Sunteți pe pagina 1din 5

1

O carteiro e o Poeta: resenha

“É muito melhor dizeres mal uma coisa de que estás convencido do que seres

um poeta e dizer bem o que os outros querem que digas”. Com essa fala, Neruda

expõe ao seu amigo Mario – e aos espectadores – que o fazer poético nada é se

não expressar uma verdade: a verdade do criador, dotada da originalidade de um

ser que pensa e sente, e não pode dizer outra coisa para além disso.

Em O Carteiro e o Poeta, filme de 1994, dirigido por Michael Radford, vemos

uma relação de amizade entre Mario e Neruda, construída a partir da poesia, mas

que, sem se limitar a ela, consegue atingir o entendimento do que é a vida, a

sociedade e o amor. A narrativa, uma ficção que transporta o exílio do poeta chileno

para uma pequena ilha de pescadores na Itália, gira em torno do ingênuo e

imaginativo Mario Ruoppolo, morador local, que vê sua vida mudar com a chegada

da figura enigmática do poeta Pablo Neruda, famoso por sua obra literária e seus

ideais comunistas, razão pela qual sua presença encontrará muita desaprovação na

terra que escolheu para viver o exílio.

A ilha, em que pese a beleza de suas paisagens, é o recanto de uma

população muito humilde, religiosa e conservadora, habituada com a escassez de

recursos essenciais, como a água, e afetada pelo analfabetismo quase

generalizado, o que torna seus moradores presas fáceis de um modelo oportunista

de se fazer política. Dentro desse contexto vive Mario, o qual, no entanto, apresenta

algumas características que o diferem de seus conterrâneos: o descontentamento

com a dura realidade local e o fato de, mesmo com certa dificuldade, saber ler e

escrever.
2

Ser alfabetizado é o que vai credenciá-lo a conseguir a vaga de carteiro que

terá Neruda como único destinatário e, de imediato, levá-lo a se impressionar com o

intenso volume de cartas remetidas ao poeta por fãs do sexo feminino. O que, afinal,

havia naquele velho homem, de físico pouco vistoso, que tanto atraía as mulheres?

Tal curiosidade e o desejo de ser igualmente admirado pelas garotas, fizeram Mario

se interessar pela obra do artista chileno e, paulatinamente, querer ser como ele, um

poeta. Cada entrega que realizava apresentava-se como uma chance de dirigir a

Neruda uma pergunta, a fim de desvendar melhor seu trabalho e suas ideias. E

assim, o carteiro conheceu a metáfora: não apenas descobriu seu significado, como

aprendeu que era capaz de construí-la. Através da metáfora, Mario descobriu

também, simbolicamente, o poder da palavra, e isso o habilitava para algo maior.

Um fazer poético para além do fazer poético: um fazer político e uma construção de

si.

Aquilo que havia se iniciado com a poesia partia para as compreensões mais

genéricas sobre a sociedade e a vida. Se, antes de Neruda, Mario não acreditava

que era possível mudar a dura realidade de sua ilha, fadada ao esquecimento por

parte de quem detinha o poder político e econômico, com o poeta ele passava a

entender que – usando as palavras do próprio Neruda – “existem pessoas que, com

força de vontade, conseguem mudar as coisas”. O carteiro aprendia a ter voz e

tornava-se mais crítico, em detrimento da passividade que caracterizava os demais

moradores da ilha.

Naturalmente, a nova postura de Mario passaria a ser mal vista pelas outras

pessoas. Tudo, segundo elas, por culpa da poesia. E em uma terra onde imperava a

ignorância e o moralismo religioso, poesia e heresia haviam se tornado sinônimos.


3

Isso ficou evidente quando o carteiro se apaixonou pela bela Beatrice Russo,

que trabalhava em um restaurante local bastante simples, cuja proprietária era sua

tia, dona Rosa, uma senhora beata bastante temperamental. Ao conhecer Beatrice,

Mario, sem palavras, correu até Neruda para pedir ajuda, cobrando-lhe uma poesia

para entregar à amada. Contudo, para o poeta, o pedido era absurdo. Um

sentimento só poderia ser exprimido pela pessoa que o sente. Como caberia a ele,

que sequer conhecia Beatrice, escrever-lhe um poema? Assim, a forma que

encontrou para ajudar o amigo foi lhe presenteando com um caderno de anotações,

onde o carteiro poderia se aventurar a escrever suas próprias metáforas, o que, de

fato, veio a fazer. E foi com elas que Mario aos poucos conquistou o coração de

Beatrice, para a fúria de dona Rosa, que não via no carteiro um homem digno de dar

à sobrinha um futuro próspero e acreditava que a poesia estava sendo utilizada

apenas para corromper a pureza da garota.

O cerceamento provocado pela beata de nada adiantou. Pouco depois, Mario

e Beatrice estariam se casando, tendo Neruda como padrinho. A cerimônia

consagrava não apenas a união do casal, como a aceitação da população local ao

poeta chileno, que aos poucos foi conquistando os moradores, ao desmistificar, no

cotidiano, os preconceitos que circundavam sua imagem. Aquele homem

estrangeiro, que fazia poesias perigosas e era afeito aos ideais políticos colocados

em prática na Rússia, onde, segundo o padre da ilha, “os comunistas comiam

criancinhas”, revelou-se a todos uma pessoa pacata, como outra qualquer. Foi

justamente nesse dia de união e alegria que Neruda e a esposa receberam a notícia

de que poderiam retornar à terra natal que tanto amavam. Era, sem dúvida, mais um

motivo para comemorar. Exceto para Mario, que estava prestes a perder a

companhia do poeta que o tanto ajudou a crescer.


4

A despedida dos amigos é a cena mais marcante do filme. O abraço final

remete o espectador a todo aquele processo de amizade e aprendizado construído

ao longo da história. Sem Neruda, como ficaria Mario? A primeira coisa seria perder

o emprego, pois já não teria a quem entregar cartas. Só que o problema era maior

que esse. De certo modo, Mario estava prestes a se tornar “órfão”. Neruda fora um

pai para o carteiro no nascimento para um novo mundo, o mundo das letras, da

sensibilidade, do amor, da vida e das formas de retratar tudo isso. Foi o mentor no

despertar para uma consciência crítica, dando-lhe uma voz. E ensinou-lhe a

enxergar o que havia de belo ao seu redor, porque em tudo existia, e existe, poesia.

Engana-se, porém, quem considera que apenas o carteiro se beneficiou

dessa relação com o poeta. O inverso também aconteceu, pois Mario era a figura

que aproximava Neruda de seu país. Era através dele que o Chile chegava a

Neruda, por meio das cartas, e com ele o poeta podia compartilhar seus sentimentos

sobre a saudosa terra natal. Além disso, embora seja fato que o poeta muito ensinou

ao carteiro, essa competência de transmitir conhecimentos foi algo que Neruda

precisou aprender a fazer. Das perguntas mais ingênuas e elementares que Mario

lhe dirigia, nem todas o poeta sabia responder-lhe de pronto. O gênio criativo não se

confunde com a habilidade de ensinar e quando Neruda se viu em situação de

confrontar ambas as competências, foi quando ele mais cresceu. Esse talvez tenha

sido o grande legado que o poeta levou consigo ao partir.

Michael Radford, diretor do filme, é britânico, nascido em 1946. Foi

documentarista da BBC entre as décadas de 70 e 80. No cinema, dirigiu, entre

outros, o longa-metragem 1984 (lançado no ano de 1984), adaptação do livro

homônimo de George Orwell, e O Mercador de Veneza (em 2004), adaptado da

peça de William Shakespeare. Em 1996, venceu o prêmio da Academia Britânica de


5

Artes do Cinema e Televisão (BAFTA) de melhor filme em língua estrangeira por O

Carteiro e o Poeta.

Embora a homenagem a Pablo Neruda contida nesta película possa atrair

principalmente os amantes da literatura, seu enfoque na relação de amizade e

aprendizado aqui exposta torna inevitável recomendá-la aos estudantes e

trabalhadores da educação.

Rui Otani Pereira, acadêmico do 1º termo noturno do curso de Serviço Social

da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Referência

O CARTEIRO e o Poeta. Direção: Michael Radford. Produção: Mario Cecchi Gori,


Vittorio Cecchi Gori e Gaetano Daniele. Itália/França/Bélgica: Blue Dalila
Productions, Cecchi Gori Group Tiger Cinematografica, Esterno Mediterraneo Film e
Penta Films, 1994. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=8G2XBVeURVE>
Acesso em: 10/05/2018.

S-ar putea să vă placă și