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PLANOS
DIRETORES
Guia para inclusão do
Desenvolvimento Orientado
ao Transporte Sustentável no
planejamento urbano
WRICIDADES.ORG
AUTORES
Henrique Evers
Laura Azeredo
Luana Priscila Betti
Camila Schlatter Fernandes
Gustavo Partezani Rodrigues
Daniel Todtmann Montandon
ILUSTRAÇÕES
André Andreis
Laura Azeredo
Projeto gráfico
Néktar Design
LAYOUT
Néktar Design
Este guia foi desenvolvido com apoio financeiro
da Children's Investment Fund Foundation (CIFF)
August 2015 - 1st edition
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DOTS NOS
PLANOS
DIRETORES
Guia para inclusão do
Desenvolvimento Orientado
ao Transporte Sustentável no
planejamento urbano
Legenda
ÍNDICE
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Sumário Executivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1. Problemas da cidade 3D no contexto brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2. O plano diretor e a cidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1. Plano diretor e o Estatuto da Cidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2. O papel do plano diretor e seu impacto na vida urbana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.3. O processo de revisão dos planos diretores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46
3. DOTS como catalisador da transformação urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.1. Definição de DOTS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2. Elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.3. Escalas de atuação: plano e projeto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4. DOTS no plano diretor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.1. Princípios para a cidade 3C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2. Ações para entorno de eixos e estações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5. DOTS na cidade: do plano ao projeto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
5.1. Alternativas de financiamento do DOTS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Notas de fim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
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prefácio
A concentração da dinâmica econômica, das desconectado. Nas cidades 3D, principal ferramenta para o planejamento
oportunidades de trabalho e lazer e de espaços os congestionamentos geram prejuízos de até das cidades, norteiam seu crescimento e
de convivência e trocas entre pessoas fez das 2,83% do PIB nacional (ou R$ 156,2 bilhões), desenvolvimento. Se bem elaborados, com
cidades uma das maiores invenções humanas. conforme pesquisa da Universidade de São Paulo. a utilização dos instrumentos urbanísticos
Se, por um lado, as facilidades do meio urbano Nas cidades brasileiras, mais de 100 milhões adequados, tornam-se ferramentas eficazes
atraíram milhões de pessoas ao longo dos séculos, de pessoas vivem sem acesso à coleta de esgoto, para promover transformação nas cidades.
por outro, a crescente população urbana também devido à ocupação territorial ineficiente que Mais ainda: seguindo diretrizes focadas na
trouxe desafios. Hoje, os mais de 172 milhões de dificulta a oferta de serviços básicos. Nas cidades eficiência, na equidade e na sustentabilidade,
brasileiros que vivem em áreas urbanas enfrentam 3D, o combate às mudanças climáticas também sai resultarão em cidades mais prósperas e
longos deslocamentos, pouca infraestrutura para prejudicado: o setor de transportes é responsável sustentáveis.
serviços básicos e a falta de espaços públicos de por 60% das emissões de gases do efeito estufa.
qualidade. Em grande parte, esses problemas Através dos Planos Diretores, é possível propor
resultam de um crescimento acelerado, baseado Essa realidade precisa mudar. Para romper estratégias e catalisar ações que levarão a essa
em um modelo que hoje mostra sua face mais com o atual padrão de desenvolvimento, mudança no modelo de crescimento urbano.
perversa, já que, via de regra, as pessoas com precisamos agir na origem do problema: um O DOTS – Desenvolvimento Orientado ao
renda mais baixa são as mais afetadas. planejamento voltado ao uso do carro e uma Transporte Sustentável é uma estratégia
regulação urbana ineficiente. A revisão dos de planejamento que torna isso possível,
A esse modelo de crescimento urbano temos Planos Diretores (PDs) é a oportunidade ideal pois integra o planejamento do uso do solo
atribuído o nome 3D: distante, disperso e para promover essa mudança. Os PDs são a à mobilidade urbana com o objetivo de
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DOTS NOS PLANOS DIRETORES 9
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SUMÁRIO EXECUTIVO
Principais destaques
capazes de promover a implementação
▪▪No Brasil, o plano diretor é o principal O DOTS deve ser inserido na legislação
instrumento de planejamento urbano municipal por meio dos planos diretores.
existente. O plano diretor é capaz de
determinar o modelo de desenvolvimento ▪▪O momento de elaboração e revisão dos
urbano e orientar o crescimento das cidades. planos diretores é ideal para promover o
DOTS. Além disso, permite a integração
▪▪Para ser eficaz, o plano diretor deve atuar entre as diferentes agendas urbanas,
tanto de forma estratégica quanto com através do diálogo intersetorial dentro de
um caráter normativo. Esses dois papeis prefeituras, em regiões metropolitanas,
do plano diretor devem estar articulados, com a sociedade civil e com o setor privado,
trazendo normas e parâmetros urbanísticos em especial o mercado imobiliário.
▪▪A implementação do DOTS requer uma maioria dos brasileiros. A questão urbana (PNMU) como um dos instrumentos da
regulação urbana eficiente que utilize os é, portanto, fundamental para a qualidade política de desenvolvimento urbano no
instrumentos urbanísticos existentes a de vida e o desenvolvimento sustentável no Brasil. Segundo essa lei, as cidades precisam
favor do desenvolvimento sustentável. É país. Planejar e promover o desenvolvimento instituir seus planos municipais de mobilidade
preciso qualificar os planos diretores de urbano deve ser uma prioridade para governos urbana, que devem ser integrados e compatíveis
forma a torná-los peças de planejamento municipais, estaduais e para o governo federal. com o plano diretor municipal e com outras
e gestão urbana mais eficazes, facilitando políticas de planejamento existentes.
a implementação de projetos. O crescimento de uma cidade deve ser
planejado de forma estratégica, com uma Muitas vezes, ainda se considera que a
▪▪O conteúdo deste guia pode auxiliar as cidades visão de longo prazo. Historicamente o Brasil solução para a mobilidade se concentra
brasileiras a produzirem uma nova geração tem estabelecido políticas e instrumentos que simplesmente na prestação do serviço de
de planos diretores, que, ao incorporarem permitem aos municípios definir uma visão transporte e na engenharia de tráfego,
a estratégia DOTS, possibilitarão a de crescimento de longo prazo. A Constituição não abordando a forma como as cidades
concretização de projetos urbanos integrados. Federal brasileira reconheceu o plano diretor se desenvolvem e o planejamento do uso
como principal instrumento de implementação do solo. É muito importante compreender
da política de desenvolvimento e expansão que a mobilidade urbana não é um tema
urbana municipal. Já o ano de 2001 representou exclusivo à política setorial de transporte. Para
um marco para a legislação urbana brasileira tanto, é fundamental que se vá além das ações
devido à instituição do Estatuto da Cidade programáticas em transporte público, associando
(Lei Federal 10.257/2001), lei que estabelece as a temática da mobilidade às estratégias
diretrizes gerais da política urbana e que busca urbanísticas, à regulação e aos instrumentos
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de planejamento determinados pelos planos do solo urbano por empreendimentos de uso planejamento, buscando combater boa
diretores, de modo a induzir as cidades ao misto, viabilizados por meio de um regramento parte dos problemas urbanos. Problemas
desenvolvimento sustentável. urbanístico capaz de produzir esse resultado. como a demarcação de um perímetro urbano que
não considera as reais necessidades de expansão
Diversas cidades brasileiras passaram O DOTS busca contribuir para a reversão territorial, o aumento da ocupação das áreas de
por um processo de desenvolvimento que do modelo de crescimento 3D em direção periferia, a distância entre a oferta de emprego
resultou em uma urbanização dispersa, à construção de cidades 3C– compactas, e moradia, a falta de equipamentos públicos em
com a ocupação de áreas desarticuladas conectadas e coordenadas. O modelo de bairros mais afastados e a degradação de áreas
da mancha urbana e infraestruturas cidade 3C (NCE, 2014) tem como diretriz integrar centrais das cidades podem ser superados por
subutilizadas. Esse modelo de crescimento de o desenvolvimento urbano ao crescimento meio de instrumentos de planejamento baseados
cidades é denominado modelo 3D – distante, econômico, reduzindo os impactos ambientais e no DOTS. O adensamento populacional próximo
disperso e desconectado – e resulta em uma série promovendo cidades mais inclusivas. às infraestruturas de transporte, a ampliação
de problemas para a maioria da população que da oferta de oportunidades econômicas e
nelas vivem. Políticas públicas, aplicadas por meio profissionais, a diversificação do uso do solo,
de estratégias de planejamento como o a universalização do acesso à infraestrutura
O Desenvolvimento Orientado ao DOTS, aumentam a eficiência das cidades, e o aumento de sua eficiência são diretrizes
Transporte Sustentável (DOTS) é uma seus processos produtivos e a qualidade urbanísticas que, em conjunto com instrumentos
estratégia de planejamento que atua na de vida de seus moradores. O DOTS de ordenamento territorial do plano diretor,
articulação do uso e ocupação do solo estabelece diretrizes para evitar o espraiamento poderão viabilizar um modelo de cidade mais
com as infraestruturas de transporte. urbano, economizar recursos na construção sustentável.
O DOTS promove áreas urbanas compactas e e manutenção de equipamentos públicos e
com densidades adequadas próximas a eixos infraestrutura, e aproximar as áreas de moradia O DOTS é composto por oito elementos,
ou estações de transporte de alta ou média das oportunidades de emprego por meio de necessários para promover um
capacidade, oferecendo às pessoas diversidade incentivo ao uso misto do solo. Esses benefícios desenvolvimento urbano mais
de usos, serviços, acesso a oportunidades de colaboram no desenvolvimento econômico, social sustentável. A adoção desses elementos
emprego, lazer, habitação e espaços públicos, e na qualificação ambiental das áreas urbanas. de forma articulada conduzirá aos objetivos
todos a uma distância caminhável. Essa estratégia desejados quando da aplicação do DOTS como
de planejamento é baseada na associação O processo de elaboração e revisão dos estratégia urbana. A Figura SE-1 apresenta os
de medidas de mobilidade mais eficientes e planos diretores é uma oportunidade para elementos essenciais do DOTS e seus benefícios
menos poluentes ao conceito de adensamento incorporar o DOTS como estratégia de para a cidade.
ESPAÇOS PÚBLICOS E CENTRALIDADES E GESTÃO DO USO DO DIVERSIDADE na adoção de uma estratégia que incorpore
INFRAESTRUTURA VERDE FACHADAS ATIVAS AUTOMÓVEL DE RENDA uma visão de futuro das cidades, voltada
• Maior qualidade do ambiente • Identidade local • Obtenção de recursos com a • Garantia do direito à cidade ao desenvolvimento urbano sustentável.
urbano taxação por uso ineficiente do para todos
• Dinâmica econômica local A legislação brasileira apresenta uma série de
espaço urbano
• Aumento do valor ambiental • Aumento de oportunidade
• Maior segurança pública
das áreas verdes • Redução de congestiona- de empregos instrumentos urbanísticos que podem promover o
• Incentivo ao transporte ativo mento
• Maior vitalidade urbana • Possibilidade de diferentes DOTS se aplicados a partir dos princípios de âmbito
• Aumento da segurança viária produtos imobiliários
territorial e das ações propostas neste guia.
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Os princípios da estratégia DOTS Os princípios incidem sobre o território lado por muitos municípios, perdendo-se a
orientam para a construção de uma urbano da cidade, servindo como base oportunidade de realizar um planejamento
cidade compacta, conectada e coordenada para a regulação das ações propostas. Já urbano eficiente. O capítulo apresenta, também,
(modelo 3C). Cada princípio traz diretrizes para as ações incidem diretamente sobre as áreas as dimensões do papel normativo e a influência de
implementar cada “C” do modelo de cidade 3C e é próximas à infraestrutura de transporte coletivo seus regramentos urbanísticos no cotidiano da cidade.
baseado em instrumentos normativos específicos (eixos ao longo de corredores ou no entorno de
conforme apresentado na Figura SE-2. estações) e têm por objetivo concretizar o DOTS O terceiro capítulo explica o conceito
nesses locais. A adoção do DOTS como estratégia de DOTS adotado pelo WRI Brasil: uma
Figura SE-2 | Princípios para atingir a cidade 3C em um plano diretor ocorre por meio da inclusão estratégia de planejamento urbano com
dos 3 princípios e 8 ações apresentados no grande potencial para transformar as
PRINCÍPIO 1: DIRETRIZES E NORMATIVAS PARA guia, utilizando-se de normativas, incentivos, cidades brasileiras em territórios mais
O CRESCIMENTO COMPACTO
parâmetros e mecanismos urbanísticos sustentáveis. Essa seção apresenta os elementos
Relacionado à contenção da dispersão urbana, à regulação do específicos. A relação das ações com os elementos e as dimensões do DOTS, conceituando essa
perímetro urbano e a incentivos à densificação em áreas que DOTS pode ser observada na Figura SE-3. estratégia a partir do trabalho que vem sendo
possuem infraestrutura, como áreas próximas aos sistemas de
transporte coletivo. desenvolvido junto às cidades brasileiras, bem
O guia está dividido em cinco capítulos. como fundamentado em publicações nacionais e
PRINCÍPIO 2: DIRETRIZES E NORMATIVAS PARA O primeiro capítulo trata da forma urbana internacionais que tratam do tema.
CENTRALIDADES E INFRAESTRUTURAS CONECTADAS
dominante nas cidades brasileiras, apresentando
Relacionado à redução da necessidade de deslocamentos um breve panorama da urbanização brasileira O quarto capítulo detalha a implementação
motorizados, incentivando o uso misto, aproximando as áreas e os principais problemas resultantes da cidade da estratégia DOTS no plano diretor.
de moradia e emprego e equilibrando a distribuição das
atividades no território. Esse princípio incentiva, ainda, a criação 3D: a priorização do automóvel, a dispersão da Essa seção apresenta os 3 princípios de âmbito
de centralidades, conectadas através de um eficiente sistema urbanização e o maior prejuízo à população de territorial que conduzem ao modelo de cidade
de transporte coletivo.
baixa renda. 3C e as 8 ações para entorno de eixos e estações
de transporte coletivo. Cada princípio e cada
PRINCÍPIO 3: DIRETRIZES E NORMATIVAS PARA
A GESTÃO COORDENADA O segundo capítulo discorre sobre a ação são detalhados, indicando quais diretrizes
importância do plano diretor e seu e normativas podem ser incluídas na legislação
Relacionado à gestão eficiente do território urbano,
principalmente as diretrizes vinculadas à gestão social da impacto no cotidiano dos habitantes urbana municipal para possibilitar a concretização
valorização da terra urbana. Além disso, apresenta normativas de uma cidade. Esse capítulo apresenta as de projetos de DOTS no território urbano.
para otimização da infraestrutura existente no território urbano. dimensões e a importância do papel estratégico
Fonte: elaborado pelos autores. do plano diretor, que vem sendo deixado de
TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE
TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE TRANSPORTE COLETIVO DE QUALIDADE
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Por fim, o último capítulo trata da Figura SE-4 | Estrutura da publicação
concretização de projetos de DOTS a partir
das diretrizes definidas no planejamento
Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3
CONTEXTUALIZAÇÃO
da cidade. Esse capítulo apresenta os passos
Problemas da
E CONCEITOS
para que as 4 dimensões – legislação urbana, O plano diretor DOTS como catalisador
cidade 3D no e a cidade da transformação urbana
desenho urbano, financiamento e governança
contexto brasileiro
– do DOTS se concretizem nas cidades, Descrição do papel Apresentação dos conceitos
Impactos do modelo distante, estratégico e normativo e elementos do DOTS
transformando efetivamente o território disperso e desconectado no Brasil do plano diretor
através de projetos urbanos. Adicionalmente, o
capítulo aponta os mecanismos e instrumentos
de financiamento que podem ser incluídos na
legislação urbana municipal para possibilitar a
Capítulo 4 Capítulo 5
IMPLEMENTAÇÃO
MANUAL PARA
concretização de projetos DOTS na cidade. DOTS no DOTS na cidade:
plano diretor do plano ao projeto
A publicação, portanto, está estruturada Detalhamento dos princípios Descrição dos instrumentos de
em duas partes. A primeira apresenta a territoriais e ações para o gestão e financiamento para
entorno do transporte coletivo concretização do DOTS
contextualização da questão urbanística no Brasil
e conceitos que definem o DOTS. A segunda Fonte: elaborado pelos autores.
traz as orientações sobre a implementação da
estratégia DOTS nos planos diretores. Essa
estrutura pode ser observada na Figura SE-4. a projetos relacionados à temática, buscando instrumentos urbanísticos existentes a favor
disseminar, por meio de publicações, capacitações do desenvolvimento sustentável. É preciso
O WRI Brasil tem realizado esforços para e suporte técnico às cidades, o conhecimento qualificar os planos diretores de forma a torná-
tornar o DOTS uma realidade nas cidades sobre o tema, contribuindo na construção de los peças de planejamento e gestão urbana mais
brasileiras. Em 2014, foi lançada a publicação cidades mais equitativas, justas e eficientes. eficazes, facilitando a implementação de projetos.
DOTS Cidades – Manual de Desenvolvimento Os princípios e ações apresentados auxiliam
Urbano Orientado ao Transporte Sustentável, Conclusões os gestores municipais e demais envolvidos na
estabelecendo os conceitos dessa estratégia e elaboração e revisão dos planos diretores de cidades
seus elementos de desenho urbano. O WRI Brasil A implementação do DOTS requer uma médias e grandes a adotarem o DOTS como a
vem atuando desde então em pesquisas e suporte regulação urbana eficiente que utilize os estratégia de planejamento da cidade.
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DOTS NOS PLANOS DIRETORES 19
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INTRODUÇÃO
Atualmente, 54% da população Essa urbanização, no entanto, trouxe impactos pré-industrial e busca continuar os esforços
mundial vive em centros urbanos negativos, principalmente no que diz respeito às para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC.
mudanças climáticas: hoje, 70% das emissões de Diversos líderes locais foram chamados para
(ONU, 2016) e a estimativa é que esse
gases de efeito estufa (GEE) são provenientes das a discussão, confirmando o protagonismo que
número atinja 75% no ano de 2050. cidades, contribuindo para o aquecimento global. as cidades devem assumir nesse processo.
Além disso, esse acordo instaurou um marco
Diante disso, diversas políticas têm se focado histórico ao reconhecer que as cidades têm papel
em medidas para o desenvolvimento urbano fundamental no combate às mudanças climáticas.
sustentável, buscando o equilíbrio entre
urbanização e preservação do meio ambiente. Além do Acordo de Paris, no mesmo ano de 2015,
Acordos internacionais são firmados entre os foi criada a Agenda 2030 da ONU, que apresenta
países para que a promoção do crescimento os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
econômico não comprometa as gerações futuras Por ser uma declaração global relacionada a
nem o futuro do planeta. O mais recente temáticas de sustentabilidade, alguns tópicos
acordo internacional assinado nesse sentido, não apresentam uma relação direta com a
o Acordo de Paris, tem como objetivo garantir questão urbana. No entanto, o Objetivo 11 –
que o aumento da temperatura do planeta não Cidades e comunidades sustentáveis confirma a
ultrapasse 2ºC em relação aos níveis da era relevância das cidades e comprova a importância
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Figura I-2 | DOTS como estratégia de planejamento que leva ao modelo de cidade 3C urbana municipal, destacando a importância do
desenvolvimento urbano integrado ao transporte
ESTRATÉGIA DOTS
como forma de evitar os deslocamentos,
principalmente aqueles por transporte individual
motorizado. A dimensão “Shift” é contemplada
através do incentivo à troca do transporte individual
pelos modos de transporte não motorizado e pelo
transporte coletivo, seja através da infraestrutura
PLANEJAMENTO DO REDE DE TRANSPORTE
USO E OCUPAÇÃO ou da melhor oferta dos serviços (Figura I-3). Além
COLETIVO
DO SOLO disso, a promoção de inovações tecnológicas, que
beneficiarão esses modos de deslocamento, deve ser
obtida na dimensão “Improve” ou seja, na melhoria
CIDADE 3C dos sistemas de transporte coletivo e da qualificação
Fonte: elaborado pelos autores. da infraestrutura para o transporte ativo.
Existem evidências de que é possível aliar crescimento O conceito conhecido como Avoid-Shift-Improve No contexto brasileiro, a Constituição Federal,
econômico ao desenvolvimento de baixo carbono (SUTP, 2011) (ou Evitar-Mudar-Melhorar) no ano de 1988, definiu que o plano diretor é o
e com maior qualidade de vida à população. O reforça a ideia da importância da mobilidade principal instrumento de planejamento urbano,
relatório Better Growth, Better Climate (NCE, 2014), urbana sustentável, ressaltando a necessidade de reconhecendo a importância dessa legislação
por exemplo, aponta que seria possível economizar integração entre as agendas da mobilidade e dos municipal. Em 2001, o Estatuto da Cidade
US$ 3 trilhões nos próximos 15 anos ao optar-se parâmetros de uso e ocupação do solo (RODE et (BRASIL, 2001) passou a regulamentar a política
por um desenvolvimento urbano mais sustentável. al., 2014). A aplicação do DOTS como estratégia urbana brasileira, definindo diretrizes relacionadas,
Ainda é complexo quantificar os benefícios gerados urbana contempla essas três dimensões. A principalmente, ao desenvolvimento urbano
por um desenvolvimento compacto, conectado e dimensão “Avoid” é viabilizada ao se minimizar sustentável, ao ordenamento do território e à
coordenado propiciado pelo DOTS, porém alguns a necessidade de deslocamentos, colaborando função social da cidade e da propriedade urbana
estudos apontam que as cidades prósperas do futuro na redução de emissões e trazendo outros (ROSSBACH e CARVALHO, 2010).
serão aquelas que investirem hoje em infraestruturas benefícios para a população. Assim, a mudança
e em um padrão de desenvolvimento social, com de paradigma do planejamento de transportes O Estatuto da Cidade já preconizava medidas
qualificação ambiental e economicamente sustentável passa pelo entendimento de que a agenda da para a garantia da sustentabilidade urbana. Esse
(FLOATER et al., 2014a; 2014b). mobilidade não pode estar desarticulada da política marco legal inovou ao reconhecer o “direito à
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de brainstormings, oficinas e seminários para demais atores envolvidos na elaboração e revisão simples, e a construção de um plano diretor com
discutir como implementar o DOTS no país. As desta legislação. A legislação urbana federal exige a estratégia DOTS é o primeiro passo para que
discussões envolveram mais de 150 pessoas dos que o plano diretor seja construído de forma projetos desse porte se materializem nas cidades
setores público e privado e da sociedade civil. O democrática e participativa, sendo necessário, brasileiras. Arranjos institucionais complexos,
guia também está baseado na experiência prática portanto, o envolvimento da sociedade civil e do longos prazos de implementação, financiamento e
do WRI Brasil no apoio direto às cidades, tanto na setor imobiliário na elaboração do plano diretor participação da comunidade são desafios a serem
execução de projetos urbanos como no processo e na compreensão da sua importância para o vencidos, mas os instrumentos urbanísticos que
de revisão de planos diretores. Esse processo de desenvolvimento urbano sustentável. podem contribuir para esse processo já existem,
pesquisa e validação com os atores permitiu a sendo necessário aplicá-los de maneira efetiva no
compreensão das barreiras e oportunidades para O DOTS busca fomentar o desenvolvimento território urbano.
avançar a agenda do DOTS e, principalmente, sustentável, com foco nas áreas próximas à
para torná-lo realidade. Como resultado, foi infraestrutura de transporte coletivo de grande
reconhecida a necessidade de implementá-lo na e média capacidade. Existem diversos desafios
regulação urbana, através dos planos diretores, a serem superados em termos de planejamento
para que se atingisse o objetivo de concretizar o e gestão urbana e diferentes agendas a serem
DOTS no território. Esse diagnóstico é o principal consideradas no planejamento de uma cidade.
motivador deste guia. Questões diretamente relacionadas à preservação
ambiental, à drenagem urbana, ao saneamento,
O Estatuto da Cidade determina que os planos bem como políticas de habitação de interesse
diretores municipais sejam revisados, pelo social, monitoramento de áreas de risco e gestão
menos, a cada dez anos; portanto é neste de recursos hídricos não necessariamente estarão
momento de avaliação e revisão dos instrumentos relacionadas aos eixos de transporte, no entanto,
de planejamento e gestão que as cidades têm elas devem ser planejadas a partir de outras
a oportunidade de adotar a estratégia DOTS, estratégias, complementares ao DOTS.
buscando maior eficiência do uso e ocupação do
solo urbano, proporcionando um crescimento É preciso que o plano diretor traduza um projeto
econômico e aumentando a qualidade de vida de cidade, funcionando como uma ferramenta que
de seus moradores. Assim, o público-alvo desta auxilie na qualificação do ambiente construído
publicação são técnicos e gestores municipais de e oriente os investimentos no território urbano.
médias e grandes cidades brasileiras, bem como Concretizar projetos de DOTS no território não é
A maior parte das grandes e médias Esse intenso crescimento ocorreu, muitas vezes, principalmente de saneamento e de transporte,
à margem do planejamento urbano, resultando que ainda hoje é deficiente em diversas áreas
cidades brasileiras concentrou seu
em cidades com uma forma urbana dispersa, urbanas. Esse modelo de crescimento resulta em
crescimento entre as décadas de
consequência de um planejamento do território que uma forma urbana dispersa com um sistema de
1950 e 1980, tendo sido os últimos não direcionou o crescimento de maneira adequada. transporte ineficiente, sendo denominado cidade
60 anos o grande período de 3D: distante, dispersa e desconectada. A
Essa forma urbana dispersa apresenta, cidade 3D apresenta uma configuração urbana
urbanização no Brasil (Figura 1.1).
geralmente, a separação de usos e funções da distante, com territórios periféricos muito
cidade, afastando a moradia das áreas de lazer, afastados do centro; dispersa, com núcleos
emprego, estudo e serviços. Esse distanciamento urbanos espalhados em todo o território; e
entre emprego e moradia aumenta a necessidade desconectada, ou seja, esses núcleos urbanos
e o tempo de deslocamento nas cidades e exige não estão bem conectados aos demais núcleos e
grandes investimentos em infraestrutura, ao centro da cidade.
60
55,92 ▪▪Dispersão da urbanização e seus efeitos
44,67 no distanciamento da moradia em relação aos
50
36,16 empregos. A dispersão da ocupação do território
40 31,24
por loteamentos formais e informais - tanto de
30
baixa quanto de alta renda - e por conjuntos
20
habitacionais para moradia da população de baixa
10
e média renda acabou distanciando a maior parte
0 Taxa de urbanização (%)
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010 da população das áreas de emprego, gerando
sobrecarga nos sistemas de transporte e maior
Fonte: elaborado pelos autores com dados do Censo 2010 - IBGE, 2010. dispêndio de tempo nos deslocamentos diários.
Muitas vezes, os investimentos em investimentos em infraestruturas do transporte ▪▪Maior prejuízo à população de baixa
infraestruturas, principalmente de transporte, individual sobre o coletivo, comprometendo renda, que leva mais tempo para circular
não estão alinhados aos instrumentos de a qualidade de vida da população usuária do na cidade e tem dificuldade de acesso à
planejamento e gestão urbana existentes, como serviço público. Elaboradas de forma setorial e moradia próxima do centro e das áreas
o plano diretor. Ações setoriais vinculadas às desarticuladas, essas políticas públicas colaboram com oferta de empregos e infraestrutura
políticas públicas acabam gerando esse desalinho na concretização da cidade 3D, cujos problemas por conta do encarecimento do solo
e o desperdício de recursos. Ainda, muitas podem ser resumidos em: urbano nessas áreas e da ineficiência do
dessas políticas têm se apoiado em premissas de transporte coletivo, entre outros fatores.
planejamento equivocadas sob o ponto de vista ▪▪Priorização do automóvel nas políticas
da forma urbana sustentável, com separação de mobilidade urbana, resultado de O Quadro 1.1 apresenta as principais características
das atividades e serviços no território urbano. um planejamento focado nesse meio de e dados desses três principais problemas no Brasil.
Além da frequente falta de articulação com transporte somado à falta de investimentos O Quadro 1.2 mostra a comparação entre o modelo
diretrizes de uso e ocupação do solo, nas políticas no transporte coletivo. O automóvel de cidade 3D (distante, dispersa e desconectada) e o
de mobilidade é comum haver a priorização de transporta menos pessoas, gera mais modelo 3C (compacta, conectada e coordenada).
28 WRICIDADES.ORG
Quadro 1.1 | Problemas relacionados à cidade 3D
O automóvel é o modo menos sustentável e de menor desempenho em termos de quantidade de pessoas transportadas e tempo de deslocamento. O carro transporta menos
passageiros do que o ônibus (1,5 passageiro em média, enquanto o ônibus transporta 36), polui mais por pessoa deslocada e é o modo mais lento em termos de velocidade
média (ônibus e bicicleta têm velocidade média de 20 e 21 km/h, enquanto um automóvel desloca-se, em média, a 14,1 km/h) (IPEA, 2011).
PRIORIZAÇÃO DO AUTOMÓVEL
A frota de veículos cresce mais que a quantidade de população nos centros urbanos. Enquanto a população brasileira nas grandes cidades cresceu cerca de 21,3%, entre 2003
e 2014, o aumento da frota veicular foi de 116% (ANTP, 2016).
A distância percorrida pelo passageiro do transporte coletivo é maior que a percorrida pelo passageiro do transporte individual. Além disso, o crescimento dessa distância
também foi superior no modo transporte coletivo (34%) do que no modo particular por automóvel (27%) (ANTP, 2016).
De 2003 a 2014, o crescimento no número de viagens no sistema de transporte coletivo (ônibus, trens e metrô) foi de 23% e, na opção de transporte por automóvel, foi de 30%
(ANTP, 2016).
O transporte é um dos principais causadores da poluição do ar das cidades brasileiras. O transporte individual por automóveis é responsável por 38% das emissões de CO2 nas
cidades (BRASIL, 2014). Sob o ponto de vista da forma urbana, existe uma relação entre forma urbana e emissões de CO2: enquanto Atlanta (EUA) ocupa uma área de 7.692 km²
e emite 6,9 toneladas de CO2 per capita, Barcelona (Espanha) ocupa uma área de 648 km² e emite 1,11 tonelada de CO2 per capita, ambas com, aproximadamente, 5 milhões de
habitantes (NCE, 2014).
O distanciamento entre o local de moradia e de emprego requer o deslocamento diário da população da periferia aos centros urbanos (ROGERS e GUMUCHDJIAN, 2001). Esse
deslocamento funciona como um movimento pendular, resultando em milhões de viagens diárias em longos percursos, que sobrecarregam os sistemas de transporte coletivo
e sistema viário, além de onerarem o serviço pela ociosidade da frota nos horários fora de uso.
DISPERSÃO DA URBANIZAÇÃO
Existe um desequilíbrio na oferta de infraestrutura e disparidade de densidades entre uma região e outra. Essa dispersão da urbanização acaba requerendo maior extensão
nos deslocamentos diários e consequentemente maior tempo de viagem. Brasília, por exemplo, apresenta uma distância per capita de 20 km até o centro; enquanto Curitiba,
que tem um planejamento baseado na integração do uso do solo e infraestrutura de transporte, apresenta uma distância per capita ao centro de 7 km (Observatório das
Metrópoles, 2015).
A urbanização e a qualificação de bairros e regiões centrais da cidade são realizadas de forma assimétrica, encarecendo o solo urbano nas áreas próximas aos locais de
emprego e fazendo com que pessoas de baixa renda tenham que buscar moradia em locais mais baratos, muitas vezes distantes do centro da cidade.
Existe um custo social relacionado ao tempo perdido no trânsito devido à ocupação dispersa. Quase 20% dos trabalhadores em regiões metropolitanas brasileiras gastam
mais de uma hora por dia no deslocamento casa-trabalho (IPEA, 2013).
POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA
A prevalência do transporte individual, a precariedade do transporte coletivo e o aumento do congestionamento são consequências que atingem diretamente a população de
renda mais baixa e vulnerável das grandes cidades. Em muitas cidades brasileiras, como no Distrito Federal, Curitiba e Belo Horizonte, o tempo médio de deslocamento diário
MAIOR PREJUÍZO À
dos 10% mais pobres chega a ser 50% maior do que o tempo gasto em deslocamentos pelos 10% mais ricos (IPEA, 2013).
Conforme aumenta a renda, maior o uso do transporte individual e menor o do transporte coletivo. Assim, com a ineficiência do serviço de transporte coletivo, em função
de falhas operacionais e linhas não implantadas, insuficientes e sobrecarregadas nos sistemas de alta e média capacidade, a população de baixa renda, maior usuária do
transporte coletivo, é a mais prejudicada.
30 WRICIDADES.ORG
Quadro 1.2 | Comparação entre os modelos de cidade 3D e 3C
MANCHA URBANA MALHA VIÁRIA TERRITÓRIO MEIO DE TRANSPORTE DENSIDAdES CENTRALIDADES EQUIDADE
O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) define ▪▪Ordenamento do uso do solo com base
um conjunto de diretrizes gerais para a política nos princípios de capacidade de suporte
urbana, especialmente no que se refere ao do território, de racionalidade do uso do
cumprimento das funções sociais da propriedade solo, de equilíbrio das funções urbanas e
e da cidade. Tais diretrizes estão relacionadas aos ambientais e ampliação do acesso à terra
seguintes aspectos principais: urbanizada a todos os segmentos sociais.
QUAIS CIDADES DEVEM FAZER? QUAIS OS CONTEÚDOS MÍNIMOS? se que essa legislação não evidencia o potencial
da mobilidade urbana na estruturação urbana das
cidades, especialmente nas grandes aglomerações
Com mais de 20 mil habitantes; Estabelecer diretrizes e instrumentos para o
urbanas e nas regiões metropolitanas. Embora
cumprimento da função social da propriedade,
Integrantes de regiões metropolitanas em atendimento às disposições do Estatuto o Estatuto da Cidade preveja um detalhamento
e aglomerações urbanas; da Cidade; dessa temática, é essencial que os planos diretores
atentem para a importância da mobilidade
Integrantes de áreas de especial Conter a delimitação das áreas urbanas onde
interesse turístico; urbana no planejamento do território urbano.
poderão ser aplicados o parcelamento,
a edificação ou a utilização compulsórios, Nos casos em que o plano de mobilidade urbana
Inseridas na área de influência de considerando a existência de infraestrutura já existir, ele deve estar de acordo com a Política
empreendimentos ou de atividades com e de demanda para utilização; Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e deve
significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional; ser compatibilizado e revisado de acordo com as
Conter as disposições necessárias para
aplicação dos instrumentos previstos políticas territoriais previstas para o município
Incluídas no cadastro nacional de municípios no Estatuto da Cidade; em questão. O Box 2.1 apresenta a relação entre
com áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações o Estatuto da Cidade e as diretrizes estabelecidas
Conter um sistema de acompanhamento
bruscas ou processos geológicos e controle;
pela PNMU.
ou hidrológicos correlatos.
Ser aprovado pela Câmara Municipal, abranger
todo o território do município e ser revisto, pelo
menos, a cada dez anos;
36 WRICIDADES.ORG
O Estatuto permite que cada município
estabeleça de forma própria a sua estratégia de
Box 2.1 | O ESTATUTO DA CIDADE E A POLÍTICA DE MOBILIDADE URBANA desenvolvimento urbano, bem como a definição
do conceito de função social da cidade e da
propriedade e os instrumentos a serem utilizados
O Estatuto da Cidade determina que é papel do plano diretor • O pedestre é o elemento central.
para sua viabilização. Desta maneira, torna-se
definir diretrizes para planos setoriais, como o plano de mobilidade
• O transporte público coletivo prevalece sobre o transporte evidente que a definição da estratégia municipal
urbana. Passados 11 anos da criação do Estatuto da Cidade, a Lei
individual, com custos acessíveis à população. de desenvolvimento urbano fica a critério do
12.587/2012 (Art. 6º), que instituiu a Política Nacional de Mobilidade
município.
Urbana (PNMU), trouxe duas diretrizes que relacionam essas duas • A integração dos modos de transporte existe e oferece
agendas urbanas, confirmando a importância de um planejamento conforto e segurança aos usuários.
No entanto, devido a lacunas técnicas do poder
integrado. São elas:
• Os modos de transporte não motorizados prevalecem público em atuar efetivamente como gestor e
I - integração com a política de desenvolvimento urbano e respectivas sobre os motorizados. planejador, o plano diretor, em muitos casos,
políticas setoriais de habitação, saneamento básico, planejamento tornou-se apenas uma legislação obrigatória a
• Os modos de transporte não poluentes prevalecem
e gestão do uso do solo no âmbito dos entes federativos; ser elaborada, deixando de exercer sua função
sobre os poluentes.
principal: ser um instrumento de planejamento
II - priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores
• A forma urbana das cidades proporciona a maior racionalização urbano efetivo, com uma visão de longo prazo,
do território e indutores do desenvolvimento urbano integrado.
da circulação de pessoas e cargas, com redução da necessidade capaz de apontar os caminhos para a solução de
Isso demonstra que as diretrizes da PNMU têm como e da extensão dos deslocamentos. diversos problemas urbanos enfrentados hoje. Em
primeira medida a necessidade de integração da política de muitos casos, em decorrência de uma legislação
As premissas de mobilidade urbana sustentável são elementos urbana ineficiente, a política territorial de uma
desenvolvimento urbano com os meios de deslocamento nas
que devem complementar os fundamentos dos planos diretores cidade, ainda, acaba sendo balizada pelo interesse
cidades, com destaque para o planejamento e a gestão do solo
em suas futuras revisões, principalmente na sua dimensão imobiliário, deixando de ser elaborada a partir do
urbano. Essas diretrizes determinam, ainda, não somente
estratégica de estruturação urbana, considerando a incidência interesse do setor público e da sociedade em geral.
as prioridades e integrações dos diversos modos de transporte,
dos demais instrumentos urbanísticos. Articular o desenvolvimento
mas também a consequente mitigação de seus custos ambientais,
da cidade ao transporte é, portanto, uma prioridade na promoção
de forma a promover a mobilidade urbana sustentável,
de politicas públicas voltadas à mobilidade, sendo uma
que apresenta as seguintes características:
oportunidade para a aplicação da estratégia DOTS.
Para se desenvolver de maneira sustentável, para a existência de um consumo de recursos é por meio dele que é possível definir uma
as cidades brasileiras precisam abandonar o desnecessário, tanto econômicos quanto articulação entre as normativas urbanísticas
modelo de crescimento circunstancial e passar a ambientais, resultante de um planejamento de uso e ocupação do solo e a política de
efetivamente adotar um planejamento territorial urbano ineficiente ou desarticulado, como gastos mobilidade urbana municipal. É fundamental
integrado, articulando as agendas urbanas desnecessários em infraestrutura, que resultam que o plano diretor municipal assuma tanto um
de mobilidade e de uso e ocupação do solo. É em degradação de áreas verdes e aumento da papel estratégico quanto normativo, atuantes
preciso ter a clareza dos múltiplos benefícios segregação social. de maneira articulada no território urbano,
que um planejamento urbano robusto pode apresentados na Figura 2.1.
trazer, considerando as diferentes complexidades O plano diretor é essencial para o planejamento
do território urbano. Deve-se atentar, ainda, da expansão e desenvolvimento da cidade e
papel estratégico
Estabelece princípios relacionados à sustentabilidade urbana,
com diretrizes para o crescimento, planejamento do território
e uso eficiente das infraestruturas. O DOTS é uma estratégia
PLANO que visa garantir o desenvolvimento urbano sustentável.
40 WRICIDADES.ORG
Figura 2.2 | Plano diretor de Curitiba (cont.) 2.2.2 A influência do
papel normativo do plano
diretor
42 WRICIDADES.ORG
que diz respeito ao transporte ativo. Normativas Figura 2.4 | Parâmetros urbanísticos que regulam volumetria, uso e ocupação do solo
urbanísticas estabelecidas pelo plano diretor
são capazes de fazer uma cidade ser mais taxa de ocupação: uso: define as atividades
define o equilíbrio entre a serem instaladas
atraente para caminhar e pedalar. Parâmetros de
espaços construídos na edificação
densidades mínimas e a exigência de fachadas e vazios no lote
ativas, asseguram uma relação direta dos altura máxima:
define a quantidade
prédios com a rua, por exemplo. Isso aliado a um de pavimentos
zoneamento que incentive a mistura de funções
urbanas, aproximando as áreas de moradia,
empregos, serviços e lazer, tendem a produzir um
ambiente urbano mais favorável para o pedestre e ausência de recuo frontal:
permite melhor interface com
o ciclista, reduzindo a dependência do transporte
o passeio público
motorizado individual (Figura 2.5).
44 WRICIDADES.ORG
permite a integração entre mobilidade e uso do solo necessária O plano diretor municipal como instrumento de
para o desenvolvimento sustentável das cidades. regulamentação de Ruas Completas
O conceito de Rua Completa defende a redistribuição do A adoção do conceito de Ruas Completas pode começar pela
espaço viário para promover a sustentabilidade ambiental e integração de uma política de Ruas Completas ao planejamento
as interações interpessoais, desafiando algumas percepções urbano. O plano diretor pode prever tipos de vias e definir perfis
comuns sobre a mobilidade. Para isso, propõe a definição dos viários a partir do conceito de Ruas Completas, tendo como
perfis viários com base na priorização da acessibilidade de base a visão da rua como espaço público e não somente de
pedestres, ciclistas e usuários do transporte coletivo, tendo circulação. Diretrizes desse tipo, previstas nos planos diretores,
em vista a identidade local e o contexto da área onde a rua se têm o potencial de influenciar o desenho de projetos futuros,
localiza. Um exemplo de aplicação do conceito são as avenidas sejam eles de novas vias em loteamentos ou de requalificação
Paraná e Santos Dumont, na região central de Belo Horizonte, de vias existentes. Essa estratégia se integra aos elementos de
que foram reestruturadas para adequar o fluxo de tráfego ao uso desenho urbano do DOTS que serão vistos no Capítulo 3.
do solo.
O planejamento deve ser um processo adotando uma estratégia de planejamento que incentive o crescimento urbano sustentável a
contínuo, portanto, ao desenvolver a revisão segue os princípios do DOTS (Figura 2.6). longo prazo. Em muitos casos, pode ocorrer uma
do plano diretor, tem-se uma oportunidade descaracterização do planejamento urbano por
de compatibilizá-lo aos planos setoriais e Além de prever a participação de ampla parcela interesse político e imobiliário, ou mesmo por
metropolitanos que vêm sendo desenvolvidos, da sociedade, é fundamental introduzir no falta de compreensão da importância de um plano
como os Planos de Desenvolvimento Urbano processo de revisão do plano diretor o debate orientador para a cidade5.
Integrado – PDUI - no caso de municípios sobre os problemas existentes e as soluções
inseridos nas regiões metropolitanas - de acordo relacionadas para a construção de uma cidade
com o Estatuto da Metrópole (Lei Federal sustentável. Como principal legislação urbana
13.089/15); e os planos de mobilidade urbana, de um município, o plano diretor deve prever
de acordo com a Política Nacional de Mobilidade os meios institucionais necessários à sua efetiva
Urbana (Lei Federal 12.587/12) (BRASIL, 2012; implementação, execução, continuidade e
2015). Esse momento é, também, uma oportunidade necessidade de revisão. É preciso atentar, ainda,
para cidades médias e grandes revisarem seus planos que as estratégias adotadas na revisão do plano
diretores a partir de estratégias de desenvolvimento diretor podem vigorar pelos próximos dez anos
urbano baseadas no DOTS. e, por isso, é fundamental o acompanhamento
desde a elaboração do plano até o processo de
O plano diretor de São Paulo foi revisado no ano aprovação da lei municipal, de maneira a se
de 2014 e definiu eixos de transformação urbana,
4
desenvolver uma estratégia consistente que
46 WRICIDADES.ORG
Figura 2.6 | Plano diretor estratégico de São Paulo, eixos de estruturação da transformação urbana baseados no DOTS
O reconhecimento do plano diretor Entretanto, ainda existe uma grande lacuna a Estratégias baseadas na integração de diferentes
como instrumento fundamental ser preenchida com relação à forma de aplicação dimensões do planejamento urbano, como o
e qualificação das estratégias e normativas uso do solo, a mobilidade, o meio ambiente e
para direcionar o desenvolvimento
propostas pelos planos diretores. a habitação, ainda são relativamente novas no
urbano foi um avanço importante espectro do planejamento urbano brasileiro. A
trazido pelo Estatuto da Cidade Originalmente, o DOTS é um conceito de falta de alinhamento entre os planos diretores
desde o início dos anos 2000. desenho urbano integrado, no entanto, ao ser e os planos setoriais é ainda um problema. O
tratado como uma estratégia de planejamento, DOTS atua essencialmente na aproximação
promove uma visão clara de crescimento urbano entre mobilidade e planejamento urbano,
compacto e conectado, podendo representar um podendo se tornar um catalisador da
aperfeiçoamento para os planos diretores. Essa transformação urbana necessária para o
legislação, por sua vez, pode determinar um desenvolvimento sustentável, a partir dos
compilado de normativas para a futura aplicação eixos e estações de transporte coletivo.
do DOTS no território.
O Desenvolvimento Orientado ao
O DOTS promove áreas urbanas compactas e
Transporte Sustentável – DOTS - é • O DOTS é uma estratégia de planejamento para atingir o com densidades adequadas à realidade onde é
uma estratégia de planejamento modelo de cidade 3C: compacta, conectada e coordenada. inserido, nas áreas próximas a eixos ou estações
de transporte de alta ou média capacidade. Essa
urbano que busca integrar o uso e
• A estratégia DOTS deve ser implementada por órgãos integração permite oferecer às pessoas uma
ocupação do solo e a infraestrutura públicos locais ou regionais, articulada ao setor privado e à diversidade de usos, serviços, além de acesso
de transporte coletivo. Essa sociedade civil. a oportunidades de emprego, lazer, habitação
articulação é uma estratégia e espaços públicos, todos a uma distância
• O DOTS, se executado de maneira integrada às diversas caminhável das conexões de mobilidade,
urbana com grande potencial para
agendas setoriais das cidades, pode reverter parte favorecendo a interação social.
a construção de cidades mais significativa dos problemas urbanos existentes.
eficientes e prósperas, atingindo A área de influência da estratégia DOTS consiste
a sustentabilidade nos aspectos • A adoção da estratégia DOTS começa na etapa de em uma distância considerada caminhável, cerca
planejamento, através de uma regulação urbana que de 15 minutos de caminhada (WRI Brasil, 2017a).
econômico, social e ambiental6.
o promova. A sua implementação efetiva, entretanto, Essa distância, quando medida linearmente, é de
dependerá do desenvolvimento de projetos de DOTS. No 500 m a 1000 m a partir de eixos de transporte
capítulo 5, estão detalhadas estas duas escalas: escala de rodoviário (ônibus, BRTs ou BHLS) ou um raio
planejamento e escala de projeto urbano. de 500 m a 1000 m no entorno de estações de
metrôs e trens7.
500 m a 1000 m
(em português DOTS – Desenvolvimento Orientado
equipamentos públicos dentro de uma distância caminhável
ao Transporte Sustentável) surgiu com a publicação
ao transporte coletivo;
de Peter Calthorpe chamada “The Next American
Metropolis”, lançada em 1993. Engajado aos movimentos • criar ruas amigáveis ao pedestre com conexões diretas a
atividades do bairro;
Assim, com esses objetivos, os componentes-chave • incentivar a ocupação de vazios e a requalificação urbana
do DOTS, nessa primeira definição de Calthorpe, são ao longo de corredores de transporte coletivo dentro de
(DITTMAR; BELZER; AUTLER, 2004): bairros existentes.
500 m a 1000 m
52 WRICIDADES.ORG
Existem desafios que precisam ser enfrentados Figura 3.2 | Quatro dimensões da estruturação do DOTS
para a implementação efetiva da estratégia
DOTS no contexto de uma cidade. Além de É a dimensão do ambiente construído da cidade. Para uma Diz respeito à estruturação financeira que tornará o projeto de
demandar o envolvimento de diversos atores da transformação urbana qualificada, é necessária a elaboração de DOTS viável, tanto para sua execução quanto para sua
projetos urbanísticos que contribuam para a construção de uma manutenção. O financiamento do projeto deve ser pensado
sociedade, como o setor público, setor privado e
paisagem urbana agradável com elementos e mobiliários considerando todos os elementos do DOTS que necessitam, de
população em geral, é preciso compreender que urbanos de qualidade e com acessibilidade universal, alguma forma, de recursos financeiros, públicos ou privados.
o DOTS não pode ser implementado apenas com baseando-se nos elementos DOTS que influenciam na paisagem Ainda, é fundamental que o financiamento se beneficie de uma
medidas de desenho urbano ou visando somente urbana. regulação urbana que forneça instrumentos suficientes para a
viabilização de projetos.
à sustentabilidade econômica de um projeto de
transformação urbana. Uma regulamentação
urbana bem estruturada é fundamental para a
implantação do DOTS, com interdependência
entre outras três dimensões, pensadas em
DESENHO URBANO FINANCIAMENTO
conjunto no desenvolvimento da estratégia;
DOTS
são elas: os mecanismos de financiamento, a
governança e o desenho (Figura 3.2).
54 WRICIDADES.ORG
3.2
ELEMENTOS
Figura 3.3.
ESPAÇOS PÚBLICOS
E INFRAESTRUTURA
VERDE
GESTÃO DO USO DO
AUTOMÓVEL
Fonte: elaborado pelos autores.
DE QUALIDADE
É o elemento central para um projeto Busca estabelecer medidas para otimizar o uso do transporte individual motorizado,
Estimula a criação de policentralidades e áreas com diversidade de atividades,
de DOTS. Pode ser existente ou complementando as ações de incentivo ao uso dos transportes coletivo e ativo. Em
como moradias, mercados, escritórios, lojas, restaurantes, cafés, pequenos
previsto, sendo essencial que seja comércios e outros usos que proporcionam a vitalidade urbana de uma região, de geral, envolve a adoção de medidas como: restrições de áreas de estacionamento,
um eixo ou uma estação de modo a otimizar o uso do solo urbanizado. Busca evitar grandes deslocamentos taxação do congestionamento, programas de compartilhamento de veículos e/ou
transporte coletivo de média e/ou cotidianos e reduz a dependência do transporte individual motorizado. Além disso, bicicletas e estímulo à carona, entre outros. Este elemento busca reverter o
alta capacidade, apresentando uma USO MISTO GESTÃO DO USO paradigma de uso e de ocupação dos automóveis no ambiente urbano e suas
auxilia no crescimento econômico na escala local e, com a redução de distâncias
DO SOLO DO AUTOMÓVEL
infraestrutura de qualidade, com entre habitação, emprego, serviços e lazer, incentiva o transporte ativo como consequências na perda de qualidade dos espaços públicos das cidades,
incremento no número de viagens e principal forma de deslocamento dentro da área urbana. estimulando a mudança para meios de transporte mais sustentáveis.
serviço eficiente. A partir da
articulação deste elemento com os
demais descritos a seguir, será
possível um desenvolvimento urbano
Incentiva a implantação de empreendimentos com diversidade no padrão de
cujos impactos irão além da Visa à implantação de infraestruturas que favorecem a circulação de pedestres e
moradia. Em geral, as cidades apresentam uma segregação territorial, com a
melhoria em mobilidade urbana. ciclistas nos deslocamentos diários. Este elemento prevê a criação, ampliação,
população de baixa renda ocupando as áreas periféricas. Isso resulta em grandes
alargamento e reformulação de calçadas, calçadões, ciclovias, ciclofaixas,
distâncias em relação aos locais de emprego e consequentes movimentos
bicicletários e outras estruturas para estimular os meios de transporte ativos, de
pendulares diários, além de menor acesso às infraestruturas urbanas, incluindo a
forma integrada com o transporte coletivo. Além da infraestrutura, é fundamental a DIVERSIDADE
TRANSPORTE ATIVO de transporte coletivo. A promoção de diversidade de renda dentro da área urbana
PRIORIZADO garantia de um ambiente urbano que favoreça a relação do espaço privado com o DE RENDA consolidada contribui para a justiça social, aproximando as pessoas às áreas com
espaço público, tornando o ambiente urbano mais convidativo para o transporte
oferta de transporte coletivo, além de oferecer mais oportunidades de emprego,
ativo, com a previsão de térreos comerciais e fachadas ativas.
lazer e moradia.
56 WRICIDADES.ORG
Além desses elementos, o Box 3.2 apresenta dois
elementos considerados complementares, que
auxiliam na qualificação da transformação urbana
orientada pelo DOTS.
O DOTS, quando implementado de maneira coordenada, área dentro da cidade, é possível estabelecer medidas que
contando com os elementos anteriormente citados, tem o incentivem a construção de novas edificações mais eficientes.
poder de transformar um território urbano. No entanto, existem No entanto, é preciso atentar para uma transformação urbana
outros dois elementos que, apesar de não serem considerados que não descaracterize totalmente uma área que já possua
fundamentais para a implementação de um projeto de DOTS, identidade local, especialmente em regiões que apresentam
são muito relevantes para a construção de uma cidade mais edificações históricas.
sustentável. São eles: edificações sustentáveis, relacionadas à
importância da eficiência energética e desempenho térmico das • Identidade e patrimônio. Visa à adoção de medidas que,
edificações; e identidade e patrimônio, relacionados à ideia de mesmo passando por um processo de renovação urbana,
caráter e valores locais. valorizem a identidade local do território e, na existência
de patrimônio histórico, incentivem a preservação dessas
• Edificações sustentáveis Prevê a construção de edifícios edificações. É fundamental ter conhecimento do entorno do
que incorporem medidas para aumento da eficiência eixo ou da estação de transporte e entender quais são as
energética e redução de impactos ambientais, tais como dinâmicas sociais e culturais de um determinado ambiente
telhados, fachadas verdes e painéis solares. Como a urbano, a fim de realizar uma transformação urbana que não
implantação de projetos de DOTS ocorre em áreas de prejudique a população local, proporcionando melhorias
transformação urbana, o que implica a renovação urbana sociais, econômicas e ambientais, principalmente em casos
de uma área existente ou o desenvolvimento de uma nova de áreas urbanas degradadas.
O DOTS deve sempre estar estruturado considerando as equivocada, pois não apresentam o nível de integração de • a estruturação de um planejamento urbano ou projeto
dimensões do desenho, do financiamento, da legislação urbana políticas e de elementos urbanísticos necessários. Em virtude específico que visualize, na estratégia do DOTS, apenas uma
e da governança. O DOTS não articula apenas políticas de disso, é importante destacar o que não é considerado DOTS: fonte de aumento do potencial construtivo das edificações;
transporte com políticas de uso do solo, articula também essas
políticas considerando a qualidade do ambiente construído, • medidas de planejamento e incentivos urbanísticos que • um projeto urbano que tenha previsão de utilizar o terreno de
promovendo o desenvolvimento urbano sustentável. Muitas busquem apenas o adensamento, (populacional ou construtivo) uma estação para o desenvolvimento de um empreendimento
vezes alguns projetos são classificados como DOTS de forma próximo a uma infraestrutura de transporte coletivo; imobiliário, isolado do desenvolvimento urbano do entorno.
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3.3
Escalas de atuação: plano e projeto
Figura 3.5 | DOTS no plano diretor e no projeto urbano
O DOTS envolve diretamente três grupos de atores, cada um ônus decorrentes do processo de urbanização e pela recuperação Os benefícios trazidos pelo DOTS, como redução no tempo
desenvolvendo um papel específico: dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a de deslocamento entre moradia e trabalho, áreas de lazer
valorização de imóveis urbanos. No entanto, o setor público não qualificadas e ambientes urbanos saudáveis, têm impacto direto
• Gestores públicos
possui a capacidade de investir em tudo que a cidade precisa, na vida da população, ou seja, nos moradores e usuários de uma
• Agentes imobiliários
portanto deve propor alternativas, como potencializar uma região da cidade. São eles os principais interessados em viver
• Moradores/usuários, universidades e sociedade civil
infraestrutura de transporte. com qualidade de vida, portanto a participação da sociedade
organizada
civil na elaboração do planejamento urbano é fundamental para
A gestão pública tem papel essencial na implementação do O papel do setor imobiliário será de desenvolver novos orientar as tomadas de decisões.
DOTS, visto que o poder público é o agente responsável empreendimentos na região, portanto é ele quem atuará sob as
pela provisão de infraestrutura urbana e pela regulação do definições e regramentos estabelecidos no planejamento da cidade.
uso e ocupação do solo urbano, princípios básicos para o É fundamental que o mercado imobiliário compreenda que a
desenvolvimento de um projeto de DOTS. Como prevê o Estatuto construção de um território que utiliza a infraestrutura pública de
da Cidade, o poder público, por intermédio da elaboração do maneira mais eficiente traz benefícios para todos. Além disso, é o
plano diretor e da legislação urbanística dele decorrente, é ator responsável diretamente pelo desenvolvimento de projetos que
responsável pelo cumprimento das funções sociais da cidade e estabelecerão a relação entre as áreas públicas e privadas.
da propriedade urbana, pela justa distribuição dos benefícios e
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DOTS NOS PLANOS DIRETORES 61
62 WRICIDADES.ORG
CAPÍTULO 4
DOTS no plano diretor
A estratégia DOTS é composta por No entanto, é preciso adotar essa estratégia urbano municipal de forma a incorporar a
na regulação urbana municipal, com estratégia DOTS na legislação urbana.
elementos que contribuem para
o objetivo de possibilitar que projetos
a construção de cidades mais
urbanísticos se concretizem no território Os princípios, ao se desdobrarem em diretrizes e
sustentáveis. da cidade, levando a um desenvolvimento medidas normativas, têm como objetivo orientar
urbano que, concomitantemente, promova o desenvolvimento urbano para uma cidade
equidade social, sustentabilidade ambiental mais compacta, conectada e coordenada (cidade
e desenvolvimento econômico. 3C). É a partir da incorporação dos princípios
que será possível implementar as ações a serem
Assim, para incorporar a estratégia DOTS no realizadas nos eixos e estações de transporte,
plano diretor, foram definidos 3 princípios atuando de forma articulada e estratégica com o
a serem adotados na escala territorial da planejamento urbano territorial (Figura 4.1).
cidade e 8 ações a serem realizadas no
entorno de eixos e estações de transporte
coletivo. Cada princípio e cada ação
apresentam diretrizes e medidas normativas
a serem incorporadas no planejamento
64 WRICIDADES.ORG
4.1
Princípios para a cidade 3C
1 COMPACTO
O CRESCIMENTO URBANO
PRINCÍPIO
O marco regulatório deve estabelecer os a área urbana. Já a gestão coordenada nas
instrumentos urbanísticos necessários à promoção cidades ocorre por meio da adoção de medidas
do modelo de cidade 3C (compacta, conectada normativas que promovem a gestão social da
e coordenada), o qual tem, no DOTS, sua valorização da terra, o aumento da densidade
2 CONECTADA
principal estratégia. populacional e construtiva e a reversão, para a
coletividade, da valorização imobiliária gerada
A INFRAESTRUTURA
PRINCÍPIO
Ao nos referirmos à cidade compacta, por por essas ações.
exemplo, essa pode ser implantada através de
instrumentos urbanísticos para o adensamento no Para atingir os objetivos da cidade 3C, os planos
entorno da infraestrutura de transporte coletivo, diretores devem, portanto, adotar 3 princípios de
3 COORDENADA
o combate aos vazios urbanos, a diversificação do ordenamento territorial:
A GESTÃO
PRINCÍPIO
padrão social e o controle do perímetro urbano.
A desejada conectividade do território é alcançada
com a eficiência no uso das infraestruturas
urbanas, a continuidade do tecido urbano e
a redução da necessidade de deslocamentos
motorizados, promovendo a mescla de usos e a
criação de centralidades distribuídas em toda
Diretrizes e medidas normativas A cidade compacta é o resultado da concentração intensificar a ocupação de áreas que já dispõem
de pessoas e atividades em áreas específicas de infraestrutura urbana, serviços e empregos.
relacionadas ao controle da
produzindo uma cidade menos espraiada.
dispersão e qualificação da expansão
Isso ocorre por medidas normativas que, Ao mesmo tempo, é importante controlar a
urbana. Tem como base a regulação conjuntamente com uma gestão consciente na dispersão da urbanização no território de modo
do adensamento populacional e delimitação do perímetro urbano, interfiram na a evitar a degradação ambiental e os longos
lógica da urbanização dispersa. Outras medidas deslocamentos da população. É fundamental
construtivo ao longo dos eixos de
para o crescimento urbano compacto definem os induzir e consolidar o crescimento da cidade
transporte coletivo, a diversificação
lugares para uma ocupação mais intensa, como os para as áreas onde há infraestrutura disponível.
do padrão social e o controle do territórios vinculados aos eixos de infraestrutura, Compactar a cidade em torno dos eixos de
perímetro urbano, otimizando o qualificando a mobilidade e reduzindo a transporte coletivo, aumentando o potencial
necessidade de deslocamentos motorizados construtivo disponível nessas áreas, considerando
território com disponibilidade de
cotidianos. Medidas de controle da dispersão do a demanda e a dinâmica da cidade e combatendo
infraestrutura.
território não significam conter o crescimento. a existência de vazios urbanos, evita a expansão
O objetivo é justamente planejar a maneira da mancha urbanizada e qualifica o modo como a
como esse crescimento acontecerá, evitando cidade se desenvolve.
ocupações dispersas no território e buscando
66 WRICIDADES.ORG
Figura 4.2 | Diretrizes para o crescimento urbano compacto
territórios com forte presença Quando for necessária, de fato, a expansão do perímetro
de terreno máxima por unidade habitacional. Além
disso, é essencial considerar o desenvolvimento de
de infraestrutura urbana, urbano, ela deve atender às exigências do Artigo 42b,
previsto no Estatuto da Cidade. Além disso, devem-
empreendimentos com diferentes padrões de moradia,
a adequada provisão de equipamentos, serviços e Combater os vazios urbanos nas áreas providas de
transporte coletivo, com um infraestruturas, principalmente de transporte público infraestrutura, serviços urbanos e empregos, por
perímetro urbano delimitado coletivo, além de normas que garantam o adensamento meio da aplicação do Parcelamento, Edificação
de modo compatível com a capacidade de suporte da ou Utilização Compulsórios (PEUC) e do IPTU
de maneira estratégica. infraestrutura e também a diversidade social. progressivo no tempo9, a fim de otimizar a ocupação
do território e contribuir para evitar o espraiamento
Priorizar o adensamento populacional e construtivo em
da mancha urbana.
áreas com disponibilidade de equipamentos, serviços
68 WRICIDADES.ORG
DOTS NOS PLANOS DIRETORES 69
Princípio territorial 2:
Centralidades e Infraestruturas Conectadas
Diretrizes e medidas normativas para A combinação entre áreas de moradia, emprego, A cidade conectada é alcançada por duas linhas
serviços e lazer busca suprir as demandas de ação. Por um lado, o plano diretor deve prever
aumentar a eficiência no uso das
dos habitantes dentro do território urbano, uma regulação do uso do solo que gere a mescla
infraestruturas urbanas e reduzir a resultando em uma cidade mais conectada, de funções urbanas e o adensamento populacional
necessidade de deslocamentos, através policêntrica e dinâmica, reduzindo a dependência e construtivo, atentando para o controle de
da mescla de usos em toda a área de deslocamentos motorizados no cotidiano incomodidades e adequação do adensamento
e, quando necessário, incentivando que à capacidade de suporte das infraestruturas.
urbana, da criação de centralidades
eles ocorram via transporte ativo e coletivo. Por outro, prever um plano de infraestrutura
e da estruturação de um sistema de O equilíbrio entre a oferta de empregos e na direção de universalizar a oferta de serviços
infraestruturas de transporte com de moradia nas cidades ocorre através do urbanos em toda a cidade e de priorizar a matriz
atendimento à totalidade do território. incentivo ao uso misto nos diversos bairros, de mobilidade urbana sustentável (prevalência
contribuindo para diminuir não só a distância do transporte público coletivo e do transporte
entre as centralidades e a sua periferia, mas, ativo em detrimento do transporte motorizado
principalmente, a frequência e extensão nos individual) considerando a forma urbana compacta.
deslocamentos diários.
70 WRICIDADES.ORG
Figura 4.3 | Diretrizes para centralidades e infraestruturas conectadas
! ! ! !!!
incentivando o transporte do serviço de transporte para toda população. como ruídos e outras interferências, em áreas definidas
Caso a cidade já tenha desenvolvido seu plano de com uso misto. É importante, ainda, prever incentivos
ativo e coletivo, sem deixar mobilidade, ele deve ser associado ao plano diretor. para mitigar impactos urbanísticos e a sobrecarga na
incomodidades.
72 WRICIDADES.ORG
DOTS NOS PLANOS DIRETORES 73
Princípio territorial 3:
A Gestão Coordenada
Diretrizes e medidas normativas para Pode-se denominar “gestão social da valorização básico único em toda a área urbana e a previsão
a gestão social da valorização da terra. da terra” o conjunto de medidas realizadas de outorga onerosa do direito de construir para
pelo Poder Público Municipal, em especial a todo potencial adicional a ser permitido na
O objetivo é fazer com que parte da
regulação e a implementação de instrumentos área de intervenção de projetos urbanísticos.
valorização imobiliária gerada pela urbanísticos e fiscais que identificam, recuperam A utilização de maiores coeficientes de
implantação de infraestruturas e pelo e distribuem à coletividade parte da valorização aproveitamento somente seria permitida, e
aumento da densidade, do potencial imobiliária gerada por obras e investimentos mesmo incentivada, em zonas com previsão de
públicos e pelas normas de parcelamento, uso maior crescimento urbano. Assim, é preciso
construtivo e das atividades na área,
e ocupação do solo. Tais medidas são legítimas legitimar a ideia de que o potencial construtivo
via normas urbanísticas, seja revertido e devem ser adotadas pelos gestores públicos é um ativo que pertence ao poder público e,
em melhorias à coletividade. Ao mesmo em prol do desenvolvimento urbano. Ao mesmo portanto, deve ser gerido por ele, fundamentado
tempo, devem-se explorar medidas de tempo, é uma maneira de o Poder Público nos interesses de toda a população.
Municipal dispor de recursos para contribuir
indução do desenvolvimento econômico e
no financiamento da infraestrutura, melhorias e Ao mesmo tempo, para induzir o desenvolvimento
imobiliário junto às áreas de infraestrutura equipamentos, fazendo com que parte do efeito urbano, a regulamentação da outorga onerosa
nos territórios prioritários para o da valorização da terra, em vez de ser capturado do direito de construir pode prever isenções
desenvolvimento urbano, considerando totalmente pelos proprietários dos imóveis ou reduções no pagamento das contrapartidas
urbanos, seja revertido à cidade. financeiras para empreendimentos, por exemplo,
também a articulação com outros planos
voltados à redução do déficit habitacional
setoriais existentes ou em elaboração. Uma das primeiras medidas para viabilizar (habitação de interesse social, por exemplo) ou
a gestão social da valorização imobiliária é a de acordo com o mérito do projeto (ambiental,
definição, pelo plano diretor, de um coeficiente histórico, urbanístico, etc.).
74 WRICIDADES.ORG
Figura 4.4 | Diretrizes para a gestão coordenada
Regulamentação
da OODC
fórmula
cálculo
$ $
x1
x3 x2
$
$
x1 $
Setor comdepotencial
Setor com potencial de transformação
transformação
O planodeve
diretor deve prever
urbana e/ou interesse imobiliário imobiliário
urbana e/ou interesse O plano diretor prever
instrumentos de
instrumentos de regulação regulação
do do
adensamento construtivo e que que
adensamento construtivo e
recuperem à coletividade a valorização
recuperem à coletividade a valorização
imobiliária gerada por ações públicas,
x3
imobiliária gerada por ações públicas,
x3
OUC fazendo com que sejam obtidos
OUC fazendo com que sejam obtidos
recursos para o financiamento do
recursos para o financiamento do
desenvolvimento urbano. Ao mesmo
desenvolvimento urbano. Ao mesmo
tempo, tais instrumentos podem
x2
x2 tempo, tais instrumentos podemde territórios
induzir a transformação
x1
induzir aprioritários
transformação
por meioterritórios
de de medidas de
x1 prioritários por meio de medidas
incentivo à ocupação nessas de áreas.
incentivo à ocupação nessas áreas.
Território prioritário para transformação
Território prioritário para transformação
urbana (DOTS)
urbana (DOTS)
Fonte: elaborado pelos autores.
definição do coeficiente de único para todo perímetro urbano nas áreas que não oriundos da outorga onerosa;
possuem nenhuma restrição construtiva, como as
aproveitamento básico único de caráter ambiental ou histórico. O coeficiente de
destinando recursos oriundos das contrapartidas para
melhoramentos na infraestrutura urbana;
para todo o perímetro urbano, aproveitamento básico igual a 1 (um) permite o manejo da
valorização imobiliária com mais eficiência, determinando criando forma de controle social da aplicação
estabelecendo a premissa de que o proprietário pode edificar uma área igual à área do desses recursos.
lote, sem a necessidade de contrapartida financeira.
que os direitos construtivos Prever incentivos urbanísticos a fim de induzir o
Ordenar a distribuição do potencial construtivo no território
são um ativo público. Dessa urbano, definindo coeficientes máximos variados nas diferentes
mercado imobiliário na direção de regiões já dotadas de
infraestrutura, permitindo coeficientes de aproveitamento
forma é possível aplicar a áreas da cidade e permitindo os maiores coeficientes de máximos mais altos nessas áreas da cidade.
aproveitamento em áreas com oferta de infraestrutura urbana.
recuperação da valorização Regulamentar o instrumento da Outorga Onerosa do
Demarcar territórios para o maior adensamento
populacional e para os melhoramentos e intervenções
imobiliária e distribuí-la na Direito de Construir (OODC): urbanas, sendo definidas zonas com maiores coeficientes
cidade de forma articulada estabelecendo coeficientes de aproveitamento básico de aproveitamento e altura dos edifícios, conforme raios
e máximo; ao redor de estações de trem ou metrô ou conforme
e igualitária. áreas de influência ao longo dos eixos de
determinando uma fórmula para cálculo da
transporte público.
contrapartida financeira que considere as diferentes
realidades dentro do território, considerando a Prever o uso do instrumento de contribuição de melhoria para
capacidade de suporte da infraestrutura, valorização financiamento de projetos de infraestrutura. O instrumento
imobiliária e vulnerabilidade social; deverá ser, posteriormente, aplicado via lei tributária.
criando isenções e incentivos sobre a outorga, os quais Prever o instrumento da Operação Urbana Consorciada
podem considerar o mérito urbanístico do projeto, como (OUC) em áreas com potencial de transformação urbana e
a tipologia do empreendimento, por exemplo; interesse imobiliário.
76 WRICIDADES.ORG
4.2
Ações para entorno de eixos e estações
78 WRICIDADES.ORG
Figura 4.5 | Diretrizes da ação 1
Incentivar usos
mistos ao longo
dos eixos de O Plano Diretor deve priorizar o
transporte desenvolvimento de projetos no
Estabelecer cota-parte entorno dos terminais e incentivar
máxima de terreno por a construção de empreendimentos
unidades habitacionais
de uso misto integrados às estações.
Determinar maiores
coeficientes de
aproveitamento e maiores
limites de altura dos edifícios
junto aos eixos
Promover o adensamento
em torno dos terminais
de transporte
Eixo de transporte
Incentivar usos
complementares junto às
estações e aos terminais
Fonte: elaborado pelos autores.
uso do solo próximo às áreas de infraestrutura, terrenos vazios ou subutilizados, facilitando o acesso à terra população e estabelecendo ritos administrativos e
aumenta a oportunidade de terras para a urbanizada pela população de baixa renda. jurídicos em parceria com cartórios e Poder Judiciário;
implantação de novas moradias e empresas, além Prever a adoção de instrumentos como o Parcelamento, definindo alíquotas para cálculo do imposto progressivo.
de evitar a especulação imobiliária. Edificação ou Utilização Compulsórios (PEUC), IPTU
Prever a adoção do instrumento consórcio imobiliário entre o
progressivo no tempo e Desapropriação por sanção:
poder público e a iniciativa privada.
Elementos DOTS diretamente relacionados: conceituando a definição de lote vazio, subutilizado e
Estabelecer formas de integração desses instrumentos
não edificado;
urbanísticos com as ZEIS localizadas ao longo dos eixos de
definindo áreas prioritárias para a implantação e prazos transporte.
na aplicação;
DENSIDADES ADEQUADAS DIVERSIDADE DE RENDA
80 WRICIDADES.ORG
Figura 4.6 | Diretrizes da ação 2
Instituir o consórcio
imobiliário O plano diretor pode prever
instrumentos como o aproveitamento
compulsório (PEUC) e o IPTU
progressivo no tempo para evitar a
especulação imobiliária nos eixos, além
de articular tais instrumentos às ZEIS.
Eixo de transporte
Fonte: elaborado pelos autores.
DIVERSIDADE DE RENDA
82 WRICIDADES.ORG
Figura 4.7 | Diretrizes da ação 3
Habitação de
mercado
Habitação de
mercado popular
Habitação de
Interesse Social
acessibilidade às edificações, proporcionando alargamento das calçadas através de incentivos à elementos qualificadores da relação entre o espaço
não somente condições adequadas de circulação doação de parte das testadas dos lotes, nos casos de público e privado.
84 WRICIDADES.ORG
Figura 4.8 | Diretrizes da ação 4
Incentivo a empreendimentos de
usos mistos, principalmente no
térreo, junto aos corredores
Incentivo à
implantação de
Fruição pública e fachadas ativas
permeabilidade visual entre Circulação por entre os lotes
os lotes com limitação de com segurança, iluminação
extensão dos muros adequada e pisos permeáveis
a implantação de espaços livres, como praças e áreas circulação dos pedestres e seu acesso ao sistema de transporte, colaborando com o sombreamento
verdes associadas a corredores, terminais e estações, de transporte coletivo, com medidas mínimas para dos percursos, a diminuição da temperatura urbana
é fundamental para a acessibilidade e o bem-estar calçadas no entorno dos corredores e das estações (ilhas de calor) e com a minimização do impacto da
espaço público por onde circulam as pessoas e que Prever condições de usos para as áreas Prever o incentivo aos usos alternativos das vias
o transporte público é, essencialmente, o transporte remanescentes da construção dos corredores, públicas, como a instalação de áreas específicas para
do pedestre, faz-se necessária a implantação de uma provenientes de desapropriações, para a utilização compartilhamento e usos temporários dos pedestres..
ampla rede de calçadas acessíveis no entorno do como espaços livres públicos.
sistema, reforçando a conexão entre os usos da cidade
e seus modos de deslocamento.
86 WRICIDADES.ORG
Figura 4.9 | Diretrizes da ação 5
Aumentar a oferta de
espaços públicos
junto aos eixos de Projetos de mobilidade que
transporte priorizem a acessibilidade
do pedestre
Fonte: elaborado pelos autores.
88 WRICIDADES.ORG
Figura 4.10 | Diretrizes da ação 6
Determinar a exigência do
número de vagas com área
não computável na Compartilhar vagas
aprovação de novas com usos ativos
edificações e reformas
conexões por meio de transporte ativo. aproveitamento de áreas públicas para implantação de de equipamentos.
novos equipamentos junto aos corredores de transporte
Prever possibilidade de combinação de diferentes
existentes ou planejados:
equipamentos sociais no mesmo lote, com vistas à
Elementos DOTS diretamente relacionados:
aplicando o instrumento do Direito de Preempção15 maximização das áreas públicas:
articulado à oportunidade de financiamento oferecida
criando normas para utilização integrada de bens
pelos recursos da OODC;
públicos;
USO MISTO DO SOLO DIVERSIDADE DE RENDA aproveitando as áreas remanescentes da implantação
conectando os equipamentos públicos à rede de
da infraestrutura de transporte, ao longo dos
transporte por meio da melhoria das calçadas e
corredores ou terminais, para a implantação de
implantação de ciclovias (transporte ativo).
novos equipamentos urbanos e comunitários.
90 WRICIDADES.ORG
Figura 4.11 | Diretrizes da ação 7
Promover espaços
públicos
Ciclovia
suporte nos empreendimentos imobiliários e classificação funcional de vias, com previsão de condição para aprovação de novas edificações e
sociais, existentes e futuros. Equipamentos de ciclovias, garantindo um percurso seguro e acesso reformas e para obtenção do alvará de funcionamento.
TRANSPORTE ATIVO
PRIORIZADO
92 WRICIDADES.ORG
Figura 4.12 | Diretrizes da ação 8
Ciclovias e ciclorrotas
Prever a exigência
de vagas para
bicicletas junto aos
empreendimentos
Como apresentado nos capítulos O resultado final dessa estratégia é a construção de a regulação urbana. Segundo, a concretização do
anteriores, o DOTS consiste em uma cidade mais eficiente, igualitária e próspera. DOTS ocorre em um primeiro momento a partir
Os 3 princípios e 8 ações descritas anteriormente do nível de planejamento (no qual se insere o
uma estratégia de planejamento a
fornecem um caminho prático para os gestores plano diretor) e em um segundo momento em um
ser incluída primordialmente nos públicos colocarem em prática o DOTS como nível de projeto.
planos diretores como forma de estratégia em seus planos diretores, conduzindo
integrar o uso do solo ao transporte suas cidades a um modelo mais sustentável. No nível de planejamento, o plano diretor é um
instrumento de planejamento essencial para
coletivo, trazendo consigo uma
Entretanto, como fazer com que a estratégia direcionar a transformação da cidade. Assim, a
série de elementos urbanísticos que implementada no plano diretor se concretize no inclusão das ações e dos princípios territoriais no
qualificarão o território urbano. território? Ao longo do capítulo 3, alguns pontos- plano diretor fornece as condições básicas para
chave para responder a essa pergunta foram a concretização de projetos DOTS nas cidades.
apresentados. Primeiramente, o DOTS depende Ao adicionar o DOTS como estratégia no plano
de 4 dimensões que devem estar articuladas: o diretor, é possível descrever algumas formas
desenho urbano, o financiamento, a governança e como ele será implementado no território.
▪▪Prevista: A implementação ocorre ao longo dos usos junto ao pavimento térreo. Tal
do tempo a partir do processo natural de processo de articulação deve levar em conta O plano diretor deve estabelecer mecanismos
produção imobiliária da cidade, em que uma distribuição equilibrada de custos e que permitam a viabilização de projetos de
os diversos empreendimentos ao longo benefícios entre o público e o privado. intervenção, estabelecendo os parâmetros
do território urbano são implementados adequados para o DESENHO, para a
seguindo as determinações do plano e ▪▪Consorciada: A construção ocorre a REGULAMENTAÇÃO de instrumentos, para a
dependem fortemente da fiscalização e partir de um grande projeto público- GOVERNANÇA e para o FINANCIAMENTO dos
da aprovação de projetos arquitetônicos privado, através de uma Operação Urbana futuros projetos (Figura 5.1).
por parte dos órgãos públicos. Consorciada, por exemplo (Box 5.1). A forma
consorciada de implementação do DOTS
96 WRICIDADES.ORG
Figura 5.1 | O plano diretor, ao estabelecer parâmetros
de desenho e de regulamentação da governança e do
Box 5.1 | OPERAÇÕES URBANAS CONSORCIADAS PARA O DOTS
financiamento urbanos, permite o desenvolvimento de
projetos de DOTS
A Operação Urbana Consorciada (OUC) é um instrumento Cabe ainda destacar que a utilização de instrumentos,
urbanístico com grande potencial para promover a como as ZEIS e outros que contribuam para a redução
implementação de projetos de DOTS. Por sua natureza, as da desigualdade na provisão de moradia, seja conduzida
OUCs oferecem muitas das ferramentas necessárias para a conjuntamente com as OUCs, permitindo o uso da
transformação de uma área urbana. Além disso, elas permitem valorização imobiliária como forma de viabilização de
a alteração do zoneamento de uso do solo e de índices empreendimentos de habitação de interesse social.
construtivos, a aplicação de instrumentos de financiamento
(ver Quadro A.2 do Apêndice), o estabelecimento de Para o poder público, a utilização da OUC para a promoção
mecanismos de gestão participativa e a construção de do DOTS apresenta a vantagem da coordenação da gestão,
parcerias público-privadas (PPPs), por exemplo. a possibilidade de detalhamento do projeto urbanístico e
Plano diretor
definindo eixos DOTS a viabilização de instrumentos de financiamento, como os
Entretanto, a aplicação da OUC pode ser muito diversa, CEPACs, permitindo também a recuperação da valorização
DESENHO URBANO FINANCIAMENTO
fomentando diferentes tipos de desenvolvimento urbano. Até o imobiliária gerada pelos investimentos. Para o setor privado,
momento, a experiência brasileira mostrou um avanço no uso cria-se uma maior confiança com relação à execução do
de instrumentos de recuperação da valorização imobiliária, projeto, construindo-se um cenário seguro para o investimento
porém o direcionamento dos recursos se deu principalmente imobiliário. Por fim, a população é beneficiada, recebendo
para infraestruturas urbanas voltadas ao automóvel. melhorias sociais e urbanísticas, com a qualificação do
ambiente urbano e da infraestrutura ofertada.
No âmbito do plano diretor, as OUCs podem ser previstas para
futuro detalhamento, principalmente em áreas identificadas com
maior potencial de transformação e atratividade para o setor
imobiliário. Elas podem ser demarcadas através do zoneamento
como Zonas (ou Áreas) de Especial Interesse Urbanístico (ZEIU ou
GOVERNANÇA LEGISLAÇÃO/ AEIU). Para que as OUCs sejam utilizadas como um instrumento
REGULAMENTAÇÃO
para a promoção do DOTS, essas áreas devem ter seus perímetros
Projetos de DOTS estruturados definidos tendo um eixo ou estação de transporte como elemento
nas 4 dimensões
central e estruturador do projeto urbano.
98 WRICIDADES.ORG
3. Estabelecer a governança ▪▪Participação social significativa: as partes
e a gestão do projeto interessadas, em particular a sociedade
civil, precisam ser incluídas de forma
o interesse em um investimento e solicita aos interessados Intervenções urbanas de grande porte, como as significativa no processo, não apenas para
privados a elaboração de estudos técnicos, ambientais, propostas em um projeto de DOTS, exigem um a consulta, mas também para contribuições
econômicos e/ou jurídicos para sua estruturação. forte componente de governança e gestão dos e tomadas de decisão. A inclusão precoce
projetos. A base para o estabelecimento de uma de grupos comunitários, bem como do
Dessa forma, as PMIs possibilitam, ao mesmo tempo, abrandar governança qualificada nos projetos passa por Poder Legislativo, pode aumentar a
as questões de falta de capacitação técnica interna do setor três aspectos principais: probabilidade de sucesso do projeto.
público ao agregar as percepções privadas sobre o projeto,
como também amenizar a falta de recursos públicos para o ▪▪Arranjos institucionais sólidos: por se tratar ▪▪Alinhamento político e intersetorial: o
financiamento de projetos conceituais. Entretanto, ainda que de projeto de longo prazo e de investimento projeto deve ser gerido de forma que integre
as PMIs sejam uma alternativa, elas, em nenhuma hipótese, na requalificação urbana, há a necessidade vários setores, alinhe os incentivos e os
substituem a necessidade de envolvimento da administração de garantias e de segurança institucional fluxos de trabalho. Ressalta-se que, dado o
local para que os projetos estejam alinhados a uma estratégia e política do governo e da administração porte e a complexidade desse tipo de projeto,
mais ampla para a cidade e que atendam aos objetivos de municipal para a condução do projeto. Assim, convém a criação de um grupo ou de uma
desenvolvimento previstos nos planos diretores e de mobilidade projetos DOTS devem extrapolar os ciclos estrutura gestora que deve ser composta
urbana, entre outros. Com raras exceções, as PMIs serão eleitorais e os períodos de cada governo. por representantes dos diversos setores
capazes de propor soluções integradas com outros projetos da Além disso, a sustentabilidade de qualquer envolvidos. De forma mínima, as autoridades
cidade e com objetivos não comerciais. projeto desse tipo está condicionada à municipais ligadas ao desenvolvimento
Para otimizar a utilização das PMIs, é necessário que o setor objetivos com apoio de instituições, órgãos e obras devem estar alinhadas entre si
público elabore termos de referência e editais de chamamento públicos e grupos comunitários sólidos. e em contato com grupos da sociedade
que determinem os objetivos, as prioridades e o alinhamento civil e do setor privado (Box 5.3).
O WRI, na publicação “Governance of inclusive Transit-Oriented Em termos gerais, a criação de uma empresa pública para a • Criação e gestão de alternativas de financiamento: uma
Development in Brazil” (LANE, 2017), realizou estudos de caso gestão de projetos DOTS contribuiria para: empresa pública abre novas possibilidades de financiamento por
de dois projetos de requalificação urbana no Brasil - OUC parte do setor público. Sendo uma empresa pública ou mista,
Água Branca (São Paulo/SP) e OUCPRJ Porto Maravilha (Rio de • Processos participativos inclusivos: a partir da é possível buscar recursos no mercado de capitais e outros
Janeiro/RJ) - e uma iniciativa cidadã de revitalização de bairro, centralização da coordenação do projeto, a empresa pública produtos financeiros.
o Distrito C (Porto Alegre/RS). Esses três casos, embora não pode ficar responsável por articular os processos participativos,
sejam projetos de DOTS, trazem aprendizados por se tratarem de aumentando sua eficácia. A empresa pública tem um papel • Segmentação do projeto e gestão de contratos: através da
projetos urbanos de longo prazo. Com base nessas experiências, importante não apenas em promover encontros com a empresa pública, é possível segmentar um projeto de DOTS de
verificou-se a complexidade de atores e das atividades comunidade, como também em acatar os resultados desses grande porte em diferentes setores, etapas e objetos. A empresa
envolvidas em um projeto urbano, bem como a falta de conexão processos e aplicá-los. Como gestora dos contratos de licitação, pode assumir a responsabilidade pela abertura e gestão dos
entre a maioria desses atores e a existência de elos muito fracos PPPs e concessões relativos ao projeto DOTS, a empresa tem a contratos de PPPs, concessões, obras e outras parcerias,
entre a sociedade civil e os demais agentes. Nesse contexto, responsabilidade de fazer adequações em tais parcerias. inclusive com outras empresas e órgãos públicos (como as
as análises demonstraram a importância da existência de uma responsáveis pelos serviços de saneamento ou de transportes)
empresa pública para minimizar tais questões, a qual exerce • Centralização da responsabilidade e da informação: uma na condução de um projeto integrado.
o papel de centralizar e de agilizar a gestão administrativa e empresa pública diretamente responsável pela implementação
financeira referente aos projetos DOTS. do DOTS traz o benefício de concentrar a informação referente • Continuidade ao longo do tempo: a criação de uma
ao projeto em um só lugar. Isso permite uma padronização empresa pública responsável por administrar os projetos DOTS
Nos casos de Porto Maravilha e de Água Branca, as empresas da informação e do seu processamento. Com isso, é facilitada pode minimizar a dependência da gestão do projeto em relação
públicas Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região a transparência dos dados e das ações relativas ao projeto. a questões políticas dos governos, auxiliando na continuidade
do Porto do Rio de Janeiro (CDURP) e a São Paulo Urbanismo Além disso, ao centralizar as questões referentes ao projeto no médio e longo prazos. Entretanto, é preciso garantir certa
(SPUrbanismo), respectivamente, exercem um papel de DOTS, a empresa pública assume o papel de responsável pelo autonomia a essa empresa atrelada ao alinhamento com a visão
coordenação dessas diferentes forças. Mais ainda, o papel processo, sendo ela elemento central para accountability de cidade estabelecida pelo plano diretor.
principal dessas empresas reside em superar as variações (responsabilização) ao mesmo tempo em que tem o papel de
relacionadas aos ciclos políticos, fazendo com que os projetos cobrar de seus parceiros, sejam eles contratados, terceirizados,
tenham continuidade ao longo do tempo. beneficiários, etc.
100 WRICIDADES.ORG
4. Estruturar o financiamento
do projeto
De modo geral, a coordenação de um projeto DOTS baseada A definição do projeto de DOTS a ser fomentado
na criação de uma empresa pública aumenta a probabilidade deve ter como uma de suas bases a estruturação
de implementação do projeto, principalmente em cidades de financeira. Ou seja, é preciso considerar a
porte médio a grande. A gestão do compartilhamento dos viabilidade econômica do projeto para decidir
riscos também fica facilitada. É necessário, entretanto, ter em quais partes serão financiadas pelo setor
conta que, tanto municípios como estados brasileiros, vivem público, quais dependerão do setor privado e
um contexto de inchaço da máquina pública. Sendo assim, a de onde virão os recursos para financiá-lo. Para
criação de uma estrutura como a de uma empresa pública deve isso é necessário, primeiramente, identificar
ser pensada com cuidado. De todo modo, considera-se esse um os elementos que devem ser financiados, e
elemento-chave para o sucesso do DOTS no Brasil. em seguida, buscar fontes de financiamento
tradicionais e alternativas. As alternativas
de financiamento para projetos DOTS serão
aprofundadas a seguir.
O plano diretor tem direta relação com a investimento no desenvolvimento urbano e social. como um importante instrumento para a gestão
sustentabilidade financeira das cidades. Em consequência, essas cidades promovem o econômica e financeira das cidades.
Boa parte dos instrumentos urbanísticos de crescimento social e econômico, tornando-se
regulação do solo possui caráter de instrumento atraentes para instalação de novas atividades e No que diz respeito ao financiamento da
de financiamento, seja através da arrecadação negócios. implementação do DOTS, o plano diretor deve
de recursos, seja através da concessão de permitir e regulamentar tais instrumentos de
incentivos ao desenvolvimento urbano. Nesse Atualmente, no Brasil, ainda é perceptível financiamento, incentivo e atração do setor
sentido, um bom planejamento urbano possui uma dissociação entre planejamento urbano e privado para a estruturação dos projetos.
o potencial de reduzir custos ao mesmo tempo financiamento. O Imposto Predial e Territorial
em que cria oportunidades de financiamento Urbano (IPTU), por exemplo, é cobrado sem que A seção a seguir apresenta um olhar sobre o
e estimula o desenvolvimento econômico. haja uma conexão entre a sua metodologia de financiamento de projetos de DOTS, levando em
Cidades bem planejadas são mais eficientes no arrecadação e o planejamento urbano e social conta o que é necessário estabelecer nos planos
uso dos recursos, reduzindo custos de provisão da cidade, sendo que muitas cidades não levam diretores a fim de que seja possível estruturar
e aumentando a eficiência na manutenção em consideração a relação entre valor da terra projetos economicamente viáveis que acelerem
de serviços urbanos e infraestruturas. Além e presença de infraestrutura na cobrança desse a materialização das premissas e ações para uma
disso, cidades bem planejadas geram riquezas imposto, bem como ignoram tais questões no estratégia DOTS para a cidade, tal qual apontadas
e se utilizam de instrumentos de recuperação planejamento do investimento em infraestrutura nesta publicação.
da valorização imobiliária, cobranças de e serviços urbanos. Geralmente, os planos
impostos, criação de fundos e parcerias com o diretores não apresentam articulação com a
setor privado para aumentar a capacidade de gestão tributária dos municípios, não sendo vistos
102 WRICIDADES.ORG
5.1.1 COMPONENTES DO construídos e instalados, como
INVESTIMENTO terrenos, infraestrutura de transporte,
infraestruturas básicas, construções,
mobiliário urbano, equipamentos.
O investimento em projetos DOTS engloba
diversos aspectos urbanos de uma cidade,
desde a distribuição da oferta de moradia e
▪▪Ativos intangíveis: são ativos não materiais
que fazem parte do investimento para
emprego até o deslocamento mais eficiente
alcançar os retornos econômicos, sociais e
das pessoas. Assim, o DOTS é composto por
ambientais esperados em um projeto DOTS.
diferentes elementos, envolvendo desde o
São eles: a vitalidade urbana, a eficiência
transporte coletivo até a previsão de ocupação
energética e a sustentabilidade ambiental,
do solo no entorno das estações. Deste modo,
a acessibilidade e a inclusão social, a marca
para que um projeto de DOTS seja estruturado
do bairro e a identidade comunitária e
e seus objetivos de melhoria da mobilidade e do
cultural. Alcançar os ativos intangíveis está
ambiente urbano no município sejam atingidos,
diretamente associado à maneira pela qual os
é preciso primeiramente identificar os elementos
ativos físicos são implementados. Por exemplo,
que acarretarão custos – ou melhor dizendo
pode-se realizar o adensamento populacional
– investimentos concretos por parte do setor
no entorno dos eixos de transporte,
público ou privado. Estes são os Componentes
garantindo ou não a presença de populações
do Investimento: os vários ativos e processos que
com diferentes níveis de renda. A forma pela
geram custo e/ou receitas ao longo do curso de
qual o adensamento será feito determinará
um investimento de DOTS.
o alcance do ativo intangível de inclusão
social. Os ativos intangíveis, muitas vezes,
Existem três tipos de componentes de implicam custos adicionais que precisam ser
investimento básicos para projetos DOTS: ativos orçados, devendo, assim, ser considerados
tangíveis, ativos intangíveis e processos. na parte inicial do projeto. No entanto,
deve-se levar em conta que eles podem
104 WRICIDADES.ORG
5.1.2 OS MECANISMOS DE distintas de alavancagem de montante de Dentre os mecanismos anteriormente listados,
FINANCIAMENTO PARA O DOTS recursos, como também de periodicidade de sua existem instrumentos cuja implementação é
obtenção. Nesse sentido, o financiamento deve viabilizada pelo plano diretor. Nesse sentido, o
ser composto por diferentes tipos de mecanismos, plano diretor não apenas age como uma forma
Ainda que envolva uma diversidade de elementos a fim de que a combinação de instrumentos de de moldar o planejamento urbano nas cidades,
a serem financiados, por sua magnitude os financiamento contemple tais características ao como também possibilita meios para financiar
projetos DOTS possuem um paralelo – do ponto longo do ciclo de vida do investimento, bem como suas ações. Dessa forma, o plano diretor é um
de vista de estruturação financeira de projeto considere a especificidade do projeto DOTS, do instrumento que alinha o financiamento e a
– com grandes projetos de infraestrutura, contexto local e dos atores envolvidos. melhoria urbana, permitindo que a aplicação de
especialmente os de infraestruturas urbanas. instrumentos de financiamento tenha um papel
Tal necessidade de um conjunto de mecanismos estratégico para os objetivos de planejamento
De uma maneira geral, tais projetos são de financiamento foi verificada a partir da urbano da cidade, e não apenas caráter
caracterizados por serem intensivos em capital, análise de diversos casos de inversões de DOTS arrecadatório de recursos. O plano diretor
exigindo grandes montantes de recursos ou investimentos similares ao redor do mundo. permite acessar mecanismos de financiamento
nas fases iniciais de planejamento e de Foram observados cerca de 40 instrumentos de três tipos: A) alinhamento com o orçamento
construção, seguidos de volumes relativamente de financiamento utilizados, os quais podem público, B) gestão e recuperação da valorização
menores, porém contínuos, para operação e ser classificados em sete grupos. Esses grupos e imobiliária e C) incentivos.
manutenção. Da mesma forma, os mecanismos uma apresentação de alguns dos instrumentos,
de financiamento apresentam características encontram-se no quadro 5.1.
GRUPOS DESCRIÇÃO
Recursos tributários e de transferências intergovernamentais que compõem o orçamento municipal, bem como os ativos do governo local passíveis de venda ou
Recursos próprios
leasing. Neste grupo, foram frequentemente utilizados no financiamento de projetos DOTS os impostos sobre a propriedade, bem como aqueles que apresentam
(orçamento público)
caráter de gestão da demanda de mobilidade, como o imposto sobre a propriedade de veículos e o imposto sobre combustíveis.
Cobrança mediante a prestação de serviço e/ou utilização de infraestruturas urbanas, viabilizando, especialmente, o financiamento da etapa operacional
de determinados elementos que compõem o DOTS. Dentro deste grupo, têm-se a cobrança da tarifa do transporte coletivo, as cobranças pela utilização das
Cobranças diretas
infraestruturas urbanas, como a cobrança pelo uso estacionamento público rotativo e a taxação do congestionamento (similar à outorga onerosa pelo uso
(usuários e beneficiários)
intensivo das vias). As cobranças podem ser relacionadas aos serviços complementares oferecidos por um projeto DOTS, como aluguel de bicicletas, uso de
estacionamentos, venda de área para publicidade ou, até mesmo, alugueis de estabelecimentos comerciais.
São instrumentos que visam à recuperação da valorização imobiliária resultante da atuação pública na área em que se localiza o imóvel. Como investimentos em
Recuperação da DOTS buscam melhorias urbanas na área de intervenção, integrando transporte e o desenvolvimento imobiliário, a utilização dos instrumentos deste grupo para o
valorização imobiliária financiamento do projeto é essencial. A base da obtenção desses recursos pode ser tributária, como a cobrança da contribuição de melhoria, ou não tributária,
como a venda de direitos de construção (no Brasil, destacam-se os CEPACs e a OODC).
Como investimentos em DOTS são intensivos em capital e, consequentemente, os investimentos iniciais são elevados, necessita-se a obtenção de recursos
Dívida monetários de terceiros. Nesse caso, têm-se os empréstimos (empréstimos de mercado, empréstimos subsidiados oriundos de bancos de fomento nacionais, bi
ou multilaterais e/ou Fundos Verdes/Clima), títulos (títulos públicos16 , títulos verdes, títulos atrelados ao projeto, debêntures de infraestrutura) e ações.
Governos locais podem utilizar incentivos e subsídios para promover o desenvolvimento do DOTS, como reduções ou isenções temporárias no imposto sobre a
Incentivos
propriedade, concessões de potencial construtivo, cessão ou doação de terrenos e outros instrumentos fiscais e urbanísticos.
Mecanismos que aprimoram a credibilidade do projeto, auxiliando na mitigação de riscos do projeto de DOTS e reduzindo as chances de quebra do projeto. Não se
Assistência de crédito constituem como um mecanismo de financiamento especificamente, mas são essenciais ao acesso a melhores condições de financiamento. São as garantias (como
garantias soberanas, fundo garantidor de crédito) e os seguros (seguros contra riscos na construção, por exemplo).
São acordos contratuais de longo prazo entre a agência pública e a entidade privada para a provisão da estrutura ou serviço de uso público. São as PPPs
e as concessões, as quais não são um mecanismo de financiamento propriamente dito, mas um arranjo legal em que o setor público transfere parcelas da
implementação do projeto de serviço e/ou infraestrutura pública para o setor privado. No Brasil, o agente privado (denominado “concessionário”), em geral, assume
Arranjos legais
o financiamento da implementação da infraestrutura e/ou da sua operação e manutenção, tendo como contrapartida do setor público a remuneração pela prestação
de serviço de interesse público, que pode ser por meio da cobrança de tarifas diretamente dos usuários, sem garantias do governo (concessão comum); por
pagamentos realizados integralmente pelo poder público (concessão administrativa); ou, ainda, por uma combinação das duas formas (concessão patrocinada).
106 WRICIDADES.ORG
5.1.3 INSTRUMENTOS DE veicular (IPVA), a contribuição de intervenção Ainda com uma menor magnitude, o
FINANCIAMENTO VIABILIZADOS no domínio econômico (CIDE-combustíveis) orçamento municipal conta com recursos
PELO PLANO DIRETOr e aqueles transferidos por meio do Fundo de oriundos de cobrança de taxas e de multas.
Participação dos Municípios (FPM) . 18
As taxas de provisão de serviços públicos, por
exemplo, podem permitir o financiamento da
A) Alinhamento com o Contudo, devido à situação de escassez de implementação e da manutenção de ativos do
Orçamento Público recursos dos municípios, a utilização de impostos DOTS, como a pavimentação de ruas e calçadas,
municipais geralmente já está comprometida as conexões e as redes de eletricidade e de
O orçamento público dos municípios refere- com a provisão de serviços essenciais (saúde, esgoto, bem como o fornecimento da iluminação
se aos recursos tributários e de transferências educação, segurança, etc.). Nesse sentido, pública. Além disso, as receitas oriundas das
intergovernamentais. À luz do Estatuto da Cidade, quando se objetiva financiar projetos de DOTS, multas de trânsito, especialmente aquelas que
o plano diretor, dada sua função de determinar que aliam desenvolvimento urbano e transporte, objetivam a segurança viária, como as de excesso
a estratégia de planejamento a longo prazo, deve os tributos mais indicados para a alocação ou de velocidade, também se apresentam como
ter suas diretrizes e prioridades incluídas no provável ampliação de recursos são aqueles que alternativa de fontes de recursos.
orçamento anual do município. Dessa forma, ele apresentam o caráter de gestão da demanda de
deve estar coordenado com os instrumentos de mobilidade e que desincentivam o uso do carro O plano diretor, dessa forma, permite alinhar o
planejamento orçamentário: Plano Plurianual e impulsionam o uso do transporte coletivo e plano de desenvolvimento urbano da cidade com
(PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e do transporte ativo. Nesse grupo, incluem-se, os instrumentos de planejamento orçamentário
Lei Orçamentária Anual (LOA) . 17
por exemplo, o imposto sobre a propriedade municipal (Quadro 5.2). Assim, ao inserirem-
de veículos automotores e a CIDE-Municipal , 19
se premissas de DOTS no plano diretor, as
As principais fontes de receitas que compõem que poderiam auxiliar na implementação quais viabilizem e impulsionem esses projetos,
o orçamento municipal são o imposto sobre a das infraestruturas de transporte coletivo e garante-se a previsão de financiamento ao DOTS
propriedade predial e territorial urbana (IPTU), não motorizado. No entanto, ressalta-se que ou, pelo menos, de parcela de seus componentes
imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) a Constituição Federal não permite realizar pelo município.
e o imposto sobre serviços de qualquer natureza a vinculação direta de um imposto com uma
(ISSQN). O orçamento municipal é composto, despesa específica, mas prevê a possibilidade
ainda, pelas transferências de outros impostos de criação de fundos, os quais possibilitam a
como o imposto sobre circulação de mercadorias destinação previamente determinada dos recursos
e serviços (ICMS), o imposto sobre a propriedade alocados neles.
108 WRICIDADES.ORG
de instrumento. Projetos de DOTS geralmente
produzem uma alta valorização fundiária. Ao
mesmo tempo, a regulação urbanística necessária
para sua implementação gera uma gama de
oportunidades de aplicação de instrumentos de
recuperação da valorização imobiliária.
110 WRICIDADES.ORG
imóvel e é limitado ao custo das obras. Devido A Outorga Onerosa do Direito de Construir apresenta um caráter redistributivo de recursos
a sua incidência estar atrelada a determinada é, provavelmente, o instrumento mais destacado no território da cidade com enorme potencial de
intervenção pública e, assim, a sua periodicidade desse tipo. A OODC estabelece uma contrapartida arrecadação.
de arrecadação se dar em um único ponto no monetária a ser paga pelos proprietários de
tempo, esse instrumento é ideal para cobrir os terrenos ao município em troca do direito de Já os Certificados de Potencial Adicional
custos de provisão de infraestrutura. O plano construir acima do coeficiente de aproveitamento de Construção (CEPAC) também estabelecem
diretor pode regulamentar o uso da Contribuição básico. Esse valor pode estar atrelado a um fundo uma contrapartida monetária dos proprietários
de Melhoria, sendo aplicado em projetos municipal. A OODC deve ser cobrada em todo ao município pelo direito de construir acima do
estratégicos e prioritários dentro dos eixos DOTS, o território do município, podendo ter valores coeficiente de aproveitamento básico. Contudo,
por exemplo. diferenciados de acordo com parâmetros, como os CEPACs estão obrigatoriamente vinculados
o valor do metro quadrado ou o zoneamento a uma Operação Urbana Consorciada (OUC)
Não tributária estabelecido na região. Sua cobrança deve ser e os direitos de construir são comumente
concentrada, seja pela maior oferta de potencial comercializados através de leilões públicos na
Os instrumentos de recuperação da valorização construtivo ou pela aplicação de valores de Bolsa de Valores. Os recursos obtidos por esse
imobiliária não tributários consistem principalmente contrapartida mais elevados, em locais onde já instrumento podem ser aplicados exclusivamente
naqueles baseados na regulação urbana. Há um há infraestrutura urbana instalada. Conforme na área da OUC e em intervenções definidas
grande potencial financeiro nas cidades a partir previsto no Estatuto da Cidade, os recursos previamente à venda dos CEPACs. O plano diretor
do incremento no valor dos terrenos gerados arrecadados com a cobrança de OODC podem ser pode e deve prever as áreas para criação de OUCs,
por mudanças no uso e aumento do potencial usados para: regularização fundiária, execução de preferencialmente atreladas à estratégia DOTS,
construtivo. O plano diretor oferece aos municípios programas e projetos habitacionais de interesse nos eixos de transporte. Dessa forma os CEPACs
a possibilidade de fazer a gestão do uso do solo ao social, constituição de reserva fundiária, projetos podem ser usados para financiar a implantação do
mesmo tempo em que coloca ativos econômicos de ordenamento e direcionamento da expansão projeto DOTS e possuem um caráter inclusivo e
na mão do município. Os direitos de construir são urbana, implantação de equipamentos urbanos social em territórios de maior riqueza.
um claro exemplo disso, gerando cerca de R$ 202 e comunitários, criação de espaços públicos de
milhões/ano em média na cidade de São Paulo lazer, áreas verdes, unidades de conservação ou Além dos instrumentos relacionados ao potencial
considerando o decênio compreendido entre proteção de áreas de interesse ambiental, bem construtivo, existem outras formas não tributárias
2007-2016 (SÃO PAULO, 2017). como proteção de bens de interesse histórico, para a recuperação da valorização imobiliária.
cultural ou paisagístico. Assim, a cobrança de A Outorga Onerosa de Alteração de Uso é
OODC é, acima de tudo, um instrumento de um mecanismo muito eficaz e necessário para
gestão do uso e ocupação do solo, no entanto, recuperar a valorização gerada a partir de uma
112 WRICIDADES.ORG
Quadro 5.3 | Resumo dos instrumentos – Gestão e Recuperação da Valorização Imobiliária
Outorga onerosa Valor cobrado pela valorização Cobrir custos de construção Instrumento previsto no Estatuto da Cidade,
de alteração de gerada em virtude da alteração de das intervenções previstas não requer desembolsos diretos ou
uso uso do terreno ou do imóvel. pelo DOTS. acréscimo do endividamento público.
114 WRICIDADES.ORG
Box 5.4 | O FINANCIAMENTO VERDE
O Financiamento Verde, de maneira geral, é uma forma de consideravelmente reduzidos em relação aos custos de
financiamento incentivado que objetiva impulsionar projetos empréstimos de mercado. Por outro lado, tal financiamento tem
de investimentos que promovam mitigação, adaptação e/ou desvantagem em relação à maior rigidez e ao maior tempo de
resiliência às mudanças climáticas. O Financiamento Verde pode duração do processo para obtenção de tal recurso em relação
ser acessado por meio de empréstimos oriundos de fundos aos financiamentos convencionais.
específicos para esse tipo de investimento, os chamados Fundos
Verdes, como também através da emissão de títulos de dívida Os Títulos Verdes, por sua vez, são títulos de dívida de renda
de renda fixa para os projetos citados, os denominados Títulos fixa, cujos recursos arrecadados são destinados a financiar (ou
Verdes. Projetos de DOTS, que aliam transporte coletivo ao refinanciar) projetos e/ou ativos que respeitem uma série de
desenvolvimento urbano, permitem a redução das emissões de características verdes. Esses títulos são similares aos títulos de
gases de efeito estufa, enquadrando-se no grupo elegível para dívida tradicionais, diferenciando-se pela indicação prévia da
essa forma de financiamento. destinação de seus recursos e pelos processos de emissão e
divulgação de resultados, que devem passar por medições e
Os Fundos Verdes propiciam empréstimos e outros produtos monitoramento do uso dos recursos para garantir a destinação
para projetos que promovam sustentabilidade ambiental e os resultados em termos de mitigação e/de resiliência. Tal
e benefícios climáticos. Dentre tais fundos, destacam-se instrumento de financiamento tem sido utilizado especialmente
o Green Climate Fund (GCF), o Green Enviromental Facility pelas cidades dos Estados Unidos e está sendo iniciado o processo
(GEF) e o Climate Technology Fund (GTF). Nesse contexto, é de adoção pelas cidades nos países em desenvolvimento.
possível que as cidades acessem recursos de Fundos Verdes Johanesburgo, na África do Sul, foi a primeira cidade entre os países
para implementar projetos de Desenvolvimento Orientado ao em desenvolvimento a emitir Títulos Verdes para seus projetos de
Transporte Sustentável, desde que sejam projetos de porte energia, água, resíduos sólidos e transporte em 2014, atingindo o
condizente em termos de impacto e de valores requeridos montante de US$ 143 milhões no mesmo ano (C40, 2015). Ressalta-se
pelo Fundo Verde em questão e que tenham seus benefícios que os municípios e os estados brasileiros não podem emitir títulos
climáticos comprovados. O financiamento obtido através de dívida. Portanto, a utilização de tal instrumento deverá ocorrer
dos Fundos Verdes tem como vantagem custos de capital através de um ente fora dos governos subnacionais.
O processo de urbanização no Brasil, Em outras situações, esse planejamento foi desenvolvimento sustentável, buscando promover
baseado na segregação de funções e usos da as funções sociais da cidade e a garantia do bem-
muitas vezes, ocorreu alheio ao
cidade ou, ainda, teve investimentos realizados estar de sua população.
planejamento ou regulação.
de forma desarticulada. Isso conduziu muitas
cidades ao enfrentamento de grandes problemas, A partir da compreensão de dois modelos
como a crise na mobilidade urbana, os graves distintos de cidades, a cidade 3D e a cidade 3C,
problemas relacionados ao déficit habitacional é possível explicar melhor o atual contexto de
e à informalidade na ocupação do solo, bem desenvolvimento urbano das cidades brasileiras.
como à degradação de áreas urbanas, como os As cidades 3D levam a maiores deslocamentos
centros históricos e as periferias. O meio urbano diários, maiores índices de poluição, queda
é, sem dúvida, o local onde se concentra grande na qualidade de vida em geral e atingem
parte dos problemas, mas também é o território principalmente os mais pobres. A mudança no
onde se podem implementar soluções com modelo de desenvolvimento urbano brasileiro,
grande impacto na vida de milhões de pessoas. promovendo a cidade 3C, é um ponto de partida
As cidades brasileiras que sofrem com esses para a busca de um desenvolvimento sustentável
problemas necessitam mudar o atual modelo em escala nacional.
de desenvolvimento urbano para atingir o
Coeficiente de aproveitamento – indica a quantidade de metros Plano diretor – legislação urbana municipal, considerado o
quadrados que podem ser construídos em um terreno, baseado na principal instrumento de planejamento de uma cidade.
área total do terreno. Policentralidades – territórios da cidade que, por apresentarem
Densidade construtiva - relação entre a quantidade de metros diversas funções urbanas, são considerados centralidades.
quadrados construídos e uma determinada área. Potencial construtivo – indica quanto é permitido construir em
Densidade habitacional – relação entre a quantidade de um terreno.
habitações e uma determinada área. Sistema viário – conjunto de vias de uma cidade, apresentando
Densidade populacional – relação entre a quantidade de classificações e hierarquias, como rodovias, avenidas e ruas.
habitantes e uma determinada área. Transporte ativo – modos de transporte à propulsão humana,
Espaços públicos de permanência – lugar de domínio e uso que não façam uso de sistema motorizado. Portanto, são
coletivo pela população em geral, assegurada a acessibilidade deslocamentos feitos a pé, de bicicleta, em cadeiras de roda,
e o livre acesso a todos os cidadãos. Praças, parques, largos e skate, patinete, entre outros.
semelhantes são exemplos de espaços públicos. Transporte de média e alta capacidade – sistemas de transporte
Espraiamento – expansão horizontal do território de uma cidade. coletivo com capacidade de transportar um grande número de
passageiros ao dia. Corredores de ônibus, BRT (Bus Rapid Transit),
Fachada ativa – térreo de edificações que possuem uma relação VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), trens e metrô caracterizam esses
sistemas.
120 WRICIDADES.ORG
referências
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lincolninst.edu/sites/default/files/pubfiles/recuperacao-mais-valias-
fundiarias-full_0.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2017.
124 WRICIDADES.ORG
15. Conforme previsto no Art. 25 do Estatuto da Cidade, o Direito 20. A recuperação da valorização imobiliária ou Land Value Capture
de Preempção confere ao Poder Público municipal preferência é um tema fundamental para o financiamento urbano e para a
para aquisição de imóvel urbano que esteja sendo vendido equidade na distribuição entre cargas e benefícios nas cidades.
pelo proprietário. Trabalhos mais aprofundados podem ser encontrados em
SMOLKA (2014) e SANTORO (2004). A abordagem do tema com
16. No Brasil, desde a regulamentação da Lei Complementar 101, de relação direta ao DOTS pode ser encontrada em SUZUKI (2015).
04/05/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), os governos locais (estados e municípios) estão proibidos 21. Artigo 4º da Lei 10.257/2001.
de emitir títulos de dívida (BRASIL, 2000).
COMPONENTE DETALHAMENTO
ativos
Terrenos Público/privado /informal; único/múltiplos proprietários; área de proteção, preservação ou restauração ambiental.
Infraestrutura e Transporte não motorizado (ciclofaixas, calçadas), transporte coletivo (corredores, faixas exclusivas, estações), sistema viário (ruas, calçadas, pavimentação), conexões
equipamentos de
trânsito entre transportes/hubs, veículos (público/privado, motorizados e não motorizados).
Infraestrutura
Conexões e redes de eletricidade, gás, água, saneamento, comunicações.
básica
Construções Residencial (baixa/média/alta renda), comercial (serviços e comércio de produtos), industrial, equipamentos públicos e privados (escolas, postos de saúde, lazer, segurança, etc.).
processos
Planejamento e Identificação de áreas e preparação: autorizações, licenças, estudos de viabilidade e avaliações, estudos de mercado, estudos de acesso à estação, projetos, desapropriações,
desenvolvimento alteração na legislação urbanística, consultas públicas.
Implementação
(construção e Construção e instalação dos ativos tangíveis.
instalação)
Operação, Provisão de serviços urbanos (transporte, limpeza, iluminação, etc.), contemplando salários, combustível, serviços públicos, seguros, etc. Ainda, tem-se manutenção e reparos
manutenção e
melhoramentos da infraestrutura, bem como investimento em melhorias.
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Quadro A.1 | Componentes do investimento de projetos de DOTS (cont.)
COMPONENTE DETALHAMENTO
ativos intangíveis
Incentivo à caminhabilidade (fachadas ativas, calçadas qualificadas, etc.) e ao uso misto de áreas comerciais e residenciais, proximidade (à distâncias caminháveis)
Vitalidade urbana
ao transporte coletivo, comércio e serviços essenciais (saúde, educação, lazer, etc.).
Inclusão social Renda mista: garantia de percentual de unidades habitacionais e comerciais com preços acessíveis a todas as unidades da construção.
Eficiência energética Modos limpos de transporte coletivo, gestão de águas pluviais, telhados verdes e calçadas permeáveis, elementos de biorretenção, geração de energia no local, materiais
e sustentabilidade
ambiental de construção de origem local.
Marca do bairro
e identidade Marketing e propaganda do bairro, criação do senso de pertencimento à área pelos moradores, valorização da cultura local.
comunitária e cultural
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Quadro A.2 | Resumo dos instrumentos de financiamento oportunizados pelo plano diretor (cont.)
Outorga Onerosa Valor cobrado pela valorização gerada Cobrir custos de construção Instrumento previsto no Estatuto da
de Alteração de pela alteração de uso do terreno ou do das intervenções previstas pelo Cidade; não requer desembolsos diretos
Uso imóvel. DOTS. ou acréscimo do endividamento público.
Incentivos
Indicado para a provisão direta
Incentivos e subsídios concedidos pelos
Incentivos e das estruturas, bem como de sua
governos locais para promover a Não requer desembolsos diretos ou Muitas vezes se reflete em renúncia de receitas
benefícios fiscais manutenção, podendo ser em
e financeiros implementação dos componentes do acréscimo do endividamento público. pelo poder público local.
forma de reduções ou isenções
investimento.
temporárias no IPTU.
Indicado para aquisição de áreas
Cessão ou doação Doação de terrenos ou cessão de uso de Não requer desembolsos diretos ou Pode refletir a renúncia de ativo público
nas quais estejam previstas
de terrenos áreas por entes públicos. acréscimo do endividamento público. importante.
intervenções DOTS.
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CRÉDITOS DE FOTO E IMAGEM:
CAPA, pg. 2, 20, 32, 34, 41, 48, 50, 54, 58, 62, 73, 94, 101, 104, 105:
Mariana Gil/WRI Brasil; pg. 6, 9, 19, 38: Daniel Hunter/WRI Brasil;
pg. 10: Laura Azeredo; pg. 26: Sergio Vale/SECOM; pg. 42: Ronald
Woan; pg. 57: Fernando Frazão/Agência Brasil; pg. 61: JP Rosa; pg.
69: Aldas Kirvaitis; pg. 103, 109: Victor Mori Yama; pg. 116: Ana Paula
Hirama.
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