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Garras invisíveis

Abrigados por trás de uma confortável invisibilidade, fazendo em pedaços a Constituição


brasileira que proíbe o anonimato, os deusinhos do MAV e do Facebook infernizam a
vida do cidadão e divertem-se a valer como larvas em festa no fundo do seu esgoto
olímpico.
Andei lendo, nos últimos dias, Till We Have Faces, a majestosa obra-prima em que C.
S. Lewis toma de Apuleio o mito de Eros e Psique e o reconta à sua maneira. A narrativa
é escrita na primeira pessoa pela princesa e depois rainha Orual, a irmã mais velha e
mais feia da bela Psique, e assume a forma de um tremendo libelo contra os deuses,
acusados de, sob a proteção da invisibilidade e da distância inacessível, fazer da vida
humana um jogo arbitrário e cruel.
Justa e valente ao ponto de bater-se pessoalmente em duelo vitorioso contra o rei de
um país inimigo, e educada, ademais, nos princípios da filosofia grega, Orual busca em
tudo uma razão de ser, e não encontra. Sua revolta contra o destino chega ao auge
quando os deuses lhe roubam a irmãzinha querida, a única alegria da sua triste vida,
para fazer dela a esposa de um ser misterioso – um monstro, talvez – cujo rosto é
proibido contemplar.
Quanto mais Orual se rebela, mais os deuses a perseguem, induzindo-a em erros e
colocando-a em situações absurdas que ameaçam levá-la à insanidade. O romance tem
passagens tão angustiantes que inspiram no leitor o “terror e piedade” da tragédia
clássica, mas o desenlace da história no além-túmulo não é nada trágico, pois no fim
das contas a rainha não é julgada pelos deuses perseguidores e sim pelo “deus
desconhecido” que tudo cura e redime.
Não vou dar detalhes para não estragar a leitura. Mas para mim foi uma sorte estar
lendo esse livro justamente numa ocasião em que tudo em volta me induzia a meditar
sobre o destino paradoxal do cidadão numa democracia moderna, investido de direitos
legais sublimes, mas submetido a poderes cada vez mais distantes e inacessíveis que
o controlam, manipulam e atormentam num jogo de gato e rato.
Anos atrás li, não lembro onde, uma profecia budista de que no fim dos tempos os
homens seriam deuses para os homens. Na época imaginei que se tratasse de um culto
idolátrico, mas hoje entendo que não é preciso render-lhes culto para que alguns
homens tenham os meios de reduzir o seu concidadão menos poderoso à condição de
um rato que se debate em vão entre as garras de um gato invisível. O que os torna
divinamente inalcançáveis não é nenhuma magia celeste, é a trama densa e
indeslindável das leis, da burocracia e dos recursos tecnológicos postos à disposição
de quem possa comprá-los. Governos, serviços secretos, partidos políticos,
organizações revolucionárias e megaempresas transformaram-se em réplicas
simiescas, mas não menos temíveis, dos deuses da antiguidade.
Eu poderia citar como exemplo o caso da pobre Debbie Schlussel, a colunista americana
que em 2008, antes das eleições presidenciais, descobriu o certificado de alistamento
militar grosseiramente falsificado de Barack Hussein Obama, prova cabal de que o
candidato era um criminoso chinfrim, sem qualificações para obter uma licença de porte
de arma ou mesmo um emprego de balconista do Wallmart. Até hoje essa verdade
patente, visível a olho nu, enfrenta em vão a resistência sem rosto de poderes invisíveis
e onipresentes (muito parecidos com o partido dos sonhos de Antonio Gramsci) que
insistem em encobri-la com piadinhas evasivas, mesmo depois de sete anos de
desastres presidenciais sem fim, que poderiam ter sido evitados antecipadamente
mediante uma simples queixa na polícia.
A capacidade de desconversa desses fantasmas é ela mesma fantasmagórica. Sempre
que se fala em documentos falsos, eles respondem em uníssono: “O presidente não
nasceu no Quênia. ” Não contestam a acusação: mudam a identidade do acusador,
forçando-o a patinar em falso. De onde vem essa oposição perversa, uniforme e
obstinada? Nem todas as especulações dos teóricos da conspiração poderiam
responder a essa pergunta envolta numa trama indeslindável de subterfúgios, que elas
só tornam ainda mais enigmática. Pobre Debbie, pobre Orual.
Mas não preciso ir tão longe. Eu mesmo, durante a semana, vivi o papel do rato preso
entre garras invisíveis. Se o leitor me permite, conto a história.
Como muitos outros escritores e jornalistas, uso o Facebook como canal de
comunicação diária com o meu público leitor. Entremeando considerações filosóficas,
piadas, recordações curiosas e invectivas contra o governo mais corrupto de todos os
tempos, fui ampliando esse público até chegar além de 220 mil seguidores. Muitos
deles, em 15 de março, foram às ruas com cartazes “Olavo tem razão”, protestando
contra o silêncio ominoso da mídia e dos políticos em torno de denúncias que eu vinha
fazendo desde 1993 contra o esquema comunopetista – ou comunolarápio – de
apropriação do Estado.
Em 2013, tudo correu bem. O único inconveniente eram páginas repletas de
caricaturações maldosas e pueris, quase sempre anônimas – o primeiro mas ainda nada
alarmante sinal das garras invisíveis – que em reação me acusavam de tudo quanto era
crime e me catalogavam, ao mesmo tempo, como espião do Mossad e agente islâmico,
gnóstico maçom e fundamentalista cristão, nazista camuflado e comunista enrustido,
além de fuçar a vida da minha família e recontar a minha biografia em tons horripilantes,
com honestidade luliana e o senso cronológico de um drogado em plena bad trip.
A partir de 2014, porém, quando as verbas de propaganda concedidas pelo governo
federal ao Facebook cresceram 118 por cento em comparação com o ano anterior (leia
aqui), tudo mudou. Minha página passou a ser bloqueada a todo momento, sob as
alegações mais levianas e despropositadas, enquanto as páginas que me acusavam
até de assassinato eram, quando denunciadas pelos meus seguidores, abençoadas
pelo Facebook com a garantia de que “não violavam as normas da comunidade”.
Normas que, só posso concluir, lhes asseguravam o direito à prática impune do crime
de calúnia, fazendo portanto do próprio Facebook uma organização criminosa, como
aliás acontece com toda empresa que vai para a cama com o PT.
Agora, nas semanas em que vão ocorrer novas megamanifestações de rua contra o
descalabro petista, veio um novo bloqueio, desta vez por trinta dias, de modo que eu
não possa me comunicar com o público durante os protestos.
Só um mentecapto veria aí uma mera coincidência, pois o pedido de bloqueio partiu
justamente da mesma página do MAV (Núcleo de Militância Virtual do PT), que me faz
acusações caluniosas sob a proteção do Facebook (v. ilustração).
Como eu passasse a postar mensagens pela página da minha esposa, esta foi
bloqueada também.
Quem são os agentes por trás dessa operação? Quem são os mavistas que a
executam? Quem, na alta direção do Facebook, decidiu apoiar tão descaradamente
crimes de calúnia e ainda perseguir a vítima?
Abrigados por trás de uma confortável invisibilidade, fazendo em pedaços a Constituição
brasileira que proíbe o anonimato, os deusinhos do MAV e do Facebook infernizam a
vida do cidadão e divertem-se a valer como larvas em festa no fundo do seu esgoto
olímpico.

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