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Parte I

Princípios e
Manejo Ortopédico

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Capítulo 1
Princípios Gerais
PRINCÍPIOS DAS FRATURAS Localização anatômica
• Em um osso longo, as fraturas são categorizadas es-
Biomecânica tando nas porções proximal, média ou distal do osso.
Uma fratura ocorre quando a força aplicada excede a re- • Se a fratura se estende ao espaço articular, é descrita
sistência plástica do osso e vai além do seu limite de re- como intra-articular. As fraturas que não envolvem a
sistência. Vários fatores influenciam os padrões de fratura. articulação são extra-articulares.
Estes incluem a magnitude da força, a sua duração e dire- • Outros termos anatômicos usados para descrever a
ção, e a velocidade em que ela atua. Quando um osso é su- localização de uma fratura são: na cabeça, no colo,
jeito a tensões repetidas ele pode, por fim, fraturar, embo- na diáfise e na base (p. ex., nas fraturas metacarpais e
ra a magnitude de uma tensão individual seja muito mais metatarsais).
baixa do que a resistência final à tensão do osso. A força • Em pediatria, as fraturas são descritas em relação à
de um osso está diretamente relacionada à sua densidade, placa de crescimento (fise). As fraturas que ocorrem
que é reduzida por osteoporose ou por qualquer condição entre a articulação e a placa de crescimento são as fra-
em que a estrutura óssea seja modificada, baixando a sua turas epifisárias. As fraturas da diáfise se referem à
resistência à tensão. parte média do osso. A zona de crescimento entre a
epífise e a diáfise durante o desenvolvimento de um
Terminologia osso é a metáfise.
As fraturas podem ser descritas de várias formas. Ne- Deslocamento
nhum sistema de classificação é totalmente inclusivo, e
os médicos que lidam com fraturas no dia a dia devem O deslocamento é usado para descrever o movimento dos
estar cientes da terminologia para melhor entender e re- fragmentos da fratura a partir de sua posição habitual.
passar a informação aos colegas. Deve ser notado que, Além disso, outros termos que descrevem os movimentos
para descrever uma fratura de forma adequada, pelo me- da fratura incluem:
nos duas incidências radiográficas perpendiculares de- • Alinhamento é a relação dos eixos dos fragmentos
vem ser obtidas. de um osso longo. O alinhamento é medido traçan-
do-se uma linha imaginária através do eixo normal
Direção das linhas de fratura do osso e outra linha através do eixo do segmento
• Transversa: Uma fratura transversa corre perpendicu- distal fraturado, sendo medido o ângulo entre eles.
lar ao osso (Fig. 1.1A). O alinhamento é descrito em graus de angulação do
• Oblíqua: Uma fratura oblíqua atravessa o osso em um fragmento distal em relação ao fragmento proximal
ângulo de 45 a 60° (Fig. 1.1B). Estas fraturas são cau- (Fig. 1.2). A angulação lateral do fragmento distal
sadas pela compressão e flexão no local da fratura. também é conhecida como deformidade em valgo,
• Espiral: Uma fratura espiral pode, às vezes, ser equi- enquanto a angulação medial é uma deformidade em
vocadamente diagnosticada como oblíqua; contudo, varo. A angulação no plano anteropos é chamada de
em um exame mais atento, é notada uma aparência volar e dorsal. A angulação volar de um fragmento
de “saca-rolhas” da fratura (Fig. 1.1C). É uma fratura distal é denominada de “angulação volar”. Alguns
altamente instável, que tende a apresentar evolução ortopedistas descrevem a angulação com base no
ruim. As fraturas espirais são causadas por uma força ápice de uma fratura. Por conseguinte, a “angulação
de torção. Em crianças, pode ser uma pista de poten- volar” pode também ser descrita como “angulação
cial agressão. de ápice dorsal”.
• Cominutiva: Uma fratura cominutiva é aquela com • A aposição descreve a quantidade de contato entre as
mais de dois fragmentos (Fig. 1.1D). Outros exem- superfícies fraturadas (Fig. 1.3). A aposição pode ser
plos de fraturas cominutivas são as segmentares e as completa, parcial ou ausente (nenhum contato).
em asa de borboleta (Figs. 1.1E e 1.1F). • A translação é usada para descrever o movimento
• Impactada: Uma fratura impactada é aquela em que dos fragmentos de fratura a partir de sua posição ha-
as extremidades fraturadas estão comprimidas entre bitual em direção perpendicular aos eixos longos do
si. Estas fraturas são habitualmente muito estáveis osso. A translação é descrita como uma porcentagem
(Fig. 1.1G). da largura do osso. A direção de translação é descri-

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A. Fratura transversa B. Fratura oblíqua C. Fratura espiral D. Fratura cominutiva

E. Fratura segmentar F. Fragmento em asa de borboleta G. Fratura impactada

Figura 1.1 A classificação das fraturas. As fraturas segmentares e em asa de borboleta são tipos específicos de fraturas cominutivas.

ta com base no movimento do fragmento distal em • A distração é o termo usado quando o deslocamento
relação ao fragmento proximal. Na prática clínica, estiver no eixo longitudinal do osso (i.e., os fragmen-
contudo, é mais comum usar o termo “deslocamento” tos ósseos estão “separados”) (Fig. 1.3C).
para descrever a translação. Por exemplo, a fratura na • A deformidade rotacional pode ocorrer em qualquer
Figura 1.3A é descrita como estando 50% deslocada fratura, embora seja comum após as fraturas espirais.
em direção lateral. Pode ser clinicamente detectada quando as radiogra-
• A aposição em baioneta está presente quando os frag- fias revelam uma fratura não deslocada, mas a extre-
mentos não estão apenas 100% deslocados, mas tam- midade parece anormal (p. ex., um dedo que aponta
bém sobrepostos (Fig. 1.3B). Isso é frequentemente na direção errada). Radiograficamente, uma defor-
visto nas fraturas da diáfise femoral e do úmero. midade rotacional sutil pode ser observada ao notar

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que os diâmetros dos ossos em cada lado da linha de


fratura estão diferentes.

Lesão de tecidos moles


• Fechada: Uma fratura na qual a pele sobrejacente
permanece intacta.
• Aberta: Uma fratura na qual a pele sobrejacente é
rompida.
• Complicada: Uma fratura associada a um dano neu-
rovascular, visceral, ligamentar ou muscular. As fra-
turas intra-articulares também são complicadas.
• Não complicada (simples): Uma fratura que tenha so-
mente uma quantidade mínima de lesão nos tecidos
moles.

Estabilidade
• Fratura estável: Uma fratura que não tenha tendência
A. Bom alinhamento
20º para deslocar após a redução. As fraturas transversas
B. Angulação são frequentemente fraturas estáveis.
• Fratura instável: Uma fratura que tende a deslocar
Figura 1.2 A descrição das fraturas é de acordo com a relação
após a redução. As fraturas cominutivas, oblíquas e
do segmento distal com o proximal. A. Não existe angulação e
isso é chamado de bom alinhamento das extremidades fratura- espirais são mais comumente instáveis.
das. B. Existe angulação lateral do segmento distal de 20º.
Mecanismo de lesão
• As forças diretas causam uma fratura que será trans-
versa, oblíqua ou cominutiva. Um exemplo de uma
força direta que causa fratura é aquela causada por
um golpe direto na ulna. Uma fratura cominutiva
após uma lesão por esmagamento e uma fratura por
um projétil de alta velocidade também são causadas
por impacto direto.
• As forças indiretas também podem induzir uma fra-
tura, transmitindo energia ao osso. Uma fratura por
avulsão é pela tração ligamentar (Fig. 1.4A). Uma
força, como um estresse em valgo no joelho, pode
resultar em uma fratura por compressão ou depressão
do côndilo tibial (Figs. 1.4B e 1.4C). Uma força rota-
cional (i.e., de torção) aplicada no eixo longo de um
osso resulta em fratura espiral (Fig. 1.5). Uma fratura
de estresse, às vezes chamada de fratura de fadiga, re-
sulta de estresse indireto repetido aplicado a um osso.
A. Aposição B. Deslocada com
Algumas fraturas de estresse são causadas por trauma
parcial aposição em direto repetido.
baioneta C. Distraída

Figura 1.3 Deslocamento ou aposição. A. Essa fratura parcial-


Lesão articular
mente aposta também pode ser descrita como estando lateral- • Luxação: Ruptura total da superfície articular com
mente deslocada em 50%. B. A aposição em baioneta é quando perda de contato normal entre as duas extremidades
as duas extremidades não estão mais apostas e se sobrepõem,
ósseas (Fig. 1.6A).
com encurtamento do comprimento normal do osso. C. A dis-
tração ocorre quando as extremidades da fratura na estão mais • Subluxação: Ruptura de uma articulação, permane-
apostas devido à separação longitudinal em vez de estarem se- cendo contato parcial entre os dois ossos que com-
paradas em uma forma lado a lado. põem a articulação (Fig. 1.6B).

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A. Avulsão

A. Luxação B. Subluxação

B. Compressão C. Depressão
C. Diástase
Figura 1.4 O mecanismo de lesão em geral pode ser deduzido
pelo aspecto da fratura. A. Fratura de avulsão devido ao ligamen- Figura 1.6 Lesões articulares. A. A luxação é a separação com-
to deltoide tracionando o maléolo medial, a partir de um estresse pleta dos dois ossos que compõem a articulação. B. A subluxa-
em eversão. B. Fratura de compressão causada pelo côndilo fe- ção indica o deslocamento parcial das extremidades ósseas. C.
moral contactando o côndilo tibial, após um estresse em valgo A diástase é a separação em uma articulação sindesmótica.
na perna. Esse é um tipo de fratura de impactação, mas o termo
compressão não apenas diz que é uma fratura de impactação,
mas também o mecanismo pelo qual ela ocorreu. C. Depressão
do côndilo devido a uma quantidade maior de força.

A B C

Figura 1.5 Fraturas. A. transversa, B. oblíqua e C. espiral da diáfise umeral.

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Periósteo citos no local da fratura e eles morrem. Com este tecido


necrótico, começa a fase inflamatória da consolidação da
fratura, acompanhada por vasodilatação, formação de ede-
ma, e a liberação de mediadores inflamatórios. Em adição,
leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e osteoclastos
migram para a área para reabsorver o tecido necrótico.
A fase reparadora começa com a migração de células
mesenquimais do periósteo. Estas células atuam formando
o osso mais inicial. Os osteoblastos da superfície endos-
teal também formam osso. O tecido de granulação inva-
A. Fase inflamatória de a partir de vasos circundantes e substitui o hematoma.
Células A maior parte da consolidação ocorre em torno dos brotos
mesenquimais
capilares que invadem o local da fratura. A consolidação
com neoformação óssea ocorre, primeiramente, na região
subperiostal; a formação de cartilagem ocorre na maioria
das outras áreas. Os osteoblastos são responsáveis pela
formação do colágeno, que é então seguida pela deposição
mineral de cristais de hidroxiapatita de cálcio. Um calo é
formado, e os primeiros sinais de união clínica são notados.
Durante a fase de remodelação, a fratura em consoli-
dação ganha resistência. Conforme o processo de consoli-
dação continua, o osso se organiza em trabéculas. A ativi-
B. Fase reparadora
dade osteoclástica é primeiramente vista na reabsorção de
trabéculas malformadas. O novo osso é então formado de
acordo com as linhas de força ou de estresse.
Muitos termos são usados para descrever a consolida-
ção de fraturas. A união se refere à consolidação de uma
fratura. A união clínica permite a retomada do movimento
de um membro e ocorre mais cedo do que a união radio-
gráfica. A evidência radiográfica de união está presente
quando a transposição óssea da fratura é vista, em pelo
menos três corticais, em projeções ortogonais. O exercí-
cio aumenta a velocidade de reparo e deve ser estimulado,
particularmente o exercício isométrico ao redor de uma
articulação imobilizada.
C. Fase de remodelação A má união é a consolidação de uma fratura com uma
deformidade residual inaceitável, como angulação, rota-
Figura 1.7 Fases da consolidação de fraturas.
ção ou fragmentos sobrepostos, resultando em encurta-
mento do membro. O encurtamento é mais bem tolerado
• Diástase: Certos ossos unem-se em uma articulação nas extremidades superiores (úmero) do que nas inferiores
sindesmótica, na qual existe pouco movimento. Uma (fêmur ou tíbia). Em geral, na extremidade inferior, o en-
membrana interóssea que atravessa a área entre os curtamento maior que 2,5 cm é mal tolerado.
dois ossos interconecta essas articulações. Duas ar- A união retardada é a consolidação que leva um tem-
ticulações sindesmóticas ocorrem nos humanos entre po mais longo que o habitual. A união retardada fica evi-
o rádio e a ulna e entre a fíbula e a tíbia. A ruptura da dente quando a neoformação óssea periosteal cessa antes
membrana interóssea que conecta essas duas articula- de a união ser alcançada. Em um osso longo, a união re-
ções é chamada de diástase (Fig. 1.6C). tardada está presente se não tiver completado uma união
dentro de seis meses.
A não união é definida como a falha da união na fratura.
Consolidação de fraturas
As duas razões mais comuns para a não união de uma fratura
A consolidação de fraturas pode ser dividida em três fa- são o suprimento sanguíneo inadequado e a estabilização de-
ses: inflamatória, reparadora e de remodelação (Fig. 1.7). ficiente da fratura. O suprimento sanguíneo inadequado pode
Inicialmente, depois de ocorrer uma fratura, um hemato- ter como causa vasos nutrientes danificados, desnudamento
ma é formado no local entre as extremidades da fratura, e ou lesão do periósteo e músculo, cominução grave com frag-
rapidamente se organiza para formar um coágulo. A lesão mentos livres (em asa de borboleta ou fraturas segmentares),
dos vasos sanguíneos do osso priva de nutrição os osteó- ou avascularidade devido aos dispositivos de fixação interna.

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A quantidade de contato entre as extremidades ósseas (apo- mais difusos se houver lesão significativa de tecidos moles
sição e distração) e as lesões nos tecidos moles associadas associada. A perda da função normal pode ser notada, mas
afetam de forma adversa a velocidade de consolidação, pois em pacientes com fraturas incompletas (p. ex., uma fratura
a armação para o reparo ósseo fica comprometida. de estresse) a deficiência funcional pode ser mínima. Quan-
A localização da fratura pode impactar a probabilidade do as extremidades fraturadas estão em aposição ruim, a mo-
de não união. O osso cortical encontrado nas diáfises ósseas bilidade anormal e a crepitação podem ser produzidas. Esses
tubulares cura em uma velocidade mais lenta que o osso es- achados não devem ser buscados, contudo, já que aumentam
ponjoso nas epífises e metáfises devido às diferenças no su- a chance de dano adicional dos tecidos moles. Aqueles pa-
primento vascular e na celularidade. Os ossos que têm inci- cientes com deformidade grosseira ou crepitação devem ser
dência mais alta de não união incluem a diáfise tibial distal, imediatamente imobilizados antes de serem movimentados
o escafoide e a diáfise proximal do quinto metatarsal. ou que quaisquer radiografias sejam executadas.
Outras causas de não união incluem a interposição de A sensibilidade dolorosa em um ponto deve ser no-
tecidos moles, a distração óssea por tração ou fixação inter- tada sempre que for produzida. Uma fratura de estresse
na, a infecção, a idade, as fraturas em ossos patológicos e pode ser diagnosticada ou suspeitada com base na sensi-
os medicamentos. A idade do paciente é um fator, já que as bilidade dolorosa óssea, embora uma fratura possa não ser
crianças apresentam uma afinidade mais alta para a rápida vista nas radiografias por 10 a 14 dias. De forma similar,
remodelação óssea. A consolidação de fraturas intra-articu- ao avaliar um paciente com lesão na articulação, conside-
lares é inibida pela exposição ao fluido sinovial. O fluido rar uma fratura osteocondral como a causa da dor.
sinovial contém fibrinolisinas que retardam o estágio inicial Nenhum exame de um paciente com suspeita de fra-
da consolidação da fratura, devido à lise do coágulo. Certos tura é completo sem um exame neurovascular. A lesão em
medicamentos, como os corticosteroides, o hormônio da ti- nervos e vasos deve ser documentada e abordada conforme
reoide em excesso e a nicotina da fumaça do cigarro inibem apropriado antes de quaisquer tentativas de redução. Além
a velocidade de consolidação. Estudos em animais aponta- disso, devem ser pesquisados os sinais de síndrome com-
ram que a hipoxia crônica inibe a consolidação óssea. partimental, como a dor fora de proporção, compartimen-
A pseudoartrose resulta de uma não união não tratada tos tensos ou a dor com amplitude passiva de movimento.
e grosseiramente móvel. Na pseudoartrose, uma articula- Um exame atento da pele é necessário para excluir uma
ção falsa, com uma cápsula revestida com sinovial, apare- fratura exposta. A lesão da pele pode parecer inócua, mas,
ce, envolvendo as extremidades da fratura. quando presente próximo ao local de uma fratura e a base da
ferida não puder ser identificada, a lesão deve ser conside-
rada uma fratura exposta até prova em contrário (Fig. 1.8).
Características clínicas
A evidência de bolhas sobre um local de fratura não é
A dor e a sensibilidade são as queixas de apresentação mais incomum quando o edema for intenso. As bolhas da fratu-
comuns de um paciente com fratura. Estes sintomas estão ra podem aparecer em até 6 horas depois de uma fratura.
habitualmente bem localizados na fratura, mas podem ser Elas podem ser claras ou hemorrágicas, e o tipo preenchido

Figura 1.8 Fratura exposta. A. Uma ferida pe-


quena sem base identificável é notada no ante-
braço proximal. B. As radiografias do mesmo
paciente demonstram uma fratura da ulna na pro- E
ximidade da ferida. B

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A B

Figura 1.9 Bolhas da fratura. A. Bolha de fratura serosa em um paciente após uma fratura bimaleolar do tornozelo. B. Bolhas de
fratura hemorrágicas em um paciente com fratura da tíbia distal.

com sangue indica desinserção entre as camadas dérmicas teroposterior e lateral) é o mínimo a ser obtido. Isto serve
e epidérmicas e um prognóstico pior associado (Fig. 1.9). para melhorar a taxa de diagnóstico de fratura e dar ao
As bolhas da fratura são mais comuns em áreas com proe- profissional uma compreensão completa do deslocamento
minências ósseas, como o cotovelo, o pé ou a tíbia distal. de uma fratura (Figs. 1.10 e 1.11). As vistas adicionais
A redução e a estabilização precoce das fraturas diminuem devem ser solicitadas em algumas situações. As vistas
a incidência de formação de bolhas, embora elas possam oblíquas, por exemplo, são particularmente úteis nas ex-
se formar mesmo quando os cuidados tiverem sido ideais. tremidades distais (p. ex., mão, punho, pé).
O controle do edema com compressão, elevação e criote- As fraturas aparecem como uma ruptura da cortical
rapia também é útil. O tratamento das bolhas de fratura é lisa do osso, com uma linha radioluzente delineando os
controverso, embora a maioria dos especialistas deixe-as
intactas, cobertas com iodo povidona, pomada de antibió-
ticos ou curativo com sulfadiazina de prata. A sua presença
frequentemente retarda o reparo operatório, pois elas do-
bram a taxa de infecção e de deiscência da ferida.
O sangramento é outro potencial problema após as
fraturas, especialmente em ossos longos, como os fêmures
ou a pelve. Uma quantidade significativa de perda sanguí-
nea pode ocorrer depois de uma fratura fechada e a quanti- E
dade de sangramento em geral não é apreciada (Tab. 1.1). C E
Um paciente com fratura pélvica significativa pode apre- U C
sentar choque por perda sanguínea. Isso é especialmente U
verdadeiro em idosos, que são menos capazes de fazer va-
soconstrição para o suporte da sua pressão sanguínea.

Radiografias
As radiografias simples são habitualmente suficientes
para o diagnóstico de fratura. Duas vistas ortogonais (an-

TABELA 1.1 Perda média sanguínea com a fraturas


fechadas
Local de fratura Quantidade (mL)
Rádio e ulna 150-250 A B
Úmero 250
Figura 1.10 Duas radiografias obtidas em ângulo de 90º aju-
Pelve 1.500-3.000
dam na detecção da fratura. A. A vista AP (anteroposterior) do
Fêmur 1.000
antebraço parece normal. B. Na vista lateral, uma fratura não
Tíbia e fíbula 500
deslocada mais óbvia é vista na diáfise da ulna (seta).

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DIREITA

A B

Figura 1.11 Duas radiografias obtidas em ângulos de 90º per-


mitem compreensão mais completa do deslocamento da fratu-
ra. A. A vista AP do antebraço demonstra uma fratura da ulna.
Figura 1.12 A inclusão de uma articulação acima e abaixo de
B. Na vista lateral, um deslocamento é visível, não sendo evi-
uma fratura de osso longo permite a detecção de deformida-
dente na incidência em AP.
de rotacional, como a vista nesta radiografia da perna, na qual
uma incidência AP do joelho é vista com uma incidência lateral
fragmentos. As fraturas agudas são habitualmente linea- do tornozelo.
res, com bordas irregulares. Evite tratar os ossículos aces-
sórios (i.e., ossos sesamoides) como fraturas por avulsão,
procurando por sua borda lisa. Quando existir dúvida,
uma vista comparativa da extremidade oposta pode ser
obtida, embora deva ser notado que os ossos sesamoides
nem sempre são simétricos. A fabela do joelho, por exem-
plo, é bilateral em somente 63% das pessoas.
As radiografias devem incluir a articulação acima e
abaixo da fratura. Isso é útil para detectar fraturas dis-
tantes que podem ser menos sintomáticas que a lesão
primária. Por exemplo, uma fratura de maléolo medial é
muitas vezes associada a uma fratura da fíbula proximal,
no padrão da fratura de Maisonneuve. Além disso, as de-
formidades rotacionais podem ser detectadas quando as
articulações estiverem aparentes nas radiografias de uma
fratura de um osso longo. A vista anteroposterior de uma
articulação com vista lateral da outra articulação é con-
sistente com uma deformidade rotacional da fratura (Fig.
1.12). Por fim, o encurtamento de um dos ossos do an-
tebraço ou da perna devido à angulação ou aposição em
baioneta sugere que outra fratura possa estar presente no
outro osso (p. ex., fratura da tíbia e fíbula), ou que exis-
te uma luxação articular (p. ex., fratura de Monteggia).
Essas lesões concomitantes serão diagnosticadas quando
todo comprimento do(s) osso(s) longo(s) e suas articula- A B
ções proximais e distais são vistos nas radiografias. Figura 1.13 Fratura oculta da tíbia distal. A. Na radiografia ini-
Uma fratura pode ocorrer e não ser radiograficamen- cial, nenhuma fratura é percebida. B. Um mês mais tarde, uma
te evidente por até duas semanas pós-lesão (Fig. 1.13). fratura transversa da tíbia é vista (seta).

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Emergências Ortopédicas 11

Figura 1.14 O desenho original da tala de tração de Thomas com anel completo.

Por esta razão, o médico da emergência deve guiar-se pela no contexto pré-hospitalar. Depois de uma fratura do fêmur,
diretriz de que se houver trauma significativo e sensibili- o osso sobreposto resulta em uma perda de tensão de teci-
dade dolorosa óssea focal suspeita para uma fratura, deve dos moles na coxa e um potencial espaço aumentado para
ser tratado como tal. hemorragia. Até 1 litro de sangue pode distender os tecidos
Existem algumas regiões onde as fraturas ocultas são moles da coxa. Uma tala de tração da extremidade inferior
bastante comuns e com frequência passam despercebidas. O mantém a tensão nos tecidos moles, diminui a quantidade de
1
escafoide é um exemplo notório pelas fraturas ocultas (10 a hemorragia, e subsequentemente melhora o desfecho.
20%) que não são radiograficamente visíveis por várias se- Talvez a tala de tração de extremidade inferior mais
manas depois da lesão. As fraturas ocultas do quadril ocor- antiga conhecida seja a tala de Thomas (Fig. 1.14). Esta
rem em aproximadamente 5% dos pacientes idosos com tala tem sido usada desde o final do século XIX e ficou fa-
trauma, dor no quadril e radiografias iniciais negativas. mosa durante a Primeira Guerra Mundial, quando a mor-
Quando uma fratura oculta for suspeitada, o profissional talidade foi reduzida em 50% depois de sua introdução no
1,2
deve considerar outros exames diagnósticos, como a resso- campo de batalha. Uma modificação desta tala é a tala
nância magnética nuclear (RMN) ou a tomografia computa- de tração de Hare, na qual um meio-anel compõe a por-
dorizada (TC). Estas técnicas de imagens têm sensibilidade ção mais proximal (Fig. 1.15). Estas talas fornecem tração
muito mais alta para a detecção de fraturas. Foi demonstrado dos fragmentos da fratura, mas causam grande desconfor-
que a RMN tem sensibilidade próxima de 100% para diag- to durante o transporte. A tala não deve ser removida antes
nosticar fraturas ocultas do escafoide ou do quadril. Quando da avaliação radiográfica.
um exame de imagens adicional não for obtido no atendi- A tala de tração de Sager (Minto Research and De-
mento de emergência, imobilizar o paciente com a simples velopment, Inc.) é mais recomendada para imobilização
suspeita de tal fratura, mesmo que não radiograficamente de emergência de todas as fraturas do fêmur proximal e
visível, e organizar um acompanhamento ortopédico. da diáfise femoral, tanto no grupo pediátrico como no
grupo adulto (Fig. 1.16). A tala de Sager tem uma has-
Tratamento te única que é colocada no aspecto interno da perna, mas
pode ser aplicada no lado externo da perna se uma fratu-
Imobilização pré-hospitalar ra pélvica estiver presente. A tala não tem um meio-anel
1
Uma fratura instável deve ser estabilizada com alguma posteriormente, o que tem duas vantagens importantes:
2
forma de imobilização ou tração externa antes de movi- alivia qualquer pressão no nervo ciático e reduz a flexão
mentar o paciente. A imobilização própria no contexto do quadril (que ocorre em até 30º na tala de Hare), elimi-
pré-hospitalar reduz a dor e previne a lesão adicional de nando a angulação no local da fratura.
tecidos moles pelos fragmentos da fratura. Um exame Outras talas de extremidades comercialmente dis-
®
neurovascular deve ser feito tanto antes da imobilização poníveis incluem a tala SAM , a tala de Fox, as talas em
®
como imediatamente após. grelha e as talas infláveis. A tala SAM (SAM Medical
Uma tala de tração da extremidade inferior para fratura Products, Inc.), feita de alumínio maleável recoberto de
do fêmur é uma das talas mais importantes a ser colocada espuma, é leve, fácil de usar, e se conforma bem à ex-

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Figura 1.15 A. A tração de Hare é aplicada conforme demonstrado, por tração e elevação do membro inferior, com o joelho man-
tido em extensão. B. A tala é então inserida sob o membro, e o pé fixado no aparato de tração.

Correia da coxa Almofada


isquioperineal

Manopla de tração

Suspensor do tornozelo

Figura 1.16 A tala de tração de Sager. O medidor distal diz a quantidade de peso que está sendo aplicado às correias do tornozelo
para distração. A tala pode ser aplicada no lado externo da perna nos pacientes com lesões na virilha ou fraturas pélvicas que tam-
bém apresentam uma fratura femoral.

tremidade. A tala de Fox (Compliance Medical, Inc.) da inflação excessiva (isquemia do membro) ou a infla-
consiste em papelão e espuma de borracha, no entanto, ção deficiente (imobilização ineficaz).3 Estas talas não
carece de maleabilidade. Também são usadas as talas devem ser aplicadas sobre a roupa, já que podem causar
infláveis feitas de uma dupla camada de polivinil e gre- lesão de pele.
lha de fio moldável, mas não elas não têm a nossa prefe- Se a atenção médica ainda não tiver chegado, uma
rência. As talas infláveis têm as desvantagens potenciais tala pode ser adaptada com materiais encontrados na

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Emergências Ortopédicas 13

TABELA 1.2 Posição articular para imobilização


Articulação Posição de função
Interfalângica distal 0-10º de flexão
Interfalângica proximal 0-10º de flexão
Metacarpofalângica 60-90º de flexão
Punho 20-30º de extensão
Cotovelo 90º de flexão
Ombro Abduzida/com rotação interna
Joelho 20-30º de flexão
Tornozelo Neutra (evitar flexão plantar)
Dedos do pé Neutra

Talas
As talas diferem dos gessados porque não são circunfe-
renciais e permitem o inchaço da extremidade sem um au-
mento significativo na pressão do tecido. As compressas
de gelo podem ser aplicadas ao local da lesão, já que a tala
permitirá a penetração do frio para maximizar o seu efei-
to. Por estas razões, as talas são mais usadas como meio
A B
inicial de imobilização no setor de emergência. Uma vez
Figura 1.17 A. Um travesseiro pode ser uma tala temporária que o edema tenha diminuído, o gessado é feito, pois as
excelente para o manejo pré-hospitalar de uma fratura do tor- talas permitem mais movimento e fornecem menos estabi-
nozelo, do pé ou da tíbia distal. B. Uma fratura na perna pode lidade que uma fratura reduzida precisa para ser mantida
ser estabilizada embrulhando toalhas com firmeza em torno do em posição fixa.
membro e então aplicando dois pedaços de madeira nas late- Talas (e gessados) são reforçados por um ou dois dife-
rais e fixando-os à extremidade.
rentes materiais: gesso ou fibra de vidro. Os rolos de ges-
so ou as placas usadas nos gessados são endurecidos por
maioria das casas. Um exemplo é a tala com travesseiro dextrose ou goma e impregnados com sulfato de cálcio
(Fig. 1.17A). Esta tala é aplicada enrolando firmemente semi-hidratado. Quando a água é adicionada ao sulfato de
um travesseiro comum ao redor de uma fratura da extre- cálcio, ocorre uma reação que libera calor, que é percebi-
midade inferior, fixando-o com alfinetes de segurança. da pelo paciente e pelo médico que aplica o gessado.
Alternativamente, uma tala pode ser feita com toalhas en-
roladas em torno do membro e apoiada em um dos lados CaSO4 + H2O → H2O CaSO4 · H2O + Calor
por pedaços de madeira (Fig. 1.17B). O mesmo tipo de Substâncias aceleradoras são adicionadas às banda-
tala pode ser usado na extremidade superior com a adição gens para permiti-las endurecer em velocidades diferen-
de uma tipoia para apoiar o antebraço. tes. O sal de cozinha comum pode ser usado para retardar
Os pacientes que se apresentam com fraturas expos- o endurecimento do gesso, se isso for desejado, simples-
tas devem ser imobilizados de maneira similar; contudo, mente adicionando sal à água. A aceleração do endure-
o local da lesão de pele deve ser coberto com um curativo cimento ocorre pelo aumento da temperatura da água.
estéril. Deve haver o cuidado de não recolocar qualquer Quanto mais fria for a temperatura da água, mais tempo o
fragmento ósseo exposto de volta na ferida, para evitar gesso leva para endurecer.
contaminação adicional. Para as talas gessadas, uma malha tubular é colocada
na extremidade distal e proximal da extremidade onde a
Imobilização no setor de emergência tala for aplicada (Fig. 1.18). A seguir, uma camada mole
Uma fratura é imobilizada no setor de emergência para de acolchoamento (p. ex., algodão laminado) é circunfe-
permitir a consolidação, o alívio da dor e para estabili- rencialmente colocada em torno da extremidade, com cui-
zar as fraturas instáveis. A presença de uma fratura, en- dado especial no acolchoamento extra em áreas onde as
tretanto, não deve ser automaticamente igualada com a protuberâncias ósseas sejam mais proeminentes (i.e., nos
necessidade de imobilização (p. ex., uma fratura da cla- maléolos, no calcanhar). O gesso é medido e cortado (ou
vícula). As regras fundamentais das talas e dos gessados rasgado) no comprimento apropriado. Para a resistência
são idênticas. De forma ideal, pelo menos uma articulação máxima, 8 a 10 camadas devem ser usadas. As camadas
acima e abaixo da fratura deve ser imobilizada. Em geral, de gesso são então submersas em água morna, alisadas
a extremidade deve ser colocada na posição de função an- para reforço da resistência, e aplicadas à extremidade.
tes de ser imobilizada, embora haja exceções a esta regra, Uma tira de acolchoamento gessado pode ser aplicada
dependendo da lesão (Tab. 1.2). sobre a superfície exterior do gesso, de forma que a ata-

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14 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

membro (Figs. 1.19A e 1.19B). O acolchoamento do gessa-


do interposto entre a pele e o gesso fornece pressão elástica
e realça a fixação do membro, compensando o leve encolhi-
mento dos tecidos depois da aplicação do gessado. O acol-
choamento excessivo reduz a eficácia do gessado e permite
movimento excessivo. Em geral, quanto mais acolchoa-
mento for usado, mais gesso será necessário (Vídeo 1.1).
Depois de colocar a atadura gessada na água, aperte as
extremidades para eliminar o excesso de água, retendo o
gesso no rolo. A atadura de gesso deve ser desenrolada na
Algodão laminado mesma direção que o acolchoamento, e cada virada deve
sobrepor à precedente em 50%. O gesso deve ser sem-
pre desenrolado transversalmente, com o rolo em contato
com a superfície do membro quase que de forma contínua.
O rolo deve ser ligeiramente guiado em torno do membro,
Tala gessada
e ser aplicada pressão com a eminência tenar para moldar o
gesso. Cada virada deve ser alisada com a eminência tenar
da mão direita, enquanto a esquerda guia o rolo em torno
do membro. Conforme o membro afunila, o material ges-
Malha tubular sado recebe pequenas dobras feitas uniformemente com os
dedos indicador e polegar da mão direita antes de cada vol-
ta, sendo alisado naquela posição (Fig. 1.19C). As palmas
e as eminências tenares das mãos alisam a atadura de gesso
Tala gessada conforme ele é aplicado. Lembre-se que a durabilidade e a
resistência do gessado dependem da junção de cada cama-
Figura 1.18 Tala posterior de tornozelo. Esta tala é construída da individual pelos movimentos de alisamento de ambas as
com a aplicação da malha tubular, seguida por acolchoamento mãos (Fig. 1.19D). Finalmente, a malha tubular é dobrada
(p. ex., algodão laminado). Finalmente, uma tala gessada poste- de volta e o último rolo de gesso é aplicado (Fig. 1.19E).
rior é aplicada. Para estabilidade adicional, uma tala em forma
Alguns erros comuns na aplicação do gessado in-
de “U”, como um estribo, é usada. Uma atadura elástica (não
demonstrada) para fixar a tala ao membro é o passo final.
cluem os seguintes:
1. Fazer o centro do gessado muito grosso. É preciso
dura elástica não fique aderida. Isto ajuda na remoção da concentrar-se para fazer as duas extremidades do ges-
tala. Por fim, uma atadura elástica é aplicada para fixar a sado de espessura adequada, pois é fácil tornar o cen-
tala ao membro. É importante enrolar a atadura elástica de tro muito grosso. Isso não fornece nenhum suporte
maneira firme, mas não muito apertada, para evitar causar adicional no local da fratura (Fig. 1.20).
isquemia do membro ou síndrome compartimental. 2. O uso de muitas ataduras gessadas estreitas, em vez
Os materiais comercialmente disponíveis de fibra de de menos rolos e mais largos, criando um aspecto gra-
vidro para imobilização, incorporando o acolchoamento e nuloso no gessado. As ataduras com as larguras de 10,
a fibra de vidro em um pedaço são facilmente encontra- 12, e 15 cm são as mais usadas para os gessados.
dos. Estas talas são rápidas, limpas e fáceis de usar para 3. Aplicação do gesso muito solto, especialmente sobre
imobilizar as articulações após lesões de tecidos moles e da porção carnosa proximal do membro. Um melhor
na maioria das fraturas estáveis. A fibra de vidro é ativa- ajuste é necessário nesse local, mais do que nas partes
da com uma pequena quantidade de água e seca depressa. ósseas distais.
Deve-se tomar cuidado para esticar o acolchoamento sobre A aplicação do salto para marcha deve ser feita sob
a extremidade de corte do material da tala, de forma que o centro do pé (Fig. 1.21). O calcanhar deve ser centrado
seja evitado o contato com a pele. A fibra de vidro seca é a meio caminho entre a ponta posterior do calcâneo e a
afiada e causa irritação da pele e dor. Para as fraturas instá- extremidade distal da “bola” do pé. Se precisar reforçar o
veis que requerem redução, recomendamos a imobilização gessado, como em um paciente obeso com uma bota para
com gesso, pois ela se molda melhor ao membro. marcha, isso deve ser feito adicionando uma tala na frente,
não adicionando talas posteriores em excesso, já que isso
Gessados apenas adiciona peso ao gessado e não o torna mais forte.
Os gessados são aplicados de forma similar às talas. Pri- Ao aplicar um gessado na extremidade superior, a
meiro, a malha tubular é colocada na extremidade, de forma mão deve ser deixada livre, parando o gessado nas cabe-
que um excedente fique disponível em cada lado onde o ças metacarpais dorsalmente e na prega flexora proximal
gessado será colocado. A seguir, o acolchoamento do ges- da palma no lado volar, para permitir o movimento normal
sado é aplicado, de distal até a extremidade proximal do dos dedos (Fig. 1.22).

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Emergências Ortopédicas 15

A B C

D E

Figura 1.19 Aplicação de um gessado. A. A malha tubular é usada para cobrir as extremidades proximais e distais da área a ser imobili-
zada. B. Um material de acolchoamento macio é usado sob o rolo de gesso. C. O gesso é aplicado com o rolo mantido contra o membro
pela mão esquerda. A mão direita é usada para alisar o gesso e para puxar e dobrar os cantos superiores, que são produzidos pela mudan-
ça na circunferência do membro. D. O rolo de gesso, uma vez aplicado, é alisado com a eminência tenar e as palmas de ambas as mãos
são usadas para selar os interstícios e dar suporte adicional. E. O passo final é dobrar de volta a malha e aplicar o último rolo de gesso.

A. Correto B. Incorreto

Figura 1.20 A maneira correta de aplicar o gesso é usar sem-


pre a mesma espessura. A. Para suporte adicional, pode-se co-
locar uma espessura extra nas extremidades proximais e distais.
B. Um engano comum é o médico pensar que há maior resis-
tência adicionando espessura no local da fratura. Figura 1.21 Bota para marcha.

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do é cortado em ambos os lados e enrolado com ataduras


15-20o de extensão para segurá-los juntos. Este processo é chamado de “bi-
valvar” o gessado.
O material para gessado de fibra de vidro também é usa-
do por ser leve, forte e radioluzente.4 Os gessados de fibra
de vidro podem ficar molhados sem amolecer ou sofrer da-
nos. Os gessados de fibra de vidro têm aplicações limitadas
em fraturas recentes, porque a fibra de vidro não pode ser
moldada ao membro como o gesso. Outra desvantagem é
a resina de poliuretano dentro da fibra de vidro que adere à
pele desprotegida. Por conseguinte, os gessados de fibra de
vidro são mais adequados como um gessado subsequente.

Figura 1.22 Uma luva gessada com o punho em 15 a 20º de Verificando os gessados
extensão e os dedos livres na articulação metacarpofalângica. Qualquer paciente com um gessado circunferencial deve
receber instruções escritas descrevendo os sintomas da
síndrome compartimental com um gessado apertado. Au-
Uma janela pode ser aberta em um gessado quando
mento da dor, edema, frieza ou alteração na cor da pele
uma fratura é acompanhada de uma laceração ou qualquer
das porções distais da extremidade são os sinais de que
lesão de pele que precise de cuidados durante o tratamen- um gessado está muito apertado e o paciente deve ser
to da fratura. As janelas são feitas cobrindo-se a ferida com instruído para retornar imediatamente. Como regra, re-
um pedaço volumoso de gaze estéril sendo, então, aplicado comendamos que qualquer gessado circunferencial seja
o gessado sobre o curativo da maneira normal. Depois de verificado no dia seguinte, buscando sinais de comprome-
completar o gessado, uma janela é cortada acima da “pro- timento do aparelho circulatório. O paciente deve receber
tuberância” criada pelo curativo de gaze (Fig. 1.23). O de- instruções para elevar o membro para evitar problemas.
feito deve sempre ser coberto com um curativo volumoso e Se o paciente reclamar de desconforto em qualquer
firmemente seguro com uma atadura para evitar a herniação momento após a aplicação do gessado, é melhor removê-lo
de tecidos moles e subsequente edema e ulceração de pele. para verificar se há síndrome compartimental, escaras de
Os gessados não são usados com tanta frequência no pressão ou lesão do nervo periférico. Como alternativa, o
setor de emergência como as talas. A colocação de um gessado pode ser cortado dividido em ambos os lados (i.e.,
gessado circunferencial no contexto agudo pode ser pro- bivalvado) para diminuir a pressão. Se as queixas do pa-
blemática se o edema adicional produzir uma síndrome ciente persistirem, o gessado deve ser removido.
compartimental. Se um gesso for colocado no setor de A Figura 1.24 demonstra a técnica apropriada para re-
emergência e o edema adicional for antecipado, o gessa- mover ou dividir um gessado. A serra oscilante usada para
dividir o gessado é geralmente segura, mas pode cortar a pele
se não for usada com o devido cuidado. Deve-se lembrar de
não dividir apenas o gesso, mas também o acolchoamento
interno, para reduzir significativamente a pressão. Isto foi
bem demonstrado em um estudo no qual nenhuma redução
significativa na pressão ocorria quando apenas o gesso era
aberto. A divisão do gesso e do acolchoamento resultou em
redução significativa na pressão dos tecidos moles.5

Redução de fratura fechadas


A redução de fraturas é executada de forma aberta (i.e.,
com cirurgia) ou fechada. A redução fechada é executada
no setor de emergência ou na sala de cirurgia, dependen-
A B C do das circunstâncias. A redução fechada bem-sucedida
é mais provável de ser feita tão perto quanto possível do
Figura 1.23 Quando uma ferida aberta exigir cuidados e es-
momento da lesão. O retardo da redução por vários dias
tiver associada a uma fratura na extremidade que deve ser ges-
sada, a técnica seguinte permite saber onde cortar uma janela
torna a redução mais difícil.
no gessado para cuidados e observação da ferida. A. A ferida é A redução fechada deve ocorrer em uma base emer-
coberta com curativos estéreis, que são acumulados como uma gencial quando a perfusão à extremidade estiver ausente,
bola sobre a ferida. B. O gessado é então aplicado da forma especialmente no contexto de disponibilidade limitada de
rotineira sobre a ferida com o curativo. C. Uma janela é cortada consultoria ortopédica. O profissional deve notar a pre-
sobre a “protuberância” produzida no gessado. sença de um hematoma em expansão, pulsos distais au-

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Emergências Ortopédicas 17

A B

Figura 1.24 A remoção de gesso usando A. serra oscilante e B. afastador e tesoura de segurança.

sentes ou enchimento capilar retardado, sendo que a lesão requerem redução imediata somente quando a extre-
vascular pode ocorrer depois de qualquer fratura desloca- midade estiver sem pulso e perfusão ausente.
da ou luxação. Uma extremidade não perfundida tem um
A preparação de um paciente para a redução da fratu-
período limitado de tempo antes que ocorra morte nervosa
ra depende do tipo de lesão e do contexto clínico. Expli-
e muscular. Por esta razão, a redução deve ocorrer assim
que o procedimento para o paciente e obtenha o consen-
que possível. Quanto mais cedo a perfusão for recuperada,
timento. Ao executar a redução, o paciente deve estar em
melhor é a chance de evitar necrose tecidual.
decúbito dorsal sempre que possível. A extremidade en-
A redução no setor de emergência é contraindicada
volvida deve estar completamente exposta e qualquer pe-
em vários casos:
daço de roupa ou acessórios, tanto proximal como distal à
1. A extremidade está perfundida e o paciente necessi- lesão, ser removido. Se a fluoroscopia for usada, deve ser
tará de tratamento operatório imediato. Uma fratura movida para a posição. Com frequência, o material para
exposta em uma extremidade perfundida, por exem- tala é montado antes de iniciar o procedimento, de forma
plo, deve ser reduzida na sala de cirurgia, onde pode que pode ser imediatamente aplicado à extremidade após
ocorrer uma lavagem cirúrgica adequada. a redução. Isso é especialmente útil no contexto de uma
2. Antecipa-se que a remodelação ou a fratura conso- fratura instável.
lidará de forma adequada sem redução. A remode- Os princípios básicos para reduzir as fraturas são si-
lação, especialmente em crianças, pode corrigir de- milares, e podem ser divididos em quatro passos:
formidades de modo gradual com a consolidação e 1. Distração
torna desnecessária a redução dolorosa ou o risco de
2. Desencaixe
sedação. No esqueleto do adulto, as fraturas da diáfise
umeral e as fraturas do colo do quinto metacarpal são 3. Reaposição
exemplos de ossos em que algum grau de angulação 4. Liberação
residual não causará impacto na função, tornando a A distração envolve a criação de uma força longitu-
redução desnecessária. dinal para tracionar e separar os fragmentos ósseos. Esse
3. A sedação para o procedimento é inadequada ou mui- passo é feito gradualmente e pode exigir tempo para ser
to arriscada. Se a analgesia adequada não puder ser efetivo, superando o espasmo muscular. A distração tam-
fornecida devido à condição médica do paciente ou bém é importante quando as extremidades fraturadas do
pela incapacidade em monitorar de forma apropriada osso estiverem sobrepostas. A distração pode ser aplicada
o paciente, a redução no setor de emergência não deve manualmente, com a ajuda de um assistente, ou usando
ser executada. pesos.
4. A lesão vascular pode piorar com a redução fechada. O desencaixe das extremidades ósseas da fratura per-
Quando haver suspeita de lesão vascular em um pa- mite a desimpactação adicional do osso, mais além da dis-
ciente com luxação da articulação esternoclavicular tração. É possível alcançar o desencaixe por rotação do
posterior, por exemplo, a redução é mais adequada- fragmento distal ou “recriando a deformidade da fratura”.
mente executada na sala de cirurgia com um cirur- Alivia a tensão nos tecidos moles para permitir que os
gião cardiotorácico disponível, pois a clavícula distal fragmentos da fratura se reposicionem.
pode estar tamponando um vaso subclávio lacerado. A reaposição é alcançada revertendo as forças que
Em uma forma similar, as fraturas supracondilianas causaram a lesão, proporcionando o alinhamento aos

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18 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Ponte irredutível e nenhuma quantidade de distração ou técni-


periosteal ca alternativa resolverá a situação. Além disso, as fraturas
com mais de uma semana de evolução são mais difíceis
de reduzir.
Quando executada da forma correta, as complicações
Distração na redução das fraturas são incomuns. Entretanto, mes-
mo quando as técnicas forem corretamente executadas,
é possível ocorrer complicações. Essas complicações in-
cluem: conversão de uma fratura fechada em uma exposta,
trauma de tecidos moles durante a redução, produzindo
síndrome compartimental, tentativa de redução que cause
lesão nos tecidos moles, tornando a fratura mais instável,
ou lesão neurovascular devido à laceração ou compressão
óssea.
Desencaixe
Tratamento definitivo
A seleção do tratamento definitivo de uma fratura é uma
decisão combinada entre o médico da emergência e o
do encaminhamento. Algumas fraturas podem ser trata-
das de maneira segura apenas com imobilização, apesar
de alguma angulação (p. ex., diáfise umeral, fratura do
Reaposição e liberação
colo do quinto metacarpal). Outras requerem redução fe-
chada quando deslocadas ou anguladas (p. ex., fratura de
Colles). E outras, ainda, exigem consultoria para interven-
Figura 1.25 Redução de fraturas. A. Uma ponte periosteal ção operatória (p. ex., fratura exposta, fratura do fêmur).
intacta está habitualmente presente em um dos lados e atua O manejo individual das fraturas é discutido mais
como suporte para estabilizar internamente a fratura depois da adiante no texto. O médico da emergência deve estar cien-
redução. B. Após, uma tração é aplicada e a fratura é alinhada te das indicações para intervenção operatória ao tratar as
usando a ponte periosteal intacta. C. As extremidades são, en-
fraturas. Algumas indicações gerais para o manejo cirúr-
tão, apostas novamente e a fratura é reduzida.
gico incluem as seguintes:
• Fraturas intra-articulares deslocadas.
fragmentos ósseos. Uma fratura deslocada habitualmente
• Lesão arterial associada.
deixa o periósteo intacto em um dos lados. Sem essa ponte
• Quando a experiência mostra que o tratamento cirúr-
periosteal intacta, a redução seria difícil de manter (Fig.
gico fornece melhor resultado.
1.25). Uma ponte periosteal intacta ajuda na redução e na
manutenção da redução. Embora esse passo pareça con- • Quando os métodos fechados falharem em alcançar
ceitualmente simples, pode não ser tão fácil na prática ou em manter o alinhamento aceitável.
clínica. Uma armadilha importante a evitar é ignorar uma • Quando a fratura for decorrente de uma lesão metas-
deformidade rotacional que poderia criar problemas fun- tática.
cionais se o osso consolidar dessa forma. • Quando a mobilização precoce for desejável.
A liberação refere-se à remoção da força inicial de
distração, com o intento de que o alinhamento será manti-
do. É neste momento que as forças como a contração mus-
cular e a gravidade retornam e os fragmentos da fratura
têm um risco de ficarem mal-alinhados novamente. Uma
tala ou gessado corretamente aplicados podem evitar a per-
da do alinhamento da fratura. O paciente deve ser subme-
tido a uma nova radiografia simples ou fluoroscopia, na
maioria dos casos, para documentar o sucesso da redução.
Após a redução, a condição neurovascular da extre-
midade deve ser reavaliada para assegurar que: os pulsos
estejam presentes; a extremidade tenha perfusão e a fun-
ção nervosa não tenha sido comprometida.
O profissional atento também deve estar ciente das Figura 1.26 A tração cutânea pode ser temporariamente utili-
limitações da técnica da redução fechada. Se um tecido zada para distrair uma fratura deslocada do fêmur até que possa
mole estiver interposto, por exemplo, a fratura pode ser ser realizado o tratamento definitivo no dia seguinte.

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Emergências Ortopédicas 19

A B

C D

Figura 1.27 Tração esquelética. A. Representação esquemática de um fio de tração através do fêmur distal. B. Radiografia de um
paciente com um fio de tração na tíbia proximal e fratura do fêmur distal. C. Fotografia clínica da perna do paciente. D. O aparato
inteiro com bolsas d’água usadas como pesos.

Tração esquelética uma proeminência óssea distal ao local da fratura, e os


A tração pode ser aplicada à pele (tração cutânea) ou no pesos são usados para tracionar os fragmentos da fratura
osso (tração esquelética) para alinhar as fraturas. A tra- em um melhor alinhamento. Tal método é especialmente
ção cutânea foi popularizada por Buck na Guerra Civil útil para as fraturas cominutivas que não podem ser man-
Americana (Fig. 1.26). Ela tem sido usada como um meio tidas pela fixação com gesso. A tração esquelética é usada
temporário para estabilizar as fraturas do quadril, embora como o método de tratamento exclusivo quando a cirurgia
raramente seja usada hoje. O uso de fita adesiva e pesos for contraindicada, porém é mais comumente usada hoje
acima de 3 a 4 kg devem ser evitados, já que podem cau- como medida temporária antes de um reparo cirúrgico
sar avulsão das camadas superficiais da pele. mais definitivo (p. ex., haste intramedular).
A tração esquelética, aplicada por um especialista A tração esquelética é usada com mais frequência em
em ortopedia, é a forma preferida de tração (Fig. 1.27). fraturas do fêmur e também em algumas fraturas da tíbia,
Um fio (p. ex., fio de Steinmann) é passado através de embora possa ser empregada na extremidade superior para

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alinhar as fraturas do úmero. Os locais comuns para a co- portante que o médico da emergência tenha alguma fa-
locação do fio na extremidade inferior incluem o fêmur miliaridade com esses dispositivos e reconheça as suas
distal, a tíbia proximal, a tíbia inferior e o calcâneo (Vídeo complicações potenciais. As complicações mais comuns
1.2). As complicações incluem infecções no trajeto do fio incluem a falha do implante (i.e., a quebra), a perda da
e a superdistração da fratura. fixação e as infecções.
A placa e os parafusos colocam as extremidades da
Dispositivos ortopédicos fratura em alinhamento aceitável para permitir a consoli-
Uma variedade de dispositivos é usada cirurgicamente dação. Se a fratura não consolidar de forma espontânea, a
para estabilizar uma fratura instável (Fig. 1.28). É im- placa eventualmente quebra ou os parafusos se afrouxam.

D
A B

E
E

C D

Figura 1.28 Dispositivos ortopédicos para estabilização de fraturas. A. Placa e parafusos. B. Parafusos. C. Haste intramedular rígi-
da. D. Hastes intramedulares flexíveis (continua).

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Emergências Ortopédicas 21

D
MV
G H

Figura 1.28 (Continuação) E. Fios percutâneos F. Fios com banda de tensão. G. Fixador externo. H. Prótese total de quadril.

A consolidação ocorre sem a formação de calo que é vista a haste seja colocada, os parafusos de bloqueio são adi-
com o gessado. Os parafusos podem também ser usados, cionados para fornecer estabilidade rotacional. As hastes
independentemente de uma placa. Os exemplos incluem intramedulares flexíveis são mais comuns na população
a estabilização de um escorregamento da epífise capital pediátrica, podendo ser inseridas através da porção me-
femoral, ou de uma fratura deslocada do escafoide. A tafisária do osso e evitando uma lesão na placa de cresci-
complicação mais comum deste tipo de fixação interna é mento. As hastes são mecanicamente mais fortes que uma
a infecção da ferida. placa ou os parafusos, mas podem quebrar se a fratura não
As hastes intramedulares são rígidas ou flexíveis. consolidar. A infecção é menos comum do que com placa
As hastes intramedulares rígidas são usadas para tratar e parafusos. As hastes intramedulares flexíveis e as rígi-
as fraturas em ossos longos. A formação do calo no local das não bloqueadas podem migrar para fora do osso e nos
de fratura é mais acentuada, pois a fratura não é mantida tecidos moles.
em alinhamento tão rígido como ocorre com uma placa e Os fios percutâneos são usados para as fraturas dos
parafusos. A consolidação de fratura é habitualmente ex- ossos pequenos da mão e do pé. Como diz o nome, o fio
celente, porque o periósteo e o hematoma da fratura não é diretamente inserido através da pele e pode então ser
são perturbados quando a haste é colocada. Uma vez que cortado, de forma que somente uma porção pequena do

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22 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

fio fique exposta. Esses fios de aço inoxidável também texto rural, por exemplo, sugere um prognóstico pior, com
são chamados de fios de Kirschner ou fios K, depois que taxas mais altas de contaminação, do que uma queda de
Martin Kirschner os introduziu em 1909. As complica- baixa energia na calçada urbana. O profissional deve exe-
ções desses dispositivos incluem infecções no trajeto do cutar um exame neurovascular e reduzir a fratura imedia-
fio, migração ou quebra. tamente apenas quando for associada à perfusão ausente
Os fios com banda de tensão são utilizados para reali- na extremidade distal.
nhar as fraturas que sofrem forças de distração devido aos O exame do tecido dentro e em torno da ferida
músculos. Os exemplos incluem as fraturas do olécrano, deve ser executado, notando quaisquer contaminantes.
do tubérculo maior do úmero proximal e da patela. Nes- Não deve haver nenhuma tentativa de explorar digital-
sa técnica, os fragmentos de fratura são alinhados por fios mente a ferida no setor de emergência, já que pouca infor-
percutâneos que também agem como uma âncora para uma mação será fornecida, resultando em aumento do risco de
laçada de fio flexível que segura os fragmentos juntos. As infecção. Se houver dúvida sobre uma ferida pequena que
complicações desses dispositivos incluem a quebra, a bur- está acima de uma fratura, é possível verificar com segu-
site do olécrano e a perfuração da pele pelo fio. rança a ferida com um instrumento estéril não penetrante
A fixação externa tem uma armação que é suportada por para ver se o osso é tocado.
fios colocados através dos fragmentos proximais e distais da As radiografias ajudam no diagnóstico se ar for visto
fratura. Estes dispositivos são usados preferencialmente no dentro dos tecidos moles em pacientes que sofreram uma
contexto de fraturas expostas, já que permitem a monitora- lesão recente. Se ainda não estiver claro que a fratura é ex-
ção dos tecidos moles e a redução da infecção. Eles também posta, o manejo prudente é tratar considerando-a exposta
são usados para estabilizar temporariamente as fraturas da e debridar a ferida na sala de cirurgia.
pelve e, algumas vezes, para o tratamento das fraturas distais Gustilo e Anderson classificaram as fraturas expostas
do rádio. As infecções no trajeto do fio e o afrouxamento do pela gravidade do dano de tecidos moles e o grau associa-
dispositivo são as complicações mais comuns. do de contaminação da ferida. Esse sistema de classifica-
As próteses articulares estão disponíveis para quase ção é amplamente usado e permite ao médico da emergên-
cada articulação do corpo. Elas são consideradas como cia comunicar-se de maneira eficaz com um especialista
uma artroplastia total (completa) se ambos os lados da ar- em ortopedia.
ticulação forem substituídos, e uma hemiartroplastia (par-
• O Grau I descreve uma ferida aberta devido a uma
cial) se somente um lado da articulação for substituído.
lesão de baixa energia. A ferida tem < 1 cm de com-
No quadril, a artroplastia total é mais usada para artrite,
primento e não mostra qualquer evidência de conta-
enquanto apenas a hemiartroplastia pode ser necessária 6
minação. As fraturas nas feridas de grau I são ha-
para uma fratura deslocada do colo do fêmur. O tipo mais
bitualmente simples, transversas ou oblíquas curtas,
comum de prótese total de quadril usa uma prótese femo-
com cominução mínima. Essas feridas costumam ser
ral de metal que se articula com uma copa acetabular de
causadas por um fragmento de fratura que perfura a
plástico. A copa de plástico é fixada ao acetábulo por um
pele pelo lado de dentro.
apoio de metal. A denominação “restrita” é usada quando
• As feridas de Grau II envolvem uma quantidade mo-
as duas porções da articulação protética são bloqueadas
derada de lesão nos tecidos moles. Alguma cominu-
juntas, em vez de serem estabilizadas pelos ligamentos e
ção da fratura e um grau moderado de contaminação
tendões intrínsecos do paciente. Os dispositivos restritos 7
podem estar presentes. As fraturas expostas de grau
têm mais probabilidade de afrouxar. Outra complicação é
II são caracterizadas por uma ferida que tem > 1 cm.
a luxação, que pode ocorrer com as articulações protéti-
Nenhum tecido mole foi desnudado do osso.
cas restritas e não restritas. A redução de um dispositivo
restrito deslocado é raramente bem-sucedida no setor de • O Grau IIIA é uma ferida grande (habitualmente > 10
emergência, e a tentativa pode causar danos ao dispositi- cm). O grau de contaminação é alto e a quantidade de
vo. A outra complicação catastrófica de uma articulação lesão de tecidos moles é grave; contudo, existe cober-
protética é a infecção. A avaliação é aconselhada em todos tura adequada de tecidos moles no osso. A cominução
os casos de suspeita de infecção na articulação protética. da fratura associada costuma estar presente.
• O Grau IIIB é uma ferida grande (> 10 cm), com
desnudamento periosteal e exposição óssea. Nessa
Fraturas expostas subclasse, o grau de lesão de tecidos moles é tal que
Uma fratura exposta ocorre quando uma ruptura na pele e uma cirurgia de reconstrução é muitas vezes neces-
nos tecidos moles comunica-se diretamente com uma fra- sária para cobrir a ferida. A contaminação maciça e
tura e seu hematoma. Embora o diagnóstico seja direto na uma fratura gravemente cominutiva são notadas nessa
7
maioria dos casos, pode ser difícil quando houver alguma subclasse.
distância entre os fragmentos da fratura e a ferida aberta. • O Grau IIIC é similar à lesão IIIB, mas está associado
A história deve ser obtida em relação ao mecanismo e ao achado adicional de lesão arterial significativa, que
8
à localização da lesão. Uma lesão de alta energia no con- exige reparo para salvação da extremidade.

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Emergências Ortopédicas 23

O tratamento no contexto pré-hospitalar consiste em são ainda as mais comumente vistas; entretanto, as feridas
cobrir a ferida com um curativo estéril e imobilizar a ex- por armas de velocidade mais alta (p. ex., M-16, AK-47)
tremidade. No setor de emergência, corpos estranhos ou estão se tornando mais comuns. Os dados demonstram
fragmentos óbvios devem ser removidos de forma estéril, que as armas de alta velocidade respondem por 16% dos
manualmente ou com uma pinça. A profilaxia do tétano homicídios na cidade de Nova York.13
é administrada quando indicado. Da ferida pode ser co- As espingardas são armas de baixa velocidade dife-
letado um esfregaço para cultura, a pedido do cirurgião rentes das pistolas, pois impulsionam centenas de pelo-
ortopedista; entretanto, existe evidência de que as culturas tas de chumbo (Fig. 1.29). Por ter uma alta eficácia de
pré-debridamento teriam pouco valor.9 transferência de energia à queima-roupa, a espingarda
Os antibióticos de amplo espectro contra organismos causa dano de tecidos moles e lesão óssea significativos.
gram-positivos e gram-negativos são recomendados para As explosões de espingarda à queima-roupa podem ser
o uso em fraturas expostas. Os antibióticos devem ser ini- determinadas pela medida do diâmetro do espalhamento
ciados tão logo quanto possível depois da lesão. Foi de- do chumbo no paciente. Uma ferida com um diâmetro de
13
monstrado que um retardo de mais de 3 horas aumenta < 7 cm sugere uma lesão de espingarda à queima-roupa.
a taxa de infecção.10,11 O organismo produtor de infecção Ao avaliar um paciente com ferimento por arma de
mais comum é o Staphylococcus aureus. A ferida da fratu- fogo nas extremidades, o profissional deve primeiro abor-
ra exposta mais suscetível à infecção secundária é aquela dar os ABCs dos cuidados de trauma com avaliação primá-
decorrente de um disparo de arma de fogo à queima-roupa. ria completa. Em relação à extremidade atingida, a priori-
Todos os pacientes com fraturas expostas devem ser dade inicial é a condição neurovascular dessa extremidade.
submetidos a um debridamento na sala de cirurgia. Se o Em pacientes com sinais de lesão vascular, a angiografia e/
6,8
paciente for levado à sala de cirurgia para irrigação e de- ou a exploração intraoperatórias são necessárias.
bridamento formal dentro de 1 a 2 horas da lesão, o curati- A maioria das feridas por arma de fogo de baixa ve-
vo estéril e a tala devem ser reaplicados depois de os frag- locidade e sem evidência de lesão vascular pode ser trata-
mentos óbvios serem removidos. Se houver retardo em da seguramente com cuidados locais na ferida, profilaxia
levar o paciente para a sala de cirurgia além de 2 horas, do tétano e manejo ambulatorial. O uso de antibióticos é
a ferida deve ser irrigada com 1 a 2 litros de soro fisio- controverso, mas a maioria dos autores recomenda a pro-
lógico antes de o curativo estéril ser reaplicado. Observe filaxia de rotina com três dias de antibióticos orais (ci-
14-16
que manter úmida uma ferida aberta aumenta a umidade profloxacino, cefalexina ou dicloxacilina). As fratu-
da superfície, um fator importante na cicatrização. Além ras associadas são tratadas de acordo com os protocolos
disso, os curativos oclusivos facilitam a cicatrização local aceitos para fraturas similares em pacientes com outros
por elevar a temperatura da ferida.12 tipos de trauma. As lesões são tratadas como se fossem
fraturas “fechadas”. A irrigação é seguida pela aplicação
de um curativo estéril. A ferida é deixada aberta e a fra-
Feridas por arma de fogo
tura é imobilizada apropriadamente. Os pacientes que se
As feridas por arma de fogo são comuns na nossa socieda- apresentam > 8 horas depois da lesão podem se beneficiar
de, com até 500.000 casos ocorrendo a cada ano somente do debridamento cirúrgico, pois o cuidado local da ferida
13
nos Estados Unidos. Muitos pacientes com essas lesões se é menos eficaz.
apresentam no setor de emergência com fraturas associa- As lesões de alta velocidade, as lesões à queima-roupa
das. As feridas por arma de fogo são divididas em dois ti- e as feridas grosseiramente contaminadas requerem irriga-
pos – de baixa velocidade e de alta velocidade. As feridas ção e debridamento cirúrgico. Essas feridas são tratadas
infligidas por armas de baixa velocidade (p. ex., pistolas) como fraturas expostas. Os antibióticos intravenosos estão

Figura 1.29 Múltiplos chumbinhos de espingarda


no pé.

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24 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 1.30 Lesão por pistola de pregos. A. Este trabalhador da construção acidentalmente descarregou a sua pistola através da sua bota
de segurança e em seu pé. B. As radiografias revelaram que o prego estava dentro do calcâneo. Observar a rebarba presente no prego.

indicados e devem ser iniciadas antes da cirurgia (cefazo- Fraturas de estresse


lina 1 g IV 8/8 h por 48-72 horas ± um aminoglicosídeo).
Uma fratura de estresse (fadiga) é uma lesão comum vis-
As feridas por arma de fogo que penetram uma arti-
ta por profissionais de cuidados de saúde, particularmente
culação em geral requerem artrotomia ou artroscopia para
aqueles que tratam atletas. Sob condições normais de ten-
o debridamento adequado. A presença de fragmentos de
chumbo retidos dentro da articulação é indicação absoluta são, o osso sofre hipertrofia. Uma fratura de estresse resulta
para a intervenção operatória. Essas feridas estão associa- quando o carregamento repetitivo do osso sobrepõe-se à ha-
das a uma alta probabilidade de lesão nos tecidos moles bilidade reparadora do sistema esquelético. As pessoas em
da articulação. As lesões de baixa velocidade que pene- condição física ruim que começam um programa vigoroso
tram na articulação do joelho têm incidência de 42% de de aprimoramento físico têm um risco maior de desenvolver
17
lesão meniscal e de 15% de lesão condral. Esses pacien- esse tipo de fratura. Em contrapartida, um atleta condiciona-
tes devem receber pelo menos 24 a 48 horas de antibióti- do pode desenvolver uma fratura de estresse depois de um
cos intravenosos. aumento recente no nível de atividade. O diagnóstico requer
19
Outro tipo de lesão ocorre depois da descarga aciden- um exame clínico completo, com um alto grau de suspeita.
tal de uma pistola de pregos (Fig. 1.30). A maioria das Vários fatores predispõem uma pessoa às fraturas de
lesões ocorre na mão. As pistolas de pregos de alta ve- estresse. O tipo de superfície (i.e., uma superfície dura)
locidade são capazes de disparar projéteis em até 10 cm pode causar uma fratura de estresse, como uma alteração
em concreto protendido e, quando descarregado de forma na intensidade, na velocidade ou na distância em que um
acidental, têm causado lesões fatais. Se estruturas vascu- paciente esteja fazendo exercícios. Os calçados impró-
lares importantes não estiverem próximas, e o prego não prios podem resultar em fraturas de estresse. Outros fa-
penetrou em um espaço articular, é seguro removê-lo no tores incluem problemas mecânicos, como discrepância
setor de emergência. no comprimento das pernas, aumento do valgo no joelho,
Antes da remoção, entretanto, uma radiografia deve distúrbios do pé ou largura óssea da tíbia reduzida.
ser obtida. Os pregos são mantidos juntos dentro da pisto- Os locais nos quais mais ocorrem as fraturas de es-
20
la por fios de cobre. Isso é importante, pois o cobre pode tresse estão listados na Figura 1.31. Essas fraturas po-
permanecer na haste e criar uma rebarba tornando difícil a dem ocorrer nas extremidades superiores, mas são muito
remoção retrógrada. Se isso for observado e o prego tiver mais raras. As fraturas de estresse ocorrem mais em mu-
perfurado a extremidade, a cabeça do prego deve ser cor- lheres. Outras condições que devem ser consideradas no
18
tada e ele puxado pelo restante da passagem. diagnóstico diferencial das fraturas de estresse incluem
Após a remoção, a ferida é abundantemente irrigada periostite, infecção, distensão muscular, bursite, síndrome
21
e debridada, e a profilaxia do tétano é feita conforme ne- compartimental pelo exercício e compressão nervosa.
cessário. A maioria dos autores recomenda uma dose de O paciente se apresenta com queixa de dor e des-
antibióticos intravenosos, seguido por uso não prolongado conforto, descrevendo um dolorimento inicial depois dos
18
de antibióticos orais. exercícios, que progride para dor localizada no local da

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Emergências Ortopédicas 25

Pelve 1,6%

Fêmur 7,2%
Figura 1.32 Lesão lítica do úmero com fratura patológica.
(Contribuição de J. Wanggaard, NP.)
Tíbia 49%

Fíbula 6,6% para uma fratura completa, que pode ser complicada por
não união ou necrose avascular. A fratura de estresse de
Tarsais 25%
alto risco mais comum é do colo do fêmur. Esses pacien-
Metatarsais 8,8% tes devem ser tratados como se tivessem uma fratura agu-
da e não devem apoiar o peso.21 A intervenção cirúrgica
Sesamoides 0,9%
é frequentemente necessária. Outras fraturas de estresse
de alto risco incluem a cortical anterior da tíbia, o tálus, o
Figura 1.31 A distribuição e a frequência das fraturas de estresse. maléolo medial, o navicular tarsal e o quinto metatarsal.
Se a fratura de estresse não for de alto risco, o trata-
mento conservador envolve diminuição na atividade até o
fratura. Em geral, a dor começa quatro semanas depois do ponto em que a dor não esteja mais presente. Raramente é
aumento na atividade física. A dor progride em intensida- necessário eliminar as atividades da vida diária, mas se a
de durante a atividade, até que o exercício seja desconti- dor persistir, o paciente é mantido sem carga. Alguns au-
nuado. O momento do diagnóstico é variável, e pode ser tores recomendam o treinamento cruzado imediato, como
de várias semanas a vários meses em alguns casos.20,22 ciclismo, patinação ou hidroginástica.24 É necessário ces-
O exame físico varia conforme a localização da fra- sar a atividade precipitante por um mínimo de quatro se-
tura de estresse. Uma fratura de estresse do fêmur proxi- manas. Depois desse período, o paciente pode retomar aos
mal revela achados clínicos mínimos. A dor está habitual- poucos as atividades anteriores. Os medicamentos anti-in-
mente presente na região anterior da virilha. O movimento flamatórios não esteroides (AINEs) são evitados devido
do quadril, em especial os extremos da rotação interna e aos seus efeitos negativos sobre a consolidação óssea.25
externa, exacerba a dor.21 Além disso, a dor é produzida
quando é solicitado ao paciente para apoiar-se e pular na
Fraturas patológicas
extremidade afetada (teste do pulo).22
As radiografias simples iniciais revelam fratura em As fraturas patológicas ocorrem em ossos que estejam anor-
somente 10% dos casos.20,23 A cintilografia óssea é mais malmente enfraquecidos por uma condição preexistente.26
sensível para detectar novas fraturas de estresse. Deve ser A osteoporose é a causa mais comum de fratura patológica,
notado, contudo, que a cintilografia óssea positiva é um seguida pelas lesões metastáticas (Fig. 1.32). A Tabela 1.3
achado não específico, e pode ocorrer em outras condi- lista outras causas de fraturas patológicas. Os locais mais
ções. Outras opções para confirmar o diagnóstico quando comuns para metástases ósseas são a coluna vertebral, as
as radiografias simples iniciais forem negativas incluem a costelas, a pelve, o fêmur e o úmero. As fraturas patológicas
sua repetição, RMN ou TC. metastáticas raramente ocorrem distalmente ao joelho e ao
O tratamento das fraturas de estresse é conservador, cotovelo. Os encondromas são tumores benignos que comu-
a menos que a localização seja considerada de alto risco mente ocorrem nos metacarpais e nas falanges.

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26 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

TABELA 1.3 Causas de fraturas patológicas anormal da articulação. A cicatrização subsequente ocorre
Condições sistêmicas nas entorses de segundo grau, desde que a articulação seja
Osteoporose inicialmente imobilizada e protegida de estresses mecâni-
Doença de Paget cos adicionais por aproximadamente seis semanas.
Osteogênese imperfeita As entorses de terceiro grau são caracterizadas pela
Osteopetrose ruptura completa do ligamento e pelo movimento anormal
Osteomalacia da articulação. O edema significativo ocorre logo depois
Hiperparatireoidismo da lesão, e a incapacidade funcional é prontamente apa-
Deficiência de vitamina D (Raquitismo) rente. Os testes de estresse perpendicular ao plano normal
Lesões locais
de movimento articular distinguem as lesões de segundo
Lesões metastáticas
Mama, próstata, pulmão, rim, tireoide
das de terceiro grau.27 Em pacientes com entorses de ter-
Osteomielite ceiro grau, a instabilidade grosseira sem dor é frequente-
Doenças benignas primárias mente demonstrada. Em contraste, é causada dor intensa
Encondroma quando um ligamento parcialmente danificado é estirado,
Cistos ósseos unicamerais e o grau de abertura da articulação é limitado.
Condroblastoma Nas entorses de terceiro grau, a aposição direta das
Condromixofibroma duas extremidades divididas de um ligamento resultará
Tumores de células gigantes em desfecho melhor, com tecido cicatricial mínimo, do
Fibroma não ossificante que se as extremidades do ligamento não forem suturadas.
Doenças malignas primárias A aposição das extremidades do ligamento apressa a co-
Mieloma múltiplo
lagenização e restaura o tecido ligamentar normal. Os li-
Sarcoma de Ewing
Condrossarcoma
gamentos divididos e não imobilizados curam com uma
Fibrossarcoma lacuna. Os ligamentos suturados, testados sob tensão em
Histiocitoma fibroso maligno comparação àqueles não suturados, mostram-se mais for-
tes. Os ligamentos não suturados falham na cicatriz. Por
estas razões, os autores preconizam o reparo da maioria
Qualquer fratura que ocorra por um trauma trivial das rupturas de terceiro grau (completas) dos principais
deve ser considerada patológica. Os pacientes podem per- ligamentos de suporte ao redor de articulações de carga
ceber dor óssea generalizada ou até edema indolor sobre dentro da primeira semana após a lesão.
o local da fratura patológica. As lesões benignas são ha-
bitualmente assintomáticas antes da fratura. A dor óssea Bursite e tendinite
prévia à fratura sugere que a lesão seja, mais provavel- As bolsas são sacos achatados, revestidos com membra-
mente, maligna. na sinovial e preenchidos com uma camada fina de fluido
O limiar para obter radiografias simples deve ser mais sinovial. Eles funcionam limitando a fricção criada pelos
baixo em pacientes com quaisquer das condições listadas na movimentos dos tendões e dos músculos sobre as proemi-
Tabela 1.3. Na radiografia, deve-se procurar por osteopenia nências ósseas. Existem aproximadamente 160 bolsas ao
generalizada, reação periosteal, afilamento das corticais, e longo do corpo. As forças excessivas de fricção, o trau-
alterações no padrão trabecular em torno do local da fratu- ma ou as doenças sistêmicas, como artrite reumatoide
ra. Quanto mais grave for a lesão periosteal, mais provável ou gota, podem causar inflamação dentro de uma bolsa
haver associação com malignidade. Por fim, a fratura deve e resultar em bursite. A forma mais comum de bursite é
ser imobilizada e, dependendo da suspeita de malignidade, a subacromial (subdeltóidea). Outras formas comumente
o paciente deve ser hospitalizado para investigação diagnós- encontradas incluem a trocantérica, a do olécrano, a cal-
tica adicional. caneana, a anserina e a pré-patelar. O tratamento consiste
em evitar a atividade agravante, o repouso da extremidade
PRINCÍPIOS DE TECIDOS MOLES envolvida, AINEs e injeção local de esteroides.
A tendinite é um processo inflamatório circunscrito ao
Lesão ligamentar
tendão e envolve a inserção do tendão no osso. A tendinite
As lesões ligamentares são divididas em entorses de pri- pode resultar de uso excessivo crônico ou de um episódio
meiro, segundo e terceiro graus. Uma entorse de primeiro único de atividade vigorosa. A tendinite crônica resulta em
grau é uma ruptura de somente algumas fibras e é caracte- atrofia das fibras do tendão. Do ponto de vista clínico, a
rizada por edema mínimo, nenhuma incapacidade funcio- tendinite se apresenta com dor durante a amplitude de mo-
nal e movimento articular normal. vimento ativa e sensibilidade dolorosa puntiforme próxima
Uma entorse de segundo grau é a ruptura parcial do à sua inserção óssea. A contração forçada do músculo com
ligamento. As entorses de segundo grau se apresentam pressão sobre a inserção do tendão exacerba a dor. A ten-
com edema, sensibilidade dolorosa e incapacidade fun- dinite calcificada está associada com inflamação crônica e
cional; contudo, em geral não existe nenhum movimento deposição de cálcio dentro do tendão, podendo ser detecta-

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Emergências Ortopédicas 27

TABELA 1.4 Preparações de corticosteroides disponíveis para injeção


Potência Potência Variação da Meia-vida
Nome genérico Nome comercial (mg/mL) relativa dose (mg) biológica (h)
Acetato de hidrocortisona Solu-cortef 25 1 12,5-100 8-12
Triancinolona acetonida * 10 2,5 4-40 18-36
40 10
Triancinolona hexacetonida * 20 8 4-25 18-36
Acetato de dexametasona Decadron 4,8 20-30 0,8-4 36-54
Fosfato sódico de betametasona Celestone 6 20-30 1,5-6 36-54
Acetato de metilprednisolona Solu-medrol† 20, 40, 80 5, 10, 20 4-30 18-36
*N. do T.: não disponível no Brasil, em preparação injetável.
†N. do T.: disponível no Brasil como succinato sódico.
Utilizada com permissão de Reichman EF, Simon RR. Emergency Medicine Procedures. New York: McGraw-Hill, 2004.

da em radiografias simples. As formas comuns de tendinite dos tendões extensores das mãos ocorre em pacientes com
incluem a patelar, do quadríceps, do manguito rotador, do artrite reumatoide. Os medicamentos como esteroides e
calcâneo, a epicondilite lateral (cotovelo de tenista), e a te- fluoroquinolonas também têm sido associados com inci-
nossinovite de Quervain. Tal como a bursite, o tratamento dência mais alta de ruptura de tendão.28-30
consiste em repouso, medicamentos anti-inflamatórios não As avulsões tendíneas nas inserções ósseas envolvem
esteroides e injeção local de esteroides. um fragmento de fratura ou tendão que pode ser reinseri-
A injeção local de esteroides para bursite e tendinite do por meio de cirurgia. As rupturas parciais dos tendões
requer que o médico esteja familiarizado com a anatomia habitualmente cicatrizam bem se uma lesão adicional for
da extremidade afetada. Se usados da forma correta, os cor- prevenida. As rupturas completas de tendão são reparadas
ticosteroides diminuem a inflamação e a dor, promovendo cirurgicamente, pois as lacunas entre as junções musculo-
a cura. As contraindicações para a injeção local de esteroi- tendíneas diminuem a força do tendão depois da cicatriza-
des incluem celulite sobrejacente, suspeita de artrite sépti- ção. A ruptura na junção musculotendíneas é mais difícil
ca, coagulopatia ou mais do que três injeções em um ano. de reparar por cirurgia do que a ruptura no local da inser-
As preparações de corticosteroides disponíveis para ção óssea devido à impossibilidade de prever o desfecho
injeção estão listadas na Tabela 1.4. A triancinolona he- da sutura do tendão ao músculo.
xacetonida a triancinolona acetonida são os preferidos, Os tendões flexores da mão são os tendões mais co-
já que são preparações potentes com longa duração de mumente lacerados. Essas lacerações criam um desafio
ação. Os efeitos locais desses agentes podem durar me- ímpar, porque os tendões passam por bainhas revestidas
ses. A quantidade de esteroide a ser injetada depende da de sinóvia e por polias fibrosas. As aderências nessas es-
indicação. Para os grandes espaços, como o subacromial,
olécrano e bolsas trocantéricas, uma dose de 20 a 30 mg
de acetato de metilprednisolona ou o seu equivalente é
apropriado. As bainhas tendíneas, como na tenossinovite
de Quervain, requerem uma dose menor, de 5 a 15 mg de
acetato de metilprednisolona ou o seu equivalente.
A adição de um anestésico local à preparação de es-
teroide fornece dois propósitos úteis. O paciente recebe
alívio imediato da dor e ao médico é garantido que a lo-
calização da injeção esteja anatomicamente correta. A li-
docaína, a bupivacaína, ou a mepivacaína são os agentes
anestésicos mais usados.

Ruptura do tendão
Os tendões podem ser lesionados ou por avulsão ou por
laceração. As lacerações ocorrem mais comumente do
que a avulsão do tendão. A avulsão do tendão ocorre no
local da inserção óssea ou na junção entre o músculo e o
tendão. Os quatro tendões mais comumente avulsionados
incluem o do calcâneo, o do quadríceps, o bíceps e os ten-
dões do manguito rotador (Fig. 1.33). O tendão fibular e Figura 1.33 Ruptura do tendão do bíceps. Observar o amon-
o patelar também se rompem com frequência. A ruptura toamento do músculo bíceps no braço.

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28 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

truturas, mesmo quando o tendão estiver cirurgicamente torno muito precoce à atividade pode resultar em nova lesão
32
reparado, limitam a sua função e restringem o movimento. e em incapacidade significativamente prolongada.
Se as suturas estiverem muito tensas, elas podem restrin-
gir a microcirculação do tendão e prejudicar a cicatriza- Herniação muscular
ção. A técnica de Bunnell de sutura cruzada, comumente O músculo hernia através de um defeito na fáscia sobreja-
31
usada, é bastante invasiva. A mobilização controlada de- cente. Um “tumor” mole pode ser palpado no defeito, não
pois do reparo do tendão reduz as aderências e promove a sendo aderido à pele sobrejacente. O paciente pode recla-
cicatrização, mas o carregamento excessivo pode resultar mar de edema ou protuberância do músculo quando con-
em nova lesão. traído, e uma fraqueza pode ser notada. Um estalo audível
associado com dor intensa durante uma contração forte
Lesão nervosa pode ser observado. A massa é reduzida por compressão
quando o músculo estiver em repouso. Os músculos mais
Podem ocorrer três tipos de lesões nervosas. Uma contusão
comumente envolvidos nesta condição são o bíceps, o reto
simples de um nervo é chamada neuropraxia e é tratada
femoral e o gastrocnêmio. O tratamento é dependente dos
por observação isolada; o retorno à função normal é notado
sintomas. Se houver sintomas significativos, o paciente
após algumas semanas ou meses. Uma axonotmese é uma
deve ser encaminhado para reparo da lesão.
ruptura mais significativa, seguida de degeneração. O tem-
po de cura é prolongado. A divisão completa de um nervo Distensão muscular
é chamada de neurotmese, que requer o reparo cirúrgico.
A distensão muscular ocorre secundariamente ao uso (dis-
tensão crônica) ou ao estresse excessivos (distensão agu-
Distúrbios musculares da). Embora a distensão possa ocorrer em qualquer ponto
Os músculos são lesionados por trauma direto e indire- dentro do músculo, a localização mais comum é na junção
to. Um golpe forte pode causar contusão localizada, he- musculotendínea distal. Os músculos que cruzam duas arti-
matoma ou laceração da fáscia sobrejacente, resultando culações e consistem em fibras de contração rápida (p. ex.,
em herniação. Os mecanismos indiretos de lesão mus- gastrocnêmio, quadríceps e isquiotibiais) são mais suscetí-
cular ocorrem por hiperdistensão e resultam em ruptura veis às distensões.32 As distensões são divididas em primei-
das fibras musculares, com hemorragia e perda parcial ro (leve), segundo (moderado) e terceiro (grave) graus, com
da função – estiramento muscular. As complicações da base na quantidade de dor, no espasmo e na incapacidade.
lesão muscular grave são vistas precocemente (p. ex., ra-
bdomiólise) e tardiamente (p. ex., miosite ossificante trau- Distensão de primeiro grau. O paciente reclama de dor
mática). A lesão muscular também pode resultar de uma localizada leve, cãibras ou rigidez com movimento ou
resposta inflamatória sistêmica na forma de miosite. tensão muscular. A dor frequentemente não está presente
até depois de a atividade ter cessado. O espasmo leve e a
Contusão muscular sensibilidade dolorosa localizada podem estar presentes.
A capacidade de ferir de um objeto que atinge um múscu- A função de rotina do músculo fica preservada, com leve
lo é diretamente proporcional à sua massa e ao quadrado limitação. Por exemplo, na extremidade inferior, o pacien-
de sua velocidade. O trauma não penetrante direto em um te consegue deambular.
músculo resulta em ruptura parcial das fibras musculares e O paciente é aconselhado a colocar compressas de
em ruptura capilar. A equimose é vista externamente. Uma gelo sobre o músculo ferido e descansar por alguns dias.
resposta inflamatória e a formação de edema são notadas. A mobilização pode ser seguramente começada conforme
As contusões são classificadas como leves, modera- a tolerância. O uso de um agente anti-inflamatório não es-
das e graves. Uma contusão leve retém a amplitude de mo- teroide está indicado no contexto agudo.32
vimento normal e, quando ocorre na extremidade inferior,
não afeta a marcha. A sensibilidade dolorosa localizada Distensão de segundo grau. Uma contração ou estiramen-
está presente, mas não existe nenhum edema aparente. As to muscular mais forte resulta em ruptura maior das fibras
contusões moderadas são caracterizadas pela redução na musculares. O edema e a equimose estão frequentemente
amplitude de movimento pelo edema óbvio e pelos dis- presentes, em adição à sensibilidade dolorosa e ao espasmo
túrbios da marcha. As contusões musculares graves resul- muscular (Fig. 1.34). A dor é de aparecimento imediato em
tam em redução significativa na amplitude de movimento. relação à atividade. Quando a lesão for na extremidade infe-
Sensibilidade dolorosa intensa, edema e claudicação ób- rior, ela limita de forma significativa a deambulação.
via estão presentes. Se o sangramento for intenso, forma- Em pacientes com distensões de segundo grau, o mús-
-se um hematoma muscular. culo lesionado deve ser imobilizado, o membro elevado e
O tratamento envolve a restrição da amplitude de movi- compressas de gelo aplicadas nas primeiras 24 a 48 horas.
mento para minimizar o risco de hemorragia. Gelo, elevação Depois disso, o músculo deve ser “colocado em repouso”,
e compressão também são empregados na fase aguda. A res- usando muletas para deambulação (extremidade inferior)
tauração do movimento ocorre de forma gradual, já que o re- ou uma tipoia (extremidade superior) até que o edema e a

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Emergências Ortopédicas 29

na celular, com liberação do conteúdo celular, incluindo a


mioglobina. A rabdomiólise pode ser o resultado de lesão
por esmagamento, imobilidade prolongada, hipertermia,
isquemia muscular, drogas e toxinas, infecção e esforços.
A dor muscular está presente em somente 50% dos casos.
O tratamento é de suporte e consiste na hidratação com
fluidos e na alcalinização da urina para prevenir a depo-
sição de mioglobina dentro do rim, e insuficiência renal
subsequente.

Miosite ossificante traumática


A miosite ossificante é uma ossificação muscular loca-
lizada, causada por lesão muscular em 75% dos casos.
A formação de osso no músculo pode seguir-se a um gol-
pe único ou a uma série de traumas menores e repetidos
Figura 1.34 Distensão muscular de segundo grau dos aduto-
no músculo. O restante dos casos é visto em paraplégicos
res. Este paciente tinha dor significativa com a adução da coxa. ou vítimas de queimaduras, ou são congênitos ou idio-
Observar a equimose pela ruptura das fibras musculares. páticos. A incidência de miosite ossificante traumática é
relatada com frequências de 9 a 17% após as contusões
musculares.34 Os músculos mais afetados incluem o qua-
sensibilidade dolorosa desapareçam. O alongamento pas- dríceps e o braquial anterior.35
sivo deve ser desestimulado quando houver hemorragia e Um hematoma é um pré-requisito necessário para o
edema significativos, pois pode resultar em aumento da processo ocorrer, e esta condição raramente é vista de-
fibrose, criando a deposição de cálcio e o retardo na cica- pois de distensões musculares. Durante a reabsorção e a
trização. A deambulação (extremidade inferior) ou o uso organização, o hematoma é invadido por tecido de gra-
do músculo ferido (extremidade superior) não deve ser nulação. O colágeno prolifera e os osteoblastos do pe-
iniciado até que a dor tenha cedido. riósteo lesionado próximo ou do tecido conjuntivo me-
Depois de um breve período de imobilização, habitual- taplásicos começa a formar trabéculas de osteoide. Para
mente não mais de uma semana, os exercícios ativos pro- ocorrer indução óssea em tecidos moles, três condições
gressivos podem ser começados até o limite da dor.33 Esse devem estar presentes: (1) um agente indutor, (2) células
estágio do tratamento deve ser acompanhado pela aplicação precursoras osteogênicas e (3) um ambiente permissivo à
de calor. Uma das complicações mais comuns é a recidiva osteogênese.36
devido ao retorno precoce à atividade normal, particular- A condição é mais comum em pacientes na segun-
mente no atleta. A deposição de cálcio no músculo, levando da e terceira décadas de vida. O local com a mais alta
à incapacidade prolongada, é outra complicação comum, e predileção para miosite ossificante é o músculo braquial
também é resultado do retorno prematuro à atividade. anterior, na frente da articulação do cotovelo. A lesão ha-
bitualmente ocorre após uma luxação posterior do cotove-
Distensão de terceiro grau. Existe a ruptura completa lo. Quando uma massa de osso se forma, os movimentos
do músculo e a fáscia sobrejacente pode estar rompida. ativo e passivo ficam restritos. Mais tarde, a dor e o edema
O paciente apresenta dor e espasmo muscular intensos, são reduzidos e uma massa dura, como um tumor, é palpá-
acompanhados de edema e equimose. Um hematoma vel sobre o aspecto anterior do cotovelo. A extensão ativa
grande, a sensibilidade dolorosa localizada e a perda de da articulação é limitada pela “inelasticidade” do múscu-
função muscular são notados. As rupturas agudas se apre- lo. A flexão também é reduzida pela obstrução da massa.
sentam com uma protuberância ou um amontoamento Em alguns casos, pode haver uma ponte ossificada com-
do músculo, principalmente se a lesão envolver a junção pleta na articulação.
musculotendínea. As radiografias mostram a massa calcificada come-
As distensões de terceiro grau são imobilizadas com çando por volta da terceira a quarta semana pós-lesão, e
uma tala, sendo aplicadas compressas de gelo e mantendo a evidência radiográfica definida deve estar presente por
o membro elevado. O paciente deve ser encaminhado para volta de dois meses (Fig. 1.35). Essas lesões devem ser di-
avaliação, já que o reparo cirúrgico talvez esteja indica- ferenciadas da formação óssea heterotópica em expansão
do conforme a idade, da localização da ruptura e de qual de um osteossarcoma.32,35
músculo esteja envolvido. A massa de osso pode estar conectada à diáfise de um
osso longo por um pedículo, ou estar completamente se-
Rabdomiólise parada. O reparo espontâneo pode ocorrer, com o desapa-
Esta condição ocorre quando uma lesão muscular grande recimento completo da massa óssea. O processo cessa de
o suficiente resulta na ruptura da integridade da membra- forma espontânea em três a seis meses.

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30 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

de dor muscular. A TC pode ser muito útil para a sua


detecção. As manifestações sistêmicas de sepse também
podem ocorrer, mas elas são habitualmente um achado
mais tardio.
A piomiosite é mais comum em climas tropicais e
E ocorre com frequência maior em pacientes imunocom-
ZW
prometidos (diabetes, alcoolistas, HIV).37.39 É, de hábito,
secundária à disseminação da infecção a partir de um foco
adjacente, como uma osteomielite ou uma ferida de pun-
ção. A maioria dos casos ocorre em um único músculo ou
grupo muscular (quadríceps, glúteo). Os agentes causais
mais comuns são o Staphylococcus (75-95%) ou organis-
mos do tipo Streptococcus. O tratamento inclui a drena-
gem imediata do abscesso, percutaneamente ou na sala de
cirurgia. Os antibióticos intravenosos devem ser adminis-
trados precocemente. As compressas quentes e úmidas,
com elevação do membro e imobilização da extremidade
envolvida são adjuntos úteis.

Miosite inflamatória autoimune. Três tipos de miosite


inflamatória autoimune foram identificados: polimiosi-
Figura 1.35 Miosite traumática ossificante do músculo qua-
te, dermatomiosite e miosite com corpo de inclusão.40-42
dríceps. Observar a ossificação heterotópica acima do fêmur.
Os pacientes apresentam-se com grau variado de fraqueza
muscular que se desenvolve lentamente durante semanas
O crescimento ósseo não deve ser perturbado em seu ou meses. A fraqueza é mais intensa nos músculos proxi-
estágio inicial. O repouso prolongado está indicado, com mais, e os pacientes reclamam de dificuldade para levan-
a extremidade imobilizada com uma tala ou gessado leve. tar de uma cadeira, entrar ou sair do carro, subir degraus e
Quando o cotovelo estiver envolvido, a posição apropria- pentear os cabelos. Os músculos distais e os movimentos
da de imobilização é com o antebraço em posição neutra motores finos são mais afetados na miosite com corpo de
e o cotovelo flexionado em 90º. Nenhuma cirurgia está inclusão. As mialgias não são uma queixa comum e estão
indicada por 6 a 12 meses, pois a reabsorção espontânea presentes em < 30% dos pacientes.40 Em pacientes com
pode ocorrer com o desaparecimento completo da massa. dermatomiosite, uma erupção cutânea precede o apareci-
A intervenção cirúrgica precoce pode resultar em recidiva mento da fraqueza muscular. A erupção cutânea pode ser
da calcificação. de cor violácea em torno dos olhos ou uma erupção cutâ-
nea eritematosa e elevada na face, no pescoço, no tórax,
Miosite nas costas ou nas articulações.40,41
A miosite é a inflamação de um músculo que pode ser As características diagnósticas incluem aumento nos
causada por um agente infeccioso, como bactérias, ou a níveis de creatina quinase, que é visto em > 95% dos ca-
um distúrbio autoimune. Para uma discussão adicional sos.42 Durante a fase ativa da doença, o nível de creatina
das infecções necrosantes de tecidos moles, o leitor deve quinase pode estar elevado 50 vezes acima do normal. A
ler o Capítulo 4. testagem de anticorpos pode ser útil, com anti-Jo-1 confe-
rindo a maior especificidade. A biópsia muscular é o tes-
Miosite infecciosa. Os agentes infecciosos que cau- te de confirmação mais importante. O tratamento inclui
sam miosite incluem as bactérias, as micobactérias, os a administração de corticosteroides e agentes imunossu-
fungos, os vírus e os agentes parasitários. As bactérias pressores. A imunoglobulina intravenosa é efetiva para
invadem o músculo por extensão contígua mais fre- melhorar a força muscular e resolver a imunopatologia
quentemente do que por disseminação hematogênica. A subjacente.40,43
miosite supurativa aguda, com formação de abscesso no
músculo, a piomiosite, é uma condição incomum, mas REFERÊNCIAS
importante a ser considerada, porque passa despercebida
com facilidade. A piomiosite muitas vezes apresenta-se 1. Henry BJ, Vrahas MS. The Thomas splint. Questionable
após trauma muscular (20-50% dos casos) e, devido à boast of an indispensable tool. Am J Orthop 1996;25(9):
natureza intramuscular do abscesso, muitos dos achados 602-604.
superficiais associados com a infecção de tecidos moles 2. Rowlands TK, Clasper J. The Thomas splint—a necessary
estão ausentes. Febre, calafrios ou leucocitose inexplicá- tool in the management of battlefield injuries. J R Army Med
vel ajudam a diferenciar essa condição de outras causas Corps 2003;149(4):291-293.

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Emergências Ortopédicas 31

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