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gem e de que o desejo do homem é o uma passagem para ilustrar o que acabei
desejo do Outro. Isto será amplamente de afirmar e — por que não? — aguçar o
desenvolvido no segundo e no terceiro interesse pela leitura do livro:
capítulos, em que a linguagem é defini-
da como uma estrutura em que se articu- “Com a ênfase posta sobre o objeto per-
lam borromeanamente os registros do dido do desejo enquanto Coisa, das Ding, e
real, do simbólico e do imaginário. Nada a nomeação do objeto causa do desejo
nos é apresentado de forma confusa ou como objeto a, uma importante distinção
difusa, deixando o leitor perplexo e per- veio a ser introduzida por Lacan no que
dido na teoria de Lacan, cuja aprendiza- diz respeito à possibilidade de diferen-
gem, é preciso dizer com todas as letras, ciar o objeto perdido da espécie humana
não é fácil. e o objeto perdido da história de cada
Marco Antonio vai às fontes, contan- sujeito. O objeto perdido da história de
do-nos o feliz encontro de Lacan com cada sujeito, objeto a, pode ser re-encon-
Saussure, destacando não só a precedên- trado nos sucessivos substitutos que o su-
cia do simbólico (linguagem) na consti- jeito organiza para si em seus desloca-
tuição do sujeito humano, mas também mentos simbólicos e investimentos libidi-
a primazia do significante e as leis que nais imaginários. Mas nesses re-encon-
regem o seu funcionamento. Não deixa tros, por trás dos objetos privilegiados de
de alertar para as diferenças que separam seu desejo, o sujeito irá se deparar de
os campos da lingüística e da psicanálise forma inarredável com a Coisa perdida
(cf. “A controvérsia Freud-Benveniste”, da espécie-humana; o que significa que
no terceiro capítulo), para finalmente trata-se sempre, nos reencontros com o
abordar no último capítulo a natureza do objeto, da repetição de um ‘encontro
desejo humano, que se caracteriza pela faltoso com o real’, maneira pela qual
estrutura de falta do objeto do desejo, Lacan define a função da ‘tiquê’, que vi-
introduzindo os conceitos de objeto para gora por trás do ‘autômaton’ da cadeia
Freud e para Lacan. A diferença entre a simbólica. Assim, há uma diferença que
Das ding concepção freudiana de objeto, como necessita ser relevada entre estrutura e
versus Coisa para sempre perdida — das Ding, o história, ou dito de outro modo, entre a
Objeto a
“objeto perdido da espécie humana” (p. pré-história e a história. Nos termos
142) — e o conceito lacaniano de obje- freudianos, trata-se da distinção entre a
to a — o “objeto perdido da história de filogênese e a ontogênese, distinção que
cada sujeito” (idem) — é indispensável Freud sempre manteve viva em sua obra
para a compreensão da sublimação. Ape- e que parecia poder enriquecer, para ele,
sar da complexidade e das controvérsias, uma concepção científica do inconscien-
que giram em torno do conceito psica- te. Tal distinção, aplicada no contexto da
nalítico de sublimação, o autor consegue relação de objeto, é aquela entre das Ding
destrinçar com tal mestria a diferença e o objeto materno” (p. 142).
entre objeto a e das Ding, que o leitor en-
contrará indicações preciosas que lhe ser- Coutinho Jorge faz questão de acen-
virão de guia não só para o estudo da tuar que esta diferença entre objeto cau-
sublimação, mas também para compre- sa do desejo (objeto a, objeto materno)
ender o conceito lacaniano de objeto a, e objeto perdido (das Ding) aponta para
como objeto-causa-do-desejo. Vale citar outra distinção, que considero crucial