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Comunicação
Email: edubasto@linkway.com.br
Recife
2001
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Resumo
voltado, via de regra, para os movimentos da Nova Era e da cultura alternativa, emergentes
desde os anos 80. De modo geral , esses estudos procuram nomear, mapear, descrever e
universo religioso ocidental moderno. Trata-se de um trabalho de grande fôlego já que esse
esforço também procura cobrir uma ausência nos estudos sobre religião no Brasil : são
objetos nunca d'antes contemplados pelas Ciências Sociais. Todavia, uma face esquecida da
orientalização diz respeito à própria tradição cultural trazida pelos imigrantes. Assim, pois,
passou de religião de preservação do patrimônio étnico e cultural para uma religião aberta
recursos mobilizados por ela para garantir sua sobrevivência e penetração na sociedade
doutrinária.
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sociais diversos como a contracultura, a cultura alternativa e a Nova Era que, embora
migratório, no Brasil e em outros países, que também contribuiu para difusão de traços de
anos. Pode-se afirmar que os estudos têm acompanhado de perto a emergência desses
movimentos sociais.
atenção de sociólogos e antropólogos mais recentemente, nos últimos dez anos. Esses
emergentes no ocidente desde os anos 80. São trabalhos de grande fôlego, já que esse
esforço também procura cobrir uma ausência nos estudos de religião no Brasil: são objetos
religioso ocidental. Alguns nomes já se impõem, firmando se não uma genealogia, pelo
menos uma "tribo" de antropólogos, dentre os quais destaco Soares (1994), Magnani (1999,
cultural trazida pelos imigrantes e sua inserção na sociedade adotiva. Sendo o Brasil um
país de imigração desde os últimos cem anos, algumas das religiões "orientais" já estavam
aqui desde o início do século XX. É o caso, entre outras, do budismo e das novas seitas
japonesas. Até a década de 60 elas estavam restritas aos imigrantes e seus descendentes,
et alii, 1973). Desde os anos 60, entretanto, muitas das religiões japonesas passaram a
desenvolver proselitismo entre os brasileiros, no que têm tido relativo sucesso (Gonçalves,
1998; Albuquerque, 1999). Uma dessas religiões é o objeto dessa comunicação: a nova
conversão de todas as pessoas (Camargo et alli, 1973). Com base em dados coletados em
momentos diferentes, nas décadas de 70 e de 90, quero chamar a atenção para os recursos
mobilizados por esse movimento religioso para garantir sua sobrevivência e penetração na
sociedade nacional.
mostra como uma expressão da orientalização do nosso universo religioso, porém com
Paulista (1933) à cidade de São Paulo (após a II Guerra). Durante esse período, atendia aos
imigrantes e seus descendentes, como outras religiões restritas aos grupos étnicos.
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japonesa. Assim, esse movimento desenvolveu várias linhas de ação, visando esses novos
adeptos como, dentre elas, destaco a sintonização ideológica com a linha política pós-64 e
Essa fala da liderança encontra acolhida nas disposições políticas dos adeptos.
"Antes de eu conhecer a Seicho-no-ie, o meu emblema favorito era a foice o martelo. Agora
governantes estavam errados. Hoje, vejo que eu é que estava enganado" (depoimento
colhido em 1977).
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como a promoção de atividades que atingissem a clientela nacional como palestras, mini-
cursos, oficinas, retiros são outros recursos de que se vale a Seicho-no-ie para atrair adeptos
brasileiros.
como sendo ela uma super-religião que englobaria os ensinamentos de todas as outras.
Além disso, seu fundador –Masaharu Tanigushi – é apresentado como um novo messias,
com a finalidade de reintegrar todas as religiões dentro do seu corpo doutrinário, que é
formado por:
Todas essas fontes, contudo, foram reinterpretadas por Tanigushi de modo a retratar
perfeito na sua essência (jissô) e, portanto, o sofrimento não existe. Além disso, toda
Quando apresentada aos brasileiros, essa doutrina tem vários aspectos valorizados
japonês, foi substituída, na época do governo militar no Brasil, pela aceitação da situação
invariavelmente: “Eu sou católico (ou espírita), a Seicho-no-ie é uma filosofia para se
reinterpretar a noção de pecado mostrando posição conciliatória, o que é bem aceito pelos
adeptos.
aos quais se deve sempre agradecer. O mesmo ocorre com a noção de carma que, entendem,
sendo conseqüência de ações de outras vidas sobre a presente, pode ser neutralizado através
de orações e agradecimentos.
aprofundamento em suas crenças de origem. Isso certamente evita conflitos de modo que
tradução para o português e a escolha de nomes mais familiares para os brasileiros dos
termos e palavras japonesas. Assim, A expressão “dendo-in” foi substituída por divulgador;
o jornal “Enkan” passou a chamar “Circulo de Harmonia” e a revista Acendedor trocou seu
construção de uma tipologia com base na internalização religiosa. Como num gradiente eles
japonesa.
urbanas.
Nuanças desse fenômeno já haviam sido captadas nos anos 70 por estudiosos da
sentido existencial obriga a dar continuidade a essa reflexão. Não só porque o fenômeno se
sincretismos.
dimensões econômicas, sociais e políticas específicas. Ou seja, um oriente mítico, além dos
determinismos existenciais mas que, certamente têm uma função política no imaginário
ocidental. Também os sincretismos, hoje, não se restringem aos religiosos, mas acolhem as
Referências Bibliográficas: