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Resenhas

Fundamentos da psicanálise de aliança terapêutica, onde o eu, como de-


Freud a Lacan. As bases conceituais. nunciou Lacan, no início de seu ensino,
Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de se torna a “única fonte de conhecimen-
Janeiro, Zahar, 92 p. to” (O seminário, livro 1, Os escritos técnicos de
Freud, Zahar, 1979, p. 25). Desta forma,
Nadiá Paulo Ferreira esqueceram a pedra angular da prática
freudiana, que é a regra da associação li-
Psicanalista, membro do Corpo Freudiano vre, via pela qual se realiza a revelação do
do Rio de Janeiro — Escola de Psicanálise.
inconsciente em uma análise.
Professora titular de Literatura Portuguesa
da Universidade do Estado do Rio de Recomeçar, situando a questão fun-
Janeiro/Uerj. damental — O que fazemos em nossa
prática quando o analisando nos coloca
no lugar de analista, isto é, no lugar de
sujeito-suposto-saber? — , que deveria
O ensino de Jacques Lacan retirou a in- orientar a prática de todo psicanalista, foi
venção freudiana do limbo, resgatando o caminho seguido por Lacan, tanto em
uma das descobertas mais importantes do seus seminários quanto em seus textos.
século XX: o inconsciente. A importân- Mas, para este jovem médico, iniciar via-
cia desta descoberta é ilustrada por Mar- gem sobre os escritos de Freud implicava
co Antonio, logo no início do primeiro também levar em conta a verdadeira re-
capítulo do seu livro: volução que estava ocorrendo no campo
das ciências humanas com a invenção da
“Freud chegou a comparar sua desco- lingüística por Ferdinand Saussure.
berta do inconsciente com dois outros A lei do homem é a lei da linguagem.
golpes desferidos pela ciência sobre o Os seguidores de Freud, que insistiram
amor-próprio da humanidade: se Copér- em ignorar os estudos que surgiram, tan-
nico retirou a Terra do centro do universo to no campo da antropologia (Lévi-
e Darwin mostrou que o homem não Strauss) quanto da literatura (forma-
está no centro da criação, a psicanálise, listas russos), se tornaram os responsá-
por sua vez, descentrou o homem de si veis não só pela estagnação, mas tam-
mesmo ao mostrar que ‘o eu não é se- bém pelo desvio da psicanálise, contri-
nhor nem mesmo em sua própria casa’.” buindo, assim, para que alguns conceitos
(p. 17) freudianos se transformassem em ver-
dadeiros clichês repetidos por um dis-
Em Nome-de-Freud, seus discípulos curso que, por se tornar hegemônico, se
reduziram a prática da psicanálise a uma vinculou aos meios de comunicação de

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massa, integrando-se à banalidade alie- o autor pode se dirigir ao leitor, na in-


nante do senso comum. trodução do seu livro, convocando-o a
Os equívocos com relação à obra de pensar de novo: o que é o inconsciente?
Freud se repetem com relação à de Lacan. Escreve Marco Antonio:
Para estes contribuíram a escolha de Lacan,
que, tal qual Sócrates, privilegiou a trans- “Depois de um século de existência da
missão oral, através de um dispositivo, teoria e da prática psicanalíticas, tal per-
que ficou conhecido como Seminário. gunta poderia, de fato, parecer irrisória.
Todos aqueles que não estiveram presen- Não é essa a posição que defendo: tal
tes em seus seminários terão que lê-los questão insiste em exigir de nós uma
em transcrições. Sabemos os efeitos disto. maior elaboração, desde que Freud in-
A maioria dos seminários continua iné- troduziu em seus primeiros trabalhos psi-
dita ou em edições não autorizadas pelo canalíticos o conceito de inconsciente. De
herdeiro jurídico das transcrições. fato, a questão sobre ‘o que é o incons-
A lei do capitalismo é a lei do merca- ciente’ foi continuamente sustentada por
do. Sem dúvida, o estilo da escrita de Lacan Lacan (1998) enquanto enigma que exi-
e a dificuldade de acesso às transcrições ge decifração.” (p. 9)
dos seus seminários propiciaram um mer-
cado editorial do tipo “Lacan ao alcance Se, por um lado, é preciso se despo-
de todos”, em que o reducionismo dos jar do saber já constituído, ou seja, do
conceitos levou a erros teóricos graves em discurso universitário, para colocar esta
prol de um “didatismo” e de uma “clare- indagação, sob a forma de “enigma que
za”, expressos na famosa frase do Chacrinha exige decifração”, por outro, não há dú-
“quem não se comunica se trumbica”, vida de que Lacan nos deixou uma teoria
que sintetiza de forma magistral um dos sobre o homem e sobre o mundo, que
axiomas da lógica do capitalismo. sustenta a direção de um tratamento psi-
É neste contexto que se destaca o va- canalítico.
lor do livro de Marco Antonio Coutinho O leitor pode estar seguro de que,
Jorge. Seu estilo, sem ser hermético, per- neste livro, encontrará não só uma apre-
manece fiel ao convite que Lacan (1998) sentação da teoria psicanalítica, que se
faz ao leitor no prefácio de Escritos: “Que- pauta pelo rigor da exposição do que
remos, com o percurso de que estes tex- Lacan estabeleceu como sendo os quatro
tos são os marcos e com o estilo que seu conceitos fundamentais da psicanálise,
endereçamento impõe, levar o leitor a mas também a contribuição singular de
uma conseqüência em que ele precise um discípulo que dedica sua vida ao es-
colocar algo de si” (p. 11). tudo e à prática da psicanálise.
Estamos diante de um texto em que O primeiro capítulo é dedicado à
o autor não se situa no lugar de um sujei- pulsão, sem dúvida, como grifa Coutinho
to que detém o saber, mas no lugar de Jorge, “o conceito psicanalítico que mais
um sujeito esvaecido. E, como tal, sus- se revela inseparável da questão sobre o
tentado pelo que caracteriza o humano, que é o inconsciente” (p. 9). Neste capí-
que é o estatuto de um sujeito cindido tulo, o autor resgata o conceito freudia-
entre verdade e saber. Somente deste lu- no de inconsciente para articulá-lo com
gar de queda do sujeito, que não é outro os axiomas propostos por Lacan de que o
senão o de objeto-causa-do-desejo, que inconsciente é estruturado como lingua-

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gem e de que o desejo do homem é o uma passagem para ilustrar o que acabei
desejo do Outro. Isto será amplamente de afirmar e — por que não? — aguçar o
desenvolvido no segundo e no terceiro interesse pela leitura do livro:
capítulos, em que a linguagem é defini-
da como uma estrutura em que se articu- “Com a ênfase posta sobre o objeto per-
lam borromeanamente os registros do dido do desejo enquanto Coisa, das Ding, e
real, do simbólico e do imaginário. Nada a nomeação do objeto causa do desejo
nos é apresentado de forma confusa ou como objeto a, uma importante distinção
difusa, deixando o leitor perplexo e per- veio a ser introduzida por Lacan no que
dido na teoria de Lacan, cuja aprendiza- diz respeito à possibilidade de diferen-
gem, é preciso dizer com todas as letras, ciar o objeto perdido da espécie humana
não é fácil. e o objeto perdido da história de cada
Marco Antonio vai às fontes, contan- sujeito. O objeto perdido da história de
do-nos o feliz encontro de Lacan com cada sujeito, objeto a, pode ser re-encon-
Saussure, destacando não só a precedên- trado nos sucessivos substitutos que o su-
cia do simbólico (linguagem) na consti- jeito organiza para si em seus desloca-
tuição do sujeito humano, mas também mentos simbólicos e investimentos libidi-
a primazia do significante e as leis que nais imaginários. Mas nesses re-encon-
regem o seu funcionamento. Não deixa tros, por trás dos objetos privilegiados de
de alertar para as diferenças que separam seu desejo, o sujeito irá se deparar de
os campos da lingüística e da psicanálise forma inarredável com a Coisa perdida
(cf. “A controvérsia Freud-Benveniste”, da espécie-humana; o que significa que
no terceiro capítulo), para finalmente trata-se sempre, nos reencontros com o
abordar no último capítulo a natureza do objeto, da repetição de um ‘encontro
desejo humano, que se caracteriza pela faltoso com o real’, maneira pela qual
estrutura de falta do objeto do desejo, Lacan define a função da ‘tiquê’, que vi-
introduzindo os conceitos de objeto para gora por trás do ‘autômaton’ da cadeia
Freud e para Lacan. A diferença entre a simbólica. Assim, há uma diferença que
Das ding concepção freudiana de objeto, como necessita ser relevada entre estrutura e
versus Coisa para sempre perdida — das Ding, o história, ou dito de outro modo, entre a
Objeto a
“objeto perdido da espécie humana” (p. pré-história e a história. Nos termos
142) — e o conceito lacaniano de obje- freudianos, trata-se da distinção entre a
to a — o “objeto perdido da história de filogênese e a ontogênese, distinção que
cada sujeito” (idem) — é indispensável Freud sempre manteve viva em sua obra
para a compreensão da sublimação. Ape- e que parecia poder enriquecer, para ele,
sar da complexidade e das controvérsias, uma concepção científica do inconscien-
que giram em torno do conceito psica- te. Tal distinção, aplicada no contexto da
nalítico de sublimação, o autor consegue relação de objeto, é aquela entre das Ding
destrinçar com tal mestria a diferença e o objeto materno” (p. 142).
entre objeto a e das Ding, que o leitor en-
contrará indicações preciosas que lhe ser- Coutinho Jorge faz questão de acen-
virão de guia não só para o estudo da tuar que esta diferença entre objeto cau-
sublimação, mas também para compre- sa do desejo (objeto a, objeto materno)
ender o conceito lacaniano de objeto a, e objeto perdido (das Ding) aponta para
como objeto-causa-do-desejo. Vale citar outra distinção, que considero crucial

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para entendermos a ruptura que a psica- corporais’. (...) E, curiosamente, na enu-


nálise veio introduzir na história do co- meração fornecida por Lacan de objetos a,
nhecimento, que é a antinomia radical todos os orifícios corporais são mencio-
entre o impossível e o proibido. nados, inclusive o meato uretral, com ex-
Por último, gostaria de retomar o se- ceção das narinas.” (p. 54-55)
gundo capítulo do livro, intitulado
“Pulsão e falta: o real”, precisamente no Além da proposição da pulsão olfati-
item “A pulsão olfativa”, em que vamos va, o autor retoma as suas considerações
encontrar a contribuição do autor à teo- sobre o olfato para tentar dar conta do
ria psicanalítica. Marco Antonio, depois que Freud nomeou de recalque orgâni-
de nos apresentar uma pesquisa exausti- co. Este conceito, tal qual o olfato, apare-
va da obra de Freud, recortando os textos ce esparsamente na obra freudiana, “sem-
que se referem ao olfato e ao recalque pre em breves considerações ou em no-
orgânico, propõe que seja acrescentada a tas de rodapé” (p. 58).
pulsão olfativa à história da libido. Esta Aqui, o autor recorre ao mito, no sen-
pulsão compareceria em todas as fases de tido que este termo adquire em Lacan,
evolução da libido, sob a “forma subja- para conjeturar sobre o passado ancestral
cente”, correspondendo ao que Freud do ser falante. O que aconteceu quando
chamava de pulsão componente. no lugar do saber da espécie abriu-se uma
Sabemos que Lacan, ao criar o con- fenda, fazendo com que o real se inscre-
ceito de objeto a, acrescenta duas pulsões vesse na estrutura do homem? Ou, dito
à teoria freudiana sobre a sexualidade hu- de outra forma, o que ocorreu na trans-
mana: a pulsão escópica, que tem como formação da sexualidade humana, quan-
objeto o olhar, e a pulsão invocante, que do o instinto deu lugar ao pulsional?
tem como objeto a voz. Entretanto, não A hipótese de Marco Antonio é de que o
vamos encontrar em seu ensino e nem na recalque orgânico teria sido “o momen-
literatura psicanalítica o interesse pelo to zero do recalcamento” e, como tal, “o
olfato. Justamente por isto, as menções próprio elemento fundador da espécie
esparsas ao olfato, que percorrem a obra humana”. Acrescenta, ainda, que na pas-
de Freud, ficaram à espera de um leitor. sagem “do funcionamento instintivo do
Marco Antonio Coutinho Jorge retoma animal, estritamente ligado ao olfato, para
estas referências freudianas para articulá- o funcionamento pulsional, cujo mode-
las com a noção lacaniana de objeto a: lo é a visão” teria ocorrido “a perda da
ação predominante dos estímulos olfati-
“Assim, se Lacan destaca quatro objetos a vos sexuais, cuja característica é a de se-
primordiais, cujo traço comum é o de rem intermitentes e de obedecerem ri-
não possuírem imagem especular — gidamente a fatores cíclicos” (p. 58).
quais sejam, o seio, as fezes, o olhar e a Do saber sobre sua espécie à perda
voz —, é justo porque eles são unidos deste saber, inaugura-se a força constante
pelo mesmo denominador comum, o da pulsão, marca excêntrica da sexualida-
nada. Quanto a isso, chama a atenção que de, que, a partir daí, passa a ter como li-
o odor tem precisamente essa caracterís- mite e ordenação o significante e suas
tica de ser ‘quase nada’. Mais essencial- leis. Para além do significante, o mistério
mente, Lacan estabelece uma relação in- do corpo, o real do gozo e o enigma sem
trínseca entre o ‘objeto a’ e os ‘orifícios decifração do Outro-sexo, constituindo,

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assim, o sintoma de um ser que, por ter Psicanálise e colonização:


perdido seu ser, está para sempre subor- leituras do sintoma social no Brasil.
dinado às leis da linguagem. Esta perda é Edson L. A. de Sousa (org.). Porto
magnificamente ilustrada, no final do li- Alegre, Artes e Ofícios, 1999, 299 p.
vro, pela leitura da abertura do filme 2001:
Uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick. Maria Roneide Cardoso Gil
Chegando até este ponto, certamente o
leitor terá sido fisgado pelo estilo do au- Psicóloga, doutoranda em estudos do mundo
tor e pelo seu desejo de transmitir a psi- lusófono (Sorbonne – USP), Centro de
Acolhimento de Crianças Maltratadas — Les
canálise. Poussinets, França.

Recebido em 10/8/2000. Esse livro1 dá seqüência à reflexão já anti-


Aceito em 15/9/2000.
ga mas sempre atual sobre o sintoma so-
cial brasileiro tendo como ponto de par-
Nadiá Paulo Ferreira tida, e retorno inevitável, a formação e o
Tel.: (21) 267-2931 legado coloniais. Dividida em seis capí-
E-mail: nadiap@uerj.br tulos temáticos, com abordagens diver-
sas sobre a formação histórico-social e
cultural e sua correspondente e sintomá-
tica herança de violência e abandono, a
obra atualiza uma das perspectivas de aná-
lise já presentes na obra de Freud: a das
inter-relações entre cultura e subjetivi-
dade. O aforismo lacaniano “o incons-
ciente é o social” amplia a perspectiva
aberta por Freud ao conjugar a consti-
tuição da subjetividade com a do laço
social, sem que ambas pareçam coinci-
dir nem se oporem reciprocamente. Esta
recente publicação vem nos apresentar
leituras e hipóteses que estabelecem um
diálogo fundamental entre a psicanáli-
se e outros campos do saber como a so-
ciologia, antropologia, artes plásticas, li-
teratura e história do Brasil no que se
refere ao sintoma no laço social inscri-
to pela colonização.

1 Esse livro é o resultado de uma série de


conferências proferidas num curso de ex-
tensão coordenado pelo prof. Edson L. A.
de Sousa do Departamento de Psicanálise e
Psicopatologia do Instituto de Psicologia da
UFGRS, em Porto Alegre.

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