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SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

III SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

Dominós da Ditadura: Seicho-no-Ie do Brasil

Comunicação

Leila Marrach Basto de Albuquerque

UNESP - Câmpus de Rio Claro

Email: edubasto@linkway.com.br

Recife

2001
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Resumo

A atenção ao fenômeno da orientalização do universo religioso ocidental tem se

voltado, via de regra, para os movimentos da Nova Era e da cultura alternativa, emergentes

desde os anos 80. De modo geral , esses estudos procuram nomear, mapear, descrever e

interpretar práticas, atitudes, grupos e movimentos inspirados em tradições distantes do

universo religioso ocidental moderno. Trata-se de um trabalho de grande fôlego já que esse

esforço também procura cobrir uma ausência nos estudos sobre religião no Brasil : são

objetos nunca d'antes contemplados pelas Ciências Sociais. Todavia, uma face esquecida da

orientalização diz respeito à própria tradição cultural trazida pelos imigrantes. Assim, pois,

esta comunicação descreve a transformação da nova-seita japonesa Seicho-no-ie, que

passou de religião de preservação do patrimônio étnico e cultural para uma religião aberta

à conversão de todas as pessoas (Camargo, 1973). Especificamente, destaca os principais

recursos mobilizados por ela para garantir sua sobrevivência e penetração na sociedade

brasileira, nos primeiros anos da ditadura militar: sintonias políticas e nacionalização

doutrinária.
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Os regimes autocráticos acharam útil perfilhar a retórica da fé,


porque se trata de um discurso que o povo respeita e só com
relutância se lhe opõe. É assim que as religiões dão apoio aos
ditadores.
(Vergonha - Salman Rushdie)

O fenômeno da orientalização do universo religioso ocidental comporta movimentos

sociais diversos como a contracultura, a cultura alternativa e a Nova Era que, embora

específicos, apresentam também alguns traços comuns. Some-se a eles o processo

migratório, no Brasil e em outros países, que também contribuiu para difusão de traços de

algumas culturas orientais. Desse modo, como fenômeno da contemporaneidade, a

orientalização tem merecido a atenção de estudiosos da religião e da cultura já há quarenta

anos. Pode-se afirmar que os estudos têm acompanhado de perto a emergência desses

movimentos sociais.

No Brasil, todavia, a orientalização do universo religioso ocidental só mereceu a

atenção de sociólogos e antropólogos mais recentemente, nos últimos dez anos. Esses

estudos tomam como objeto os movimentos da Nova Era e da cultura alternativa,

emergentes no ocidente desde os anos 80. São trabalhos de grande fôlego, já que esse

esforço também procura cobrir uma ausência nos estudos de religião no Brasil: são objetos

nunca d'antes considerados pelas nossas Ciências Sociais.

De modo geral, essas pesquisas procuram nomear, mapear, descrever e interpretar

práticas, atitudes, grupos e movimentos inspirados em tradições distantes do universo


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religioso ocidental. Alguns nomes já se impõem, firmando se não uma genealogia, pelo

menos uma "tribo" de antropólogos, dentre os quais destaco Soares (1994), Magnani (1999,

2000), Tavares (1999) e Amaral (2001).

Todavia, uma face esquecida da orientalização diz respeito à própria tradição

cultural trazida pelos imigrantes e sua inserção na sociedade adotiva. Sendo o Brasil um

país de imigração desde os últimos cem anos, algumas das religiões "orientais" já estavam

aqui desde o início do século XX. É o caso, entre outras, do budismo e das novas seitas

japonesas. Até a década de 60 elas estavam restritas aos imigrantes e seus descendentes,

tendo a função de preservação do patrimônio étnico-cultural da colônia japonesa (Camargo

et alii, 1973). Desde os anos 60, entretanto, muitas das religiões japonesas passaram a

desenvolver proselitismo entre os brasileiros, no que têm tido relativo sucesso (Gonçalves,

1998; Albuquerque, 1999). Uma dessas religiões é o objeto dessa comunicação: a nova

seita japonesa Seicho-no-ie que, nesse processo, transformou-se em religião aberta à

conversão de todas as pessoas (Camargo et alli, 1973). Com base em dados coletados em

momentos diferentes, nas décadas de 70 e de 90, quero chamar a atenção para os recursos

mobilizados por esse movimento religioso para garantir sua sobrevivência e penetração na

sociedade nacional.

Ao lado de outras tradições distantes do nosso quadro cultural, a Seicho-no-ie se

mostra como uma expressão da orientalização do nosso universo religioso, porém com

especificidades próprias. A sua trajetória acompanhou a da imigração japonesa, indo da Alta

Paulista (1933) à cidade de São Paulo (após a II Guerra). Durante esse período, atendia aos

imigrantes e seus descendentes, como outras religiões restritas aos grupos étnicos.
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A década de 60 marca a preocupação dos dirigentes da Seicho-no-ie com a

doutrinação junto à população brasileira. O momento era propício devido à instabilidade

política por que passava o país, e à desintegração da sociedade paternalista, na colônia

japonesa. Assim, esse movimento desenvolveu várias linhas de ação, visando esses novos

adeptos como, dentre elas, destaco a sintonização ideológica com a linha política pós-64 e

a nacionalização da sua doutrina.

Do ponto de vista político-ideológico, eram comuns, nos anos que se seguiram ao

golpe militar de 64, apreciações da liderança da Seicho-no-ie como segue:

"Com o estabelecimento do novo governo, quase não ocorrem mais greves,

um fato que nos tempos anteriores freqüentemente, se desenrolava em

algum ponto do país. Os partidos políticos defendiam somente seus

interesses, e o grande número de políticos cassados demonstra a realidade

convincente das desonras que se levantavam abertamente em todas as

partes". (Murakami, 1966)

Essa fala da liderança encontra acolhida nas disposições políticas dos adeptos.

"Antes de eu conhecer a Seicho-no-ie, o meu emblema favorito era a foice o martelo. Agora

é este (indica o emblema da nova seita). Com a ideologia materialista-socialista cheguei a

participar de passeatas com estudantes universitários, porque pensava que nossos

governantes estavam errados. Hoje, vejo que eu é que estava enganado" (depoimento

colhido em 1977).
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Completa essa orientação política da Seicho-no-ie o procedimento de abertura das

suas reuniões: agradecimento ao Presidente da República e aos dirigentes políticos do

Brasil. Campanhas em repartições públicas como hospitais, delegacias, prefeituras bem

como a promoção de atividades que atingissem a clientela nacional como palestras, mini-

cursos, oficinas, retiros são outros recursos de que se vale a Seicho-no-ie para atrair adeptos

brasileiros.

Já com relação aos aspectos doutrinários, a revista Acendedor passou a tratar de

temas familiares à cultura brasileira como: “o significado da cruz e a ressurreição”; “como

cortar o círculo do carma”, etc. Os resultados logo apareceram: em 1968 o Acendedor

passa a publicar os primeiros depoimentos de brasileiros conversos. A partir de então, o

aumento do número de adeptos acompanha o aumento do número de sedes bem como o

crescimento do patrimônio da Seicho-no-ie. Como decorrência, a literatura Seicho-no-ie

teve um aumento considerável de obras traduzidas para o português. Todavia, uma

apreciação mais detalhada das características doutrinárias desse movimento religioso

mostra mais claramente suas possibilidades de adaptação ao nosso quadro cultural.

A doutrina da Seicho-no-ie é eminentemente sincrética e esse seu traço é justificado

como sendo ela uma super-religião que englobaria os ensinamentos de todas as outras.

Além disso, seu fundador –Masaharu Tanigushi – é apresentado como um novo messias,

com a finalidade de reintegrar todas as religiões dentro do seu corpo doutrinário, que é

formado por:

- elementos colhidos em correntes do pensamento ocidental;

- teorias do Novo Pensamento americano;


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- aspectos do cristianismo e do budismo.

Todas essas fontes, contudo, foram reinterpretadas por Tanigushi de modo a retratar

a estrutura ideológica do sistema familiar japonês, voltada para a reconstrução do Japão

após a guerra e tendo como centro o imperador.

De modo breve, os aspectos principais dessa doutrina afirmam que o homem é

perfeito na sua essência (jissô) e, portanto, o sofrimento não existe. Além disso, toda

experiência é entendida como manifestação da mente e, nesse sentido, doenças, misérias,

guerras e toda sorte de infelicidades podem ser abolidas através do agradecimento e do

elogio constantes. Isso marca o comportamento do adepto da Seicho-no-ie de grande

otimismo e de atitude positiva.

Quando apresentada aos brasileiros, essa doutrina tem vários aspectos valorizados

diferentemente e os próprios adeptos reinterpretam os ensinamentos de Tanigushi. Por

exemplo: quando se trata da própria organização da Seicho-no-ie, temas como obediência e

centralismo são sempre valorizados. Contudo, a proposta de restauração do sistema político

japonês, foi substituída, na época do governo militar no Brasil, pela aceitação da situação

política e legitimação ideológica vigentes.

Os adeptos e pregadores nacionais também se posicionam frente às outras religiões,

reinterpretando suas doutrinas à luz dos ensinamentos de Tanigushi. Afirmam,

invariavelmente: “Eu sou católico (ou espírita), a Seicho-no-ie é uma filosofia para se

aprender a viver”. Especificamente em relação ao catolicismo, os pregadores procuram


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reinterpretar a noção de pecado mostrando posição conciliatória, o que é bem aceito pelos

adeptos.

Já os seguidores do espiritismo kardecista são orientados no sentido de que os

espíritos são “antepassados falecidos” – entidade religiosa caracteristicamente japonesa -

aos quais se deve sempre agradecer. O mesmo ocorre com a noção de carma que, entendem,

sendo conseqüência de ações de outras vidas sobre a presente, pode ser neutralizado através

de orações e agradecimentos.

Essa atitude conciliatória leva os adeptos a entenderem terem encontrado

aprofundamento em suas crenças de origem. Isso certamente evita conflitos de modo que

os seguidores da Seicho-no-ie se declaram pertencentes ao catolicismo ou ao espiritismo,

mas tomam como fonte de orientação de vida os ensinamentos de Tanigushi.

Com relação às religiões afro-brasileiras, os pregadores da Seicho-no-ie são

categóricos e descartam qualquer reinterpretação condenando, inclusive, experiências de

transe, possessão ou incorporação.

Esse processo de penetração na sociedade nacional exigiu, na década de 90, a

tradução para o português e a escolha de nomes mais familiares para os brasileiros dos

termos e palavras japonesas. Assim, A expressão “dendo-in” foi substituída por divulgador;

o jornal “Enkan” passou a chamar “Circulo de Harmonia” e a revista Acendedor trocou seu

nome para “Fonte de Luz”.


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Portanto, pode-se afirmar que na sua mudança de categoria – da colônia para a

sociedade nacional – a Seicho-no-ie apresentou expressivo crescimento e sensível

nacionalização da sua doutrina.

O alto grau de sincretismo e a não exigência de adesão estrita leva a que a

integração do adepto da Seicho-no-ie no universo religioso seja variável, permitindo até a

construção de uma tipologia com base na internalização religiosa. Como num gradiente eles

se situam entre os simpatizantes, os participantes, a liderança nacional e a liderança

japonesa.

Contemplando esse estudo do ponto de vista do processo histórico das religiões de

conversão no Brasil, o crescimento da Seicho-no-ie e de outras novas seitas aponta para a

emergência, já nos anos 60, de novas demandas religiosas em segmentos de populações

urbanas.

Nuanças desse fenômeno já haviam sido captadas nos anos 70 por estudiosos da

religiosidade brasileira. A proliferação hoje de seitas, terapias, técnicas e filosofias

alternativas aos procedimentos institucionalizados de solucionar problemas e conferir

sentido existencial obriga a dar continuidade a essa reflexão. Não só porque o fenômeno se

acentuou e hoje se fala claramente em reencantamento do mundo, mas porque o contexto

de instalação e crise da modernidade permite vislumbrar novas estratégias políticas e outros

sincretismos.

Isto é, o novo contexto de manifestações religiosas, denominado de orientalização

do universo religioso ocidental, apresenta um imenso oriente, do qual estão ausentes as


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dimensões econômicas, sociais e políticas específicas. Ou seja, um oriente mítico, além dos

determinismos existenciais mas que, certamente têm uma função política no imaginário

ocidental. Também os sincretismos, hoje, não se restringem aos religiosos, mas acolhem as

terapias e as psicologias, as ciências e as gnoses, mostrando novas mobilizações no

contexto da cultura brasileira.

Referências Bibliográficas:

ALBUQUERQUE, L. M. B. de. Seicho-no-ie do Brasil: agradecimento, obediência e


salvação. São Paulo: Annablume/ FAPESP, 1999.
AMARAL, L. Carnaval da alma. Petrópolis: Vozes, 2001.

CAMARGO, C.P.F. et alii. Católicos, protestantes e espíritas. Petrópolis: Vozes, 1973.

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Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, (dissertação) mestrado, 1998.
MAGNANI, L.G.C. Mystica Urbe: um estudo antropológico sobre o circuito neo-esotérico
na metrópole. São Paulo: Studio Nobel, 1999.
________________. O Brasil da Nova Era. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

MURAKAMI, K. O pensamento da iluminação para reconstrução da pátria brasileira.


Acendedor, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 27, 1966.
SOARES, L. E. O rigor da indisciplina. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

TAVARES, F. R. G. O "holismo terapêutico" no âmbito do movimento Nova Era no Rio de


Janeiro. In: CAROZZI, M. J. (org.). A Nova Era no Mercosul. Petrópolis: Vozes, 1999.

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