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RESUMO: O fenômeno da criminalidade desponta neste início de século como um dos principais problemas
vividos pelos habitantes das grandes cidades. Diversas ciências têm se dedicado ao estudo deste tema,
mas somente nas últimas décadas a GeograÞa vem explorando a dimensão espacial da criminalidade
através de uma sub-disciplina denominada GeograÞa do Crime. No escopo desta perspectiva surgem
diversas contribuições para o estudo espacial da criminalidade. Este trabalho explora a distribuição
espacial dos crimes contra pessoa e contra o patrimônio no Estado de Minas Gerais e, na sequência,
analisa os condicionantes desta criminalidade. Para isso, faz-se uso de técnicas de mapeamento, com
auxílio dos Sistemas de Informações GeográÞcas, e de estatística espacial.
ABSTRACT: The phenomenon of crime rises in the beginning of this century as one of the main problems experienced
by the inhabitants of large cities. Various sciences have been devoted to the study of this subject, but
only in recent decades, the geography has been exploring the spatial dimension of crime through a
sub-discipline called Geography of Crime. In the scope of this approach are several contributions to
the study of spatial crime. This paper explores the spatial distribution of crimes against persons and
property in the State of Minas Gerais, and in response, examines the determinants of this crime. For
this, it uses mapping techniques, with aid of geographic information systems, and spatial statistics.
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relações entre taxas de criminalidade e suas variações tais como melhores condições econômicas, grandes
entre diferentes culturas e organizações sociais. concentrações populacionais e enfraquecimento dos
Em períodos anteriores, os estudos sobre o tema mecanismos de controle social, garantindo assim
buscavam tão somente causas gerais para explicar mais oportunidades ao ato criminoso.
o comportamento criminoso, acreditando que sua
extirpação seria a solução para a criminalidade. !Riqueza
No entanto, nos estudos atuais as propostas são A correspondência entre riqueza e crimes
mais abrangentes, sendo as maiores contribuições contra o patrimônio foi discutida por Beato
creditadas aos sociólogos, embora há muito conta- (1998). O autor aÞrma que, contraditoriamente ao
se com as colaborações de psicólogos, economistas, proposto em inúmeros trabalhos, a explicação mais
médicos e, mais recentemente, de geógrafos, dentre signiÞcativa para o crime não é a pobreza, mas a
outros. Tais abordagens, em geral, têm como objeto riqueza. Ambientes mais prósperos são sinônimos
quatro elementos: a lei, o criminoso, o alvo e o lugar de oportunidades para ação criminosa, uma vez
(SILVA, 2004). que fornecem mais alvos viáveis e compensadores,
além de enfraquecerem mecanismos tradicionais de
Pela particularidade deste trabalho, o foco controle social e vigilância.
recaiu sobre os elementos ligados ao lugar. Trata-
se de um deslocamento, na análise, das atitudes !Desigualdade de renda
individuais, tratadas como reação ao comportamento Contextos marcados por desníveis sócio-
da sociedade, para as diferentes características dos econômicos são encarados como ambientes que
lugares no interior de cidades ou regiões, que são aproximam realidades muito díspares. Desta forma,
trabalhadas como fatores causais da criminalidade apoiando-se nas reßexões de Briceño – León (2002),
(SILVA, 2004). Ou seja, esta perspectiva busca que aÞrma que o empobrecimento e a desigualdade
compreender como as características de certas são responsáveis pelo incremento da criminalidade, o
localidades podem inßuenciar indivíduos a cometer índice de Gini representaria uma importante medida
crimes ou a se tornarem vítimas. de concentração de riquezas e, conseqüentemente,
uma variável potencialmente reveladora da incidência
Com base na literatura especializada, criminal. Esperar-se-ia, então, que este descompasso
identiÞcaram-se os fatores mais estudados como econômico fosse responsável pelo desencadeamento
condicionantes da criminalidade. Apresenta-se, a de atos criminosos, principalmente nas grandes
seguir, um breve comentário sobre as relações entre cidades onde pobreza e riqueza coexistem mais
estes temas e os dados de crimes violentos. estreitamente (FELIX, 2002).
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que se desenvolve num cenário sócio-econômico Segundo Castro (2000), esta técnica:
que necessita de um intervalo de tempo para ser
construído. Consiste em um método de redução de um
conjunto de dados multivariados em componentes,
Os dados sobre os condicionantes da denominados principais, que minimizam a
criminalidade foram organizados em sete temas, redundância existente entre as variáveis, através
conforme apresentado na TABELA 1. Em seguida, os de transformações lineares da matriz, de tal
temas que apresentavam mais de uma variável foram modo que as novas variáveis geradas sejam não
submetidos à Análise de Componentes Principais correlacionadas entre si, mas expressem sua
(ACP), no programa SPSS, visando reduzi-las a variabilidade.
uma única componente com seus respectivos scores.
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Na parte de tratamento dos dados, a atenção informações foram exportadas do software excel para
recaiu a priori sobre dados que foram cedidos em o software MapInfo, onde realizou-se a construção de
valores absolutos pela PMMG. Estes dados foram cartogramas coropléticos e modelos 3D.
separados e submetidos à produção de taxas brutas
e corrigidas, por meio de estimadores bayesianos Além dessas análises serão elaboradas
empíricos, a Þm de se evitar as ßutuações aleatórias correlações pearsonianas entre as variáveis de crimes
inerentes à construção de taxas de criminalidade e os temas representativos dos condicionantes da
brutas para áreas com populações reduzidas. Adotou- criminalidade. A análise de correlação visa medir a
se a elaboração de taxas para grupos de 100.000 intensidade da relação entre duas variáveis. Segundo
habitantes, como é comumente realizado em estudos Gerardi e Silva (1981, p.99):
desta natureza.
Existem muitos coeÞcientes de correlação em
Os dados sobre os condicionantes da estatística, sendo o coeÞciente de correlação
criminalidade foram organizados em sete temas, denominado produto-momento (product moment
conforme apresentado na TABELA 1. Em seguida, os correlation coefÞcient) de Karl Pearson, também
temas que apresentavam mais de uma variável foram conhecido por R de Pearson, o mais utilizado.
submetidos à Análise de Componentes Principais
(ACP), no programa SPSS, visando reduzi-las a
uma única componente com seus respectivos scores. 5. ANÁLISES DOS RESULTADOS
Segundo Castro (2000), esta técnica:
Após a tabulação e a respectiva organização
Consiste em um método de redução de um em matrizes, as taxas corrigidas de crimes violentos
conjunto de dados multivariados em componentes, contra o patrimônio foram submetidas ao método
denominados principais, que minimizam a de classiÞcação denominado Sturges, com o Þto
redundância existente entre as variáveis, através de se encontrar o número e o intervalo de classes
de transformações lineares da matriz, de tal que melhor comuniquem a dinâmica espacial do
modo que as novas variáveis geradas sejam não fenômeno.
correlacionadas entre si, mas expressem sua
variabilidade. Considerando-se a extrema concentração de
taxas superiores a 1.000 para cada grupo de 100.000
Com esta técnica, as variáveis que compõem habitantes em alguns municípios do estado, optou-se
os temas riqueza, infra-estrutura, educação, estrutura por agrupá-los em uma única classe. Dessa forma, foi
populacional e condições de vida resultaram em encontrado o número de 11 classes com intervalos
cinco componentes que representam seus respectivos iguais a 76,45. Porém, é importante mencionar que
temas. Para o tema imigração, trabalhou-se com experiências na cartograÞa comprovam que um
taxas por 1.000 habitantes. número de classes muito elevado prejudica o leitor
na hora de distinguir as variações do fenômeno
O passo seguinte refere-se à análise e mapeado. A solução, então, foi agrupar as outras
apresentação dos resultados. Em primeiro lugar classes em pares com intervalos de 152,90. Ao Þnal,
foram trabalhadas as informações acerca dos crimes chegou-se ao número de 6 classes, como observado
violentos contra o patrimônio e contra a pessoa. Essas no MAPA 1.
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Nota-se inicialmente a não homogeneidade da dos municípios de Montes Claros e Pirapora que
manifestação espacial dos crimes violentos contra o estão postados numa das regiões mais deprimidas do
patrimônio, com o Estado apresentando signiÞcativas Estado, o Norte de Minas, mas desempenham papéis
disparidades de incidência do fenômeno. As menores de destaques no contexto desta região.
taxas, agrupadas no primeiro intervalo de classes do
mapa em análise, são encontradas na imensa maioria Analisando as demais classes, nota-se a
dos municípios mineiros, totalizando 731 unidades. existência de uma divisão bastante nítida entre
A população registrada nesta classe corresponde a os outros blocos que pode ser vista iniciando-se
43% da população total de Minas Gerais. a noroeste (municípios de Unaí, Paracatu e João
Pinheiro), desenvolvendo-se em direção sudeste
No outro extremo encontra-se o intervalo (passando por Curvelo, Sete Lagoas, RMBH),
de classe superior, onde são encontradas as maiores encaminhando-se em seguida para nordeste (Itabira,
taxas da modalidade de crime em análise. Neste Região Metropolitana do Vale do Aço, Governador
grupo, formado por apenas cinco municípios, Valadares e TeóÞlo Otoni). Este “U” imperfeito,
destacam-se importantes pólos econômicos descrito em outros estudos sobre o Estado de Minas
regionais do Estado, como Uberlândia, Contagem, Gerais, é conhecido como uma linha divisória
Belo Horizonte, Pirapora e Montes claros. Estes das partes norte e sul do Estado que retratam
municípios representam 20,32% da população duas realidades bem díspares. Na porção austral
total de Minas e situam-se, ainda, em importantes encontram-se os municípios com melhores infra-
regiões econômicas, tais como: o Triângulo Mineiro, estruturas e economias mais consolidadas, bem como
RMBH, além dos dois últimos que se destacam na taxas mais elevadas de crimes contra o patrimônio,
região Norte. Além dessas, destacam-se as posições em detrimento da porção setentrional, onde são
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MAPA 2: Minas Gerais: “TopograÞa” dos Crimes Violentos Contra o Patrimônio – 2005
Fonte: Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais – PPGGTIE – PUC Minas
Os valores da categoria de crimes contra a 20,81. Também aqui se repetiu o critério de redução
pessoa também foram submetidos ao método de do número de classes com o objetivo de facilitar a
classiÞcação de Sturges. Após os cálculos, deÞniu-se leitura do mapa e, ao Þnal, deÞniu-se o número de 6
um número de 12 classes com intervalos no valor de classes com intervalos de 41,62 (MAPA 3).
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MAPA 4: Minas Gerais: “TopograÞa” dos Crimes Violentos Contra a Pessoa – 2005
Fonte: Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais – PPGGTIE – PUC Minas
Após a descrição da dimensão espacial das de medir a intensidade da relação entre os temas
taxas de crimes violentos contra a pessoa e contra sugeridos pela literatura como condicionantes da
o patrimônio, apresenta-se a investigação acerca de criminalidade e as categorias de crimes violentos
seus condicionantes. contra o patrimônio e contra a pessoa. Os resultados
são apresentados na TABELA 2, com seus respectivos
Os dados foram submetidos a testes níveis de signiÞcância, seguidos da discussão.
estatísticos de correlação de Pearson, com o Þto
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Os resultados das análises de correlações postulados teóricos, os crimes contra a pessoa tendem
revelaram que as variáveis representativas dos a ser mais presentes em áreas economicamente mais
condicionantes da criminalidade violenta assumem deprimidas do estado, em detrimento dos crimes
relevâncias diferenciadas entre as modalidades de contra o patrimônio, que são mais recorrentes
crime estudadas. Os testes foram mais signiÞcativos em regiões mais ricas, onde há um contexto de
para os crimes contra o patrimônio, onde os temas oportunidades para os autores dos delitos. Outro
desenvolvimento humano, educação, riqueza e aspecto discutido neste trabalho refere-se à baixa
estrutura populacional foram os que apresentaram variação das taxas de crimes contra a pessoa entre os
correlações mais fortes. Dentre esses, a estrutura municípios mineiros, o que não ocorre com os crimes
populacional foi o que mais se destacou. É importante contra o patrimônio. Neste último, nota-se uma
mencionar que este tema foi obtido a partir da técnica intensa concentração das maiores taxas na RMBH, no
ACP a partir de três variáveis muito discutidas em município de Uberlândia, além de outros importantes
estudos sobre criminalidade: população jovem (15 a pólos regionais do estado, demonstrando-se tratar
24 anos), população total e densidade demográÞca. de um problema típico de grandes aglomerações
urbanas.
Há um consenso na literatura especializada
de que o fenômeno da criminalidade acompanhou o A complexidade do fenômeno Þca expressa
surgimento e a intensiÞcação de um outro fenômeno, na diversidade de temas trabalhados como
o da metropolização. A grande concentração condicionantes da criminalidade. Porém, as análises
de pessoas em cidades é responsável pelos de correlação mostraram que o contexto urbano é o
abismos delineados por desigualdades sociais que mais relacionado à criminalidade.
intensiÞcam as frustrações humanas e enfraquecem
os mecanismos de controle social informal (FELIX, Durante a pesquisa, o aparato tecnológico
2002). Além da dilaceração desses mecanismos dos SIG’s permitiu testar a eÞciência das
de controle social, a cidade caracteriza-se como o geotecnologias no gerenciamento de banco de dados
espaço das oportunidades para atos criminosos, seja espaciais, onde, o cruzamento de informações e seus
pela quantidade de alvos ou pelo anonimato que a respectivos mapeamentos possibilitaram análises
vida urbana oferece. rápidas, precisas e de fácil operação. No entanto,
uma grande diÞculdade encontrada diz respeito às
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS limitações das estatísticas produzidas, uma vez que
nem todos os crimes são registrados. Trabalhou-se
O estudo apresentado é uma análise aqui com a ideia de que os dados sobre criminalidade
exploratória sobre os condicionantes da criminalidade representam uma tendência geral do fenômeno e não
violenta no Estado de Minas Gerais, interpretados a sua totalidade.
na perspectiva geográÞca. A primeira consideração
a se fazer refere-se a relevância que o espaço vem REFERÊNCIAS
ganhando nos diversos campos do saber. Nos estudos
sobre a criminalidade, ele passa a ser uma variável BATELLA, W. B.; DINIZ, A. M. A. O uso de
muito importante, que vem sendo signiÞcativamente técnicas elementares de estatística espacial no estudo
considerada na compreensão da dinâmica deste da reestruturação espacial da criminalidade violenta
fenômeno. no Estado de Minas Gerais: 1996-2003. Caderno de
GeograÞa, Belo Horizonte, v. 16, n.26, 2006. p. 153
A pesquisa acerca da manifestação espacial – 167
da criminalidade violenta em Minas Gerais mostrou
que há uma assinatura espacial especíÞca para cada BATELLA, W. B.; DINIZ, A. M. A.; TEIXEIRA,
modalidade de crime estudado. ConÞrmando os A. P. Explorando os determinantes da GeograÞa
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