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INTRODUÇÃO ÀS INTRODUÇÕES

Marcio Peter

Oscar Cesarotto

Certa vez, o escritor Jorge Luis Borges, reunindo num só livro os prólogos que fez para obras
alheias, produziu mais um, que caracterizou como "prólogo de prólogos". Tema borgiano, sem
dúvida.
Uma lista cronológica dos trabalhos de Lacan, ainda com mais razão, merece uma introdução às
introduções. Pois, se a vastidão de sua obra torna necessária uma orientação para sua compreensão,
também a promessa de "chaves" para sua leitura requer certos cuidados.
Um deles, é que ninguém pode oferecer uma versão inquestionável e absoluta sobre o sentido
desta produção. Outro, que mesmo que os a utores das introduções a Lacan conhecessem a
totalidadede de sua obra, coisa que raramente acontece, nada os autorizaria a privilegiar alguns
elementos em detrimento de outros.
Estes reparos, no entanto, não inviabilizam as tentativas de se ordenar e agrupar conceitos e
épocas do ensino de Lacan, visando facilitar o acesso do neófito ao mesmo. Só que a convenção das
divisões, cuja finalidade didática poderia ser de utilidade para o leitor, fala quase sempre mais do
percurso do introdutor que do próprio Lacan.
Queremos afirmar com isto que ninguém escapa de ter que fazer a sua leitura. Nem que comece
se encostando na leitura dos outros. Entretanto, haveria de precaver contra aqueles autores que,
imbuídos de uma certeza característica da paranóia, pretendem ser a sua, claro, a única e verdadeira
leitura.
Assim prevenidos, podemos abordar as várias formas em que o produzido por Lacan foi
sinalizado. Entre elas, a título de ilustração. A primeira, seria a aplicação de um parâmetro
estritamente histórico-cronológico. Nesta perspectiva, poderíamos situar os artigos escritos entre
1926 e 1934, fruto de sua especialização em neurologia e psiquiatria. Depois, de 1934 a 1953, seus
trabalhos decorrem da adesão à psicanálise, dando base ao questionamento dos modelos dos quais
sua formação se efetuou.
Um terceiro período, de 1953 a 1964, marca sua ruptura com a IPA, e o início da emergência de
um pensamento teórico que foi designado como "retorno a Freud".
Finalmente, um quarto período, de 1964 a 1981, em que a terminologia e articulações, são
específicas de um esquema conceitual próprio, que seria o que se conhece, hoje, como "psicanálise
lacaniana".
Traçando um paralelo com Freud - que dentro das conseqüências de seu pensamento teria se
tornado freudiano só em 1925, após o artigo sobre "A denegação" - poder-se-ia dizer, a grosso
modo, que Lacan se torna lacaniano em 1964, momento em que apresenta uma visão da psicanálise
total e exclusivamente baseada nas suas conclusões. Cumpre acrescentar que a virada se refere à
formalização do conceito de"objeto a", derivado da idéia freudiana da "coisa" (das ding), abordado
em 1960 no seminário sobre a ética e articulado no seminário sobre os quatro conceitos funda-
mentais da psicanálise.
Da mesma forma, outro ponto de viragem se situa em 1972, no seminário "Mais, ainda", onde o
tema do gozo, já elaborado desde a ética, passa a ser o centro em torno do qual gira a questão do real
na prática analítica.
Outra maneira de se convencionar a seqüência do ensino de Lacan não tem a ver com a
referência temporal, senão com a lógica interna dos desenvolvimentos teóricos. Este modelo
apontaria três etapas. A primeira, que iria de 1936, ano da apresentação, no Congresso Internacional
de Psicanálise de Mariembad, do texto sobre "O estado do espelho", até 1953, ano da leitura, no
Congresso de Roma, de "Função e campo da palavra e da linguagem na psicanálise". Período este
que se caracterizaria pela delimitação do registro do Imaginário.
A segunda, de 1953, com o já citado "Informe de Roma", até 1976, poria em evidência o registro
do Simbólico.
Finalmente, uma terceira etapa que se estenderia de 1976, ano do seminário "Le sinthome",até as
últimas produções de Lacan em 1980, período que se destaca pela ênfase dada ao registro do Real.
Junto com isto, a interrelação destes três registros a partir de sua amarração "borromeana" .
Uma outra tentativa de vetorizar a obra lacaniana, mais detalhada que as anteriores, permite uma
panorâmica minuciosa de suas interseções conceituais, sem desconhecer as articulações precedentes.
Esta proposta, elaborada por Carlos Faig, cristaliza os temas dos seminários e dos escritos, em
função de sete subdivisões:
1) Seminários 1 a 4: desenvolvem o conceito de inter-subjetividade, a partir dos esquemas L,
lambda e R. O seminário 4 situa-se no limite do nascimento do "objeto a".
Os escritos correlatos são: "A agressividade", "O estado do espelho", "Introdução e resposta a
Jean Hyppolite", "Função e campo da palavra", "A carta roubada", "A coisa freudiana", e "Questão
preliminar a todo tratamento possível da psicose".
2) Seminários 5 a 8: descrevem os gráficos do desejo, e a relação entre o significante e o objeto
parcial. Correspondem-se com: "A instância da letra", "Significação do falo", "Direção do
tratamento", "Metáfora do sujeito", os textos sobre os trabalhos de Lagache e Jones, e "Kante Sade".
3) Seminários 9 a 12: exemplificam a chamada "álgebra lacaniana", em estreita relação com a
fundamentação da aritmética no logisismo matemático depois de Frege. Associam-se a "Subversão
do sujeito", "Posição do inconsciente" e "Ciência e verdade".
4) Seminários 10 a 16: referem-se ao ato analítico, dando uma forma acabada à questão da
transferência. Uma resultante disto é a "Proposição do 9/10/67".
5) Seminários 16 a 18: tematizam os quatro discursos, suas articulações e disjunções.
6) Seminários 15, 18 e 20: definem as fórmulas quânticas da sexuação.
O escrito emergente é "L' etourdit".
7) Seminários 21 a 27: conceitualizam os nós borromeanos. Voltando às introduções à obra de
Lacan, os diversos autores pretendem fornecer chaves, soluções de enigmas, conselhos, às vezes
úteis, herméticos, ou esdrúxulos, testemunhando as dificuldades de aproximação ao assunto em
questão. Por exemplo, às vezes Lacan é introduzido através de aforismas, de maneira dogmática. Ou
senão, via discurso universitário, seu pensamento é reduzido à dimensão de uma tese. Para não falar
dos manuais "a la Fenichel" que banalizam tudo, ou as tentativas de situar Lacan desde outras
disciplinas, sempre parcialmente, quando não de forma ingênua.
Uma outra vertente, propriamente psicanalítica, é abordar Lacan pelo estilo. Empresa válida só
na medida em que a subjetividade do autor possa ficar entre parênteses, para não desvirtuar a
proposta.
Definitivamente e apesar do próprio Lacan afirmar que seus escritos não eram para ser lidos,
sobra para o interessado o desafio da travessia pelos textos, num mergulho fundo nos meandros
significantes da coisa lacaniana.

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