012. Brasília, 2013.
Logística de transporte
na Amazônia integrada
ao Sistema Nacional
Augusto César Barreto Rocha
não são efetivas riquezas econômicas, pois elas não são aproveitadas
por seus donos. Assim, a população da região segue em um cenário
de pouca liberdade, pois não pode sequer se movimentar de maneira
fácil e barata. É como se todos estivessem condenados a um modelo
de cidadania secundária ao restante da Federação, por sua opção
de moradia. Permanecem pobres em vida, dependentes de favores e
sentados sem saber explorar e sequer sem poder acessar o local onde
o tesouro (estaria) “enterrado”, mas ficam acomodados por achar que
todos estão de olho na Amazônia. É um cenário surreal, que transgride
ao que anseia boa parte dos habitantes da região. É claro que outra boa
parte preferirá ficar deitada em berço esplêndido.
Feito este introito com alguns fatos e motivos que entendo levem
ao cenário de quase ausência de infraestrutura em nossa querida região,
este texto passa a desenvolver uma análise macro da logística, fazendo
uma digressão sobre algumas possibilidades de uso do potencial
da região, por meio da criação de infraestruturas de transportes
compatíveis com seu potencial econômico.
A transformação do potencial econômico da Região Amazônica
em riqueza vai se dar por meio do entendimento do que pode ser ou vir
a ser o modelo de desenvolvimento e competitividade esperado para a
região. Afinal, precisamos deixar de ser o país do futuro para sermos o
país do presente, e a Amazônia pode contribuir para isso.
Em logística se diz que cada produto chama o modal mais
apropriado. A natureza também ajuda a equilibrar uma boa
infraestrutura de transporte, quando o relevo e as características
geográficas da região apontarão os melhores formatos de transporte,
de veículos, e assim garante-se que serão realizadas construções
compatíveis com os benefícios a serem obtidos no curto, médio e longo
prazo.
Entender a Amazônia isolada e intocada é entender a Amazônia
sem infraestrutura de transporte. Assumo que este pressuposto é
inválido. Entendo que a região deve ter seu potencial transformado em
uma riqueza de uso responsável para a atual geração e para as futuras.
Entretanto, sem o comércio e a relação de troca econômica, isso será
impossível do ponto de vista prático. Realizar transações econômicas
repetitivas e em larga escala possibilitará essa transformação.
Para o setor de transportes responder por um custo baixo na
aproximação dos produtores em relação aos consumidores, será
necessário que os veículos de transporte sejam compatíveis com os
bens produzidos, de tal forma que eles possam estar sempre com sua
capacidade tomada e realizando a maior frequência de idas e vindas
possível ao longo de um único período de tempo.
O transporte eficiente é aquele em que o veículo vai e volta
com sua capacidade toda tomada. Como as distâncias da Amazônia
são expressivas, faz-se necessário conectar a vinda de insumos
para a indústria da Zona Franca de Manaus (ou Polo Industrial de
Manaus, como preferir o leitor – ZFM ou PIM), com a saída de bens
produzidos aqui. O mesmo modal terá de fazer sentido tanto na vinda,
quanto na volta. É necessário que exista atração e geração de viagens
simultaneamente, para reduzir ou eliminar o problema de baixa
acessibilidade da região e distância relativamente grande dos centros
produtores e consumidores mais ativos do país e do mundo.
Há estudos, por exemplo, em que os navios de longo curso que
trazem insumos importados possam transportar a soja do Centro-
Oeste para o exterior. A conjugação da ida com a volta dos veículos de
transporte é fundamental. Nesse sentido, a indústria em Manaus pode
ser um centro de atração de viagens, e uma nova indústria pode ser o
centro de geração de viagens, desde que se observe a lógica de uma
integração ampla da região com o restante do país, pois as conexões
de transporte é que induzem e possibilitam a atividade econômica.
O transporte deve vir antes do desenvolvimento econômico e não o
contrário, como indicam alguns.
Como o transporte é um recurso indutor, para o desenvolvimento
da Amazônia faz-se necessária e urgente a presença de importante
infraestrutura de transporte. Esta é a premissa para a segunda parte
deste texto.
A cidade de Manaus, com seus quase 2 milhões de habitantes,
está em uma situação peculiar do ponto de vista geográfico. É possível
observá-la como o centro da região. Isso é uma vantagem competitiva
importante para o posicionamento de aeroporto com vocação para o
transporte regional.
Este breve ensaio sobre a logística da Amazônia segue a análise
com base nos mapas do Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transporte (DNIT). O leitor pode acessar os mapas, por meio da
Internet1. Para cada Unidade da Federação ser detalhada, o leitor deve
1
Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/mapas-multimodais/mapas-multim odais/mapas-
multimodais/mapas-multimodais/mapas-multimodais/>. Acesso em: 22 fev. 2014.
Considerações finais
Hoje a Amazônia não está integrada ao Brasil. Sob a ótica da
infraestrutura, a região mal chegou ao século XX. É como se vivêssemos
pouco depois do Império, no discurso e na prática do que se observa
construído na região. A ligação do interior da Amazônia com o resto
do Brasil é quase nula, vê-se na realidade que o conceito existente e
projetado para o futuro é praticamente o mesmo do Plano Rebelo de
1838. A evolução projetada nos Planos para o Transporte da região
publicados no Decreto nº 24.497, de 29/06/1934, ainda não foi feita.
Entretanto, ainda há tempo para integrar a Amazônia com o Sistema
Nacional de Transportes e, quem sabe, antes de o plano completar 100
anos, consigamos, enquanto sociedade, transformá-lo em realidade.
Acemoglu e Robinson (2012) analisam vários motivos que levam
ao insucesso de nações. É uma leitura interessante para quem deseja
ir além do mito de possibilidade de desenvolvimento. O formato
usado para a Amazônia é exatamente o que os autores escrevem sobre
fracasso: “as nações fracassam economicamente devido ao extrativismo
de suas instituições. São elas que mantêm os países pobres na pobreza e
os impedem de enveredar por um caminho de crescimento econômico”
(ACEMOGLU; ROBINSON, 2012, p. 309).
Sem infraestrutura não há desenvolvimento. Os modais devem
estar todos presentes na Amazônia, para que tenhamos a oportunidade
de movimentar pessoas e cargas em todas as direções, integrando a
Referências
A CRÍTICA (Jornal A Crítica). Construção de novos portos melhoraria
o escoamento da produção no Amazonas. 2013. Disponível em: <http://
acritica.uol.com.br/especiais/manaus-amazonas-amazonia-Construcao-
melhoraria-escoamento-producao-transportes_fluviais-Suframa-economia-
portos_0_874112596.html>. Acesso em: 16 mar. 2014.
ESTADÃO (Jornal o Estado de São Paulo). Ela fala pelo Brasil. 2014b.
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ela-fala-pelo-
brasil,1134754,0.htm>. Acesso em: 22 mar. 2014.
REIS, L. ‘País trata a Amazônia como colônia’, diz comandante militar. Folha
de São Paulo, 19 out. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
poder/2013/10/1359068-amazonia-ainda-nao-esta-integrada-ao-restante-do-
pais-e-como-uma-colonia.shtml>. Acesso em: 22 mar. 2014.
VALOR (Jornal Valor Econômico). Azul mapeou 100 aeroportos com potencial
para aviação regional. 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/
empresas/3177106/azul-mapeou-100-aeroportos-com-potencial-para-a viacao-
regional>. Acesso em: 15 mar. 2014.
Energia na Amazônia:
qual o nosso futuro?
Rubem Cesar Rodrigues Souza
2
Esta empresa foi recentemente adquirida pela empresa franco-americana Dresser-Rander.
3
A antecessora da empresa Manaus Energia S/A foi a empresa Companhia de Eletricidade de
Manaus (CEM), controlada pela Eletrobras até 20/12/1980, quando a Eletronorte assumiu os
ativos da concessão. Até o ano de 2000, a Diretoria da Eletronorte assumiu a Diretoria da
Manaus Energia, quando então passou a ter diretoria própria.
4
Em conformidade com a Lei 9.619 de 02 de abril de 1998.
5
De acordo com Souza (2000, p. 60) “Em julho de 1998, o Grupo Rede/Vale Paranapanema
adquiriu a Centrais Elétricas do Pará (Celpa), por R$ 450,3 milhões”.
9
O beneficiário do programa Minha casa, minha vida, passou a contar com crédito de
R$ 5.000,00 para compra de móveis e eletrodomésticos, que pode ser pago em até 48 parcelas.
10
P rograma do Governo Federal de financiamento para aquisição de casa própria.
Referências
BRASIL. Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Relatórios IASC.
2013. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em: 11 out. 2014.
A questão mineral
na Amazônia
Daniel Borges Nava
Introdução
Este trabalho se inspira no entendimento da Amazônia como
um lócus fantástico à construção de uma relação harmônica entre a
geodiversidade, a biodiversidade e a sociodiversidade.
Enquanto a história das outras regiões brasileiras e mundiais
reproduziu a exploração dos seus recursos em detrimento da natureza,
este capítulo discute a possibilidade de o bioma Amazônia poder
consorciar o usufruto da sua potencialidade mineral, bem como de
outros recursos naturais, com a conservação da floresta e das pessoas
que vivem na e da floresta.
Para tanto, é preciso analisar alguns desafios estratégicos para o
desenvolvimento do setor mineral na região.
Ressalto, como primeira observação, serem incipientes o
conhecimento geológico e o reconhecimento dos recursos minerais do
“continente amazônico”.
A Amazônia corresponde a uma das últimas fronteiras do
conhecimento geológico do planeta. Outras fronteiras, como as áreas
dos fundos oceânicos, do Ártico e da Antártida caracterizam-se pelas
dificuldades de logística à pesquisa e exploração.
Registra-se como a primeira planta industrial de mineração
em larga escala na Amazônia a descoberta e exploração do minério
de manganês da Serra do Navio, nas décadas de 1940 e 1950, de
responsabilidade da Indústria e Comércio de Minérios S.A. (Icomi)
(MONTEIRO, 2005).
Esse minério, utilizado na indústria do aço, foi muito demandado
mundialmente a partir de 1950, em função da política protecionista da
antiga União Soviética, na época, importante produtora de manganês,
que paralisou unilateralmente a exportação do seu minério, ato que
gerou a busca mundial por reservas alternativas, principalmente, para
o atendimento das demandas das siderúrgicas norte-americanas.
Tal fato contribuiu ao desenvolvimento do projeto de exploração
mineral de manganês – um empreendimento mineiro composto por
uma mina, vila residencial, uma ferrovia interligando Serra do Navio
e Santana e porto, na região do antigo território e atual Estado do
Amapá.
A partir do manganês da Serra do Navio, seguiu-se a descoberta
do ouro na região do Tapajós, Estado do Pará (anos de 1950); do
Figura 4. Histórico
de atividades
de exploração
e produção da
indústria petrolífera
na Amazônia.
Fonte: ANP, 2014.
A garimpagem na Amazônia
O desenvolvimento de políticas públicas que busquem a
formalização das atividades dos garimpos (exploração mineral
informal) na Amazônia constitui um terceiro desafio de forte apelo
social e ambiental.
É do final do século XIX e primeira metade do século XX que
os sertões amazônicos passaram a ser desbravados por seringueiros,
“gateiros”, agricultores de juta e malva e “marreteiros”, em sua maioria,
imigrantes nordestinos e asiáticos, muitos dos quais se tornaram
posteriormente garimpeiros, com o declínio da atividade original.
Dos ciclos extrativistas, o mais representativo e que permanece
até os dias atuais é o da garimpagem, que ocorre de forma cíclica, na
dependência direta dos preços internacionais dos metais.
Cassiterita (minério de estanho) e ouro são historicamente os
principais metais explorados pela garimpagem. Já a exploração de
diamante, quartzo, gemas e tantalita (minério de tântalo) têm existido
de forma intermitente e localizada.
Porém, dentre todos esses, o ouro é sem dúvida a grande atração
da cobiça garimpeira. São exemplos: a invasão garimpeira no Rio
Madeira e na bacia do Rio Tapajós, na década de 1970; a invasão do
Considerações finais
Nestas considerações finais, relembro palavras do Prof. Dr. Samuel
Benchimol que nos inspiram, assim descrevendo a Amazônia:
Não se traduz, apenas, pela sua biodiversidade da flora e fauna,
icnodiversidade, e fluviodiversidade e etnodiversidade, mas também
por ser uma das maiores províncias minerais do planeta, produtos
ferrosos e não ferrosos como hematita, manganês, caulim, bauxita,
cassiterita, cobre, ouro e diamantes, além da recente descoberta
da província de petróleo e gás de urucu, no Rio Coari, afluente do
Amazonas (BENCHIMOL, 2010).
De certo, o grande paradoxo ainda consiste ser a Amazônia a
região menos desenvolvida do Brasil e possuir imensas oportunidades
de crescimento econômico apoiadas no uso sustentável da biodiversidade
e de suas reservas minerais.
Neste sentido, reforça-se a tese de que a geodiversidade deve ser
encarada como um instrumento econômico importante à estratégia de
conservação da biodiversidade e sociodiversidade na região.
O governo federal apresentou em 2013 ao Congresso Nacional
um Projeto de Lei que dispõe sobre Novo Marco Regulatório ao Setor
Referências
BENCHIMOL, Samuel. Zênite ecológico e Nadir econômico-social: análises
e propostas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. 2. ed. Manaus:
Valer, 2010.
Ciência e tecnologia
no Amazonas
Ennio Candotti
1
PLANO de Ciência e Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento da Amazônia Legal.
Brasília: CGEE, 2013.
Os indicadores
O documento do CGEE preparado com a colaboração das
Secretarias de Ciência e Tecnologia e das Fundações de Apoio à
Pesquisa da Região Norte (Consecti e Confap) retrata de modo
severo o quadro da pesquisa científica na Amazônia e no Amazonas:
aqui se encontram cerca de 10 mil doutores ante 112 mil no Sudeste.
Mesmo sendo um indicador pouco significativo quando dissociado de
informações sobre a efetiva produção científica e tecnológica destes
quadros especializados, o número é 1/3 da média nacional em relação
à população. Deveriam ser mais de 35 mil. Na Amazônia vivem 13% da
população brasileira, enquanto no Sudeste, 46% . Se considerarmos,
no entanto, as dimensões do laboratório natural amazônico e seus
‘tesouros’ naturais a serem explorados, deveria haver 200 mil, um
número de doutores e laboratórios de pesquisa equivalente ao do
conjunto das demais regiões do país.
Os dados ilustrativos dos resultados das pesquisas e desenvol
vimentos tecnológicos, a P&D, confirmam o caráter periférico da região:
0,3% das patentes nacionais são concedidas a institutos da Região
Norte, ante 70% no Sudeste onde, para bem da verdade, também lá os
números absolutos, em relação aos internacionais, são muito modestos.
Os indicadores do desenvolvimento tecnológico da Região Norte têm,
em relação ao Brasil, proporção semelhante, ou um pouco pior, aos do
Brasil em relação aos países centrais.
Os números relativos aos investimentos públicos federais em
C&T indicam posições semelhantes aos dos outros indicadores: 1,1%
dos investimentos do CNPq, Finep e Capes destinam-se à Região
Norte, enquanto o Sudeste recebe 78%. Novamente os números são
significativos apenas para compará-los com o Sudeste, ou com o
resto do país, uma vez que se investe pouco em C&T, cerca de 1,2%.
A porcentagem do PIB dedicado a P&D em países com economias
semelhantes à do Brasil é, em média, 2%.
A esses números devemos acrescentar dois dados relevantes que
também encontramos no documento das Secretarias de Ciência e
Tecnologia dos Estados da Região Norte (SECTS-Norte): a economia
da Região Norte contribui à economia do país com 8% do Produto
Interno Bruto (PIB), enquanto a Região Sudeste, com 51%. Uma
participação no PIB nacional seis vezes maior, para uma população
apenas três vezes maior. O PIB do Brasil, afirma-se, é o 7º do mundo.
O do Estado do Amazonas ocupa a 15ª posição no país.
Os critérios de avaliação
O TCU questiona também em que grau os projetos submetidos
à Suframa e ao MCTI foram examinados, com que critérios seus
resultados foram avaliados, e se alguma instituição em decorrência da
avaliação foi descredenciada por não ter cumprido as metas propostas.
Deixou por isso de receber novos recursos ou foi obrigada a devolver os
que foram indevidamente gastos?
Insiste em perguntar se a avaliação ocorreu segundo critérios
objetivos, previamente definidos, e se os quadros da Suframa ou do
MCTI que efetuam as avaliações estão tecnicamente preparados para
realizar a missão com autonomia.
A questão da avaliação dos projetos de desenvolvimento
tecnológico, nos institutos e empresas, é questão central no sistema
7
Flavia das Chagas Lacerda et alii. Atuação da Área Industrial do BNDES na Região Norte:
ações de fomento em torno das potencialidades locais.
Referências
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relatório de auditoria TC
004.377/2010-9. Brasília, 2012.
Imensidão amazônica:
ciência e vida de
Samuel Benchimol
Lillian Alvares
Jaime Benchimol
Prefácio1
O futuro não acontece por si mesmo. O seu fabrico
é produto de ação planejada, da inovação, da iniciativa
privada, do desejo político e da sociedade para criar um
horizonte de vida, trabalho e bem-estar, que contemple a
todos sob o pálio da justiça e da fraternidade. A Amazônia
deve estar de braços e olhos abertos para receber esse
futuro.
(BENCHIMOL, 2012)
Apresentação
Não é possível sintetizar a grande obra de Samuel Benchimol.
Este artigo tenta trazer brevemente 60 anos dos resultados de seu
trabalho. Começa nos anos 1940, nos quais a característica mais
significativa foi seu amadurecimento intelectual: formação, primeiras
pesquisas e a realização do mestrado nos Estados Unidos. Prosseguindo
a análise, vêm os anos 1950, quando o conhecimento em Direito
advindo da graduação e o conhecimento em Economia oriundo do
mestrado capacitaram-no ao título de doutor na Faculdade de Direito
do Amazonas. Nessa década firma-se como professor e pesquisador.
Nos anos 1960 seus interesses são ampliados. A Amazônia já não é
mais vista apenas por uma perspectiva econômica, mas adquire
toda a dimensão humana, cultural, geográfica, biológica, política,
antropológica e social. A década de 1970 faz surgir o grande cientista-
humanista, quando sua primeira marcante publicação vem à luz:
“Amazônia: um pouco-antes e além-depois”. Era apenas o começo da
extensa aventura que ainda o aguardava.
Nos anos 1980, consolida sua posição de profundo especialista
na Região Amazônica, e com ela, a repercussão do seu trabalho. São
inúmeros artigos e participações em todo tipo de evento que trata de
pensar o futuro da Amazônia. A essa altura, seu nome já é referência
O amadurecimento intelectual
O amadurecimento intelectual de Samuel Benchimol começa
efetivamente no início dos anos 40. Em 1941, aos 18 anos, inicia o curso
de Direito na Faculdade de Direito do Amazonas. Concomitantemente
aos estudos de graduação, tem início sua longeva carreira docente
como professor de Geografia e História da Escola Primária Professor
Vicente Blanco.
Seus primeiros escritos caracterizam-se pela perspectiva pessoal.
“Versos dos verdes anos: poemas e haikais” escritos no período de
1942-1945 mostram a poesia contida no mestre, que se revelará
continuamente em muitas de suas obras. No mesmo ano de 1942, produz
também um relato pessoal do “Quarto centenário do descobrimento
do Rio Amazonas: diário de uma viagem pelo Rio Solimões até
Iquitos”, infelizmente, inédito. Seu conteúdo de acesso restrito trata
das impressões anotadas, dia a dia, da viagem realizada com um
grupo de estudantes de inúmeras cidades da Região Amazônica, em
comemoração ao descobrimento do Rio Amazonas por Francisco de
Orellana.
Um ano antes, em novembro de 1941, escreve “Roteiros da
Amazônia” como resultado da palestra realizada na Faculdade de
De volta ao Brasil
De volta ao Brasil, o conhecimento em Direito advindo da
graduação e o conhecimento em Economia oriundo do mestrado
capacitaram-no ao título de doutor pela Faculdade de Direito do
Amazonas, defendendo a tese “Ciclos de negócios e estabilidade
econômica: contribuição ao estudo da conjuntura”.
Os resultados do aprofundamento na matéria são imediatos.
Nos anos que se seguiram lecionou Introdução à Economia; Introdução
à Economia e Repartição de Renda; e Ciência das Finanças e Direito
Tributário. Escreveu seu único livro da década de 1950, “Problemas
de desenvolvimento econômico: com especial referência ao caso
amazônico”, e firmou-se como professor de Economia Política e
Introdução à Economia nas duas décadas seguintes (1954-1974).
Coexiste com o mestre e doutor em Economia o empresário,
presidente da Bemol desde 1942 e diretor da Associação Comercial
desde 1945. Essa condição, própria dos homens empreendedores e
arrojados, veio à luz com a publicação “O Banco do Brasil na economia
do Amazonas”.
À singularidade de sua formação, seguiram-se a vivência e qua
lidades já a ele atribuídas de especialista na árida temática econômica,
Ampliação do interesse
Samuel Benchimol experimenta atividade intelectual moderada
do início até meados dos anos 1960. Firma-se como professor de
Economia Política e de Introdução à Economia na Faculdade de
Direito do Amazonas e na Faculdade de Estudos Sociais. O momento
de estabilidade o conduz à reflexão, e de fato, aponta novos rumos ao
pensador.
A nova abordagem sobre a Amazônia, ampliada, acomoda-se
durante a primeira conferência que Samuel Benchimol profere.
A bordo do navio Lauro Sodré, dirigindo-se aos alunos da Escola
Naval de Guerra em 1969, ele apresenta as 12 variáveis independentes
e 49 opções estratégicas para o desenvolvimento da Amazônia, em
uma palestra intitulada “Variáveis e opções estratégicas para o desafio
amazônico”.
No final dos anos 60, precisamente em 1968, Benchimol publica
“Política e estratégia na grande Amazônia brasileira”, tornando claro
que sua avaliação de Amazônia não estará limitada a esta ou aquela
matéria, mas sim ao todo, ao conjunto de saberes sobre a Amazônia
que, na década seguinte, dos anos 1970, não de torna-lo profundo
especialista no tema.
Consolidação do cientista-humanista
Os anos de 1970 estabilizam verdadeiramente o interesse do
pesquisador. São lançados seis livros, dos quais se destaca “Amazônia:
um pouco-antes e além-depois”. A obra recebeu a segunda edição em
2010. Seria esse seu livro mais marcante? Do meu ponto de vista, um
dos mais expressivos. O maior está por vir, no final da década de 1990.
A curiosa análise que se faz do ponto de vista pessoal é: quando
Samuel escrevia? Como ele pode escrever 6 livros com média de
384 páginas cada um, entre 1977 e 1979, considerando que nessa
O surgimento do gigante
A década de 1990 é a consagração plena do mestre, do
empresário, do pesquisador, do cientista. Aos 67 anos está para ter
início a maior produção científica e intelectual de Samuel Benchimol.
Toda a sabedoria, todo o conhecimento, toda a imensidão amazônica
estará contida nas páginas dos 17 novos livros por vir.
Em toda sua vida, Benchimol publicou 32 livros. Desses, mais
da metade (53%) foram nessa década. Podemos classificá-los de
acordo com as seguintes categorias. A primeira, como outrora, traz a
perspectiva pessoal. Em 1993 retrata sua experiência empreendedora
e pioneira na obra “Grupo Empresarial Bemol/Fogás: lembranças e
lições de vida” e “Manáos-do-Amazonas: memória empresarial”.
O segundo grupo refere-se às políticas fiscais e à tributação.
São eles: “Tributos na Amazônia: tesouro federal, seguridade social,
fazenda estadual”; “Fisco e tributos na Amazônia”; “Amazônia fiscal
1994: bonança e desafios”; “Amazônia 95: paraíso do fisco e celeiro
de divisas”; “Amazônia 96: fisco e contribuintes”, e “Zona Franca de
Manaus: pólo de desenvolvimento industrial”.
O outono criativo
Os anos 2000 iniciam com a aula de despedida, saudade e
exortação na Faculdade de Direito da Universidade do Amazonas. Em
2001, aos 78 anos, participa na Argentina do International Conference
on Essential Oils and Aromas, quando apresenta “Production of
brazilian rosewood oil, copailba balsam and tonka Beans”. No ano
seguinte, lança o último livro, “Desenvolvimento sustentável da
Amazônia: cenários, perspectivas e indicadores”, resultado de uma
palestra para o Seminário sobre o Potencial Econômico e Tributário
da Amazônia, realizado em Belém.
Considerações finais
A antologia amazônica de Samuel Benchimol é única. Seu
esforço intelectual contribuiu vivamente para compreender um pouco
de toda a imensidão amazônica. Vibro ao ver citações de sua obra em
vários idiomas. As pesquisas em desenvolvimento regional, formação
econômica e territorial da Região Amazônica por todo o país trazem
inúmeras citações de seu trabalho. Sua obra é a Amazônia impressa,
em toda sua magnitude.
Pesquisador e Professor Emérito da Universidade Federal do
Amazonas, Samuel Benchimol surpreende não apenas pela amplidão
e domínio com que apresenta os temas relativos à Amazônia, mas
também como venceu os desafios paulatinamente até tornar-se o
excepcional educador e empresário que foi. Sua trajetória é referência
às novas gerações, pois sua vida é repleta de ensinamentos, de vitórias
e de intensos desafios.
Do amazônida apaixonado, conhecemos também o humanista
de vasta formação cultural, que se orgulha de pertencer a essa faixa
de terra, comparando-a com outras e destacando as potencialidades
Referências
BAZE, Abrahim. Samuel Isaac Benchimol: ensaio biográfico de um educador e
empresário. 2. ed. Manaus: Valer, 2012.
1
Artigo originalmente publicado em Vieira, Santos Junior e Toledo (2013).
2
Ver artigos, entrevistas e vídeos divulgados no blog “De Bertha Becker”, organizado com a
finalidade de difundir suas obras. Disponível em: <http://berthabecker.blogspot.com.br/>.
Acesso em: 10 jan. 2015.
Referências
BECKER, B. K. A (des)ordem global, o desenvolvimento sustentável e a
Amazônia. In: BECKER, B. K. (Org.). Geografia e meio ambiente no Brasil. 2.
ed. São Paulo: Annablume/Hucitec, 1998. p. 46-64.
1
En honor a mi amigo Janary Alves de Moraes, gran defensor de lo Andino Amazônico.
río Negro, con aguas, como su nombre lo indica, negras, casi del color
de la coca cola, con grandes contenidos minerales, lo que hace que, por
ejemplo, puedan los visitantes bañarse en sus aguas; sin peligro de ser
atacados por mosquitos y otros animales fruto de esa diversidad.
El aporte de los Andes a la biodiversidad y a la riqueza
Amazónica es visible, es tangible, es palpable en ese encuentro de las
aguas, fácilmente puede verse, si se toma una embarcación desde las
cercanías del hotel Tropical en Manaos y se sigue la corriente, ese
caudal majestuoso que proviene de dos vertientes y que nos pone ante
uno de los más extraordinarios espectáculos jamás soñados.
Sin embargo, no podemos dejar de reconocer lo que la acción
humana está dejando como huella terrible en el planeta y que se puede
visibilizar en la Gran Cuenca Amazónica. De hecho, ya en períodos de
estiaje pronunciado, como el ocurrido en el año 2005, se pudo ver lo
que la carencia de lluvias en la parte alta de la cuenca, es decir en las
alturas andinas, ocasionó en estados como el de Amazonas en el Brasil:
Centenares de pueblos quedaron aislados por no tener vías adecuadas
de circulación, ya que los ríos constituyen esas únicas vías; la comida y
las medicinas escasearon de tal forma, que pusieron en peligro la vida
de miles de personas, que se sostuvieron gracias al envío por aire y a
prudente distancia, de vituallas y medicamentos necesarios; numerosos
pueblos indígenas sufrieron de hambre y en algunos casos el problema
de los suicidios de jóvenes se agudizó por la angustia y desesperación
frente a los fenómenos climatológicos, en los que, desafortunadamente,
sabemos que la mano del hombre no es ajena; puesto que lo que se
hace en cualquier lugar del planeta afecta a su conjunto y la evidencia
puesta de relieve por científicos a través de los informes realizados por
el Panel Intergubernamental sobre el Cambio Climático, IPCC, por sus
siglas en inglés, es incontrastable.
De igual manera, la disminución del tamaño de los peces de los
ríos amazónicos, constituye un síntoma de un mal manejo conjunto de
los recursos hídricos por parte de los países que constituyen la cuenca.
Así, los llamados grandes bagres: los pirarucús, tambaquís, dourados,
filhotes, matrinxás, que constituyen la base de la alimentación de
los pueblos amazónicos, sobre todo de los originarios y de los no
contactados, están disminuyendo su tamaño y su pesca se vuelve más
difícil, se demora más en su captura y cada vez escasean más.
Creo que uno de los problemas que podemos anotar en este
contexto, a más de esa visión de conjunto que anotaba, es la falta
Referencias
MEIRELLES FILHO, João. El Libro de Oro de la Amazonia. São Paulo:
Ediouro, 2006.
El largo e incierto
camino de la integración
fronteriza en la Amazonia
Carlos Gilberto Zárate Botía
Introdução
El discurso sobre la integración de los países amazónicos es algo
relativamente reciente y más aún lo son sus prácticas, en comparación
con el lento proceso de fragmentación espacial, territorial y social que
ha vivido la región desde que los imperios, por allá por fines del siglo
XV, pugnaban por hacerse al control de un pedazo del nuevo mundo,
en lo que hoy conocemos como la Amazonia o Pan-Amazônia.
Al final del siglo XVIII se consolidó una fractura que dio origen
a la primera gran división de la Amazonia, entre su parte alta, que se
presenta paralela a la cordillera de los Andes y que hoy conocemos
como Amazonia Andina y su contraparte, al oriente de la misma, que
corresponde a la Amazonia Brasilera, a pesar de que hoy, a comienzos
del siglo XXI, el mundo todavía asocia la región, de manera casi que
exclusiva, al nombre de Brasil, donde las Guyanas apenas alcanzan a
percibirse vagamente. La expulsión de la poderosa orden jesuita de los
dominios amazónicos de Portugal en 1759 y de su sección española en
1767, a la par que se trataban de implementar las reformas Pombalinas en
los primeros y las Borbónicas en la segunda, acompañaron el inevitable
desmoronamiento del régimen colonial ibérico en toda América, incluida
la Amazonia, propiciando el surgimiento de los Estados-nación.
Esta segunda gran división del espacio Amazónico estuvo
asociada a las revoluciones de independencia que dieron lugar a las
nuevas entidades nacionales, en un largo, complejo y desacompasado
proceso que se empezó a concretar en las dos primeras décadas del
siglo XIX, con el surgimiento de las repúblicas bolivarianas por una
parte, al final de varias guerras de independencia, y con el nacimiento
del Brasil como imperio separado de Portugal, por la otra. La forma
imperial del Brasil se mantuvo casi hasta el comienzo de la última
década de ese mismo siglo cuando tomó cuerpo, en 1889, la invención
del imaginario de la república brasilera tal como lo relata Carvalho
(1990). Entre tanto, el vasto territorio amazónico heredado por la
nueva república brasilera, a diferencia de las repúblicas andinas, no
perdió su unidad y por el contrario se continuó ensanchando con la
anexión de la región de Acre, a expensas de naciones aún débiles en
sus regiones orientales como Bolivia, en el año de 1903.
Por otro lado, la demarcación completa de la Amazonia Andina
solo se pudo dar en la última década del siglo XX, con el fin de un
prolongado conflicto entre Perú y Ecuador, al acordar la delimitación
definitiva de la Cordillera del Condor, en la alta Amazonia de ambas
desde fines del siglo XIX y es solamente a partir de las últimas décadas
donde en estas políticas empiezan a vislumbrarse de manera más clara,
la necesidad de la cooperación y las posibilidades de una integración
fronteriza.
Conclusiones
Según lo expuesto, hay pocas probabilidades de que en unos
pocos años se puedan modificar sustancialmente las condiciones
que dieron origen a las actuales normas y políticas de fronteras de
los países amazónicos, aunque no hace falta que esto suceda para que
tanto Brasil como las demás naciones andino amazónicas continúen y
profundicen las acciones para poner en práctica programas como el
IIRSA que como se dijo promueven la integración física y económica de
la Amazonia a través de megaproyectos de infraestructura a contrapelo
de sus consecuencias sociales y ambientales. Esto por supuesto no
tendrá gran incidencia en las condiciones sociales y económicas de
muchas poblaciones fronterizas, con excepción tal vez de aquellas que
se constituyan en puestos de paso o control obligado de las mercaderías
y productos que saldrán de la región.
La política de fronteras de Brasil que se expresa en la “faixa
de frontera” tampoco tendrá grandes cambios, como no sean los de
adecuar las normas y los instrumentos jurídicos y políticos, para intentar
dinamizar la economía regional amazónica interna y promover la
integración, desde arriba, sin modificar los postulados de la soberanía
4
Las propuestas discutidas en el Congreso brasilero contemplan la reducción de la “faixa de
fronteira” a 50 kilómetros de ancho en los estados del sur mientras que en la Amazonia esta
franja permanece inalterada (SPRANDEL, 2013, p. 43).
Bibliografía
ACEVEDO, Rosa. Entre a frontera Venezuela-Brasil, os territórios de povos
indígenas e de comunidades tradicionais. Revista da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência, n. 1, p. 27-30, 2013.
CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). Historia dos índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras: FAPESP, 1992.
LIMA, Antonio Carlos de Souza. O governo dos índios sob a gestão do SPI. In:
CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). Historia dos índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras: FAPESP, 1992. p. 155-174.
El cambio climatico y
sus efectos en las areas
inundables de la Amazonía
Luis Campos Baca
Introducción
La Amazonía es un territorio de altísima diversidad socioambiental
en proceso de cambio acelerado. Cubre una extensión de 7.8 Millones
de Km2, sobre 12 macrocuencas y 158 subcuencas, compartidas por
4.969 municipios y 68 departamentos/estados/provincias de nueve
países: Bolivia (6.2%), Brasil (64.3%), Colombia (6.2 %), Ecuador (1.5%),
Guyana (2.8%), Perú (10.1%), Surinam (2.1%), Venezuela (5.8%) y
Guyana Francesa (1.1%). En la Amazonía continental viven 33 millones
de personas y un total de 385 pueblos indígenas. Un total de 610 areas
Naturales Protegidas y 2.344 territorios indígenas ocupan el 45 % de
la superficie amazónica (RAISG, 2012).
La diversidad de ecosistemas con los que cuenta la Amazonía
no ha permitido focalizar los análisis sobre sus espacios inundables, a
pesar de que son los más importantes de todo este vasto territorio.
El conocimiento en el uso de las zonas inundables es un legado
que los primeros pobladores de la Amazonía fueron dejando a sus
generaciones futuras. Hoy en día, el uso de estas zonas no es muy
diferente al realizado por los primeros pobladores hace miles de
años. La pesca, la agricultura de subsistencia realizada en terrenos
aluviales, la extracción selectiva de madera para la construcción
de infraestructuras o el aprovechamiento de la fauna típica de esta
áreas, son actividades que se realizan hace miles de años y que han
proporcionado alimento y calidad de vida a las comunidades humanas
asentadas en estos frágiles espacios.
No cabe duda de que el potencial de estas zonas inundables es
enorme. Para muestra un dato: en la Amazonía peruana se consumen
un total de 80.000 toneladas métricas de pescado al año y en toda
la cuenca amazónica continental un total anual de 900.000 toneladas
métricas.
No obstante, y a pesar de que ha pasado ya medio siglo desde la
ocupación europea y 50 años de moderna investigación sobre la ecología
de las zonas inundables, aún no se ha entendido su funcionamiento ni
se conoce con certeza su sofisticada estructura. Este desconocimiento
ha generado una serie de políticas inadecuadas para estas zonas que
no han favorecido el desarrollo con inclusión de los pobladores que las
habitan, emprendiendo una serie de actividades que son poco o nada
sostenibles y que ponen en peligro su conservación.
Agua
El agua en la cuenca amazónica juega un rol fundamental para
el mantenimiento de su dinámica ambiental, social, económica y
paisajística. Perú comparte con Ecuador, Colombia, Brasil, Bolivia y
Chile, 34 cuencas trasfronterizas, distribuidas en la cuenca del pacifico
(9), Amazonas (17) y Titicaca (08).
El ciclo hidrológico amazónico comprende tres sistemas
principales: el sistema fluvial, el sistema subterráneo, llamado RIO
HAMZA, que es más ancho pero más lento y el sistema atmosférico, en
eterno movimiento y alimentado permanentemente por los fenómenos
de convección, tan importantes y vitales para la Amazonía, al producir
el 50% de las precipitaciones que se dan en la región.
Bosques
Si bien, es cierto que los bosques amazónicos son sistemas ecológicos
que capturan eficientemente el CO2 de la atmosfera, mitigando el
calentamiento global, también pueden ser una fuente potencial de
carbono. La tala y la quema de los mismos pueden aumentar la emisión
de CO2 al ambiente, favoreciendo el aumento de temperatura y la
disminución de las lluvias por convección. De hecho, cuando los árboles
son talados, mueren y se descomponen, contribuyendo significativamente
al aumento de las emisiones de gases invernadero, ya que el carbón que
almacenan en vida es liberado lentamente al ambiente.
Se calcula que la tala y quema de los bosques incorpora anualmente
de 1.000 a 2.000 millones de toneladas métricas de carbono al ambiente,
que sumadas a las 6.000 toneladas métricas emitidas por los procesos
industriales, se convierten en una bomba de tiempo para el planeta.
Los bosques de las áreas inundables pueden paliar de manera
significativa la emisión de gases de efecto invernadero, ya que tienen
una capacidad elevada de captar carbono, abriéndose la posibilidad de
ofertar estos bosques en los mercados internacionales de captación y
mitigación.
Por este motivo, debemos poner todos los esfuerzos para frenar la
tala indiscriminada del bosque amazónico, poniendo especial énfasis en
los bosques de las áreas inundables, ya que es la única forma de mitigar
los efectos del cambio climático en la Amazonía. La puesta en valor de
los bosques en pie permitirá mejorar la capacidad de adaptación de
las comunidades indígenas y rurales a los efectos del cambio climático.
que tienen las corrientes oceánicas y sus temperaturas sobre las sequías
e inundaciones en la Amazonía peruana.
La diferencia de temperaturas entre el ecuador y los polos,
es uno de los principales factores que inciden sobre la circulación
atmosférica. Si esta situación se modificara, generaría un cambio
importante en todo el ciclo climático de la Amazonía. Recordemos
que casi el 20% del agua dulce del mundo se concentra en la cuenca
amazónica, por lo que los cambios podrían afectar de manera global
a la totalidad del planeta.
Otro aspecto a tener en cuenta son los efectos que los cambios
en el clima tendrán sobre la vegetación de las áreas inundables.
Recordemos que la vegetación de estas áreas ha necesitado miles de
años de evolución para soportar las condiciones adversas de humedad
y calor. Los cambios pueden romper esta adaptación, generando serios
problemas para la supervivencia de la vegetación típica de estas áreas y
el sostenimiento del equilibrio climático en el planeta.
Áreas inundables:
profundizando en su conocimiento
Las áreas inundables poseen unos de los suelos más fértiles de
la Amazonía baja. La potencialidad de estos suelos es enorme. Para
evitar un mal uso de las mismas es necesario desarrollar procesos
de microzonificación ecológica económica que permitan extraerles
el máximo provecho, sin el peligro de afectarlas o interferir en los
procesos que las rigen.
El pulso hídrico, característico de la selva baja, controla la
ocurrencia y la distribución de las plantas y animales en las zonas
inundables, condicionando la forma de vida, la producción, el
intercambio de nutrientes y el equilibrio térmico en estas zonas. Las
áreas inundables están por ello íntimamente asociadas a los procesos
de creciente y vaciante, convirtiéndose, el subir y bajar de las aguas, en
el latido que da vida a las mismas.
El estudio de estas áreas y de cómo afectan los procesos de creciente
y vaciante a las mismas, es vital para poder mitigar los posibles efectos
que provocará en ellas el cambio climático. La ejecución de estudios
basados en sistemas de modelamiento permitirá reducir los riesgos
inherentes a los procesos de cambio, así como explicar la importancia
de estas zonas para el equilibrio de la Amazonía.
Qué hacer
Debemos detener la pérdida de bosque tropical y fomentar la
reforestación y manejo de los ecosistemas con base científica. Para esto las
Universidades amazónicas (UNAMAZ), Instituciones de investigación
global, la OTCA, la FAO, el Banco Mundial, CIAM y las instituciones
del Gobierno Nacional, en alianza con la sociedad civil y la cooperación
internacional, deben complementar acciones integrales que posibiliten
la ejecución de políticas que valoren y premien el manejo sostenible
de los ecosistemas por la población local, fomentando el verdadero
desarrollo sostenible, un desarrollo basado en las necesidades locales
y adaptado a la realidad ecológica y económica de cada zona o región.
Hay serias deficiencias en la aplicación del conocimiento científico
por la débil cooperación entre científicos, políticos y planificadores.
Hay que establecer redes de investigadores que permitan compartir
conocimientos y logros, fomentando la colaboración interinstitucional
y la ejecución de proyectos compartidos entre regiones y países.
La investigación debe estar focalizada a proyectos modernos,
adaptados a la nueva realidad, que estén integrados y que promuevan el
manejo adaptativo de las áreas inundables. Únicamente con la ejecución
Bibliografia
BODMER, R. et al. Cambio climático y fauna silvestre en la Amazonia
peruana: impacto de la sequía e inundaciones en la reserva nacional Pacaya
y Samiria. Iquitos: Fundación Latinoamericana para el Trópico Amazónico-
Fundamazonia, 2014.
Logistica de transporte
Ecuador-Manaos:
Red Amazónica de
Información Socioambiental
Georreferenciada
(RAISG-2012)
Salomón Jaya Quezada
Antecedentes
Paul Marcoy en 1847 realiza una travesía de 4 meses desde el litoral
del Pacífico Peruano y desciende por el río Amazonas hasta Belém do
Pará; la expedición Georgesca – Pipera recorrió 40 mil kilómetros a
inicios de los ochenta a bordo del Piñero “Niculima” en los ríos Orinoco,
Amazonas y de la Plata, quien concluyó que: “ En el Transporte Fluvial
se consumen tres veces menos combustible que por el sistema Férreo
y siete veces menos que por el sistema automotor por tonelada y por
kilómetro; de igual manera se reduce la contaminación ambiental”.
Por tanto, los ríos no solo contaminan ocho veces menos, sino
que cuestan dos terceras partes menos como medio de transporte,
además que produce cinco veces más alimento que la tierra en una
misma cantidad de tiempo (OTCA, 2006).
La interconexión de las Cuencas Hidrográficas Amazónicas por
el transporte multimodal respecto a sus ‘Corredores de Transporte’ fue
señalada como de interés regional en la Primera Reunión de ministros
de Transporte en los países de la ex TCA (hoy OTCA) realizada en
Manaos los días 26 y 27 de abril de 1991. Estos corredores son:
–– El Corredor Belém (Br) – Iquitos (Pe) pasando por Manaos.
–– El Corredor Interoceánico conectado al puerto Esmeraldas en
el Ecuador en el Océano Pacifico (convenio Ecuador – Brasil de
1958 a través de una carretera pasando por Quito hasta Puerto
El Carmen de Putumayo, continua por el río Putumayo, hasta
el Brasil para llegar por el Amazonas a Manaos- Belém), en el
océano Atlántico (OTCA, 2006).
En el año 2000 nace en Brasilia la iniciativa IIRSA que pretende
integrar a sud América a través de las infraestructuras de transporte,
energía y telecomunicaciones. 10 son los ejes estratégicos de desarrollo,
uno de ellos es el eje del Amazonas que integra a Colombia, Brasil,
Ecuador y Perú. Estas iniciativas no han prosperado de manera
significativa por falta de un diálogo amplio de los actores políticos y
sociales de la región. El CETIF de la Universidad Central del Ecuador
fue un actor muy importante con sus consejos técnicos y logísticos.
El transporte y la globalización
La globalización en la economía ha dado un cambio tan marcado
que cada vez se ve muy diferente a los que se veía hace pocos años
atrás, esta globalización de la economía obliga a que los países por más
pequeños o de bajo desarrollo que sean, estén obligados a entrar en
este proceso, u orientarse hacia la globalización en lo sustentable como
principio de supervivencia.
Los países y las empresas deben incurrir en la gestión de una
cadena de suministros SCM a nivel global, regional, nacional y local,
como una primera aproximación para enfrentar la fusión de las
economías.
El establecimiento de más multinacionales en cualquier lugar del
planeta, hace que los países desarrollen un modelo de consumismo
Desde Puerto Providencia (Ec) a Cabo Pantoja (Pe) hay 200 Km.
de recorrido, y una barcaza tardaría de 2 a 3 días de viaje, y desde
Cabo Pantoja hasta Manaos hay 2.684 Km. que se cumplirían en un
tiempo de 12 a 16 días de viaje. Por lo tanto, la ruta fluvial tiene un
recorrido total de 2884 Km, que dependiendo de las condiciones
del río, se cumplirían en aproximadamente de 14 a 19 días de viaje.
El trayecto fluvial se presenta de la siguiente manera:
Puerto Providencia – Nuevo Rocafuerte (Paso de Frontera con
Perú) – Cabo Pantoja (Pe) -Iquitos (Pe) – Tabatinga (Br) – Manaos (Br)
En el comercio con Brasil los principales productos exportables
corresponden a la industria de bienes y servicios intermedios; entre
los más importantes están los insumos para la industria, de alimentos
y bebidas, repuestos y accesorios para la industria del transporte,
materiales para la construcción, etc.
Brasil a través de Manaos, importa alrededor de 2,2 mil millones
de dólares anuales en mercaderías provenientes de Asia, parte de esta
movimiento captaría la Ruta Ecuador – Manaos, consolidando así la
integración con los otros países vecinos como son Perú y Colombia, que
también se beneficiarían con el proyecto.
Existe producción Ecuatoriana que actualmente se negocia con
Brasil a costos muy elevados debido a la falta de infraestructura y
utilización de otros medios y rutas de transporte no tradicionales como
es el río Napo.
Guayaquil
La inexistencia práctica del tránsito aduanero interno, costes
suplementarios graves para el comercio, y, falta de operación
independiente de los puertos para desconsolidar y consolidar las
mercancías.
Manta
Falta de adaptación de las disposiciones nacionales sobre
tránsito aduanero y cabotaje marítimo interandino a las exigencias
de los tráficos previstos para Manta, la falta de adaptación de las
prácticas aduaneras a las decisiones andinas sobre Tránsito aduanero y
Transporte Multimodal.
Debilidades y fortalezas en
el transporte Ecuador – Manaos
Una de las principales debilidades y limitaciones en el transporte
Ecuador- Manaos es la capacidad física de puertos fluviales y calidad
de las hidrovías.
En lo que tiene que ver con el río, en época de estiaje, se
presentan restricciones a la navegación por la disminución de su
profundidad y la aparición de zonas críticas llamadas malos pasos,
como palizadas y bancos de arena, en tal sentido se hace necesario
eliminar las restricciones a la navegación y dotar a la vía fluvial de
la infraestructura y equipos necesarios a fin de poder mejorar las
condiciones de navegabilidad los 365 días del año y le transformen a la
vía rentable económicamente.
La ordenación de estas vías navegables para asegurar una
navegabilidad adecuada, impone resolver problemas hidrológicos y de
ingeniería en general que exigen estudios importantes al determinar
Fortalezas
En cuanto a la infraestructura el Ecuador actualmente cuenta
con 4 puertos marítimos:
–– Puerto de Guayaquil
–– Puerto de Manta
–– Puerto de Esmeraldas
–– Puerto de Puerto Bolívar
De igual manera en el país se encuentran 4 aeropuertos
internacionales:
–– Aeropuerto Mariscal Sucre en Quito,
–– Aeropuerto José Joaquín de Olmedo en Guayaquil
–– Aeropuerto Eloy Alfaro en Manta
–– Aeropuerto Cotopaxi en Latacunga
Adicionalmente el Ecuador cuenta con proyectos futuros de
expansión y desarrollo tanto para puertos como para aeropuertos que
colaboran al crecimiento de la competitividad del país, estos son:
–– Proyecto de dragado del Puerto de Guayaquil
–– Proyecto de Transporte Multimodal Manta Manaos
–– Proyecto nuevo aeropuerto de Guayaquil
Estratégica localización geográfica en la costa del pacifico,
que otorga a los puertos del Ecuador una ventaja competitiva en el
desplazamiento de embarcaciones hacia los puertos de los principales
socios comerciales internacionales como son Estados Unidos y países
de Europa y Asia.
En lo ambiental, la logística del transporte Ecuador- Manaos,
debe considerar el riesgo ambiental para la integridad del bosque
amazónico y de la biodiversidad a lo largo de los corredores fluviales,
además de los impactos sociales, étnicos y culturales directos e
indirectos, muchos de ellos aún por determinarse. Lo propio puede
decirse del acondicionamiento de vías terrestres en el trayecto del
eje vial.
Conclusiones
El proyecto Ecuador – Brasil: Eje vial Ecuador – Manaos,
consiste en habilitar un eje vial terrestre capaz de transportar grandes
cantidades de carga desde los cuatro puertos marítimos ecuatorianos
hasta un puerto de trasferencia ubicado en el río Napo (Ec), donde la
mercadería pueda ser embarcada en naves fluviales que atraviesen la
Amazonía Ecuatoriana hasta Manaos en Brasil, para el efecto se aplica
un régimen aduanero de transbordo con traslado, de esta forma se
puede obtener una disminución del tiempo de movilización de carga
en por lo menos 7 días.
La construcción del puerto de transferencia de carga en Belén
/ Providencia el río Napo (Ec) se ejecutará en el límite del Parque
Nacional Yasuní y de la Reserva Biológica de Limoncocha, y a pocos
kilómetros de la Reserva de Producción faunística del Cuyabeno; a
pesar de ello, los reportes financieros a los que se ha tenido acceso
estiman una reducida cifra para los estudios de impacto ambiental, a
pesar de que el puerto se construirá en una de las zonas ambientales
más frágiles del planeta.
No existe ningún estudio de valoración de los posibles daños
ambientales que se pudieran generar frente a los “beneficios”
económicos del proyecto Ecuador – Manaos.
El aumento del tráfico comercial por el río, alterará la dinámica
existente, en la que coexisten una gran variedad de especies faunísticas
y vegetales, con las comunidades que ancestralmente han vivido
asentadas en sus orillas, y para las cuales, el río Napo constituye un
elemento cultural central.
Bibliografía
CAF. Los ríos nos unen. Colombia: [s.n.], 1998.
MARTIN, Ch. Logistícs and supply chain management. 3th. ed. [S.l.:s.n], 2005.
Tecnología amazónica:
realidad en Colombia:
Instituto Amazónico
de Investigaciones
Científicas SINCHI+-32
Luz Marina Mantilla Cárdenas
Carlos Ariel Salazar Cardona
Presentación
La cultura es un formidable puente de conexión de la sociedad
con la naturaleza. Para ello se requieren largos periodos de maduración
del conocimiento y de sus atributos, de organización de las fuerzas
integrantes de la sociedad, representado en sus formas jerárquicas de
distribuir el poder, el prestigio, el conocimiento, los recursos materiales
y simbólicos, las cargas y las responsabilidades.
Este es el gran legado de nuestras comunidades indígenas en
la región amazónica suramericana. Las tecnologías relativas a la
rotación de los cultivos, el mejoramiento de condiciones productivas
de los suelos, las técnicas de caza y pesca con todo su instrumental,
fueron traducidas en formidables mitos de creación, de distribución
de las poblaciones en el territorio, de experticias entre orfebres,
tejedores, talladores, cazadores, agricultores, pescadores. Un mundo
armónicamente organizado de acuerdo con las habilidades y los
recursos con que contaban (VAN DER HAMMEN, 1992).
Un neolítico largamente madurado se vio interrumpido de
forma abrupta hace quinientos años. Una nueva organización social
dio comienzo a formas de intervenir en el medio y un nuevo sistema
de aprendizaje y conocimiento se viene abriendo paso. El uso del fuego
como técnica para someter unos reducidos espacios para la producción,
esto es la chagra, es ampliamente usado por el nuevo poblador, con
resultados catastróficos.
En efecto, los fuegos controlados y de mínima escala para la
producción en las chagras indígenas, se mantiene como la técnica más
utilizada por el hombre mestizo, que en estos quinientos años viene en
un sostenido sometimiento de las amplias masas arbóreas tropicales de
la amazonia.
Sometida la tierra por medio del fuego a unos sistemas productivos
que como la ganadería extensiva, la agricultura en monocultivo,
comercial y de plantación –soya, sorgo, maíz, palmas oleaginosas-, los
cultivos de uso ilícito de gran tamaño, las pasturas introducidas, entre
otros, que han demostrado no ser sostenibles.
Aun hoy, y sabiendo que la fertilidad de los suelos tropicales se
conserva en la Fito masa y no propiamente en la capa superficial de
la tierra, se mantiene una fuerte estrategia para incorporar millones
de hectáreas a la producción agropecuaria. De aquí proviene el
desacople que la nueva sociedad tiene con los territorios que ha venido
Amazonia Noroccidental
Esta subregión corresponde al área de poblamiento continuo,
organizado en jerarquías de ciudades y pueblos a través de la red de
comunicaciones que integra el conjunto y cuya economía se basa en la
producción de mercancías. La matriz productiva predominante es la
Amazonia Suroriental
Se localiza a partir del límite anterior en dirección sureste y
corresponde al área predominantemente del bosque húmedo tropical,
donde vive una población dispersa, en su gran mayoría indígena y cuya
economía se basa especialmente en la subsistencia. En esta se hallan
inmersos los centros político-administrativos y los centros mineros,
pues son enclaves geopolíticos y económico-extractivos. Los enclaves
geopolíticos considerados son: Letícia y Puerto Nariño (Amazonas),
Mitú (Vaupés) y Puerto Inírida (Guainía).
Los enclaves económico-extractivos corresponden a: el municipio
de Taraira (Vaupés) y los corregimientos departamentales de Tarapacá,
La Pedrera, El Encanto y La Chorrera (Amazonas) y la inspección de
policía de Araracuara (Solano – Caquetá). Pertenecen a la Amazonia
suroriental, los departamentos de Amazonas, Vaupés y Guainía y parte
de los territorios del Caquetá (oriente) y Guaviare (suroriente). Su área
equivale al 65% de la región Amazónica Colombiana, siendo mayor
que la anterior. Pertenecen a la subregión parcialmente los municipios
de Solano, Puerto Rico y San Vicente del Caguán del departamento del
Caquetá, El Retorno, Miraflores y Calamar y San José del Guaviare en
Guaviare.
En la Amazonia Suroriental, la organización histórica del espacio
se ha dado a través de las vías de comunicación natural constituidas
por los ríos amazonenses, andinenses y sus principales tributarios. Los
actuales asentamientos de herencia milenaria son conformados por
grupos indígenas culturalmente diversos, localizados principalmente
en los departamentos de Guainía, Vaupés y Amazonas.
Las comunidades indígenas de esta subregión persisten en su
lucha por la preservación de su cultura, sus conocimientos y saberes,
así como sus plataformas tecnológicas, que son sin duda muy exitosas si
se considera que en estos quinientos años han podido hacer frente a los
múltiples embates que diferentes sociedades han hecho por apropiar
su patrimonio.
(4.322) y los municipios del sur del Meta se disputan el tercero y cuarto
puesto (Departamento de Meta 2.898).
Si se profundiza en el análisis y se considera el plano nacional,
se nota que todavía los departamentos de Putumayo, Guaviare y
los municipios septentrionales del Meta conservan los puestos de
vanguardia como productores de coca en Colombia, pero con la
diferencia de que las áreas que dichos territorios le dedican a este
cultivo no solo son muy inferiores a las existentes en los primeros años
del siglo XXI, sino que desde el año 2006 son ampliamente superadas
por las del departamento de Nariño. Por ejemplo, la superficie que
en 2008 se dedicó a sembrar coca en Nariño superó en cerca de
10.000 hectáreas los cocales putumayenses y triplicó los del Guaviare,
Caquetá y sur del Meta. Hoy, el departamento de Nariño cuenta con
13.177 hectáreas (UNODOC, 2014).
Conclusiones
Desde el punto de vista territorial y poblacional, la Amazonia
es una región de una gran diversidad humana, social y cultural. Los
grupos sociales allí presentes, colonos, negros, campesinos, indígenas,
caboclos, habitantes urbanos, cada vez intensifican y articulan mayores
redes sociales y culturales, lo cual los expone a los procesos envolventes
de la modernidad, la globalización, la internacionalización de
aspectos sociales, económicos y culturales; configurándose como una
sociedad cada vez más compleja y necesitada de modelos de desarrollo
que concilien sus diversos intereses y necesidades, con la oferta y la
capacidad de sus múltiples y variados ecosistemas.
Un auténtico desarrollo tecnológico que atienda estos retos, pasa
por el diálogo de saberes entre el conocimiento indígena, el tradicional
desarrollado en estos últimos quinientos años y el científico occidental.
Por ello el Instituto Amazónico de Investigaciones Científicas se orienta
por los postulados del desarrollo sostenible, enfoque que permite
conciliar la diversidad de miradas sobre un territorio biodiverso,
cultural y socialmente complejo.
La participación intersectorial es necesaria porque el uso
sostenible de la biodiversidad, no es solo responsabilidad de los
sectores ambientales, se requiere la participación de varios sectores
que promuevan y articulen intereses y recursos a través de los diversos
planes y programas de desarrollo de manera clara en una zona
geográfica que tiene unas ventajas importantes desde el horizonte de
la biodiversidad.
Las experiencias regionales que desarrollaron las entidades como
el Instituto Amazónico de Investigaciones Científicas SINCHI y otras,
dan cuenta de una construcción de arquitecturas interinstitucionales y
de procesos de concertación con las comunidades, pilares fundamentales
para garantizar el éxito de los emprendimientos, que deben ser
incorporados como ejemplos exitosos para que la biodiversidad, sea
considerada, en realidad, una posibilidad de desarrollo sostenible para
las poblaciones amazónicas.
Bibliografía
ÁNGEL, A. La fragilidad ambiental de la cultura. Colômbia: Universidad
Nacional de Colômbia, Instituto de Estudios Ambientales, 1995.
VAN DER HAMMEN, C. El manejo del mundo: naturaleza y sociedad entre los
Yukuna de la Amazonia Colombiana. Bogotá: Tropenbos, 1992.
Introdução
A Amazônia brasileira constitui ampla região fronteiriça,
compartilhada com seis países e estendendo-se por uma linha de
cerca de 10.000 quilômetros. A rarefação dos pontos de contato é um
dado comum ao longo das díades existentes, certamente pela condição
locacional de a Amazônia ter se configurado numa região periférica
em todos os países. Interior do continente, distanciada dos litorais, foi,
gradativamente, sendo objeto de intervenção por parte dos países para
colonização, defesa e exploração dos recursos naturais.
A formação da fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia
remonta ao final do século XIX, período em que a procura do látex
fez com que as frentes de exploração se encontrassem num ponto
específico do Rio Amazonas, constituindo, assim, núcleos de apoio à
atividade comercial.
O objetivo neste artigo é demonstrar como um lugar de fronteira
é compreendido de modo diferente a partir da escala geográfica
de observação e como isto resulta em ações que afetam a vida das
populações desta tríplice fronteira.
Referências
AGNEW, John. Geopolítica: uma re-vision de la política mundial. Madrid:
Trama Editorial, 2005.
FOUCHER, Michel. Obsessão por fronteiras. São Paulo: Radical Livros, 2009.
LACOSTE, Yves. A geografia, isso serve, antes de tudo, para fazer a Guerra.
Campinas: Papirus, 1988.
LOPEZ, Arturo. La “primera religión del Perú moderno”: los israelitas, una
aportación peruana a los NMRs contemporâneos. Renovación Ecumênica,
n. 117, enero/abril, 1996. Disponível em: <http://aetorre.com/ae/images/stories/
biblo/art-019_la_primera_religin_del_per_moderno.pdf>. Acesso em: 15 maio
2012.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.