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“É muito melhor dizeres mal uma coisa de que estás convencido do que seres
um poeta e dizer bem o que os outros querem que digas”. Com essa fala, Neruda
expõe ao seu amigo Mario – e aos espectadores – que o fazer poético nada é se
ser que pensa e sente, e não pode dizer outra coisa para além disso.
uma relação de amizade entre Mario e Neruda, construída a partir da poesia, mas
sociedade e o amor. A narrativa, uma ficção que transporta o exílio do poeta chileno
imaginativo Mario Ruoppolo, morador local, que vê sua vida mudar com a chegada
da figura enigmática do poeta Pablo Neruda, famoso por sua obra literária e seus
ideais comunistas, razão pela qual sua presença encontrará muita desaprovação na
de se fazer política. Dentro desse contexto vive Mario, o qual, no entanto, apresenta
com a dura realidade local e o fato de, mesmo com certa dificuldade, saber ler e
escrever.
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intenso volume de cartas remetidas ao poeta por fãs do sexo feminino. O que, afinal,
havia naquele velho homem, de físico pouco vistoso, que tanto atraía as mulheres?
Tal curiosidade e o desejo de ser igualmente admirado pelas garotas, fizeram Mario
se interessar pela obra do artista chileno e, paulatinamente, querer ser como ele, um
poeta. Cada entrega que realizava apresentava-se como uma chance de dirigir a
Neruda uma pergunta, a fim de desvendar melhor seu trabalho e suas ideias. E
assim, o carteiro conheceu a metáfora: não apenas descobriu seu significado, como
Um fazer poético para além do fazer poético: um fazer político e uma construção de
si.
Aquilo que havia se iniciado com a poesia partia para as compreensões mais
genéricas sobre a sociedade e a vida. Se, antes de Neruda, Mario não acreditava
que era possível mudar a dura realidade de sua ilha, fadada ao esquecimento por
parte de quem detinha o poder político e econômico, com o poeta ele passava a
entender que – usando as palavras do próprio Neruda – “existem pessoas que, com
moradores da ilha.
Naturalmente, a nova postura de Mario passaria a ser mal vista pelas outras
pessoas. Tudo, segundo elas, por culpa da poesia. E em uma terra onde imperava a
Isso ficou evidente quando o carteiro se apaixonou pela bela Beatrice Russo,
que trabalhava em um restaurante local bastante simples, cuja proprietária era sua
tia, dona Rosa, uma senhora beata bastante temperamental. Ao conhecer Beatrice,
Mario, sem palavras, correu até Neruda para pedir ajuda, cobrando-lhe uma poesia
sentimento só poderia ser exprimido pela pessoa que o sente. Como caberia a ele,
encontrou para ajudar o amigo foi lhe presenteando com um caderno de anotações,
fato, veio a fazer. E foi com elas que Mario aos poucos conquistou o coração de
Beatrice, para a fúria de dona Rosa, que não via no carteiro um homem digno de dar
estrangeiro, que fazia poesias perigosas e era afeito aos ideais políticos colocados
criancinhas”, revelou-se a todos uma pessoa pacata, como outra qualquer. Foi
justamente nesse dia de união e alegria que Neruda e a esposa receberam a notícia
de que poderiam retornar à terra natal que tanto amavam. Era, sem dúvida, mais um
motivo para comemorar. Exceto para Mario, que estava prestes a perder a
ao longo da história. Sem Neruda, como ficaria Mario? A primeira coisa seria perder
o emprego, pois já não teria a quem entregar cartas. Só que o problema era maior
que esse. De certo modo, Mario estava prestes a se tornar “órfão”. Neruda fora um
pai para o carteiro no nascimento para um novo mundo, o mundo das letras, da
sensibilidade, do amor, da vida e das formas de retratar tudo isso. Foi o mentor no
enxergar o que havia de belo ao seu redor, porque em tudo existia, e existe, poesia.
dessa relação com o poeta. O inverso também aconteceu, pois Mario era a figura
que aproximava Neruda de seu país. Era através dele que o Chile chegava a
Neruda, por meio das cartas, e com ele o poeta podia compartilhar seus sentimentos
sobre a saudosa terra natal. Além disso, embora seja fato que o poeta muito ensinou
precisou aprender a fazer. Das perguntas mais ingênuas e elementares que Mario
lhe dirigia, nem todas o poeta sabia responder-lhe de pronto. O gênio criativo não se
confrontar ambas as competências, foi quando ele mais cresceu. Esse talvez tenha
Carteiro e o Poeta.
trabalhadores da educação.
Referência