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FRAMES, ESQUEMAS TEXTUAIS E ARGUMENTAÇÃO EM ACÓRDÃOS DE

APELAÇÕES CÍVEIS

Tânia Ferreira PRESTES (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)


Orientadora: Profa.Dra. Maria José Bocorny FINATTO

RESUMO: O objetivo deste trabalho é descrever, com o suporte teórico da Lingüística Textual,
como frames e esquemas textuais contribuem para a construção da linha argumentativa em
acórdãos de apelações cíveis.

PALAVRAS-CHAVE: acórdão, tribunal, estudo do texto, linguagem jurídica.

1. Introdução
Neste trabalho, pretendemos reconhecer elementos que caracterizam a estruturação de
textos jurídicos, mobilizada tal estruturação por uma direção argumentativa que, nos textos sob
exame, busca o (im)provimento da “causa de pedir” 1. Esse é o objetivo de textos do tipo em que
se enquadram acórdãos de apelações cíveis. Adotaremos como referencial de observação e
análise as orientações básicas dos estudos da Lingüística Textual tal como desenvolvidos por
Koch e Fávero (1983) e Fávero (2004).
Nesse reconhecimento de características, nosso objetivo é refletir sobre o uso de frames
(FÁVERO, 2004: 63) e de esquemas na linguagem jurídica, tal como concebidos esses elementos
por Beaugrande e Dressler (1981). Trataremos dos frames recorrentes no texto dos acórdãos,
com especial atenção à constituição de esquemas, segundo categorias do tipo de texto em foco,
para que, em seguida, possamos verificar a constituição da argumentação.
O texto sob exame, representando por amostragem o universo dos textos jurídicos, é o
acórdão de apelações cíveis, produzido por autoridade do judiciário, sendo um tipo de texto
reconhecido por sua forma padronizada, que mantém relações intertextuais altamente
padronizadas. Essas relações intertextuais são estabelecidas por menção de ementas ou de
resumos de outras decisões ou acórdãos e outros documentos que têm força de lei, podendo ser

1
Causa de pedir consiste no fato e nos fundamentos jurídicos do pedido, isto é, traduz as alegações fáticas e jurídicas
que embasam ou justificam o pedido do autor (CASTRO, Lincoln Antônio de. Direito e Linguagem.Disponível em
www.suigeneris.pro.br/direito, acessado em 14/06/2005)

1
proferidas inclusive por diferentes órgãos do Poder Judiciário, tais como o Superior Tribunal de
Justiça-STJ.
Acórdão é a designação dos julgamentos proferidos por tribunal – órgão de segundo grau,
de criação obrigatória, com competência para, normalmente, julgar recursos das decisões dos
juízes de primeiro grau – nos feitos de sua competência originária ou recursal, por cada um de
seus órgãos colegiados (o Tribunal Pleno, os Grupos de Câmaras Criminais e os Grupos de
Câmaras Cíveis, a Presidência e as Vice-Presidências, etc.).
Por apelação cível, entende-se o recurso que se interpõe contra uma decisão terminativa
ou definitiva de primeira instância (de primeiro grau), para instância imediatamente superior
(segundo grau), cuja causa de pedir são os embargos de declaração2 e os embargos infringentes3.
Assim, o objetivo de uma apelação cível é pleitear a reforma, total ou parcial, da sentença de
natureza cível com a qual a parte não se conformou. O corpus sob exame, neste trabalho, é
composto apenas por acórdãos proferidos no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
Vejamos, a seguir, um exemplo de acórdão de apelação cível (item do corpus, sob o código AC3):

AC3 – Publicada na RJTJRS, nos 238/239, jan./fev de 2005, pp. 275-276.


Apelação Cível nº 70008294167 – 15ª Câmara Cível – Três Passos

AÇÃO DE DESPEJO. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA SUBLOCATÁRIA. CASO CONCRETO.


MATÉRIA DE FATO. A sublocatária não possui legitimidade passiva para a ação de despejo,
pois inexiste relação jurídica de direito material entre o autor locador e a subinquilina-ré. Apelo
desprovido.
Erno Julio Schirmbeck, apelante – Geni Teresinha Bolgenhagen, apelada.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam, os Desembargadores integrantes da 15ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo. Custas na
forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Srs. Des. Otávio
Augusto de Freitas Barcellos e Ricardo Raupp Ruschel.
Porto Alegre, 14 de abril de 2004.
Vicente Barrôco de Vasconcellos, Presidente e Relator.

RELATÓRIO
Des. Vicente Barrôco de Vasconcellos (Relator) – Trata-se de apelação interposta por Erno Julio
Schirmbeck, na ação de despejo ajuizada por ele contra Geni Teresinha Bolgenhagen, da sentença
(fls. 62/66) que julgou extinto o processo por ilegitimidade passiva.
Em suas razões (fls. 69/70), alega o apelante: a) tanto ele como a apelada aceitaram tacitamente a
sublocação como locação; b) a apelada confessou e reconheceu a existência da relação com o
2
Recurso que tem como finalidade esclarecer a decisão dada em sentença.
3
Cabível quando não for unânime o julgamento proferido em apelação.

2
autor; c) não poderia promover o despejo contra o Sr. Milton, que constava como locatário no
contrato, pois a sublocação importou em rescisão do pacto.
Sem preparo, ante a concessão da assistência judiciária gratuita, e com contra-razões, subiram os
autos. É o relatório.
VOTO
Des. Vicente Barrôco de Vasconcellos (Relator) – No caso vertente, conforme os documentos
das fls. 37/42, o demandante já havia ajuizado ação de despejo contra o sublocatário Celso Jorge
Bolgenhagem, esposo da ora demandada, restando a mesma extinta por ilegitimidade passiva,
referindo a sentença que "a ação de despejo deveria ter sido ajuizada contra o locatário, sendo que
o despejo atingiria o sublocatário" (fl. 41). Contudo, o autor optou, novamente, pela propositura
da demanda contra a outra sublocatária, em pura perda de tempo, dinheiro, esforço e papel.
Na sublocação não se estabelecem relações entre o locador originário e o sublocatário, não
havendo interesse jurídico para demandarem entre si. Ou seja, inexiste relação jurídica de direito
material entre o locador-autor e a sublocatária-ré.
Portanto, no caso concreto, o corolário lógico é o reconhecimento da ilegitimidade da demandada
para integrar o pólo passivo da ação.
Já se decidiu: "Agravo de instrumento. Ação de despejo. Ilegitimidade passiva do sublocatário. Na
sublocação não se estabelecem relações jurídicas entre o locador originário e o subinquilino, não
havendo interesse jurídico para demandarem entre si. Decisão monocrática. Recurso com negativa
de seguimento por manifesta improcedência". (AI nº 70005767843, Rel. Dr. Ney Wiedemann
Neto, 2ª Câmara Especial Cível, TJRGS, j. em 23-01-03)
Também: "Ação de despejo por falta de pagamento c/c cobrança. Preliminar de ilegitimidade
passiva. Sublocação não consentida. O vínculo jurídico existe apenas entre locador e locatária.
Inexiste liame jurídico entre o sublocatário e o locador. [....] Rejeitada a preliminar, deram parcial
provimento. Unânime". (AC nº 70001385400, Rel. Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos, 15ª
Câmara Cível, TJRGS, j. em 30-08-00)
Ainda: "Locação. Sublocação. O contrato de sublocação, como acessório, diz respeito, apenas, ao
sublocador e sublocatário. Assim, a relação jurídica entre locatário e sublocatário, máxime quando
não autorizada a sublocação, é estranha ao locador. A autorização, ademais, deve ser expressa, não
podendo ser presumida a partir de atos de mera tolerância. Negaram provimento. Unânime". (AC
nº 197077985, Rel. o hoje Des. Luiz Felipe Brasil Santos, 4ª Câmara Cível, TARGS, j. em 11-12-
97) Por tais razões, nego provimento ao apelo.
Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos (Revisor) – De acordo.
Des. Ricardo Raupp Ruschel – De acordo.

O corpus textual sob exame neste trabalho é composto por dez acórdãos de apelações
cíveis (doravante ACs), proferidos no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
(TJRS), publicados na Revista de Jurisprudência do TJRS (RJTJRS), entre os anos 2003 e 2005.
Os textos utilizados encontram-se na seção de anexos.
O objetivo, nesses acórdãos, é argumentar, não raro, pelo improvimento da ação
interposta como apelação – recurso contra a sentença proferida em 1° grau (no foro ou vara). Isto
é, busca-se, em geral, a manutenção de uma decisão anteriormente proferida.
Caminhando pela trilha dos frames, os quais estão inseridos num dado esquema textual,
presentes no texto jurídico, que tantas dúvidas e mal-entendidos tem provocado para as pessoas

3
que com ele não estão habituadas, a questão a ser perseguida é: como se constrói a linha
argumentativa nos textos de acórdãos?
Esse tipo de texto visa, por meio das palavras, a um conhecimento de mundo partilhado
entre as partes – apelantes e apelados, advogados, juízes, desembargadores e a sociedade em
geral, visto que os acórdãos são textos plenos de significação, que se inserem numa específica
situação comunicativa – o âmbito do Poder Judiciário.
A escolha pelo acórdão de apelações cíveis deu-se porque são textos importantes, que
dizem respeito à conduta do cidadão frente à sociedade, cujos procedimentos são impostos por
leis. O texto dos acórdãos, por ser a representação de uma decisão sobre outra decisão com
embasamento em leis, está organizado sob esquema textual que introduz, por palavras, todas as
questões que levaram partes a pedir e juízes a decidir. A palavra é o alvo deste trabalho de análise
de constituição do texto jurídico, pela via dos frames, dos esquemas textuais e da
argumentatividade.
Trazemos, a seguir, a uma breve revisão teórica sobre frames e esquemas. Na seqüência,
há uma descrição de suas incidências no corpus sob exame.

2. Frames no texto jurídico


Frames (palavra do inglês que significa quadros, molduras) (FÁVERO, 2004: 63)
correspondem a modelos cognitivos globais, elementos de conhecimento que “emolduram” a
constituição de um texto e que são ativados por sua leitura, e contêm o conhecimento comum
sobre um conceito primário (geralmente situações estereotipadas). No caso dos textos escolhidos
para observação, temos como frames as noções de tribunal, contrato, despejo, assistência
judiciária gratuita, etc. Um frame pode ser concebido como um intertexto de conhecimento geral,
isto é, mesmo leigos acerca da linguagem jurídica sabem a que se referem os seus frames, porque
se trata de entidades relacionados à vida do cidadão.
Como colocado antes, os frames são modelos globais e, quando enunciados, ativam
elementos na mente do interlocutor. No âmbito dos textos sob exame, temos um primeiro grande
frame já no título deste trabalho, o da Apelação Cível. A atualização deste frame traz outros
elementos como processo não-criminal, pedido de natureza cível – apelo, pagamento, não-
pagamento, embargos, Código de Processo Civil, julgamento, etc. Cada um desses elementos
corresponde a um conceito que o leitor adquiriu em um processo cognitivo. Em conjunto,

4
constituem um grande quadro, o qual envolve situações conhecidas por intermédio do esquema
do texto jurídico.

2.1. Frames recorrentes no corpus


A partir do frame Apelação Cível, voltamos nossa atenção para os demais frames que dizem
respeito à área cível do Direito, assim considerados por estarem organizados na memória como
uma unidade completa de conhecimento estereotipado. A seguir, cabe uma enumeração dos
elementos que cada frame ativará na memória do leitor, considerando-se que este já ande às
voltas com um frame que abrange vários outros, a justiça:
a) o primeiro frame sobre o qual recai nossa reflexão é o do tribunal, o qual atualiza
elementos como juiz, provas, recurso, câmaras, comarcas, sentença, acórdão,
(im)provimento;
b) contrato atualiza elementos como aquisição de algo, dívida, abertura de crédito,
cumprimento de cláusulas, relação contratual, operações abusivas;
c) despejo atualiza elementos como locador, locatário, imóvel, residência, não-pagamento
de aluguel ou fiança;
d) conta de energia elétrica atualiza elementos como luz elétrica, funcionamento de
aparelhos eletrônicos, consumo, concessionária, cálculo, fatura, conta a pagar;
e) assistência judiciária gratuita atualiza elementos como benefício, pessoa necessitada,
não-pagamento de custas processuais;
f) gratificação natalina atualiza elementos como dezembro, benefício, importância;
g) paternidade atualiza elementos como filhos, varão, alimentos, igualdade entre os filhos;
h) fiança atualiza elementos como bens, penhora, fiador, devedor;
i) condomínio atualiza elementos como condôminos, apartamento, convenção condominial,
presença de animal de estimação, sossego.
O frame parece ser a noção mais abrangente, tornando-se mais produtivo considerá-lo o
modelo cognitivo mais global e o que possui capacidade de abarcar os demais (FÁVERO, 2004:
73). O texto jurídico, com seus esquemas textuais e respectivas categorias, repleto de frames,
enquanto inscrito em uma prática discursiva, é produzido dentro de uma determinada esfera de
atividade social. São os frames entidades que envolvem as relações dos cidadãos com as normas
editadas pelos códigos legais. A seguir, a título de exemplo, trataremos do frame jurisprudência,

5
interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, conforme o pedido 4 e a causa de pedir. A
jurisprudência faz relação entre textos, isto é, constitui o intertexto na busca de uma linha
argumentativa pretendida.

2.2. O frame jurisprudência


O acórdão é redigido por um Relator5 – somente as conclusões são publicadas no Diário
da Justiça6 no prazo de trinta dias (cf. Art. 200 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do
Estado/RS - RITJRS). Os acórdãos, com a respectiva ementa, têm a data do julgamento e são
assinados pelo Relator e pelos que declararem o voto 7 (Art. 204 do RITJRS). Após estes
procedimentos, as decisões proferidas pelo Tribunal tornam-se jurisprudência e poderão servir de
base na construção do julgamento da apelação.
Podemos considerar jurisprudência o frame que orienta a linha argumentativa, na busca
pelo (im)provimento da apelação, por o considerarmos um quadro que contém o conhecimento
comum entre partes representadas por seus advogados, o da lei. A jurisprudência atualiza
elementos como súmula, artigos dos códigos legais, provas, fatos e fundamentos, entre outros.
O acórdão se origina em um pedido, envolto em uma causa de pedir ou embargos. O texto
dos acórdãos é composto por um texto próprio, o relatório, que veremos em 3.1.1, letra d, mas a
parte que lhe confere o caráter de julgamento é voto, será visto em 3.1.1, letra e, no qual é
inserida jurisprudência, trazendo à mente do leitor os elementos que colocarão as razões de
decidir, constituindo-se na via que busca a conclusão ou decisão. Podemos comprovar esta tese,
pelo trecho a seguir, extraído do texto AC7 (grifos nossos):

Reparo algum merece a sentença (...) os alimentos foram arbitrados com base no princípio
da igualdade existente entre os filhos (...) O apelante... pretende é beneficiar um filho em
detrimento de outros.
Assim a jurisprudência: ‘... a diminuição do quantum alimentar importaria em desatenção
ao princípio da igualdade entre os filhos...”
Resta, por fim, a esperança de que o apelante, premido pelas circunstâncias, adote atitude
mais responsável... Isso posto, nego provimento ao apelo.

4
O pedido é o bem que se pretende obter (CASTRO. www.suigeneris.pro.br/direito).
5
Membro de um tribunal a que foi distribuído o feito, isto é, desembargador responsável pelo estudo do caso,
visando ao relatório, na sessão de sua câmara e apresentado para publicação. Cabe ao Relator realizar tudo o que for
necessário ao processamento dos feitos de competência originária do Tribunal e dos que subirem em grau de recurso.
6
Jornal do Judiciário gaúcho, em que são publicados os atos oficiais do Poder Judiciário, para que tenham efeitos
legais.
7
Após o Relator, votará o Revisor, se houver, e demais julgadores na ordem decrescente de antigüidade.

6
O advérbio assim que introduz o frame jurisprudência evidencia como deve ser dada a
decisão. Sendo a causa para o improvimento da apelação o princípio da igualdade entre os filhos,
coerente é, após inferir-se pela expressão “atitude mais responsável”, como conseqüência, o
fecho do voto “Isso posto, nego provimento ao apelo”.
O que faz com que os textos dos acórdãos sejam coerentes, visto pelos exemplos acima
destacados, é o conhecimento dado pelos fatos – os frames e os elementos que ele atualiza – ou
convicções num determinado formato, para uso determinado (FÁVERO, 2004: 61), esse
conhecimento procedimental se estabelece pela via do esquema textual do texto dos acórdãos.
Trataremos a seguir de esquemas. Após breve revisão da noção, passamos a comentar sua
feição no nosso corpus.

3. Esquemas
Os esquemas são, segundo Beaugrande e Dressler, o modelo de conhecimento global
mais geralmente aplicado (BEAUGRANDE & DRESSLER, 1981: 184), isto é, são blocos de
conhecimento intensamente utilizados no processo de comunicação e representam de forma
organizada nosso conhecimento prévio armazenado na memória – de eventos ou estados
dispostos em seqüências ordenadas, ligadas por relações de proximidade temporal e causalidade:
são previsíveis, fixos, determinados e ordenados. Esquemas, assim, são modelos de texto que
introjetamos a partir de nossa experiência com diferentes tipos de textos. É o modelo, por
exemplo, de uma receita de bolo, um padrão de texto que comporta algumas variações e até
decalques, como no caso da “receita da felicidade” – uma receita para ser feliz formulada como
se fosse uma receita de bolo na qual se recomenda uma, por exemplo, “ misturar xícara de ciúme,
duas xícaras de afeto”.
Por intermédio de palavras-chave, como veremos adiante, constitui-se o esquema textual
dos acórdãos de apelações cíveis, determinado por um texto maior, isto é, o do Código de
Processo Civil (CPC). O CPC determina os requisitos essenciais da sentença, estendidos esses
requisitos para o padrão textual de acórdãos, o que torna previsível a sua constituição.

3.1. O esquema textual do acórdão


“A noção de superestrutura (hiperestrutura ou esquema textual) foi desenvolvida por Van
Dijk (1983) e pode ser caracterizada como ‘a forma global de um texto, que define sua

7
organização e as relações hierárquicas entre seus fragmentos’” (apud FÁVERO, 2004: 69). Nesta
análise, usaremos o termo esquema textual para designar a forma global do texto dos acórdãos.
Segundo o Código de Processo Civil (CPC), artigo 163, recebe a denominação de acórdão
o julgamento proferido pelos tribunais – órgão de segundo grau, de criação obrigatória, com
competência para, normalmente, julgar recursos das decisões dos juízes de primeiro grau. Pelo
art. 458, Capítulo VIII, Seção I, do CPC, o relatório, os fundamentos e o dispositivo são
colocados como requisitos essenciais da sentença, os quais também se aplicam aos acórdãos.
Sendo assim, tem-se que o esquema textual do acórdão é definido por um texto maior, o
do CPC, o qual também é concebido sob esquema próprio. Verifica-se que o texto-acórdão
desenvolve-se sob um esquema, cujas regras de formação (FÁVERO, 2004: 70) são determinadas
por um texto maior: é o intertexto mapeando os procedimentos lingüísticos adotados, rumo à
argumentação. São essas regras de formação do texto que determinam a previsibilidade do
acórdão, cujos requisitos essenciais são as categorias de um texto argumentativo, que busca o
(im)provimento da ação.
A seguir, reproduzimos o texto de acórdão AC10 do nosso corpus e comentamos a sua
constituição esquemática do conjunto examinado.

AC10 – Publicada na RJTJRS n° 224, nov. de 2003, pp. 281-282.


Apelação Cível nº 70003998580 – 15ª Câmara Cível – Pelotas
EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA DE DESPEJO. CASO CONCRETO.
MATÉRIA DE FATO.
Na espécie, descabe a oposição de embargos de terceiro, visto não ser a embargante de terceiro
possuidora do imóvel em questão, pois apenas reside com a sua mãe, locatária despejada pela
sentença. Apelo desprovido.
Maria do Carmo da Silva Mesquita, apelante – Sucessão de Idilia Basgalup da Costa, apelada.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam, os Desembargadores integrantes da 15ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo. Custas na
forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Srs. Des. Ricardo Raupp Ruschel e
Luiz Felipe Silveira Difini.
Porto Alegre, 17 de abril de 2002.
Vicente Barrôco de Vasconcellos, Presidente e Relator.

RELATÓRIO
Des. Vicente Barrôco de Vasconcellos (Relator) – Trata-se de apelação interposta por Maria do
Carmo da Silva Mesquita, nos embargos de terceiro opostos por ela contra a Sucessão de Idilia
Basgalup da Costa, da sentença (fls. 26/27) que indeferiu liminarmente a inicial dos embargos,
julgando extinto o feito, com base nos arts. 267, inc. I, e 295, inc. I e parágrafo único, inc. III,

8
todos do CPC. Em suas razões (fls. 29/32) alega a apelante: a) reside no imóvel em questão há
mais de 40 anos, pelo que deve permanecer no imóvel até ser indenizada pelas benfeitorias
necessárias realizadas; e b) são perfeitamente cabíveis os embargos opostos, pois também é
possuidora do imóvel, não podendo o Juiz cercear seu direito de defender seus interesses. Requer
a desconstituição da sentença. Sem preparo, ante a concessão da gratuidade judiciária, subiram os
autos. É o relatório.

VOTO
Des. Vicente Barrôco de Vasconcellos (Relator) – Não assiste razão à apelante. No caso
concreto, descabe a oposição de embargos de terceiro, visto não ser a embargante de terceiro, ora
apelante, possuidora do imóvel objeto da demanda despejatória, pois apenas reside com a sua
mãe, a Sra. Olisia da Silva Mesquita, locatária despejada pela sentença. Com efeito, a apelante é
praticamente interessada, não havendo que se falar em turbação ou esbulho de sua posse, o que
poderia autorizar a oposição de embargos de terceiro.
Perfeitamente adequada a jurisprudência colacionada na sentença (fls. 26/27): "Embargos de
terceiro. Execução específica de sentença despejatória transitada em julgado. Posse e ocupação.
Efeitos da sentença. I – Afora situações especialíssimas, não cabem embargos de terceiro contra
mandato de execução de despejo expedido com amparo em sentença, pois ato de apreensão não é.
Ademais, só é legitimado para a ação o possuidor e não aquele que apenas reside com o irmão,
locatário despejado pela sentença. II – Terceiro praticamente interessado e atingido pela eficácia
sentencial que opera erga omnes. Doutrina de Liebman. III – Apelo improvido". (AC nº
1980146623, 17ª Câmara Cível do extinto TARGS, Relator o hoje Des. Fernando Braf Henning
Júnior, julgada em 09-06-98) Por tais razões, nego provimento ao apelo.
Des. Ricardo Raupp Ruschel (Revisor) – De acordo.
Des. Luiz Felipe Silveira Difini – De acordo.

3.1.1. O esquema do texto-acórdão e seus elementos


Os acórdãos das ACs sob análise apresentam-se sob o seguinte esquema textual, cujos
requisitos essenciais denomino categorias (FÁVERO, 70). Sendo o texto dos acórdãos formado
por informações, que dizem respeito tão-somente àquela ação, ou que trazem à luz casos
semelhantes ao julgado, os códigos e seus ditames, conforme veremos a seguir, estas informações
são distribuídas conforme o seu caráter, por isso categorias, na medida em que o esquema textual
permita que o texto ande e que favoreça a interação com o leitor.
a) Categoria de identificação: apresenta o número da AC, o órgão julgador – a câmara do
TJRS – e o nome da comarca8.
b) Categoria de informação: o texto acórdão é introduzido por ementa ou resumo que
informa a causa de pedir, que são “Embargos do devedor” na AC1; “Ação revisional de
contratos”, AC2; “Ação de despejo”, AC3; “Consignação em pagamento”, AC4; “Impugnação ao
pedido de assistência judiciária gratuita”, AC5; Gratificação natalina aos edis, AC6; “Fixação de

8
Território ou circunscrição territorial, em que exerce sua jurisdição um juiz de Direito (Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. Entendendo a Linguagem Jurídica. Porto Alegre: Dep. de Artes Gráficas, 1999)

9
Alimentos”, AC7; “Embargos à execução”, AC8; “Relativização da convenção condominial”,
AC9; e “Embargos de Terceiro”, AC10.
c) Categoria de referência – parte do texto intitulada acórdão. É introduzido e redigido
sempre no mesmo formato, com a identificação do órgão julgador – AC1: 5ª Câmara Cível –,
pronunciando a decisão – AC1: à unanimidade, em negar provimento ao recurso –, determinando
o valor dos gastos (custas) com o processo, se for referido, pela frase “Custas na forma da lei.” –
esta frase aparece em oito dos dez textos analisados.
Após, no segundo parágrafo do acórdão, que é introduzido, invariavelmente, pela
expressão “Participaram do julgamento”, portanto, para referir o nome dos julgadores, que são o
Relator, o Revisor e um terceiro magistrado, para não haver empate na votação, no caso de a
decisão ocorrer por maioria de votos. Não foi o caso dos textos em comento.
d) Categoria de relato: é o próprio relatório do acórdão. Após a identificação nominal do
relator, é, raramente, introduzido por outra expressão que não pela forma verbal “Trata-se de...”,
pois o índice de indeterminação do sujeito-enunciador provoca distanciamento em relação ao seu
enunciado ou relato, o qual está recoberto por intertextos, que são os seguintes, cujos termos não
aparecerão mais de uma vez nesta descrição, mesmo presentes nos vários textos sob análise: C1 –
lei desportiva, no contrato, nota promissória, a inicial 9, art. 283 do CPC, art. 17 do CPC, sentença
monocrática10, contra-razões; AC2 – art. 295, inc. VI, e art. 284, parágrafo único, do CPC,
Código de Defesa do Consumidor, documentos acostados, o recurso 11; AC3 – (fls. 62/66), as
razões (fls. 69/70); AC4 – das fls. 43/44, conta de energia elétrica, razões recursais (fls. 46/51),
conta do mês de abril; AC5 – a juntada da contestação, das fls. 42/45; AC6 – pedido de
antecipação de tutela12, veto instituído pela Lei n° 101/00, a Lei 1.976/00, Emenda Constitucional
n° 25, Lei de Responsabilidade Fiscal, relatório da sentença, autos 13 nas fls. 69/80, IGP-M, fls.
120-125, termos do art. 209 do Regimento Interno 14, inconstitucionalidade do art. 5° e parágrafo
único da Lei, art. 39, §§ 3° 4°, da CF; AC7 – audiência que arbitrou o pensionamento; AC8 –
primeiro apelo, legislação em vigor, processo de execução, (fls. 134/141), os autos; AC10 – (fls.
26/27), arts. 267, inc. I, e 295, inc. I e parágrafo único, inc. III, todos do CPC, (fls. 29/32).

9
Petição inauguratória da ação.
10
Decisão de 1° grau, proferida por um só juiz.
11
Meio de que pode servir-se a parte vencida para obter a anulação ou reforma, total ou parcial, de uma decisão.
12
Instrumento mediante o qual se pede o deferimento do próprio pedido ainda no estágio inicial do processo.
13
Conjunto ordenado das peças de um processo.
14
Regimento Interno do Tribunal de Justiça/RS – RITJRS

10
O fecho do relatório, “É o relatório.”, sinaliza o texto-acórdão e seu esquema fixo,
determinado e ordenado. É esta uma das principais marcas dos textos em análise, que confirma
esta parte do esquema textual jurídico com descrição ordenada daquilo que consta dos autos. Pois
o que não consta dos autos não existe.
e) Categoria de argumento pela via do intertexto: é o voto ou fundamentos. “O relatório e
os fundamentos são requisitos essenciais do acórdão” (NEGRÃO: GOUVÊA, 2004: 261). Os
fundamentos são a principal via na busca pela orientação argumentativa para o convencimento do
interlocutor. É pela argumentação que o interlocutor defende o seu ponto de vista, procurando
evidenciar que idéias levaram a um determinado posicionamento.
Segundo Ducrot e Carlos Vogt (apud FÁVERO & KOCH, 1983, 47):

“a noção de sentido de um enunciado deve ser entendida, por um lado, como função de suas
combinações possíveis com outros enunciados da língua capazes de lhe darem continuidade no
discurso, isto é, como função de sua orientação argumentativa, do futuro discurso que se abre no
momento de sua enunciação; e, por outro lado, como função das relações que o enunciado
estabelece com outros pertencentes ao mesmo paradigma argumentativo, ou seja, que apontam
para o mesmo tipo de conclusão...”

Em oito, dos dez textos de acórdãos, ora analisados, são introduzidas ementas, tornadas
jurisprudência, por meio dos seguintes advérbios e locuções adverbiais: “Também” nas ACs1 e 9;
“Já”, AC3; “Por fim”, AC4; “Como razão(ões) de decidir”, ACs6 e 8; “Assim”, AC7; e
“Perfeitamente”, AC10. Tal ocorrência se deve à pretensão de orientar o interlocutor para certos
tipos de conclusões, com exclusão de outras: o (im)provimento da ação. Como razão de decidir, é
utilizado “argumento de autoridade, por meio de citação de uma opinião que tem prestígio e
crédito com relação ao assunto que está sendo tratado” (REBELLO, 128).
A seguir, veremos como são introduzidas as ementas ou jurisprudência, sendo esta a
premissa usada para atingir determinada conclusão.
AC1 – Também não lhe alcança a Súmula n° 258 do STJ, que diz:(...), para concluir “Rejeito a
tese de ofensa ao art. 283 do CPC proposta pelo apelante.”
AC2 – Vale transcrever decisão neste sentido, (...) “Em se tratando de crédito bancário, não basta
que petição inicial formulária (...), diga, genericamente, que juro acima de 12% é abusivo (...)” – neste
acórdão, foi utilizada jurisprudência e voto pronunciado em julgamento semelhante como
argumento de autoridade;

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AC3 – Já se decidiu: “(...) Recurso com negativa de seguimento (...)”; Também: (...) Rejeitada a
preliminar, deram parcial provimento (...)”; Ainda: “(...) Negaram provimento. Unânime.”;
AC4 – Feita a citação do texto da Portaria n° 466 do DNAEE, a orientação é a seguinte:
Inaceitável, portanto, a utilização do valor arbitrado pela apelante; a conclusão, portanto: Com essas
considerações, nego provimento ao apelo.
AC5 – Os elementos coletados no incidente demonstram que a impugnada não preenche os
pressupostos do parágrafo único do art. 2° da Lei n° 1.060/50 e do inc. LXXIV do art. 5° da CF (....)
Diante do exposto, nego provimento ao recurso.;
AC6 – (...) como razão de decidir, para dar provimento ao apelo do Município, verbis: “(...) Assim,
prima facie, afigura-se inconstitucional o art. 5° e seu parágrafo único da Lei municipal de Cacequi (...)
Daí que dou provimento...;
AC7 – As três citações são introduzidas pela seguinte expressão, tornando as ementas as
premissas que direcionam a decisão: Assim a jurisprudência: “Apelo desprovido.”; “Apelação
desprovida.”, portanto a conclusão Isso posto, nego provimento ao apelo.
AC8 – Adoto como razões de decidir os fundamentos...: ... esta Câmara tem decidido que a
fiança sem outorga uxória é nula (...), “ ‘Recurso conhecido e provido do cônjuge-mulher.’ ”– neste caso,
trata-se de uma citação dentro de outra, cuja conclusão é: Diante do exposto, dou provimento...
AC9 – A matéria encontra desate, ao meu sentir... como já disse aliás a Egrégia 4ª Turma do
Superior Tribunal de Justiça...: “(...) a permanência de animais em apartamento reclama distinções (...)”;
Também este Tribunal... já referia: “A sentença... viola o direito da parte adversária...; então, a
conclusão: Portanto, (...) Assim ,estou em dar provimento à presente ação, para declarar o direito dos
apelantes...
AC10 – Perfeitamente adequada a jurisprudência colacionada na sentença, ...: “(...) Não cabem
embargos de terceiro (...) Apelo improvido.”
Pelos destaques acima, conclui-se que o intertexto possui as palavras ou marcas que servem
de argumentos que direcionam para as razões de decidir pelo improvimento, ou provimento da
apelação interposta. As palavras grifadas são as pistas intencionalmente utilizadas no texto, rumo
à decisão, visto que as palavras negativas dirigem-se ao improvimento, ou seja, não-atendimento
do pedido. Nas ACs 8 e 9, em que houve provimento ou atendimento do pedido, chega-se a esta
conclusão pelo uso das palavras os fundamentos, esta Câmara tem decidido, como já disse aliás,
reclama distinções, as quais denotam favorecimento ao pedido.

4. Constituição da argumentação

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“Por argumentação entende-se qualquer tipo de procedimento usado pelo produtor do texto
com vistas a dirigir o leitor para as teses defendidas pelo autor do texto” (REBELLO, 2004: 130).
Para o texto dos acórdãos em estudo, a argumentação se realiza pela via de uma premissa básica:
a jurisprudência, a qual determina as razões de decidir pelo (im)provimento da ação.
“Argumentar, para Ducrot (apud FÁVERO: KOCH, 50), significa apresentar A em favor
da conclusão C, apresentar A como devendo levar o destinatário a concluir C”. O que se pode
observar é que A é o intertexto, as ementas, as quais, na sua maioria, são introduzidas como visto
em 2.1.4. Vamos utilizar, primeiramente, como ilustração de instrução trecho do texto do acórdão
da AC1, em que é A – argumento –, cuja palavra introdutória do parágrafo é o adv. também, no
sentido mesmo de igualdade.

“Também não lhe alcança a Súmula n° 258 do STJ, que diz: ‘A nota promissória vinculada
a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que
a originou’.”

Pelo exemplo apontado, podemos concluir que o também adv. não, utilizado duas vezes, no
enunciado introdutório do intertexto e no próprio, bem como o prefixo in-, de iliquidez, apontam
para a C – conclusão: “Destarte, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento...”. Isto é, o
apelante, na AC1, tinha o direito de interpor embargos, como causa de pedir, mas não tinha razão
em pedir a desconstituição do título executivo, era esse o pedido, restando-lhe a alternativa
única de quitar sua dívida, como visto nas razões de decidir, como segue: “... não aproveita ao
devedor ora embargante a alternativa de devolver o atleta para resguardar o credor. Restando-lhe,
como forma de se desincumbir da obrigação contraída, o adimplemento do título.”
Na AC2, o argumento, para concluir a ineficiência do pedido, que é posta, no corpo do voto,
pela expressão “inépcia da inicial”, é a jurisprudência introduzida pela locução Vale transcrever,
para concluir o que segue, sendo a principal pista que leva à conclusão a expressão “não basta
que”.

Vale transcrever decisão neste sentido... “(...) não basta que a petição inicial formulária,
seguindo modelo padronizado de argumentação jurídica, meramente reunindo ou
relacionando doutrina e jurisprudência longamente, mas sem nenhuma ou melhor atenção às
circunstâncias das relações entre as partes, diga, genericamente, que juro acima de 12% é
abusivo, (...)”

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Na AC3, são utilizadas três ementas de decisões do TJRS e do extinto Tribunal de
Alçada/RS, introduzidas pelos advérbios já, também e ainda, para concluir que o pedido de
despejo por sublocatária é improcedente, em que o advérbio “apenas” indica a restrição que se
faz à sublocação.

Já se decidiu: “(...) Recurso com negativa de seguimento por manifesta improcedência.”


Também: “(...) O vínculo jurídico existe apenas entre locador e locatária. Inexiste liame
jurídico entre sublocatário e o locador (...)”
Ainda: “(...) O contrato de sublocação, como acessório, diz respeito apenas, ao sublocador e
o sublocatário (...)”

Na AC4, o intertexto é de outra origem; não é jurisprudência, mas documento que


comprova que o pedido improcede. Neste caso, foi utilizada portaria, documento oficial, que tem
força de lei, pois é apontado o parágrafo que “diz”, além de outros fatores identificativos
importantes, como o número do documento e a data a partir da qual o seu texto, como lei, passou
a viger. A data de vigência de lei ou documento aponta para muitas decisões.

Por fim, não demonstrou a demandada se enquadrar a autora nos termos da Portaria n° 466,
§ 1°, de 12-11-97, do DNAEE, que diz: “As leituras e os faturamentos...”

Na AC5, também, não é utilizada jurisprudência, mas a própria lei, intertexto suficiente para
apontar em uma única direção. Após, há a referência a documentos (autos) que reiteram os
argumentos contidos na lei, visando ao improvimento da apelação.

A Lei n° 1.060/50 define que gozarão do benefício da gratuidade os necessitados...


Os documentos acostados ao feito demonstram que a parte impugnada é profissional (...)
não pode ser pessoa caracterizada como necessitada...

Na AC6, o apelo é provido. É utilizada jurisprudência que contraria, como indica o advérbio
“diversamente”, a sentença de 1° grau.

Nestes termos, acolho o pronunciamento da Corte como razão de decidir, para dar
provimento ao apelo do Município, verbis: “De meritis, entendo diversamente do
posicionamento sentencial...”

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Na AC7, são utilizadas duas ementas de jurisprudência, e em cada uma foi dado destaque
a um verbo, “descabe” e “mantém-se”, em princípio, semanticamente contraditórios, mas que
apontam para a impossibilidade de prover o apelo.

Assim a jurisprudência: “(...) Descabe a redução dos alimentos...”


“Alimentos. (...) Mantém-se o pensionamento...”

Na AC8, a jurisprudência é definida como “razões de decidir”. É caso de interposição de


duas apelações cíveis, isto é, cada parte recorre de algo. Neste caso, há um intertexto que
acomoda outros dois intertextos, introduzidos pela expressão “por oportunas”. As palavras-chave,
que orientam para uma orientação argumentativa, em destaque, apontam para a falta de elemento
probatório.

... adoto como razões de decidir os fundamentos esposados (...) tal nulidade não pode ser
alegada pela parte que prestou fiança sem a outorga uxória15...
“Há precedentes jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, ausente
o consentimento do marido (...)
“Nesse sentido as ementas que ora transcrevo, por oportunas: ‘(...) Outorga uxória. (...)
Recurso conhecido e provido’.

“ ‘(...) a fiança prestada pelo cônjuge sem outorga uxória é de total ineficácia (...)”
Na AC9, há duas ementas de jurisprudência, cuja linha argumentativa aponta para uma
conclusão: dar provimento à ação, para declarar o direito dos apelantes de terem consigo animal
de estimação.

(...) como já disse aliás a Egrégia 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça...: (...) I –
Segundo doutrina de escol, a possibilidade de permanência de animais em apartamento
reclama distinções...”
Também este Tribunal...: discrimina e viola o direito da parte adversária em demonstrar o
contrário (...)”

Na AC10, a jurisprudência possui o efeito de apontar para o descabimento da causa de


pedir, isto é, embargos de terceiro.

Perfeitamente adequada a jurisprudência colacionada na sentença....: (...) Afora situações


especialíssimas, não cabem embargos de terceiro contra mandato de execução de despejo
expedido com amparo em sentença...”

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Autorização da esposa.

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Como vimos acima, o intertexto ou a jurisprudência e outros tipos de textos, têm a
especial função do argumento, cujo traço constitutivo é o de ser empregado com a pretensão de
orientar o interlocutor para certos tipos de conclusões. A jurisprudência, as leis, outros
documentos que comprovam ou impõem regras possuem conteúdos que servem para apontar os
caminhos pelos quais as razões de decidir recairão sobre o (im)provimento das ações interpostas
como apelações cíveis. Dessa forma, jurisprudência, considerada frame de especial importância
nesta análise, que ao mesmo tempo que serve de base de informações, serve, também, para
orientar o interlocutor a uma dada conclusão.

5 .Conclusões
Este trabalho foi uma tentativa de descrever um determinado tipo de texto jurídico, em
que visamos reconhecer como se constrói a linha argumentativa diante do processo de análise e
inferência acerca da causa de pedir.
Os frames são uma das vias pela qual a linguagem jurídica permite a interpretação do tipo
de apelação de que trata o texto do acórdão. No caso dos textos aqui analisados, a primeira pista,
amparada no frame, é de que se trata de matéria que não é crime. O quadro que se coloca é o do
cidadão em busca de um direito: o de apelar de uma sentença. Mas é o frame jurisprudência que
compõe argumento(s) pela busca da decisão, que é o significado do acórdão.
Os frames e os seus elementos constitutivos da linha argumentativa estão inseridos no
esquema textual dos acórdãos, como o dos aqui analisados, o que faz com que este tipo textual
seja reconhecido como texto jurídico que trata de uma decisão a ser tomada no tribunal, a qual,
decorrido o prazo legal, tornar-se-á jurisprudência.
O formato esquematizado do acórdão é determinado por um texto maior, o do Código de
Processo Civil, e por esse caminho, por meio dos argumentos presentes nestes textos, é possível
ao cidadão, leigo acerca da linguagem jurídica, conceber como são tratados, nos vários textos
jurídicos, os muitos dissabores sociais, econômicos e de outras ordens, que têm sido registrados
na escrita, cuja decisão jurídica é tornada jurisprudência, via texto de acórdão.
A Lingüística textual (FÁVERO, 2004: FÁVERO: KOCH, 1983), possibilita, até certo
ponto, pormenorizar as partes dos textos dos acórdãos, remetendo-nos à interpretabilidade da lei,
pela via da jurisprudência. A jusrisprudência é o intertexto, elemento que estabelece conexão
entre a causa de pedir e o seu (im)provimento.

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É pela trilha do intertexto ou jurisprudência que são calcadas as razões de decidir,
expondo considerações, caso a caso, ou premissas, e havendo concordância sobre as premissas, o
argumento segue, pela inferência, estabelecendo-se, assim, coerência na decisão, que é o objetivo
primordial do acórdão, ou seja, fazer prevalecer a razão, com base no conhecimento das leis e da
vida das pessoas envolvidas num processo judicial, em prol ou contra um pedido.
Por intermédio dos frames utilizados na linguagem jurídica, os quais se encaixam em um
esquema fixo, que possibilita o reconhecimento dos textos de acórdãos, como os aqui analisados,
é possível estabelecer a interação entre o produtor deste texto com o seu leitor, por intermédio das
palavras que dão sentido ao pedido, à causa de pedir e às razões de decidir, elementos estes que
comprovam o porquê do (im)provimento.
Em síntese, a resposta obtida para a questão de pesquisa colocada no início deste trabalho,
como se constrói a linha argumentativa nos textos de acórdãos?, é a seguinte: pelo frame
jurisprudência, o produtor do texto coloca suas razões de decidir. As razões de decidir são os
fatos, caso a caso, o suporte da lei. Este é o início da trilha que busca o convencimento do leitor
pelo (im)provimento.
O segundo passo, é em geral, a reavaliação de uma decisão já tomada, proferida por um
par. Feita a reavaliação, as ponderações não fogem à idéia de manutenção da decisão exarada na
sentença. Por fim, o voto é a linha de chegada da linha argumentativa. Esse ponto do texto já
começa sinalizando o que virá: “Improcede o recurso”, “Merece ser confirmada a sentença” ou
“sem nenhuma consistência a irresignação”.
O ponto final de conclusão é o fecho do voto, no qual, em geral, se retoma a posição com
a expressão “nego provimento”. Cada uma das partes do esquema do acórdão serve para guiar
este percurso argumentativo.
Pretendemos, com este trabalho, contribuir para a compreensão dos textos de acórdãos,
pelo seu aspecto modelar, isto é, após a publicação da sua conclusão, torna-se jurisprudência,
tendo, assim, força de lei, estes textos serão publicados na Revista de Jurisprudência (RJTJRS),
para que possibilitem esclarecer como devem os cidadãos proceder.
Por serem um modelo textual jurídico, base de interpretação na busca de respostas para os
conflitos sociais, econômicos e pessoais, a análise deste tipo de texto não se esgota aqui, pois há a
outra parte, aquela que representa o lado de quem está sendo julgado, as suas razões de apelar e
seus próprios argumentos. Há a perspectiva de se investigar, também, os textos das petições que

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dão origem aos acórdãos. Entretanto, cabe destacar que o acesso a esse tipo de documento pode
ser bastante difícil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUGRANDE, Robert de & DRESSLER, Wofgang. Introduction to Text Linguistics. New


York: Longman, 1981.
CASTRO, Lincoln Antônio de. Direito e Linguagem. Disponível em: www.suigeneris.pro.br/direito,
acessado em 14/6/2005.
FÁVERO, Leonor Lopes, KOCH, Ingedore G. Villaça. Lingüística Textual: introdução. São Paulo:
Cortez, 1983.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais.9ª ed. São Paulo: Ática, 2004.
NEGRÃO, Theotonio, GOUVÊA, José Roberto F. Código de Processo Civil. 36ª ed., atualizada até
10/01/2004. Ed. Saraiva.
REBELLO, Lúcia Sá. Texto e Argumentação. Redação instrumental: concurso vestibular 2004.
Organizado por Comissão Permanente de Seleção (COPERSE)/UFRGS. Porto Alegre: ed. UFRGS,
2004, p. 121-130.
RIO GRANDE DO SUL, Tribunal de Justiça do. Entendendo a Linguagem Jurídica. Porto Alegre:
Departamento de Artes Gráficas, 1999.
RIO GRANDE DO SUL, Tribunal de Justiça do. Revista de Jurisprudência do TJRGS nos 224, 225,
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Regimento Interno do. Disponível em: www.tj.rs.gov.br\legisla\ritjrs,
acessado em 10/7/2005.

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