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História A - Resumos Exame Nacional 2018

Módulo 5 (11º) – O liberalismo ‒ ideologia e revolução, modelos e


práticas nos séculos XVIII e XIX
Unidade 1 – A revolução americana, uma revolução fundadora
1.1 Nascimento de uma nação sob a égide dos ideais iluministas
A Revolução Americana resultou da insurreição das 13 colónias inglesas na América
do Norte contra o domínio da Inglaterra.
Os colonos americanos sentiram que os valores e princípios do Iluminismo – divisão do
poder, a liberdade e a defesa dos direitos e do valor do indivíduo – estavam a ser
colocados em causa, reagiram, opondo-se ao modo como os ingleses exerciam o seu
domínio sobre as colónias americanas. Assim, um movimento que começou por ser de
resistência acabou por se tornar numa revolta das 13 colónias inglesas.

O movimento de insurreição das colónias americanas


Depois de 1763, a Inglaterra foi confrontada com a falta de recursos financeiros, pelo
que aumentou os impostos sobre as colónias da América do Norte:
 Imposto sobre o açúcar – Sugar Act –, o café e a importação de vinhos e roupa.
 Reforço exclusivo do comércio colonial, fazendo valer o direito de inspecionar
os navios americanos.
 Em 1765, novo imposto – o Stamp Act – que obrigava ao uso do papel selado
inglês
 Em 1733, foi lançado o Tea Act (imposto sobre o chá).
Os colonos viram estas imposições tributárias como um ataque às suas liberdades e
desenvolveram ações de revolta:
 1770, primeira revolta de Bosto e, em 1773, revolta de Boston Tea Party.
Os ingleses em resposta aumentaram a repressão:
 Em 1774, o porto de Boston foi encerrado;
 A cidade foi obrigada a pagar uma indemnização à companhia;
 As reuniões foram proibidas.
Assim, limitavam-se os direitos, as liberdades e a autonomia da colónia do
Massachusetts, medidas que foram consideradas intoleráveis (Intolerable Acts).
Foi neste contexto de diferendos que reuniu o primeiro Congresso de Filadélfia, no
qual se discutiram os direitos dos colonos americanos. Nesse congresso, os colonos,
baseando-se nos princípios da igualdade e da liberdade, reiteraram na Declaração dos
Direitos de 1774 que possuíam direitos inalienáveis e tomaram medidas como o
boicote aos produtos ingleses. A rebelião abriu o caminho para o confronto armado
entre as 13 colónias americanas e a Inglaterra.

A guerra pela independência


Em 1775, as tropas inglesas e os colonos americanos defrontaram-se na primeira
batalha da revolução americana – a batalha de Lexington. Mas, a determinação das
colónias em afirmar a independência, e a consciência do seu direito à liberdade, levou
a que a 4 de julho de 1776 fosse aprovada a Declaração da Independência, redigida
por Thomas Jefferson que consagrava a independência das 13 colónias americanas.
Contudo, a capacidade militar dos colonos para enfrentar o exército britânico era
reduzida, pelo que foi necessário encontrar apoios na Europa com o intuito de
combater o inimigo inglês. A ação diplomática desenvolvida por Benjamin Franklin foi
determinante na obtenção destes apoios.
Nas batalhas pela independência foi fundamental o papel de George Washington
como general e comandante-chefe do exército americano.
Em 1781, as tropas britânicas ficaram encurraladas em Yorktown, entre os americanos,
em terra, e os franceses, no mar. Esta humilhante derrota levou à rendição inglesa e
pôs fim ao domínio britânico na América do Norte.
No ano de 1783, foi assinada a paz de Paris entre a Inglaterra, as colónias americanas,
a França e a Espanha: reconheceu-se a independência das colónias e definiram-se as
fronteiras.

O nascimento de uma nação


Após a Declaração da Independência de 1776, em 1783, iniciava-se o processo de
afirmação de uma nova nação e de um novo Estado.
Os EUA formaram-se como nação e como Estado em resultado de uma revolução
liberal.
Era necessário construir um novo modelo político e de governo que respeitasse os
princípios pelos quais os revoltosos haviam lutado, mas também que se adequasse aos
interesses dos diferentes Estados. Deste modo, o debate dos americanos fundadores
oscilou entre dois modelos: a manutenção da Confederação dos EUA, segundo a qual
cada Estado detinha uma forte autonomia e independência; ou a criação de uma
Federação, com um governo central forte, capaz de conciliar os interesses dos
diferentes Estados.
Os antifederalistas (defensores do primeiro modelo) receavam que a constituição de
um governo central pusesse em causa os interesses particulares de cada Estado. Os
federalistas consideravam que os diferentes Estados seriam devidamente
representados e que os seus interesses não seriam relegados.
O debate terminou em 1787, com a opção pelo segundo modelo, o de Estado federal,
com a aprovação da Constituição. A Constituição americana de 1787 assegurava aos
Estados federados a sua autonomia. Nascia assim a república federal dos EUA marcada
por várias características:
 A divisão tripartida do poder e um sistema presidencialista do exercício do
poder executivo;
 O poder legislativo cabia ao Congresso, o poder executivo ao Presidente e o
poder judicial ao Supremo Tribunal e tribunais estaduais;
 O Congresso era bicameralista, ou seja, dividido em duas câmaras: o Senado e
a Câmara dos Representantes;
 A consagração do princípio da soberania popular, através do voto censitário,
para eleição do Congresso e do Presidente.
Com o nascimento dos EUA, estabeleceu-se um sistema político inteiramente novo,
uma República Federal. Os EUA concretizaram todo um conjunto de ideias que
valorizavam o indivíduo, a liberdade, a igualdade e a propriedade.
Revolução liberal: Movimento de revolta contra a restrição das liberdades e dos
direitos. Defende a liberdade do indivíduo como um princípio supremo e inalienável,
bem como a limitação do poder político. Defende que o Homem possui direitos
naturais, fundamentais, que não podem ser restringidos ou postos em causa por
nenhum poder.
Constituição: Designa a lei fundamental de um país, que estabelece a organização
política, os direitos e deveres do cidadão; define os poderes e a estrutura do Estado e
dos órgãos do governo.

Unidade 2 – A revolução francesa – paradigma das revoluções liberais e


burguesas
2.1 A França nas vésperas da Revolução
A Revolução Francesa significou uma profunda transformação em termos políticos,
sociais e económicos:
 Pôs fim à monarquia absoluta, instaurando uma monarquia constitucional,
seguida de uma república
 Aboliu o Antigo Regime, e com ele os direitos senhoriais e os privilégios da
sociedade de ordens.
A Revolução Francesa criou uma nova sociedade – os franceses deixaram de ser
súbditos e tornaram-se cidadãos livres e iguais perante a lei; consagrou a ideia de a
soberania assenta no povo (soberania popular).
A Revolução Francesa foi um processo complexo de transformações.

Causas estruturais
As causas mais enraizadas e duradouras no tempo assentam em questões de natureza
política, económica, social e cultural.
Causas estruturais de natureza económica e financeira:
 Elevados défices que debilitaram as finanças do Estado francês e afetaram a
sua economia;
 A fragilidade financeira acentuou-se com a participação francesa na guerra da
independência dos EUA.
 Face à insustentabilidade das finanças públicas os ministros de Luís XV e de Luís
XVI defenderam a reforma do sistema de impostos.
Causas estruturais de natureza social:
 Persistia a secular divisão tripartida e hierarquizada de uma sociedade desigual
e os privilégios judiciais e fiscais isentavam o clero e a nobreza;
 Esta situação fiscal provocava tensões crescentes entre os estratos superiores
do Terceiro Estado (burguesia) e os privilegiados (clero e nobreza);
 A burguesia, letrada e rica, sentia que era sobre ela que recaiam os encargos
financeiros;
 A sobrecarga de impostos afetava os fracos rendimentos dos estratos mais
baixos do Terceiro Estado.
Assim, o descontentamento social não era exclusivo dos mais desfavorecidos.
Em termos culturais:
 O Iluminismo inspirou grande parte das mudanças culturais que ocorreram em
França, no pensamento e na mentalidade das elites: a rejeição do absolutismo,
a defesa de princípios, como a liberdade e a igualdade; a valorização da
dignidade do indivíduo e a soberania popular; o desejo de um modelo político
assente na divisão de poderes.

Causas conjunturais
As causas mais próximas e imediatas assentam em fatores económicos, sociais e
políticos.
Em termos económicos:
Os anos que antecederam a revolução foram difíceis:
 O ano de 1787 foi marcado por chuvas e inundações, por seca e saraiva (no
verão) acompanhado de um inverno rigoroso, condições que se refletiram nas
más colheitas cerealíferas de 1789, provocando o aumento significativo do
preço do pão;
 Esta situação veio juntar-se a uma crise de subsistência desde 1788, causadora
de revoltas populares.
 A indústria têxtil encontrava-se em estagnação e, em 1789, a sua produção
diminui muitíssimo, aumentando as dificuldades de escoamento dos produtos
e aumentando o desemprego.
Assim, o descontentamento era generalizado – a fome, a miséria e a mendicidade,
consequência das condições económicas adversas, provocaram sublevações populares.
A realeza era vista negativamente:
 O monarca Luís XVI, fraco e hesitante e a rainha, Maria Antonieta, considerada
frívola, gastadora e inimiga dos franceses;
 Luís XVI foi incapaz de enfrentar e controlar a nobreza dos parlamentos locais
que divergiam das decisões régias.
 O défice financeiro obrigava à urgência do levantamento de impostos, surgindo
pela mão de Calonne a proposta de uma reforma administrativa e fiscal –
uniformizar a tributação, com um novo imposto direto sobre todos os
proprietários fundiários.
A reação nobiliárquica e a oposição permanente dos parlamentos levaram a que se
evocasse o princípio de que o rei não poderia levantar os impostos sem a convocação e
o consentimento dos Estados Gerais. Luís XVI resignou-se às exigências e convocou,
então, os Estados Gerais a reunir em maio de 1789.

2.2 Da nação soberana ao triunfo da revolução burguesa


A partir de janeiro de 1789, data da convocação dos Estados Gerais procedeu-se à
eleição dos deputados que representariam o clero, nobreza e Terceiro Estado nos
Estados Gerais. O rei solicitara às três ordens sociais a redação de cadernos de queixas
em que podiam expressar o seu descontentamento e as suas reclamações. A
mobilização geral para a preparação e participação nos Estados Gerais permitiu a
manifestação clara das aspirações sociais, patentes nos cadernos de queixas.

Os cadernos de queixas eram reveladores da conjuntura de dificuldades.


Concluído o processo de escolha dos representantes dos três estados, os deputados
apresentaram-se em Versalhes:
 O voto deveria ter lugar por ordem, mas surgiu a defesa de uma votação por
cabeça.
Havia alguns sinais de falta de coesão social das ordens pois alguns elementos do baixo
clero e da nobreza reclamavam uma modernização da monarquia e da forma de
governo, apoiando algumas das pretensões do Terceiro Estado.
A abertura dos Estados Gerais fez-se de forma tradicional, com uma missa e uma
procissão e no dia seguinte, a 5 de maio, teve lugar a abertura solene marcada pelo
discurso do rei e do ministro Necker.
A maioria da nobreza e do clero mantinha a opção pela votação tradicional por ordem.
O Terceiro Estado defendia que representava a Nação e acabou por se proclamar como
Assembleia Nacional.
Perante esta situação, o rei mandou encerrar a sala de reunião dos três estados: o
Terceiro Estado reuniu-se na Sala de Jogo da Pela, e juraram não se separar até
redigirem uma Constituição para França. Este episódio ficou conhecido como
Juramento da Sala do Jogo da Pela.
Luís XVI teve de reconhecer a derrota e ordenou que os três estados se unissem num
só corpo. Estava formada a Assembleia Nacional Constituinte, que tinha como
objetivo elaborar a Constituição.
A desagregação da ordem social do Antigo Regime
Entre 9 de julho de 1789 e 12 de julho de 1790, tiveram lugar uma série de
acontecimentos marcantes que contribuíram para a abolição do Antigo Regime:
 A tomada da Bastilha;
 O “Grande Medo”.

A tomada da Bastilha
Os acontecimentos que deram lugar à tomada da Bastilha tiveram, na sua origem, as
sublevações populares que ocorreram nos dias anteriores. A fome que grassava na
cidade de Paris revoltou a população. Estas sublevações conduziram à organização de
milícias populares para pôr fim à revolução. Assim, a 14 de julho de 1789, teve lugar
um dos acontecimentos mais simbólicos da Revolução Francesa: a tomada da
fortaleza da Bastilha, que marcou a entrada do povo na Revolução. A Bastilha era
usada, no reinado de Luís XVI, para prender delinquentes e ofensores da moral
pública. A tomada da Bastilha não deixou de adquirir um significado simbólico de
liberdade, não só por ser a prisão-símbolo do Antigo Regime, mas também por estar
ligada à revolta que pôs fim ao absolutismo.

O “Grande Medo”
Os acontecimentos de 14 de julho repercutiram-se um pouco por toda a França:
desencadearam-se movimentos antissenhoriais contra os direitos feudais; com
ataques a castelos, fornos, lagares e moinhos (símbolos do poder senhorial), bem
como na destruição de registos senhoriais. Havia medo de uma possível reação
aristocrática.

A noite de agosto e o fim da sociedade e das instituições do Antigo Regime


A 4 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte, decretou a abolição dos
privilégios da sociedade feudal, pondo fim aos alicerces político-sociais do Antigo
Regime: fim da dízima do clero; o fim dos direitos de caça e coutada; o fim das
corveias e da servidão; o fim dos privilégios associados às comunidades, cidades e
corporações; a abolição da venalidade dos cargos públicos; a igualdade civil perante a
lei.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, assinada a 26 de agosto de 1789,
assumiu-se como o texto fundamental da Revolução Francesa: consagrou os valores
da liberdade, da igualdade e da propriedade, que nortearam a ação dos seus
promotores. Os princípios iluministas de valorização dos direitos naturais do individuo
constituíram-se como a declaração formal da abolição do feudalismo e do absolutismo
de origem divina. A Declaração, preâmbulo à Constituição de 1791, contribui para a
edificação de uma nova sociedade, pondo fim aos privilégios adquiridos pelo
nascimento e à desigualdade perante a lei, fazendo da lei universal o garante da
igualdade, da liberdade e da soberania nacional.

A Constituição Civil do Clero


A Assembleia Nacional Constituinte, na sequência da abolição dos privilégios das
ordens, decretou o confisco dos bens do clero, tornando-os em bens nacionais; criou
os assignats, isto é, títulos de empréstimo emitidos pelo Estado.
O confisco dos bens eclesiásticos obrigou à reforma e reorganização da Igreja de
França, através da lei de 12 de julho de 1790 que foi denominada Constituição Civil do
Clero. Esta estabelecia que os membros do clero se tornavam funcionários do Estado;
tal implicou a obrigatoriedade de um juramento de fidelidade à nação e à Constituição.
Esta lei abria caminho à afirmação do Estado laico, e procurava, por um lado, tornar a
Igreja independente do poder do papa e, por outro, submetê-la ao Estado.
Estado laico: Designa a separação do Estado da Igreja, isto é, o Estado permanece
neutro relativamente aos assuntos religiosos, não privilegiando nenhuma religião. É
também um Estado onde a religião não interfere nos assuntos da cultura ou da
educação, ainda que garanta a liberdade religiosa dos cidadãos.

O fim das corporações


A 14 de junho de 1791, a aprovação da Lei Le Chapelier, pôs fim às corporações dos
ofícios ou de outros organismos coletivos cuja organização e privilégios remontavam à
Idade Média, e eram um entrave à inovação técnica e à liberdade de iniciativa
económica. A lei proíbia a greve, as manifestações dos trabalhadores e a organização
de sindicatos.
A Revolução Francesa foi um processo irreversível, marcado por:
 Profundas transformações económicas, sociais e políticas;
 Ultrapassou as fronteiras da França, teve consequências na Europa e na
América Latina
 Marcou definitivamente o fim do Antigo Regime e, segundo alguns
historiadores, marcou o início da Época Contemporânea.

2.2.1 A Monarquia Constitucional


A Constituição de 1791 pôs fim à monarquia absoluta e instaurou a monarquia
constitucional em que o rei jurava fidelidade e submetia-se à Constituição.
Monarquia Constitucional: Designa o sistema de governo em que o rei vê o seu poder
limitado e submetido à Constituição, assumindo somente o poder executivo.
Os deputados que redigiram a Constituição de 1791 foram influenciados:
 Pelos grandes princípios do Iluminismo;
 Pelo sistema do governo inglês implementado com a Revolução Gloriosa,
sobretudo quanto à consagração de uma monarquia constitucional;
 Pela Revolução Americana, em particular no domínio dos direitos e das
liberdades dos indivíduos.
A Constituição de 1791 assumiu-se como o resultado destas diferentes influências e
das leis votadas pela Assembleia Constituinte desde 1789, tendo como preâmbulo o
texto da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, consagrando:
 Uma nova forma de exercício do poder e de governo assente nos princípios da
divisão do poder e na defesa dos direitos naturais do Homem: a liberdade e a
igualdade; o princípio da soberania popular, defendido por Rousseau; o
monarca deixava de ser rei de França para se tornar rei dos franceses,
afirmando-se, assim, a soberania nacional;
 O princípio da separação dos poderes que havia sido defendido por
Montesquieu: ao rei cabia o poder executivo;
 A Assembleia Nacional detinha o poder legislativo e era constituída pelos
eleitos como representantes da nação (deputados);
 O poder judicial era assegurado por juízes e tribunais.
A soberania nacional definida na Constituição era, no entanto, limitada. A
Constituição de 1791 definia o sufrágio censitário e indireto: nem todos os franceses
podiam exercer o direito de voto; só os designados cidadãos ativos é que o podiam
exercer: os homens, com idade igual ou superior a 25 anos, que dispunham de
capacidade para pagar um censo ou imposto correspondente a três dias de trabalho. O
voto censitário excluía da participação um grande número de cidadãos a quem eram
reconhecidos direitos civis mas que não tinham direitos políticos ou de voto.
Sufrágio censitário: Designa o direito de voto atribuído apenas aos que possuem uma
situação económica preestabelecida em função do pagamento de um imposto (censo).

A queda da monarquia
As opções legislativas e constitucionais da Assembleia não foram pacíficas, causando
agitação social e política. As indecisões do monarca culminaram na tentativa de fuga
falhada, do rei Luís XVI e da família real.
O povo organizava-se e pressionava para obter uma maior participação na vida politica
e no sentido da adoção de medidas favoráveis à melhoria das suas condições de vida.
As tentativas contrarrevolucionárias provenientes do exterior, por parte dos
emigrantes franceses intensificaram as tensões no interior da França e levaram à
contestação da própria monarquia. Luís XVI contava com o apoio dos monarcas
estrangeiros que começavam a ver a situação revolucionaria em França como sendo
perigosa para as outras monarquias europeias. O manifesto de Brunswick declarava
que, caso a família real fosse atacada, então a população de Paria também o seria, o
que fez inflamar os ânimos do povo parisiense.
Assim, a França confrontava-se com quatro preocupações que dividiam a opinião
pública e as diferentes fações políticas.
Em julho de 1792 foi declarado que a “pátria estava em perigo”, ainda na vigência da
Assembleia Legislativa, criando um ambiente mobilizador contra as ameaças à
revolução, fossem no exterior, fossem internas.
A 10 de agosto de 1792, um movimento insurrecional popular, dirigiu-se à residência
real das Tulherias, obrigando o rei a procurar refúgio na Assembleia Legislativa. A
monarquia constitucional foi abolida: o rei Luís XVI foi destituído dos seus poderes; foi
condenado como traidor e a sua execução ocorreu a 21 de janeiro de 1793.
Esta decisão de condenar o rei à morte veio culminar na divisão definitiva entre os
girondinos e os montanheses:
 Os girondinos, apoiados pela rica burguesia dos negócios, mais moderados, e
politicamente divergentes da Comuna de Paris, defendiam as liberdades de
1789; recusavam a atribuição da pena capital ao rei. Os girondinos foram
progressivamente afastados do poder;
 Os montanheses, ligados dominantemente ao clube dos jacobinos, liderados
por Robespierre, defendiam o caráter mais popular da revolução e respondiam
à pressão exercida pelos sans-culottes que eram a base social de apoio da
revolução.
Havia muita pressão social e política que se fazia sentir devido à ação da Comuna
insurrecional de Paris.
A nova Convenção teve a primeira sessão em 20 de setembro de 1792, no dia em que
os exércitos franceses obtiveram a vitória em Valmy. Foi a derrota infligida aos
prussianos, em Valmy, que reforçou a intervenção dos revolucionários da Comuna de
Paris e da Convenção contra os vestígios da monarquia, contra as ameaças exteriores e
internar que punham em causa a revolução.

2.2.2 A obra da Convenção


A deposição do rei e a radicalização revolucionária conduziu à formação de uma nova
assembleia – a Convenção republicana – eleita por sufrágio universal masculino, que
deveria dar à França uma nova Constituição.
Principais decisões:
 A abolição da monarquia constitucional;
 Os montanheses, apoiados pelos sans-culottes, afastaram os girondinos da
Convenção em junho de 1793;
 Implementaram a ditadura jacobina assente num governo revolucionário
liderado pela Comuna Insurrecional de Paris e pelo Comité de Salvação pública,
correspondendo aos anseios do povo miúdo de Paris, que defendia uma
república mais igualitária e uma democracia direta;
 A 25 de setembro, de 1972 declarou a República “una e indivisível” face às
ameaças da guerra exterior e da Vendeia;
 A Convenção elaborou uma nova Constituição republicana, proclamada a 21 de
setembro de 1793, mas que nunca entrou em vigor porque foi decretado que o
governo da França seria revolucionário até à paz, o que implicava a adoção de
medidas de exceção e a não aplicação da Constituição de 1793;
 Iniciou-se o regime do “Terror”, entre 1793 e 1794, associado, sobretudo, à
figura de Maximilien Robespierre;
 A instituição do regime do “Terror” contava com a existência de um Comité de
Segurança, que supervisionava as prisões e o da criação do Tribunal
Revolucionário com recurso a julgamentos sumários e o poder de condenar à
morte.
A ação revolucionária da Convenção estendeu-se por toda a França, através de
organizações revolucionárias jacobinas que atuavam em nome do Estado
revolucionário, controlavam os suspeitos, procediam a prisões e reprimiam
insurreições. Principais meios e medidas:
 A adoção da Lei dos Suspeitos;
 A instituição de tribunais revolucionários;
 A guilhotina tornou-se símbolo deste período;
 O regime da Convenção montanhesa marcou o início de uma nova época com a
adoção do calendário revolucionário;
Ao nível económico foi promulgada a Lei do Máximo, no sentido de fixar o valor dos
salários e o preço máximo dos produtos considerados essenciais, como forma de evitar
o açambarcamento e para fazer frente à desvalorização da moeda e à falta de
alimentos. Foi também adotado um sistema de uniformização dos pesos e das
medidas.
Em termos sociais, a Convenção decretou a abolição da escravatura nas colónias.
Os símbolos da revolução francesa generalizaram-se neste período da Convenção
republicana:
 A cocarde, emblema e distintivo usado desde 1789, e o barrete frígido
vermelho, símbolo dos escravos libertos, usado na Antiga Roma;
 As cores revolucionárias e a bandeira tricolor da república, composta por três
bandas verticais, azul, branca e vermelha;
 A Marselhesa, cântico de guerra do exército do Reno, tornou-se o hino
republicano; generalizaram-se os hinos patrióticos e revolucionários;
 A divisa da república, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que surge muitas
vezes associada à figura de Marianne, um dos outros símbolos da República
divulgados também pela revolução;
 O traje dos sans-cullottes assumiu-se, igualmente, como um distintivo
revolucionário.
Durante este período do “Terror” viveu-se também uma descristianização forçada:
 O encerramento de igrejas e laicização do casamento, que se tornou um ato
civil, e o divórcio foi legalizado;
 A generalização do culto do ser supremo e da razão, as festas cívicas dos heróis
e das árvores da liberdade.
Os excessos que marcaram este regime mergulharam a França numa instabilidade
sem precedentes. Robespierre foi afastado e guilhotinado, tal como outros dirigentes.
A Convenção voltou a ser dominada pelos girondinos e foi redigida a nova Constituição
de 1795. Iniciou-se um novo período político da Revolução – o Diretório.
2.2.3 O regresso à paz civil e a nova ordem institucional e jurídica
O período compreendido entre 16 de outubro de 1795 e 18 de maio de 1804
correspondeu a duas formas de governo distintas na primeira República francesa – o
Diretório e o Consulado.

O Diretório
O Diretório: uma forma de governo constitucional que vigorou entre 26 de outubro
de 1795 e 9 de novembro de 1799.
Foi marcado pelo afastamento das fações mais radicais, ligadas à Convenção, bem
como das camadas populares; deu-se a ascensão dos setores moderados, apoiados
pela burguesia que tinha como objetivo firmar as conquistas políticas e sociais
alcançadas com a Revolução e garantir o controlo do poder.
A Constituição do Ano III, aprovada em outubro de 1795, teve como principal
preocupação evitar a concentração de poderes: o poder legislativo foi entregue a cinco
diretores, eleitos pelo Conselho dos Anciãos. A Constituição de 1795 restabeleceu o
voto censitário masculino.
O período do Diretório assumiu diversas características políticas e sociais: coincidiu
com um tempo de crise económica mas também de especulação e corrupção; com a
ascensão de uma classe de burgueses enriquecidos, acentuou os contrastes
socioeconómicos entre os franceses; foi marcado por forte instabilidade política,
resultante de rivalidades entre fações opostas e das tentativas contrarrevolucionárias
realistas e até jacobinas.
Estas tentativas de conquista do poder foram sempre reprimidas com a intervenção do
exército, de modo a restaurar a ordem.

O Consulado
Foi em resultado da procura de ordem que surgiu o Consulado. Este regime político
vigorou na França entre 9 de novembro de 1799 e 18 de maio de 1804. O Consulado,
dirigido por três cônsules, entre os quais se destacou Napoleão Bonaparte,
pretendeu garantir a pacificação e estabeleceu uma nova ordem jurídica e
institucional.
A aprovação da nova Constituição, a 26 de dezembro de 1799, baseava-se em maior
autoridade e centralização, sem qualquer referência aos direitos do Homem, ou à
defesa das liberdades; centrava-se no poder executivo e militar controlados por
Napoleão, a figura cimeira deste novo regime.
Com a Constituição de 1799, consagrou-se que as eleições eram indiretas para os
diferentes órgãos de poder; ao Senado, que era um órgão de cariz conservador, cabia a
escolha dos três cônsules que, durante dez anos, detinham o poder. Ao primeiro
cônsul, Napoleão Bonaparte, cabia o poder executivo, tinha poderes ao nível militar e
das relações externas e era da sua responsabilidade a nomeação de ministros.
No ano de 1802, Napoleão foi declarado cônsul vitalício: a Constituição de 1799
sofreu algumas alterações. Era ao primeiro cônsul que cabia propor ao Senado os
nomes dos outros dois cônsules, com possibilidade de designar o seu sucessor. O
Senado passou a ter poder legislativo, estando, subordinado à vontade do primeiro
cônsul vitalício, Napoleão Bonaparte.
Durante o Consulado, sob a direção de Napoleão Bonaparte, retomou-se a paz
interna e o espírito de reconciliação entre as diferentes fações foi alcançado. A
liberdade de culto foi concedida, os emigrados foram autorizados a regressar à França,
mediante uma amnistia, e foi suprimida a lei que autorizava prender os familiares dos
emigrados. O clima de pacificação fez-se sentir também no exterior, na medida em que
pôs fim à guerra com a Áustria, procedeu ao estabelecimento de pazes com o Reino
Unido e, por fim, a Louisiana foi vendida aos EUA em 1803.
Mas a pacificação interna e externa não foram suficientes, havendo necessidade de
consolidar e modernizar o poder do Estado. Uma das principais iniciativas foi a
codificação das leis: os códigos napoleónicos são os mais famosos desde o código
romano, abrangendo o domínio civil, criminal, comercial e legal, que, reunidos em
1801, foram apenas publicados em março de 1804, no final do Consulado de
Napoleão; com estes instrumentos legais e jurídicos consagrou-se uma maior
uniformização da França e da igualdade dos cidadãos perante a lei; especial destaque
teve o Código Civil que garantia as liberdades individuais e a laicização da sociedade e
na família; a mulher continuou a ter um papel social de menoridade, limitando-se o
seu poder sobre a propriedade e sobre os filhos menores, situação comum em toda a
Europa da época.
O aparelho do Estado foi modernizado, mas também burocratizado, sob o Consulado e
assumiu-se claramente a função pública ao serviço do Estado, com salários, sem
compra e venda de cargos, com carreiras abertas ao talento e não ao nascimento.
Valorizou-se a instrução com a criação de liceus e escolas superiores, reformou-se o
sistema educativo onde se incluía o ensino primário e superior, conservando algumas
instituições herdadas do Antigo Regime, no domínio técnico e militar.
Procurou-se obter equilíbrio financeiro com uma reforma administrativa e fiscal; foi
criado o Banco de França, no ano de 1800, e, em 1803, assistiu-se a uma reforma
monetária que se traduziu no surgimento de uma nova moeda – o franco germinal.
A administração local também foi reformada, especialmente no domínio judicial.
Criaram-se as prefeituras, manteve-se a divisão do território em departamentos,
surgiram os bairros e os cantões, áreas que dispunham de funcionários nomeados e de
assembleias eleitas. Os juízes de paz tornaram-se os únicos a serem eleitos, a partir de
1800.
Napoleão procurou a pacificação religiosa, tendo assinado a Concordata em 1801,
sendo possível, a partir de então, reorganizar a Igreja de França.
No plano social, a sociedade napoleónica organizava-se de forma hierárquica,
distinguindo-se os cidadãos mais ricos, que compunham uma elite, de entre a
população, em geral. Procurou-se ainda a eliminação das fações políticas opositoras. A
escravatura, que fora abolida nas colónias no ano de 1794, foi reintroduzida.
No ano de 1804, a 18 de maio, com o fim do Consulado, a primeira República francesa
acabou dando lugar ao primeiro Império e, a 2 de dezembro, Napoleão Bonaparte
coroou-se imperador na catedral de Notre-Dame de Paris.
Unidade 3 – A geografia dos movimentos revolucionários na primeira
metade do século XIX
3.1 As vagas revolucionárias liberais e nacionais
A França durante o período napoleónico conheceu uma fase de conquista territorial da
Península Ibérica à Rússia. O sonho expansionista de Napoleão Bonaparte teve o seu
fim, mas os ideais da Revolução Francesa foram propagados por toda a Europa.
As guerras tiveram um papel determinante na expansão dos ideais revolucionários. A
presença dos exércitos franceses contribuiu para que os povos valorizassem os ideais
de liberdade, de igualdade e de fraternidade e se unissem contra o domínio exercido
pelos franceses, possibilitando o despertar de sentimentos nacionalistas.
A derrota de Napoleão Bonaparte permitiu que as potências vencedoras, Áustria,
Rússia, Prússia e Inglaterra, restaurassem a antiga ordem na Europa a fim de garantir
a legitimidade e a autoridade das monarquias (baseadas na hereditariedade da Coroa)
e o equilíbrio entre as potências.
O Congresso de Viena, onde estiveram representadas as nações vencedoras, visou
diversos objetivos:
 Restabelecer as antigas fronteiras;
 Pôr fim às ameaças que a revolução representava;
 Traçar um novo mapa da Europa;
 Engrandecer o poder dos seus Estados;
 Pôr termo aos ideais revolucionários.
Foi neste contexto que, para combater o perigo revolucionário, surgiu a Santa Aliança
assinada entre a Rússia, a Áustria e a Prússia, a que se juntou a Inglaterra, dando
origem à Quádrupla Aliança, tendo em vista congregar esforços para impedir o
regresso de Napoleão Bonaparte e vigiar os perigos revolucionários.

Após o Congresso de Viena


Apesar dos esforços das monarquias, os ideais da Revolução Francesa mantiveram-se.
Na Europa surgiram ondas revolucionárias de tipo liberal ou de tipo nacionalista:
 As revoluções liberais procuravam alterar o regime político, dotando os países
de instituições representativas e de Constituições;
 As revoluções nacionalistas pretendiam libertar os povos do domínio imperial,
valorizando a consciência e a identidade nacional.

Os movimentos revolucionários liberais e nacionalistas: Três vagas


Na primeira metade do século XIX, foram três as ondas revolucionárias que ocorreram
na Europa e na América Latina: 1820, 1830 e 1848.
A primeira vaga revolucionária compreendeu a década de 1820.
Na Europa, os movimentos revolucionários de cariz liberal tiveram lugar em vários
reinos: Espanha, Nápoles, Piemonte e Portugal, e traduziram-se na adoção de
Constituições. No entanto, acabaram por ser reprimidos pelos poderes absolutistas.
Na Grécia, em 1821, surgiu uma revolta de cariz nacionalista, em que os gregos
revoltaram-se contra o domínio otomano e conquistaram a independência. Na
década de 20 do século XIX assistiu-se ainda a movimentos independentistas na
América Latina, de cariz nacionalista.
A segunda vaga revolucionária ocorreu na década de 1830.
Em França assistiu-se a uma insurreição liberal que levou ao trono Luís Filipe de
Orleães, que se assumiu como rei constitucional.
A onda revolucionária difundiu-se para a Alemanha e Itália cujas revoltas foram
esmagadas pelo absolutismo austríaco.
As revoltas nacionalistas aconteceram igualmente na Bélgica (1831) e na Polónia
(1830-1831).
A terceira e última vaga revolucionária, em 1848, foi o movimento conhecido como
“Primavera dos Povos”.
Em França, a monarquia constitucional de Luís Filipe I foi abolida. A segunda República
francesa foi instaurada e Luís Napoleão foi eleito presidente da França.
Na Itália, a insurreição sucumbiu devido à intervenção austríaca que repôs o
absolutismo.
Em Viena, surgiram também revoltas que clamavam por um governo mais liberal. O
imperador Francisco José continuou a governar de forma autocrática.
Os húngaros e os checos, povos submetidos ao domínio do Imperio Austríaco,
reclamavam a autonomia.
Na Alemanha, surgiram levantamentos que foram dominados pela Prússia.
Um pouco por toda a Europa, as potências do Congresso acabaram por sufocar as
tentativas revolucionárias liberais e nacionalistas.
Um pouco por toda a Europa assistiu-se ao sonho de instauração de regimes assentes
em princípios constitucionais.
Apesar do insucesso das ondas revolucionárias, iniciadas na década de 1820, o
sentimento de liberdade, o desejo de construção de nações independentes e livres do
jugo imperial a que estavam submetidas, continuou a alastrar pela Europa e na
segunda metade do século XIX assistir-se-á ao triunfo das nações e dos
nacionalismos.

Unidade 4 – A implantação do liberalismo em Portugal


4.1 Antecedentes e conjuntura (1807 a 1820)
No início do século XIX, Portugal encontrava-se perante a encruzilhada dos interesses
político-militares das duas maiores potências da Europa: a França e a Inglaterra, cuja
rivalidade veio a culminar quando Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio
Continental. Portugal procurou manter uma situação de neutralidade neste conflito
mas Napoleão Bonaparte ordenou a invasão do reino de Portugal que ocorreu entre
1807 e 1811, em três invasões.
A primeira invasão foi comandada pelo general Junot. A família real, prevendo a
invasão francesa, partira no dia anterior para o Brasil, transferindo a sede da
monarquia para a sua colónia da América do Sul.
A Inglaterra decidiu auxiliar Portugal no combate às tropas francesas e o duque de
Wellington, chefe do contingente inglês, com o apoio de tropas portuguesas, venceu
os franceses nas batalhas de Roliça e do Vimeiro. Derrotados, os franceses foram
forçados a abandonar Portugal, depois de assinarem a paz, pela Convenção de Sintra,
em 1808.
A segunda invasão francesa, em 1809, foi liderada pelo marechal Soult que chegou ao
Porto. Em maio, as tropas luso-inglesas forçaram a retirada dos franceses. Em
consequência desta invasão, entre 10 e 11 de setembro de 1810, foram presas várias
personalidades defensoras dos ideais da Revolução Francesa, ligadas à Maçonaria. Este
episódio ficou conhecido como Setembrizada.
A terceira invasão, em 1810, foi chefiada pelo marechal Massena. As tropas francesas
confrontaram-se com as tropas anglo-portuguesas no Buçaco de onde saíram
detoradas. Os franceses não conseguiram ultrapassar as linhas de Torres Vedras e
retiraram em março de 1811.
As invasões francesas provocaram destruição, pilhagens e a perda de vidas humanas;
afetaram a agricultura, o comércio e a indústria. Com o fim das invasões francesas a
paz regressou ao reino.
Após as invasões, subsistiam diversos motivos causadores de insatisfação entre os
portugueses:
 A manutenção da presença inglesa em Portugal fazia do reino um protetorado
inglês já que Beresford dispunha de plenos poderes no exército o que
significava o controlo do país. Passou a exercer uma forte repressão contra os
que conspirassem contra a regência ou para o retirar do poder. Beresford foi
nomeado marechal-general do exército português.
 A ausência da família real no Brasil – D. João VI, aclamado rei em 1816 no
Brasil, não dava mostras de querer regressar e restabelecer a sede do governo
em Lisboa na medida em que Portugal assumira o estatuto de colónia e o Brasil
de metrópole. Em 1808, procedeu à abertura dos portos brasileiros e firmou o
Tratado de 1810 provocando uma acentuada quebra de receitas alfandegárias
para Portugal, e autorizou a instalação de manufaturas no Brasil, lesando os
interesses da burguesia. Este conjunto de medidas pôs, na prática, fim ao
exclusivo colonial, situação reforçada em 1815 com a elevação do Brasil à
categoria de reino.
O ambiente político, social e económico em Portugal agravava-se. Os ideais liberais
influenciaram o desencadear de uma conspiração em Lisboa, em 1818, liderada pelo
general Gomes Freire de Andrade, com vista a expulsar os ingleses e a promover a
salvação da independência da pátria, que acabou por falhar.
4.2 A Revolução de 1820
O espírito conspirativo e revolucionário acentuou-se a partir de 1818, com a formação
do Sinédrio, uma associação secreta formada por juristas ligado à Maçonaria.
Procuraram recrutar para a sua causa chefes militares. Reuniam-se assim as condições
favoráveis ao eclodir do pronunciamento militar do Porto, a 24 de agosto de 1820.
Em resultado do pronunciamento militar no Porto desencadeou-se a revolução liberal
de 1820. Os revoltosos constituíram uma Junta Provisional do Governo Supremo do
Reino, presidida por António da Silveira Pinto da Fonseca que exigiu uma nova
governação do país, a convocação de Cortes e a elaboração de uma Constituição.
Porém, um segundo levantamento militar, a 15 de setembro de 1820, na capital,
conduziu à destituição dos governadores e à constituição de um Governo Interino.
A 28 de setembro, a Junta do Porto e o Governo Interino de Lisboa uniram-se e
formaram a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino que preparou as
eleições para as Cortes Constituintes.
Em janeiro de 1821, as então designadas Cortes Gerais, Extraordinárias e
Constituintes iniciaram as suas funções, elegendo uma nova regência a que cabia o
governo do reino até que D. João VI regressasse do Brasil. Apesar de, inicialmente, não
se ter manifestado face aos acontecimentos, D. João VI acabou por decidir o regresso
ao reino, deixando no Brasil, como regente, o infante D. Pedro.

4.2.1 As dificuldades de implantação da ordem liberal (1820-1834)


A implantação do liberalismo em Portugal foi um processo marcado pela resistência
absolutista, cujos partidários procuraram restaurar a ordem antiga, tendo-se sucedido
vários golpes contrarrevolucionários com vista à eliminação das tendências liberais
vitoriosas em 1820.
A principal tarefa foi a elaboração de uma Constituição que legitimasse o regime
político de monarquia constitucional, estabelecesse a soberania nacional e
consagrasse os direitos e as liberdades individuais. Assim constituiu-se uma das
tendências ideológicas do liberalismo: o vintismo.
Vintismo: Corresponde ao primeiro período de implantação do liberalismo em
Portugal, marcado pelo ideal de regeneração da Nação, pela promulgação da
Constituição de 1822, pela instituição de um governo representativo, pela consagração
dos direitos e liberdades dos cidadãos, bem como da soberania nacional.
D. João VI jurou fidelidade às bases da Constituição de 1822, aceitando os princípios
aprovados pelas Cortes. Pelo contrário, sua mulher, D. Carlota Joaquina assumiu,
juntamente com o seu filho mais novo, D. Miguel, um papel de oposição ao liberalismo
apoiando as tentativas contrarrevolucionárias de cariz absolutista.
Foi a partir do ano de 1823 que ocorreram os golpes antiliberais.
A primeira tentativa contrarrevolucionária teve lugar em 23 de fevereiro de 1823, em
Vila Real. Esta insurreição foi rapidamente reprimida pelos liberais. Em março de 1823,
já sob o comando do infante D. Miguel, ocorreu o segundo golpe
contrarrevolucionário, a Vila-Francada, quando D. Miguel proclamou a restauração do
absolutismo que pôs fim ao vintismo. Contundo, face a este golpe, o rei D. João Vi
procurou uma solução de compromisso dúbia, e prometeu, por um lado, uma
Constituição mais moderada mas, por outro, dissolveu as Cortes, suspendendo a
Constituição de 1822.
A partir da Vila-Francada, vigorou um regime absolutista moderado. A 30 de abril de
1824, desencadearam outro golpe, a Abrilada que instaurou um clima de terror, com
inúmeras prisões de liberais.
Em março de 1826, com a morte de D. João VI, D. Pedro, ausente no Brasil, foi
reconhecido como rei de Portugal, com o título de D. Pedro IV. Por ser Imperador do
Brasil, não podia ser, simultaneamente, rei de Portugal. Num esforço de conciliação
política, outorgou uma nova lei constitucional, designada Carta Constitucional e
abdicou da Coroa Portuguesa a favor da filha, D. Maria. Esta deveria casar com o seu
tio, D. Miguel, devendo este jurar a Carta, assumindo o cargo de regente, enquanto D.
Maria não atingisse a maioridade. D. Miguel não respeitou os compromissos e
dissolveu as Cortes, sendo aclamado rei absoluto em 1928.
Foi desencadeada a guerra civil entre absolutistas e liberais que durou até 1834.
Apenas nos Açores não reconheceram o governo miguelista e a Ilha Terceira tornou-se
o centro de reunião dos exilados que organizaram a resistência ao absolutismo. Em
Angra, a partir de 1830, organizou-se a sede da regência liberal. Em 1832, D. Pedro
chegou aos Açores, depois de ter abdicado do trono do Brasil, passando a liderar a
causa liberal, recolhendo apoios e voluntários para se juntarem à expedição que levou
as tropas liberais em direção ao reino, para retomar o trono usurpado. As forças
liberais foram reforçadas com o apoio da Inglaterra e da França e derrotaram os
miguelistas nas batalhas de Almoster e de Asseiceira.
Chegava ao fim a guerra civil, com a assinatura da Convenção de Évora-Monte que
levou D. Miguel ao exílio.

4.2.2 Precariedade da legislação vintista de caráter socioeconómico


As Cortes Constituintes aprovaram legislação com vista a abolir os direitos feudais e
alguns dos traços do Antigo Regime:

 Aboliram os privilégios do clero e da nobreza, do rei e da família real;


 Aprovaram a abolição de obrigações estabelecidas nos forais;
 Nacionalizaram os bens da Coroa;
 Extinguiram a Inquisição;
 Decretaram a liberdade de consciência e de imprensa.
Muitas destas medidas não chegaram a ter aplicação prática e foram suspensas pela
reação absolutista.

4.2.3 A desagregação do Império Atlântico


Depois da revolução de 1820, as relações entre Portugal e o Brasil tornaram-se tema
de amplo debate. Às Cortes portuguesas de 1820 cabia encontrar uma solução que
conciliasse os interesses de Portugal e do Brasil. Porém, a ação do Soberano
Congresso acabou por extremar as posições e causar profundas oposições.
Acabaram por tomar medidas que não foram bem aceites, pois limitavam os direitos
dos brasileiros:
 Obrigaram D. João VI a regressar a Portugal;
 Exigiram que D. Pedro regressasse à Europa;
 Exigiram a extinção dos tribunais e defenderam a submissão a Portugal das
tropas estacionadas no Brasil.
Estas medidas punham em causa o estatuto de reino adquirido desde 1815.
O processo de desagregação do Império Atlântico culminou quando D. Pedro
proclamou a independência do Brasil pelo célebre grito do Ipiranga, em 1822. Tornou-
se D. Pedro I, imperador do Brasil, estabelecendo assim a separação e rutura entre
Portugal e a antiga colónia.
Portugal reconheceu a independência do Brasil, apenas três anos mais tarde, em
1825.

4.2.4 Constituição de 1822 e Carta Constitucional de 1826


A Carta Constitucional de 1822
A 23 de setembro de 1822 foi promulgada a primeira Constituição portuguesa.
O texto constitucional português era influenciado pela Constituição de Cádis de 1812
e pela Constituição francesa de 1795, especialmente no que respeitava aos direitos e
deveres dos indivíduos.
A Constituição de 1822 consagrava:
 A monarquia constitucional;
 O reconhecimento dos direitos de liberdade, de segurança e de propriedade, as
garantias individuais, a igualdade perante a lei;
 O princípio da soberania da nação;
 A divisão dos poderes e respetivas competências;
 O sistema unicameral;
 Acesso aos cargos públicos.
Foi considerada progressista e radical para a época.

A Carta Constitucional de 1826


A Carta Constitucional de 1826 foi outorgada pelo rei D. Pedro IV e surgiu como uma
tentativa de conciliar liberais e realistas. De espírito marcadamente moderado e
conservador, a Carta apresentava as seguintes características:
 O regime monárquico, hereditário e representativo;
 Reconheceu a separação dos poderes políticos;
 Introduziu o poder moderador, que cabia ao rei, considerado o chefe supremo
da nação;
 O rei detinha o direito de veto;
 O sistema bicameral das Cortes;
 O voto censitário;
 Garantia os direitos do indivíduo (liberdade, segurança e propriedade).

Era conservadora e esteve ligada à tendência liberal mais moderada: o cartismo.


Carta Constitucional: Designa o texto constitucional outorgado por um monarca à
nação, que estabelece as normas de governo, define os direitos e as liberdades e
determina as relações entre os poderes políticos.
Cartismo: Designa o liberalismo português de tipo moderado, que procurou preservar
a autoridade régia na passagem do absolutismo para o liberalismo. Em termos
ideológicos, no contexto do liberalismo português, opõe-se ao vintismo de cariz mais
radical.

4.3 O novo ordenamento político e socioeconómico


Estava em marcha um novo ciclo político marcado pelos ideais liberais.
A divisão dos liberais entre vintistas e cartistas provocaram no reino um clima de
instabilidade. Foi entre estas duas tendências políticas que se verificaram as lutas
pelo poder.
Apesar da instabilidade, foi durante este período que se criou um corpo legislativo
que visava a modernização do país.

4.3.1 A importância da legislação de Mouzinho da Silveira


Uma das mais importantes figuras da reforma legislativa do liberalismo foi Mouzinho
da Silveira que redigiu uma série de medidas com vista a pôr fim à ordem social e
económica do Antigo Regime.
Mouzinho da Silveira procurou desenvolver uma económica política assente nos
princípios liberais e capitalistas.
Atendendo aos princípios da liberdade individual, Mouzinho procurou garantir o
direito à propriedade; abolir a dízima e a reorganização administrativa e jurídica.

4.3.2 A importância dos projetos setembrista e cabralista


O período entre 1836 e 1851 foi marcado por forte instabilidade política opondo
vintistas e cartistas, que se traduziu em dois projetos políticos diferenciados:
- O setembrismo, entre 1836 e 1842, defensor do vintismo;
- O cabralismo, de 1842 a 1851, ligado ao projeto cartista.

O setembrismo
Os dois anos que se seguiram à instauração definitiva do liberalismo em Portugal
foram dominados por governos cartistas.
Nas eleições de 1836, para a formação de novas Cortes, assistiu-se à vitória dos
deputados adeptos do vintismo. A revolta, de base popular e com o apoio dos
militares, forçou o afastamento dos cartistas do poder. A revolução de setembro de
1836 iniciou o projeto político que ficou conhecido como setembrismo, que tinha
como objetivo revogar a Carta de 1826, repor a Constituição de 1822 e os princípios do
vintismo.
O novo poder, que pôs em vigor a Constituição de 1822 foi desde logo confrontado
com tentativas de restauração da Carta. Entre outros eventos causadores de
instabilidade, destaca-se o primeiro golpe contrarrevolucionário, conhecido como
Belenzada, que ocorreu em novembro de 1836. O golpe não teve o impacto esperado
e chegou-se a um compromisso que passava pela aprovação de uma nova
Constituição que devia conciliar a tendência vintista e cartista. Promulgou-se, em
abril, a nova Constituição de 1838. A rainha D. Maria II passava a deter apenas o poder
executivo.
A influência da Carta Constitucional de 1826 traduziu-se na criação de um Parlamento
com duas Câmaras e na adoção do voto censitário. O poder judicial era exercido pelos
juízes e jurados.
O setembrismo procedeu a uma reforma educativa, adotou a pauta aduaneira de
janeiro de 1837, protegeu a indústria e o comércio, publicou o Código Administrativo
de 1836 e procurou reduzir a despesa pública.

O cabralismo
António Bernardo da Costa Cabral proclamou a restauração da Carta Constitucional e
aboliu a Constituição de 1838.
Com Costa Cabral iniciava-se a nova governação: o cabralismo.
O exercício do poder por Costa Cabral foi marcado pelo controlo das Cortes e das
eleições, e por um autoritarismo que cedo criou descontentamento contra a classe
dominante.
Politicamente de acordo com os princípios cartistas, o cabralismo defendeu a
prevalência do poder do rei sobre os demais poderes do Estado.
Costa Cabral procurou o fomento do país.
O cabralismo:
 Restaurou a Carta Constitucional;
 Defendeu a ordem pública, apoiado nos conservadores ligados ao grande
comércio e à finança;
 Publicou o Código Administrativo de 1842;
 Criou o Banco de Portugal;
 Assinou um novo Tratado de Comércio com a Inglaterra;
 Elaborou o cadastro das propriedades fundiárias;
 Criou a décima industrial;
 Criou a Companhia das Obras Públicas de Portugal;
 Criou o Tribunal de Contas;
 Publicou as “leis da saúde” que proibiam os enterramentos nas igrejas.
O cabralismo foi marcado por uma forte atividade especulativa, ligada aos privilégios
concedidos pelo governo a companhias criadas, em troca de empréstimos e
adiantamentos ao Estado. Este período ficou marcado pela guerra civil, ligada à
revolta da Maria da Fonte – na origem desta revolta esteve o lançamento de
impostos.
O governo foi forçado a demitir-se em maio de 1846; o duque de Palmela formou um
novo governo que acabou por ser demitido.
O duque de Saldanha foi convidado a formar novo governo, que provocou nova
oposição, desencadeando a guerra civil, a Patuleia.
Esta fase da guerra civil contou com a intervenção da Inglaterra. A paz foi assinada a 30
de junho de 1847 na Convenção do Gramido.
Costa Cabral voltou ao poder, a partir de 1849, atuando de forma mais moderada.
Mas isso não significou a pacificação de várias fações políticas. O duque de Saldanha
tornou-se chefe da oposição ao cabralismo e promoveu um novo golpe, que afastou
Cabral do Poder.
Em 1851, iniciou-se uma nova fase do liberalismo em Portugal – a Regeneração.

Unidade 5 – O legado do liberalismo na primeira metade do século XIX


5.1 O Estado como garante da ordem liberal
A filosofia das Luzes, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial contribuíram para
a difusão do liberalismo, que ocorreu na Europa ao longo da primeira metade do
século XIX.
O liberalismo baseia-se no princípio da liberdade e afirmou-se contra os princípios
absolutistas e quaisquer formas de opressão.
O Estado liberal:
 Garante os direitos e liberdades individuais – a segurança, a inviolabilidade do
domicílio e da correspondência; a livre circulação de pessoas; a liberdade de
escolha da educação e do ensino;
 Garante as liberdades económicas – o direito de propriedade, a liberdade de
iniciativa, a liberdade de mercado ou de comércio;
 Garante a liberdade e o pensamento político, filosófico ou religioso;
 Garante a liberdade de expressão, de opinião e de reunião.
A organização política do Estado assentava na ideia de representação e de separação
dos poderes. O Estado deveria ter o poder limitado, subordinado à lei, de forma a
conciliar autoridade e liberdade. A instituição de um texto constitucional era o melhor
meio para limitar a arbitrariedade do Estado e proteger os direitos dos indivíduos. Os
poderes políticos estavam separados de forma a controlar o poder dos governantes.

5.1.1 A Secularização das instituições


O liberalismo rejeitava os dogmas, a intolerância religiosa e quaisquer formas de
dominação. Fazia a apologia de um Estado secular ou laico pelo que a Igreja deixou de
ter o papel dominante. Difundiu-se um sentimento anticlerical que levou à extinção
das ordens religiosas, ao confisco e à nacionalização dos bens da Igreja.
O Estado liberal tendeu a tornar-se não confessional ou a realizar a separação do
Estado das Igrejas.
O Estado procurou conceder aos cidadãos uma educação pública.
5.1.2 O cidadão, ator político
Com o liberalismo nasceu um novo individuo, o cidadão politicamente ativo, que
elegia os representantes da nação.
Substituiu-se o primado do nascimento pelo primado do trabalho, da inteligência, do
esforço e das capacidades individuais.
O Estado liberal no século XIX era representativo e a eleição substituiu a
hereditariedade e o nascimento como critérios no acesso ao desempenho de cargos ou
de funções politicas. No entanto, o liberalismo não estabeleceu a universalidade do
eleitorado.
Predominou o voto censitário, que diferenciava os cidadãos ativos dos cidadãos
passivos.
Os cidadãos ativos eram os que dispunham de direito de voto ou que podiam ser
eleitos, pelo facto de possuírem um rendimento. Pelo contrário, os cidadãos passivos
não podiam exercer o direito de sufrágio.
Os direitos políticos estavam restritos a uma elite, composta sobretudo pela
burguesia.

5.1.3 O Direito à propriedade e à livre iniciativa


Os Estados liberais foram defensores do liberalismo económico:
 Da iniciativa privada, estimulada pela concorrência livre em todos os domínios
da economia;
 Da intervenção mínima do Estado no domínio económico;
 O direito à propriedade privada era sagrado.
Liberalismo económico: Designa a doutrina económica que defende a liberdade no
domínio económico, assente no comércio livre, nas regras de mercado, sem
intervenção estatal, com base na defesa da propriedade, no desenvolvimento
económico individual e na livre iniciativa.
O fundador do liberalismo económico foi Adam Smith, que defendia:
 Que a sociedade atingia o auge através da livre iniciativa e da liberdade do
comércio;
 Que o sistema tinha de garantir os direitos e as liberdades individuais;
 Que o livre-cambismo estimulava o desenvolvimento;
 Que o mercado estava sujeito às regras da oferta e da procura e que tinha
mecanismos autorreguladores.
O liberalismo económico defendeu a propriedade livre de entraves, o fim dos
obstáculos feudais, das guildas e corporações, dos monopólios e das barreiras à livre
circulação.
5.1.4 Os limites da universalidade dos direitos humanos: a problemática
da abolição da escravatura
A Filosofia das Luzes e a defesa dos direitos naturais do Homem contribuíram para o
debate do problema da escravatura, no sentido de defender a sua abolição.
O arranque da Revolução Industrial e a generalização do liberalismo económico,
durante a primeira metade do século XIX, contribuíram também para condenar o
esclavagismo.
Portugal, como potência signatária do Congresso de Viena, e como aliado da Grã-
Bretanha, comprometeu-se a abolir o tráfico de escravos. O governo setembrista, por
intermedio da ação de Sá da Bandeira, proibiu, em 1836, o tráfico de escravos nas
colónias portuguesas. A aplicação desta medida foi difícil e só a 25 de fevereiro de
1869 se aboliu definitivamente a escravatura em todo o Império Português.

5.2 O Romantismo, expressão da ideologia liberal


O Romantismo afirmou-se na Europa no contexto das revoluções liberais.
Os românticos condenaram as restrições à liberdade, as formas de opressão e as
injustiças sociais e apoiaram as causas políticas e sociais ligas à liberdade e os
nacionalismos e a libertação dos povos.
Os românticos associaram-se a um novo modo de sentir o mundo e a experiência
humana:
 Na dimensão do sentimento, da imaginação;
 Na exaltação da liberdade;
 No gosto pelo passado, pelo exótico e pela contemplação da natureza.
O Romantismo rompeu com o gosto neoclássico procurando os sentimentos e a
valorização da emoção, a individualidade e o culto da fantasia e do misticismo.
Criou uma nova sensibilidade estética.

5.2.1 Revalorização das raízes históricas das nacionalidades


O Romantismo associou-se ao despertar das nacionalidades inspirando-se na
tradição, na cultura popular, na Idade Média como momento de identidade nacional;
no passado histórico, na língua, nos costumes e nas raízes nacionais.
A expressão nacional alimentou o sentimento romântico na arte e na literatura.

5.2.2 Exaltação da liberdade


O espirito romântico exaltou o princípio de liberdade:
 Nas sensações, nos sentimentos, nas paixões;
 No compromisso com a causa da liberdade dos povos oprimidos;
 Na figura do herói revolucionário ou génio criativo.
A obra de arte constituiu-se como o palco privilegiado para o explanar das emoções
individuais.
5.2.3 A explosão do sentimento nas artes plásticas, na literatura e na
música
Teve a sua origem no movimento pré-romântico que valorizou a emoção e o
sentimento da natureza e do indivíduo – foi a expressão suprema da individualidade,
traduzida no “culto do Eu”.
No domínio da pintura:
 Rompeu com o neoclassicismo, tanto na forma como nos temas;
 Criou novas paisagens e ambientes exóticos;
 Usou a sensação de tensão, os contrastes cromáticos, o movimento e o
dinamismo.
No domínio da arquitetura:
 O revivalismo dos estilos arquitetónicos do passado;
 Uso de elementos de culturas não ocidentais.
A escultura não alcançou o impacto das outras artes, mas fez transparecer a
interioridade e a emoção do ideal romântico.
Na literatura:
 Enfatizou os sentimentos, as paixões e a revolta;
 Atribuiu importância à interioridade pela presença da emoção;
 Valorizou as experiencias e vivencias nacionais;
 Introduziu novos géneros literários.
Na música:
 Afirmou a noção de nacionalismo, de individualismo associado à ideia de génio
criativo;
 Valorizou a liberdade na forma e na expressão;
 Explorou a expressividade musical, as emoções, os estados de alma e os
matizes sonoros;
 Integrou os temas populares e nacionalistas.

O Romantismo em Portugal
A implantação do liberalismo em Portugal criou as condições para uma renovação
cultural.
No domínio da pintura destacaram-se Vieira Portuense, Domingos António Sequeira,
Francisco Metrass, Luís de Menezes, etc.
No domínio da escultura destacou-se Victor Bastos.
Na arquitetura, a renovação cultural foi marcada pelo revivalismo gótico, manuelino e
mourisco.
No domínio da literatura destacaram-se Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
No domínio da música, destacou-se Domingos Bomtempo.

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