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Causas estruturais
As causas mais enraizadas e duradouras no tempo assentam em questões de natureza
política, económica, social e cultural.
Causas estruturais de natureza económica e financeira:
Elevados défices que debilitaram as finanças do Estado francês e afetaram a
sua economia;
A fragilidade financeira acentuou-se com a participação francesa na guerra da
independência dos EUA.
Face à insustentabilidade das finanças públicas os ministros de Luís XV e de Luís
XVI defenderam a reforma do sistema de impostos.
Causas estruturais de natureza social:
Persistia a secular divisão tripartida e hierarquizada de uma sociedade desigual
e os privilégios judiciais e fiscais isentavam o clero e a nobreza;
Esta situação fiscal provocava tensões crescentes entre os estratos superiores
do Terceiro Estado (burguesia) e os privilegiados (clero e nobreza);
A burguesia, letrada e rica, sentia que era sobre ela que recaiam os encargos
financeiros;
A sobrecarga de impostos afetava os fracos rendimentos dos estratos mais
baixos do Terceiro Estado.
Assim, o descontentamento social não era exclusivo dos mais desfavorecidos.
Em termos culturais:
O Iluminismo inspirou grande parte das mudanças culturais que ocorreram em
França, no pensamento e na mentalidade das elites: a rejeição do absolutismo,
a defesa de princípios, como a liberdade e a igualdade; a valorização da
dignidade do indivíduo e a soberania popular; o desejo de um modelo político
assente na divisão de poderes.
Causas conjunturais
As causas mais próximas e imediatas assentam em fatores económicos, sociais e
políticos.
Em termos económicos:
Os anos que antecederam a revolução foram difíceis:
O ano de 1787 foi marcado por chuvas e inundações, por seca e saraiva (no
verão) acompanhado de um inverno rigoroso, condições que se refletiram nas
más colheitas cerealíferas de 1789, provocando o aumento significativo do
preço do pão;
Esta situação veio juntar-se a uma crise de subsistência desde 1788, causadora
de revoltas populares.
A indústria têxtil encontrava-se em estagnação e, em 1789, a sua produção
diminui muitíssimo, aumentando as dificuldades de escoamento dos produtos
e aumentando o desemprego.
Assim, o descontentamento era generalizado – a fome, a miséria e a mendicidade,
consequência das condições económicas adversas, provocaram sublevações populares.
A realeza era vista negativamente:
O monarca Luís XVI, fraco e hesitante e a rainha, Maria Antonieta, considerada
frívola, gastadora e inimiga dos franceses;
Luís XVI foi incapaz de enfrentar e controlar a nobreza dos parlamentos locais
que divergiam das decisões régias.
O défice financeiro obrigava à urgência do levantamento de impostos, surgindo
pela mão de Calonne a proposta de uma reforma administrativa e fiscal –
uniformizar a tributação, com um novo imposto direto sobre todos os
proprietários fundiários.
A reação nobiliárquica e a oposição permanente dos parlamentos levaram a que se
evocasse o princípio de que o rei não poderia levantar os impostos sem a convocação e
o consentimento dos Estados Gerais. Luís XVI resignou-se às exigências e convocou,
então, os Estados Gerais a reunir em maio de 1789.
A tomada da Bastilha
Os acontecimentos que deram lugar à tomada da Bastilha tiveram, na sua origem, as
sublevações populares que ocorreram nos dias anteriores. A fome que grassava na
cidade de Paris revoltou a população. Estas sublevações conduziram à organização de
milícias populares para pôr fim à revolução. Assim, a 14 de julho de 1789, teve lugar
um dos acontecimentos mais simbólicos da Revolução Francesa: a tomada da
fortaleza da Bastilha, que marcou a entrada do povo na Revolução. A Bastilha era
usada, no reinado de Luís XVI, para prender delinquentes e ofensores da moral
pública. A tomada da Bastilha não deixou de adquirir um significado simbólico de
liberdade, não só por ser a prisão-símbolo do Antigo Regime, mas também por estar
ligada à revolta que pôs fim ao absolutismo.
O “Grande Medo”
Os acontecimentos de 14 de julho repercutiram-se um pouco por toda a França:
desencadearam-se movimentos antissenhoriais contra os direitos feudais; com
ataques a castelos, fornos, lagares e moinhos (símbolos do poder senhorial), bem
como na destruição de registos senhoriais. Havia medo de uma possível reação
aristocrática.
A queda da monarquia
As opções legislativas e constitucionais da Assembleia não foram pacíficas, causando
agitação social e política. As indecisões do monarca culminaram na tentativa de fuga
falhada, do rei Luís XVI e da família real.
O povo organizava-se e pressionava para obter uma maior participação na vida politica
e no sentido da adoção de medidas favoráveis à melhoria das suas condições de vida.
As tentativas contrarrevolucionárias provenientes do exterior, por parte dos
emigrantes franceses intensificaram as tensões no interior da França e levaram à
contestação da própria monarquia. Luís XVI contava com o apoio dos monarcas
estrangeiros que começavam a ver a situação revolucionaria em França como sendo
perigosa para as outras monarquias europeias. O manifesto de Brunswick declarava
que, caso a família real fosse atacada, então a população de Paria também o seria, o
que fez inflamar os ânimos do povo parisiense.
Assim, a França confrontava-se com quatro preocupações que dividiam a opinião
pública e as diferentes fações políticas.
Em julho de 1792 foi declarado que a “pátria estava em perigo”, ainda na vigência da
Assembleia Legislativa, criando um ambiente mobilizador contra as ameaças à
revolução, fossem no exterior, fossem internas.
A 10 de agosto de 1792, um movimento insurrecional popular, dirigiu-se à residência
real das Tulherias, obrigando o rei a procurar refúgio na Assembleia Legislativa. A
monarquia constitucional foi abolida: o rei Luís XVI foi destituído dos seus poderes; foi
condenado como traidor e a sua execução ocorreu a 21 de janeiro de 1793.
Esta decisão de condenar o rei à morte veio culminar na divisão definitiva entre os
girondinos e os montanheses:
Os girondinos, apoiados pela rica burguesia dos negócios, mais moderados, e
politicamente divergentes da Comuna de Paris, defendiam as liberdades de
1789; recusavam a atribuição da pena capital ao rei. Os girondinos foram
progressivamente afastados do poder;
Os montanheses, ligados dominantemente ao clube dos jacobinos, liderados
por Robespierre, defendiam o caráter mais popular da revolução e respondiam
à pressão exercida pelos sans-culottes que eram a base social de apoio da
revolução.
Havia muita pressão social e política que se fazia sentir devido à ação da Comuna
insurrecional de Paris.
A nova Convenção teve a primeira sessão em 20 de setembro de 1792, no dia em que
os exércitos franceses obtiveram a vitória em Valmy. Foi a derrota infligida aos
prussianos, em Valmy, que reforçou a intervenção dos revolucionários da Comuna de
Paris e da Convenção contra os vestígios da monarquia, contra as ameaças exteriores e
internar que punham em causa a revolução.
O Diretório
O Diretório: uma forma de governo constitucional que vigorou entre 26 de outubro
de 1795 e 9 de novembro de 1799.
Foi marcado pelo afastamento das fações mais radicais, ligadas à Convenção, bem
como das camadas populares; deu-se a ascensão dos setores moderados, apoiados
pela burguesia que tinha como objetivo firmar as conquistas políticas e sociais
alcançadas com a Revolução e garantir o controlo do poder.
A Constituição do Ano III, aprovada em outubro de 1795, teve como principal
preocupação evitar a concentração de poderes: o poder legislativo foi entregue a cinco
diretores, eleitos pelo Conselho dos Anciãos. A Constituição de 1795 restabeleceu o
voto censitário masculino.
O período do Diretório assumiu diversas características políticas e sociais: coincidiu
com um tempo de crise económica mas também de especulação e corrupção; com a
ascensão de uma classe de burgueses enriquecidos, acentuou os contrastes
socioeconómicos entre os franceses; foi marcado por forte instabilidade política,
resultante de rivalidades entre fações opostas e das tentativas contrarrevolucionárias
realistas e até jacobinas.
Estas tentativas de conquista do poder foram sempre reprimidas com a intervenção do
exército, de modo a restaurar a ordem.
O Consulado
Foi em resultado da procura de ordem que surgiu o Consulado. Este regime político
vigorou na França entre 9 de novembro de 1799 e 18 de maio de 1804. O Consulado,
dirigido por três cônsules, entre os quais se destacou Napoleão Bonaparte,
pretendeu garantir a pacificação e estabeleceu uma nova ordem jurídica e
institucional.
A aprovação da nova Constituição, a 26 de dezembro de 1799, baseava-se em maior
autoridade e centralização, sem qualquer referência aos direitos do Homem, ou à
defesa das liberdades; centrava-se no poder executivo e militar controlados por
Napoleão, a figura cimeira deste novo regime.
Com a Constituição de 1799, consagrou-se que as eleições eram indiretas para os
diferentes órgãos de poder; ao Senado, que era um órgão de cariz conservador, cabia a
escolha dos três cônsules que, durante dez anos, detinham o poder. Ao primeiro
cônsul, Napoleão Bonaparte, cabia o poder executivo, tinha poderes ao nível militar e
das relações externas e era da sua responsabilidade a nomeação de ministros.
No ano de 1802, Napoleão foi declarado cônsul vitalício: a Constituição de 1799
sofreu algumas alterações. Era ao primeiro cônsul que cabia propor ao Senado os
nomes dos outros dois cônsules, com possibilidade de designar o seu sucessor. O
Senado passou a ter poder legislativo, estando, subordinado à vontade do primeiro
cônsul vitalício, Napoleão Bonaparte.
Durante o Consulado, sob a direção de Napoleão Bonaparte, retomou-se a paz
interna e o espírito de reconciliação entre as diferentes fações foi alcançado. A
liberdade de culto foi concedida, os emigrados foram autorizados a regressar à França,
mediante uma amnistia, e foi suprimida a lei que autorizava prender os familiares dos
emigrados. O clima de pacificação fez-se sentir também no exterior, na medida em que
pôs fim à guerra com a Áustria, procedeu ao estabelecimento de pazes com o Reino
Unido e, por fim, a Louisiana foi vendida aos EUA em 1803.
Mas a pacificação interna e externa não foram suficientes, havendo necessidade de
consolidar e modernizar o poder do Estado. Uma das principais iniciativas foi a
codificação das leis: os códigos napoleónicos são os mais famosos desde o código
romano, abrangendo o domínio civil, criminal, comercial e legal, que, reunidos em
1801, foram apenas publicados em março de 1804, no final do Consulado de
Napoleão; com estes instrumentos legais e jurídicos consagrou-se uma maior
uniformização da França e da igualdade dos cidadãos perante a lei; especial destaque
teve o Código Civil que garantia as liberdades individuais e a laicização da sociedade e
na família; a mulher continuou a ter um papel social de menoridade, limitando-se o
seu poder sobre a propriedade e sobre os filhos menores, situação comum em toda a
Europa da época.
O aparelho do Estado foi modernizado, mas também burocratizado, sob o Consulado e
assumiu-se claramente a função pública ao serviço do Estado, com salários, sem
compra e venda de cargos, com carreiras abertas ao talento e não ao nascimento.
Valorizou-se a instrução com a criação de liceus e escolas superiores, reformou-se o
sistema educativo onde se incluía o ensino primário e superior, conservando algumas
instituições herdadas do Antigo Regime, no domínio técnico e militar.
Procurou-se obter equilíbrio financeiro com uma reforma administrativa e fiscal; foi
criado o Banco de França, no ano de 1800, e, em 1803, assistiu-se a uma reforma
monetária que se traduziu no surgimento de uma nova moeda – o franco germinal.
A administração local também foi reformada, especialmente no domínio judicial.
Criaram-se as prefeituras, manteve-se a divisão do território em departamentos,
surgiram os bairros e os cantões, áreas que dispunham de funcionários nomeados e de
assembleias eleitas. Os juízes de paz tornaram-se os únicos a serem eleitos, a partir de
1800.
Napoleão procurou a pacificação religiosa, tendo assinado a Concordata em 1801,
sendo possível, a partir de então, reorganizar a Igreja de França.
No plano social, a sociedade napoleónica organizava-se de forma hierárquica,
distinguindo-se os cidadãos mais ricos, que compunham uma elite, de entre a
população, em geral. Procurou-se ainda a eliminação das fações políticas opositoras. A
escravatura, que fora abolida nas colónias no ano de 1794, foi reintroduzida.
No ano de 1804, a 18 de maio, com o fim do Consulado, a primeira República francesa
acabou dando lugar ao primeiro Império e, a 2 de dezembro, Napoleão Bonaparte
coroou-se imperador na catedral de Notre-Dame de Paris.
Unidade 3 – A geografia dos movimentos revolucionários na primeira
metade do século XIX
3.1 As vagas revolucionárias liberais e nacionais
A França durante o período napoleónico conheceu uma fase de conquista territorial da
Península Ibérica à Rússia. O sonho expansionista de Napoleão Bonaparte teve o seu
fim, mas os ideais da Revolução Francesa foram propagados por toda a Europa.
As guerras tiveram um papel determinante na expansão dos ideais revolucionários. A
presença dos exércitos franceses contribuiu para que os povos valorizassem os ideais
de liberdade, de igualdade e de fraternidade e se unissem contra o domínio exercido
pelos franceses, possibilitando o despertar de sentimentos nacionalistas.
A derrota de Napoleão Bonaparte permitiu que as potências vencedoras, Áustria,
Rússia, Prússia e Inglaterra, restaurassem a antiga ordem na Europa a fim de garantir
a legitimidade e a autoridade das monarquias (baseadas na hereditariedade da Coroa)
e o equilíbrio entre as potências.
O Congresso de Viena, onde estiveram representadas as nações vencedoras, visou
diversos objetivos:
Restabelecer as antigas fronteiras;
Pôr fim às ameaças que a revolução representava;
Traçar um novo mapa da Europa;
Engrandecer o poder dos seus Estados;
Pôr termo aos ideais revolucionários.
Foi neste contexto que, para combater o perigo revolucionário, surgiu a Santa Aliança
assinada entre a Rússia, a Áustria e a Prússia, a que se juntou a Inglaterra, dando
origem à Quádrupla Aliança, tendo em vista congregar esforços para impedir o
regresso de Napoleão Bonaparte e vigiar os perigos revolucionários.
O setembrismo
Os dois anos que se seguiram à instauração definitiva do liberalismo em Portugal
foram dominados por governos cartistas.
Nas eleições de 1836, para a formação de novas Cortes, assistiu-se à vitória dos
deputados adeptos do vintismo. A revolta, de base popular e com o apoio dos
militares, forçou o afastamento dos cartistas do poder. A revolução de setembro de
1836 iniciou o projeto político que ficou conhecido como setembrismo, que tinha
como objetivo revogar a Carta de 1826, repor a Constituição de 1822 e os princípios do
vintismo.
O novo poder, que pôs em vigor a Constituição de 1822 foi desde logo confrontado
com tentativas de restauração da Carta. Entre outros eventos causadores de
instabilidade, destaca-se o primeiro golpe contrarrevolucionário, conhecido como
Belenzada, que ocorreu em novembro de 1836. O golpe não teve o impacto esperado
e chegou-se a um compromisso que passava pela aprovação de uma nova
Constituição que devia conciliar a tendência vintista e cartista. Promulgou-se, em
abril, a nova Constituição de 1838. A rainha D. Maria II passava a deter apenas o poder
executivo.
A influência da Carta Constitucional de 1826 traduziu-se na criação de um Parlamento
com duas Câmaras e na adoção do voto censitário. O poder judicial era exercido pelos
juízes e jurados.
O setembrismo procedeu a uma reforma educativa, adotou a pauta aduaneira de
janeiro de 1837, protegeu a indústria e o comércio, publicou o Código Administrativo
de 1836 e procurou reduzir a despesa pública.
O cabralismo
António Bernardo da Costa Cabral proclamou a restauração da Carta Constitucional e
aboliu a Constituição de 1838.
Com Costa Cabral iniciava-se a nova governação: o cabralismo.
O exercício do poder por Costa Cabral foi marcado pelo controlo das Cortes e das
eleições, e por um autoritarismo que cedo criou descontentamento contra a classe
dominante.
Politicamente de acordo com os princípios cartistas, o cabralismo defendeu a
prevalência do poder do rei sobre os demais poderes do Estado.
Costa Cabral procurou o fomento do país.
O cabralismo:
Restaurou a Carta Constitucional;
Defendeu a ordem pública, apoiado nos conservadores ligados ao grande
comércio e à finança;
Publicou o Código Administrativo de 1842;
Criou o Banco de Portugal;
Assinou um novo Tratado de Comércio com a Inglaterra;
Elaborou o cadastro das propriedades fundiárias;
Criou a décima industrial;
Criou a Companhia das Obras Públicas de Portugal;
Criou o Tribunal de Contas;
Publicou as “leis da saúde” que proibiam os enterramentos nas igrejas.
O cabralismo foi marcado por uma forte atividade especulativa, ligada aos privilégios
concedidos pelo governo a companhias criadas, em troca de empréstimos e
adiantamentos ao Estado. Este período ficou marcado pela guerra civil, ligada à
revolta da Maria da Fonte – na origem desta revolta esteve o lançamento de
impostos.
O governo foi forçado a demitir-se em maio de 1846; o duque de Palmela formou um
novo governo que acabou por ser demitido.
O duque de Saldanha foi convidado a formar novo governo, que provocou nova
oposição, desencadeando a guerra civil, a Patuleia.
Esta fase da guerra civil contou com a intervenção da Inglaterra. A paz foi assinada a 30
de junho de 1847 na Convenção do Gramido.
Costa Cabral voltou ao poder, a partir de 1849, atuando de forma mais moderada.
Mas isso não significou a pacificação de várias fações políticas. O duque de Saldanha
tornou-se chefe da oposição ao cabralismo e promoveu um novo golpe, que afastou
Cabral do Poder.
Em 1851, iniciou-se uma nova fase do liberalismo em Portugal – a Regeneração.
O Romantismo em Portugal
A implantação do liberalismo em Portugal criou as condições para uma renovação
cultural.
No domínio da pintura destacaram-se Vieira Portuense, Domingos António Sequeira,
Francisco Metrass, Luís de Menezes, etc.
No domínio da escultura destacou-se Victor Bastos.
Na arquitetura, a renovação cultural foi marcada pelo revivalismo gótico, manuelino e
mourisco.
No domínio da literatura destacaram-se Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
No domínio da música, destacou-se Domingos Bomtempo.