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1
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Interessa,
em
especial,
para
o
Direito
Privado.
Tem
também
interesse
para
o
Direito
Público,
no
sentido
em
que
é
nesta
disciplina
que
se
desenvolve
a
teoria
das
pessoas
colectivas
(personalidade
colectiva).
Para
o
Direito
Privado:
a
grande
parte
da
riqueza
actual
não
é
fundiária,
mas
está
essencialmente
em
acções
e
instrumentos
financeiros
–
os
quais,
em
grande
medida,
estão
na
posse
de
pessoas
colectivas.
1. INTRODUÇÃO
1.1 A
SOCIEDADE
ENQUANTO
ENTE
JURÍDICO
E
ENQUANTO
CONTRATO
1.1.1. POSSIBILIDADE
DE
NEGÓCIO
INSTITUTIVO
DE
SOCIEDADE-‐ORGANIZAÇÃO
PRATICADO
POR
UMA
SÓ
PESSOA
1.1.2. POSSIBILIDADE
DE
A
SOCIEDADE-‐ORGANIZAÇÃO
TER
FONTE
LEGAL
Dupla
natureza
da
sociedade:
a
sociedade
pode
ser
vista
como
um
contrato
ou
como
entidade
(organização).
Ao
falar
de
sociedade
pode
referir-‐se
uma
coisa
ou
outra,
é
um
termo
polissémico.
É
um
animal
com
dupla
natureza,
i.e.,
há
aspectos
que
relevam
da
natureza
contratual
e
aspectos
que
transcendem
essa
natureza
–
pelo
facto
de
existir
ali
uma
entidade
jurídica.
Há
algo
mais
que
a
dimensão
contratual.
Não
existe
apenas
o
contrato
celebrado
entre
um
conjunto
de
pessoas,
mas
também
uma
pessoa
colectiva
que
se
projecta
ao
longo
do
tempo,
com
relações
entre
os
membros
e
os
credores
(projecção
da
relação
ao
exterior).
A
«sociedade
contrato»
será
um
contrato
que
se
caracteriza
pela
obrigação
de
contribuir
com
bens
e
serviços
para
uma
actividade
económica.
Ex.:
a
compra
e
venda.
Entrega
da
coisa
e
do
preço
e
transferência
do
bem
como
efeito
real.
Já
no
contrato
sociedade,
é
obrigação
de
contribuir
com
bens
e
serviços.
A
«sociedade
entidade,
organização
ou
instituição»
é
um
certo
tipo
de
organização
de
pessoas
e
bens
dedicada
à
prossecução
de
uma
actividade
económica.
Uma
organização
com
pessoas
e
bens
(matéria
palpável)
para
a
realização
da
finalidade
económica.
Esta
ideia
de
organização
é
uma
ideia
de
difícil
explicação.
A
própria
noção
de
organização
é
um
conceito
que
se
desenvolve
à
medida
que
se
aprofundam
os
conhecimentos
da
disciplina.
A
sociedade
entidade
é
paradigmaticamente
gerada
pela
sociedade
contrato.
Na
origem
da
entidade
está,
por
regra,
um
contrato
de
sociedade.
Mas
há
excepções,
uma
vez
que
é
possível
constituir
a
sociedade
entidade
por
via
de
um
negócio
jurídico
unilateral
(arts.
270º-‐A:
quotas
unilaterais,
com
um
único
sócio
e
uma
declaração
negocial
singular
–
sociedades
que
também
existem
em
Espanha
–
sociedade
por
quotas
unilateral;
478º:
constituição
de
uma
sociedade
por
outra
sociedade
comercial,
respeita
os
grupos
de
sociedades).
Mas
também
existem
outros
actos,
que
não
jurídicos,
que
constituem
sociedades:
legislativos.
A
entidade,
por
regra,
é
criada
pela
sociedade
contrato,
mas
nem
sempre
é
assim.
Convém
ter
esta
ideia
em
mente.
Assim,
a
dimensão
contratual
nem
sempre
existe.
Na
história
do
pensamento
ocidental,
o
conceito
de
sociedade
contrato
precedeu
o
de
sociedade
entidade.
Sobre
sociedade
enquanto
contrato
fala-‐se
desde
o
Direito
Romano
(Societas
enquanto
modalidade
contratual
em
Roma).
A
ideia
de
que
gera
uma
organização
com
personalidade
jurídica
levanta
o
problema
da
criação
dos
entes
colectivos,
mas
enquanto
uma
problemática
moderna
(fim
da
Idade
Média).
As
companhias
privilegiadas
são
antecessoras
das
sociedades
anónimas
(o
exemplo
paradigmático
é
o
da
companhia
privilegiada
holandesa).
A
discussão
sobre
os
entes
autónomos
(i.e.,
entidade
idealizada
que
transcende
os
seres
humanos)
surge
aqui.
1.2. SENTIDOS
DA
EXPRESSÃO
«CONTRATO-‐SOCIEDADE»:
NEGÓCIO
INSTITUTIVO
E
ESTATUTOS
Há
uma
dupla
dimensão
da
sociedade
contrato
(diferente
de
dupla
dimensão
da
sociedade).
Por
um
lado,
há
o
negócio
jurídico
institutivo
e,
por
outro,
os
estatutos
ou
pacto
social.
No
contrato
de
sociedade
há
uma
dupla
dimensão
(diferente
de
dupla
natureza).
Há
determinadas
estipulações,
ou
cláusulas,
que
regulam
o
funcionamento
da
sociedade
entidade
ao
longo
do
tempo.
Uma
parte
do
conteúdo
do
contrato
que
regula
o
funcionamento
da
sociedade
ao
longo
do
tempo.
São
cláusulas
estatutárias
que,
por
exemplo,
estabelecem
o
número
de
votos
necessários
para
alterar
um
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
órgão
da
sociedade;
ou
a
actividade
económica
a
ser
prosseguida;
ou
delimitam
a
firma,
o
nome
da
sociedade;
ou
delimitam
o
direito
de
voto.
São
cláusulas
importantes
para
as
sociedades
anónimas.
São
assim
cláusulas
estatutárias,
que
pertencem
aos
estatutos.
Em
contraposição,
temos
outros
elementos
que
se
esgotam
no
momento
da
constituição.
A
própria
declaração
de
vontade
no
sentido
de
criar
a
sociedade;
a
identificação
dos
sócios
originários
e
das
suas
obrigações
de
entrada;
são
elementos
que
relevam
da
instituição,
da
sociedade,
que
podem
ser
contrapostos
aos
elementos
que
regulam
a
sociedade
ao
longo
do
tempo
(estatuto).
No
Código
das
Sociedades
raramente
surge
o
termo
dos
Estatutos.
Entre
nós,
considera-‐se
que
não
se
tratam
de
dois
actos,
mas
de
duas
dimensões
do
mesmo
negócio
jurídico.
1.3. A
DIVERSIDADE
DOS
TIPOS
DE
SOCIEDADES
COMERCIAIS
Existem
cinco
tipos
base:
a
sociedade
civil
(arts.
980º
e
ss,
CC);
em
nome
colectivo;
por
quotas;
anónimas;
e
em
comandita
(CSC).
Além
destes,
temos
subtipos,
designadamente,
nas
sociedades
anónimas,
temos
as
abertas
e
fechadas,
sendo
que
dentro
das
abertas,
temos
as
cotadas
e
as
não
cotadas.
Estes
subtipos
traduzem-‐se
em
regimes
jurídicos
com
carácter
especial
face
ao
regime
geral
das
sociedades.
Estes
conceitos
estratificados
implicam
regimes
jurídicos
especiais.
Existem
ainda
subtipos
especiais
em
função
do
objecto.
Assim,
existem
as
sociedades
anónimas
que
são
SGPS
(Sociedade
Gestora
de
Participações
Sociais,
na
gíria,
uma
holding,
que
está
no
topo
das
sociedades
«filhas»,
a
«mãe»).
Há
um
DL
especial
aplicável
a
este
tipo
de
sociedades.
As
sociedades
anónimas
desportivas
são
um
subtipo
especial
em
função
do
objecto
(ex.:
SAD
do
Sporting).
Há
o
exemplo
ainda
das
sociedades
anónimas
de
gestão
de
imóveis.
São
todos
regimes
especiais
de
sociedades
anónimas
em
função
do
objecto.
1.4. CONTRAPOSIÇÃO
ENTRE
SOCIEDADE
CIVIL
E
SOCIEDADE
COMERCIAL
Terá
na
base
a
distinção
do
campo
de
aplicação
entre
o
direito
civil
e
o
direito
comercial.
O
direito
civil
é
herdeiro
do
direito
romano;
é
direito
privado
comum.
O
direito
comercial
emancipou-‐se
desse
direito
privado
comum,
ao
longo
da
história,
com
início
da
Idade
Média
(florescimento
do
comércio,
das
relações
entre
comerciantes).
Surge
primeiro
o
direito
romano,
o
conhecimento
passa
depois
para
os
teóricos
da
Igreja
na
Idade
Média
–
período
de
recessão.
Assim,
os
conceitos
herdados
dos
romanos
eram
explicados
pelos
teóricos
clérigos,
sem
imposição
estadual
ou
base
legal.
Era
um
direito
comum
na
Europa
dos
países
que
resultaram
da
queda
do
Império
Romano.
Isto
é
a
base
do
direito
civil.
Com
os
Estados
Modernos,
a
emergência
dos
Estados
com
fronteiras,
e
o
maior
peso
da
lei
enquanto
Estado
de
Direito,
surgiu
um
maior
valor
do
Direito
(direito
civil).
Por
contraposição
a
tudo
isto,
temos
o
surgimento
do
direito
comercial,
com
a
origem
consuetudinária
–
os
comerciantes
foram
desenvolvendo
o
comércio,
em
terra,
entre
o
Sul
e
o
Norte
da
Europa.
Estabeleceram
regras
distintas
das
regras
do
direito
romano;
mais
protectoras
dos
credores
do
que
dos
devedores;
que
facilitam
as
trocas
à
distância
(letras,
livranças,
notas
de
crédito).
⇒ Temos
desta
forma
um
direito
comercial
e
um
direito
civil,
sendo
que
falar
de
um
e
de
outro
é
o
mesmo
que
falar
de
um
direito
para
os
comerciantes
ou
empresários
e
um
direito
para
os
cidadãos.
Do
ponto
de
vista
técnico-‐jurídico,
há
dois
critérios:
(1) Objectivo
–
define
o
acto
de
comércio;
(2) Subjectivo
–
define
o
comerciante.
Ao
longo
da
história
foram
utilizados
estes
dois
critérios
para
se
saber
quando
se
aplicava
o
direito
comercial.
Com
as
primeiras
codificações
comerciais,
prevaleceram
estes
critérios.
No
nosso
Código
Comercial,
a
Carta
de
Lei
de
28
de
Junho
de
1888.
O
Código
vigente
adopta
o
critério
objectivo,
o
critério
do
acto
de
comércio.
Contudo,
também
dá
uma
margem
ao
critério
subjectivo.
A
noção
de
comercialidade,
em
Portugal,
é
uma
noção
objectiva.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
De
acordo
com
o
Código
de
1888,
os
actos
de
comércio
são
os
regulados
no
Código
Comercial.
O
elenco
de
actos
de
comércio
é
um
elenco
que
constitui
um
precipitado
histórico
criticável.
São
os
actos
praticados
pelas
pessoas
que
têm
a
sua
dedicação
no
comércio
estrito
(trocas);
do
sector
industrial.
O
sector
primário
está
fora
dos
actos
de
comércio,
por
via
do
precipitado
histórico,
na
medida
em
que
o
direito
comercial
foi
feito
pelas
relações
históricas.
Assim,
transacções
agrícolas
e
pecuárias
não
entram
na
letra
da
lei.
Hoje
em
dia
não
faz
sentido,
na
medida
em
que
quem
se
dedica
a
este
sector,
fá-‐lo
numa
estrutura
organizada.
Aos
olhos
do
Código
Comercial
a
advocacia
não
é
uma
actividade
comercial.
Mas,
actualmente,
é
uma
estrutura
organizacional
intensa.
Também
não
é
racional
considerar
que
não
são
comerciantes.
Assim,
passou
a
utilizar-‐
se
antes
a
expressão
de
«direito
empresarial»
em
vez
de
comercial,
por
via
a
fazer
com
que
as
regras
do
Código
se
apliquem
com
a
maior
amplitude.
Esta
tendência
de
contraposição
do
direito
comercial
ao
direito
das
empresas
é
bipolar:
por
um
lado,
é
possível
dizer
que
uma
coisa
é
o
direito
comercial
e
outra
é
o
direito
empresarial;
por
outro
lado,
pode
dizer-‐se
que
o
direito
comercial
moderno
tem
de
passar
a
ser
um
direito
comercial
para
todas
as
empresas,
alargando
o
conceito
de
comerciantes
e
de
comércio.
Há,
em
todo
o
caso,
na
legislação
portuguesa,
a
primeira
perspectiva
bipolar,
i.e.,
um
conceito
legal
de
acto
de
comércio
e
comerciante
e
um
conceito
legal
de
empresa.
Mas
nem
sempre
se
verifica
esta
bipolaridade.
Ex.:
o
Código
de
Insolvência
utiliza
o
conceito
de
empresa
–
ou
seja,
os
comerciantes,
as
empresas
agrícolas,
entre
outros.
Tem
o
conceito
amplo.
As
regras
do
registo
comercial
impõem-‐se
a
todos
os
comerciantes
pelo
critério
da
empresa.
⇒ Conceito
estrito
de
comerciante
versus
o
conceito
amplo
de
comerciante
ou
de
empresa.
A
lei
não
elenca
categorias
ou
critérios
detalhados
para
explicar
o
que
é
um
acto
de
comércio.
O
legislador
fê-‐
lo
através
de
um
elenco.
Em
vez
de
apontar
vectores
ou
conceitos
para
a
comercialidade,
colocou
um
elenco.
Assim,
veio
a
Doutrina
determinar
os
critérios
que
determinam
que
certos
actos
sejam
actos
comerciais
(para
lá
do
elenco
da
lei,
i.e.,
a
racionalidade
da
lei).
Assim:
(1) Finalidade
lucrativa;
(2) Interposição
das
trocas;
(3) Organização
e
Profissionalismo.
Existe
frequentemente
uma
finalidade
lucrativa,
na
medida
em
que,
por
regra,
querem-‐se
obter
lucros
(a
mão
invisível
do
mercado).
Há
uma
interposição
das
trocas
no
lugar
da
troca
directa,
com
a
intervenção
dos
distribuidores.
As
pessoas
que
se
introduzem
nas
trocas
não
produzem
ou
consumem
nada.
Passam
a
ser
valorizadas.
Por
fim,
a
organização
de
meios
de
produção,
de
pessoas
e
bens,
com
vista
a
prosseguir
a
finalidade
económica
com
profissionalismo,
de
forma
estruturada
ou
organizada.
As
sociedades
comerciais
são
as
sociedades,
em
primeiro
lugar,
constituídas
para
praticar
actos
de
comércio,
ou
seja,
aqueles
integrados
no
Código
Comercial
ou
na
legislação
extravagante
que
substitui
o
Código.
São
sociedade
criadas
com
o
objecto
social,
a
finalidade,
de
prosseguir
a
actividade
económica.
Ø Art.
1º
do
Código
das
Sociedades
Comerciais:
o
número
2
estabelece
um
duplo
critério
de
aplicação.
Tem
dois
requisitos
para
a
classificação
da
sociedade
comercial,
i.e.,
a
adopção
de
uma
das
formas
da
sociedade
comercial
e
a
prática
de
actos
de
comércio.
O
número
4
merece
especial
atenção
(sociedades
civis
sob
forma
comercial).
A
estas
aplicam-‐se,
na
mesma,
o
CSC.
O
que
interessa,
sobretudo,
é
se
as
sociedades
adoptam
uma
das
formas
previstas
na
lei
ou
não.
A
contraposição
entre
civil
e
comercial
é
pouco
relevante,
no
sentido
em
que,
tendo
uma
das
formas,
aplicar-‐se-‐á,
sempre,
o
CSC.
Para
efeitos
de
Código
de
Insolvência
e
Registo
Comercial
interessa
o
conceito
amplo
de
empresa.
Do
ponto
de
vista
da
aplicação
prática,
é
isto
que
releva
no
campo
dos
actos
de
comércio.
Alguns
Aspectos
na
Teoria
Geral
do
Negócio
Jurídico:
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
(1) Toda
a
sociedade
contrato,
civil
ou
comercial,
enquadra-‐se
numa
categoria
ampla
–
categoria
dos
contratos
de
cooperação.
Em
Portugal,
o
nome
mais
importante
é
CARLOS
FERREIRA
DE
ALMEIDA.
Tem
uma
teoria
sobre
formação
do
contrato
e
sobre
a
categorização
do
contrato
(troca
e
cooperação;
doação;
liberalidade;
risco
e
1
estruturação),
sendo
este
último
ponto
que
mais
releva.
O
contrato
de
sociedade
é
o
contrato
mais
paradigmático,
importante
da
categoria
dos
contratos
de
cooperação.
Nas
trocas,
há
uma
troca
comunicacional,
das
declarações
de
vontade
ao
nível
da
formação
do
negócio
jurídico;
mas
também
uma
troca
de
prestações.
Nas
sociedades
comerciais,
todos
têm
uma
finalidade
económica
comum,
ou
seja,
as
prestações
de
pessoas
e
bens
não
se
trocam,
estão
orientadas
a
um
fim
comum.
As
sociedades
são
pensadas
na
égide
da
direcção
comum,
i.e.,
«todos
para
o
mesmo».
Há
um
vínculo
a
uma
finalidade
comum.
Não
são,
portanto,
prestações
que
se
cruzam,
mas
prestações
paralelas.
Aula
de
17
de
fevereiro
de
2017
Fala-‐se
cada
vez
mais
no
Direito
Empresarial,
no
sentido
de
abarcar
quer
os
sectores
já
abrangidos
na
codificação
comercial,
quer
as
pequenas
empresas.
O
Direito
Comercial
deve
ser
entendido,
cada
vez
mais,
como
das
Empresas.
O
art.
980º
do
CC,
estabelece
uma
definição
de
contrato
de
sociedade,
contrariamente
ao
que
acontece
no
Código
das
Sociedades
Comerciais.
Há,
consequentemente,
clivagens
doutrinárias:
assim,
(1)
quem
entende
que
esta
definição
vale
para
as
Sociedades
Comerciais;
(2)
quem
entende
que
vale
apenas
para
as
Sociedades
Civis,
não
valendo
para
as
Comerciais
[opinião
que
o
Professor
PEDRO
CAETANO
NUNES
defende].
Nas
situações
de
fronteira
é
isto
que
determina
se
se
aplica
ou
não
o
Código
das
Sociedades
Comerciais.
Rui
Pinto
Duarte
tem
opiniões
importantes
nesta
matéria.
Os
elementos
de
definição
deste
contrato
de
sociedade
decorrem
da
letra
da
lei:
(1)
contrato
entre
dois
ou
mais
sujeitos;
(2)
a
contribuição
de
bens
e
serviços
–
objecto;
(3)
fim
imediato
–
1º
fim
–
é
o
de
exercício
comum
de
actividade
económica
que
não
seja
de
mera
fruição;
(4)
fim
mediato
–
mais
afastado
–
de
repartição
dos
lucros.
Esta
definição,
que
vale
para
o
contrato
de
Sociedade
Civil,
traz
a
polémica
de
saber
se
vale
para
as
Comerciais.
A
tese
tradicional
e
dos
Professores
de
Coimbra
(especialmente,
LOBO
XAVIER)
defendem
que
se
aplica
aos
dois
tipos.
No
polo
oposto,
temos
RUI
PINTO
DUARTE,
entendendo
que:
Em
três
aspectos,
compreende
de
maneira
diferente
o
fim
mediato
e
imediato
e
a
questão
do
contrato.
As
sociedades
comerciais
não
têm
sempre
a
sua
origem
num
contrato,
podendo
ter
origem
na
lei,
num
acto
jurisdicional,
entre
outros
actos.
É
o
primeiro
aspecto.
Em
segundo
lugar,
nas
sociedades
comerciais,
frequentemente,
não
há
exercício
em
comum
(não
vão
dois
ou
três
sujeitos
para
trás
de
um
balcão;
nas
sociedades
comerciais
há,
geralmente,
accionistas
que
fazem
meros
investimentos;
ou
seja,
não
estão
a
exercer
pessoalmente
nenhuma
actividade
económica).
É
um
exercício,
mas
no
sentido
de
ser
uma
contribuição
para
a
sociedade
exercer
uma
actividade
económica,
mas
não
é
o
próprio
que
investe
que
vai
«para
trás
do
balcão».
Por
fim,
a
lei
não
estabelece,
em
qualquer
parte
do
CSC,
o
impedimento
de
ser
de
mera
fruição.
Assim,
não
é
em
comum
e
não
é
de
mera
fruição.
Mera
fruição
seria
ter
imóveis
e
extrair
rendas
–
não
se
faz
nada,
concretamente.
Gera
frutos
sem
grandes
encargos.
Tem
que
haver
uma
finalidade
lucrativa,
o
que
significa
que
as
non
profits
não
podem
ser
Sociedades
Civis
e
não
podem,
para
a
Escola
de
Coimbra,
assumir
a
posição
de
Sociedade
Comercial.
Para
RUI
PINTO
DUARTE
e
PEDRO
CAETANO
NUNES,
estas
podem
ser
Sociedades
Comerciais,
na
medida
em
que,
para
estes,
a
última
parte
do
art.
980º
do
CC
não
vale
para
este
tipo
de
Sociedades.
Ainda
quanto
à
finalidade
lucrativa:
no
CSC
não
há
uma
definição
de
contrato
de
sociedade,
sendo
este
o
pressuposto
de
toda
esta
teorização.
A
questão
que
se
coloca
é
a
de
saber
se
há
algumas
normas
que,
ao
longo
do
Código,
respondam
a
esta
querela
doutrinária.
Assim:
1
Na
Alemanha,
uma
das
pessoas
que
marca
a
classificação
sobre
contratos
é
RUDOLF
VON
IHERING.
Tem
uma
classificação
que
fala
em
contratos
de
troca,
de
liberalidade
e
com
fim
comum
(cooperação).
Não
avalia
o
risco
e
a
estruturação
que
aparece
com
FERREIRA
DE
ALMEIDA,
mas
mostra
que
a
categorização
dos
contratos
releva
em
todo
o
lado.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
• Normas
a
favor
da
Escola
de
Coimbra
e
LOBO
XAVIER:
art.
21º,
CSC
–
o
direito
ao
lucro
é
um
direito
dos
sócios,
o
qual
protegido.
Há
inclusivamente
várias
regras
que
reforçam
a
ideia
do
direito
ao
lucro,
com
vista
a
proteger
os
sócios
minoritários.
São
exemplos
destas
normas
o
art.
22º/4;
os
arts.
217º
e
294º
-‐
regime
de
protecção
de
minorias
nas
sociedades
por
quotas
e
anónimas
–
limitam
a
redução
do
lucro.
O
direito
ao
lucro
está
previsto
no
CSC
e
há
normas
que
protegem
este
direito.
• Norma
a
favor
de
RUI
PINTO
DUARTE
e
PEDRO
CAETANO
NUNES:
art.
42º,
CSC
–
aponta
os
fundamentos
de
nulidade
do
contrato
de
sociedade
(por
quotas,
comanditas
–
i.e.,
não
valem
para
todas).
Se
é
válido
é
porque
a
definição
de
válida
não
tem
o
elemento
de
lucro,
no
sentido
em
que
se
tiver
lucro,
tem
de
ter
a
protecção
dos
sócios
minoritários.
Não
vale
«contrato»,
não
vale
«em
comum»,
e
não
vale
«lucro»
para
as
sociedades
comerciais.
Assim,
segundo
Rui
Pinto
Duarte,
a
definição
será
diversa.
Será
um
contrato,
negócio
jurídico
unilateral,
acto
jurisdicional
ou
legal;
tem
o
mesmo
objecto
–
contribuição
de
bens
e
serviços;
para
o
exercício
de
actividade
económica;
para
benefícios
dos
sócios
ou
membros.
Por
fim,
no
que
respeita
ao
benefício,
entende-‐se
que
seja
um
lucro
ou
uma
vantagem.
Notas:
quando
falarmos
nos
Direitos
e
Deveres
dos
Sócios,
falaremos
da
prestação
característica
do
contrato,
i.e.,
da
contribuição
de
bens
e
serviços
(objecto
do
contrato).
Por
«actividade
económica»
deve
entender-‐se
a
susceptibilidade
de
expressão
monetária,
ou
seja,
de
avaliação
em
dinheiro.
Sobretudo
nos
países
de
Common
Law,
pode
acontecer
ter
sociedades
que
não
têm
por
base
uma
actividade
económica.
Também
acontece
em
Portugal
–
é
o
caso
das
Cooperativas
ou
das
Associações
Recreativas,
as
quais,
em
Portugal,
não
podem
ser
Sociedades
Comerciais.
1.5. A
SOCIEDADE
ENQUANTO
ENTIDADE
(PERSONALIDADE
JURÍDICA)
1.5.1. A
SOCIEDADE
NO
PANORAMA
DAS
PESSOAS
COLECTIVAS
Há
que
reter
alguns
conceitos
base:
Personalidade
Colectiva
–
tradicionalmente,
desde
MANUEL
DE
ANDRADE
–
que
importou
esta
ideia,
erradamente,
do
SJ
Alemão
-‐,
em
Portugal,
há
uma
distinção
entre
capacidade
de
gozo
e
capacidade
de
exercício
(ou
personalidade).
Segundo
PEDRO
CAETANO
NUNES,
personalidade
ou
capacidade
jurídica
corresponde
à
susceptibilidade
de
tutelar
situações
jurídicas,
i.e.,
quanto
a
quem
é
um
centro
de
imputação
de
efeitos
de
normas
jurídicas.
Uma
pessoa
é
o
centro
de
imputação
dos
efeitos
jurídicos.
Todas
as
pessoas
físicas
são
pessoas
jurídicas.
Mas
há
pessoas
jurídicas
que
não
pessoas
físicas,
ou
seja,
as
pessoas
colectivas.
Em
rigor
técnico-‐jurídico,
pessoa
jurídica
é
o
efeito
numa
norma
jurídica.
Ao
olhar
para
as
normas
jurídicas
identificam-‐se
as
pessoas
jurídicas
[perspectiva
normativista
–
KELSEN].
Na
capacidade
de
exercício
já
está
em
causa
a
susceptibilidade
de
exercer
pessoalmente
os
seus
direitos.
Do
ponto
de
vista
analítico,
são
os
poderes
jurídicos
que
permitem
o
exercício
jurídico
[as
pessoas
maiores
e
emancipadas
têm
o
poder
jurídico
para
celebrar
NJ;
o
incapaz,
o
inabilitado
e
o
interdito
não
têm
o
poder
jurídico
para
tal];
MANUEL
DE
ANDRADE
defende
que
personalidade
jurídica
é
um
valor
absoluto
enquanto
a
capacidade
de
exercício
é
um
direito
relativo,
a
medida
da
titularidade
de
poderes
e
deveres.
Assim,
há
uma
pessoa
jurídica
quando
for
encontrada
uma
norma
jurídica
que
atribui
efeitos
jurídicos
a
uma
entidade
específica
e
individualizada.
Na
sequência
desta
perspectiva
normativista
[KELSEN,
na
lógica
de
HANS
JULIUS
WOLFF],
há
personalidade
jurídica
plena
ou
rudimentar.
MANUEL
DE
ANDRADE
importou
esta
distinção,
desta
vez
de
forma
correcta.
Por
vezes,
é
a
lei
que
determina
que
existe
personalidade
jurídica,
pelo
que
se
entende
que
seja
plena.
Noutras
vezes,
existem
apenas
algumas
normas
jurídicas
que
encontram
um
centro
idealizado
dos
efeitos
das
normas.
As
Sociedades
Comerciais
têm
personalidade
jurídica
(art.
5º,
CSC),
mais,
têm
personalidade
jurídica
plena.
Mas
se
formos
ao
CC,
não
há
qualquer
afirmação
de
personalidade
jurídica
plena
para
as
Sociedades
Civis.
Em
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
contrapartida,
o
art.
997º
do
CSC
estabelece
algo
interessante
–
responderá
primeiro
a
Sociedade,
porque
os
sócios
só
começam
a
ser
responsáveis
na
falta
de
património
social.
Estas
querelas
doutrinárias,
com
esta
especificidade
da
importação
por
Manuel
de
Andrade,
devem
ser
lidas
no
sentido
de
haver
personalidade
jurídica
plena
ou
rudimentar.
Geralmente,
as
pessoas
que
têm
personalidade
rudimentar
têm
personalidade
judiciária.
Quanto
ao
património,
incorpora
as
situações
jurídicas
positivas
e
negativas
(os
créditos
e
as
dívidas).
Se
a
lei
atribuir
personalidade
jurídica
plena,
há
uma
pessoa
com
património
próprio.
O
art.
997º
é
essencial
e
paradigmático.
Quando
há
personalidade
rudimentar
também
existe
património
autónomo,
que
se
distingue
da
esfera
patrimonial.
Os
casos
de
personalidade
plena
são
os
casos
em
que
a
lei
afirma
a
personalidade;
os
de
rudimentar
são
os
que
resultam
de
normas
soltas.
Também
o
CPC
releva
neste
aspecto,
pois
atribuiu
personalidade
a
certas
situações,
p.e.,
à
herança
jacente
(personalidade
rudimentar).
Alemanha
–
distinção
entre
Comunhão
Germânica
e
Corporação:
não
há
apenas
uma
contitularidade
de
uma
coisa,
mas
também
um
laço
social.
Tradicionalmente,
as
pessoas
colocavam
bens
e
serviços
em
comum
para
prosseguir
uma
actividade
económica
comum
(lucros
–
um
tinha
a
mercearia,
outro
o
balcão,
outro
trazia
os
produtos
e
estavam
todos
atrás
do
balcão
–
o
laço
pessoal).
Em
contraposição,
temos
as
corporações,
i.e.,
instituições
de
grande
dimensão
destinadas
a
perdurar
no
tempo
e
que
transcendem
os
seres
humanos.
A
personalidade
jurídica
foi
pensada
para
as
corporações
e,
tradicionalmente,
as
formas
de
sociedades
civis
e
comerciais
que
tinham
a
montante
a
ideia
de
comunhão
germânica
eram
aquelas,
em
relação
às
quais,
não
se
atribuía
qualquer
personalidade
jurídica.
Antes
do
código
de
86
fazia-‐se
a
distinção.
As
sociedades
por
quotas
enquadravam-‐se
na
comunhão
germânica
e,
como
tal,
não
tinham
personalidade
jurídica.
A
Doutrina
fala
em
substractos
–
realidade
sociológica
por
detrás
da
personalidade
jurídica.
Tradicionalmente,
nas
associações
há
um
substracto
associativo
(conjunto
de
pessoas
que
se
unem
para
a
promoção
da
actividade);
já
na
fundação
o
que
está
por
trás
é
um
património
de
afectação;
por
trás
das
sociedades,
é
a
empresa.
E
a
ideia
de
empresa,
já
não
é
associação
ou
património.
Desta
feita,
entende-‐se
como
«empresa»,
em
sentido
subjectivo,
o
estabelecimento
comercial.
Três
ideias:
(1)
organização
dos
meios
de
produção;
(2)
exploração
profissional;
(3)
actividade
económica.
São
ideias
próximas
da
distinção
entre
sociedade
comercial
e
sociedade
civil.
Esta
ideia
de
empresa
pode
ser
vista
como
um
objecto
de
um
negócio
jurídico,
mas
também
como
o
que
está
por
trás
da
sociedade
comercial.
P.e.,
foi
feito
um
contrato
com
aquela
empresa,
com
aquele
estabelecimento
comercial.
Nota:
podem
existir
sociedades
sem
empresa.
P.e.,
pode
existir
uma
sociedade
comercial,
mas
ainda
não
há
empresa.
Na
Madeira
há
um
paraíso
fiscal.
Todos
os
dias
os
advogados
criavam
sociedades
comerciais.
Aparece
um
investidor
chinês
que
quer
montar
uma
empresa
em
Portugal.
O
advogado
vendia
a
sociedade
comercial,
transferia
as
quotas,
e
o
chinês
é
que
iria
colocar
a
empresa
real,
a
organização
dos
meios
de
produção.
Cada
vez
acontece
menos,
em
consequência
da
constituição
da
empresa
na
hora.
Organização
Interna
da
Pessoa
Colectiva
–
tem
órgãos,
um
Conselho
de
Administração,
um
Conselho
Fiscal.
Ou
seja,
há
uma
distribuição
de
competências
ou
de
poderes
jurídicos
(de
direitos
e
deveres).
Para
PEDRO
CAETANO
NUNES,
o
poder
e
a
competência
são
sinónimos.
São
a
possibilidade
de
produzir
efeitos
jurídicos.
Existem
assim
várias
pessoas
e
entidades
individualizadas
e
idealizadas
com
competências,
deveres
e
direitos.
Mais
se
acrescenta
que,
no
interior
da
pessoa
colectiva
também
há
subjectividade
jurídica.
P.e.,
quando
se
diz
que
quem
tem
competência
para
o
acto
A
é
o
Conselho
Fiscal.
Não
precisam
de
estar
todos
os
membros.
A
organização
pode
ser
mais
simples
ou
mais
complexa.
Nas
sociedades
em
nome
colectivo
há
organização
muito
simples,
mas
este
tipo
de
sociedade
raramente
existe.
No
polo
oposto,
temos
as
sociedades
anónimas,
onde
o
poder
está
centrado
no
Conselho
de
Administração,
que
delega
na
Comissão
Executiva.
Os
poderes
podem
ser
internos
ou
externos,
designados,
noutra
terminologia
como
poderes
de
decisão
e
de
execução.
Os
internos
são
aqueles
que
se
repercutem
no
interior
da
organização.
Os
externos
são
aqueles
que
resultam
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
dos
actos
ou
negócios
jurídicos
com
terceiros
exteriores
à
organização.
A
competência
interna
é
essencialmente
decisória
enquanto
a
externa
é
executiva.
Não
é
uma
terminologia
completamente
perfeita,
uma
vez
que
nem
sempre
há
decisão
seguida
de
execução.
É
igualmente
impreciso
porque,
ao
nível
interno,
também
se
praticam
negócios
jurídicos,
entre
os
quais,
autorizações,
avocações,
instruções,
delegações,
entre
outros.
Não
são
é
negócios
com
terceiros.
Mediante
seja
interno
ou
externo,
as
regras
serão
diferentes;
quer
a
nível
da
competência
para
determinados
actos,
quer
pelo
tráfego
jurídico
que
visa
a
protecção
de
terceiros.
⇒ O
sinónimo
de
competência
externa
é
poder
de
representação;
da
interna
é
poder
de
gestão
ou
administração.
A
competência
interna,
frequentemente,
é
atribuída
a
órgãos
deliberativos
–
ou,
sinónimo,
colegiais
(o
Conselho
de
Administração,
a
Assembleia,
entre
outros).
Na
prática,
do
ponto
de
vista
da
patologia
jurídica,
quando
se
fala
numa
competência
interna
estamos
perante
o
problema
das
invalidades
das
deliberações.
Quando
falamos
da
externa
estamos
a
falar
da
vinculação
da
Sociedades
e
da
falta
de
poderes
de
vinculação.
Neste
contexto,
em
Direito
Administrativo,
mas
também
aqui,
é
feita
uma
classificação
tripartida:
(1) Actuação
deliberativa;
(2) Actuação
conjunta;
(3) Actuação
singular.
Na
primeira,
deliberativa
ou
colegial;
na
terceira,
singular
ou
disjunta.
As
sociedades
são
caracterizadas
pelo
Princípio
da
Suficiência
da
Maioria.
Em
contraponto
a
este
Princípio,
há
regras
de
protecção
dos
sócios
que
são
maioritários
[reter
o
princípio
e
os
limites
do
mesmo].
A
regra
é
que
quem
manda
é
quem
tem
mais
capital.
Tem
a
ver
com
a
natureza
associativa.
É
óbvio
que
não
se
aplica
às
Sociedades
que
têm
apenas
um
sócio.
As
regras
de
protecção
dos
sócios
minoritários
–
direito
de
exoneração,
de
sair
livremente
da
Sociedade.
Este
princípio
é
ainda
conhecido
como
Princípio
Democrático.
Nas
Sociedades
de
Capitais
temos
plutocracia
e
nas
sociedades
de
pessoas
temos
a
democracia.
Ou
seja,
nas
primeiras,
o
voto
é
atribuído
pela
participação
de
capitais;
na
segunda,
os
votos
são
atribuídos
por
pessoas.
Os
sócios
são
titulares
de
uma
pretensão
individual.
Os
credores
contratam
valores
certos,
são
definidos
de
início.
Em
contraponto,
os
accionistas
são
titulares
de
uma
pretensão
desigual,
na
medida
em
que
se
a
Sociedade
não
der
lucros,
não
recebem
nada;
mas
se
der
lucro,
recebem
muito.
Do
ponto
de
vista
da
análise
económica
utilitarista,
os
sócios
accionistas
têm
um
incentivo
para
fazerem
uma
boa
gestão,
por
via
a
receber
mais.
São
os
sócios,
os
accionistas
que
devem
ter
este
poder
de
gestão.
É
ainda
de
fazer
uma
distinção
estrutural:
posição
dos
sócios
e
a
posição
dos
outros
membros
da
organização.
Os
sócios
têm
a
posição
orgânica
originária;
e
os
outros,
posições
orgânicas
derivadas.
Os
sócios
têm
poderes
e
direitos.
O
seu
poder
de
voto
corresponde
a
um
direito.
Em
contraponto,
os
segundos,
têm
sempre
poderes-‐deveres.
Actuam
no
interesse
de
outrem.
Devem
exercer
todos
os
seus
poderes
no
interesse
de
outrem
(deveres).
Os
sócios
podem
fazer
tudo
com
o
limite
do
abuso
de
direito
ou
da
actuação
desleal.
Quanto
a
todos
os
outros,
surge
o
problema
dos
deveres
orgânicos
e
da
responsabilidade
orgânica.
São
deveres
orgânicos
da
posição
derivada.
É
neste
contexto
que
surgem
os
«custos
de
agência».
Na
mercearia,
todos
são
agentes.
Mas
nas
Sociedades
de
maiores
dimensões,
temos
separação
orgânica
entre
os
sócios
e
os
outros
membros.
Quem
vai
gerir
são
os
administradores
ou
os
gerentes
que,
muitas
vezes,
não
são
sócios.
Os
custos
de
agência
têm
a
ideia
de
que,
se
se
coloca
o
poder
de
gerir
na
mão
de
outro,
há
um
risco,
que
deriva
da
assimetria
de
interesses.
Um
gerente
ou
administrador
pode
ter
mais
interesse
em
si
do
que
nos
accionistas
(sócios).
Ou
seja,
actua
por
eles,
mas
nem
sempre
segundo
o
seu
interesse.
São
custos
de
agência:
(1) Custos
de
vinculação
–
o
que
os
sócios
têm
de
pagar,
i.e.,
remuneração
e
regalias
que
são
atribuídos
a
todos
os
que
têm
posição
derivada;
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
(2) Custos
de
controlo
–
gasto
de
tempo
e
dinheiro
para
controlo
dos
administradores
ou,
então,
têm
que
criar
um
Conselho
Fiscal
que
os
controle;
(3) Perdas
residuais
–
pode
correr
mal.
Há
uma
má
gestão
ou
uma
actuação
em
conflito
de
interesses,
i.e.,
de
forma
desleal.
Fazem
negócios
consigo
mesmo.
P.e.,
em
vez
de
comprar
ao
fornecedor,
compra
o
fornecedor
e
ficam
num
só
espaço,
por
via
a
ter
menos
custos
de
renda.
Há
ainda
uma
ideia
sobretudo
norte-‐americana
de
pessoa
colectiva
como
um
nexo
de
contratos.
Quem
manda
numa
sociedade
anónima
é
o
CEO
(o
Presidente
dos
Executivos).
Em
Portugal,
não
é
tão
comum.
Permite
chamar
à
atenção
da
predominância
do
órgão
de
gestão
nas
grandes
sociedades
comerciais,
bem
como
do
capital
próprio
(meios
financeiros
fornecidos
pelos
sócios)
e
externo
ou
alheio
(fornecidos
por
terceiros
–
p.e.,
empréstimos).
Autonomia
Patrimonial
–
todas
as
pessoas
têm
o
seu
património.
A
base
legal
é
a
do
art.
5º
do
CSC.
Nas
Sociedades
Civis
há
autonomia
patrimonial,
sendo
património
autónomo.
Nas
comerciais
há
autonomia
patrimonial
plena.
Nas
civis
temos
um
património
autónomo.
Responsabilidade
dos
Sócios
–
limitação
pelas
dívidas
sociais.
Esta
ideia
não
existe
nas
Sociedades
Civis,
sendo
que
nestas
os
sócios
respondem.
Se
a
Sociedade
tem
a
personalidade
jurídica,
com
o
seu
património,
só
o
seu
património
é
que
vai
responder
pelas
suas
dívidas.
Ex.:
se
A
resolver
ser
mercenário
e
for
um
comerciante
em
nome
individual,
no
caso
de
deixar
dividas,
vão
penhorar-‐lhe
a
casa
e
ele
não
terá
garantias.
Ex.:
se
constituir
sociedade
por
quotas
e
criar
dívidas,
já
não
podem
retirar
a
casa,
porque
não
há
uma
responsabilidade.
Só
o
património
da
sociedade
responde
pelas
suas
dívidas.
Três
ideias:
a. Externalização
do
risco
nos
credores
–
se
correr
mal,
o
investidor
perde
apenas
o
investimento.
Por
sua
vez,
os
credores
saem
mais
lesados,
que
não
recebem
o
preço;
b. Os
credores
podem
exigir
garantias
patrimoniais;
c. Mecanismos
que
permitam
limitar
a
externalização
do
risco
nos
credores.
Aqui
há
a
questão
do
capital
social;
as
contas
têm
de
ser
publicadas
e
auditadas
por
técnicos
oficiais
de
contas;
a
desconsideração
jurídica
(é
ideia
próxima
do
abuso
de
direito).
Protecção
dos
Credores.
Aula
de
21
de
fevereiro
de
2017
2. LOCALIZAÇÃO
DO
DIREITO
DAS
SOCIEDADES
NO
DIREITO
2.1. OS
VÁRIOS
TIPOS
DE
FONTES
NORMATIVAS
SOBRE
SOCIEDADES
2.1.1. FONTES
EUROPEIAS
Há
que
distinguir
as
fontes
europeias
das
fontes
internas.
Além
destas,
a
tendência
internacional
económica,
a
qual
inclina
para
um
a
certa
harmonização.
Assim:
(1)
Tratado
sobre
o
Funcionamento
da
União
Europeia;
(2)
Directivas
e
os
Regulamentos
–
muitas
Directivas
de
Coordenação
em
matéria
de
Direito
das
Sociedades
e
menos
Regulamentos.
Pouco
antes
de
se
designar
como
«União
Europeia»,
houve
a
percepção
que
para
a
criação
de
uma
unidade
económica
seria
necessária
alguma
coordenação
para
a
realização
de
transações
transfronteiriças
entre
os
agentes
económicos.
Ou
seja,
era
essencial
para
a
formulação
de
um
mercado
comum
[ex.:
regras
sobre
vinculação
das
sociedades
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
comerciais
–
quem
vincula,
se
são
os
gerentes
ou
os
administradores;
regras
de
contabilidade
organizadas
ao
longo
dos
EM
–
para
o
credor
conseguir
ter
uma
ideia
da
força
económica
do
parceiro
contratual;
regimes
cuja
harmonização
mínima
é
essencial
para
que
os
agentes
económicos
consigam
fazer
transações
económicas
com
segurança].
Esta
necessidade
de
harmonização
não
foi
feita
pelos
Regulamentos,
mas
pelas
Directivas
de
Coordenação.
Não
se
retirou,
aos
EM,
a
competência
para
legislar
nestas
matérias.
Pelo
contrário,
criaram-‐se
Directivas,
muitas
delas
transpostas
pela
generalidade
dos
EM.
O
CSC
transpôs
parte
dessas
Directivas
quando
Portugal
estava
a
preparar
a
sua
adesão
à
União
(todas
as
Directivas
anteriores
a
1985).
A
Jurisprudência
do
TJUE
é
também
uma
fonte
de
Direito
Europeu.
Existem
ainda
propostas
de
Directivas
(duas),
que
andaram
muito
tempo
em
discussão,
mas
que
não
chegaram
a
acordo
político
quanto
à
sua
finalização.
Em
todo
o
caso,
apesar
disso,
tiveram
grande
influência
no
Direito
Societário
dos
diversos
EM.
Ainda
que
não
correspondam
a
um
acordo
político
final,
correspondem,
em
parte,
a
uma
teoria
comunitária,
a
ideias
relativamente
consensuais.
Existem
ainda
tendências
para
a
criação
de
um
direito
totalmente
harmonizado
–
Código
de
Direito
Societário
Europeu
(é
um
modelo).
Desta
feita,
há
grupos
de
trabalho
e
académicos
europeus
que
se
reúnem
para
discutir
quais
as
soluções
futuras
do
Direito
das
Sociedades
ao
nível
europeu.
2.1.2. FONTES
INTERNAS
O
nosso
Código
tem
uma
estrutura
de
tipo
germânico,
no
sentido
em
que
tem
uma
parte
geral
que
se
aplica
a
todos
os
tipos
de
Sociedades
Comerciais
e
uma
parte
especial
para
cada
um
desses
tipos.
No
fim,
há
ainda
um
regime
de
grupos
de
sociedades
e
de
disposições
penais
e
transitórias.
A
parte
geral
tem
regras
sobre
âmbito
de
aplicação
(no
espaço
–
Direito
Internacional
Privado);
regras
sobre
o
contrato
de
sociedade;
sobre
os
estatutos;
sobre
direitos
e
deveres
dos
sócios;
problemas
de
invalidade
do
contrato;
das
deliberações;
sobre
administração
e
fiscalização
das
sociedades;
aprovação
de
contas;
responsabilidade;
alterações
dos
contratos;
fusão
de
sociedades
(negócios
de
reestruturação
da
Sociedade);
publicidade;
fiscalização
pelo
MP.
Este
código
sofreu
múltiplas
alterações,
sendo
que
a
mais
importante
ocorreu
em
2006
(a
Grande
Reforma
dos
Códigos
Comerciais).
Teve
uma
tendência
de
desformalização.
O
Código
dos
Valores
Mobiliários
determina
o
regime
das
Sociedades
Anónimas
Abertas.
Dentro
destas,
há
os
subtipos,
designadamente,
as
cotadas.
As
regras
especiais
sobre
este
subtipo
não
se
encontram
no
CSC,
mas
dos
VM.
É
algo
que
não
tem
muita
lógica,
mas
foi
assim
que
foi
possível.
Relava
ainda
o
Código
de
Insolvência
e
de
Recuperação
de
Empresa.
Regula
problemas
das
crises
financeiras
das
Sociedades
Comerciais
(aplicando-‐se
ainda
a
outras
empresas
que
não
assumam
a
forma
de
Sociedade
Comercial).
É
um
regime
que
protege
os
credores,
impondo
deveres
especiais
aos
administradores
no
contexto
da
insolvência
ou
da
sua
proximidade.
Em
rigor,
tem
regras
substantivas
que
respeitam
ao
Direito
das
Sociedades.
O
Registo
Nacional
de
Pessoas
Colectivas
é
de
igual
importância
a
nível
interno.
Esta
é
a
principal
legislação
interna,
mas
a
par
desta,
temos
ainda
muita
legislação
avulsa,
designadamente:
(1)
Regime
Geral
das
Instituições
de
Créditos
–
Bancos
[regras
especiais
que
se
acrescentam
às
regras
gerais
das
Sociedades
Anónimas];
(2)
Regime
Especial
das
Sociedades
Gestoras
de
Participações
Sociais
[Holdings]
–
ex.:
Luís
Simões.
Fora
de
Códigos
existem
ainda
regimes
especiais
avulsos
para
a
constituição
de
Sociedades
Comerciais.
I.e.,
há
um
regime
de
constituição
imediato
e
outro
online.
Além
disso,
releva
a
Jurisprudência,
quer
dos
Tribunais
Comuns,
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
quer
do
Tribunal
Constitucional.
A
nível
de
soft
law,
temos
as
recomendações
da
Comissão
dos
Mercados
Mobiliários
(CMVM).
Não
é
direito
vigente,
mas
que
tem
enorme
relevo,
por
se
tratarem
de
recomendações
do
regulador.
Há
ainda
códigos
de
conduta,
designadamente,
do
Instituto
Português
de
Corporate
Governance.
Contexto
de
Aldeia
Global:
há
cada
vez
mais
Comércio
Internacional
que
provoca
uma
concorrência
de
OJ.
P.e.,
se
é
difícil
criar
uma
empresa
em
Portugal,
o
investidor
pode
optar
por
investir
noutro
Estado.
Esta
concorrência
poderá
determinar
o
esbatimento
do
regionalismo
e
a
tendência
para
harmonização.
Mas
esta
deslocalização
tem
limites.
Há
a
concorrência
efectiva
de
Ordens
Jurídicas.
Há
soft
law
ou
mesmo
Códigos
nos
países
mais
desenvolvidos
(EUA,
Inglaterra,
Alemanha)
que
influencia
o
que
se
passa
nos
outros
quadrantes
do
planeta.
Nos
EUA,
de
enorme
relevância
em
soft
law:
a. Model
Business
Corporation
Act
(1984);
b. Principles
of
Corporate
Governance
(1992).
Em
Inglaterra
foi
aprovado,
em
2006,
um
novo
Código
das
Sociedades
Comerciais.
Na
Alemanha,
existe
uma
lei,
um
Código
de
1965,
com
grande
influência
na
legislação
nacional;
e
um
Código
de
Sociedades
por
Quotas
(de
1962).
Têm
soluções
que,
apesar
de
não
serem
tão
modernas
como
as
dos
dois
primeiros
países,
são
muito
importantes.
2.2. ENQUADRAMENTO
HISTÓRICO
Societas
Romana
–
contrato
de
Sociedade
Romano:
(1)
tinha
efeito
meramente
internos,
não
tendo
externos
perante
os
terceiros.
Regulava
apenas
as
relações
internas
entre
os
sócios,
pelo
que
não
tinha
personalidade
judiciária,
e
também
não
constituía
património
autónomo;
(2)
fraca
relevância
social,
tendo
sido
pouco
utilizada.
Séc.
XII,
Norte
de
Itália:
dois
tipos
de
sociedades,
sendo
que
um
dos
quais
está
na
origem
das
sociedades
em
comandita
e
o
outro,
das
sociedades
em
nome
colectivo.
A
primeira
[Commenda
–
Societas
Maris
–
Collegantia],
temos
dois
sócios,
um
que
trabalha
efectivamente
e
outro
que
apenas
investe.
Há
um
empresário
efectivo
e
um
mero
investidos.
Está
na
origem
das
Sociedades
em
Comandita.
Na
segunda
[Compagnia
–
Societas
Mercantoron],
temos
um
conjunto
de
pessoas
que
são
empresárias
activas.
I.e.,
todos
são
empresários.
Companhias
Privilegiadas:
a
primeira
conhecida
foi
a
Companhia
Holandesa
das
Índias
Orientais
[VOC,
1602].
São
o
ponto
de
partida
para
as
Sociedades
Anónimas.
Tinha
como
características:
(1)
o
capital
social
era
representado
por
fracções
de
capital,
em
que
centenas
ou
milhares
de
pequenos
investidores
compravam
fracções
de
capital,
representadas
por
títulos,
os
quais
transmissíveis
a
terceiros
[actuais
acções].
A
responsabilidade
dos
sócios
pelas
dívidas
da
sociedade
não
existe;
há
uma
limitação
da
responsabilidade
dos
sócios
nas
dívidas
sociais.
É
a
regra
de
ouro
do
capitalismo
moderno.
Estas
características
ainda
se
verificam
nas
Sociedades
Anónimas.
Em
contraponto,
nas
sociedades
supra
indicadas,
já
era
possível
que
respondesse
o
património
pessoal.
Em
Portugal,
historicamente,
houve
sempre
mais
Estado
que
actividade
económica.
Nunca
existiu
um
conjunto
de
burgueses
ricos
o
suficiente
para
investir.
As
companhias
privilegiadas
portuguesas
foram
poucas
e
a
época
dos
descobrimentos
foi
uma
excepção,
onde
o
investimento
foi
feito
pelo
Estado.
Aspectos
Comuns
dos
Tipos
de
Sociedade:
a. Codificação
Liberal
–
inicia-‐se
com
o
Código
Napoleónico
de
1807,
marco
histórico
no
desenvolvimento
das
SC.
É
a
primeira
grande
codificação.
Em
Portugal,
surge
em
1833,
com
o
Código
Comercial
de
Ferreira
Borges.
Em
1888,
Veiga
Beirão
fez
um
novo
código.
As
Sociedades
por
Quotas
surgem,
em
primeiro
lugar,
na
Alemanha
(1892).
Em
Portugal,
surgem
em
1901,
com
a
Lei
da
Sociedade
por
Quotas.
A
ideia
dos
alemães:
produto
de
engenharia
jurídica.
Não
surgiram
por
tradição,
i.e.,
pela
prática
consuetudinária.
Foram
uma
criação
legislativa
oferecida
aos
agentes
económicos.
A
ideia
dos
alemães
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
foi
a
de
oferecer
a
regra
de
limitação
da
responsabilidade
dos
sócios
pensada
para
os
grandes
projectos
empresariais
(ou
seja,
para
as
Sociedades
Anónimas)
também
aos
pequenos
projectos,
as
pequenas
mercearias.
Dados
de
Aprofundamento:
• 1844,
Inglaterra
–
passagem
de
um
sistema
de
concessão
para
um
sistema
de
liberdade
de
constituição.
Esta
foi
operada
em
Portugal
em
22
de
junho
1867
(Lei).
Estas
grandes
empresas
só
podiam
ser
constituídas
com
uma
autorização
do
Estado,
do
poder
político,
do
Rei.
Os
ingleses
acabaram
com
esta
autorização
prévia,
o
que
veio
provocar
um
maior
desenvolvimento
da
economia,
sendo
que
já
se
podiam
criar
grandes
empresas,
agora
sem
a
autorização
prévia
(progressos
ao
nível
legislativo).
Dispersão
Crescente
do
Capital:
A
grande
marca
genérica
é
a
VOC,
onde
já
havia
um
número
elevado
de
sócios.
É
aqui
que
começa
a
surgir
uma
distinção
entre
sociedades
anónimas
abertas
e
fechadas.
Com
o
passar
do
tempo,
começaram
a
surgir
regras
legais
com
maior
especificidade.
Em
todo
o
caso,
se
olharmos
de
forma
ampla
para
a
evolução
das
economias,
podemos
observar
que
as
sociedades
anónimas
abertas
são
cada
vez
maiores,
há
uma
maior
dispersão
do
capital.
O
grande
paradigma
são
os
EUA,
numa
forma
que
não
tem
paralelo
entre
nós.
Em
sequência
da
crescente
dispersão
das
acções,
surge
a
teorização
norte-‐americana
sobre
a
separação
entre
propriedade
e
controlo.
BERLE
e
MEANS
demonstraram
que
as
Sociedades
norte-‐americanas
eram
bombas
de
capital
que
levavam
a
uma
separação
entre
a
propriedade
corporativa
(titularidade
das
acções)
e
o
controlo
da
gestão.
Ou
seja,
não
havia
sócios
que
controlassem
a
Sociedade.
A
dispersão
de
capital
era
tanta
que
não
havia,
por
parte
dos
titulares
das
acções,
um
verdadeiro
controlo
sobre
a
Administração.
Esta
ideia
surge
não
apenas
nos
EUA,
mas
também
numa
Lei
das
Sociedades
por
Acções
Alemã
de
1937.
Estes
grandes
projectos
tinham
de
ser
geridos
por
Administradores
com
grande
concentração
de
poderes.
Nas
Sociedades
Anónimas
vincula
a
ideia
de
que
o
poder
deve
estar
centrado
no
Conselho
de
Administração
e
não
da
Assembleia
Geral.
Esta
ideia
de
concentração
no
Conselho
de
Administração
(e
não
nos
sócios),
com
poderes
próprios
face
aos
sócios,
surge
num
momento
imediatamente
anterior
à
II
GM.
Os
trabalhos
preparatórios
desta
lei
de
1937
foram
aprovados
pelo
Partido
Socialista,
em
que
o
legislador
alemão
escreveu,
inclusivamente,
contra
a
democracia.
Mas
passada
a
II
GM,
manteve-‐se
este
princípio,
tendo
até
sido
implementada
noutros
Estados.
Não
é
um
problema
de
contrariedade
à
democracia;
mas
sim
o
problema
da
necessidade
da
concentração
dos
poderes
para
uma
boa
gestão
das
Sociedades
Anónimas.
Na
origem
da
discussão
internacional
está
esta
separação
entre
ownership
and
control.
Depois
surge
a
ideia
dos
custos
de
agência.
O
poder
está
nas
mãos
dos
gestores,
mas
há
custos
de
agência.
Os
gestores
podem
actuar
extraindo
rendas;
apropriando-‐se
de
bens
da
Sociedade;
apoderando-‐se
de
conflitos
de
interesses;
ou
fazendo
uma
má
gestão.
Nessa
sequência
surge
a
ideia
de
separação
entre
gestão
e
controlo.
É
a
ideia
de
criação
de
uma
estrutura
de
Governo
dualista:
como
reacção,
há
separação
entre
gestores
e
os
controladores
ou
fiscalizadores.
Se
os
accionistas
não
podem
liderar,
devem
construir
uma
estrutura
de
contrapoder.
A
expressão
separation
between
management
and
control
é
uma
terminologia
dos
anos
70.
Este
contexto
não
deve
ser
confundido
com
o
de
ownership
and
control.
A
teorização
surge
nos
70,
mas
a
ideia
surge
150
anos
antes.
Nesta
primeira
distinção,
falamos
na
separação
dos
dois
órgãos;
enquanto
na
segunda,
falamos
na
égide
da
fiscalização.
Em
Portugal,
surgiu
em
1867,
um
Conselho
Fiscal.
O
legislador
criou,
à
semelhança
da
preocupação
que
existia
noutros
quadrantes,
um
órgão
de
controlo.
Contudo,
não
funcionava
da
forma
mais
adequada.
A
Directiva
de
Coordenação
de
1989
traz
a
novidade
das
Sociedades
por
Quotas
Unipessoais.
Tradicionalmente,
a
Sociedade
é
vista
como
um
contrato.
Contudo,
é
possível,
actualmente,
criar
Sociedades
por
NJ
unilateral,
por
força
da
presente
figura.
A
ratio
legis
por
trás
desta
ideia
–
regra
de
ouro
do
capitalismo.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
2.3. RELEVÂNCIA
DO
DIREITO
DA
UNIÃO
EUROPEIA
O
estabelecimento
do
Mercado
Comum
(EU)
impõe
a
proximidade
das
legislações
(segurança
jurídica
nas
transações
económicas).
Dentro
desta
perspectiva,
diminuição
dos
custos
de
transação.
Desta
forma,
relevam:
Art.
49º,
TFUE
–
da
liberdade
de
estabelecimento
das
empresas
–
princípio
que
norteia
o
Direito
Societário
Europeu;
Art.
52º/2,
alínea
g),
TFUE
–
das
garantias
de
protecção
de
forma
harmonizada
nos
demais
EM;
Art.
54º,
TFUE
–
do
princípio
da
equiparação
–
as
sociedades
constituídas
num
EM
equiparam-‐se
às
pessoas
singulares;
Art.
55º,
TFUE
–
igualdade
de
tratamento
dos
titulares
de
capitais
–
não
pode
haver
protecção
dos
nacionais.
Directivas
de
Coordenação:
i. Directiva
de
1968,
sobre
Publicidade,
Vinculação
e
Nulidade
das
Sociedades
–
como
se
constitui
e
como
é
que
uma
Sociedade
pode
ser
nula.
A
matéria
mais
importante
reporta-‐se
à
forma
como
se
vinculam.
P.e.,
o
número
de
assinaturas
necessárias.
É
uma
matéria
essencial
para
determinar
os
custos
de
transação;
ii. Directiva
de
1977,
sobre
a
Constituição
de
Sociedades
Anónimas
e
Conservação
do
Capital
Social;
iii. Directiva
de
1978,
sobre
Fusão
de
Sociedades
Anónimas;
iv. Directiva
de
1978,
sobre
Prestação
de
Contas;
v. Directiva
de
1982,
sobre
Cisões
(Divisão
da
Sociedade);
2
vi. Directiva
de
1983,
sobre
Contas
Consolidadas
de
Grupos
de
Sociedades ;
vii. Directiva
de
1984,
sobre
Fiscalização
da
Contabilidade;
viii. Directiva
de
2005,
sobre
Fusões
Transfronteiriças
de
Sociedades
Anónimas;
ix. Directiva
de
2009,
sobre
Publicidade
das
Sucursais;
x. Directiva
de
1989,
sobre
as
Sociedades
Unipessoais;
xi. Directiva
de
2004,
sobre
Ofertas
Públicas
de
Aquisição;
xii. Directiva
de
2007,
sobre
os
Direitos
dos
Accionistas
das
Sociedades
Cotadas
Houve
ainda
duas
Directivas
que
não
chegaram
a
ser
concretizadas,
tendo
ficado
apenas
pelas
propostas.
Regulamentos:
i. Agrupamento
Europeu
de
Interesse
Económico
(1985)
–
mecanismo
de
cooperação
entre
empresas.
P.e.,
junta-‐se
uma
empresa
espanhola,
portuguesa
e
francesa
para
concorrer
uma
obra
(empreitada);
ii. Societas
Europea
(2001)
–
sociedade
anónima
de
passaporte
europeu.
É
constituída
num
Em,
mas
fica
com
cidadania
europeia.
Não
tem
grande
relevância
social;
iii. Sociedade
Cooperativa
Europeia
(2003)
–
sem
finalidade
lucrativa;
iv.
Normas
Internacionais
de
Contabilidade
(2002
e
2008)
–
dos
mais
importantes.
Há
ainda
um
Regulamento
em
discussão.
São
ainda
de
referir
dois
pontos
quanto
ao
Direito
Societário
Europeu.
[Nos
EUA,
Estado
Federal,
a
matéria
das
Sociedades
Comerciais
é
deixada
aos
Estados
Federados,
por
via
a
ver
qual
deles
tem
mais
empresas.
ganhou
o
Estado
de
Delaware,
onde
estão
sediadas
a
maior
parte
das
empresas
mundiais.
Conseguiu
ganhar,
pois
tem
regras
apelativas,
as
quais
conseguidas
através
da
desrregularização.
Tinham
menos
restrições
ao
poder
pela
protecção
dos
credores].
2
Cada
Sociedade
tem
uma
obrigação
individual
de
prestação
de
contas.
Porém,
além
desta,
há
ainda
uma
obrigação
de
prestação
de
contas
à
Sociedade
“mãe”.
É
uma
prestação
que
visa
saber
a
forma
como
é
feita
a
gestão
e
a
protecção
dos
credores.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
segundo
ponto
–
Propostas
de
Directivas
(5º
e
9º):
a
5º
era
sobre
estrutura
orgânica,
o
dualismo
entre
gestão
e
controlo.
«Naufragou»
em
consequência
da
cogestão,
i.e.,
a
participação
dos
trabalhadores
nos
órgãos
da
Sociedade.
Por
força
da
luta
de
classes,
além
das
comissões
de
trabalhadores,
os
trabalhadores
passaram
a
ganhar
a
participação
nos
próprios
órgãos
da
sociedade,
apesar
de
não
serem
sócios.
Atenuava-‐se
a
luta
de
classes
e
faziam-‐se
com
que
todos
trabalhassem
na
mesma
direcção
(alinhamento
de
interesses).
A
9º
Directiva
tataria
do
regime
dos
grupos
de
sociedades.
É
um
regime
algo
bipolar.
Quando
há
uma
relação
de
grupo,
em
sentido
restrito,
um
domínio
total
ou
pelo
menos
de
90%
(da
«mãe»
em
relação
à
«filha»)
há
regras
exigentes.
Quando
isto
não
existe,
o
regime
é
fraco.
São
regras
de
responsabilidade
da
«mãe»
pelas
dívidas
da
«filha».
Se
a
última
deixar
de
pagar
aos
credores,
a
primeira
tem
de
suportar.
Vão
contra
a
regra
de
ouro
do
capitalismo
moderno,
pelo
que
foi
esse
o
motivo
pelo
qual
a
Directiva
não
se
efectivou.
A
tendência
é
abdicar
deste
regime
rígido
e
assumir,
na
plenitude,
a
regra
de
ouro
do
capitalismo.
Aula
de
24
de
fevereiro
de
2017
3. TIPOS
DE
SOCIEDADES
COMERCIAIS
Dentro
das
Sociedades
Comerciais
falaremos
ainda
das
Sociedades
em
Nome
Colectivo
e
em
Comandita.
A
primeira
parte
do
estudo
será
mais
teórica
e
metodológica
(tipicidade
e
a
noção
de
tipo).
Na
sequência
destas
teorizações,
vamos
olhar
para
os
diversos
tipos
de
acordo
com
critérios
centrais.
3.1. PRINCÍPIO
DA
TIPICIDADE
DAS
PESSOAS
COLECTIVAS
3.1.1. O
NUMERUS
CLAUSUS
DAS
PESSOAS
COLECTIVAS
O
Princípio
da
Tipicidade
das
Pessoas
Colectivas
–
numerus
clausus,
i.e.,
existe
um
elenco
taxativo
de
pessoas
colectivas.
Só
podem
ser
constituídas
as
pessoas
colectivas
consagradas
na
lei.
Todas
as
entidades
que,
por
analogia
aos
demais
seres
humanos,
são
dotadas
de
personalidade.
• Na
prática,
traduz-‐se
na
impossibilidade
de
constituir
pessoas
colectivas
atípicas,
i.e.,
que
não
correspondem
ao
tipo
legal.
O
que
incluiu
a
impossibilidade
de
constituir
pessoas
colectivas
mistas.
Estas
figuras
mistas
são
ainda
figuras
atípicas
(relativas).
Deve
relacionar-‐se
este
aspecto
com
o
art.
405º
do
CC
(liberdade
contratual).
O
art.
405º/2
estabelece
a
possibilidade
de
figuras
mistas,
sendo
que
existem
excepções,
designadamente
esta.
Há
a
limitação
ao
disposto
no
art.
405º
no
que
respeita
aos
negócios
jurídicos
constitutivos
de
pessoas
colectivas
(o
mesmo
se
passava
nos
negócios
transmissivos
de
direitos
reais
–
que
são
também
elenco
fechado).
Trata-‐se
da
protecção,
da
segurança,
dos
interesses
de
terceiros.
É
isso
que
justifica
a
limitação
à
autonomia
privada.
Aqui,
os
terceiros
são
os
credores
das
pessoas
colectivas;
qualquer
terceiro
que
negoceie
com
esta.
Em
relação
a
determinadas
pessoas
colectivas
que
têm
muitos
sócios
e
associados,
este
elenco
fechado,
este
Pp
da
Tipicidade
serve
também
para
proteger
o
conjunto
de
pequenos
associados
(particularmente
evidente
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
para
as
sociedades
abertas
–
protege
credores,
terceiros,
pequenos
investidores,
sócios).
Não
se
trata
do
«animal»
que
prejudica
os
mais
pequenos.
3.2. CONTRAPOSIÇÃO
ENTRE
TIPO
E
CONCEITO
A
palavra
tipo,
neste
âmbito
de
contraposição,
difere
do
princípio
da
tipicidade.
Esta
noção
de
tipo
é
contraposta
na
filosofia
do
direito
à
noção
de
conceito.
Para
alguns
filósofos
do
direito,
as
leis
e
os
textos
dos
juristas,
nem
sempre
utilizariam
conceitos,
mas
tipos
–
distintos
dos
conceitos.
Havia
ainda
a
ideia
de
subsumir
os
factos
da
vida
a
conceitos.
Mas
surge
a
ideia
de
que
deve
prevalecer
a
hermenêutica
no
lugar
desta
subsunção.
Aplicavam-‐se
os
conceitos
abstractos
da
lei
a
realidade
concretas.
Há
quem
diga
que,
por
vezes,
a
lei
não
estabelecia
conceitos
com
fronteiras
definidas,
mas
sim
fronteiras
mais
vagas,
mais
difusas.
Nesse
caso,
não
seria
conceito,
mas
tipo.
A
ideia
destes
filósofos:
de
acordo
com
o
legalismo
e
o
método
da
subsunção
jurídica,
em
que
se
tinha
de
ver
se
por
cabia
na
letra
da
lei,
tínhamos
um
sistema
rígido.
Desta
forma,
criou-‐se
a
ideia
do
«tipo»
enquanto
meio
de
fronteiras
difusas,
fluídas.
Ou
seja,
a
aplicação
do
direito
seria
tendencialmente
mais
justa,
na
medida
em
que
se
não
houvesse
uma
subsunção,
não
era
incluído
na
lei.
Contudo,
esta
solução
também
não
é
a
mais
adequada.
O
cérebro
humano
trabalha
com
conceito,
os
quais
são
mais
rígidos
ou
mais
fluídos.
O
conceito
de
maioridade,
p.e.,
é
rígido.
Não
existe
o
conceito
e
o
tipo.
Existem
é
conceitos
mais
fechados
e
mais
abertos
(mais
tipológicos).
Por
vezes,
os
conceitos
dos
diversos
tipos
de
contrato
são
fluídos,
daí
que
se
fala
no
«tipo
da
compra
e
venda»;
no
«tipo
de
mandato».
Por
baixo
destes
conceitos
cabem
realidades
que
serão
mais
difusas.
Dentro
do
chapéu
da
lei
cabem
realidade
sociológicas
distintas.
Há
um
elenco
fechado
de
sociedades
comerciais,
mas
quando
falamos
em
«tipo
de
sociedades»,
apesar
desse
elenco,
é
essencial
ter
em
mente
que
dentro
destes
conceitos
podem
haver
realidades
difusas.
[O
tipo
legal
de
contrato
mais
fluído
de
todos
é
o
contrato
de
jogo.
Tem
as
fronteiras
mais
fluídas
e
não
é
apenas
tema
esotérico.
Há
legislação
penal
e
administrativa.
É
um
contrato
relevante,
sendo
proibido
em
certas
circunstâncias,
sendo
que
saber
quando
é
ou
não
proibição,
é
um
conceito
difícil].
O
art.
9º
do
CSC
elenca
os
elementos
obrigatórios
de
um
contrato
de
sociedade
(dos
Estatutos).
O
número
3
tem
relevância.
Em
termos
de
tipicidade,
e
de
liberdade
de
estipulação
contratual,
é
essencial
referir
o
art.
9º/3.
A
primeira
ideia
é
que
as
normas
imperativas
–
injuntivas
–
da
lei
não
podem
ser
derrogadas,
ou
seja,
não
podem
ser
afastadas
pelo
contrato
de
sociedade.
A
segunda
ideia
é
a
de
que
as
normas
supletivas
podem
ser
afastadas
pelos
Estatutos.
A
terceira
ideia
é
a
de
que
se
os
Estatutos
permitirem,
as
normas
supletivas
da
lei
podem
ser
derrogadas
por
deliberações
dos
seus
sócios
(o
contrato
de
sociedade,
os
Estatutos,
cláusulas
que
perduram
ao
longo
da
vida
da
sociedade,
podem,
através
da
deliberação
dos
sócios
com
maioria
reforçada,
ser
alterados
–
ao
contrário
de
todos
os
outros
contratos
que
só
podem
ser
alterados
pelas
partes
se
todos
estiverem
de
acordo
–
aqui
não
é
necessária
unanimidade,
mas
maioria
reforçada.
É
isto
que
reforça
a
distinção
entre
negócio
jurídico
institutivo
e
Estatutos).
1. Normas
injuntivas
não
podem
ser
contrariadas;
2. Estatutos
podem
ser
alterados
por
deliberações
com
maioria
reforçada;
3. As
normas
supletivas
podem
ser
derrogadas
por
deliberações
sem
quórum
reforçado
(maioria
reforçada).
É
da
interpretação
dos
diversos
artigos
do
CSC
e
de
outra
legislação,
nomeadamente,
do
CVM,
que
se
retiram
as
regras
preceituadas.
3.3. CARACTERIZAÇÃO
DOS
DIFERENTES
TIPOS
DE
SOCIEDADES
COMERCIAIS
3.3.1. CONSIDERAÇÕES
SOBRE
OS
CRITÉRIOS
DE
CARACTERIZAÇÃO
Os
critérios
de
distinção
são
essencialmente
três:
(1) Responsabilidade
dos
Sócios
pelas
Dívidas
Sociais;
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
3.3.1.2. MODOS
DE
REPRESENTAÇÃO
E
TRANSMISSÃO
DAS
PARTICIPAÇÕES
SOCIAIS
(2) Nas
sociedades
em
nome
colectivo,
as
participações
sociais
chamam-‐se
«partes»
(art.
182º).
A
segunda
ideia
é
a
de
que
estas
participações
sociais
podem
ser
integradas
ou
constituídas
em
bens
ou
serviços.
Não
tem
que
ser
correspondente
a
bens
em
espécie
ou
dinheiro
(art.
176º).
É
necessário
o
expresso
consentimento
dos
sócios
para
que
se
possam
transmitir
participações.
É
uma
sociedade
extremamente
gregária,
i.e.,
um
negócio
entre
pessoas
que
ficam
presas
umas
às
outras
(de
confiança).
Sempre
que
há
entraves
legais
para
a
transmissão
de
bens,
esses
bens
passam
a
ter
menos
valor.
Ou
seja,
se
não
se
pode
transmitir
pela
falta
do
consentimento,
«ao
fim
do
dia»,
aquele
bem
perdeu
o
valor.
Nas
sociedades
por
quotas,
as
participações
sociais
chamam-‐se
«quotas»
(art.
202º).
Só
se
admitem
bens,
i.e.,
já
não
são
admitidos
serviços.
Podem
haver
contribuições
acessórias
em
serviços;
mas
a
contribuição
principal
tem
de
ser
sempre
com
bens.
Quando
há
transmissão,
há
a
regra
supletiva
de
que
tem
de
haver
consentimento
pela
Sociedade
(versus
sócios)
–
dado
através
de
deliberação
social
sujeita
a
maioria.
Não
é
unanime,
mas
antes
da
maioria
dos
sócios
através
da
maioria.
Há
a
excepção
da
transmissão
para
familiares.
É
um
regime
supletivo,
sendo
que
há
uma
grande
margem
de
estipulação
(arts.
228º
e
229º).
Esta
liberdade
de
estipulação
poderá
ser
feita
em
várias
direcções:
aproximando
a
sociedade
por
quotas
à
sociedade
em
nome
colectivo,
exigindo
uma
maioria
reforçada
ou
unanimidade;
ou
da
maior
liberdade
de
transmissão,
ao
ponto
de
não
estabelecer
qualquer
limite
à
transmissão,
adoptando
o
regime
de
transmissão,
neste
caso,
mais
flexível.
Ou
seja,
pode
ser
gregária
ou,
no
polo
oposto,
extremamente
flexível.
O
art.
119º/7
estabelece
que
não
podem
ser
emitidos
títulos
–
estes
são
representativos
dos
direitos,
tais
como
as
acções.
Quando
as
acções
são
em
papel,
bastava
passar
o
papel
a
outra
pessoa.
A
transmissão
é
fácil
e
rápida.
Neste
tipo
de
sociedade,
isto
não
é
possível.
Nas
sociedades
anónimas,
as
participações
sociais
chamam-‐se
«acções»
(art.
276º,
278º
e
328º).
A
regra
é
de
que
não
há
qualquer
limite
à
transmissibilidade.
Há,
contudo,
possibilidade
de
limitações
estatutárias.
Temos
uma
regra
base
supletiva
-‐
transmissibilidade:
não
há
qualquer
limite.
Mas
podem
haver
limitações
estatutárias
(art.
328º/2):
com
consentimento
da
sociedade,
(alínea
a)),
direito
de
preferência
(alínea
b)).
Quanto
à
forma
e
aos
mecanismos
de
transmissão
releva
o
CVM
(art.
1º,
arts.
80º
e
ss,
arts.
95º
e
ss).
No
que
respeita
à
transmissão
temos
de
recorrer
a
este
código,
porque
é
aqui
que
está
a
maioria
dos
regimes
(arts.
80
º
e
ss):
temos
de
conjugar
os
dois
códigos.
Nas
sociedades
em
comandita,
as
participações
sociais
variam
(art.
465º),
consoante
sejam
sociedades
simples
ou
por
acções.
Quanto
aos
sócios
comanditados,
a
designação
é
sempre
«partes»
(art.
469º).
A
contribuição
é
feita
em
bens
ou
serviços.
A
transmissão
está
sujeita
a
consentimento
da
sociedade
através
de
deliberação
salvo
estipulação
diversa
(art.
472º):
ou
seja,
nos
estatutos.
Assim,
o
regime
supletivo
é
o
da
deliberação
social.
Quanto
aos
sócios
comanditários
(474º)
a
participação
é
feita
em
bens
–
são
investidores.
Na
transmissão,
há
a
remissão
para
o
regime
da
sociedade
por
quotas
(art.
475º).
Quando
é
comandita
por
acções,
há
remissão
para
o
regime
das
sociedades
anónimas
(art.
478º).
3.3.1.3. ESTRUTURA
ORGÂNICA
(3) Nas
sociedades
em
nome
colectivo,
a
estrutura
orgânica
é
muito
simples,
incipiente
(art.
191º).
Salvo
estipulação
em
sentido
contrário,
todos
os
sócios
são
gerentes.
Assim,
não
existe
uma
distinção
entre
sócios
e
gerentes,
a
qual
apenas
existe
formalmente,
na
medida
em
que
na
prática
são
as
mesmas
pessoas.
Cada
voto
é
atribuído
por
cabeça,
por
pessoa,
a
cada
sócio
(democracia
–
art.
190º).
Não
há
um
órgão
de
fiscalização,
de
controlo,
de
contrapoder.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Nas
sociedades
por
quotas,
os
gerentes
podem
ser
sócios
ou
não.
Podem
ser
escolhidos
estranhos
à
sociedade,
sendo
que,
frequentemente,
são
escolhidos
de
entre
os
sócios
–
sócio
gerente
-‐,
mas
pode
acontecer
que
não
seja
um
sócio
(art.
252º).
Faz
com
que
o
tipo
da
sociedade
por
quotas
seja
mais
elástico.
Em
rigor
terminológico,
a
nível
do
voto,
temos
plutocracia
–
voto
em
função
do
dinheiro.
Decide
quem
investiu
mais.
Os
cidadãos,
aqui,
não
são
iguais.
Tem
mais
voto,
mais
peso,
quem
investiu
mais.
Aqueles
que
investiram
mais
têm
mais
incentivos
a
gerir
melhor
(lógica
do
capitalismo
e
da
análise
económica).
Os
gerentes,
de
acordo
com
a
art.
259º,
devem
actuar
com
respeito
às
deliberações
dos
sócios
–
ou
seja,
os
sócios
podem
dar
ordens
aos
gerentes.
É
um
traço
marcante
da
estrutura
orgânica
das
sociedades
por
quotas
em
comparação
com
as
sociedades
anónimas.
Além
disso,
por
regra,
não
há
órgão
de
controlo,
mas,
nos
termos
do
art.
262º,
é
possível
existir,
se
este
for
previsto
nos
Estatutos.
Será
mais
complexa
se
tiver
um
órgão
de
controlo
de
fiscalização.
Um
órgão
de
gestão
nunca
tem
autonomia
face
aos
sócios.
Nas
sociedades
anónimas
(art.
390º/3),
aqui
fala-‐se
em
administradores,
sendo
que
correspondem
aos
gerentes,
é
um
termo
mais
amplo.
É
muito
frequente
que
os
administradores
não
sejam
os
sócios,
na
medida
em
que
nas
sociedades
anónimas
a
ideia
é
a
de
gestão
distinta.
Quem
está
a
gerir
não
está
lá
por
ser
sócio.
A
gestão
é
antes
profissional,
sendo
os
sócios
investidores
e
não
empresários.
Mas
há
clivagens:
se
houver
grande
capital,
há
uma
grande
diferenciação
entre
o
gestor
e
os
sócios;
se
for
fechada,
mas
gregária,
é
possível
que
o
administrador
já
seja
o
sócio
maioritário.
O
art.
384º
determina
que
a
cada
acção
corresponde
um
voto
(plutocracia).
De
acordo
com
o
art.
373º
e
da
interpretação
da
maioria
da
Doutrina,
não
são
possíveis
instruções
dirigidas
pelos
sócios
aos
administradores.
ENGRÁCIA
ANTUNES
e
PEDRO
CAETANO
NUNES
entendem
que
os
administradores
detêm
uma
iniciativa
exclusiva
de
gestão.
Há
sempre
um
órgão
de
controlo
(art.
278º).
Os
sócios
podem
assumir
um
papel
de
controlo,
mas
há
órgãos
derivados,
específicos,
de
controlo
e
fiscalização.
Além
da
Administração,
pode
haver
um
Conselho
Fiscal,
p.e.
O
Conselho
de
Administração
é
o
órgão
de
controlo
e
a
Comissão
Executiva
será
órgão
de
fiscalização
(na
perspectiva
de
PEDRO
CAETANO
NUNES).
Três
modalidades
de
fiscalização
–
278º:
(1)
estrutura
tradicional;
(2)
anglo-‐americana;
(3)
modelo
germânico.
A
estrutura
orgânica
deste
tipo
de
sociedade
terá
sempre
maior
complexidade
orgânica.
Nas
sociedades
em
comandita
(art.
470º),
só
os
sócios
comanditados
podem
ser
gerentes.
Ou
seja,
só
aqueles
que
são
empresários
é
que
são
gerentes.
No
demais
o
regime
funciona
por
remissão.
Se
for
comandita
simples
há
remissão
para
as
sociedades
em
nome
colectivo
(art.
474º);
se
for
comandita
por
acções
a
remissão
é
para
o
regime
das
sociedades
anónimas
(art.
478º).
3.4. TIPOS
ARTICULADOS:
PERMISSÃO
DA
REGRA
DO
CAPITALISMO
3.4.1. TIPOS
SOCIAIS
3.4.1.1. SUBTIPOS
DA
SOCIEDADE
ANÓNIMA
ABERTA
EM
CONTRAPOSIÇÃO
FECHADA
A
definição
de
sociedade
anónima
aberta
está
no
art.
13º
do
CVM.
Tem
os
vários
critérios
legais
para
delimitar
este
subtipo.
Há
duas
ideias
essenciais:
(1)
quando
há
oferta
pública
de
subscrição
das
acções
–
são
oferecidas
ao
público;
(2)
negociação
em
mercado
regulamentado
–
a
Bolsa,
p.e.
Às
abertas
e
fechadas,
aplica-‐se
todas
as
disposições
do
CSC.
Às
abertas
ainda
se
aplicam
as
diligências
do
CVM.
às
fechadas
a
lei
não
faz
referências.
Está
implícito
que
havendo
sociedades
abertas,
há
fechadas.
Há
ainda
o
subtipo
das
sociedades
cotadas
–
i.e.,
cotadas
em
mercado
regulamentar,
pelo
que
não
basta
que
se
verifique
uma
oferta
pública.
A
existência
de
subtipos
ocorre
nas
sociedades
anónimas.
Para
lá
da
tipologia
legal
é
possível
aprofundar
a
análise
e
descobrir,
dentro
de
um
tipo
legal,
diferentes
tipos
de
carácter
sociológico
(aprofundamento
doutrinário).
A
primeira
grande
distinção
de
tipos
sociais.
a. SOCIEDADES
COMERCIAIS
DE
PESSOAS
E
SOCIEDADES
COMERCIAIS
DE
CAPITAIS
–
a
sociedade
anónima
é
o
paradigma
das
sociedades
comerciais
de
capitais.
O
voto
é
por
capital.
Tudo
depende
da
prática
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
As
cooperativas
ou
o
sistema
mutualista
constitui
uma
alternativa
ao
sistema
capitalista.
Em
vez
de
termos
cada
um
a
tentar
vender
com
uma
margem
de
lucro
(e
a
mão
invisível
a
fazer
com
que
todos
ganhem),
aqui,
numa
visão
não
capitalista,
temos
um
conjunto
de
pessoas
que
se
reúnem
para
acabar
com
a
margem
de
lucro
e
o
idoneísmo,
ou
seja,
na
perspectiva
do
altruísmo.
A
Constituição,
na
parte
económica,
prevê
três
sectores
de
actividade:
(1)
privado;
(2)
público;
(3)
cooperativo
ou
mutualista.
Temos
a
garantia
constitucional
desta
iniciativa
económica.
Entende-‐se
como
excedente
e
retorno:
o
objectivo
é
não
ter
lucros,
mas
vender
ao
preço
de
custo,
pelo
que
é
possível
que
exista
uma
venda
com
um
preço
superior
que
gera
uma
margem
a
favor
da
cooperativa
(o
excedente).
Mas
é
errado
falar
na
distribuição
de
lucros.
Não
há
fim
lucrativo,
mas
mutualista.
Quando
há
excedente,
o
que
pode
haver
é
um
retorno
aos
sócios,
embora
não
em
função
da
participação
na
cooperativa,
mas
proporcional
às
transações
por
eles
efectuadas.
A
ideia
é
não
fazer
margem
de
lucro,
pelo
que
o
excedente
é
retornado
no
sentido
de
fazer
com
que
a
coisa
fiquei
com
o
preço
de
fabrico,
i.e.,
o
custo
interno.
P.e.,
se
Joaquim
comprou
um
apartamento
que
custou
apenas
190
mil
euros,
quando
no
plano
original,
seriam
200
mil
euros,
aqueles
10
mil
euros
serão
devolvidos
a
Joaquim
[no
caso
da
cooperativa
de
habitação].
É
uma
lógica
que,
nalguns
casos,
é
de
execução
difícil.
Natureza
jurídica
[tema
para
exame
final]:
as
cooperativas
são
uma
figura
distinta
das
sociedades
comerciais
ou
melhor
dizendo,
das
sociedades.
Podem
ser
enquadradas
na
definição
ampla
de
contrato
de
sociedade
ou,
se
por
outro
lado,
são
uma
figura
completamente
distinta.
Para
quem,
como
RPD
e
PCN,
defenda
uma
definição
ampla
que
abarca
as
sociedades
civis
e
comercias,
é
possível
dizer
que
a
cooperativa
entra
na
definição
ampla
de
sociedade
(art.
980º,
CC).
Se
for
o
conceito
amplo,
é
possível
colocar
a
cooperativa,
sendo
que
preenche
a
mesma
definição
–
que
não
implica
um
fim
lucrativo.
A
definição
ampla
será
de
um
contrato
ou
negócio
jurídico
constitutivo;
obrigação
de
contribuição;
para
uma
actividade
económica;
com
uma
finalidade
de
criação
de
beneficio
para
os
membros
(diferente
de
lucrativo).
Se,
pelo
contrário,
considerarmos
que
a
definição
do
art.
980º
vale
para
as
sociedades
comerciais,
ou
pelo
menos
que
necessitem
de
finalidade
lucrativa,
então
são
distintas
das
cooperativas,
que
não
têm
uma
finalidade
lucrativa.
Ao
longo
da
história,
foi-‐se
defendido
que
as
cooperativas
eram
mais
um
tipo
de
sociedades.
Em
termos
mais
modernos
é
que
criou
esta
querela
doutrinária.
Tem-‐se
adoptado,
minoritariamente,
que
não
são
sociedades,
sendo
que
não
têm
finalidade
lucrativa.
Cooperativa
Europeia
–
Regulamento
1435/2003:
é
uma
pessoa
colectiva
de
direito
europeu,
com
um
estatuto
europeu
(não
de
qualquer
Direito
do
EM).
Será
a
Sociedade
Cooperativa
Europeia.
Pelo
nome
entende-‐se
que
é
usual
a
ideia
de
que
a
cooperativa
constitui
uma
forma
de
sociedade
–
no
contexto
internacional.
4.2.3.
EMPRESAS
PÚBLICAS
Podem
ser
empresas
com
capital
totalmente
público
ou
não
(serem
completamente
do
Estado
ou
não).
É
uma
distinção
mais
sociológica.
Há
ainda
uma
segunda
distinção,
mais
técnico-‐jurídica,
entre
entidades
públicas
empresariais
(são
figuras
de
carácter
administrativo)
e
as
sociedades
com
capitais
públicos
(sociedades
privadas
em
que
o
Estado
ou
determinadas
entidades
públicas
são
accionistas).
4.2.4.
SUCURSAL
É
uma
parte
do
estabelecimento
comercial,
da
empresa,
em
sentido
objectivo,
situada
noutra
jurisdição,
i.e.,
em
outro
Estado,
que
goza
de
alguma
autonomia,
mas
não
de
personalidade.
Por
outras
palavras,
não
goza
de
personalidade
jurídica
plena.
Face
ao
art.
13º
do
CPC,
tem
personalidade
judiciária.
As
empresas
estrangeiras
que
não
tenham
uma
filha
em
Portugal,
mas
apenas
uma
sucursal,
não
têm,
aqui,
uma
pessoa
colectiva
autónoma.
Têm
apenas
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
uma
parte
da
sua
empresa,
do
seu
património,
que
não
goza
de
personalidade
jurídica
plena.
Tem
alguma
autonomia
contabilista,
até
nos
clientes
e
na
gestão.
Têm
personalidade
judiciária.
Criação
de
uma
sucursal
no
estrangeiro
–
abre
um
escritório,
mas
não
cria
uma
sociedade.
Tem
apenas
parte;
o
sentido
objectivo.
Não
há
qualquer
pessoa,
entidade.
Como
alternativa,
podemos
ter
uma
empresa
subsidiária.
Ex.:
quer-‐se
montar
uma
empresa
noutro
Estado,
pelo
que
se
cria
uma
sociedade
nesse
Estado,
a
qual
tem
personalidade
jurídica
plena.
Aqui
poderá
haver
um
sócio
único
de
uma
sociedade
que
é
pessoa
colectiva
com
personalidade
jurídica
plena.
⇒ Para
efeitos
processuais,
convoca-‐se
a
distinção
entre
personalidade
jurídica
plena
e
rudimentar.
4.2.5.
COOPERAÇÃO
INTEREMPRESARIAL
(ENTRE
EMPRESAS)
Quando
falamos
em
cooperação
entre
empresas,
foca-‐se
a
cooperação
horizontal
por
contraposição
à
vertical.
Neste
caso,
falamos
da
horizontal,
i.e.,
há
uma
pluralidade
de
formas
jurídicas
através
das
quais
é
possível
ter
esta
cooperação
horizontal.
Existem
vários
tipos
contratuais
que
o
permitem.
Várias
formas
de
cooperação.
Há
alguns
destes
que
implicam
a
criação
de
uma
pessoa
jurídica
autónoma
e
outros
não
criam
uma
entidade
com
a
personalidade
jurídica.
É
possível
utilizar
«este»
ou
«aquele»
instrumento
para
funções
próximas.
Há,
desta
feita
uma
plurifuncionalidade
de
formas
jurídicas.
P.e.,
várias
empresas
de
construção
civil
querem
juntar-‐se
para
ganharem
um
concurso
público.
Há
uma
especializada
na
fase
de
construção
da
estrutura
do
edifício
e
outra
em
acabamentos.
Juntem-‐se
para
concorrer.
Há
vários
modos
de
tal
ser
possível,
designadamente:
consórcio;
agrupamento
complementar
de
empresas;
sociedade
comercial.
I.e.,
a
própria
cooperação
entre
empresas
pode
ser
feita
através
da
constituição
de
uma
sociedade
comercial.
4.2.6.
CONSÓRCIO
É
uma
incorporated
joint
venture.
Não
tem
personalidade
jurídica.
O
DL
231/81
releva.
É
o
contrato
pelo
qual,
duas
ou
mais
pessoas
colectivas
se
obrigam
entre
si
a,
de
forma
concertada,
realizar
uma
certa
actividade
ou
a
efectuar
certa
contribuição
com
o
fim
de
prosseguir
um
dos
objectos
elencados
no
art.
2º.
Os
três
elementos
assinalados
têm
uma
grande
relevância.
O
dever
primário
deste
contrato
é
um
dever
de
concertação
e
não
de
contribuição
de
bens/serviços.
Por
força
disto,
não
há
personalidade
jurídica
e
não
há
sequer
património
autónomo.
Há
apenas
constituição
de
fundos
comuns.
P.e.,
há
consórcio,
frequentemente,
nas
obras
públicas.
Apresentam-‐se
de
forma
concertada
para
realizar
uma
obra.
É
aqui
que
entra
o
art.
2º
do
presente
Decreto-‐Lei.
Mas
este
elenco
não
é
fechado.
O
art.
341º
do
CVM
é
um
dos
exemplos:
sindicatos
bancários
para
colocação
de
ofertas
públicas
de
distribuição.
Um
sindicato
bancário
é
um
consórcio.
Os
bancos
juntam-‐se
e
criam
um
contrato
para
a
realização
de
determinadas
actividades
de
forma
concertada.
Neste
caso,
é
para
a
oferta
pública
de
distribuição
de
acções
ou
até
de
capital.
Estas
ofertas
públicas
têm
que
ser
colocadas
junto
do
público
com
o
auxílio
dos
bancos.
Vão
oferecer
aos
seus
clientes,
ao
público
em
geral,
a
subscrição
daqueles
valores
mobiliários.
Convém
haver
muitos
bancos
neste
tipo
de
contrato
para
que
tenha
grandes
resultados.
Outro
exemplo
é
o
DL
sobre
locação
financeira
–
operação
colectivas
de
locação
financeira.
O
consórcio
pode
ser
externo
ou
interno.
Externo
é
o
consórcio
visível
perante
terceiros.
O
interno
é
aquele
3
que
não
é
visível
perante
terceiros .
O
externo,
por
vezes,
tem
um
Conselho
de
Organização
e
de
Fiscalidade
(organização).
Mas
as
competências
destes
órgãos
são
apenas
internas,
não
valem
para
terceiros.
Apenas
organizam
a
concertação.
O
que
pode
acontecer
é
que
o
chefe
de
consórcio
tenha
uma
procuração
em
seu
favor
através
do
qual
3
P.e.,
temos
a
empresa
PT
e
o
BES.
Formam
um
consórcio
visível
perante
terceiros,
pelo
que
é
externo.
No
interno,
actua-‐se
de
forma
concertada,
mas
não
se
diz
a
ninguém;
perante
os
clientes,
aparentemente,
trabalham
sozinhos,
mas
«cá
atrás»
têm
uma
concertação
empresarial.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
vincula
um
ou
vários
membros
do
consórcio
(nos
termos
do
Código
Civil),
o
que
é
diferente
de
ter
poderes
orgânicos
da
sua
posição
de
chefe
do
consórcio.
Na
teoria
geral
do
direito
[e
não
do
direito
privado,
na
medida
em
que
as
pessoas
colectivas
de
direito
público
também
são
representadas],
temos
três
formas
de
representação:
1. Voluntária
–
regulada
pelos
arts.
259º
e
ss
do
CC;
2. Legal
–
dos
incapazes,
sem
origem
num
negócio
jurídico.
É
necessária,
pois
não
actuam
por
si
próprios;
3. Orgânica
–
inerente
ao
estatuto
jurídico
de
uma
pessoa
colectiva.
Há
uma
polémica
Doutrinária
que
respeita
a
saber
se
os
princípios
que
norteiam
a
representação
voluntária
se
aplicam
também
aos
outros
tipos
de
representação.
• Teorias
Unitárias
(CARLOS
FERREIRA
DE
ALMEIDA,
PEDRO
CAETANO
NUNES)
• Teorias
Não
Unitárias
(MENEZES
CORDEIRO,
OLIVEIRA
ASCENSÃO).
A
tendência
é
de
aplicar
algumas
das
regras
de
representação
voluntária
aos
vários
tipos.
Ex.:
art.
258º,
CC
que
nos
fala
dos
efeitos
da
representação
–
Quando
há
representação?
Sendo
que
é
a
estatuição
normativa
dos
efeitos
de
terceiro
a
uma
pessoa;
os
elementos
da
previsão
normativa
são
a
existência
de
poderes
de
representação
(como
a
Procuração
ou
a
nomeação
de
administrador)
ou
pela
actuação
em
nome
de
outrem
(Ex.:
«eu
contemplo
em
nome
de
Joaquim»
–
basta
invocar
um
nome
de
terceiro,
pois
se
tiver
poderes
de
representação,
o
terceiro
fica
automaticamente
vinculado).
Também
aqui
importa
a
norma
do
negócio
consigo
mesmo;
imputação
dos
sujeitos
subjectivos
relevantes
–
são
normas
pensadas
para
os
poderes
de
representação
voluntária;
que
servem
como
base
os
outros
tipos
de
representação.
Aqui,
o
chefe
não
tem
poderes
de
representação
orgânica,
mas
poderá
ser
alvo
de
uma
procuração
para
actuar
em
nome
dos
membros
dos
elementos
do
consórcio.
Num
consórcio,
cada
membro
do
consórcio
responde
pela
actuação
nos
contratos
e/ou
negócios
jurídicos
que
tenha
feito
com
terceiros.
Não
há
uma
responsabilidade
comum
dos
vários
membros
pela
actuação
de
cada
um
deles.
4.2.7.
CONTRATO
DE
ASSOCIAÇÃO
EM
PARTICIPAÇÃO
Advertência:
conta
em
participação
é
um
sinónimo
para
esta
figura.
Era
a
expressão
tradicional
que
estava
no
código
Comercial.
Define-‐se
como
sendo
a
associação
de
uma
pessoa
a
uma
actividade
económica
exercida
por
outra,
ficando
a
primeira
a
participar
nos
lucros
ou
nos
lucros
e
perdas
que
desse
exercício
resultarem
para
a
segunda.
Assim,
o
primeiro
elemento
essencial
é
o
contrato;
o
segundo
é
a
actividade
económica
exercida
por
outra
pessoa;
o
terceiro
é
a
contribuição
patrimonial;
o
quarto
é
a
comunhão
nos
resultados.
Aproxima-‐se
da
sociedade
em
comandita,
onde
temos
a
contraposição
entre
o
empresário
e
o
investidor.
Não
há
personalidade
jurídica,
nem
património
autónomo.
Nota
histórica:
no
primeiro
Código
Comercial,
i.e.,
o
Código
de
FERREIRA
BORGES,
era,
entre
nós,
uma
sociedade
comercial.
Ou
seja,
nem
sempre
foi
entendida
como
não
sendo
sociedade
comercial.
Tem
a
vantagem
do
secretismo,
i.e.,
o
investidor
pode
ficar
oculto.
Participa,
contribui,
comunga
nos
resultados,
mas
ninguém
sabe
quem
ele
é.
Pode
ser
apenas
uma
cooperação
entre
o
empresário
e
um
mero
investidor,
sendo
aqui
que
existe
uma
solução
de
secretismo
que
não
tem
paralelo
nas
outras
figuras.
Por
fim,
não
tem
exigências
de
forma.
Pode
ser
oral,
não
exige,
sequer,
forma
escrita.
A
propósito
desta
última
nota,
é
de
atender
que,
na
Jurisprudência,
há
uma
certa
tendência
para
reconduzir
a
esta
figura
todas
as
situações
onde
os
acordos
são
feitos
oralmente.
E,
apesar
dessa
subsunção,
nem
sempre
é
isso
que
acontece.
4.2.8.
AGRUPAMENTO
COMPLEMENTAR
DE
EMPRESAS
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Exercício
de
uma
actividade
complementar,
sem
finalidade
lucrativa.
Além
disso,
tem
personalidade
jurídica,
ao
contrário
do
consórcio
e
do
contrato
de
associação
em
participação.
Um
exemplo
paradigmático
é
o
serviço
de
backoffice.
Partilham
os
custos,
p.e.,
de
callcenter,
através
da
constituição
de
uma
ACE.
Outro
exemplo
é
um
centro
de
investigação
comum.
A
responsabilidade
dos
membros
pelas
dívidas
sociais
também
tem
uma
particularidade:
se
há
responsabilidade,
é
mais
viável
optar
pela
sociedade
comercial,
no
sentido
de
beneficiar
da
regra
de
ouro
do
capitalismo.
Querela
Doutrinária:
verificar
se
cabe
dentro
da
sociedade
ou
não.
Não
tem
finalidade
lucrativa,
pelo
que
difere
mediante
a
definição
de
sociedade
adoptada,
i.e.,
se
se
considerar
que
a
finalidade
lucrativa
não
faz
parte
da
definição,
então
é
uma
sociedade.
Se
faz,
não
pode
ser.
4.2.9.
AGRUPAMENTO
EUROPEU
DE
INTERESSE
ECONÓMICO
É
uma
pessoa
colectiva
de
direito
europeu
consagrado
pelo
Regulamento
2137/85.
É
uma
figura
semelhante
à
ACE,
ou
seja,
é
uma
espécie
de
passaporte
europeu.
4.2.10.
EMPRESAS
PLURISOCIETÁRIAS
Aqui,
temos
várias
sociedades
com
uma
relação
de
grupo,
mas
apenas
numa
empresa.
É
o
exemplo
dos
Grupos
Jerónimo
Martins.
Em
linguagem
económica,
ou
comum,
de
não
juristas,
são
sociedades
coligadas
que
podem
assumir
quatro
modalidades,
sendo
que
só
uma
delas,
a
última,
é
o
grupo
em
sentido
técnico-‐jurídico.
Ou
seja,
não
deve
ser
feita
confusão
entre
a
sociedade
e
os
grupos
em
sentido
económico.
As
quatro
modalidades,
designadamente:
1.1.1. A
sociedade
em
relação
de
simples
participação
corresponde
art.
483º;
1.1.2. As
sociedades
de
participações
recíprocas
correspondem
ao
art.
485º;
1.1.3. As
sociedades
de
relações
de
domínio
correspondem
ao
art.
486º;
1.1.4. As
sociedades
em
relação
de
grupo
correspondem
ao
art.
488º.
No
primeiro
caso,
uma
delas
é
titular
de
quotas
ou
acções
da
outra
em
montante
igual
ou
superior
a
10%
do
capital,
na
qual
há
um
dever
de
comunicação;
no
segundo
caso,
há
10%,
mas
reciprocamente;
no
terceiro
caso,
é
o
sócio
maioritário
que
exerce
directa
ou
indirectamente
influência
dominante,
sendo
que
isto
consiste
em
deter
participação
maioritária
no
capital
[+
de
50%].
Ou
seja,
dispõe
de
metade
dos
votos
e
tem
possibilidade
de
designar
mais
de
metade
dos
membros
dos
órgãos
de
administração
e
fiscalização.
No
último
caso,
pode
ser
por
domínio
total
tendente
ou
superveniente.
Temos
ainda
contratos
de
subordinação
e
de
grupo
paritário.
Face
ao
último
ponto,
algumas
notas:
podemos
ter
várias
modalidades.
Se
estivermos
no
âmbito
do
art.
489º,
é
essencial
ter
os
100%,
mas
na
alínea
c)
do
número
4
admite
que
se
desça
até
aos
90%.
O
domínio
total
corresponde
a
100%,
mas
se
tinha
100%
e
desce,
mas
não
para
menos
de
90%,
continua
a
manter-‐se
sentido
de
grupo
restrito
(489º);
há
direito
potestativo
de
aquisição
(490º)
e,
portanto,
do
ponto
de
vista
económico,
quando
tenho
90%,
tenho
direito
a
ficar
com
tudo.
O
artigo
relava
na
caracterização
da
previsão
normativa,
mas
também
da
estatuição
normativa:
direito
de
aquisição
potestativa
-‐,
“mandar
embora
os
minoritários”.
Em
contraponto
estes
têm
direito
de
alienação
potestativa,
ou
seja,
podem
não
querer
pertencer
a
uma
empresa
em
que
o
sócio
tenha
quase
100%.
É
bastante
frequente
aplicar
501º
e
504º.
O
art.
501º
é
a
estatuição
normativa
mais
importante,
uma
vez
que
faz
com
que,
nas
sociedades
de
grupo
em
sentido
restrito,
o
sócio
dominante
possa
responder
pelas
dívidas
sociais.
Mas
é
preciso
que
detenha
90%
das
ações
–
derroga
regra
de
ouro
do
capitalismo.
O
truque
é
emitir,
quando
possível,
ações
preferenciais
sem
voto,
para
contornar
estas
situações;
estas
dão
capital
social,
mas
sem
direito
de
voto.
Manda,
mas
distribui
mais
de
10%
do
capital.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
art.
503º
é
visto
como
um
contrabalanço
do
art.
501º.
Não
tem
grande
interesse,
na
medida
em
que
determina
que
se
o
accionista
maioritário
der
instruções,
o
Conselho
de
Administração
da
filha
tem
de
cumprir.
É
uma
regra
que
já
seria
assim
contemplada.
Não
necessitava
de
estar
aqui
individualizada.
Além
da
responsabilidade
da
mãe
pelas
dívidas
da
filha
–
afastando
a
regra
de
outro
do
capitalismo
-‐
também
pode
haver
responsabilidade
dos
administradores
da
sociedade
dominante
perante
a
sociedade
dominada
(art.
504º).
É
uma
ponte
para
a
responsabilidade
pessoal
dos
administradores
da
sociedade
dominante.
É
um
regime
muito
incipiente.
5. PERSONALIDADE
JURÍDICA
A
noção
de
pessoa
é
uma
decorrência
da
noção
de
norma
jurídica.
As
normas
criam
efeitos
jurídicos
em
determinados
agentes
e
as
pessoas
são,
consequentemente,
centros
de
imputação
de
normas
jurídicas.
As
pessoas
colectivas
não
têm
a
possibilidade
de
aplicação
do
discurso
da
natureza
das
coisas.
São
criações,
pelo
que
é
necessário
reconhecer
que
as
pessoas
são
centro
de
imputação
de
efeitos
jurídicos,
sem
prejuízo
de
defendermos
os
direitos
fundamentais.
É
este
pensamento
analítico
normativista
que
permite
fazer
a
distinção
entre
personalidade
jurídica
plena
e
rudimentar
{como
vimos
em
aulas
anteriores}.
É
ainda
de
relembrar
que
as
sociedades
comerciais
têm
personalidade
jurídica
plena
no
termo
do
art.
5º
do
CSC.
O
que
parece
resultar
da
lei
é
que
só
há
personalidade
depois
do
registo.
Mas
há
autores,
tais
como
Oliveira
Ascensão,
que
defendem
uma
interpretação
sincopada
do
art.
5º,
no
sentido
de
atribuir
esta
personalidade
jurídica
no
momento
anterior
ao
do
registo.
As
sociedades
civis
sobre
forma
comercial
também
têm
personalidade
jurídica
plena
(art.
4º/1,
do
CSC).
Por
outro
lado,
as
sociedades
civis
sem
forma
comercial
levantam
uma
grande
querela
doutrinária.
Há
quem
defenda
–
Escola
de
Coimbra
|
PIRES
DE
LIMA
e
ANTUNES
DE
VARELA
–
que
não
tem
personalidade
jurídica;
depois,
há
quem
defenda
que
tem
personalidade
jurídica
–
Escola
de
Lisboa
|
OLIVEIRA
ASCENSÃO;
por
fim,
há
ainda
uma
posição
intermédia
que
defenda
que
não
existe
personalidade
jurídica
plena,
mas
rudimentar
–
PEDRO
CAETANO
NUNES.
No
Brasil,
em
vez
de
pessoa
colectiva,
usa-‐se
a
expressão
«pessoa
jurídica».
Em
Portugal
há
quem
faça
uso
desta;
é
o
caso
de
FERREIRA
DE
ALMEIDA,
na
medida
em
que
pode
ser
inadequado
chamar
pessoa
colectiva.
É
o
caso
das
sociedades
por
quotas;
das
fundações.
Não
há
nada
de
colectivo,
não
há
um
conjunto
de
pessoas
nestes
casos.
Em
Inglaterra,
em
1844,
deu-‐se
um
passo
na
evolução
das
sociedades
anónimas.
Deixaram
de
necessitar
do
rei,
da
sua
autorização,
para
serem
constituídas.
Passou
a
existir
um
sistema
de
reconhecimento
normativo
que
afastou
assim
a
necessidade
de
autorização.
Todos
os
cidadãos
passam
a
poder
criar
sociedades
comerciais.
Em
Portugal
surge
em
1867
(não
muito
mais
tarde).
Em
rigor,
corresponde
à
liberdade
de
estipulação
(art.
405º,
CC).
Teorias
sobre
a
Natureza
da
Personalidade
Colectiva
As
diversas
teorias
que
sucedem
às
duas
grandes
e
originárias
não
inventam
muito
mais.
Desta
forma,
temos
as
seguintes
teorias:
i. Teoria
da
Ficção
de
SAVIGNY:
a
primeira
definição
de
pessoa
jurídica
é
deste
autor.
Segundo
este,
trabalhando
com
a
técnica
da
relação
jurídica
(e
não
das
situações
jurídicas),
as
pessoas
físicas
são
os
sujeitos
da
relação
jurídica.
Mas,
por
vezes,
através
de
uma
ficção
jurídica,
as
pessoas
colectivas
são
tratados
como
sujeitos
das
relações
jurídicas
como
se
fossem
naturais,
i.e.,
como
se
fossem
seres
humanos.
Há
uma
analogia
com
o
ser
humano,
para
que
possam
ser
sujeitos
das
relações
jurídicas.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
ii. Teoria
do
Organicismo
ou
Realismo
Orgânico
de
GIERKE:
não
há
uma
ficção,
mas
um
organismo
social
real;
é
algo
do
ponto
de
vista
sociológico.
Surge
a
ideia
de
substracto,
a
realidade
que
subjaz
à
pessoa
colectiva.
Não
é
uma
pura
invenção
normativa.
Esta
construção
é
baseada
num
estudo
histórico
intenso
das
várias
corporações
e
comunidades
na
Alemanha
e
no
Espaço
Europeu.
Há
ainda
três
teorias
bastante
famosas:
iii. Realismo
Jurídico:
a
pessoa
colectiva
é
o
produto
do
reconhecimento
legislativo,
é
o
produto
da
OJ
–
entre
nós,
MANUEL
DE
ANDRADE.
Está
mais
próximo
da
primeira
tese
do
que
da
segunda,
porque,
mais
uma
vez,
tem
a
ideia
de
criação
jurídica.
iv. Filosofia
Analítica
do
Desconstrutivismo:
autores
italianos.
Quando
o
direito
atribui
determinados
efeitos
às
pessoas
colectivas,
está,
no
fundo,
e
indirectamente,
a
querer
regular
a
vida
dos
seres
humanos.
Ou
seja,
podem
ser
desconstruídas
e
transformadas
em
disposições
normativas
aplicáveis
aos
seres
humanos.
I.e.,
as
regras
relativas
às
sociedades
podem
transformar-‐se
em
preposições
jurídicas
para
as
pessoas
singulares.
Mais
uma
vez,
é
próximo
da
primeira
teoria.
Na
parte
que
difere,
é
incorrecto.
É
errado
dizer
que
os
sócios
são
responsáveis
pelo
facto
da
sociedade
ser
responsável.
Atribuir
direito
e
deveres
à
sociedade
é
igual
ao
atribuir
direitos
e
deveres
aos
sócios
é
diferente.
v. Filosofia
Analítica
Anglo-‐Americana:
Ideia
de
que
há
uma
construção
jurídica,
na
égide
da
primeira
teoria,
mas
com
a
rejeição
do
desconstrutivismo,
na
medida
em
que
as
situações
jurídicas
da
sociedade
não
podem
ser
desconstruídas
em
situações
jurídicas
de
terceiros.
A
ideia
desta
filosofia
é
a
da
construção
jurídica
e
da
analogia
com
o
ser
humano
(uma
analogia
importante
porque,
no
limite,
permite
sustentar
a
aplicação
do
regime
dos
direitos
fundamentais
às
pessoas
colectivas)
–
HART.
A
propósito
da
primeira
teoria:
a
atribuição
de
personalidade
jurídica
plena
é
uma
opção
discricionária
legislativa.
Ou
seja,
aponta
para
o
realismo
jurídico,
para
o
normativismo.
Não
aponta
para
a
segunda
teoria.
Aponta,
sobretudo
para
o
primeiro
autor.
Em
contraposto,
a
análise
dos
substratos
aponta
para
o
segundo
autor.
Não
é
um
discurso
da
lei,
mas
um
discurso
doutrinário
que
tem
a
ver
com
substratos
meta
jurídicos,
sociológicos.
O
que
está
por
trás
da
criação
do
direito
(é
uma
empresa,
uma
associação,
um
património).
Ajuda
a
compreender
as
opções
legislativas
em
dois
momentos:
(1)
na
criação
–
para
não
ser
discricionário
e
arbitrário,
tem
de
ir
ao
meta
jurídico;
(2)
na
aplicação,
concretização
da
Jurisprudência
–
este
enquadramento
permite
interpretações
com
mais
sentido.
Aula
de
7
de
março
de
2017
6. CAPACIDADE
E
VINCULAÇÃO
DAS
SOCIEDADES
COMERCIAIS
6.1. CONCEITOS
INTRODUTÓRIOS
Importa
a
distinção
entre
capacidade
de
gozo,
personalidade
de
gozo
e
capacidade
de
exercício.
Segundo
MANUEL
DE
ANDRADE
e
para
a
Escola
de
Coimbra,
estes
dois
primeiros
conceitos
são
idênticos,
constituindo
assim
uma
susceptibilidade
de
ser
titular
de
direitos
e
deveres,
de
situações
jurídicas
activas
e
passivas.
Quanto
ao
último,
da
capacidade
de
exercício,
é
a
susceptibilidade
de
exercer
as
posições
jurídicas
activas
pessoalmente.
Os
alemães,
tendencialmente,
não
distinguem
a
capacidade
e
a
personalidade
de
gozo,
considerando
que
são
sensivelmente
a
mesma
coisa,
i.e.,
a
capacidade
de
ser
titular
de
situações
jurídicas.
Já
a
capacidade
de
exercício
tem
a
ver
com
a
capacidade
de
exercer
as
posições
jurídicas
activas
pessoalmente,
em
nome
próprio.
Em
Portugal,
ao
contrário
de
MANUEL
DE
ANDRADE,
temos
RUI
PINTO
DUARTE,
que
defende
a
perspectiva
de
que,
do
ponto
de
vista
analítico
e
normativista,
não
se
distingue
bem
a
personalidade
e
capacidade
de
gozo.
A
personalidade
também
tem
graus
e
medidas
(personalidade
jurídica
plena
e
rudimentar).
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
fosse
celebrado
um
negócio
que
ultrapassasse
esse
objecto,
os
administradores
estariam
a
actuar
para
lá
da
sua
capacidade
de
gozo,
o
que
determinaria
a
invalidade
desses
negócios
jurídicos
ou
transacções.
Aqui,
visa-‐se
essencialmente
a
protecção
dos
sócios
minoritários
(ratio
legis).
Estes
não
têm
poder
suficiente
para
o
controlo
da
gestão
–
para
a
nomeação
dos
administradores
-‐,
mas
embarcam
numa
sociedade
com
certos
estatutos
que,
ao
estabelecerem
os
objectos
da
mesma,
limitam
os
administradores.
A
primeira
Directiva
de
Coordenação
em
matéria
de
direito
das
sociedades
adoptou
a
perspectiva
germânica.
E
ainda
recusou
a
tradição
anglo-‐americana,
expressamente.
Estabeleceu
que
o
objecto
social
não
pode
limitar
a
capacidade
de
gozo.
Quanto
ao
fim
lucrativo,
não
há
uma
norma
que
determine,
expressamente,
a
sua
não
utilização.
Já
PEDRO
CAETANO
NUNES
defende
que,
apesar
de
não
afastar
expressamente
a
limitação
pelo
fim,
acolhe
a
doutrina
germânica.
É
um
ponto
de
querela
doutrinária
saber
aquilo
que
a
Directiva
impõe
ou
não
impõe.
6.4. QUERELAS
DE
INTERPRETAÇÃO
DO
ART.
6º
O
número
4
transpõe
para
o
direito
nacional
a
norma
da
Directiva
que
rejeita
a
teoria
ultra
vires.
A
válvula
de
escape
está
estabelecida
nos
arts.
260º
e
409º/2.
O
art.
6º
começa
por
fazer
uma
afirmação
genérica
no
sentido
tradicional
da
teoria
da
especialidade
(do
fim
lucrativo).
É
uma
afirmação
mais
cosmética
do
que
de
conteúdo
efectivo.
PEDRO
CAETANO
NUNES
faz
uma
leitura
mais
ampla
da
norma.
Os
seus
fins
podem
ser
múltiplos,
pelo
que
tem
todos
os
direitos
e
obrigações.
Consequentemente,
tem
capacidade
plena.
Os
números
que
levantam
mais
problema
são
os
2
e
3,
que
levantam
querelas
doutrinárias
e
jurisprudências
mais
intensas.
O
art.
6º/2
refere-‐se
às
liberalidades
e
o
art.
6º/3
à
prestação
de
garantias.
Em
ambos
os
casos,
estão
em
causa
actos
gratuitos.
Aquelas
garantias
a
que
se
refere
o
número
3,
são
de
forma
gratuita.
A
ideia
é
de
que
a
prática
dos
actos
gratuitos
pelas
sociedades
comerciais
contraria
o
fim
lucrativo.
Os
actos
gratuitos
estão
para
lá
da
capacidade
de
gozo,
pelo
que
devem
ser,
na
óptica
do
legislador,
inválidos.
As
liberalidades
que
não
sejam
usuais,
a
contrario
sensu,
não
são
parte
do
fim,
pelo
que
são
inválidos.
A
norma
proíbe
liberalidades
que
não
sejam
consideradas
usuais.
⇒ COUTINHO
DE
ABREU
defende
que
é
necessário,
essencial,
que
o
juiz
faça
uma
indagação
sobre
a
finalidade
da
liberalidade
e
sobre
a
projecção
da
mesma
no
património
social.
Ex.:
BES
patrocinou
o
Cristiano
Ronaldo,
sem
receber
nada
em
troca.
Era
um
acto
gratuito.
Mas
será
contrário
ao
fim
da
sociedade?
Não,
na
medida
em
que
fizeram,
pela
publicidade,
imenso
dinheiro.
Ex.:
mecenato.
No
caso
da
publicidade
e
do
patrocínio
dos
atletas,
é
evidente
que
gera
lucros.
As
grandes
empresas
como
Nike
e
Adidas,
vivem
dos
actos
gratuitos
desportivos.
No
caso
do
mecenato
há
uma
menor
evidência,
na
medida
em
que
não
há
grande
publicidade
do
teatro.
Não
é
para
criar
lucros,
mas
é
mecenato.
As
classes
sociais
mais
favorecidas
acham
que
é
produtivo,
pelo
que
o
legislador
criou
benefícios
fiscais.
Ex.:
financiamento
político.
Na
tradição
anglo-‐americana
é
feito
às
claras.
Cá
é
feito
de
forma
maioritariamente
oculta.
As
empresas
fazem
este
financiamento
com
intenção
iconística.
Pode
ser
considerado
corrupção.
A
Doutrina
tradicional,
ao
avaliar
estes
casos,
considera
que
ainda
se
enquadram
na
finalidade
social,
apesar
de
não
se
enquadrarem
no
objecto.
Ou
seja,
vendo,
por
exemplo,
a
projecção
de
promoção
do
Cristiano
Ronaldo
tem
efeitos
no
património
social
da
sociedade
comercial.
É
este
o
sentido
do
art.
6º.
Desta
feita,
críticas
a
fazer:
1. A
finalidade
das
sociedades
comerciais
não
tem
de
ser
lucrativa,
pode
ser
outra;
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
4
2. A
primeira
Directiva
acolheu
a
estrutura
germânica
–
interpretação
restritiva,
derrogação
da
norma ;
5
3. Definição
de
capacidade
aferida
em
abstracto .
O
art.
6º/3
considera
em
primeiro
uma
regra;
e,
em
segundo,
duas
excepções
à
mesma.
A
regra
tem
em
si
a
distinção
das
garantias
onerosas
e
gratuitas.
As
prestações
de
garantias
a
favor
de
terceiro
têm,
implícita,
a
ideia
de
gratuitidade.
É
uma
apelação
aos
actos
gratuitos.
Aponta
para
o
número
2;
o
número
3
tem
o
enquadramento
do
número
2.
Os
Bancos,
p.e.,
oferecem
garantias
onerosas,
bancárias
{exemplo
dos
empreiteiros
que
oferecem
garantias
bancárias
aos
clientes
para
os
casos
de
defeito
de
obra}.
É
uma
finalidade
lucrativa.
Mas
é
pacífico
que
este
número
3
apenas
visa
proibir
todas
as
garantias
gratuitas,
na
medida
em
que
seria
impossível
impedir
os
bancos,
p.e.,
destas
garantias
onerosas.
⇒ A
posição
da
Escola
de
Lisboa
e
PEDRO
CAETANO
NUNES
é
a
de
que
tudo
isto
é
contra
a
primeira
Directiva,
ou
seja,
vai
ser
contra
toda
esta
teorização
que
estamos
a
elencar.
É
possível
a
prestação
de
garantias,
desde
que
com
justificado
interesse
próprio,
i.e.,
uma
cláusula
indeterminada,
a
qual
os
juízes
vão
aferir
no
caso
concreto.
A
segunda
excepção
corresponde
às
excepções
de
domínio
ou
de
grupo.
O
domínio
exige
controlo;
no
grupo,
o
domínio
é
quase
total.
Sobre
esta,
existe
uma
querela
dentro
da
tese
tradicional:
a. COUTINHO
DE
ABREU
diz
que
esta
ressalva
só
funciona
para
as
relações
down
screen
e
não
up
screen.
Ou
seja,
acha
bem
que
a
mãe
preste
garantias
às
filhas,
mas
acha
mal
que
a
filha
preste
garantias
à
mãe.
A
prestação
de
garantias
da
dominante
à
dominada
é
possível
e
enquadra-‐se
na
ressalva.
O
contrário,
nesta
teoria
restritiva,
já
não
é
possível,
levando
à
nulidade
do
negócio
jurídico.
b. Depois,
há
quem
defenda
que
a
ressalva
é
sempre
válida,
quer
down
screen,
quer
up
screen,
ao
contrário
da
teoria
de
Coutinho
de
Abreu,
que
considera
que
a
validade
apenas
se
verifica
na
down
screen.
Para
PEDRO
CAETANO
NUNES,
conforme
se
elencou
nas
críticas,
esta
teoria
não
se
aplica
por
esses
motivos.
Esta
matéria
ainda
não
foi
levada
ao
Tribunal
de
Justiça
da
União
Europeia,
ainda
que
seja
possível
fazê-‐lo,
i.e.,
se
for
considerado
que
deve
ser
enviada,
há
o
mecanismo
do
reenvio
prejudicial.
7. IMPUTAÇÃO
NEGOCIAL
OU
REPRESENTAÇÃO
Ou
melhor
dizendo,
imputação.
Temos
dois
grandes
temas
(1)
a
imputação
negocial
–
a
vinculação
das
sociedades
comerciais
no
vínculo
do
negócio
jurídico
e
(2)
a
imputação
delitual.
Os
temas
são,
em
rigor,
distintos,
mas
confundem-‐
se
e,
sobretudo,
incidem
sobre
os
mesmos
problemas
das
vidas
das
empresas.
O
art.
6º
é
enquadrado
na
capacidade,
mas
aquilo
que
realmente
visa
é
a
validade
dos
actos
jurídicos.
Do
ponto
de
vista
da
teoria
geral
do
direito,
são
duas
coisas
distintas,
mas
tratam
a
mesma
questão.
As
preocupações
de
política
por
detrás
são
as
mesmas,
ainda
que
depois
incidam
sobre
dois
institutos
jurídicos
diferentes:
a
capacidade
e
os
poderes
de
representação.
Método
de
Microcomparação:
comparação
de
institutos
que
dão
soluções
para
a
mesma
questão
da
vida,
sendo
por
esse
motivo
comparáveis.
7.1. ENQUADRAMENTO
A
primeira
Directiva
de
coordenação
transpõe
a
arquitectura
germânica,
a
qual
apenas
se
aplica
às
sociedades
por
quotas
e
às
sociedades
anónimas,
não
se
aplicando
às
sociedades
em
nome
colectivo.
O
regime
é,
portanto,
diferente.
4
Porque
desconforme
com
a
Directiva.
5
Ou
seja,
ou
se
pode
praticar
actos
gratuitos
ou
não.
Se
pode
para
todos
os
actos
em
abstracto.
A
capacidade
deve
ser
vista
assim,
do
ponto
de
vista
abstracto.
Coutinho
de
Abreu,
Pedro
Caetano
Nunes
e
a
Doutrina
em
geral
fazem
esta
crítica.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
art.
252º
afirma
que
as
sociedades
por
quotas
são
administradas
e
representadas
pelo
gerente.
I.e.,
administrar
é
a
nível
de
competência
interna;
representar
é
a
nível
de
competência
externa.
O
art.
405º
estabelece,
por
sua
vez,
que
quem
representa
a
sociedade
são
os
administradores,
nas
sociedades
anónimas.
Quem
representa
não
é
o
Conselho
de
Administração
em
sentido
técnico,
mas
os
administradores.
É
uma
estrutura
orgânica
mais
complexa.
Mas
à
semelhança
do
artigo
anterior,
temos
a
distinção
entre
a
competência
externa
e
interna.
Temos
a
gerência
e
a
representação.
Nas
sociedades
por
quotas
temos
os
arts.
261º
e
408º.
A
regra
é
a
de
que
a
vinculação
externa,
ou
o
poder,
é
exercido
conjuntamente,
através
dos
actos
conjuntos,
por
contraposição
aos
actos
singulares.
Não
basta
uma
assinatura.
A
lei,
por
regra,
supletivamente,
exige
mais
do
que
uma
assinatura.
Mas
permite
um
aligeiramento.
O
art.
261º
trata
do
exercício
conjunto.
Se
forem
três
gerentes,
têm
que
assinar
dois;
se
forem
dois,
têm
que
assinar
dois.
É
um
acto
conjunto.
Notas:
⇒ Na
teoria
geral
do
negócio
jurídico,
há
o
pressuposto
das
actuações
singulares.
Contudo,
na
realidade,
é
comum
que
não
seja
A
e
B,
mas
os
gerentes
da
Sociedade
A
e
B
a
formularem
e
a
aceitarem
uma
ou
várias
propostas.
⇒ Segundo
PEDRO
CAETANO
NUNES
e
CARLOS
FERREIRA
DE
ALMEIDA
isto
corresponde
a
modalidades
de
DN
–
na
medida
em
que
dois
gerentes
a
assinarem
uma
aceitação
é
uma
declaração
negocial.
O
melhor
para
o
tráfego
jurídico
seria
aceitar-‐se
apenas
uma
assinatura.
Mas
aqui
já
há
um
equilíbrio
entre
o
âmbito
subjectivo
e
objectivo.
Assim
tem
de
haver
mais
do
que
uma
mão,
por
via
haver
maior
controlo
(subjectivo).
É
no
âmbito
objectivo
que
há
a
ideia
de
tráfego
jurídico,
i.e.,
o
terceiro
não
tem
de
avaliar
se
aquilo
é
bom
para
a
sociedade,
mas
sim
se
estão
presentes
as
assinaturas
necessárias.
Isto
é
o
regime
supletivo,
na
medida
em
que
os
Estatutos
podem
criar
regras
mais
favoráveis
à
vinculação.
É
de
dizer
ainda:
• Pode
haver
uma
delegação
da
representação
orgânica.
Na
terminologia
dos
negócios,
na
prática
sociológica
da
empresa,
falam-‐se
em
credenciais
enquanto
uma
espécie
de
procuração
que
opera
a
delegação
de
todos
os
poderes
de
representação.
A
procuração
difere
no
âmbito
da
representação
voluntária,
na
medida
em
que
é
um
tema
específico
deste
tipo
de
representação.
Neste
caso
não
se
trata
de
procuração.
• O
facto
de
as
sociedades
estarem
no
tráfego
jurídico
através
da
representação
orgânica,
não
afasta
de
modo
algum
a
possibilidade
de
representação
voluntário
nos
termos
dos
arts.
262º
e
ss
do
CC.
Ao
emitirem
uma
procuração,
esta
tem
de
ser
assinada
pela
maioria
deles
(art.
261º,
CSC).
Existem
regras
da
representação
orgânica
que
determinam
quem
te
de
assinar,
mas
depois
valem
as
regras
do
CC.
Quando
se
atribuem
os
poderes
a
um
dos
administradores,
ainda
é
representação
orgânica;
quando
se
passa
a
um
terceiro,
já
será
representação
voluntária,
nos
termos
do
Código
Civil.
• Na
representação
voluntária
aplica-‐se
o
Código
Civil,
mas
há
quem
sustente
que
a
celebração
de
contrato
de
trabalho
pode
implicar
tacitamente
poderes
de
representação.
• A
aparência
de
poderes
de
representação
é
algo
que
se
estuda
a
propósito
da
representação
voluntária.
No
entanto,
vale
para
todas
as
formas
de
representação
(orgânica
e
legal).
São
as
situações
em
que
não
há
uma
procuração;
não
há
um
gerente
com
poderes
suficientes;
ou
um
conjunto
de
gerentes;
não
há
actuação
ao
abrigo
das
normas
jurídicas
que
atribuem
eficácia
à
representação;
mas
há
sim
pessoas
que
criam
confiança
nos
terceiros
com
um
carácter
justificado,
pelo
que
a
lei
determina
a
existência
de
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
representação
pela
simples
existência
da
confiança
(opera
ope
legis).
É
uma
forma
de
tutela
da
confiança
ou
da
aparência.
Não
há
abuso
de
representação.
Aqui
não
é
uma
válvula
de
escalpe
para
destruir
o
negócio.
• Esta
regra
de
poderes
conjuntos
–
no
âmbito
da
representação
orgânica
–
vale
apenas
para
a
representação
activa
e
não
vale
para
a
passiva
(art.
261º,
CSC).
7.2. ABUSO
DE
REPRESENTAÇÃO
Até
aqui
falámos
de
como
é
que
as
sociedades
ficam
vinculadas
perante
terceiros.
Neste
capítulo,
é
o
inverso,
i.e.,
a
sociedade
deixa
de
estar
vinculada,
porque
o
terceiro
não
merece
a
protecção
(válvulas
de
escape).
Aqui
já
não
se
pretende
salvar
o
negócio
jurídico,
mas
destruí-‐lo.
Vem
regulado
no
art.
269º
do
CC.
Estamos
dentro
dos
deveres,
e
não
dos
poderes.
Havia
poder
para
actuar,
mas
não
devia
ter
actuado,
porque
não
actuou
no
interesse
do
representado.
Pode
ter
sido
por
maldade
ou
por
interesse
do
próprio
representada.
Podia
haver
conluio.
O
que
interessa
é
a
distinção
entre
os
poderes
formais
e
os
deveres.
A
ideia
do
abuso
de
representação
–
inventado
pelos
alemães
–
é
a
de
que,
havendo
este
abuso,
e
se
o
terceiro
sabia
ou
devia
saber
disso,
a
protecção
é
afastada.
Havia
representação
e
esta
foi
feita
em
violação
dos
deveres.
Deixa
de
ser
protegido
pelo
Ordenamento
Jurídico.
Este
abuso
de
representação
surgiu
na
Doutrina
Germânica,
ao
abrigo
dos
bons
costumes
e
da
boa-‐fé.
Assim,
eram
duas
formas:
(1)
uma
primeira
situação,
de
conluio,
a
qual
ofensiva
dos
bons
costumes
–
art.
280º
do
CC;
(2)
uma
segunda
situação,
em
que
no
lugar
do
conluio
doloso,
há
apenas
conhecimento
ou
dever
de
conhecimento
do
terceiro.
O
abuso
de
representação
em
sentido
restrito
já
não
carece
do
dolo
de
terceiro.
O
terceiro
sabia
ou
devia
saber,
face
ao
que
estava
visível,
de
que
havia
uma
representação
contra
o
interesse
do
representado.
Têm
uma
valoração
diferente,
na
medida
em
que
aqui
não
estão
em
causa
os
bons
costumes,
mas
a
boa-‐fé.
Em
Portugal,
há
uma
querela
doutrinária:
o
art.
269º
pode
aplicar-‐se
às
situações
de
conluio
ou
de
abuso
restrito,
sendo
a
sanção
a
da
ineficácia.
Mas,
sob
inspiração
germânica,
há
doutrina
que
defende
que
na
situação
de
conluio
já
se
trata
de
um
problema
de
ofensa
aos
bons
costumes,
pelo
que
se
trata
de
nulidade,
oponível
a
terceiros.
No
CSC,
é
pacifico
que
o
conluio
e
o
abuso
de
representação
são
aplicáveis
à
representação
orgânica,
pelo
que
se
pode
recorrer
ao
art.
269º
do
CC
(ou
ao
art.
280º
em
caso
de
conluio,
para
quem
interpretar
nesse
sentido).
Os
arts.
260º/2
e
409º/3
têm
regras
que
são
casos
especiais
de
abuso
de
representação.
No
caso
do
art.
260º/2,
os
poderes
dos
gerentes
são
gerais,
abstractos
e
ilimitados,
podendo
abranger
todas
as
matérias
(âmbito
objectivo);
e
têm
de
haver
as
duas
assinaturas
(âmbito
subjectivo).
O
«Conhecia
ou
devia
conhecer»
é
o
mesmo
que
«Sabia
ou
devia
saber».
O
CSC
apenas
consagrou
uma
hipótese
especial
de
abuso
de
representação,
a
qual
quanto
ao
objecto
social.
Para
todas
as
outras
situações,
aplica-‐se
o
art.
269º
do
CC.
Isto
acontece,
desta
forma,
em
decorrência
da
doutrina
ultra
vires.
Assim,
a
única
válvula
de
escape
é
esta.
Só
releva
se
o
terceiro
sabia
ou
devia
saber.
7.3. NEGÓCIO
CONSIGO
MESMO
Art.
261º,
CC:
há
uma
antecipação
da
tutela
no
confronto
com
o
art.
269º.
Para
haver
a
válvula
de
escape
do
abuso
de
representação
é
necessário
mostrar
que
o
terceiro
sabia
ou
devia
saber.
Mas
nestes
casos,
em
vez
de
se
exigir
isto,
o
legislador
desconfia,
porque
a
probabilidade
de
actuar
violando
os
seus
deveres
é
muito
grande.
Faz-‐se
uma
antecipação
da
tutela,
sendo
um
caso
particular
de
patologia.
Não
é
necessário
fazer
prova
de
que
houve
violação
dos
deveres
ou
que
deveria
saber.
É
um
negócio
consigo
mesmo.
Em
vez
de
vender,
p.e.,
certo
imóvel
a
terceiros,
vendeu
a
si
próprio.
No
CSC,
só
está
previsto
no
art.
397º/2.
É
uma
quebra
sistemática
do
CSC,
na
medida
em
que
apenas
respeita
às
sociedades
anónimas.
Aplica-‐se
por
analogia
este
artigo
ou
aplica-‐se
o
art.
261º?
É
uma
querela
doutrinária.
É
a
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
primeira
grande
dúvida
sobre
os
negócios
consigo
mesmo
nas
sociedades
comerciais,
saber
se
se
aplica
o
CC
ou
o
CSC.
A
segunda
grande
dúvida
é
que
há
pelo
menos
quatro
sub-‐hipóteses
de
negócio
consigo
mesmo,
três
previstas
no
art.
261º
e
outra
que
o
art.
397º/2
não
prevê.
É
uma
hipótese
mais
específica
na
imputação
negocial.
Aula
de
10
de
março
de
2017
7.4. IMPUTAÇÃO
DELITUAL
DAS
PESSOAS
COLECTIVAS
(OU
EXTRACONTRATUAL)
Frequentemente,
fala-‐se
de
«delito»,
se
bem
que
a
ideia
de
contratual
tende
a
não
abarcar
a
responsabilidade
objectiva
e
por
factos
ilícitos.
Aqui,
utiliza-‐se
o
termo
mais
amplo,
o
de
extracontratual,
abrangendo
a
responsabilidade
objectiva,
subjectiva
e
por
facto
ilícito.
Do
ponto
de
vista
histórico:
Teoria
de
Ficção
de
Savigny
–
segundo
esta
teoria,
não
havia
uma
verdadeira
personalidade
das
pessoas
colectivas,
o
que
fazia
com
que
não
fosse
justo
existir
responsabilidade
tal
como
nas
pessoas
singulares.
Foi
com
o
realismo
orgânico,
da
realidade
sociológica,
que
predominou
a
tese
de
que
tem
de
haver
uma
responsabilidade,
tal
como
há
nos
seres
humanos
e
nas
pessoas
singulares.
É
aqui
que
se
vai
iniciar
a
primeira
opinião
favorável
à
responsabilidade
delitual
das
pessoas
colectivas.
Hoje
em
dia,
é
possível
usar
elementos,
com
base
no
Pp
da
Igualdade,
raciocínios
do
género
«não
se
pode
atribuir
benefícios
à
pessoa
colectiva
e
não
atribuir
às
singulares»;
«posso
responsabilizar
o
funcionário,
mas
não
a
empresa».
Os
critérios:
a. É
um
problema
de
imputação;
6
b. Incapacidade
de
exercício
–
as
pessoas
colectivas
não
agem
(embora
com
querela
doutrinária );
7
c. Há
autores
que
defendem
o
organicismo
mais
organicista ;
d. Oliveira
Ascensão
defende
que
é
a
pessoa
colectiva
a
actuar,
não
há
incapacidade
de
exercício;
e. Pedro
Caetano
Nunes
não
considera
esta
tese
correcta.
O
art.
6º
do
CSC
e
o
art.
165º
do
CPC
transformam
esta
questão
numa
questão
normativa.
Há
incapacidade
de
exercício,
pelo
que
há
problemas
de
incapacidade
e
de
imputação.
Não
está
certo
dizer
que
a
pessoa
que
actua
no
órgão
está
a
fazer
com
que
a
pessoa
colectiva
seja
capaz
de
exercício.
Ex.:
administrador
delega,
no
âmbito
do
seu
mandato
como
administrador,
que
é
para
trabalhar
até
às
2h
da
manhã,
fazendo
com
que
uma
senhora
não
consiga
dormir
toda
a
noite.
A
responsabilidade
é
da
empresa
ou
do
administrador?
O
administrador,
que
não
tinha
seguro,
atropela
uma
série
de
pessoas.
No
mesmo
acidente,
provoca
mortes.
O
carro
era
da
empresa,
mas
actuava
na
sua
vida
privada.
Quem
responde?
É
um
problema
jurídico
respondido
por
normas
jurídicas
de
responsabilidade
delitual
dos
titulares
dos
órgãos
da
sociedade
comercial.
O
art.
500º
do
CC:
pressupostos
da
responsabilidade
objectiva
do
comitente.
Tem
de
haver
a
relação
entre
um
comitente
e
um
comissário;
e
o
comitente
tem
de
actuar
no
âmbito
da
comissão
(funções
que
lhe
foram
remetidas
pelo
seu
comitente).
A
law
in
action
–
quando
eu
sou
proprietário,
não
se
provando
a
culpa,
respondo
objectivamente
pelos
danos.
Neste
caso,
o
proprietário
é
mesmo
a
Sociedade.
MENEZES
CORDEIRO
tem
uma
tendência
para
a
criação
de
regras
de
maior
responsabilização
das
pessoas
colectivas,
no
sentido
de
irem
mais
além
desta
responsabilização
por
via
dos
arts.
6º
do
CSC
e
do
art.
500º
da
CC.
É
uma
ideia
de
culpa
da
própria
organização.
Podem
haver
situações
em
que,
sendo
organizações
muito
grandes,
é
difícil
determinar
de
quem
é
a
culpa.
Isso
levaria
a
situações
em
que
poderia
não
haver
responsabilização.
6
As
pessoas
colectivas
não
agem,
quem
age
são
os
seres
humanos
no
âmbito
das
pessoas
colectivas.
Existe,
segundo
Pedro
Caetano
Nunes,
um
problema
de
imputação.
7
I.e.,
as
pessoas
actuam
nos
órgãos
da
pessoa
colectiva,
pelo
que
há
imputação
da
pessoa
colectiva,
através
da
actuação
dos
órgãos.
É
uma
ideia
de
mecanismo
jurídico.
É
uma
ideia
que
respeita
menos
o
enquadramento
original.
É
a
ideia
de
que
não
há
incapacidade
de
exercício,
porque
consideram
que
os
administradores
são
a
mão
da
pessoa
colectiva.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
art.
493º
do
CC,
da
presunção
de
culpa,
também
tem
alguma
relevância.
{No
nosso
OJ,
há
que
distinguir
as
normas
de
responsabilidade
subjectiva;
de
responsabilidade
objectiva;
e
de
presunção
de
culpa.
Se
há
presunção
de
culpa
é
quase
o
mesmo
que
responsabilidade
objectiva.
São
figuras
muito
próximas
nos
efeitos.
P.e.,
cartódromos
–
não
é
fácil
ilidir,
numa
actividade
perigosa,
a
presunção
de
culpa,
pelo
que,
havendo
um
acidente,
serão
sempre
responsáveis.
São
normas
muito
importantes
no
nosso
OJ
–
as
presunções
–
porque
têm
efeitos
práticos.}
Quando
há
responsabilidade
objectiva,
a
tendência
é
ir
pelas
normas
do
CC.
Quando
há
subjectiva,
ainda
que
na
presunção
de
culpa
(483º
ou
493º),
ainda
há
problemas
de
imputação
para
as
pessoas
colectivas,
quer
seja
pelo
ónus
de
prova
do
autor
(483º),
quer
havendo
inversão
do
ónus
de
prova
(493º).
MENEZES
CORDEIRO
fala
da
culpa
da
organização
como
um
todo
e
não
das
pessoas
dentro
da
organização.
PEDRO
CAETANO
NUNES
considera
que
não
há
base
legal,
pelo
que
o
interprete
tem
de
fazer
uma
ginástica
legal
para
justificar.
E
depois,
há
sempre
problemas
de
imputação.
A
ideia
de
culpa
da
pessoa
colectiva
serve
para
contornar.
Há
uma
imputação
ao
abrigo
de
que
normas?
Ao
abrigo
do
art.
6º/5
do
CSC
e
do
art.
165º
do
CC.
Estes
fazem
a
imputação
dos
órgãos
ao
abrigo
da
responsabilidade
do
art.
500º.
A
alternativa
é
ir
directamente
para
o
art.
500º.
Assim,
a
conduta
é
imputável
aos
funcionários.
O
trabalhador
não
é
um
órgão,
pelo
que,
nesse
caso,
se
vai
directamente
ao
art.
500º,
havendo
responsabilidade
objectiva.
Associada
ao
efeito
da
imputação
extracontratual
ou
efeito
delitual
da
pessoa
colectiva,
costuma
estar
o
efeito
reflexo
e
o
benefício
de
exclusão
do
ser
humano
pessoa
singular,
i.e.,
se
é
imputado
à
pessoa
colectiva,
eu,
pessoalmente,
já
não
respondo.
Ex.:
o
técnico
actuou
quando
trabalhava
para
a
pessoa
colectiva.
O
elevador
caiu
e
morreram
duas
pessoas.
É
um
problema
da
pessoa
colectiva,
é
ela
que
responde,
pelo
que
o
técnico
já
não
responde.
É
um
tema
que
não
é
de
imputação
às
pessoas
colectivas,
mas
de
algo
que
está
ao
lado.
Frequentemente,
responsabiliza-‐
se
apenas
a
pessoa
colectiva
e
não
os
agentes.
Mas
nem
sempre
é
assim.
Mas
quando
há
crime,
já
respondem.
A
responsabilidade
delitual
pode
conviver
a
par
com
a
criminal.
a. Saber
se
a
Sociedade
pode
ser
responsável;
b. Sendo
responsável
perante
terceiro,
saber
se
o
colaborador
deixa
de
ser
responsável
perante
o
terceiro;
c. Saber
se
o
colaborador
é
responsável
perante
a
Sociedade.
São
três
questões
distintas.
A
responsabilidade
do
administrador
ou
colaborador
a
nível
interno,
ou
seja,
a
última
questão,
não
cabe
no
âmbito
desta
cadeira
(da
imputação
à
sociedade).
O
terceiro
tema
é
menor.
Ao
nível
da
responsabilidade
dos
administradores,
envolve
a
questão
de
saber
os
deveres.
Quanto
aos
trabalhadores
quanto
à
empresa,
cabe
no
Direito
do
Trabalho.
A
ideia
de
privilégio
de
exclusão
de
responsabilidade
nunca
deve
ser
aceite
no
que
toca
a
casos
de
maior
ética
e
ofensa
ao
direito.
P.e.,
o
administrador
que
decreta
que
a
discoteca
fica
a
trabalhar
até
mais
tarde,
causando
ruídos,
vai
responder
concomitantemente
à
sociedade.
7.5. IMPUTAÇÃO
DE
ESTADOS
SUBJECTIVOS
(ART.
259º
DO
CÓDIGO
CIVIL
APLICADO
ÀS
PESSOAS
COLECTIVAS)
É
um
contexto
negocial.
É
a
propósito
da
celebração
de
negócios
jurídicos
que
se
fala
no
art.
259º.
É
um
problema
de
imputação
negocial,
em
rigor.
Exemplos:
(1) Impugnação
Pauliana
–
actos
de
diminuição
de
garantia
patrimonial,
que
são
impugnáveis
pelos
credores,
com
a
sanção
de
ineficácia
relativa
face
aos
credores.
Serve
para
a
protecção
dos
credores.
(2) Redução
em
Benefício
da
Massa
–
é
um
mecanismo
em
contexto
negocial
em
caso
de
insolvência.
Os
bens
são
enquadrados
no
património
da
sociedade.
Tem
o
mesmo
efeito
de
ineficácia
relativa.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Quando
há
actos
gratuitos,
é
mais
fácil
a
impugnação
pauliana.
Quando
há
actos
onerosos,
tem
de
haver
má-‐fé
do
terceiro
e
do
representante.
A
situação
mais
prática
com
pessoas
singulares:
J
tem
dívidas,
pelo
que
coloca
os
bens
em
nome
dos
filhos
(terceiros),
pelo
que,
se
o
acto
for
gratuito,
não
se
tem
de
provar
a
má-‐fé;
mas
se
é
onerosa,
o
credor
tem
de
provar
que
J
estava
de
má-‐fé
–
o
que
é
fácil,
na
medida
em
que
ele
sabia
das
dívidas
que
tinha.
Assim,
o
mais
difícil
é
provar
a
má-‐fé
do
terceiro
em
cujo
nome
ficaram
os
bens.
Em
relação
ao
benefício
da
massa,
há
casos
em
que
a
lei
opera
sem
prova
da
má-‐fé.
Se
constitui
uma
garantia
real
em
meses
antes
da
insolvência,
há
um
período
suspeito.
J,
é
pessoa
singular.
Na
vida
real,
o
mais
comum
são
actos
que
se
querem
impugnar,
praticados
por
pessoas
colectivas,
pelo
que
temos
um
problema
de
imputação
de
má-‐fé,
dos
estados
subjectivos,
à
pessoa
colectiva.
Antes
do
caso
BES,
as
várias
empresas
do
grupo
constituíram,
na
reta
final,
uma
garantia
de
penhores
financeiros
–
ora,
a
constituição
de
garantias
à
beira
da
insolvência
dá
benefício
da
massa
se
houver
má-‐fé.
Os
administradores
do
BES
e
das
empresas
do
grupo,
ao
constituírem
os
penhores
a
favor
do
BES,
actuaram
de
má-‐fé
com
consciência
de
que
estavam
a
prejudicar
os
restantes
credores
do
grupo
BES?
O
segundo
exemplo
é
dos
vícios
na
formação
do
negócio
jurídico.
Na
compra
e
venda
de
um
televisor,
por
regra,
há
uma
pessoa
singular.
Mas
se
for
uma
compra
e
venda
entre
empresas
–
quer
por
venda
do
estabelecimento,
quer
por
venda
das
participações
de
controlo
-‐,
há
um
problema
de
erro.
No
geral,
são
problemas
de
incumprimento
e
não
de
erro
(mas
pode
haver
excepções).
Se
no
anexo
do
contrato
não
vem
especificado,
é
de
erro.
Mas,
por
vezes,
podem
haver
o
erro
quando
o
comprador
é
uma
empresa
(estados
subjectivos
relevantes).
Os
estados
subjectivos
geram
problemas
de
imputação
dos
administradores
à
sociedade
comercial.
O
art.
259º
é
a
única
norma
que
trata
deste
assunto.
Vale
para
a
representação
voluntária.
Nesta
representação,
temos,
tipicamente,
o
representante
e
o
representado.
Nas
pessoas
colectivas
é
mais
complexo.
Há
vários
órgãos.
Do
ponto
de
vista
do
estado
subjectivo
e
das
pessoas
que
actuam
em
nome
dela,
há
sempre
mais
pessoas.
A
vontade
do
representado
não
existe,
a
não
ser
que
se
entenda
que
é
a
vontade
dos
órgãos
que
não
celebraram
o
contrato.
Mas
aqui
já
temos
um
problema
de
imputação,
de
saber
se
essa
vontade
era
necessária
e
se
essa
vontade
foi
realmente
a
daqueles
órgãos.
Se
o
administrador
que
actuou
estava
de
má-‐fé,
para
efeitos
de
impugnação
pauliana,
pode
o
credor
invocar
a
impugnação
pauliana.
Mas,
imaginando
que
dos
vários
que
actuaram,
só
um
estava
em
erro,
basta
o
erro
de
um.
Se
estava
em
má-‐fé,
basta
à
má-‐fé
de
um
dos
que
actuou.
Imaginando
que
estavam
três
de
má-‐fé
e
um
em
erro,
surge
a
questão,
a
qual
não
está
resolvida
pelo
artigo.
Os
que
assinaram
não
estavam
de
má-‐fé,
mas
o
CEO
estava.
Quid
iuris.
O
art.
259º/1
não
responde.
Quanto
ao
número
2,
parece
ajudar.
O
representado
não
pode
beneficiar
quando
o
outro
está
de
má-‐fé.
Isto
está
pensado
para
um
representado
que
tenha
cérebro
e
a
pessoa
colectiva
não
tem
cérebro.
O
CEO
de
má-‐fé
vale
contra
a
sociedade
por
via
da
interpretação
extensiva.
Se
for
um
funcionário
menor,
a
lei
não
dá
critérios.
Os
alemães
defendem
que
depende
das
funções
que
desempenham
dentro
da
sociedade.
Se
havia
um
dever
de
reportar
internamente
a
circunstância
que
forma
um
prejuízo
para
os
credores,
há
imputação.
Aqui
temos
os
problemas
da
organização
dos
deveres
como
critério
para
o
Princípio
da
Culpa
em
sede
de
imputação
para
as
pessoas
colectivas.
Se
a
má-‐fé
for
de
uma
pessoa
que
tinha
o
dever
de
gerir
aquela
área
ou
de
comunicar
a
informação
ao
Conselho
de
Administração,
há
imputação,
derivado
do
Pp
da
Culpa.
As
pessoas
têm
de
ser
julgadas
com
base
dos
deveres
na
organização.
7.6. DESCONSIDERAÇÃO
DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
Jogam-‐se,
nesta
teoria,
situações
que
têm
a
ver
com
a
responsabilidade
dos
sócios
e
situações
de
imputação.
A
primeira
coisa
a
dizer
é
que
se
trata
de
uma
criação
jurisprudencial
norte-‐americana.
Há
uma
desconsideração
da
entidade
corporativa
ou
do
levantamento
da
personalidade
jurídica.
Esta
teoria
consiste
numa
derrogação
da
autonomia
subjectiva
e/ou
patrimonial
entre
a
sociedade
e
os
sócios.
É
a
derrogação
do
Pp
da
Separação,
entre
os
sócios
e
o
património
da
pessoa
colectiva.
Pontualmente,
desconsideramos
essa
separação.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Por
um
lado,
temos
situações
de
imputação
e,
por
outro,
de
responsabilidade.
São
situações
em
que,
para
efeitos
de
variadas
normas
jurídicas
do
OJ,
em
vez
de
imputar
o
comportamento
à
esfera
jurídica
da
sociedade,
imputa-‐
se
ao
sócio.
É
extramente
frequente.
O
art.
877º
do
CC
–
venda
a
filhos
e
netos
–
é
um
exemplo
típico.
Uma
das
hipóteses
mais
evidentes
para
contornar
este
artigo
é
vendendo
a
uma
sociedade
de
um
filho,
não
tendo
os
outros
qualquer
acesso.
O
outro
exemplo
são
as
proibições
de
concorrência
–
art.
398º
do
CSC.
Em
vez
de
exercer
eu
próprio
uma
actividade
que
é
concorrente,
crio
uma
sociedade,
a
qual
actua
como
concorrente.
São
formas
de
contorno.
As
outras
situações
são
as
de
responsabilidade
–
criação
de
responsabilidade
dos
sócios
pelas
dívidas
sociais;
é
a
derrogação
da
regra
de
ouro
do
capitalismo.
Situações
típicas
de
abuso,
considerados
pela
Jurisprudência:
• Mistura
de
patrimónios:
Ex.:
sociedade
de
construção
civil,
em
que
se
juntava
o
carro
para
assuntos
pessoais;
a
empresa
pagou
o
casamento
da
filha.
• Subcapitalização
inicial:
constituição
da
sociedade
com
capitais
próprios
reduzidos.
O
tribunal
vai
considerar
que
devia
ter
colocado
mais
capital,
na
medida
em
que,
daquela
forma,
estava
a
externalizar
o
risco
dos
credores.
Por
ter
feito
isso,
tem
de
responder
pelas
dívidas.
• Subcapitalização
superveniente:
prolongamento
da
vida
da
sociedade
quando
já
está
insolvente
ou
quando
se
faz
uma
subcapitalização
forçada
(ex.:
venda
a
terceiro
–
dissipação
do
património).
Sendo
uma
teoria,
é
necessária
uma
base
legal
para
que
se
possa
aplicar
na
prática.
Segundo
Freitas
do
Amaral,
os
artigos
deviam
constar
da
Constituição
(os
artigos
da
interpretação
da
lei).
A
base
legal
é
difícil.
Segundo
PCN:
a. Há
determinados
casos
especiais
que,
no
fundo,
foram
acolhidos
pelo
legislador.
É
o
caso
do
art.
84º
do
CSC.
O
artigo
tem
uma
norma
que
é
inspirada
na
criação
jurisprudencial
norte-‐americana,
na
ideia
de
desconsideração
da
personalidade
jurídica.
PCN
considera
que
é
uma
questão
explícita,
e
não
alvo
de
uma
querela.
Se
foi
feita
a
norma,
há
consagração
legal
da
teoria.
A
letra
da
lei
tem
a
ideia
da
mistura
de
patrimónios.
A
subcapitalização
inicial
já
não
cabe;
a
superveniente,
mais
ou
menos.
As
sociedades
que
tenham
mais
de
um
sócio
já
não
cabem
no
presente
artigo.
Para
lá
disto,
podemos
dizer
que
nas
situações
de
imputação
é
fácil,
na
medida
em
que
está
em
causa
uma
fraude
à
lei
(artigos
que
proíbam
–
problema
de
interpretação:
artigo
da
venda
aos
filhos,
p.e.).
b. Quanto
às
situações
de
responsabilidade,
não
há
base
legal.
Quanto
muito,
art.
334º
do
CC
–
abuso
de
direito.
Nas
situações
de
desconsideração
por
questões
de
responsabilidade,
esta
é
a
única
norma
possível.
Pode
sempre
ser
utilizada,
apesar
de
poderem
haver
situações
manifestas
de
ofensa
aos
bons
costumes.
c. O
art.
21º
é
uma
norma
geral
que,
em
contexto
de
normas
em
conflito,
determina
que
não
pode
haver
fraude
à
lei
[Direito
Internacional
Privado].
d. Nestas
situações
de
responsabilidade,
além
de
não
haver
grande
base
legal,
frequentemente,
actua-‐se
contra
legem,
i.e.,
actua-‐se
ostensivamente
contra
a
regra
da
irresponsabilidade
dos
sócios
pelas
dívidas
sociais.
8. CONSTITUIÇÃO
DAS
SOCIEDADES
COMERCIAIS
A
ideia
de
acto
colectivo
é
de
Gierke,
predominante
em
Oliveira
Ascensão.
Em
vez
de
um
contrato
de
DN,
há
um
conjunto
de
DN
que
apontam
na
mesma
direcção.
Mas
é
uma
má
ideia,
porque
nem
todos
os
contratos
são
um
contrato
de
troca.
Esta
ideia
de
acto
colectivo
coloca
em
confusão
a
formação
e
o
conteúdo
do
contrato.
Há
várias
categorias
de
contrato,
mas
são
todos
contratos.
A
segunda
nota
é
que
a
constituição
de
sociedades
comerciais
é
um
processo,
i.e.,
o
conjunto
de
actos
que
se
sucedem
no
tempo
(conjunto
de
actos
+
tempo).
É
importante
saber
que
a
formação
do
contrato
é
um
processo.
Além
do
NJ
institutivo,
há
registo
e
publicidade.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Outra
nota
introdutória
é
a
tendência
de
desburocratização.
Em
2006
deixou
de
ser
necessária
a
escritura
pública
para
a
constituição
das
empresas.
depois
temos
a
empresa
na
hora.
A
propósito
do
abandono
da
escritura
pública,
a
1ª
Directiva
de
Coordenação
exige
dois
tipos
de
controlo,
sendo
que,
quando
se
abandonou
a
escritura,
passou
a
existir
só
um,
o
que
vai
contra
a
Directiva.
É
uma
desburocratização
associada
a
elementos
electrónico.
Diminui
o
tempo
para
se
constituir
a
sociedade,
na
medida
em
que
segue
automaticamente
para
a
conservatória,
fazendo
logo
o
registo.
A
identidade
da
firma
corresponde
ao
nome
da
sociedade.
Não
pode
ser
confundível
com
outra
que
já
existe.
Antes
de
constituir,
tem
de
ter
a
certeza
de
que
aquele
nome
é
viável.
Na
empresa
na
hora,
há
certificados
pré-‐criados,
para
não
haver
problemas
na
constituição
da
empresa.
Surge
o
problema
das
sociedades
em
formação
(irregulares),
sendo
processos
em
que
há
sociedades
que
actuam
quando
ainda
não
terminaram
o
seu
negócio
constitutivo.
Falta
o
registo
e
a
propriedade.
Há
um
processo
e
sociedades
irregulares
por
muito
ou
pouco
tempo,
porque
querem
ficar
à
margem
da
legalidade
em
economia
paralela,
não
sujeitas
a
registo,
que
diminuem
os
custos
de
transacção.
8.1. MODALIDADES
DE
CONSTITUIÇÃO
Existem
várias
modalidades:
(1)
comum;
(2)
empresa
na
hora;
(3)
empresa
online;
(4)
com
registo
prévio;
(5)
com
a
subscrição
pública;
(6)
por
fusão,
cisão
ou
transformação
–
por
reestruturação;
(7)
saneamento
por
transmissão;
(8)
por
acto
legislativo
formal
–
por
lei.
8.1.1. CONSTITUIÇÃO
POR
MODALIDADE
COMUM
Tem
três
actos:
negócio
jurídico
institutivo,
registo
e
publicidade
(art.
7º
do
CSC).
Tem
de
haver
reconhecimento
das
assinaturas.
Há
determinados
actos
que
podem
ser
praticados
por
advogados,
inclusive.
O
registo
é
exigido
pelos
arts.
5º
e
18º,
sendo
feito
na
Conservatória
do
Registo
Comercial.
Os
sócios,
ou
se
for
feito
perante
certo
notário,
têm
regras
semelhantes
do
Registo
Predial.
Quem
exercer
funções
públicas
–
notários
–
têm
um
dever
oficioso
de
registo.
Se
não
for
o
notário,
são
as
partes
que
têm
de
enviar
para
a
Conservatória.
O
art.
167º
traz
a
norma
da
publicidade
obrigatória.
Para
efeitos
de
impugnação
pública,
além
da
Conservatória,
tem
de
ser
dada
a
publicidade
por
via
da
publicação
no
sítio
electrónico
do
Registo
Nacional
das
Pessoas
Colectivas
(antes
era
em
Diário
da
República).
Além
do
registo
(art.
18º),
que
tem
por
base
os
factos
geradores
de
situações
jurídicas.
Também
temos
a
outra
forma
de
publicidade
–
Registo
Nacional
das
Pessoas
Colectivas
(art.
167º).
É
promovida
pelos
serviços
registrais.
Aula
de
14
de
março
de
2017
8.1.2. CONSTITUIÇÃO
POR
MODALIDADE
DA
EMPRESA
NA
HORA
É
regulada
pelo
DL
111/2005.
É
uma
forma
expedita,
rápida,
de
criação
de
sociedades
comerciais.
Tem
como
o
objectivo
a
constituição
de
uma
empresa
em
menos
de
uma
hora.
Os
aspectos
essenciais:
só
para
as
sociedades
anónimas
e
por
quotas
{não
há
problema,
na
medida
em
que
são
as
que
têm
mais
procura}.
Características:
A
subscrição
de
um
negócio
jurídico
institutivo
de
modelo
previamente
aprovado
(arts.
3º
e
8º/1,
alínea
d));
8
Utilização
de
uma
firma
previamente
criada
e
reservada
a
favor
do
Estado
–
nome
da
sociedade
(art.
3º/3);
8
As
firmas
não
se
podem
confundir,
pelo
que
tem
de
haver
um
controlo
prévio
das
firmas
(dos
nomes).
Existe
assim
uma
autoridade
administrativa
que
faz
esse
controlo.
O
direito
ao
nome
é
um
direito
de
personalidade
das
pessoas
colectivas;
por
outro
lado,
pode
ser
considerado
um
direito
de
propriedade
intelectual
(direito
absoluto).
Não
deve
ser
confundido
com
a
marca.
A
marca
é
um
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Tem
que
haver
um
contrato
com
o
sindicato
bancário,
com
um
conjunto
de
intermediários
financeiros,
entre
os
promotores
da
subscrição
pública
e
o
conjunto
de
intermediários
financeiros,
no
sentido
de
colocaram
a
oferta
no
mercado
para
receberem
a
subscrição.
É
uma
forma
de
cooperação
interempresarial.
Constituição
da
Sociedade
na
Realização
da
Assembleia
Constitutiva:
1. Realização
de
Assembleia
Constitutiva
(mera
formalização);
2. Celebração
e
assinatura
do
contrato
pelos
promotores;
3. Registo
definitivo;
4. Publicações
obrigatórias.
No
caso
do
processo
de
constituição
da
sociedade
por
subscrição,
os
próprios
promotores
são
responsáveis;
os
intermediários
financeiros
que
assistem
à
oferta.
Há
muitos
intervenientes
que
podem
ter
responsabilidade.
Este
processo
não
é
frequente,
uma
vez
que
existe
uma
alternativa
mais
frequente,
designadamente,
constituir
uma
sociedade
comercial
nos
termos
normais
e,
depois,
colocar
nos
estatutos,
uma
autorização
para
que
o
CA
liberte
ou
aumente
o
capital.
A
segunda
alternativa
é
a
constituição
de
uma
sociedade
com
forte
participação
de
instituições
de
crédito,
as
quais
vão
tentar
vender
as
participações
que
tomaram
de
início.
É
uma
forma
de
entrar
no
público,
embora
distinta
da
subscrição.
8.1.6. CONSTITUIÇÃO
POR
MODALIDADE
DE
FUSÃO,
CISÃO
OU
TRANSFORMAÇÃO
A
fusão
por
constituição
de
nova
sociedade
(art.
97º
do
CSC)
–
duas
ou
mais
sociedade
juntam-‐se
para
criar
uma
única
sociedade.
Há
essencialmente
duas
modalidades:
por
incorporação
–
uma
sociedade
recebe
a
outra,
que
já
existia;
por
constituição
de
uma
nova
sociedade
–
juntam-‐se
duas
para
dar
origem
a
uma
nova
sociedade.
Temos
ainda
o
caso
de
cisão
simples
–
é
o
oposto
da
fusão.
Em
vez
de
termos
dois
estabelecimentos
comerciais
que
se
juntam
numa
única
sociedade;
na
cisão,
há
um
desmembramento
de
um
estabelecimento
comercial,
que
dá
origem
a
dois,
cada
um
como
uma
nova
sociedade.
Pode
dar-‐se
que,
mm
vez
de
se
criar
uma
nova
sociedade,
essa
parte
do
estabelecimento
não
cria
uma
nova
sociedade,
mas
passa
para
uma
sociedade
que
já
existia.
Sociedade
A
Cisão:
criação
da
Sociedade
B
–
massa
patrimonial
é
transferida
para
uma
nova
Estabelecimento
sociedade
=
a
criação
de
uma
nova
pessoa
colectiva
jurídica.
A
transformação
extintiva
ou
novatória
–
quando
uma
sociedade
comercial
de
um
tipo
se
transforma
num
outro
tipo.
Há
uma
modalidade
menos
frequente
que
se
transforma
noutra.
8.1.7. CONSTITUIÇÃO
POR
MODALIDADE
DE
SANEAMENTO
POR
TRANSMISSÃO
13
São
os
Bancos
que
recebem
a
subscrição.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Releva
o
art.
199º
do
Código
de
Insolvência
e
Recuperação
de
Empresas.
há
uma
massa
insolvente,
mas
que
tem
ainda
activos
que
geram
cash
flows,
estabelecimentos
comerciais
produtivos.
Constitui-‐se
a
nova
sociedade
e
colocam-‐se
lá
estes
estabelecimentos
comerciais.
Actos
relevantes
(ou
Processo):
1. Proposta
de
plano
de
insolvência,
com
os
estatutos
em
anexo;
2. Deliberação
de
aprovação
em
Assembleia
de
Credores;
3. Homologação
judicial;
4. Registo;
5. Publicidade.
As
pessoas
vão
para
insolvência
quando
já
não
têm
capitais
próprios
(só
há
dívida
para
os
credores).
É
por
esta
razão
que
há
uma
Assembleia
de
Credores,
são
eles
que
estão
na
posição
de
decidir.
Geralmente,
cerca
de
90%
das
empresas
não
são
recuperadas.
São
liquidadas,
vendidas
aos
pedações
em
processo
de
insolvência.
Está
a
vender
acima
dos
custos;
a
criar
margem;
mas
pode
ter
um
grande
peso
de
dívida
{só
nestes
casos
é
que
poderá
haver
uma
reestruturação
e
não
uma
liquidação
–
os
credores
passam
a
ser
os
novos
accionistas;
a
empresa
será
criada
sem
o
peso
da
dívida}.
8.1.8. CONSTITUIÇÃO
POR
MODALIDADE
DE
ACTO
LEGISLATIVO
FORMAL
Aqui
não
há
um
processo
específico.
Há
o
processo
legislativo.
8.2. ELEMENTOS
DO
CONTRATO
DE
SOCIEDADE
Importa
o
art.
9º
do
CSC.
Em
primeira
instância,
elenca
o
conteúdo
obrigatório
do
negócio
institutivo.
É
também
frequente
ser
denominado
de
menções
ou
cláusulas
obrigatórias.
O
contrato
é
o
conjunto
de
normas
privadas
que
criam
o
efeito
jurídico
entre
as
partes.
Há
uma
necessidade
de
interpretação
do
contrato
para
se
verificar
quais
os
efeitos
do
contrato.
Cada
tipo
de
contrato
tem
um
regime,
que
pode
ser
mais
ou
menos
injuntivo.
Nos
tipos
das
sociedades
comerciais,
há
um
regime
injuntivo
relativamente
extenso,
i.e.,
há
elementos
do
contrato
que
têm
de
estar
obrigatoriamente
presentes.
Os
elementos:
⇒ Identificação
dos
sócios;
⇒ Tipo
de
sociedade
comercial;
⇒ Firma
(o
nome);
14
⇒ O
objecto
(que
deve
ser
articulado
com
o
art.
11º) ;
15
⇒ Sede
da
sociedade
–
social
ou
estatutária
[diversa
da
sede
efectiva] ;
16
⇒ Capital
social
(tem
de
constar
dos
estatutos) ;
17
⇒ Descrição
e
valor
das
entradas
(número
e
quantidade
das
participações
sociais)
14
Proibição
de
sociedades
universais:
que
tenham
um
objecto
social
tão
amplo
que
se
torne
incaracterístico.
Nus
casos,
é
um
objecto
preciso;
noutros,
é
um
elenco
muito
amplo,
que
pode
dar
para
muita
coisa.
Em
princípio,
a
cláusula
do
objecto
não
possui
os
efeitos
externos,
contra
terceiro.
15
A
distinção
é
essencial,
na
medida
em
que
a
sede
social
ou
estatutária
é
relevante
para
certos
bens
jurídicos
e
a
sede
efectiva
para
outros.
P.e.,
as
Assembleias
Gerais
são
feitas
na
estatutária.
A
informação
da
sociedade
é
na
sede
estatutária,
porque
é
lá
que
estão
os
documentos
da
sociedade.
Por
outro
lado,
na
sede
efectiva,
há
outros
efeitos.
P.e.,
se
a
sociedade
foi
constituída
em
Lisboa,
tem
a
sede
estatutária
em
Lisboa,
mas
a
Direcção
reúne
em
Madrid,
os
critérios
do
direito
aplicável
serão
diferentes.
16
É
uma
cifra
pecuniária
estatutária
que
se
repercute
nas
participações
sociais,
nas
entradas
dos
sócios.
Tem
que
estar
expresso
em
moeda
com
curso
legal
em
Portugal.
Das
sociedades
em
nome
colectivo,
em
que
todos
os
sócios
entram
com
prestações
de
serviços,
quando
há
apenas
entradas
industriais,
não
há
capital.
Há
sempre
capital
social,
a
não
ser
neste
tipo
de
sociedades.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
8.2.1. CLÁUSULAS
NÃO
OBRIGATÓRIAS,
MAS
FREQUENTES
Se
nada
se
disser,
a
sociedade
dura
por
tempo
indeterminado
(art.
15º
do
CSC).
Mas
é
possível
colocar
a
cláusula
de
duração
no
contrato
ou
nos
estatutos.
8.2.2. AQUISIÇÃO
DE
PARTICIPAÇÕES
SOCIAIS
NOUTRAS
SOCIEDADES
O
art.
11º/4
e
5
consagra
regras
que
permitem
que
os
estatutos
disponham
de
maneira
diferente.
O
regime
supletivo
é
pouco
permissivo,
o
que
dificulta
esta
aquisição.
O
frequente
é
que
os
estatutos
tenham
cláusulas
permissivas,
no
sentido
de
permitir
tudo.
Habilitam
as
sociedades
a
terem
participações
sociais
noutras
sociedades.
Sociedade
A
Sociedade
B
FORNECEDOR
Sociedade
A:
o
objecto
Sociedade
B:
o
objecto
social
é
a
metalomecânica.
social
é
a
indústria
mineira.
O
proprietário
da
Sociedade
B
está
prestes
a
falecer,
logo,
o
proprietário
da
Sociedade
A
tem
interesse
em
comprar
uma
parte
da
Sociedade
B,
uma
vez
que
esta
é
sua
fornecedora.
A
aquisição
vai
depender
das
cláusulas
do
contrato
de
sociedade,
daí
que
se
entenda
que
essas
devam
ser
mais
permissivas,
pois
pelo
regime
supletivo
seria
difícil.
8.2.3. PERÍODO
DE
EXERCÍCIO
O
art.
9º/1,
alínea
i)
é
relevante
para
efeitos
de
prestação
de
contas
do
art.
65º
(1
de
janeiro
a
31
de
dezembro).
8.2.4. VANTAGENS,
INDEMNIZAÇÕES
E
RETRIBUIÇÕES
ASSOCIADAS
À
CONSTITUIÇÃO
DA
SOCIEDADE
O
art.
16º
não
deve
ser
confundido
com
o
art.
24º.
O
art.
24º
regula
a
matéria
dos
direitos
especiais
dos
sócios.
O
art.
16º
apresenta
as
vantagens,
indemnizações
e
retribuições
associadas
à
constituição
da
sociedade,
o
que
não
deve
ser
confundido
com
os
direitos
especiais
dos
sócios.
Todos
os
sócios
têm
determinados
direitos,
mas
há
direitos
que
são
só
de
alguns
sócios.
Por
sua
vez,
o
art.
16º
regula
vantagens
atribuídas
a
certas
pessoas
–
sócios
ou
não
-‐,
associadas
à
constituição
da
sociedade,
p.e.,
promotores.
As
sociedades
constituem-‐se
através
de
um
processo
que
pode
ainda
não
estar
acabado
(art.
19º).
Os
estatutos
podem
estabelecer
que
determinados
negócios
poderão
vincular
a
sociedade
assim
que
terminar
o
processo
de
constituição
da
sociedade.
Em
especial,
a
articulação
do
art.
19º,
alíneas
c)
e
d)
com
o
número
2.
O
art.
19º
trata
da
assunção
de
negócios
anteriores
à
constituição
e
ao
registo.
As
sociedades
constituem-‐se
através
de
um
processo
e,
por
vezes,
começam
a
ser
sociedade
antes
de
terminar
esse
processo.
Ex.:
A
e
B,
mais
dez
amigos,
constituíram
uma
sociedade.
Contudo,
A
e
B
são
os
mais
activos
e
fizeram
um
contrato
com
carácter
preliminar
com
o
Ministério
da
Economia.
O
contrato
celebrado
por
A
e
B,
em
função
da
futura
constituição
da
17
Os
estatutos
têm
que
identificar
a
quantidade
e
o
valor
nominal
das
partes,
quotas
ou
acções.
P.e.,
o
BES,
antes
de
ser
resolvido,
era
detentor
de
5
milhões
de
acções,
com
o
valor
de
x.
Essa
informação
tinha
de
estar
nos
estatutos.
Para
além
disso,
também
tem
de
ser
indicado
o
tipo
de
prestação.
Nas
sociedades
anónimas,
há
mais
um
elemento
obrigatório
–
estrutura
orgânica
(art.
272º
e
278º).
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
sociedade,
fica
estabelecido
nos
estatutos,
que
são
assumidos
pela
sociedade
assim
que
terminar
o
processo
constitutivo.
8.2.5. COMPETÊNCIA
DO
CONSELHO
DE
ADMINISTRAÇÃO
EM
MATÉRIA
DE
AUMENTO
DE
CAPITAL
SOCIAL
O
frequente
é
começar
a
sociedade
de
forma
simples
e,
depois,
produzir-‐se
um
aumento
de
capital.
Acontece
apenas
nas
sociedades
anónimas
(art.
456º,
CSC).
Se
esta
transformação
constar
dos
estatutos,
poderá
não
ser
necessária
a
autorização
dos
sócios.
8.2.6. PRESTAÇÕES
SUPLEMENTARES
E
DIREITO
DE
INFORMAÇÃO
PELOS
SÓCIOS
Se
não
se
disser
nada,
vigora
o
que
está
na
lei.
É
inteligente
regular
esta
matéria
nos
estatutos,
por
via
a
colocar
regras
favoráveis
aos
sócios
minoritários,
e
restringir
o
acesso
à
informação
ao
sócio
maioritário.
Podem
ainda
existir
as
regras
sobre
distribuição
dos
lucros:
a. Sociedades
por
quotas
–
art.
217º;
b. Sociedades
anónimas
–
art.
294º.
No
art.
217º
há
uma
regra
de
protecção
dos
sócios
minoritários.
Os
lucros
não
podem
deixar
de
ser
distribuídos
numa
certa
medida.
Excepto
uma
maioria
de
3/4,
não
podem
deixar
de
ser
distribuídos
metade
dos
lucros.
Outro
tema
regulado
nos
estatutos
é
o
regime
de
transmissão
das
participações
sociais.
Para
a
sociedade
por
quotas
(art.
229º),
há
um
tipo
de
maior
elasticidade.
É
possível
transmitir
ou
criar
regras
quer
no
sentido
restritivo,
quer
permissivo.
Já
no
que
toca
às
sociedades
anónimas
(art.
328º/2),
há
maior
liberdade
de
transmissão
das
acções,
com
a
possibilidade
de
serem
criadas
restrições.
Por
fim,
as
normas
injuntivas
da
lei
têm
de
ser
cumpridas.
Por
outro
lado,
as
dispositivas
(art.
9º/3)
podem
ser
afastadas
pelos
estatutos
ou
por
deliberação
dos
sócios
(mas
apenas
se
os
estatutos
criarem
essa
possibilidade).
O
artigo
é
muito
relevante,
pois
pode
fazer
constar
dos
estatutos
uma
cláusula
que
permita
aos
sócios,
por
mera
deliberação
–
a
qual,
simples
–
a
derrogação
dos
estatutos.
Se
os
estatutos
forem
contrários
aos
elementos
obrigatórios
do
contrato,
a
consequência
é
a
nulidade,
sendo
que
pode
ser
admissível
a
redução
na
parte
que
for
nula.
Aula
de
17
de
março
de
2017
8.3. REGRAS
DE
INTERPRETAÇÃO
DOS
ESTATUTOS
Não
se
trata
de
interpretação
de
um
contrato
ou
de
negócio
jurídico
institutivo.
Trata-‐se
da
interpretação
dos
estatutos
do
contrato
de
sociedade,
que
tende
a
perdurar
no
tempo.
Aqui
há
uma
querela
doutrinária:
a
solução
mais
evidente
seria
aplicar
o
art.
236º
do
Código
Civil,
as
regras
normais.
Porém,
uma
parte
substancial
da
doutrina
considera
que
não
se
devem
aplicar
estas
regras,
mas
sim
as
da
interpretação
da
lei,
ou
seja,
art.
9º
do
CCiv.
A
interpretação
intermédia
distingue,
dentro
dos
estatutos:
As
cláusulas
relativas
aos
direitos
dos
sócios
(especiais)
e
as
relativas
à
organização
da
pessoa
colectiva
(organizacional);
para
estas
últimas,
faria
sentido
a
aplicação
do
art.
9º
CCiv
e
às
primeiras
o
art.
236º
CCiv.
A
generalidade
dos
contratos
respeita
a
poucas
pessoas;
as
que
subscreveram
os
contractos.
Pelo
contrário,
os
negócios
jurídicos
institutivos
das
sociedades
perduram
mais
no
tempo
e
entram
em
contacto
com
terceiros,
porque
os
sócios
que
constituem
a
sociedade
não
são
os
que
a
acompanham
até
ao
seu
fim;
estão
sempre
a
entrar
e
a
sair
sócios,
e
nas
sociedades
anónimas,
em
especial,
nas
abertas,
temos
muita
gente.
Neste
contexto,
em
que
os
interessados
num
contrato
de
sociedade
são
muitos
e
não
são
sempre
os
subscritores
iniciais,
surge
esta
tendência
doutrinária
que
usa
o
art.
9º
CCiv
em
detrimento
do
art.
236º
CCiv.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
⇒ Para
PEDRO
CAETANO
NUNES,
quem
se
afasta
do
art.
236º
e
vai
para
o
art.
9º,
está
a
interpretá-‐lo
mal,
isto
porque
o
236º
consagra
a
teoria
da
impressão
do
declaratário
comum,
e
o
nosso
CCiv
é
essencialmente
objectivista.
Mas
deve
fazer-‐se
a
ressalva
de
imputação
ao
declarante,
clara
influência
do
subjectivismo.
Em
Portugal,
sobretudo
CARLOS
FERREIRA
DE
ALMEIDA
explica
que
o
declaratário
do
art.
236º
pode
ser
uma
pluralidade
de
pessoas,
nomeadamente
quando
há
proposta
dirigida
ao
público.
Numa
proposta
dirigida
ao
público,
o
declaratório
é
o
menor
denominador
comum
do
público.
O
declaratário
não
é
uma
pessoa,
são
todos,
e
o
236º
funciona,
apesar
de
não
haver
apenas
um.
Assim,
se
se
adapta
a
situações
de
pluralidade
de
declaratários,
não
devemos
interpretar
o
art.
9º,
devemos
é
interpretar
no
sentido
de
os
declaratários
não
serem
só
os
institutivos,
mas
também
os
que
entram
na
sociedade
ao
longo
da
sua
vida;
não
o
fazendo,
devemos
adoptar
a
posição
intermédia.
Em
situações
de
fronteira
é
importante
perceber
quem
é
o
declaratário,
quais
as
regras
de
interpretação,
e
neste
contexto
deve
aplicar-‐se
o
art.
236º
do
CCiv,
com
o
enquadramento
explicado
acima.
Registo
O
registo
e
a
publicação
são
sempre
obrigatórios.
De
acordo
com
o
art.
5º,
CSC,
o
registo
tem
efeito
de
aquisição
da
personalidade
jurídica
plena.
Porém,
não
é
pacífico.
MENEZES
CORDEIRO,
na
tradição
de
OLIVEIRA
ASCENSÃO
defendem
a
ideia
de
que
a
personalidade
já
existe
antes
do
registo.
O
registo
tem
efeito
de
assunção
de
posições
jurídicas
que
remete
para
o
art.
19º,
CSC.
Ao
abrigo
do
presente
artigo,
pode
consignar-‐se
nos
estatutos
que
determinados
negócios
-‐
anteriores
à
celebração
do
contrato
de
sociedade
-‐
são
assumidos
por
esta,
a
partir
do
registo
[daí
que
se
diga
que
o
registo
tem
também
efeito
de
assunção].
Tem
um
reflexo:
18
retira
responsabilidade,
tem
eficácia
liberatória
em
relação
aos
sócios
e
gerentes
que
intervieram
nestes
negócios.
Celebra-‐se
contratos
em
nome
da
sociedade
quando
esta
ainda
não
existe,
mas
só
fica
limitada
com
o
registo
e
é
nesta
altura
que
se
retira
a
responsabilidade
dos
gerentes
e
sócios
que
actuaram
nesta
altura.
Sociedade
Irregulares
e
Inválidas
Sociedades
Irregulares
Não
tem
grande
aplicação
prática.
Está
um
problema
de
início
de
actividade
antes
do
registo.
Isto
convoca
duas
situações
típicas:
transitoriedade
e
falsa
transitoriedade.
São
aquelas
situações
em
que
temos
que
avançar
porque
está
quase
a
acabar
o
registo,
e
a
falsa
é
quando
actuamos
à
sombra
da
lei
durante
muito
tempo,
não
registam,
porque
não
querem.
Temos
situações
nas
sociedades
irregulares
que
são
incontornáveis
e
estão
ligadas
ao
processo
composto
por
vários
actos
e
que
necessitam
de
algum
tempo,
não
é
instantâneo,
mas
também
temos
situações
patológicas,
em
que
não
há
por
parte
das
sociedades
vontade
em
regularizar
a
situação.
{Por
vezes
a
doutrina
tende
a
estudar
bastante
este
tema,
mas
na
opinião
do
professor
não
se
deve
perder
muito
tempo
nesta
matéria.}
Está
regulada
nos
arts.
36º
e
ss
do
CSC,
sendo
que
este
primeiro
trata
de
duas
matérias:
⇒ Número
1:
não
é
a
matéria
da
sociedade
irregular,
mas
sim
aparente.
É
diferente
haver
já
contrato
de
sociedade
com
um
processo
não
concluído,
e
não
haver
de
todo
troca
de
declarações
de
vontade
no
sentido
de
constituir
sociedade
–
aparência.
É
uma
norma
com
inspiração
germânica
e
está
aqui
em
causa
não
haver
negócio
jurídico
sociedade,
nem
sequer
sem
forma,
i.e.,
há
apenas
a
aparência
de
que
houve
contrato
de
sociedade.
A
consequência
é
responsabilidade
solidária
de
quem
criou
a
aparência.
18
Pode
sempre
haver
responsabilidade
pré-‐contratual.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Na
vida
prática
as
situações
não
são
tão
claras;
é
difícil
provar
que
certo
contrato
não
está
redigido,
logo,
dado
a
dificuldade
de
prova,
se
o
terceiro
não
tem
acesso
a
esse
escrito,
será
necessário
haver
uma
guarda
avançada
que
permita
responsabilizar
os
sócios,
mesmo
que
não
consiga
provar
que
o
são,
daí
esta
19
aparência.
⇒ Número
2:
são
as
situações
em
que
há
contrato
e
sociedade,
mas
com
falta
de
forma.
Opera
uma
remissão
para
o
regime
da
responsabilidade
civil:
subsidiária
e
solidária
dos
sócios.
Os
arts.
37º
a
40º
abarcam
situações
em
que
há
um
contrato
de
sociedade
com
forma
legal,
mas
sem
o
registo.
No
art.
36º/2,
há
troca
de
declarações,
demonstrando
vontade
em
constituição
do
contrato;
mas
ainda
não
detém
forma
legal.
Nos
arts.
37º
e
ss
há
já
contrato
com
forma
legal,
mas
não
há
registo.
Nos
casos
em
que
temos
um
escrito
com
assinatura
reconhecida,
mas
não
há
registo,
aplicamos
o
art.
37º
para
as
relações
internas
e
o
art.
40º
para
as
relações
externas.
O
art.
40º/1
determina
que
existe
responsabilidade
solidária
e
subsidiária
por
quem
actuou;
quem
não
actuou
é
responsável
por
aquilo
que
deve
à
sociedade
{é
diferente}.
Na
sequência
deste
regime,
existe
uma
querela
doutrinária
sobre
a
natureza
jurídica
da
sociedade
irregular.
Após
registo
são
pessoas
coletivas
plenas,
mas
e
antes?
Existem,
essencialmente,
três
posições:
Oliveira
Ascensão
e
Menezes
Cordeiro
–
consideram
que
são
pessoas
jurídicas
desde
o
início;
Manuel
António
Pita
–
considera
que
não
tem
qualquer
personalidade;
Pedro
Caetano
Nunes
–
não
tem
personalidade
jurídica
plena,
mas
há
subjectividade
{personalidade
jurídica
rudimentar}.
Temos
ainda
a
posição
defendida
por
ENGRÁCIA
ANTUNES,
sendo
que,
grande
parte
da
Doutrina
partilha
da
mesma
opinião:
Teoria
da
Separação.
Até
haver
registo,
respondem
os
sócios;
a
partir
do
registo,
não
respondem
os
sócios
de
todo.
Sociedades
Inválidas
Tem
que
ver
com
o
problema
dos
vícios
do
negócio
jurídico
institutivo,
com
excepção
da
falta
de
forma,
o
qual
corresponde
ao
problema
das
sociedades
irregulares.
A
lei
distingue
as
situações
em
que
há
registo
e
as
que
não
há,
pois
após
registo
é
mais
difícil
invocar
os
vícios.
Ao
contrário
de
muitos
negócios
jurídicos,
as
sociedades
comerciais
não
são
negócios
jurídicos
de
execução
instantânea,
são
duradouros,
mas
dentro
destes
são
os
mais
duradouros
e
com
mais
particularidades.
É
um
contrato
que
dura
para
lá
da
vida
das
pessoas
que
o
constituem
e
que
tende
a
convocar
relações
com
terceiros
–
sócios
iniciais,
futuros
sócios
e
negócios
com
terceiros.
Aqui
temos
problemas
de
tráfego
jurídico
muito
superiores
aos
contratos
de
execução
instantânea
e
duradoura.
Temos
o
regime
nos
arts.
41º
e
42º.
Antes
do
registo
há
uma
remissão
para
o
regime
geral
dos
vícios
do
negócio
jurídico,
mas
do
ponto
de
vista
da
estatuição
normativa,
temos
o
art.
52º
que
diz
que
não
há
retroatividade,
isto
porque
convoca
terceiros,
logo
liquidamos,
não
destruímos.
Ajustamos
contas
em
função
do
presente.
Ex.:
ilicitude
do
objecto.
A
Sociedade
para
se
dedicar
à
extorsão
ou
para
promover
a
desigualdade
entre
géneros.
Afecta
o
negócio
jurídico
na
globalidade.
Temos
vícios
que
respeitam
não
ao
negócio
como
um
todo,
mas
apenas
a
algumas
declarações
–
regime
do
erro.
Na
constituição
da
sociedade,
temos
que
ver
qual
o
problema.
No
essencial,
devemos
analisar
o
art.
52º,
da
existência
de
eficácia
retroactiva
e
a
remissão
para
o
regime
geral.
19
A
sociedade
unipessoal
foi
criada
após
a
criação
dos
arts.
36º
e
ss,
logo
não
se
utiliza
para
estas
situações.
Não
preciso
de
um
artigo
que
fale
de
responsabilidade
solidária,
porque
sou
apenas
eu
a
responder.
Não
se
coloca
estes
problemas
na
unipessoalidade.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
No
art.
42º,
a
necessidade
de
estabilidade
das
sociedades
comerciais
e
a
tutela
do
tráfego
dos
efeitos
jurídicos
têm
mais
peso
após
o
registo.
A
lei
passa
a
ter
elenco
taxativo
de
causas
de
invalidade.
Em
princípio,
após
registo,
não
é
possível
destruir
a
sociedade
por
vícios,
o
elenco
é
bastante
restrito.
Após
o
registo,
para
além
deste
elenco
de
causas
de
invalidade,
podem
haver
vícios
que
afectam
apenas
uma
das
declarações
negociais.
Abre-‐se
a
porta
para
o
regime
da
exoneração
dos
sócios,
através
da
remissão
para
o
art.
45º.
9. DIREITOS
E
DEVERES
DOS
SÓCIOS
Os
deveres
caracterizam
o
contrato
de
sociedade.
Estão
elencados
no
art.
20º
(situações
jurídicas
passivas),
e,
por
sua
vez,
os
direitos
estão
elencados
no
art.
21º.
O
art.
20º
apresenta
na
alínea
a)
o
dever
de
contribuição
e
na
b),
o
dever
de
quinhoar.
Para
além
destes,
temos
o
dever
de
lealdade
que
não
está
elencado
na
norma.
Quanto
aos
direitos
do
art.
21º,
temos
o
direito
aos
lucros,
a
participação
nas
delegações
e
direito
à
informação,
e,
ainda,
um
direito
de
participação
política,
reconduzível
à
alínea
b).
⇒ Os
direitos
podem
ser
classificados
em
organizativos
(ou
políticos)
ou
patrimoniais
(ou
económicos).
Os
direitos
organizativos
têm
valor
económico,
p.e.,
ter
ou
não
voto
vale
bastante.
O
direito
à
informação
é
instrumental
face
a
outros
direitos,
p.e.,
preciso
saber
informações
para
saber
em
quem
voto,
ou
para
saber
se
devo
ou
não
vender
as
acções.
Distingue-‐se
ainda
entre
direitos
sociais
e
extrassociais.
Há
direitos
que
são
atribuídos
aos
sócios,
e
a
partir
de
determinado
momento,
passam
a
ter
carácter
simbolístico,
passam
a
ser
entendidos
como
direitos
de
crédito,
passíveis
de
ser
cedidos
a
terceiros:
direito
aos
lucros;
mas
quando
há
deliberação
de
distribuição
de
dividendos,
por
força
desta,
passa
a
haver
direito
de
crédito
dos
sócios
sobre
a
sociedade.
Esta
classificação
é
relevante
do
ponto
de
vista
doutrinário
para
explicar
que
há
posições
jurídicas
activas
que
passam
a
ter
natureza
civilística,
quando
tinham
societária.
Os
direitos
aos
lucros
pertencem
aos
sócios,
não
pode
ser
cedidos
a
terceiro;
emergem
de
participação
social,
sendo
que,
ao
longo
do
tempo,
poderão
distribuir
dividendos
desse
sócio
–
cessação
de
créditos
-‐,
são
esses
dividendos
que
podem
pertencer
a
terceiros.
É
situação
jurídica
activa
quando
se
pode
defender
esse
direito
aos
lucros.
Quando
há
distribuição
dos
dividendos,
passando
a
ser
direito
aos
dividendos,
deixa
de
ser
social
e
passa
a
ser
extrassocial.
Quanto
à
transmissão
de
participação
social,
há
por
vezes
direitos
de
preferência.
Nas
sociedades
anónimas,
o
costume
são
acordos
parassociais
que
visam
a
finalidade,
i.e.,
os
sócios
fazem
um
contrato
de
sociedade
e
só
uma
parte
faz
um
outro
acordo
para
regular
a
forma
como
intervêm
na
sociedade.
É
um
acordo
caracterizado
por
não
ser
social.
9.1. DEVERES
⇒ Qual
o
dever
característico?
O
dever
de
contribuição
é,
na
opinião
do
professor,
o
dever
primário
da
prestação
caracterizador
do
contrato.
Para
a
Doutrina
Germânica,
o
dever
principal,
é
o
dever
de
lealdade,
pois
este
não
é
um
mero
dever
acessório
de
conduta
como
consagrado
no
art.
762º/2
do
CCiv.
O
que
se
determina
é
que,
nas
sociedades,
esta
lealdade
é
um
dever
principal
de
prossecução
do
fim
comum.
A
lealdade
é
mais
intensa
e
caracteriza
o
contracto
para
este
entendimento
doutrinário.
Associada
a
esta
ideia
de
lealdade
principal,
está
a
caracterização
do
dever
de
lealdade
como
dever
de
prossecução
de
um
fim
comum.
Neste
entendimento,
o
dever
de
contribuição
é
um
dos
aspectos
da
prossecução
do
fim
comum.
O
professor
é
contra
esta
ideia
que
é
defendida
pela
Escola
de
Coimbra.
! Temos
que
distinguir
as
sociedades
de
pessoas
das
de
capitais,
em
especial,
as
anónimas,
em
que
as
pessoas
são
meros
investidores,
não
se
conhecem,
portanto,
falar
de
lealdade
entre
meros
investidores
é
errado.
Entende-‐se
na
doutrina
germânica
que
entre
acionistas
e
investidores
não
há
dever
de
lealdade.
Não
caracterizando
todo
o
tipo
de
sociedades
comerciais,
não
as
caracteriza
de
todo,
logo
o
que
caracteriza
é
o
dever
de
contribuição.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Há
dever
de
lealdade.
Nas
sociedades
de
pessoas
são
mais
intensos,
nas
sociedades
de
capitais,
nomeadamente
nas
anónimas,
são
menos
intensos
e,
relativamente
a
accionistas
e
investidores,
não
são.
Logo,
o
professor
fala
em
dever
de
lealdade,
mas
não
como
dever
principal.
Neste
contexto,
existe
uma
posição
ao
lado
que
considera
que
se
deve
fazer
distinção
entre
lealdade
comum
–
pela
regra
da
conduta
da
boa-‐fé
-‐,
de
uma
mais
estrita.
As
mais
restritas
caracterizam
relações
laborais,
sociedades
de
pessoas.
Quando
há
finalidade
comum,
há
lealdade
mais
comum.
Quanto
à
participação
social,
posição
jurídica
do
sócio
e
socialidade
são
exemplos
de
sinónimos.
Corresponde
ao
conjunto
de
situações
jurídicas
activas
e
passivas
dos
sócios,
conjunto
de
direitos
e
deveres.
Deve
distinguir-‐se
situação
jurídica
complexa
e
analítica.
O
termo
«acção»
é
polissémico,
isto
é,
pode
significar
participação
social
nas
sociedades
anónimas,
mas
também
uma
fracção
de
capital.
Pode
ser
documento
representativo
da
participação
social.
Temos
também
participação
social
como
objecto
de
negócios
jurídicos
ou
de
direitos
reais;
temos
que
distinguir
como
situação
jurídica
e
objecto.
Ex.:
objecto
–
vendi
acções,
quotas
(negócios
jurídicos),
penhor
(direito
real).
o Cindibilidade
das
situações
jurídicas
que
integram
a
participação
social
–
não
é
apenas
a
ideia
do
complexo
e
analítico,
mas
a
possibilidade
de
destacar
da
participação
social,
as
situações
jurídicas
que
saem
no
círculo
da
participação
social
e
passam
a
ser
direitos
parassociais.
Ex.:
direito
ao
dividendo
e
preferência
na
subscrição
de
acções
novas
no
aumento
de
capital.
Art.
55º
do
CVM:
tenho
acções
e
destacam-‐se
destas
o
direito
aos
dividendos
ou
de
preferência.
Valores
mobiliários
são
registados
pelos
intermediários
financeiros
e
não
pela
conservatória,
ou
seja,
são
os
bancos
que
têm
esta
função
pública
de
registar
as
acções.
Foi
autonomizado
o
direito
ao
dividendo,
de
subscrição
de
acções
novas.
Há
uma
querela
quanto
à
natureza
jurídica
da
participação
social.
Há
quem
considere
direito
real,
de
crédito,
misto,
posição
jurídica
contratual,
direito
subjetivo
especial,
entre
outros.
Todas
estas
ideias
têm
um
fundo
de
verdade.
⇒ PEDRO
CAETANO
NUNES
pensa
que
é
uma
posição
jurídica
complexa,
que
abarca
diversas
analíticas;
ter
a
noção
de
unidade
e
diversidade
é
importante.
Por
vezes,
falamos
em
direito
subjectivo
porque
olhamos
para
o
todo,
mas
às
vezes
focamo-‐nos
numa
só
posição.
Por
regra,
existem
sempre
direitos
subjectivos.
A
ideia
de
objecto
jurídico
também
é
importante
quanto
à
transmissão
de
direitos
sociais
e
reais.
A
Participação
Social
e
Tutela
Constitucional
dos
Direitos
Patrimoniais
A
Lei
Fundamental
tem
um
conceito
de
propriedade
mais
amplo
que
o
do
CCiv.
Assim,
nos
termos
do
art.
62º,
significa
património,
não
é
formal.
Pretende
tutelar
os
direitos
reais
dos
cidadãos,
haver
imunidade
face
ao
Estado,
uma
protecção
não
só
dos
direitos
reais,
mas
também
de
outros
direitos
patrimoniais,
da
qual
são
exemplo
a
defesa
do
direito
de
expropriação,
enquanto
accionista,
protecção
na
nacionalização
de
uma
empresa.
Fala-‐se
ainda
em
propriedade
corporativa,
nome
dado
à
titularidade
dos
direitos
de
participação
de
beneficiar
dos
direitos
fundamentais.
Ø Dever
de
Contribuição
Em
especial,
o
dever
de
realização
da
entrada.
Podem
existir
outras
contribuições
dos
sócios
para
lá
da
entrada:
dever
de
realizar
prestações
acessórias
e
suplementares,
podem
ainda
entrar
com
suprimentos.
Os
sócios
têm
que
contribuir
para
a
realização
da
actividade
social,
porque
esta
não
existia
sem
esta
prestação,
é
uma
actividade
económica.
Há,
contudo,
uma
segunda
finalidade:
proteção
dos
credores.
A
entrada
inicial
permite
que
exista
algum
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
património,
que
servirá
como
garantia
para
os
credores,
e
é
tão
ou
mais
importante
quando
vigora
a
regra
de
ouro
do
capitalismo.
Temos
três
tipos
de
entradas:
(1) Dinheiro
–
o
dinheiro
nunca
foi
objecto
de
doutoramento
em
Portugal.
É
essencialmente
um
problema
jurídico,
dos
mais
complexos.
(2) Espécie
–
por
contraposição
ao
dinheiro.
Podem
ser
imóveis,
móveis,
propriedade
intelectual
(direitos
de
autor,
propriedade
industrial,
é
frequente),
créditos,
direitos
reais
menores.
Pode
ser
um
estabelecimento
comercial.
Temos
dois
critérios:
economicidade
e
penhorabilidade.
Não
tendo
valor
económico
e
não
podendo
ser
penhorável,
não
serve
como
entrada
em
espécie,
pois
estariam
a
desproteger
os
credores.
Encontramos
isto
no
art.
20º-‐A,
e,
sobretudo
no
art.
28º.
Este
último
exige
uma
avaliação
da
entrada
em
espécie
por
revisor
oficial
de
contas
(proteção
20
dos
credores).
Um
crédito
pode
ser
uma
entrada
em
espécie.
(3) Indústria
–
sinonimo
de
serviço,
i.e.,
p.e.,
uma
sociedade
comercial
que
se
dedique
há
engenharia,
projectos
de
engenharia,
fiscalização
de
obras,
se
for
serviços
médicos,
fazer
análises
clínicas,
atendimento
dos
doentes.
Valor
de
Subscrição
e
de
Realização
Valor
de
subscrição
corresponde
à
cifra
correspondente
à
fracção
do
capital
social,
por
contraposição,
o
valor
de
realização
significa
o
valor
efectivo
da
prestação
em
espécie
ou
dinheiro.
Ex.:
sociedade
A
e
B
com
50%.
O
valor
de
capital
é
100€
e
cada
um
tem
50€.
Se
o
valor
de
subscrição
for
igual
ao
de
realização,
cada
um
entrou
com
50€
e
tem
50€.
Se
o
de
subscrição
for
superior
ao
de
realização,
cada
um
entrou
com
100€,
mas
do
ponto
de
vista
da
subscrição,
é
50€.
Se
C
e
D
forem
entrar,
com
50€
cada
um
e
o
valor
de
subscrição
for
igual
ao
de
realização,
na
sociedade
fica
cada
um
com
50€,
logo,
cada
um
tem
25%
-‐
equilíbrio
de
forças.
Para
se
evitar
que
A
e
B,
sócios
iniciais
mandem
o
mesmo
que
os
novos,
os
50€
ficam
com
valor
de
subscrição
de
25€,
1/3,
cada
um
com
1/6.
Este
valor
conta
para
proporção
de
capital
social,
relevante
para
saber
quais
os
valores
políticos.
C
e
D
têm
valor
de
subscrição
inferior
ao
de
realização,
permitindo
que
o
contributo
económico
seja
superior
aos
direitos
políticos.
A
e
B
têm
novos
sócios
com
o
mesmo
contributo
económico
que
eles,
mas
este
mecanismo
permite
que
fiquem
com
menos
poder
na
comparação,
entrando
com
mais
dinheiro.
Como
sinónimo
de
valor
de
subscrição,
fala-‐se
de
valor
nominal.
De
há
uns
anos
para
cá,
passaram
a
haver
ações
sem
valor
nominal,
e
nos
casos
em
que
isto
não
existe,
não
deixa
de
haver
valor
de
subscrição,
daí
esta
ser
a
21
terminologia
mais
indicada
nos
dias
de
hoje.
Há
uma
proibição
de
emissão
de
participações
sociais
abaixo
do
PAR,
mas
é
possível
emitir
participações
acima
do
PAR.
Emitir
acima
é
quando
o
valor
de
realização
está
acima
do
valor
de
subscrição,
por
exemplo,
valor
de
subscrição
é
50€,
o
de
realização
é
também
50€
-‐
está
ao
PAR.
Mas
quando
o
valor
de
subscrição
é
50€
e
o
de
realização
é
25€,
é
acima
do
PAR,
logo,
é
o
prémio
de
emissão.
É
um
bónus
para
a
sociedade,
porque
o
efectivo
que
entregaram
é
superior.
Entregar
menos
não
é
possível,
é
uma
forma
de
proteção
dos
credores.
A
proibição
de
emissão
abaixo
do
PAR
encontra-‐se
no
art.
25º
do
CSC.
20
É
frequente
haver
aumento
de
capital
por
conversão
de
suprimento
e
prestações
acessórias.
Dinheiro
que
os
sócios
já
colocaram
na
sociedade
não
por
entrada
de
capital,
mas
no
caso
dos
suprimentos,
por
empréstimo.
Por
vezes,
querem
transformar
essas
quantias
que
já
lá
estão
em
entradas
de
capital
para
reforçar
os
rácios
de
capital,
por
via
a
causar
melhor
impressão
nos
credores
–
se
o
credor
é
um
banco,
um
fundo
europeu,
que
promete
emprestar
mais
dinheiro,
havendo
mais
capital
próprio.
Em
rigor,
não
se
trata
de
uma
entrada
em
dinheiro,
é
em
espécie.
Já
lá
tenho
o
dinheiro,
o
que
tenho
é
direito
de
crédito
quanto
ao
dinheiro
que
la
está,
e
isto
necessita
de
uma
avaliação
por
revisor
oficial
de
conta.
Porém,
isto
raramente
acontece,
é
tudo
nulo.
21
Nas
sociedades
anónimas,
acções
sem
valor
nominal
têm
esquema
para
ter
valor
equivalente
ao
valor
nominal.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Existe
uma
obrigação
de
depósito
de
entradas
só
em
dinheiro.
Ou
seja,
se
as
entradas
forem
em
dinheiro,
há
uma
obrigatoriedade
de
serem
depositadas;
tem
que
haver
conta
aberta
em
nome
da
sociedade
(art.
277º,
CSC).
Quanto
ao
momento
de
realização
das
entradas,
no
art.
26º,
vemos
que
há
uma
afirmação
de
que
tem
que
ser
pago
logo
tudo
no
acto
da
entrada,
mas
há
um
regime
especial
para
as
sociedades
anónimas
e
por
quotas.
⇒ Sociedades
Anónimas
-‐
arts.
277º
e
285º:
é
possível
deferir
o
pagamento
de
70%
até
ao
limite
máximo
de
5
anos.
A
sociedade
fica
com
um
direito
de
crédito
sobre
o
sócio.
⇒ Sociedades
por
Quotas
-‐
arts.
203º:
pode
deferir-‐se
o
pagamento
de
100%
durante
5
anos.
Quanto
às
entradas
em
espécie,
há
também
regras
especiais,
mas
que
não
vão
ser
analisadas.
O
art.
27º/1
fala
da
proibição
de
compensação
e
há
três
regras
importantes
para
proteger
os
credores:
a. Proibição
de
compensação;
b. Vencimento
integral
das
restantes
prestações
quando
não
há
pagamento
de
uma;
c. Regime
de
aquisição
de
bens
e
acionistas.
Quando
a
sociedade
compra
bens
a
accionistas,
há
regras
e
compensação
(art.
29º
do
CSC).
Se
exista
uma
obrigação
de
entrada,
mas
no
dia
seguinte
a
sociedade
me
compra,
recebo
logo
o
dinheiro
de
volta.
Sub-‐rogação
dos
credores
–
não
paguei
quotas
durante
muitos
anos,
há
sub-‐rogação
dos
credores.
Aula
de
21
de
março
de
2017
Outras
Situações
Jurídicas
Passivas
Ø Dever
de
Quinhoar
nas
Perdas
O
art.
20º/b)
apresenta
um
dever
de
quinhoar
nas
perdas
(participar)
que
é
uma
exposição
ao
risco
empresarial
e
uma
proporcionalidade
nessa
exposição
ao
risco,
entre
capital
e
perdas,
mas,
em
rigor,
não
há
um
dever.
Conciliando
com
existência
de
responsabilidade
dos
sócios
pelas
dívidas
sociais,
o
sócio
apenas
entra
com
capital
e
este
está
exposto
ao
risco,
mas
fora
o
risco
não
arrisca
o
seu
próprio
património
–
o
risco
é
do
dinheiro
que
meteu
na
sociedade,
e
no
caso
desta
se
dissipar,
nada
mais.
Algo
diferente
acontece
nas
sociedades
em
nome
coletivo:
a
responsabilidade
dos
sócios
é
superior.
Ø Dever
de
Lealdade
O
CSC
apresenta
situações
passivas,
sendo
uma
delas
o
dever
de
não
concorrência
dos
sócios.
Este
dever,
ou
proibição,
está
previsto
para
os
sócios
no
tipo
das
sociedades
em
nome
coletivo,
não
o
está
para
os
restantes
tipos.
Ao
apontar
a
existência
desta
proibição
de
concorrência,
é
importante
perceber
que
esta,
em
princípio,
não
existe.
Os
sócios
enquanto
tais
não
têm
proibição
de
concorrência,
mas
de
acordo
com
o
que
resulta
da
lei.
É
possível,
nas
sociedades
por
quotas,
estabelecer
proibição
estatutária
de
concorrência.
Pode
ainda
ocorrer
em
sociedade
anónima
mais
fechada.
As
proibições
de
concorrência
costumam
ser
manifestações
e
deveres
de
lealdade:
proibição
concorrida
no
art.
180º,
é
vista
doutrinariamente
como
uma
manifestação
dos
sócios
de
sociedades
em
nome
colectivo.
Se
nos
estatutos
foi
estabelecida
proibição
de
concorrência,
é
possível
enquadrar
esta
ideia
numa
mais
lata
de
lealdade.
Há,
contudo,
outras
manifestações
do
dever
de
lealdade,
ou
seja,
aqueles
que
os
juízes
entenderem,
isto
porque
a
lealdade,
assim
como
a
boa-‐fé,
é
uma
cláusula
geral,
um
conceito
indeterminado.
Quando
a
lei
estabelece
que
existem
estatutos
de
lealdade,
criam
estatuição
normativa
ampla
permitindo
a
recepção
da
ética
no
direito,
fazendo
com
que
o
discurso
ético
ou
moral
seja
trazido
aos
tribunais,
deixando
de
ser
interno
e
podendo
ser
imposto
aos
demais;
Em
segundo
lugar,
temos
a
delegação
ao
juiz
do
poder
de
conformação
do
direito.
É
apontada
ainda
uma
terceira
função:
adaptação
de
um
direito
à
evolução
das
normas
sociais,
mas
esta
é
menos
relevante.
No
fundo,
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
permitir
que
o
que
os
tribunais
dizem
que
é
lealdade
possa
ter
mutações
no
tempo;
permite-‐se
uma
modelação
do
direito
à
medida
da
evolução
do
direito
e
das
sociedades.
Hoje
em
dia
defende-‐se
cada
vez
mais
que
o
direito
é
feito
não
apenas
de
normas
jurídicas,
mas
também
de
princípios,
i.e.,
não
se
deve
apelar
apenas
para
a
ética
fora
do
direito,
mas
também
para
dentro.
Assim,
para
os
juristas,
é
necessário
fazer
uma
análise
«ipse
doo»,
ou
seja,
não
se
deve
fazer
grandes
considerações
doutrinárias
sobre
o
que
é
a
lealdade,
sendo
esta
aquilo
que
dizem
os
tribunais.
O
que
dizem
então
os
tribunais
em
Portugal?
⇒ Utilização
de
informação
privilegiada
(da
propriedade
da
sociedade,
recorrer
a
normas
de
direitos
reais;
em
civil
law,
para
se
proteger
a
informação
privilegiada
é
através
de
deveres
de
lealdade);
⇒ Apropriação
de
oportunidades
de
negócio
societárias.
Quando
há
violação
destes
dois
-‐
actuações
desleais
-‐,
o
que
fazer?
Em
common
law
surge
a
ideia
de
fidúcia,
não
na
componente
de
direito
real,
lado
externo
da
relação
jurídica,
mas
ao
nível
interno,
por
deveres
de
lealdade
particularmente
intensos:
fidúcia
envolve
um
excesso
de
meios
face
aos
fins.
Neste
contexto
falamos
de
deveres
de
lealdade
muito
intensos.
Nos
EUA
e
GB
foram
criadas
soluções
muito
intensas
para
violações
de
deveres
de
lealdade:
em
que,
para
além
da
responsabilidade
civil,
fazem
um
constructive
trust,
ou
seja,
a
actividade
exercida
em
concorrência,
actividades
daqui
derivadas,
vão
ser
incluídas
num
trust
e
exploradas
de
acordo
com
o
beneficiário.
Todos
os
lucros
vão
para
quem
os
devia
receber
desde
o
início,
ou
seja,
não
é
na
medida
dos
danos;
mais
do
que
os
danos,
é
atribuir
todos
os
lucros,
independentemente
de
haver
ou
não
danos.
Em
Portugal
temos
danos
e
a
previsão
normativa
para
restituição
dos
lucros
(art.
180º/2
do
CSC
para
as
SNC
e
art.
253º
do
CCom
para
o
gerente
comercial).
Se
for
sócio
em
nome
coletivo,
aplicamos
o
art.
180º
por
analogia;
e
se
for
sócio,
também.
Se
não
for
um
sócio
e
for
um
administrador,
pode-‐se
aplicar
o
art.
180º/2
por
analogia
ou
o
art.
253º
-‐
o
gerente
comercial
é
o
mandatário
social
e
os
administradores
são
mandatários
comerciais,
logo
para
o
professor
deve
aplicar-‐se
o
253º
por
analogia.
Os
sócios
são
parte
no
contrato
de
sociedade,
daí
haver
menor
analogia
com
o
art.
253º.
Em
Portugal,
o
mais
próximo
desta
estatuição
é
a
previsão
da
restituição
de
lucros
dos
arts.
180º
e
253º.
Faz
um
confronte
entre
a
responsabilidade
civil
e
o
enriquecimento
sem
causa,
uma
vez
que
a
restituição
dos
lucros
se
enquadra
no
enriquecimento
sem
causa
e
este
é
subsidiário.
Nestes
contextos
deve
permitir-‐se
a
responsabilidade
civil
e
restituição
dos
lucros.
A
letra
do
art.
180º/2
não
é
favorável
a
isto;
para
o
professor
o
art.
253º
do
CCom,
é
melhor.
Na
transmissão
das
empresas,
o
sócio
maioritário
tem
deveres
de
lealdade
com
os
sócios
minoritários,
nos
EUA.
Quando
se
veda
uma
participação
maioritária,
dado
o
prémio
de
controlo,
vendo
por
um
preço
bastante
elevado
–
quem
tem
mais
retira
mais
benefícios,
logo,
as
pessoas
estão
dispostas
a
pagar
mais
por
uma
posição
maioritária
do
que
minoritária.
Discute-‐se
até
que
ponto
é
que
não
tem
que
arranjar
para
os
sócios
minoritários,
alguém
que
compre
por
um
bom
preço
as
suas
acções.
Diz-‐se
que
há
uma
tentativa
de
excluir
os
sócios
minoritários
da
sociedade,
havendo
deslealdade.
Situações
Jurídicas
Passivas
que
Não
São
Deveres
22
A
sujeição
à
alienação
potestativa
encontra-‐se
regulada
no
art.
490º
do
CSC
-‐
serve
as
sociedades
anónimas
e
por
quotas.
Os
arts.
241º
e
242º
apresentam
o
direito
de
exclusão
e
servem
também
para
as
sociedades
por
quotas.
O
art.
241º
apresenta
a
exclusão
de
sócio
por
se
verificarem
situações
na
lei.
O
art.
242º
apresenta
comportamento
22
Quando
um
sócio
atinge
90%
têm
o
dever
potestativo
de
excluir
sócios
minoritários,
logo,
há
em
contraponto
uma
sujeição
jurídica
do
sócio
minoritário.
Isto
é
um
squeeze
out.
A
ratio
legis
é
criar
negócio,
privilegiar
a
economia
e
o
princípio
maioritário.
Os
números
5
e
6
dão
a
possibilidade
aos
minoritários
de
saírem
-‐
equilíbrio.
Direito
potestativo
do
minoritário
e
sujeição
jurídica
do
maioritário.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
desleal
do
sócio.
Nas
sociedades
por
quotas,
o
comportamento
desleal
do
sócio
é
sempre
fundamento
para
a
sua
exclusão,
mas
nas
sociedades
em
nome
colectivo,
está
previsto
no
art.
256º.
Nas
sociedades
anónimas
não
está
previsto,
há
um
regime
de
amortização
de
acções.
Os
sócios
excluídos
estão
sob
sujeição
jurídica.
9.2. DIREITOS
Ø Direito
aos
Lucros
O
art.
21º/2
apresenta
o
direito
aos
lucros.
Consagra
uma
proibição
ou
inadmissibilidade
de
quantias
certas,
ou
seja,
juros.
Os
sócios
são
titulares
de
pretensão
jurídica
residual,
logo,
tendo
muitos
lucros,
têm
mais-‐valias,
e
ganham
muito;
não
tendo,
ganham
pouco.
Contrariamente,
os
credores,
que
têm
pretensões
sobre
a
sociedade,
recebem
sempre.
Os
sócios
não
têm
remuneração
garantida.
Em
princípio,
todos
são
pagos
e
pode
não
sobrar
nada
para
eles.
Pelo
contrário,
tendo
a
sociedade
mais-‐valias,
estes
recebem.
A
sua
remuneração
é
estipulada
por
risco.
Esta
norma
permite
distinguir
a
posição
dos
sócios
face
à
de
outros
interessados
na
sociedade
de
empresa.
Os
chair
holders
têm
pretensão
residual,
os
outros
têm
sempre
quantias
certas.
Tipos
de
lucros:
a. Lucros
de
Exercício
–
exercício
anual
que
coincide
com
o
ano
civil,
logo,
a
sociedade
decide
se
distribui
lucros
ou
não
em
todos
os
anos
civis.
Os
arts.
217º
e
294º
apresentam
regras
de
protecção
dos
minoritários,
associadas
a
estes
lucros
de
exercício.
b. Lucros
Periódicos
Eventuais
-‐
podem
as
sociedades
distribuir
para
além
destes,
mais
lucros.
P.e.,
a
Ford
começou
a
produzir
carros
em
massa
e
tinham
tantos
lucros,
que
faziam
constantemente
distribuição
de
lucros.
c. Lucros
Finais
–
em
sede
de
liquidação
da
sociedade.
Vende-‐se
tudo
e
o
dinheiro
que
fizerem
distribui-‐se
pelos
sócios.
A
liquidação
é
uma
venda
de
todo
o
património
e
o
que
sobra
distribui-‐se
pelos
sócios.
Distinção
entre
Direito
aos
Lucros
e
aos
Dividendos
O
direito
aos
lucros
pode
incluir
várias
situações
jurídicas
pontuais,
sendo
o
direito
aos
dividendos
uma
dessas
situações
pontuais,
que
podem
ser
reconduzidas
ao
direito
aos
lucros.
O
direito
ao
lucro
é
complexo,
evolui
ao
longo
da
vida
da
sociedade.
Tenho
direito
ao
lucro
quando
constituí
a
sociedade;
passados
alguns
exercícios,
tenho
direito
a
esses
lucros,
tenho
direito
aos
lucros
eventuais
e,
no
final,
tenho
direito
aos
lucros
finais.
É
uma
situação
jurídica
complexa
que
se
prolonga
no
tempo.
O
direito
aos
dividendos
pode
ser
contraposto
ao
direito
aos
lucros
ou
restantes
faculdades,
porque
passa
a
ter
um
carácter
extrassocial,
natureza
civilística.
Assim
que
atribui
direito
aos
dividendos,
emancipasse
da
participação
social,
deixa
de
ter
natureza
societária
para
ter
natureza
civilística,
passa
ser
direito
de
crédito
e
pode
ser
transmitido
enquanto
direito
de
crédito
(pode
haver
transmissão
do
direito
de
crédito
a
terceiros).
Neste
contexto,
os
arts.
217º/2
e
294º/2
assumem
especial
relevância.
Ainda,
o
art.
55º/3,
CVM
também
é
muito
importante:
versa
a
questão
da
cindibilidade
dos
valores
mobiliários
e,
neste
caso,
dos
direitos
da
participação
social,
o
direito
autonomiza-‐se
face
à
participação
social
e
passa
a
ser
um
direito
autónomo.
Proibição
de
Pacto
Leonino
O
art.
22º/4
apresenta
uma
proibição
muito
antiga
no
Direito
das
Sociedades:
é
nula
a
cláusula
que
exclui
o
sócio
de
participar
na
divisão
dos
lucros.
Ø O
Direito
de
Participação
nas
Deliberações
Sociais
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
art.
21º
apresenta
o
direito
de
participação
nas
deliberações
sociais,
e
este
é
bastante
complexo.
Dentro
deste
direito,
encontram-‐se
outros.
Este
é
crucial,
sem
este
os
outros
de
nada
valem.
Os
outros:
⇒ Direito
de
Voto;
⇒ Direito
de
Assistência
às
Deliberações
Sociais;
⇒ Direito
de
Intervenção;
⇒ Direito
de
Impugnação.
De
acordo
o
art.
190º/1
–
das
sociedades
em
nome
colectivo
-‐,
há
um
voto
por
cabeça;
nas
sociedades
por
quotas
e
anonimas
o
voto
é
atribuído
em
função
da
participação
de
capital
(arts.
250º/1
e
284º/1).
As
sociedades
em
nome
colectivo
são
de
democracia
e
as
sociedades
por
quotas
e
sociedades
anónimas
são
plutocracias.
Frequentemente,
fala-‐se
na
democracia
em
discurso
menos
preciso;
temos
uma
directa
sobre
os
direitos
dos
acionistas
que
pretende
fortalecer
a
democracia
interna,
porém,
a
palavra
democracia
não
é
usada
em
sentido
preciso
quando
falamos
em
sociedades
por
quotas
e
anónimas,
implica
um
voto
por
pessoa,
nestas
é
um
voto
pela
participação
do
capital
–
manda
quem
investe
mais.
Não
se
quer
criar
igualdade
entre
os
cidadãos,
quer-‐se
eficácia
na
condução
das
empresas.
Podem
haver
restrições
ao
direito
de
voto
(art.
250º/2);
prevê-‐se
a
possibilidade
de
voto
plural
–
dois
votos
por
cada
cêntimo.
O
art.
384º
tem
no
número
1
uma
ideia
de
plutocracia
e,
no
número
2,
restrições
ao
direito
de
voto:
só
são
admissíveis
votos
para
quem
tem
número
mínimo
de
ações
(alínea
a))
-‐
através
deste
posso
estabelecer
um
voto
por
cada
3
acções,
p.e.,
com
o
limite
de
um
voto
por
cada
x;
significa
isto
que
os
pequenos
acionistas
não
podem
votar,
exclui
os
reformados,
p.e.,
que
compram
acções.
Esta
norma
beneficia
os
maioritários
e
desprotege
os
minoritários,
impedidos
de
votar;
a
alínea
b)
apresenta
uma
limitação
em
que
se
estabelece
que
a
partir
de
determinado
limite
máximo
não
são
válidos
os
votos,
esta
regra
prejudica
quem
tem
mais
acções,
vai
no
sentido
oposto
da
alínea
a).
Ex.:
BPI
-‐
até
ao
ano
passado
um
accionista
tinha
40
e
tal
%,
mas
não
podia
exercer
voto
acima
dos
18%.
Havia
determinados
sócios
com
número
de
acções
muito
menores
e
tinham
direito
de
voto
por
cada
acção.
Sem
esta
restrição,
o
La
Caixa,
com
40%,
tinha
grande
influência.
Com
esta
norma,
era
bastante
condicionado
com
a
intervenção
da
Santoro
e
da
família
Viola.
Existe
um
regime
de
impedimento
do
voto
(art.
384º/6
para
as
sociedades
anónimas
e
art.
251º
para
sociedades
por
quotas),
que
determina
que
um
acionista
não
pode
votar
quando
a
lei
o
proíba
e
a
deliberação
incida
sobre
obrigação
de
responsabilidade
do
próprio,
litígio
entre
a
sociedade
e
o
próprio,
destituição
por
justa
causa
do
próprio,
qualquer
relação
do
próprio,
entre
outros.
Há
um
conflito
de
interesses
em
abstrato
e
a
lei
impede
o
voto.
Para
além
destes
casos
temos
ainda
outras
situações
pontuais
ao
longo
da
lei,
p.e.,
no
art.
75º
(responsabilidade
dos
administradores).
Este
é
um
impedimento
de
voto,
não
de
participação
nas
deliberações
sociais
em
todas
as
outras
componentes
desse
direito
complexo.
Nestes
conflitos
de
interesses
no
impedimento
de
voto,
estão
em
causa
situações
de
conflito
de
interesses
ou
deslealdade,
aferidas
em
abstrato
e
não
em
concreto;
a
lei,
de
forma
preventiva,
impede
de
votar
quando
há
aparência
de
conflito
de
interesses,
ainda
que
as
pessoas
em
concreto
não
estejam
a
actuar
em
conflito
de
interesses,
mas
há
uma
guarda
avançada.
Deve
relacionar-‐se
com
o
dever
de
lealdade
dos
sócios,
sendo
de
destacar
a
ideia
de
que,
ao
contrário
de
outras
situações
em
que
se
verifica
conflito
de
interesses,
o
legislador
actua
em
abstrato
de
forma
preventiva:
um
dos
vícios
deste
regime.
Ø Por
isso,
há
um
risco
de
paralisação
orgânica
e
subversão
da
democracia
interna,
plutocracia
ou
equilíbrio
de
forças.
Ø Direito
à
Informação23
Este
direito
é
meramente
instrumental
(art.
20º/1,
alínea
c)
do
CSC)
face
aos
outros
direitos.
Em
primeiro
lugar,
face
ao
direito
de
participação
nas
deliberações
sociais.
Há
também
instrumentalidade
face
a
outros
direitos:
transmissão
da
participação
social
–
i.e.,
vendo
ou
não
face
à
informação
que
tenho.
O
direito
à
informação
consiste
em
três
coisas
distintas:
23
Esta
matéria
deve
ser
estudada
no
Manual
de
COUTINHO
DE
ABREU.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
a. Informação
stricto
sensu
–
dirigir
perguntas
ao
órgão
de
gestão,
administração;
b. Consulta
–
de
documentos;
c. Inspeção
–
de
bens
sociais
distintos
dos
documentos.
O
direito
à
informação
dos
sócios
nos
diferentes
tipos
de
sociedades
tem
diferentes
conformações,
consoante
esteja
em
causa
uma
das
três
vertentes;
ou
seja,
conforme
a
modalidade
em
causa,
tem
regras
distintas.
Com
base
nisto,
aprofundamos
o
direito
à
informação
nos
diferentes
tipos
de
sociedades.
Sociedades
em
Nome
Colectivo
(art.
181º)
Qualquer
sócio
tem
todas
as
componentes
do
direito
à
informação;
os
gerentes
devem
prestar
toda
a
informação
(stricto
sensu);
a
consulta
de
documentos
encontra-‐se
no
número
3;
e
a
inspeção
no
número
4.
Sociedades
por
Quotas
(art.
214º)
Todos
os
sócios
têm
direito
à
informação,
independentemente
da
sua
participação
social,
nas
três
componentes:
número
1
-‐
stricto
sensu,
número
4
-‐
consulta
e,
número
5
-‐
inspecção.
Nos
termos
do
número
2
pode
haver
uma
regulamentação
detalhada
da
matéria
nos
estatutos;
estes
podem
estabelecer
regras:
não
podem
quartar
direito
a
informação
dos
sócios,
mas
podem
estabelecer
limites,
por
exemplo,
horário
de
consulta
e
inspeções,
prazos
para
as
respostas
dos
gerentes,
exclusão
de
certas
informações
ou
matérias,
entre
outros.
Isto
desde
que
não
impeça
injustificadamente
e,
em
demasia.
Sociedades
Anónimas
(art.
288º)
As
regras
são
de
extrema
complexidade;
relativamente
à
inspeção
dos
meios
sociais.
Não
há
direito
a
esta
–
a
lógica
é
de
que,
havendo
participação
social
muito
grande,
podem
nomear-‐se
a
si
mesmos
ou
pessoas
da
sua
confiança
para
os
órgãos
de
gestão,
tendo
acesso
à
informação
de
forma
indirecta.
Do
ponto
de
vista
formal,
há
limitação
ao
dever
de
informação.
Quanto
ao
direito
de
consulta,
temos
os
arts.
288º
e
289º,
sendo
que
um
trata
do
direito
de
consulta
em
termos
gerais
e
o
outro,
do
direito
de
consulta
preparatória
de
uma
Assembleia
Geral.
Antes
de
uma
Assembleia
Geral,
qualquer
sócio,
independentemente
do
número
de
acções
pode
consultar
única
e
exclusivamente
os
documentos
elencados
no
289º/1;
não
estando
em
causa
consulta
preparatória
de
Assembleia
Geral,
a
consulta
é
atribuída
apenas
a
sócios
com
acções
representativas
de
1%
do
capital
social.
Numa
sociedade
aberta
com
grande
dispersão
de
capital,
quase
ninguém
tem
1%.
Discute-‐se
ainda
se
o
direito
à
consulta
é
um
direito
singular
ou
pode
também
ser
colectivo:
se
accionistas
com
menos
de
1%
se
podem
agregar,
para,
em
conjunto,
exercerem
este
direito
de
consulta.
A
Doutrina
diz
que
pode
ser
um
direito
colectivo,
nomeadamente
RAUL
VENTURA
e
COUTINHO
DE
ABREU.
Quanto
ao
direito
à
informação
stricto
sensu,
é
regulada
nos
arts.
290º
e
291º,
conforme
seja
ou
não
em
AG:
sendo
em
Assembleia
Geral,
os
assuntos
que
façam
parte
da
ordem
do
dia
-‐
há
um
direito
amplo
para
qualquer
sócio,
mas
apenas
sobre
os
temas
da
ordem
do
dia,
não
sobre
outros
temas
que
não
vão
ser
discutidos
na
AG.
Fora
das
Assembleias
Gerais
e
da
ordem
do
dia,
só
quem
tiver
10%;
a
lei
esclarece
que
podem
ser
exercidos
colectivamente.
É
discutível
a
aplicação
por
analogia
do
art.
214º/2,
sendo
que
para
as
sociedades
anónimas
não
há
norma
semelhante,
mas
faz
sentido
que
os
estatutos
possam
estabelecer
regime
sobre
o
prazo
de
resposta,
logo,
aplica-‐se
analogicamente.
Recusa
da
Prestação
de
Informação
(arts.
215º,
290º
e
291º/4)
O
art.
215º
prevê
a
possibilidade
para
as
sociedades
por
quotas
e
o
art.
291º/4
para
as
sociedades
anónimas.
Está
em
causa
a
ilicitude
da
utilização
da
informação,
i.e.,
para
recusar,
tem
que
dizer
que
esta
a
ser
usada
de
forma
ilícita,
convocando
o
tema
da
lealdade
dos
sócios.
Não
tem
direito
à
informação,
porque
vai
usá-‐la,
p.e.,
numa
actividade
concorrente,
actuando
de
forma
desleal,
logo
este
tema
está
bastante
ligado
à
lealdade
dos
sócios.
Nos
bancos,
a
recusa
de
informação
é
bastante
grande.
Em
princípio
não
prestam
informação
ao
abrigo
do
sigilo
bancário;
em
relação
à
banca,
aplica-‐se
muito
a
alínea
c);
em
relação
a
sociedades
comerciais
é
muito
difícil
a
aplicação
da
alínea
c),
é
mais
frequente
a
aplicação
do
conflito
de
interesses
desleal,
em
especial
a
concorrência
desleal.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Ex.:
accionistas
da
empresa
de
fornecimento
de
energia
PT
era
espanhola,
dávamos
informação
à
concorrência.
O
número
7
deve
ser
interpretado
restritivamente
por
força
do
número
4,
não
é
automático,
tenho
que
saber
se
posso
ou
não
recusar.
Para
os
órgãos
de
administração,
as
perguntas
devem
ser
respondidas,
ou
seja,
há
um
poder-‐dever:
informação
stricto
sensu
dos
sócios
implica,
para
os
administradores,
um
poder-‐dever
de
prestação
de
informação.
A
actuação
dos
administradores
é
sempre
livre,
é
em
cumprimento
de
um
poder-‐dever.
Havendo
violação
do
dever
de
informação
do
sócio,
há
anulabilidade
de
deliberações
sociais
(art.
290º/3).
A
responsabilidade
pode
ser
directa
perante
os
sócios,
causei
danos
na
esfera
jurídica
dos
sócios
e,
por
isso,
há
responsabilidade
directa
dos
danos
(art.
79º);
diferente
é
determinar
se
pode
haver
responsabilidade
perante
sociedade
(art.
72º).
O
inquérito
judicial
é
um
procedimento
especial
para
situações
de
violação
ao
direito
à
informação,
previsto
nos
arts.
292º
e
216º,
assim
como
no
art.
267º
-‐
que
incide
sobre
a
falta
de
prestação
de
contas.
Neste
inquérito
judicial
torna-‐se
possível
destituir
administradores,
nomear
outros,
dissolver
a
sociedade,
entre
outros.
Sendo
advogados
de
um
sócio
maioritário
ou
administrador,
a
matéria
de
direito
à
informação
deve
ser
respeitada,
pois
poderá
levar
à
perda
do
domínio
da
sociedade.
Sendo
sócio
minoritário,
é
uma
das
armas.
Ø Direito
de
Preferência
nos
Aumentos
de
Capital
a
Realizar
em
Dinheiro
Para
as
sociedades
por
quotas
a
base
legal
é
o
art.
266º;
para
as
anónimas
é
o
art.
458º.
O
art.
456º
prevê
a
possibilidade
de
o
aumento
de
capital
ser
decidido
não
pelos
sócios,
mas
pelo
órgão
administrativo.
O
art.
321º
apresenta
um
princípio
de
igualdade
de
tratamento
dos
acionistas
(aquisição
de
acções
próprias).
Só
consagrou
previsão
bastante
pontual
para
as
sociedades
anónimas
e
para
aquisição
de
acções
próprias,
apenas.
Quando
a
sociedade
compra
acções
próprias,
tem
que
tratar
de
forma
igualitária
os
acionistas.
Este
princípio
deve
ser
generalizado
e
pode
ser
entendido
não
apenas
como
um
princípio,
mas
como
um
direito
dos
sócios
de
tratamento
igualitário
face
aos
órgãos
de
administração.
Ø Direito
de
Exoneração
A
sociedade
maioritária
delibera
a
exclusão
do
sócio,
o
excluído
tem
sujeição
jurídica;
o
art.
241º
apresenta
um
direito
potestativo
à
exoneração,
i.e.,
sou
eu
que
decido
excluir-‐me
da
sociedade
em
determinadas
circunstâncias,
ou
seja,
isto
joga
a
favor
do
sócio
minoritário.
Quando
o
maioritário
muda
o
objecto
social,
os
minoritários
podem
exonerar-‐se
e
ter
direito
a
ser
compensados
pela
saída,
em
função
do
valor
da
sua
participação
social.
Ø Direito
de
Propor
Acção
de
Responsabilidade
Ut
Singuli
Está
previsto
no
art.
77º
e
relaciona-‐se
com
os
administradores.
É
exercida
pelo
sócio
minoritário
em
substituição
da
sociedade,
i.e.,
se
através
de
órgão
de
gestão
não
responsabiliza
um
certo
administrador,
um
accionista
minoritário
com
pelo
menos
5%
do
capital
social,
pode
ir
para
tribunal.
Uma
vez
que
os
administradores
são
colocados
na
administração
pelos
sócios
maioritários,
isto
acaba
por
se
rum
direito
do
socio
minoritário
de
responsabilizar
o
sócio
maioritário
ou
uma
pessoa
da
sua
confiança.
9.2.1. DIREITOS
ESPECIAIS
DOS
SÓCIOS
Estes
direitos
contrapõem-‐se
aos
direitos
gerais
(art.
24º).
São
apenas
para
um
sócio
ou
uma
categoria
de
sócios,
esta
última
é
importante,
sobretudo
para
as
sociedades
anónimas,
em
que
os
direitos
são
atribuídos
a
uma
categoria
de
acções,
p.e.,
categoria
B
recebe
um
dividendo
majorado,
e
tem
um
acesso
privilegiado.
Nas
outras
sociedades
são
direitos
individuais,
por
exemplo,
direito
especial
à
gerência.
O
regime
geral
encontra-‐se
ainda
consagrado
no
art.
55º,
isto
porque
este
diz
que
as
deliberações
sociais
são
ineficazes
quando
ofendem
os
direitos
especiais
dos
sócios,
isto
significa
que
os
direitos
especiais
dos
sócios
estão
imunes
às
deliberações
sociais.
Exemplos
para
as
sociedades
anónimas:
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Ex.:
direito
especial
à
gerência
(arts.
24º
e
257º/3).
Se
nos
estatutos
se
disser
que
o
Joaquim
tem
o
direito
especial
à
gerência,
significa
isto
que
não
pode
ser
substituído
pelos
demais
sócios.
A
deliberação
de
estatuição
é
ineficaz,
nunca
fica
sanada.
A
única
maneira
de
o
destituir
é
judicial,
e
com
justa
causa.
O
dever
especial,
neste
caso,
fica
adstrito
à
pessoa
do
sócio.
Ex.:
acções
preferenciais
sem
voto
(art.
341º)
–
a
ideia
subjacente
é
retirar
o
direito
de
voto,
mas
em
contrapartida
atribuir
direito
ao
lucro
maioritário
ou
majorado,
i.e.,
não
havendo
mais-‐valias
não
se
distribui
esse
mesmo
lucro,
por
outro
lado,
havendo,
o
primeiro
lucro
vai
para
as
acções
de
categoria
preferenciais;
não
havendo
para
outro,
não
é
problemático.
Ex.:
dividendo
de
lealdade
–
quem
fica
mais
tempo
como
sócio
se,
vender
as
acções,
recebe
cada
vez
mais
dividendos;
quem
está
como
sócio
há
mais
tempo.
Aula
de
24
de
março
de
2017
Acordos
Parassociais24
⇒ Direitos
e
deveres
de
pessoas
que
celebram
acordos
(art.
17º
CSC).
Tem
uma
grande
aplicação
prática
na
advocacia
transacional
e
no
contencioso
(court
and
litigation),
isto
porque
quando
se
fazem
projectos
empresarias,
em
especial
nas
sociedades
anónimas
e
no
contencioso
empresarial,
é
quase
todo
em
torno
das
sociedades
comerciais.
Correspondem
a
contratos
celebrados
entre
os
sócios,
autónomos
ao
contrato
de
sociedade,
essencialmente
regulando
o
exercício
de
posições
jurídicas
societárias.
Pode,
por
vezes,
fazer
parte
dos
estatutos,
mas
nas
sociedades
anónimas,
com
regime
mais
injuntivo,
há
coisas
que
não
se
podem
clausular,
sendo
ainda
de
acrescentar
que
não
se
trata
de
um
acordo
entre
todos
os
sócios,
mas
sim
determinados
sócios
que
combinam
coisas
entre
si
à
revelia
dos
outros.
Estipulam
como
se
vão
comportar
dentro
da
sociedade,
nomeadamente
fazendo
estipulações
sobre
o
exercício
do
direito
de
voto
(para
colocação
de
pessoas
no
Conselho
de
Administração,
p.e.)
e
podem
também
incidir
sobre
várias
situações
de
bloqueio,
como
questões
a
resolver
dentro
da
empresa.
ELEMENTO
SUBJECTIVO
Elemento
subjectivo
–
celebrado
entre
sócios,
pode
ser
por
parte
destes,
ou,
em
alguns
casos,
por
todos
(omnilaterais).
Podem
aparecer
terceiros,
p.e.,
um
administrador,
que
celebra
o
acordo,
comprometendo-‐se
a
permanecer
no
cargo;
pode
ser
um
banco
que
se
compromete
a
financiar
uma
actividade.
Na
prática
dos
negócios
temos
pessoas
que
ainda
não
têm
a
qualidade
de
sócio
e
que
podem
nunca
o
vir
a
ter,
mas
fazem
estes
acordos
ao
lado
da
socialidade.
Do
ponto
de
vista
técnico-‐jurídico,
levanta-‐se
uma
questão:
de
acordo
com
o
art.
17º
são
os
sócios
que
celebram
estes
acordos,
logo,
aparecendo
um
terceiro,
deverá
ser
outra
coisa
e
não
acordo
parassocial.
Para
o
professor,
não
é
grande
discussão,
se
se
considerar
que
a
situação
de
um
acordo
entre
terceiro
-‐
sem
ser
sócio
-‐
não
se
subsume
directamente
ao
art.
17º.
Posso
sempre
aplicá-‐lo
por
analogia,
pois
é
muito
próximo
do
acordo
parassocial.
Estas
regras
sobre
acordos
parassociais
são
essencialmente
proibitivas,
que
limitam
o
conteúdo
dos
acordos
parassociais
e
impõem
deveres
a
quem
celebra
acordos
parassociais.
⇒ Assim,
só
por
aparecer
um
terceiro,
deixo
de
aplicar
regras
injuntivas
ou
tenho
necessariamente
que
as
aplicar?
Estes
acordos
parassociais
com
terceiros
podem,
no
fundo,
não
ser
parassociais,
mas
aplicamos
as
regras
do
CSC
e
dos
outros
diplomas,
sendo
certo
que,
se
não
for
directamente,
será
por
analogia.
TEMPO
DA
CELEBRAÇÃO
Tempo
da
celebração
–
os
acordos
parassociais
são
celebrados
em
três
momentos:
(1)
Antes
do
contrato
de
sociedade;
(2)
Em
simultâneo
e;
(3)
Depois.
24
COUTINHO
DE
ABREU,
ENGRÁCIA
ANTUNES
e
PAULO
OLAVO
CUNHA.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Por
referência
ao
contrato
de
sociedade,
esta
parassocialidade
pode
surgir
nos
três
momentos
distintos.
Surge,
por
vezes,
antes,
em
simultâneo,
com
contratos
de
promessa
de
contratos
de
sociedade;
em
simultâneo
é
quando
monto
projecto
comum,
sendo
que
parte
da
matéria
está
regulada
nos
estatutos
e
o
resto
está
no
acordo
social
-‐
é
bastante
frequente
nos
casos
omnilaterais.
Quando
surge
após
o
contrato
de
sociedade,
tal
acontece
nas
situações
em
que
entra
um
novo
sócio,
novo
investidor
-‐
e
nesse
momento
em
que
há
aumento
de
capital
-‐,
torna-‐se
conveniente
celebrar
o
acordo.
Mas
pode
surgir
no
contexto
em
que
determinados
sócios
têm
um
equilíbrio
de
forças
e,
em
certa
altura,
unem-‐se
para
dominar
ainda
mais
a
sociedade
(entre
sócios
maioritários).
É
mais
frequente
nas
sociedades
anónimas,
nomeadamente
nas
abertas,
aquelas
que
têm
um
regime
estatutário
extremamente
injuntivo
–
nos
estatutos
temos
regras
gerais
que
vinculam
os
acionistas
empresários
e
meros
investidores
e
constam
dos
estatutos
as
limitações
ao
direito
de
voto
do
art.
394º/1,
a),
p.e.;
e
o
acordo
pode
ter
regras
que
valem
apenas
para
os
acionistas
empresários,
daí
ser
tão
frequente.
[Há
também
acordos
parassociais
em
sociedades
anónimas
fechadas].
Estes
acordos
parassociais
são,
tendencialmente,
confidenciais,
pois
é
este
um
dos
grandes
motivos
para
haver
acordos
parassociais.
Se
os
sócios
minoritários
se
juntam
para
unir
forças
contra
sócio
maioritário,
não
é
do
seu
interesse
mostrar-‐lhe
o
acordo.
Temos,
contudo,
regras
de
publicidade
para
alguns
casos
e
são
principalmente
para
instituições
de
crédito
das
sociedades
financeiras,
valores
mobiliários
e
seguradoras.
O
art.
17º
é
a
regra
geral
–
principal
-‐,
porém,
a
primeira
regra
a
apontar
deve
ser
a
que
consta
do
art.
405º
do
CCiv
(da
autonomia
privada);
a
base
legal
encontra-‐se
neste
artigo
devido
à
autonomia
privada
para
a
constituição
de
acordos
parassociais.
O
art.
17º
limita,
por
sua
vez,
a
autonomia
privada.
Há
uma
tendência
para
se
classificar
os
acordos
parassociais:
sindicatos
de
voto
e
convenções
de
bloqueio.
Os
primeiros
regulam
essencialmente
o
exercício
de
voto
e
os
segundos
a
transmissão
de
participações
sociais,
principalmente.
PEDRO
CAETANO
NUNES
considera
que
não
é
uma
classificação
exaustiva,
porque
há
acordos
que
regulam
outras
matérias
para
além
destas,
e
é
frequente
que
o
mesmo
acordo
regule
ambas
as
matérias
(é
raro
não
o
fazer,
inclusive).
CONTEÚDO
FREQUENTE
DO
ACORDO
PARASSOCIAL
A. Composição
e
Funcionamento
dos
Órgãos
Sociais
o Número
de
Administradores;
25
o Número
de
Administradores
a
indicar
por
cada
uma
das
partes
no
acordo
parassocial
(equilíbrio
de
forças) ;
o Quórum
dos
Conselhos
de
Administração;
o Delegação
da
Gestão
Corrente
–
há
Comissão
Executiva
ou
não;
o Designação
de
Membros
de
Outros
Órgãos
–
Fiscalização,
Auditor
Externo,
Mesa
da
Assembleia
Geral;
o Quórum
da
Assembleia
Geral
–
regras
sobre
sócios
minoritários;
26
o Órgão
Consultivo
–
Sócios
de
Referência .
B. Modo
de
Gestão
o Planos
de
negócios
a
médio
ou
longo
prazo
–
caso
da
startup:
compromisso
de
um
plano
de
negócio
ao
nível
do
acordo
parassocial
e,
pode
conjugar-‐se
com
cláusulas
sobre
o
financiamento
da
sociedade;
o Rácios
económico-‐financeiros
–
i.e.,
quais
os
objetivos
de
precursão,
capital
próprio
ou
alheio,
tem
que
ter
muito
average
ou
dinheiro
colocado
pelos
sócios
(obrigações
de
financiamento),
limites;
o Cláusulas
sobre
política
de
dividendos
–
percentagem
mínima
de
dividendos
a
distribuir.
25
A
discussão
incide,
às
vezes,
entre
quem
nomeia
os
executivos
e
não
executivos,
sendo
que
quem
nomeia
os
executivos
tem
mais
poder.
Discute-‐se
ainda
o
pelouro
dos
administradores
executivos.
26
Antes
do
Conselho
de
Administração
da
Sociedade
tomar
alguma
decisão,
reúnem-‐se
os
sócios
de
referência
para
combinar
as
coisas
em
tom
informal.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
C. Transmissão
de
Participações
Sociais
o Cláusulas
com
uma
obrigação
de
manutenção
da
titularidade
das
ações
–
os
lockup.
Geralmente,
têm
um
prazo
e
costumam
ressalvar
as
transmissões
intragrupo,
porque,
geralmente,
a
entidade
gestora
pretende
reorganizar
o
seu
grupo
e
geralmente
esta
é
o
investidor,
não
os
accionistas,
que
estão
por
detrás;
o Cláusulas
com
direito
de
preferência
–
uma
das
partes
vender
as
ações
a
outra
parte
tem
direito
de
preferência;
o Cláusulas
com
direitos
de
aquisição
–
direitos
potestativos,
p.e.,
opção
de
compra
por
sócio
maioritário
(adquiro
potestativamente
as
acções
se
A
se
inserir
numa
das
cláusulas
apresentadas,
p.e.,
por
má
gestão).
o Cláusulas
de
drag
along
–
o
sócio
maioritário
quer
vender
a
terceiro
(pretende
vender
posição
maioritária),
mas
o
comprador
pode
não
querer
ficar
com
um
sócio
que
lá
está,
logo,
esta
cláusula
permite
que
o
maioritário
force
o
minoritário
a
vender,
para
que
o
comprador
tenha
100%,
uma
vez
que
dificilmente
quer
ficar
com
60%
quando
o
outro
tendo
40%
-‐
pode
não
gostar
e
entra
logo
com
litígio.
Direito
de
aquisição
a
favor
de
terceiro.
o Direitos
de
alienação
–
opção
de
venda
por
minoritário
(se
o
maioritário
não
cumprir
os
pressupostos
do
acordo,
pode
o
minoritário
vender
as
suas
ações
[do
maioritário],
por
determinado
preço);
Cláusulas
de
tag
along
–
o
maioritário
vende,
o
minoritário
tem
direito
potestativo
de
vender
também,
porque
o
só
tendo,
por
exemplo
8%,
não
lhe
convém
ficar
com
um
novo
sócio
maioritário.
Estas
cláusulas
não
têm
eficácia
relativa
-‐
mesmo
o
direito
de
preferência
é
um
direito
que
sendo
estipulado
no
acordo
e
não
nos
estatutos,
não
tem
eficácia
erga
omnes.
As
opções
de
venda
são
put
options;
de
compra
são
call
options
(potestativamente).
A
ideia
é
que
sejam
feitas
ou
estipuladas
com
um
certo
preço,
sendo
por
isso
que
as
cláusulas
estão
associadas
ao
mecanismo
de
fixação
e
avaliação
de
preço.
{CARLOS
FERREIRA
DE
ALMEIDA
|
Contratos,
Volume
I}
Temos
que
distinguir
o
contrato
promessa
do
contrato
de
opção
-‐
neste
caso
falamos
de
opção
de
compra
e
de
venda,
não
de
contrato
promessa,
e
são
diferentes
na
teoria
dos
contratos;
nos
parassociais
fazemos
contratos
de
opção
e
muito
raramente
promessa;
quando
são
feitos
geralmente
é
por
naos
e
saber
fazer
de
opção.
CONTRATO
DE
PROMESSA
[BILATERAL]
CONTRATO
DE
OPÇÃO
[UNILATERAL]
A
promete
comprar
a
B,
e
B
promete
vender
a
A.
A
e
B
trocam
declarações
negociais
no
sentido
de
se
27
No
contrato
prometido
A
comprou
ao
B
e
B
vendeu
ao
A
conceder
uma
opção.
Cláusulas
com
objectivo
de
cotação
em
bolsa
–
quando
vendemos,
fazemos
aumento
de
capital.
o
D. Financiamento
da
Sociedade
o Obrigação
de
subscrição
de
aumento
de
capital
–
p.e.,
cláusula
que
determina
«daqui
a
x
anos,
tenho
que
injetar
mais
dinheiro
se
as
condições
o
pedirem»;
o Projecto
de
contribuições
financeiras
–
i.e.,
o
plano
ou
projecto
de
pedido
de
suprimentos
empréstimos
feitos
pelos
sócios;
27
O
contrato
optativo
tem
uma
só
declaração
negocial.
Atribuiu-‐se
ao
A
um
direito
potestativo
de
opção
de
comprar
definitivamente
ao
B
em
certas
circunstâncias.
Tem
estrutura
semelhante
à
proposta
e
aceitação.
Fica
completo
com
uma
única
declaração
negocial,
do
A,
que
tem
poder
unilateral
de
celebrar
o
contrato
optativo
definitivo.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
o Proibições
de
concorrência
–
frequente
nas
sociedades
por
quotas,
não
muito
frequente
nas
anónimas;
o Resolução
de
divergências
–
compromissórias
e
call
options
e
put
options;
o Cláusulas
penais;
o Depósitos
–
ou
seja,
as
quantias
depositadas
junto
de
terceiros
com
regime
de
mandato
em
que
bancos
libertam
as
quantias
verificados
certos
circunstancialismos.
Se
J
cumprir
acordo,
o
banco
tem
que
lhe
dar
o
dinheiro;
o Procurações
irrevogáveis;
o Cláusulas
de
confidencialidade;
o Cláusulas
sobre
denunciabilidade;
o Cláusulas
sobre
lei
aplicável.
Socialidade
e
Parassocialidade
O
Princípio
da
Autonomia
face
ao
contrato
de
sociedade
é
autónomo,
e
resulta
da
letra
do
art.
17º,
e
o
Princípio
da
Eficácia
Relativa
por
contraposição
à
Absoluta
[erga
omnes],
ou
seja,
o
acordo
parassocial
tem
eficácia
relativa;
por
sua
vez
o
contrato
social
tem
eficácia
absoluta.
As
estipulações
dos
estatutos
valem
perante
todas
as
partes
de
acordo
com
o
art.
406º
do
CCiv
no
acordo
social
e
no
parassocial
não.
Nada
impede
que
o
acordo
parassocial
possa
funcionar
como
um
contrato
a
favor
de
terceiro,
nomeadamente
cláusulas
a
favor
da
sociedade.
Por
exemplo,
posso
estipular
que
uma
das
partes
tem
o
dever
de
realizar
suprimentos
em
favor
da
sociedade
em
certo
momento
e
este
dever
pode
ser
estabelecido
como
dever
perante
as
restantes
partes
no
acordo
ou
como
a
favor
de
terceiro
em
que
a
sociedade.
Para
ser
a
favor
de
terceiro,
o
credor
tem
que
ser
o
terceiro;
se
pode
criar
vícios
para
terceiro
não
é
contrato
a
favor
de
terceiro.
Apesar
de
haver
autonomia
entre
os
dois,
podem
os
estatutos
limitar
a
eficácia
dos
acordos
parassociais?
Podem
os
estatutos
dizer
que
os
acordos
não
são
válidos
para
a
sociedade
-‐
e
esta
é
a
posição
de
RAUL
VENTURA;
também
no
CVM
se
defende
que
os
estatutos
das
sociedades
anónimas
abertas
possam
limitar
os
acordos
parassociais.
CARNEIRO
DA
FRADA
tem
uma
posição
minoritária
que
considera
que
quando
os
acordos
parassociais
são
omnilaterais
não
funciona
a
ideia
de
autonomia
e
eficácia
relativa.
Neste
caso
as
cláusulas
do
acordo
são
para
cumprir
dentro
da
sociedade;
para
o
professor
esta
posição
é
contra
a
lei.
A
montante
deste
tema
temos
um
problema
prévio
de
saber
se
temos
um
contrato
ou
dois
contratos:
isto
é,
estatutos
ou
estatutos
e
outra
coisa
(acordo
parassocial)
-‐
é
o
problema
da
união
de
contratos.
É
importante
saber
se
há
uma
mera
união
económica
de
vários
contratos
jurídicos
ou
apenas
um.
Sendo
os
estatutos
sujeitos
a
registo
(ou
seja,
à
publicidade);
e
os
acordos
podendo
ser
confidenciais,
o
critério
de
distinção
tende
para
ser
o
formal
em
detrimento
do
critério
substancial,
em
função
do
conteúdo
clausulado.
Assim,
o
que
conta
é
o
registado.
Limites
ao
Conteúdo
dos
Acordos
Parassociais
Relativamente
aos
acordos
parassociais,
parte
das
normas
que
podemos
construir
com
base
em
todo
o
art.
17º;
temos
cinco
proibições
e,
em
todas
estas
o
conceito
de
acordo
serve
para
delimitar
o
campo
de
aplicação.
Inspirados
nos
Princípios
da
Autonomia
e
Eficácia
Relativa.
Aqui
temos
restrições
ao
sindicato
de
voto
principalmente
(número
1,
2
e
3).
A
parte
final
do
número
1
do
art.
17º
apresenta
uma
restrição
da
impugnabilidade
dos
actos
da
sociedade
e
dos
sócios,
é
a
restrição
mais
forte
(Princípio
da
Eficácia
Relativa).
Não
se
pode
impugnar
actos
externos
da
sociedade
perante
terceiros,
deliberações
sociais,
votos
e
actos
de
transmissão
das
participações
sociais.
Não
pode
haver
vícios
dos
negócios
jurídicos
com
fundamento
nas
cláusulas
dos
acordos
parassociais;
os
actos
jurídicos
da
sociedade
não
podem
ver
a
sua
eficácia
jurídica
com
base
nos
acordos
parassociais,
não
pode
haver
desvalor
jurídico
relativamente
a
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
28
actos
da
sociedade
ou
dos
sócios
para
com
a
sociedade .
Trata-‐se
de
um
corolário
básico
do
Princípio
da
Eficácia
Relativa.
CARNEIRO
DA
FRADA
considera
que
a
regra
do
art.
17º
não
está
certa
{querela
doutrinária}
e,
portanto,
é
aqui
que
a
sua
posição
tem
relevância.
Para
este
representa
derrogação
da
aplicação
do
17º/1.
Aula
de
28
de
março
de
2017
Não
poderão
haver
vícios
dos
negócios
jurídicos
em
causa
com
fundamento
da
violação
das
cláusulas
de
acordos
parassociais.
Os
actos
da
sociedade
não
podem
ser
impugnados,
i.e.,
a
sua
eficácia
jurídica
não
pode
ser
considerada
pela
existência
do
acordo
social.
Os
actos
da
sociedade
serão
as
deliberações
sociais
(sócios
ou
outros
órgãos,
como
Conselho
de
Administração);
os
próprios
votos
dos
sócios;
e
os
actos
relativos
à
transmissão
de
participações
sociais.
A
proibição
do
número
1
do
art.
17º
é
um
corolário
básico
da
eficácia
relativa.
O
art.
17º/2
tem
a
proibição
de
as
cláusulas
do
acordo
parassocial
respeitarem
à
conduta
dos
intervenientes
ou
de
outras
pessoas
no
exercício
de
funções.
A
partir
de
«(…)
mas»,
temos
a
proibição.
Não
podem
regular
a
actuação
dos
administradores
e
os
titulares
de
outros
órgãos
de
administração.
Na
prática,
uma
proibição
de
instruções
de
sócios
aos
administradores,
de
administradores
a
outros
administradores,
ou
fiscalizadores.
⇒ O
acordo
parassocial
não
pode
determinar
directamente
a
conduta
dos
administradores
ou
outros
titulares.
A
pergunta
que
se
levanta
é
se
o
podem
fazer
indirectamente.
A
primeira
distinção
relevante
é
a
da
posição
orgânica
originária
dos
sócios
e
derivada
dos
titulares
dos
órgãos
de
administração
e
fiscalização.
Enquanto
os
sócios
têm
direitos
subjectivos,
estes
titulares
actuam
no
interesse
de
outrem.
Tem
poderes-‐deveres
e
não
direitos
subjectivos.
Devem
actuar
no
interesse
da
sociedade,
dos
sócios,
dos
take
holders,
dos
interessados
na
sociedade.
Nunca
actuam
no
interesse
próprio.
Ou
seja,
face
à
proibição,
não
recebem
instruções,
no
sentido
em
que
não
actuam
apenas
no
interesse
de
um
sócio,
mas
de
todos
os
sócios.
Por
trás
desta
regra,
a
eficácia
relativa
vigora.
Os
acordos
parassociais
não
podem
condicionar
a
actividade
estatutária.
Além
disso,
existe
a
arquitectura
estatutária
da
existência
de
poderes-‐deveres.
É
uma
ideia,
sobretudo,
das
sociedades
anónimas.
Temos
de
distinguir,
ainda
as
sociedades
anónimas
e
as
sociedades
por
quotas.
Nas
sociedades
anónimas
não
podem
haver
instruções
orgânicas
estatutárias
aos
gerentes.
Já
nas
sociedades
por
quotas,
é
possível,
em
sede
de
Assembleia
Geral.
O
que
não
é
possível
é
que
as
instruções
sejam
dadas
pelos
sócios
no
âmbito
de
um
acordo
parassocial.
Ou
seja,
é
possível
nas
sociedades
por
quotas,
mas
de
forma
legítima
[forma
indirecta].
Esta
é
a
proibição
mais
violada.
Não
há
acordo
parassocial
que
não
tente
conformar
esta
regra.
É
uma
regra
que
não
cola
com
os
negócios;
cai
em
desuso
por
ser
tão
violada.
Na
vida
real,
interessa
fazer
clausulados
mais
inteligentes.
Todos
os
acordos
parassociais
vão
querer
incidir
sobre
estas
matérias.
Podem
ser
mais
sofisticados:
a. Dois
tipos
de
redacção:
os
sócios
obrigam-‐se,
no
acordo
parassocial,
a
que
os
administradores
actuem
de
acordo
com
estas
regras,
ou
de
acordo
com
o
que
for
decidido
neste
âmbito
[há
imposição
directa
da
forma
de
actuação
dos
administradores].
Por
outro
lado,
pode
colocar-‐se
uma
obrigação
de
meios,
i.e.,
os
sócios
comprometem-‐se
a
realizar
todos
os
esforços
no
sentido
de
que
os
administradores
actuem
em
determinada
direcção
[obrigação
de
meios
corresponde
a
uma
imposição
indirecta].
A
terceira
proibição
é
a
regulada
no
art.
17º/3,
alínea
a)
–
proibição
da
obrigação
de
votar
seguindo
as
instruções
da
sociedade
ou
de
um
dos
seus
órgãos.
A
quarta
proibição
surge
na
b)
–
proibição
da
obrigação
de
votar
aprovando
as
propostas
feitas
por
estes.
Fala-‐se,
na
ratio
legis
da
proibição,
está
a
subversão
da
democracia
[em
vez
de
serem
os
sócios
a
decidir,
é
a
Administração
que
toma
as
decisões,
ficando
os
sócios
obrigados
a
seguir
a
iniciativa
dos
administradores
–
os
sócios
têm
a
sua
conduta
determinada
pelos
administradores,
fazendo
com
que
estes
ficassem
imunes
à
28
Da
sociedade
são
deliberações
sociais,
dos
sócios
ou
outros
órgãos,
deliberações
externas
a
terceiros.
Para
além
destas,
os
actos
dos
sócios
e
os
relativos
à
transmissão
das
participações
sociais.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
29
responsabilidade.
É
nessa
lógica
que
se
falam
nos
outros
dois
riscos ]
de
um
risco
de
perpetuação
dos
administradores
e
irresponsabilidade
dos
administradores.
A
última
proibição
consta
da
alínea
c)
–
da
proibição
de
exercer
o
direito
de
voto
em
contrapartida
de
vantagens
especiais.
A
lógica
desta
regra:
quer-‐se
transparecer
uma
ideia
de
desconforto
com
a
venda
dos
votos.
Por
outro
lado,
se
estamos
perante
sociedades
comerciais
que
gerem
interesses
pecuniários,
é
difícil
determinar
o
que
é
a
vantagem.
Vota-‐se
não
por
altruísmo,
mas
a
pensar
nas
vantagens
próprias.
Não
se
percebe
bem
o
que
o
legislador
quis
fazer.
A
primeira
ideia
é
a
da
venda
pejorativa
de
votos.
Nos
EUA
há
muito
esta
ideia.
Há
uma
prática
de
os
sócios
atribuírem
poderes
de
representação
a
determinados
titulares
para
que
possam
votar
na
Assembleia
Geral
[proxy
fight].
A
lógica
capitalista
das
sociedades
comerciais
está
no
sentido
de
que
o
voto
é
atribuído
a
quem
tem
uma
maior
participação
económica
–
i.e.,
há
uma
pretensão
residual:
se
for
bem
gerido,
corre
tudo
bem;
se
for
mal
gerido,
corre
mal.
Quem
investe
tem
um
maior
interesse
na
boa
gestão.
Do
ponto
de
vista
da
mão
invisível
de
mercado,
têm
maior
voto
quem
investiu
mais
capital,
pois
terá
maior
interessa
na
boa
gestão
{análise
económica
do
direito}.
Em
todo
o
caso,
ninguém
sabe
determinar
bem
quando
é
que
temos
vantagens
especiais
legítimas
ou
vantagens
especiais
ilegítimas,
na
medida
em
que
haverá
sempre
vantagem
na
protecção
dos
próprios
capitais
–
na
actuação
com
o
maior
interesse.
Denunciabilidade
ou
Vigência
do
Tempo
Não
existem
regras
legais
específicas
que
limitem
os
acordos
parassociais
temporalmente.
Ou
seja,
estamos
no
âmbito
da
liberdade
de
estipulação
do
prazo.
Ou
estabelecem
um
prazo
limite
ou
têm
uma
vigência
indefinida.
Quando
não
estabelecem
um
prazo
limite,
pergunta-‐se
se
pode
haver
vinculação
temporalmente
indeterminada.
Ninguém
pode
vincular-‐se
intemporalmente.
Uma
obrigação
eu
seja
perpétua
pode
ser
denunciada
a
todo
o
tempo
[denunciabilidade
30
ad
mutum
nas
obrigações
perpétuas
–
querela ].
Doutrina:
1. Denunciabilidade
Ad
Mutum;
2. Inexistência
de
Denunciabilidade;
3. Obrigações
Parassociais
como
Obrigações
Propter
Rem.
Esta
terceira
posição
é
defendida
por
RUI
PINTO
DUARTE
e
PEDRO
CAETANO
NUNES,
são
obrigações
associadas
à
socialidade,
sendo
que
a
parassocialidade
é
acessória
da
socialidade,
pelo
que
fará
sentido
considerar
que
não
perpétuas,
mas
mantém-‐se
enquanto
existir
a
socialidade.
Enquanto
for
sócio,
mantém-‐se
o
acordo
parassocial.
Com
esta
solução,
afasta-‐se
a
primeira.
Relevância
dos
Acordos
Parassociais
Vamos
verificar
quais
os
efeitos
jurídicos
que
podem
resultar
ou
ter
origem
do
acordo
parassocial.
Os
contratos
são
actos
performativos,
i.e.,
geram
efeitos
jurídicos.
Quem
celebra
um
acordo
parassocial
também
pode
ter
efeitos
que,
frequentemente,
são
pejorativos.
Não
há
uma
arquitectura
legal
perfeita,
mas
disposições
legais
dispersas
que
associam,
pontualmente,
efeitos
negativos:
a. Responsabilidade
do
sócio
(art.
83º)
–
responsabilidade
solidária
do
sócio
por
actos
dos
membros
dos
órgãos
sociais,
dos
administradores.
Em
determinadas
circunstâncias,
respondem
solidariamente.
Os
administradores
violaram
os
seus
deveres,
sendo
os
primeiros
responsáveis,
mas
verificadas
certas
circunstâncias,
os
sócios
vão
responder
também,
designadamente:
em
várias
situações,
incluindo
nos
acordos
parassociais.
29
Não
se
fala
da
democracia
em
rigor
técnico,
na
medida
em
que
nas
sociedades
de
capitais
não
há,
em
rigor,
uma
democracia,
mas
uma
plutocracia.
É
o
risco
de
actuação
oligárquica
na
plutocracia.
30
VAZ
SERRA
susteve
esta
posição
doutrinária.
Se
não
colocar
qualquer
prazo,
corre-‐se
o
risco
de
invocarem
que
o
acordo
parassocial
é
denunciável
a
todo
o
tempo,
por
se
tratar
de
uma
obrigação
perpétua.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Situações
dos
números
1,
2
e
3:
situações
de
culpa
in
eligendo,
i.e.,
a
responsabilidade
pela
actuação
de
outrem
pode
estar
relacionada
com
três
tipos
de
situações.
O
sócio
responde
se
for
negligente
na
designação
do
administrador.
É
uma
culpa
quanto
à
escolha.
Os
acordos
parassociais
são
aqui
relevantes
para
saber
se
se
pode
recorrer
ao
art.
83º.
Situação
do
número
4:
influência
determinante.
Há
responsabilidade
do
sócio
pela
influência
determinante.
Do
ponto
de
vista
prático,
é
a
hipótese
mais
acutilante.
P.e.,
o
gerente
fez
negócios
em
sede
de
preços
de
transferência.
Haveria,
por
violação
do
dever
de
lealdade,
responsabilidade
do
administrador.
O
sócio
que,
por
força
do
acordo
parassocial,
tivesse
tido
uma
influência
determinante
nessas
transacções,
teria
de
ser
responsabilizado
pelo
art.
83º/4.
b. Instituições
de
Crédito
e
Seguradoras
–
obrigação
de
registo
de
acordos
parassociais.
Na
actividade
financeira,
há
preocupações
de
protecção
do
crédito
público,
do
funcionamento
da
encomia
(art.
109º,
CRP).
O
interesse
público
é
mais
intenso.
A
base
são
os
problemas
esténicos
do
sistema
financeiro
e,
neste
contexto,
porque
são
actividades
sensíveis,
uma
das
coisas
que
o
legislador
determina
é
o
registo
dos
acordos
parassociais.
Assim,
as
entidades
reguladoras
e
as
pessoas,
em
geral,
têm
direito
a
saber
se
existem
acordos
parassociais.
Não
há
«jogos
de
bastidores
entre
os
sócios
e
a
banca».
c. Código
de
Valores
Mobiliários
para
as
Sociedades
Anónimas
Abertas
(arts.
19º
e
245º-‐A)
–
regras
sobre
registo
e
divulgação,
portanto,
quebra
de
confidencialidade.
No
art.
19º
temos
uma
regra
sobre
anulabilidade
das
DN.
No
art.
182º-‐A,
uma
regra
de
suspensão
dos
acordos
parassociais
em
caso
de
oferta
pública
de
aquisição
(OPA),
se
os
estatutos
assim
o
previrem.
É
a
regra
em
que
se
permite
que
o
teor
dos
estatutos
possa
limitar
o
teor
dos
acordos
parassociais.
A
socialidade
afectar
a
parassocialidade
[não
confundir
com
a
parassocialidade
afectar
a
socialidade
–
é
estritamente
proibido].
Por
último,
os
arts.
187º
e
20º,
que
relevam
no
dever
de
lançamento
de
OPA.
No
regime
das
sociedades
anónimas
abertas
existe
um
dever
legal
de
lançamento
da
OPA,
como
regime
de
protecção
dos
pequenos
investidores
{e
que
dificulta
a
vida
do
sócio
maioritário,
que
poderá
ter
de
oferecer
o
pagamento
de
todas
as
acções
dos
pequenos
investidores
–
aquisição
de
todas
as
restantes
acções}.
O
facto
de
existir
um
acordo
parassocial,
conta
para
o
pressuposto
de
atingir
o
nível
de
domínio
de
participação
social.
Contam
os
votos
que
o
sócio
tem,
e
a
força
que
decorre
do
acordo
parassocial.
d. Regime
da
Defesa
da
Concorrência
(Lei)
–
nos
EUA
e
na
EU,
existem
leis
de
defesa
da
concorrência,
ou
da
mão
invisível
do
mercado.
Só
há
liberalismo
com
a
livre
concorrência,
não
com
os
monopólios.
Proíbem-‐se
práticas
de
concentração
empresarial,
de
dumping
[baixas
de
preços
artificiais
para
beneficiar
o
concorrente].
Os
casos
de
monopólio
ou
quase
monopólio
são
perseguidas.
O
acordo
parassocial
pode
ser
relevante
para
esse
efeito.
10. CAPITAL
SOCIAL
⇒ É
uma
cifra
pecuniária
estatutária,
correspondente
ao
somatório
dos
valores
nominais
das
participações
sociais,
com
a
exclusão
das
entradas
em
indústrias
ou
serviços.
O
art.
9º/1,
alínea
f)
determina
que
se
trata
de
um
elemento
obrigatório
dos
estatutos.
O
art.
14º
determina
que
tem
de
ser
expresso
em
moeda
com
curso
legal
em
Portugal
[euro].
Para
efeitos
de
cálculo,
o
que
interessa
é
valor
facial,
nominal.
Em
sentido
técnico-‐jurídico,
o
valor
nominal.
Interessa
não
o
dinheiro,
mas
o
valor
nominal
da
participação.
As
sociedades
em
nome
colectivo
podem
não
ter
capital
social,
se
só
tiverem
sócios
de
indústria,
que
dão
entradas
não
em
dinheiro
ou
espécie,
mas
em
serviços.
Fora
destas,
existe
sempre
capital
social.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
capital
social
é
o
número
que
consta
da
cláusula
estatutária.
Não
deve
ser
confundido
com
o
património,
este,
por
definição,
é
o
conjunto
de
situações
jurídicas,
activas
e
passivas,
avaliáveis
em
dinheiro,
por
referência
a
determinado
momento
temporal
[A
pode
ter
um
grande
património
num
dia,
e
esgotá-‐lo
no
Casino
no
dia
seguinte].
O
capital
é
uma
cifra
estatutária
estática,
enquanto
o
património
é
um
valor
dinâmico,
verificado
num
certo
momento.
O
capital
social
só
muda
com
uma
alteração
dos
estatutos.
• Estático
versus
dinâmico;
• Cifra
estatutária
versus
valor
real.
O
capital
social
tem
duas
funções:
(1)
externa,
a
ver
com
a
protecção
de
terceiros
[mecanismos
com
regras
que
se
destina
a
proteger
os
credores];
(2)
interna,
a
ver
com
o
peso
relativo
dos
direitos
dos
sócios.
Aula
de
31
de
março
de
2017
O
capital
social
é
uma
cláusula
estatutária,
um
núcleo
constante.
É
um
documento
arquivado
na
Conservatória
do
Registo
Predial,
um
número
que
consta
do
papel.
O
património,
em
contraponto,
é
o
conjunto
de
posições
jurídicas,
activas
e
passivas,
avaliáveis
em
dinheiro.
Cada
segunda
que
passa,
altera
o
património.
Ex.:
património
da
Vodafone
–
sempre
que
paga
algo
aos
fornecedores
ou
recebe
algo
dos
clientes,
altera
o
património.
Em
contraponto,
o
capital
social
é
sempre
o
mesmo.
Está
guardada
na
conservatória.
O
capital
social
só
se
muda
se
forem
alterados
os
estatutos.
O
capital
social
tem
uma
função
interna
e
externa,
de
protecção
de
credores,
a
qual
vinculativa.
O
facto
de
ter
uma
cifra
estatutária
registada
na
CRC
pouco
vale
aos
credores.
Se
as
dividas
não
forem
pagas,
podem,
nos
termos
gerais
do
art.
601º
do
CCiv,
executar
o
património
do
devedor
(garantia
geral).
Se
não
tem
património
suficiente,
o
credor
fica
sem
receber.
O
património
é
que
é
a
garantia
dos
credores.
Este
efeito
externo
tem
a
ver
com
regras
que
determinam
que
o
património
social
deva
atingir
o
mesmo
que
o
capital
social;
e
regras
que
visam
impedir
que
o
património
desça
abaixo
do
valor
do
capital
social.
Temos
de
falar
de
dois
outros
conceitos:
a. Património
líquido
e
bruto
–
se
uma
sociedade
estiver
com
o
património
líquido
negativo,
está
em
situação
de
insolvência.
O
líquido
corresponde
ao
somatório
do
património
activo
e
passivo.
Se
o
património
líquido
activo
for
superior
ao
passivo,
é
sinal
de
saúde
da
sociedade.
As
empresas
podem
ter
problemas
financeiros
no
longo
prazo.
Se
tem
um
passivo
superior,
mais
cedo
ou
mais
tarde,
o
caminho
será
a
insolvência.
No
curto
prazo,
temos
um
problema
de
tesouraria.
Por
vezes,
podemos
ter
um
passivo
muito
grande,
mas
podemos
ir
tendo
dinheiro
em
caixa,
um
activo
que
permite
esconder
o
passivo
{há
tesouraria}.
Nos
bancos,
na
actividade
financeira,
e
nas
seguradoras,
a
tesouraria
é
mais
importante
do
que
o
negócio
do
activo/passivo.
Basta
que
falte
tesouraria
em
dado
momento
para
que
haja
problemas.
O
art.
3º
do
Código
de
Insolvência
e
Recuperação
de
Empresas:
estabelece
o
primeiro
critério
como
sendo
o
da
tesouraria.
O
número
2
estabelece
que
as
pessoas
colectivas
–
entre
as
quais
as
sociedades
-‐,
quando
o
seu
activo
seja
superior
ao
passivo,
têm
como
solução
o
critério
da
tesouraria
em
detrimento
da
insolvência.
Esta
é
a
solução
do
legislador
[critério
da
tesouraria].
As
empresas,
por
vezes,
têm
poucos
capitais
próprios
e
muito
dinheiro
emprestado
pela
banca,
i.e.,
por
outros
credores
e,
nesse
contexto,
ficam
com
um
passivo
superior
ao
activo.
Porém,
apesar
disso,
se
não
fossem
os
juros,
estes
descontados
ao
problema
estrutural
do
pagamento
dos
juros,
se
olharmos
para
a
estrutura
económica
da
empresa,
até
está
a
criar
margem.
Naquele
momento
tem
um
passivo
superior
ao
activo,
mas
ainda
existem
credores
que
vão
apostar
nas
Empresas,
e
criar
tesouraria
–
com
o
pensamento
«de
que
ainda
vai
dar
a
volta».
Se
a
empresa
dá
garantias
de
lucros,
há
possibilidade
de
cobrar
menos
juros.
Contudo,
se
houver
maior
risco,
a
Banca
pode
optar
por
cobrar
maior
juro.
Os
juros
são
muito
elevados
porque
têm
em
conta
os
riscos
da
empresa
e
ainda
os
riscos
da
República,
ou
seja,
da
Economia
Portuguesa.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Capital
Próprio
e
Capital
Alheio
O
capital
próprio
são
os
meios
financeiros
fornecidos
pelos
sócios.
Por
sua
vez,
o
capital
alheio
são
os
fornecidos
por
terceiros,
i.e.,
«não
sócios».
Como
exemplos,
em
(1)
de
capital
próprio
e,
em
(2),
do
capital
alheio:
(1) Entradas
de
capital;
(2) Meios
fornecidos
pelos
Bancos,
mútuos
bancários
nas
suas
diversas
formas;
empréstimos
a
longo
prazo;
conta
corrente
caucionada
[para
efeitos
de
tesouraria,
vai-‐se
levantando
o
montante
que
for
necessário
ao
longo
da
semana,
até
ao
limite
de
x
–
são
dadas
garantias,
cauções].
Temos
ainda
empréstimos
a
longo
prazo,
tipicamente
para
investimentos
[podem
não
ser
para
investimento,
mas
para
consolidação
das
dívidas
–
transformação
dos
empréstimos
a
curto
prazo
em
empréstimo
a
longo
prazo].
Temos
ainda
a
locação
financeira.
Existe
capital
alheio
fornecido
por
terceiros,
tais
como
os
fundos
de
investimento;
obrigações
reguladas
no
CSC
na
matéria
das
Sociedades
Anónimas
{emissão
de
dívida,
de
forma
homogénea,
como
valores
mobiliários
que
podem
ser
transacionadas
na
bolsa
ou
no
mercado
secundário
–
emissão
de
obrigações}.
No
CSC,
art.
348º,
em
especial,
retrata
esta
questão
da
obrigação.
1º
Aprofundamento:
• Equity:
expressão
para
capital
próprio
junto
dos
economistas;
• Debt:
expressão
para
capital
alheio.
2º
Aprofundamento:
É
essencial
para
a
estrutura
financeira
das
empresas.
A
«Corporate
Finance»
é
marcada
pelas
noções
de
capital
próprio
e
capital
alheio.
Tradicionalmente,
defendia-‐se
que
o
ideal
seria
a
empresa
ter
capital
próprio.
Ou
seja,
é
bom
ter
mais
capital
próprio
do
que
capital
alheio.
Numa
perspectiva
moderna
é
diferente.
Apesar
das
boas
expectativas
de
um
retorno,
se
a
empresa
optar
por
ter
menos
capital
alheio,
será
ultrapassada
por
uma
empresa
que
tenha
mais
leverage
–
mais
dinheiro
emprestado
–
mas
que
tenha
maior
capacidade
de
produção.
Se
investe
mais,
gera
mais
lucros,
logo,
tanto
faz
que
seja
através
de
capital
próprio
como
alheio
[dependendo
dos
custos
de
um
ou
outro
capital].
No
jogo
da
oferta
e
da
procura,
a
taxa
de
juro
é
o
que
vai
definir
o
que
é
melhor.
Nas
alturas
de
crise
financeira,
pode
não
ser
aconselhável
ir
buscar
dinheiro
ao
mercado,
uma
vez
que
terá
juros
muitos
altos
e,
consequentemente,
a
empresa
poderá
não
gerar
o
cash
flow
necessário
para
fazer
face
a
esses
juros.
Em
contrapartida,
se
a
taxa
de
juro
for
mais
baixa,
basta
que
tenha
a
expectativa
de
crescer
acima
dessa
taxa,
para
que
seja
viável
ir
buscar
capital
alheio.
O
capital
próprio
não
tem
um
preço
fixado
à
partida.
Quando
se
emitem
acções,
estas
não
têm
taxa
de
juro,
ou
seja,
os
sócios
são
titulares
de
uma
pretensão
residual
–
se
sobrar
dinheiro,
arrecadam
-‐,
mas
não
podem
receber
juros.
Para
arranjar
investidores,
pessoas
que
queiram
subscrever
novas
acções
se
acharem
que
a
sociedade
vai
gerar
lucro,
i.e.,
quem
investe
em
acções,
tem
a
expectativa
de
ser
remunerado.
É
um
negócio
de
risco.
É
mais
arriscado
investir
nas
acções
do
que
nas
obrigações.
Contudo,
pode
ter
mais
retorno.
Não
tem
um
preço
fixo,
mas
há
expectativas.
Um
gestor
olha
para
o
mercado
na
perspectiva
do
investimento
para
ultrapassar
as
empresas
da
concorrência.
Com
base
nisto,
e
no
jogo
da
oferta
e
da
procura,
que
vai
determinar
se
é
mais
viável
apostar
em
capital
próprio
ou
alheio
e
se
é
mais
viável
apostar
nas
acções
ou
nas
obrigações.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Esta
ideia
é
também
avançada
para
efeitos
de
protecção
dos
credores.
Diz-‐se
que
as
empresas
devem
ter
certa
proporção
entre
capitais
próprios
e
alheios.
Não
podem
ter
um
excesso
de
dívida
(alheios),
e
pouco
capital
próprio.
Deve
haver
um
equilíbrio.
Há
maior
risco
para
os
credores
se
houver
desequilíbrio.
As
actividade
financeiras
são
alavancadas,
i.e.,
os
Bancos
vivem
com
grande
desequilíbrio,
pelo
que
se
tentam
estabelecer
limites
mínimos.
Na
Banca
têm
de
ter
o
mínimo
de
capitais
próprios.
A
proporção,
na
Banca,
é
um
aspecto
essencial
da
protecção
dos
credores.
Para
os
outros
sectores
de
actividade,
a
lei
não
consagra
rácios
de
capitais
próprios
e
alheios.
Os
credores,
nestes
casos,
têm
de
olhar
ao
património.
{ao
contrário
do
que
acontece
na
Banca}.
Função
Interna
por
Contraposição
à
Função
Externa
do
Capital
Social
A
função
interna
é
uma
função
de
suporte
de
distribuição
de
direitos
e
deveres
entre
os
sócios.
O
peso
relativo
dos
sócios
é
dado
pela
sua
fracção
do
capital
social
–
percentagem
do
capital
social
determina
os
direitos
e
deveres
que
determinado
sócio
pode
ser.
P.e.,
o
direito
à
informação.
Em
determinadas
sociedades,
só
se
dá
este
direito
a
quem
tem
mais
de
10%
do
capital
social
–
a
cifra
serve
de
suporte
ou
critério
para
saber
quais
os
direitos
e
deveres
que
o
sócio
tem,
e
em
que
medida
os
tem.
P.e.,
o
direito
de
voto
(art.
341º,
CSC).
Há
mecanismos
de
bloqueio,
i.e.,
pode
vedar-‐se
o
voto
aos
sócios
com
percentagens
reduzidas.
O
mesmo
em
sentido
inverso.
Quando
falamos
em
sócio
dominante,
estamos
a
falar
em
função
do
capital
social.
Para
as
sociedades
capitalistas
o
capital
social
tem
uma
função
interna
incontornável.
Tem
de
constar
dos
estatutos.
As
deliberações
sociais
têm
quórum,
o
qual
pode
ser
determinado
em
função
do
capital
social.
A
função
externa
é
uma
função
de
limite
à
evolução
do
património
da
Sociedade,
como
meio
de
protecção
dos
credores.
O
capital
social,
neste
caso,
é
tido
como
uma
cifra
de
retenção
patrimonial.
Esta
função
externa
tem
a
ver
com
a
protecção
dos
credores.
Princípios
e
Regras
dos
Princípios
Existem
três
princípios
que
norteiam
e
formam
o
regime
do
capital
social,
sendo
que
os
dois
últimos
têm
a
ver
com
a
função
externa
e
o
primeiro,
com
a
interna
e
externa.
São,
designadamente:
a. Princípio
da
Rigidez
–
o
capital
é
fixado
nos
estatutos,
pelo
que
tem
rigidez
estatutária.
Pode
ser
alterado,
mas
apenas
com
a
alteração
dos
estatutos;
b. Princípio
da
Efectividade
(ou
da
Exacta
Formação)
–
num
primeiro
momento,
é
necessário
assegurar
que
entra
património
correspondente
ao
capital
social.
As
regras
que
correspondem
a
este
princípio:
⇒ Dever
de
liberação
das
entradas;
⇒ Regras
sobre
a
avaliação
das
entradas
em
espécie;
⇒ Proibição
de
realização
das
entradas
abaixo
do
PAR.
c. Princípio
da
Conservação
(ou
da
Intangibilidade)
–
já
não
se
trata
da
perspectiva
inicial,
de
colocar
o
património
que
corresponde
à
cifra;
mas
antes
da
cifra
como
limite
à
saída
de
património.
Se
o
capital,
p.e.,
for
de
€50.000,
se
ainda
lá
estão
€50.001,
e
se
retirar
esse
excesso
para
dar
aos
sócios,
há
ilegalidade.
É
proibido,
por
lei.
Quanto
às
regras
decorrentes
do
princípio:
⇒ Proibição
de
retribuição
certa
de
capital
(art.
21º/2);
31
⇒ Proibição
de
distribuição
de
bens
aos
sócios
(dividendos
do
art.
32º/1) ;
31
Instituto
da
distribuição
oculta
dos
bens:
quando
se
entregam
os
bens
de
forma
oculta,
através
de
negócios
com
partes
relacionadas.
Transfere-‐se
liquidez,
dinheiro,
aos
sócios,
não
dizendo
abertamente
que
o
está
a
fazer,
mas
colocando
a
sociedade
a
fazer
negócios
desequilibrados
com
os
sócios.
Há
a
proibição
quer
para
as
distribuições
«à
luz
do
dia»,
quer
para
as
ocultas.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
32
⇒ Proibição
de
dissolução
e
liquidação
da
sociedade
(art.
35º) ;
33
⇒ Limitações
de
autoparticipações .
Aula
de
4
de
abril
de
2017
A
noção
de
«parte
relacionada»
encontra-‐se
no
CVM,
a
propósito
da
prestação
de
contas
da
sociedade
anónima
aberta,
e
o
regime
obriga
a
que
nas
contas
destas
sejam
descritos
os
negócios
das
partes
relacionadas:
sócios,
pessoas
e
administradores,
que
se
relacionam
de
forma
directa
ou
indirecta.
Autoparticipação:
não
tem
muita
lógica
que
uma
sociedade
possa
ser
sócia
de
si
própria,
mas
o
direito
das
sociedades
é
derivado
dos
negócios
e
não
da
lógica.
São
regras
que
jogam
no
âmbito
da
função
externa.
Valores
Mínimos
do
Capital
Social
Nas
Sociedades
Anónimas
vincula
o
art.
276º
do
CSC.
O
montante
social
mínimo
é
de
€50.000,00.
Este
tem
de
ser
estabelecido
no
Estatuto.
P.e.,
para
uma
mercearia
ou
um
quiosque,
não
é
um
montante
muito
elevado,
como
forma
de
protecção
de
credores.
Para
a
generalidade
das
empresas,
é
um
valor
reduzido,
que
questiona
a
eficácia
desta
função
externa.
Na
Banca,
Seguros,
é
diferente.
Na
redacção
original,
o
regime
do
capital
social
é
livre,
i.e.,
no
final
do
dia,
pode
ser
€1.
Importa
o
art.
201º.
Era
este
o
artigo
que,
originalmente,
dizia
que
o
capital
social
mínimo
era
de
€5.000,00.
As
quotas
têm
um
valor
mínimo,
ou
seja,
indirectamente,
da
soma,
temos
um
valor
mínimo
de
capital
social.
Deste
art.
201º
temos
de
ir
para
o
art.
219º/3.
Se
for
uma
sociedade
por
quotas
unipessoal,
o
mínimo
é
de
€1;
se
for
de
dois
sócios,
o
mínimo
é
de
€2.
De
outra
forma,
o
capital
mínimo
é
de
€1
por
cada
sócio.
{deriva
dos
ingleses,
que
findaram
com
o
capital
social
mínimo,
o
que
influenciou
o
direito
europeu
e
a
jurisprudência
europeia}.
Crise
da
Função
Externa
do
Capital
Social
Os
valores
mínimos
do
capital
social
são
mínimos
{articulação
com
os
Princípios}.
O
art.
601º
do
CCiv
dá
como
a
garantia
geral
dos
credores
o
património
dos
devedores.
O
que
constitui
a
garantia
é
o
património,
i.e.,
os
activos
que
se
encontram
na
esfera
patrimonial
da
sociedade.
Tem
que
existir
o
acesso
à
informação
sobre
o
património
que
realmente
existe.
Não
interessa
tanto
aos
credores
as
regras
de
intangibilidade,
mas
o
acesso
a
informação
financeira
fidedigna.
Numa
perspectiva
dominante,
interessa
essencialmente
a
informação
fidedigna
e
o
acesso
à
mesma.
Assim,
e
a
propósito
disto,
os
analistas
vão
procurar
a
proporção
entre
os
capitais
próprios
e
alheios,
os
cash
flows
gerados,
o
EBITDA
–
ganhos
antes
de
juros,
impostos,
depreciações
e
amortizações.
São,
no
fundo,
os
resultados
brutos
da
empresa
antes
do
pagamento
de
todas
estas
quantias.
É
o
dinheiro
bruto
antes
do
serviço
da
dívida.
Olhando
para
aqui,
é
possível
ver
se
a
empresa
tem
uma
actividade
produtiva
que
está
a
libertar
ganhos
(e
em
que
medida),
ou
se
liberta
prejuízo.
32
A
actual
estatuição
normativa
remete
apenas
para
o
dever
de
informação.
33
A
sociedade
como
sócia
de
si
própria,
ter
uma
quota
de
si
própria
ou
acções
de
si
própria.
Não
é
ilegal.
É
possível
que
exista
a
compra
ou
a
herança
de
acções
ou
quotas
de
si
própria.
Por
vários
motivos
e,
nomeadamente
por
compra,
tal
é
possível.
Mas
há
problemas,
de
duas
ordens:
(1)
equilíbrio
de
poderes
internos,
entre
os
sócios
–
o
sócio
que
promove
a
compra,
pode
estar
a
tentar
reunir
maior
poder
para
si;
(2)
problemas
para
os
credores
–
quando
a
sociedade
compra
acções
de
si
própria,
paga-‐as
com
dinheiro,
dinheiro
esse
que
podia
ser
útil
para
pagar
aos
credores,
sem
que
entre
nada
em
contrapartida,
i.e.,
sem
que
entre
algo
que
sirva
para
os
credores.
Ex.:
Sociedade
X.
A,
membro
da
Sociedade,
compra
10%
dos
lucros
que
a
mesma
der.
Ou
seja,
na
sociedade,
passaram
a
haver
90%
das
acções.
Houve
uma
diluição.
Para
o
credor
B,
deixaram
de
lá
estar
100,
para
passarem
a
estar
apenas
90.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Existem
duas
pistas
para
protecção
dos
credores,
além
da
questão
da
informação
financeira:
(1) Valores
mínimos
de
congruência
entre
o
capital
social
e
o
objecto
social
–
diz-‐se
que
o
valor
mínimo
de
€50.000
para
as
sociedades
anónimas
não
deve
ser
estabelecido
de
olhos
vendados,
para
todo
e
qualquer
tipo,
devendo
ter
um
valor
mínimo
de
congruência
entre
a
actividade
e
o
fim
que
pretende
desenvolver.
Se
é,
p.e.,
actividade
de
seguradora
ou
de
recursos
petrolíferos,
€50.000
não
faz
sentido.
É
uma
ideia
de
execução
difícil,
uma
vez
que
carece
de
se
estabelecerem
valores
mínimos
para
cada
tipo
de
actividade.
Em
todo
o
caso,
e
em
determinados
sectores,
tais
como
o
bancário,
é
isto
que
acontece.
(2) Rácios
prudenciais
entre
capital
próprio
e
capital
alheio
–
aqui
não
é
a
ideia
do
capital
social
como
limite
para
a
distribuição
aos
sócios;
é
uma
ideia
de
distinção
entre
os
meios
trazidos
à
sociedade
pelos
sócios
ou
trazidos
por
terceiros.
Existem
exigências
de
proporção
entre
capital
próprio
e
alheio.
Ou
seja,
na
banca
acontecem
estes
dois
paradigmas
[congruência
e
proporcionalidade
prudencial
mínima].
O
aumento
de
capital
alheio,
a
partir
de
certa
altura,
passa
a
ser
proibido,
porque
a
produção
de
capital
próprio
passa
a
ser
deficitária.
Os
bancos
estão
a
emprestar
menos
dinheiro,
por
via
a
evitar
tanto
capital
alheio.
Os
bancos
pedem
menos
dinheiro
emprestado
lá
fora,
o
que
faz
com
que
não
possam
emprestar
tanto
às
famílias
portuguesas.
Tudo
isto
serve
para
garantir
a
proporção
entre
os
dois
capitais.
Reservas
São
cifras
limitativas
da
distribuição
de
bens
aos
sócios,
que
acrescem
ao
capital
social.
Fala-‐se
em
«no
quase
capital
social».
No
fundo,
servem
para
amplificar
a
regra
de
intangibilidade
do
capital
social.
Encontra-‐se
na
redacção
do
art.
32º/1.
Se
o
capital
social
é,
p.e.,
de
€50.000;
e
se
o
património
é
de
€60.000;
de
acordo
com
este
artigo,
ainda
pode
ser
distribuído
o
montante
de
€10.000.
Porém,
se
o
valor
das
reservas
for
no
valor
de
€10.000,
passamos
a
ter
uma
fasquia
de
€60.000
para
efeitos
de
distribuição
de
bens.
Existem
três
tipos
de
reservas:
a. Legais
–
impostas
pela
lei
de
forma
injuntiva;
b. Estatutárias
–
impostas
pelos
Estatutos,
e
não
pela
lei;
c. Facultativas
ou
Livres
–
impostas
por
deliberação
social,
sem
carácter
de
alteração
estatutária.
A
lógica
–
o
grande
exemplo
de
reserva
relativa
é
quanto
aos
lucros.
Nas
SA
(art.
118º
para
as
SQ),
é
constituída
reserva
legal.
À
medida
que
os
anos
vão
passando
e
se
vão
gerando
lucros,
um
vigésimo
desses
lucros,
anualmente,
entraria
para
um
Fundo
de
Reserva.
Para
efeitos
da
fasquia
da
não
distribuição
de
bens
aos
sócios,
o
legislador
protegeu
os
credores
com
este
mecanismo
(não
apenas
com
base
no
valor
do
capital
social).
Para
além
dos
lucros,
temos
também
as
acções
que
são
entregues
acima
dos
PAR.
São
vantagens
que
a
sociedade
recebe
e
que
vão
para
reservas.
É,
mais
uma
vez,
um
mecanismo
de
protecção
dos
credores.
⇒ Quer
o
capital
social,
quer
as
reservas,
não
são
património,
mas
cifras
para
a
protecção
dos
credores,
que
visam
limitar
a
distribuição
de
lucro
pelos
sócios,
garantindo
que
este
fica
disponível
para
satisfação
do
crédito.
Lucros
e
Perdas
Os
lucros
são
aumentos
patrimoniais
e
perdas
são
diminuições
patrimoniais.
No
final
do
ano,
há
uma
soma
dos
activos
e
passivos.
Lucros
Distribuíveis
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
São
apurados
por
preferência
ao
capital
social
e
às
reservas
indisponíveis.
Face
ao
funcionamento
do
art.
32º,
é
possível
que
determinado
lucro
não
possa
ser
distribuído.
P.e.,
se
a
sociedade
tem
um
capital
social
de
€100.000,00
–
as
reservas
acumuladas
de
anos
anteriores
eram
de
€50.000,00.
Para
efeitos
do
art.
32º,
a
sociedade
tem
€150.000,00
para
efeitos
de
distribuição
aos
sócios.
Mas
se
no
ano
estava
na
margem
dos
€110.000,00,
nesse
ano,
apesar
de
ter
lucro,
não
o
poderia
distribuir.
Face
à
situação
da
sociedade
e
das
regras,
pode
ser
ou
não
possível
distribuir
os
lucros.
A
sociedade
pode
ter
lucros,
mas
os
sócios
podem
não
ser
distribuíveis.
Variações
do
Capital
Social
Tem
a
ver
com
aumentos
e
reduções
do
capital
social.
O
AUMENTO
do
capital
social
tem
duas
modalidades:
(1)
por
incorporação
de
reservas
–
art.
91º:
quando
há
uma
transformação
das
reservas
legais,
estatutárias
ou
livres,
em
capital
social.
Provoca
um
inflacionamento
do
funcionamento
do
art.
32º.
Passam
a
ser
capital
social,
solidificando
ainda
mais
o
funcionamento
do
artigo
em
causa;
ou
(2)
por
novas
entradas
–
art.
87º:
delibera-‐se
um
novo
capital
social.
Os
sócios
decidem
aumentar
o
capital
por
alteração
estatutária
especial
[de
aumento
de
capital].
Por
força
deste
aumento,
os
sócios
que
venham
a
entrar
depois,
têm
de
entrar
com
este
novo
capital
social.
Estes
aumentos
surgem
quando
à
nova
entrada
de
sócios,
ou
quando
os
sócios
antigos
querem
reforçar
a
cifra
do
capital
social,
porque
é
bom
no
confronto
com
os
clientes
e
com
os
credores.
Em
contexto
de
aumento
de
capital,
existe
o
direito
de
preferência
dos
sócios
mais
antigos.
Este
direito
releva
para
garantir
que
os
sócios
terão
o
mesmo
peso,
o
mesmo
equilíbrio,
dentro
da
sociedade.
Deve
ser
relacionado
com
a
função
interna
do
capital
social
–
de
suporte
à
distribuição
de
direitos
entre
os
sócios
[peso
relativo].
Se
tenho
mais
de
50%
do
capital
social,
sou
eu
que
tenho
mais
direitos,
que
mando
na
sociedade.
Se
tenho
mais
de
10%,
numa
SA,
consigo
ter
maior
acesso
à
informação.
⇒ É
possível
alienar
o
direito
de
preferência,
transferir
para
um
terceiro
este
direito
–
cessão
do
crédito;
34
⇒ É
possível
a
supressão
do
direito
de
preferência
(deliberações
sociais) ;
⇒ O
regime
regra
é
o
da
anulabilidade.
A
REDUÇÃO
do
capital
social
pode
ter
duas
modalidades:
(1)
para
a
libertação
de
capital
–
implica
a
distribuição
de
bens
aos
sócios.
Se
o
capital
social
era
de
€60.000
e
o
património
também.
Podia
fazer-‐se
a
redução
do
capital
social,
fazendo
com
que
este
passasse
a
ser
de
€50.000.
ao
reduzir
a
cifra
estatutária
para
50.000,
o
património
passa
a
ser
superior
ao
novo
valor
do
capital
social,
o
que
permite
distribuir
os
bens
correspondentes
àquele
intervalo;
ou
(2)
para
a
cobertura
de
perdas
–
não
implica
distribuição
aos
sócios.
Reduz-‐se
o
valor
da
cifra
do
capital
social,
numa
situação
em
que
o
património
está
abaixo
da
actual
cifra
estatutária
do
capital
social.
Se
o
capital
social
está
nos
€60.000,
mas
P
está
nos
€50.000,
baixa-‐se
o
capital
social
para
€50.000.
Não
há
nada
para
distribuir
entre
os
sócios.
A
consagração
do
art.
231º
do
CCom
Alemão
leva
a
que
se
assumam
duas
normas
muito
relevantes,
designadamente:
delimitação
injuntiva
de
poderes
de
representação,
e
obrigações
dos
directores
sem
eficácia
contra
terceiros.
Ao
estabelecer
um
novo
pilar
do
tráfego
jurídico,
os
administradores
passam
a
actuar
de
acordo
com
os
interesses
dos
sócios
e
dos
credores
da
sociedade,
mas,
mais
de
acordo
com
os
interesses
de
terceiros.
Desta
feita,
no
mandato,
temos
uma
situação
jurídica
de
um
dever
de
gestão,
cujas
normas
determinam
condutas
concretas.
Por
sua
vez,
na
procuração,
há
a
SJ
do
poder
de
representação,
cujos
poderes
se
caracterizam
pela
autonomia
–
celebração
autónoma
de
negócios
com
o
terceiro;
e
abstracção
–
os
poderes
de
representação
são
definidos
em
categorias
asbtractas.
Requisitos
Objectivos:
de
acordo
com
o
Princípio
da
Interpretação
Conforme
ao
Direito
Europeu
–
o
art.
9º
estabelece,
em
primeiro
lugar,
autonomia
e
abstracção
pura
como
pressupostos.
Por
sua
vez,
em
segundo
lugar,
delimita-‐se
a
abstracção
dos
actos.
As
limitações
objectivas
são
várias,
sendo
de
natureza
legal
{não
pode
actuar
para
lá
da
capacidade
da
sociedade;
condicionamentos
–
entre
os
quais,
os
arts.
246º/1,
b),
266º/4
e
460º,
e
o
art.
246º/2},
de
natureza
estatutária
{que
nascem
no
estatuto
–
nestes
casos,
não
há
limitação
dos
poderes
dos
representantes,
sendo
o
pressuposto
essencial.
Se
não
existe
limitação,
a
verdade
é
que
é
preciso
perceber
as
excepções
que
existem
na
situação.
Em
determinas
circunstâncias
–
previstas
pelo
art.
9º,
no
segundo
parágrafo
–
é
a
própria
Directiva
que
prevê
que
este
objecto
social
possa
ter
relevância:
quando
haja
prova
de
que
o
terceiro
devia
saber;
que
não
haja
assunção
do
acto
pelos
sócios
–
que
os
próprios
sócios
não
ratifiquem
o
acto.
Se
o
objecto,
só
por
si,
não
era
um
limite,
em
determinadas
circunstâncias,
é
possível
que
o
objecto
social
limite.
Por
fim,
temos
ainda
as
deliberações
de
outros
órgãos,
relevando
o
art.
406º
-‐
não
faria
sentido
que
o
terceiro
tivesse
de
acompanhar
as
deliberações
sociais
para
saber
se
pode
ou
não
negociar,
mas
isto
com
uma
ressalva
(«a
não
ser
que»).
Se
os
terceiros
forem
os
sócios,
poderão
ter
de
o
fazer.
Há,
contudo,
Doutrina,
que
considera
o
contrário.
Requisitos
Subjectivos:
indicação
da
qualidade
do
administrador
(arts.
260º/4
e
409º/4).
Visam-‐se
ainda
o
arts.
217º/1
e
2,
quanto
aos
actos
não
escritos
e
os
actos
escritos.
Indicação
dos
métodos
de
representação
dos
órgãos
de
representação
plurais.
Para
a
representação
passiva,
vale
o
método
da
representação
disjunta
(arts.
261º/3
e
408º/3).
Para
a
representação
activa,
vigora
o
método
da
conjunção.
Abuso
de
Direito
e
Aparência
de
Poderes
de
Representação
|
A
prevalência
dos
interesses
de
terceiros
em
detrimento
dos
interesses
societários.
O
abuso
de
poder
não
corresponde
a
qualquer
simples
violação
das
limitações
internas,
mesmo
que
seja
conhecida
de
terceiros.
A
verdadeira
situação
de
abuso
de
direito
é
aquela
em
que
há
poderes
formais.
Em
todo
o
caso,
o
agente
actuou
contra
os
seus
deveres
na
sociedade.
Celebra
um
NJ
que
é
lesivo
para
a
sociedade.
Há,
contudo,
uma
excepção,
a
qual
patente
no
art.
209º
do
CCiv.
Se
tinha
o
dever
de
saber
que
a
actuação
era
prejudicial,
deixa
de
merecer
a
protecção.
É
uma
norma
muito
aplicada
pela
Jurisprudência
Portuguesa.
Outra
distinção
com
muita
aceitação
é
a
distinção
entre
conluio
e
o
abuso
evidente.
No
abuso
evidente,
art.
269º
do
CCiv,
o
terceiro
tinha
o
dever
de
saber
que
aquilo
era
prejudicial,
tendo
como
consequência
jurídica
a
ineficácia.
No
conluio,
é
aplicável
o
art.
281º
do
CCiv.
O
desvalor
é
mais
intenso,
porque
há
um
fim
de
prejudicar
a
sociedade.
Assim,
a
própria
sanção
é
mais
grave.
Quanto
à
aparência
dos
poderes
de
representação:
basta
a
assinatura
de
um
representante.
Neste
caso,
a
sociedade
fica
ou
não
vinculada
ao
NJ?
A
Jurisprudência
vai
contra
esta
norma
e,
frequentemente,
decide
a
favor
dos
terceiros,
em
vez
de
proteger
a
sociedade.
É
relevante
o
DL
178/86,
do
Contrato
de
Agência
[em
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
especial,
o
art.
23º].
A
norma
é
aplicável,
por
analogia,
mas
preenchendo
dois
requisitos:
uma
situação
de
confiança;
imputação
da
situação
de
confiança.
Só
desta
forma
é
possível
aplicar
o
artigo.
Apesar
de
não
existir
poder
de
representação
formal,
se
há
uma
situação
de
confiança
e
uma
imputação
dessa
situação
de
confiança,
é
então
possível
fugir
à
Jurisprudência
contra
legem
que
tem
sido
aplicada,
aplicando-‐se
o
disposto
no
art.
23º
do
DL
supra
indicado.
Nas
Sociedades
por
Quotas
|
Acórdão
do
Tribunal
da
Relação
de
Lisboa,
Recurso
11197
de
22
de
janeiro
de
2002
Há
duas
empresas
–
Figueiredo,
com
três
sócios,
JAC,
MS
e
JO,
sendo
JO
a
verdadeira
pessoa
da
empresa;
e
a
LOCAPOR.
Entre
as
duas
sociedades
é
assinado
um
contrato
de
locação
financeira
de
um
automóvel.
Quanto
à
primeira
empresa,
o
capital
social
está
distribuído
da
mesma
forma
pelos
três
sócios.
Todos
são
gerentes.
Estabelece-‐se
a
necessidade
de
assinatura
de
dois
sócios.
Assim,
é
assinado
o
contrato
em
16/04/1993.
A
21/04/1993
é
autenticado
o
notarial
do
contrato.
A
07/2006
dá-‐se
o
preenchimento
da
letra.
A
letra
não
foi
paga,
o
que
dá
origem
a
uma
acção
executiva,
tendo
sido
esta
proposta
pela
LOCAPOR
contra
a
FIGUEIREDO.
JO,
sendo
aquele
que
trabalha
mais
na
SQ,
vem
opor-‐se,
dizendo
que
nunca
entrou
neste
NJ.
Em
primeiro
lugar,
deve
criticar-‐se
uma
falta
de
diligência
de
JO,
que
deveria
ter
tido
conhecimento
deste
NJ.
Além
disso,
os
outros
sócios
não
se
apresentam
na
acção.
Discussão:
contra
a
vinculação
da
sociedade,
temos
a
cláusula
do
contrato
social;
a
favor,
temos
o
art.
260º
do
CSC.
Contra,
temos
o
art.
14º
do
Código
do
Registo
Comercial,
que
determina
a
oponibilidade
de
factos
sujeitos
a
registo;
a
favor,
temos
o
art.
23º
do
DL
178/86,
sobre
o
contrato
de
agência.
Contra,
o
apoio
da
Doutrina,
designadamente,
de
RAUL
VENTURA,
OLIVEIRA
ASCENSÃO,
PEREIRA
DE
ALMEIDA
e
JOÃO
ESPÍRITO
SANTO;
a
favor,
temos
ILÍDIO
RODRIGUES,
RICARDO
CANDEIAS
e
PEDRO
ALBUQUERQUE.
De
qualquer
das
maneiras,
há
uma
forte
corrente
jurisprudencial
no
sentido
de
atribuir
a
protecção
dos
terceiros.
Não
choca,
no
sentido
em
que
os
modelos
de
decisão
devem
adoptar
a
consequência
da
saída.
O
resultado
da
aplicação
da
lei
pelo
juiz
deve
ser
considerado
na
letra
das
normas.
Tem-‐se
em
conta
o
resultado
de
aplicação
dessas
leis.
Sociedades
Anónimas
|
Acórdão
do
Supremo
Tribunal
de
Justiça,
Processo
154/06
de
14
de
março
de
2006
Relevância
dos
arts.
409º
e
260º
do
CSC.
Houve
alguma
discussão,
essencialmente
em
resultado
do
ponto
de
vista
romano-‐germânico
(sociedade
como
um
todo)
e
do
ponto
de
vista
anglo-‐
americano
(não
é
por
os
accionistas
deterem
a
sociedade
que
têm
um
papel
relevante
–
todos
são
agentes).
Um
parceiro
comercial
diligente,
que
mantém
uma
relação
com
o
parceiro
da
outra
sociedade
tem
um
conhecimento
mais
forte
para
saber
que
existem
poderes
de
representação.
Está
a
proteger
um
terceiro
que
tinha
poderes
para
saber
da
falta
de
poderes
de
representação.
Em
primeiro
lugar,
há
juízos
de
análise
económica
do
direito
–
agilizar
as
diligências
dos
processos,
diminuição
dos
custos
de
transação;
o
administrador
pode
ser
sempre
responsabilizado
por
outros
accionistas
ou
pessoas
da
sociedade
que
tenham
sido
lesadas
nestes
negócios.
Aula
de
7
de
abril
de
2017
c.
Capital
social,
e
possibilidade
de
Aumentos
da
Capitalização
de
Investimento
Público;
d.
Distribuição
dos
lucros.
Considerações
Gerais
Sede
pode
ser
aterrada
pelo
Conselho
de
Administração.
Podem
adquirir-‐se
participações
sociais
com
objectos
diferentes;
vai
permitir
às
sociedades
adquirir
a
actividade
de
outras
sociedades.
Estrutura
Orgânica
a.
Modelo
Tradicional
[art.
278º,
número
1,
alínea
c)
do
CSC];
b.
Modelos
Germânico
[art.
278º,
número
1,
alínea
a)
do
CSC];
c.
Modelo
Anglo-‐Americano
[art.
278º,
número
1,
alínea
b)
do
CSC].
Criticas
1.
Possibilidade
de
nomear
administradores
–
ao
fazê-‐lo,
permitem
que
o
Conselho
de
Fiscalização
possa
fazer
uma
fiscalização
efectiva.
2.
Uma
comissão
de
autoria
toma
decisões
por
um
lado,
e
por
outro,
fiscaliza
essas
mesmas
decisões
-‐
crítica
do
Professor
JORGE
MANUEL
COUTINHO
DE
ABREU.
Órgãos
Sociais
|
Art.
10º
dos
Estatutos
1.
Os
órgãos
Sociais
são
a
Assembleia
Geral,
o
Conselho
de
Administração,
o
Conselho
Fiscal,
o
Revisor
Oficial
de
Contas
e
o
Secretário
da
Sociedade.
{Assembleia
Geral
-‐
accionistas,
colectividade
dos
sócios.
Não
há
limite
mínimo
para
assistir.}
Art.
12º
dos
Estatutos
–
Lógica
de
plutocracia,
como
refere
o
número
3;
no
número
4
há
uma
limitação,
reúne-‐se
a
AG,
proposta
e
votação
-‐
se
um
accionista
tiver
20%
e
outro
25%,
votam
o
mesmo.
O
peso
final
de
cada
um
dos
accionistas
é
que
importa.
É
irrelevante
os
que
têm
mais
de
20%.
Controla
accionistas;
é
difícil
que
um
número
mínimo
de
accionistas
controle
o
banco.
Sem
esta
causa,
se
os
sócios
de
juntassem,
podiam
ter
mais
de
50%
e
controlavam
os
votos
todos,
e
o
banco.
Concelho
de
Administração
|
Órgão
do
Estado
da
Colectividade
O
art.
15º
apresenta
os
membros
e
o
art.
17º
as
reuniões;
tem
que
haver
um
quórum
mínimo.
a.
Competência
interna:
atos
necessários
à
vivência
da
sociedade.
b.
Externa:
vinculação
da
sociedade
para
com
terceiros.
Assinatura.
Órgãos
Consultivos
-‐
como
suporte.
Conselho
Fiscal
|
Fiscalização
contas,
revisão.
Verificar
se
há
independência
ou
parcialidade
nas
contas.
Revisões
Oficiais
de
contas:
são
empresas;
no
BPI
é
a
Deloitte,
p.e.
Os
mandatos
estão
no
art.
29º.
Capital
Social
|
Art.
4º/1
dos
Estatutos
Capital
social,
integralmente
subscrito
e
realizado,
é
de
€
1.293.063.324,98,
e
podem
haver
aumentos.
Segundo
o
CSC,
em
regra,
este
aumento
é
autorizado
pela
AG,
mas
podem
os
estatutos
(facultativamente)
prever
esta
opção
de
aumento
de
capital:
a
primeira
forma
de
aumento
do
capital
é
referida
no
nº2
do
art.
4;
é
quando
o
Estado
é
o
subscritor
total
das
acções.
Há
uma
injecção
de
capital
público.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
A
outra
forma
é
através
da
deliberação,
ou
emissão
de
acções.
Há
ainda
a
reserva
de
preferência
por
parte
dos
sócios,
quando
são
emitidas
acções;
essas
são
preferencialmente
oferecidas
aos
que
já
são
accionistas.
Emissão
de
divida
é
da
competência
do
Conselho
de
Administração.
Alterações
aos
Estatutos
|
Art.
5º
dos
Estatutos
Maioria
de
2/3
presentes
em
AG;
Maioria
de
75%
em
matéria
de
(1)
dissolução;
(2)
liquidação;
e
(3)
contagem
de
votos.
Distribuição
de
Lucros
|
Art.
26º
dos
Estatutos
Lucros
líquidos
e
adiantamento
dos
lucros
(art.
297º/1,
a)
e
b));
Advertência
do
Professor:
art.
384º
–
é
muito
importante
em
termos
limitativos
do
direito
de
voto.
(Continuação
do
Capítulo
do
Capital
Social)
A B A B C D A B C D
Art.
95º/2:
a
lei
determina
(por
outras
palavras,
sabe)
que
existem
estas
proporções
harmónicas;
assim,
não
se
importa
que
no
primeiro
momento
da
redução
(o
segundo
é
o
aumento
de
capital),
o
valor
do
CS
possa
ser
inferior
a
50
mil,
que
é
o
mínimo
que
as
SA
podem
ter.
Por
quotas
não
interessa
porque
é
um
euro
o
mínimo.
QUERELA
DOUTRINÁRIA:
é
possível
reduzir
a
zero
o
capital
social?
No
primeiro
momento
de
redução,
em
que
se
faria
desparecer
o
A
e
o
B;
no
segundo
momento
a
sociedade
passa
a
ser
só
do
C
e
D
-‐
implicava
a
exclusão
dos
sócios
antigos.
Existe
na
Doutrina
quem
diga
que
sim,
e
que
não.
O
professor
considera
duvidoso
que
possa
ser
feito,
porque
não
está
de
todo
previsto
na
lei
que
uma
sociedade
possa
não
ter
sócios.
Assim,
não
tendo
base
legal,
é
facilmente
destruído
em
tribunal.
Nem
a
jurisprudência
se
pronunciou
em
relação
a
isto.
Notas
importantes:
⇒ Há
um
reequilíbrio
de
forças;
⇒ A
redução
do
capital
pode
ir
para
valores
abaixo
do
capital
social
mínimo
(ex.:
€50.000)
–
art.
95º/2.
Mas
discute-‐se
na
Doutrina
se
a
redução
pode
ser
a
zero.
I.e.,
o
investidor
entra
e
fica
com
100%.
Grande
parte
da
Doutrina
diz
que
isto
não
pode
ser,
porque
durante
um
tempo,
a
empresa
fica
sem
sócios.
Mas
outros
dizem
que
não
tem
mal,
porque
isso
é
somente
um
problema
formal,
que
vai
melhorar
a
sociedade.
10.2. CONTRIBUIÇÕES
DOS
SÓCIOS
PARA
ALÉM
DO
CAPITAL
SOCIAL:
PRESTAÇÕES
ACESSÓRIAS,
PRESTAÇÕES
SUPLEMENTARES,
SUPRIMENTOS
Temos
o
dever
característico
a
propósito
do
contrato
sociedade,
o
dever
de
contribuição;
temos
ainda
o
dever
de
entrada
de
capital.
Agora
vamos
ver
as
outras
contribuições
para
além
dessa
entrada.
Prestações
suplementares;
o
enquadramento
destas
matérias
ainda
é
reconduzido
ao
dever
característico
de
contribuição
(o
seu
cerne
está
no
dever
de
entrada).
Existem
contribuições
acessórias
e
suplementares.
Para
além
da
análise
destas,
analisam-‐se
os
suprimentos,
outra
figura
jurídica.
Os
suprimentos,
ao
contrário
das
outras
prestações,
não
se
reconduzem
ao
dever
de
contribuição.
Nem
existe
um
dever
estatutário
societário
de
realizar
suprimentos;
estes
são
contribuições:
1. Financeiras
voluntárias;
2. Têm
natureza
civilística,
e
não
societária;
3. São
regulados
pelo
CC
e
não
pelo
CSC.
Estas
três
figuras
são
figuras
em
que
os
sócios
contribuem
com
meios
financeiros
para
com
a
sociedade:
1. Prestações
Acessórias;
2. Prestações
Suplementares;
3. Suprimentos.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Estas
matérias
não
entram
para
as
contas
do
capital
social.
Está
relacionado
com
o
dever
de
entrada;
as
suplementares
e
acessórias
não
relevam
para
o
capital
social
-‐
cifra
estatutária
-‐,
e
os
suprimentos
muito
menos.
1.
Prestações
Acessórias:
o Previstas
para
as
SQ
e
SA;
nas
anónimas
há
regime
de
obrigação
de
entrada
(arts.
209º
e
287º
do
CSC);
35
o Decorrem
diretamente
dos
estatutos ;
o Podem
ser
prestações
pecuniárias
ou
não
pecuniárias;
o Podem
ser
remuneradas
ou
não
–
com
juros,
se
for
dinheiro.
2.
Prestações
Suplementares
|
Art.
213º
o Só
estão
previstas
para
as
sociedades
por
quotas;
36
o Fonte
indireta
nos
estatutos ;
o Prestações
pecuniárias
–
já
não
há
serviços;
o Não
são
remuneradas,
i.e.,
não
há
juros
(art.
210º/5).
35
Não
tem
de
haver
uma
deliberação
social
sobre
isto;
a
fonte
são
directamente
os
estatutos.
36
Previsão
genérica
nos
estatutos
+
deliberação
dos
sócios,
determinando
que
se
realizem
estas
prestações.
Quando
eu
olho
para
os
estatutos
já
sei
que
há
o
risco
de
ter
de
realizar
estas
prestações.
Mas
só
quando
há
a
deliberação
é
que
nasce
na
esfera
do
sócio
o
dever
concreto
de
fazer
a
prestação
suplementar.
37
Quando
falámos
nos
acordos
parassociais,
determinámos
que
não
eram
regulados
no
CSC,
mas
haviam
limites;
aqui
é
o
mesmo.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
passou
a
ser
frequente
a
dada
altura,
porque
é
mais
fácil
reaver
prestações
suplementares
nas
sociedades
por
quotas
do
que
reaver
capital
através
de
uma
redução
do
capital
social.
3.
Suprimentos
Origem
secular
-‐
empréstimos
dos
sócios
às
sociedades.
Em
vez
de
estarem
ao
abrigo
dos
estatutos,
realizamos
prestações
suplementares
ou
acessórias
pecuniárias
-‐
limitam-‐se
a
dar
à
sociedade.
É
muito
frequente
que
haja
dinheiro
entregue
pelos
sócios
à
sociedade,
não
abrigo
do
dever
de
contribuições
de
prestações
acessórias
suplementares,
mas
com
carácter
voluntário,
carácter
civilística;
há
uma
maior
liberdade,
i.e.,
não
funcionam
tantas
regras
de
protecção
dos
credores
e
existem
ainda
vantagens
fiscais.
Advertência:
é
uma
figura
híbrida
entre
o
capital
próprio
(fornecido
pelos
sócios)
e
o
alheio
(terceiro).
Do
ponto
de
vista
material,
são
capital
próprio,
mas
formalmente
é
alheio,
porque
entregam
como
se
fossem
terceiros
a
emprestar
dinheiro
à
sociedade.
Isto
levanta
problemas
de
protecção
de
credores.
Advertência:
construção
Doutrinária
e
Jurisprudencial
Alemã
–
emprestar
dinheiro
à
sociedade
em
vez
de
contribuir
com
entradas
pode
desproteger
os
sócios.
Assim,
entendeu-‐se
que,
em
caso
de
insolvência,
primeiro
são
pagos
os
credores,
depois
os
suprimentos
e,
só
no
fim,
as
acções.
O
que
não
se
pode
fazer
é
primeiro
pagar
suprimentos
e
depois
os
credores;
ou
pôr
estas
obrigações
em
pé
de
igualdade,
porque
os
suprimentos
são
sucedâneos
de
capital
próprio.
RAUL
VENTURA
seguiu
esta
construção
e,
na
lei,
acolheu-‐se
no
art.
245º
no
seu
todo,
mas
o
professor
referiu
o
número
3.
⇒ No
código
de
insolvência,
no
art.
43º
referem-‐se
créditos
subordinados,
estando
lá
referido
os
suprimentos.
Vêm
depois
das
obrigações
subordinadas.
Nas
SQ,
há
uma
redundância
entre
o
regime
das
prestações
acessórias
pecuniárias
e
das
suplementares.
Ou
seja,
porque
são
precisas
as
duas,
e
não
se
entendem,
fazia-‐se
apenas
uma.
Todavia,
as
prestações
suplementares
não
podem
ser
renumeradas
e
as
suplementares
têm
ainda
regras
mais
restritivas
quanto
à
restituição,
pelo
que
frequentemente,
mesmo
nas
sociedades
por
quotas,
faz-‐se
mais
prestações
acessórias
pecuniárias
em
vez
das
suplementares.
Faz-‐se
aplicação
analógica
ou
não
do
regime
do
suprimento
das
sociedades
por
quotas.
A
maioria
da
doutrina
entente
que
o
regime
dos
suprimentos
deve
ser
aplicado
às
sociedades
anónimas.
QUERELA:
O
pressuposto
base
é
que
estamos
no
âmbito
da
autónima
privada
do
art.
405º
CCiv
e
o
artigo
do
CSC
funciona
como
um
limite
à
autonomia
privada;
como
função
de
protecção
dos
credores.
Assim,
aqui
faz
sentido
a
analogia
para
não
deixar
os
credores
desprotegidos.
QUERELA:
aplica-‐se
a
todos
os
accionistas
ou
não?
Não
se
deve
aplicar
por
analogia
este
regime
dos
suprimentos
a
todos
os
accionistas,
mas
apenas
a
alguns.
RUI
PINTO
DUARTE
é
quem
tem
a
melhor
teoria.
Ø Distinção
entre
accionista
empresário
e
meramente
investidor:
o
empresário
deve
ser
sacrificado
no
ponto
de
vista
dos
credores.
Do
ponto
de
vista
germânico,
se
está
a
fazer
suprimentos
em
vez
de
dar
capital
próprio,
há
aquela
ideia
de
em
caso
de
insolvência,
é
pago
em
último.
E
o
accionista
meramente
investidor
não
anda
a
fazer
suprimentos
em
vez
de
recorrer
ao
capital
próprio,
nem
sabe
bem
por
não
ter
informação
financeira
sofisticada
e
actualizada,
nem
sabe
se
o
dinheiro
está
a
suprir
exigências
de
capital
ou
se
é
uma
exigência
de
capital.
A
tendência
da
doutrina
é
fazer
esta
separação
de
accionistas
e
apenas
aplicar
o
regime
dos
suprimentos
aos
accionistas
que
tenham
uma
capacidade
de
controlo
financeira
da
sociedade;
tem
que
ter
pelo
menos
10%.
Mas
RUI
PINTO
DUARTE
diz
ainda
que
depende
do
caso
concreto,
porque
pode
ter
essa
percentagem
e
não
ter
acesso
a
informação
financeira;
mas
podem
haver
casos
em
que
tem
2%
e
tem
mais
informação
-‐
assim
não
se
deve
definir
um
valor,
e
ser
mais
sensível.
A
generalidade
da
doutrina,
pelo
contrário,
tem
vindo
a
procurar
um
valor
exacto,
distinguindo
entre
10%,
por
exemplo.
Aula
de
21
de
abril
de
2017
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Direitos
Especiais
A
Doutrina
diverge
quanto
à
criação
dos
direitos
especiais,
designadamente,
em
momento
ulterior
ao
negócio
institutivo.
A
questão
que
se
coloca,
em
primeira
instância,
é
de
saber
se
é
ou
não
necessária
uma
maioria
para
a
criação
num
momento
posterior
à
instituição
da
sociedade.
Não
é
um
direito
de
um
terceiro
face
à
sociedade,
mas
ao
sócio.
É
inerente
quer
à
corporatividade
quer
ao
seu
carácter
intuito
personae.
Atente-‐se
ao
art.
24º
do
CSC.
Nas
sociedades
em
nome
colectivo
não
têm
natureza
transmissível;
nas
sociedades
por
quotas
tem;
nas
sociedades
anónimas
tem
natureza
supletiva.
A
especialidade
do
direito
não
está
no
facto
de
ser
um
direito
atribuído
a
um
ou
outro
sócio.
Direito
Especial
à
Gerência:
O
direito
tende
a
surgir
no
âmbito
das
sociedades
por
quotas,
na
medida
em
que
estas
têm
três
características
que
o
viabilizam
[pendor
personalístico;
estrutura
complexa;
pequena
dimensão].
É
um
direito
que
se
afasta
do
Princípio
da
Hetero-‐Administração
(art.
252º/1
do
CSC).
Derroga
assim
o
Princípio
Essencial
da
Igualdade
de
Tratamento
dos
Sócios
(art.
321º
do
CSC).
Derroga
ainda
o
Princípio
da
Livre
Destituição
dos
Gerentes
(art.
257º/1
do
CSC).
Estão
dois
interesses
em
causa:
Derrogação
do
Princípio
da
Livre
Destituição
dos
Gerentes
–
Admissível
ou
Não
Admissível?
Tem
de
existir
justa
causa
e
um
processo
judicial.
Ex.:
sócio
B
tem
direito
a
ser
gerente
a)
por
toda
a
sua
vida
[direito
especial
à
gerência];
b)
enquanto
for
vivo;
c)
enquanto
durar
a
sociedade.
São
todas
exemplos
de
direitos
especiais
às
gerências.
Mas
se
surgir
a
cláusula
que
estabelece
que
o
sócio
A
estará
vinculado
sempre,
já
não
estamos
perante
um
direito
especial
de
gerência.
É
um
direito
especial
de
outra
natureza.
Garantia
Material:
justa
causa
–
dois
padrões
normativos,
sendo
que
é
um
conceito
indeterminado
(art.
257º/6
do
CSC),
i.e.,
a
violação
grave
dos
deveres
e
a
incapacidade
do
gerente
para
o
exercício
normal
das
funções.
É
ainda
possível
que,
paralelamente,
exista
um
processo
de
Responsabilidade
Civil,
caso
a
actuação
do
gerente
provoque
danos.
A
destituição
terá
de
ser
decretada,
sempre,
por
um
tribunal.
Há
ainda
um
requisito
prévio,
i.e.,
a
deliberação
dos
sócios
quanto
à
destituição
judicial
do
gerente.
Esta
deliberação
social
não
é
requisito
prévio
se:
(1)
apenas
um
sócio
requerer
a
destituição;
ou
(2)
se
existirem
apenas
dois
sócios.
Inexigibilidade:
relação
conflitual.
A
gravidade
dos
factos
que
integram
a
justa
causa
funda-‐se
no
prejuízo
que
tenha
sido
causado
ao
interesse
da
sociedade.
A
destituição
surge
como
consequência
normal.
Ou
seja,
há
uma
destituição
legítima
que
se
baseia
na
soma
de
uma
justa
causa
com
a
susceptibilidade
de
prejuízo.
Segundo
PEDRO
CAETANO
NUNES,
a
resolução
dos
contratos
com
justa
causa
surge
em
várias
relações
obrigacionais.
Tem
que
se
ter
em
mente
que
a
maioria
dos
contratos
são
de
execução
instantânea,
pontual,
mas
também
existem
de
prestação
continuada.
Os
Códigos
Civis
pensam
essencialmente
nesta
primeira
modalidade,
sendo
necessário
destacar
que
os
contratos
de
prestação
continuada
devem
ter
regras
específicas.
Nas
Sociedades
Comerciais
está
próximo
do
mandato,
há
uma
ideia
de
interesses
alheios,
i.e.,
podem
ser,
a
todo
o
tempo,
destituídos,
a
menos
que
exista
este
direito
especial
à
gerência.
Querelas
Doutrinárias:
pode
um
direito
especial
ser
atribuído
a
todos
os
sócios
de
uma
sociedade?
Em
especial,
pode
um
direito
especial
à
gerência
ser
atribuído
a
todos
os
sócios?
Paulo
Olavo
da
Cunha
Correia:
«aquilo
que
és
especial
não
pode
ser
simultaneamente
geral»;
Vaz
Serra,
Pinto
Furtado
e
Coutinho
de
Abreu:
«alguns
direitos
especiais
podem
ser
atribuídos
a
todos
os
sócios,
nomeadamente
o
direito
especial
à
gerência»;
Raúl
Ventura:
«direitos
especiais
podem
assistir
a
todos
os
sócios,
se
estiverem
em
causa
direitos
que
não
fazem
parte
do
conteúdo
normal
das
quotas»;
Menezes
Cordeiro:
«tudo
o
que
permita
afastar
interpretações
que
restingam,
sem
fundamento
sério,
a
liberdade,
deve
ser
incentivado».
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Será
o
princípio
da
inderrogabilidade
suprimido
a
propósito
do
Direito
Especial
à
Gerência?
Releva
o
art.
24º/5
do
CSC.
Mais,
a
questão
do
consentimento
do
titular,
que
também
interessa
neste
sentido,
também
tem
certas
querelas.
{ficou
em
aberto}
Acórdão
do
Supremo
Tribunal
de
Justiça,
de
12
de
junho
de
2006
–
O
autor,
F,
médico
e
sócio
da
Ré
–
Lar
Chuva
de
Prata
–
pede
a
anulação
da
deliberação
da
Ré
que
destitui
F
da
sociedade
por
quotas
em
questão
e,
como
pedido
subsidiário,
pede
que
a
Ré
seja
obrigada
a
pagar
uma
indemnização.
O
Tribunal
de
Instância
deu
razão
ao
autor,
anulando
a
deliberação
da
Ré.
A
Ré,
em
recurso
de
revista,
recorre
ao
STJ.
A
matéria
de
facto:
a
SQ
tinha
apenas
dois
sócios,
sendo
que
F
tinha
45%
das
acções.
A
sócia
gerente,
Ana
Mimosa
Barra,
convocou
F
para
uma
AG
com
o
propósito
de
o
destituir.
Fixou-‐se
que
nenhum
dos
sócios
iria
ser
remunerado
pelas
funções
exercidas
no
Lar.
Após
a
destituição
de
F,
A
deixou
um
cheque
«referente
à
sua
retirada».
F
alegava
que
tinha
um
direito
especial
à
gerência.
Havendo
direito
especial
à
gerência,
este
só
podia
ser
suprimido
com
o
consentimento
do
titular
ou
com
uma
justa
causa
verificada.
Não
acontecendo
um
dos
dois,
haveria
uma
ilicitude.
Antes
de
o
tribunal
se
pronunciar,
deparou-‐se
como
facto
de
haver
Jurisprudência
que
considerava
os
Estatutos
da
Sociedade
como
matéria
de
facto.
Sendo
matéria
de
facto,
o
STJ
não
pode
apreciar
{só
aprecia
matéria
de
direito}.
O
STJ
considerou
que
o
contrato
de
sociedade
deveria
ser
interpretado
de
um
ponto
de
vista
da
vontade
objectiva,
perceptível
por
todos
e
não
de
um
ponto
de
vista
subjectivo,
do
sócio.
Desta
forma,
considerou
que
os
Estatutos
eram
matéria
de
Direito,
pelo
que
se
podiam
pronunciar
sobre
o
objecto.
O
número
2
do
art.
4º
do
Estatutos
releva,
no
sentido
de
perceber
se
existia
ou
não
o
direito
especial.
Apesar
de
se
dizer
que
os
sócios
são
gerentes,
não
se
diz
que
são
necessariamente
detentores
desse
direito.
Em
caso
de
dúvida
não
há
direito
especial.
O
tribunal
considerou
que
não
havia
direito
especial,
pelo
que
a
anulação
da
deliberação
seria
improcedente.
Mas
o
autor,
F,
fez
um
pedido
subsidiário,
da
indemnização.
Para
o
efeito,
importa
atentar
ao
art.
257º/7
do
CSC.
Segundo
Raul
Ventura,
os
prejuízos
indemnizáveis
são
os
resultantes
da
perda
de
proventos
do
gerente,
nessa
qualidade,
durante
certo
tempo.
Sendo
uma
prestação
gratuita
–
pois
não
recebia
enquanto
gerente
–
não
há
perda
de
proventos,
pelo
que
não
haveria
indemnização,
a
menos
que
tivesse
sido
estabelecida
de
meio
prévio,
i.e.,
contratualmente.
Foi
deixado
um
cheque
por
A,
pelo
que
também
se
levantou
a
questão
de
saber
o
que
era
este
montante.
Cabia
ao
autor
–
ónus
da
prova
–
provar
que
teve
prejuízos.
Ficou
ainda
por
saber
se
o
montante
deixado
no
cheque
se
reportava
ou
não
aos
outros
serviços
prestados,
enquanto
médico,
no
Lar.
Assim,
também
o
segundo
pedido
do
autor
foi
julgado
improcedente.
Acórdão
STJ,
de
17
de
abril
de
2008
–
Pacto
Social
|
Interpretação
|
Direito
Especial
à
Gerência
Os
sócios
gerentes
intentaram
uma
acção,
pedindo
a
anulação
das
deliberações
sociais.
O
juiz
de
1ª
instância
considerou,
em
despacho
saneador,
a
improcedência
da
acção.
Foi
interposto
recurso
de
apelação
para
o
TRP.
Este
voltou
a
considerar
a
acção
improcedente.
O
STJ
também
negou
a
revista.
Interpretação
das
Cláusulas
do
Pacto
Social
–
a
objectividade
como
regime-‐regra.
Resume-‐se
à
descoberta
do
sentido
objectivo
da
declaração
negocial.
Os
critérios
aplicáveis
são
a
teoria
da
impressão
no
art.
236º,
e
ainda
o
art.
238º
do
CCiv.
No
caso
da
Ré,
estava
em
causa
a
interpretação
do
art.
5º
do
Pacto
Social.
No
final
do
AC
é
dito
que
a
cláusula
é
neutra,
pelo
que
não
há
direito
especial
à
gerência.
O
mesmo
não
consta
do
contrato.
11. ESTRUTURA
ORGÂNICA
DAS
SOCIEDADES
COMERCIAIS
11.1. NOÇÃO
DE
ÓRGÃO
A
noção
de
pessoa
jurídica
ou
personalidade
jurídica
é
aquela
que
decorre
da
norma
jurídica,
dos
efeitos
jurídicos
que
se
reflectem
nas
pessoas
enquanto
centro
de
imputação
dos
efeitos.
O
conceito
de
órgão
há-‐de
ser
assim
próximo
do
conceito
de
pessoa
colectiva,
de
pessoa
colectiva.
Os
órgãos
são
centros
de
imputação,
mas
no
interior
da
organização;
subjectividades
jurídicas
internas.
Não
são
eles,
órgãos,
que
se
vinculam
perante
terceiros.
Os
negócios
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
jurídicos
serão
os
celebrados
pela
pessoa
colectiva.
Não
são
partes
do
contrato
de
compra
e
venda.
Relevam
da
vida
interna
da
PC
–
que
é
a
parte
nos
negócios
jurídicos
no
âmbito
externo
[perspectiva
analítica
normativista].
A
generalidade
dos
manuais
de
teoria
geral
oferece
esta
noção
normativista,
de
sujeito
de
direitos
e
deveres.
Se
se
adopta
com
maior
ou
menor
consciência
esta
noção,
adopta-‐se
a
perspectiva
em
apreço.
Há
ligeiras
querelas,
porque
há
quem
considere
que
o
órgão
é
sempre
a
pessoa
física
inserida
na
respectiva
pessoa
colectiva;
há
que
em
adopte,
em
contraponto,
a
concepção
institucional,
considerando
o
órgão
uma
abstracção,
sendo
sempre
uma
instituição
jurídica
–
nunca
é
a
pessoa
física;
e
por
fim,
duas
posições
ecléticas:
(1) FREITAS
DO
AMARAL
–
que
não
aparece
em
nenhum
escrito,
surge
no
âmbito
administrativo.
Na
opinião
de
PEDRO
CAETANO
NUNES,
vale
tanto
para
o
Direito
Administrativo,
como
para
o
Direito
Privado.
Órgão
será
a
pessoa
física,
mas
do
ponto
de
vista
da
teoria
da
organização,
o
que
releva
é
o
conceito
institucional
(no
organigrama,
desenho
da
organização,
vale
o
conceito
de
órgão
institucional;
mas
para
efeitos
da
actuação,
da
actividade,
de
negócios
jurídicos
ou
contratos
de
direito
privado
nas
SC,
quem
actua
são
as
pessoas
físicas).
As
instituições
não
têm
«pernas,
nem
braços»,
não
verbalizam
ideias,
pelo
que
ao
nível
da
actividade
negocial,
os
protagonistas
são
os
seres
humanos.
O
professor
considera
que
se
trata
de
uma
posição
sem
grande
justificação.
É
a
ideia
de
que
quando
se
está
a
pensar
na
prática
de
negócios
jurídicos
ou
de
actos
administrativos,
são
os
seres
humanos
que
actuam.
Já
na
perspectiva
estática,
ao
identificar
os
órgãos,
estes
já
não
serão
pessoas
físicas,
mas
instituições,
ou
seja,
entidades
abstractas
criadas
pelo
Direito.
(2) PEDRO
CAETANO
NUNES
considera
que
podem
ser
uma
coisa
ou
outra.
Quando
é
um
órgão
deliberativo,
trata-‐se
de
uma
instituição.
A
competência
para
deliberar
a
fusão
atribuída
ao
colégio
dos
sócios;
a
competência
para
designar
os
administradores.
É
uma
subjectividade
distinta
dos
sócios
(instituição
diversa
do
somatório
dos
sócios
–
a
competência
é
entregue
ao
colégio,
mesmo
que
não
estejam
presentes
todos
os
sócios:
não
é
uma
competência
dos
sócios,
mas
sim
atribuída
a
um
colégio
dos
sócios.
São
os
poderes
do
colégio,
não
os
poderes
dos
sócios).
Quando
a
actuação
é
singular
ou
conjunta,
os
órgãos
já
são
os
seres
humanos.
Geralmente,
por
definição,
os
efeitos
da
teoria
da
organização
são
os
poderes
e/ou
competências.
O
Professor
considera
que
são
os
dois
sinónimos.
Além
destes,
podemos
ainda
ter
direitos
e
deveres.
O
radical,
o
que
é
certo,
são
os
poderes
e/ou
competências.
Para
determinar
se
existe
um
certo
órgão,
não
vamos
ver
se
tem
direitos
ou
deveres,
mas
competências.
Os
poderes
podem
corresponder
a
direitos
ou
estar
associados
a
deveres
(figura
do
poder-‐dever).
É
um
poder
orgânico
porque
é
relativo
ao
regime
jurídico
corporativo
da
pessoa
colectiva.
Há
os
poderes
que
não
inerentes
pelo
regime
corporativo,
estatutário.
P.e.,
o
art.
261º
atribui
poderes
de
representação
aos
gerentes.
São
regulados
pelo
regime
estatutário.
Mas
as
SA
também
podem
emitir
procurações.
Neste
caso,
são
representações
voluntárias.
Actuação
Singular,
Conjunta,
Colegial
ou
Deliberativa
{na
terminologia
italiana,
usa-‐se
disjunta
para
o
singular,
mas
não
é
uma
terminologia
preterida
pelo
Professor}
–
esta
discussão
sobre
a
actuação
no
âmbito
da
teoria
das
organizações
deve
ser
enquadrada
na
teoria
do
negócio
jurídico.
Constituem,
em
rigor,
modalidades
da
declaração
negocial.
Podemos
ter
declarações
singulares,
conjuntas
ou
colegiais
(há
um
colégio
que
actua,
uns
que
votam
num
sentido
e
outros
para
o
outro
sentido
–
deliberação
versus
conjunta).
Quando
dois
comproprietários
vendem
um
prédio,
emitem
uma
declaração
negocial
conjunta.
Esta
classificação
é
mais
ampla,
não
serve
apenas
para
as
pessoas
colectivas.
Quanto
ao
colégio
é,
tendencialmente,
nas
pessoas
colectivas.
Em
rigor,
a
classificação
não
releva
apenas
na
teoria
das
organizações,
é
teoria
no
negócio
jurídico.
Têm
que
se
cruzar
–
é
a
perspectiva
germânica,
analítica,
para
se
fazer
a
teoria
mais
pura.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Competência
Externa
(ou
Poder
de
Representação)
e
Competência
Interna
(ou
Poder
de
Administração)
–
a
interna
é
a
competência
decisória;
internamente
decide-‐se
o
que
se
vai
fazer,
para
se
depois
actuar
no
mundo
exterior.
PCN
acha
que
é
interna
por
contraposição
à
externa.
A
externa:
(1)
é
abstracto
e
limitável,
para
protecção
de
terceiros,
por
força
da
Directiva
de
Coordenação
e
da
inspiração
germânica,
i.e.,
da
protecção
do
tráfego
de
terceiros;
(2)
tendencialmente
concentrados
no
órgão
de
administração
–
quem
vincula
a
sociedade
perante
os
terceiros
são
os
gerentes,
não
os
sócios
–
diminuição
dos
custos
de
transacção
e
de
contexto
para
as
empresas.
38
Mecanismo
jurídico
que
permite
privilegiar
a
maioria
em
detrimento
da
unanimidade.
39
Coutinho
de
Abreu
faz
uma
distinção
com
a
qual
Pedro
Caetano
Nunes
não
concorda
[ADVERTÊNCIA].
40
Não
são
modalidades
dos
órgãos,
mas
dos
poderes
orgânicos.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
É
tendencial
porque
há
outros
órgãos
com
competência
face
ao
exterior.
P.e.,
os
órgãos
de
controlo
–
Conselho
Fiscal
e
de
Supervisão
–
podem
pedir
informações
a
terceiros,
pelo
que
têm
competências
externas
pontuais.
Por
vezes
fala-‐se
em
órgãos
internos
e
externos
–
esta
classificação
é
errónea.
Existe
um
órgão
tendencialmente
externo;
os
órgãos
internos
são
todos
os
órgãos,
mesmo
o
Conselho
de
Administração
(além
das
competências
externas,
dialoga
com
os
demais
órgãos
e
delibera,
antes,
interiormente
–
no
seio
da
sociedade).
11.4. MODALIDADES
DE
ÓRGÃOS
Há
uma
classificação
entre
órgãos
originários
e
derivados
–
com
a
qual
o
Professor
concorda.
Os
originários
são
os
sócios
e
os
colégios
dos
sócios.
O
seu
poder
e
designação
advém
directamente
do
contrato
de
sociedade.
Os
outros
são
derivados,
porque
são
designados
pelos
sócios
ou
por
outros
órgãos
derivados.
O
colégio
dos
sócios,
na
perspectiva
do
Professor,
é
o
órgão
principal.
O
originário
resulta
automaticamente
do
contrato
de
sociedade,
dos
estatutos.
O
derivado
funda-‐se
em
designação.
Podem
haver
vários
graus
de
designação,
i.e.,
um
órgão
derivado
pode
designar
outros
órgãos.
Há
estratificação
orgânica.
Nota:
quanto
maior
a
estratificação
–
órgão
que
nomeia
outro,
e
esse
outro,
nomeia
outro
e
afim
-‐,
menor
a
democracia,
ou
seja,
quanto
menor
a
restrição
do
poder,
maior
a
informação.
Classificação
de
Órgãos
Derivados
Interessam
para
a
Sociedade
Anónima,
porque
é
esta
que
tem
uma
estrutura
orgânica
complexa.
As
outras
têm
uma
estrutura
tendencialmente
simples.
Nos
órgãos
derivados:
1. Órgão
de
Administração
ou
Gestão;
2. Órgãos
de
Controlo;
2.1. Controlo
Contabilístico
(Auditores
ou
Revisores
Oficiais
de
Conta);
2.2. Controlo
Político;
2.2.1. Pura
Fiscalização;
2.2.2. Supervisão.
Administração
Gestão
Controlo
Controlo
Polí“co
Controlo
Contabilís“co
Pura
Fiscalização
Supervisão
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Na
SA
há
uma
diferenciação
do
órgão
de
gestão
e
controlo
ao
abrigo
da
separação
de
poderes.
Dentro
dos
órgãos
de
controlo,
há
uns
que
fazem
apenas
controlo
das
contas;
outros,
além
das
contas,
vão
determinar
se
os
negócios
andam
a
ser
bem
feitos.
Dentro
destes,
do
controlo
político,
temos
os
que
têm
maiores
ou
menores
poderes.
Além
disto,
há
que
ter
em
conta
os
que
têm
«mais
garras»
-‐
além
do
poder
de
fiscalização,
podem
nomear
e
destituir
os
administradores
e
de
participar
na
gestão.
Aula
de
28
de
abril
de
2017
Aula
pela
Daniela
Rodrigues
Há
clivagem
terminológica
quanto
aos
conceitos;
há
quem
fale
em
fiscalização
e
não
em
controlo;
conceito
amplo
de
fiscalização.
É
bastante
frequente
distinguir
controlo
político
e
meramente
contabilístico.
A
segunda
subdivisão
que
opera
dentro
dos
órgãos
de
controlo
não
é
pacífica
na
Doutrina.
De
acordo
com
o
Professor
e
RUI
PINTO
DUARTE,
há
uma
posição;
o
resto
da
Doutrina
defende
que
existem
os
órgãos
de
controlo
e
fiscalização
política,
sem
distinguir
a
«supervisão»
da
«pura
fiscalização».
O
professor
faz
esta
distinção,
porque
considera
que
é
importante
distinguir
órgãos
de
controlo
político
com
poderes
reforçados,
maior
capacidade
de
controlo
político,
que
não
têm
poderes
de
mera
fiscalização,
mas
sim
outros
que
ajudam
a
exercer
com
eficácia
a
função
de
fiscalização:
1. Competência
de
Nomear
e
Destituir
os
Executivos
–
quem
nomeia
os
executivos.
Do
ponto
de
vista
substantivo
de
direito
comparado,
tal
significa
nomear
ou
destituir
como
administradores
ou
operar
delegação
de
poderes.
Atribui
bastante
força
ao
órgão
de
fiscalização
ou
controlo
político.
2. Competência
ou
Poder
de
Participação
na
Gestão
-‐
os
actos,
decisões
e
operações
de
gestão
mais
importantes
devem
ser
levadas
ao
conhecimento
do
órgão
de
controlo
politico
para
que
este
as
autorize.
Não
se
trata
de
uma
iniciativa
de
gestão
–
esta
cabe
sempre
aos
executivos
–,
mas
da
autorização
para
actos
de
gestão
importantes.
Nos
trabalhos
preparatórios,
o
legislador
germânico
reconheceu
que
ao
participar
em
determinadas
decisões
de
gestão,
os
órgãos
de
controlo
político
perdem
distanciamento,
o
que
cria
menor
capacidade
de
controlo
político
dos
executivos
que
já
estavam
nas
decisões
de
gestão.
Em
contraponto,
os
alemães
acharam
que
sem
esta
participação
na
gestão,
o
órgão
de
controlo
político
ia
estar
aliado,
com
pouca
informação
e
estava
reconduzido
a
um
controlo
meramente
contabilístico
ao
invés
de
controlo
político
efetivo.
Os
portugueses
e
italianos,
que
não
criaram
órgãos
de
supervisão,
mas
sim
um
Conselho
de
Fiscalização,
com
poderes
de
fiscalização
política,
não
obtêm
um
qualquer
efeito.
Com
esta
proximidade
à
gestão,
os
alemães
criaram
órgãos
de
controlo
politico
que
acompanham
decisões
de
gestão,
efectivamente;
têm
controlo
político
eficaz
–
a
teoria
da
separação
de
poderes
está
por
detrás
desta
ideia,
check
and
balances.
O
órgão
de
supervisão
tem
estas
duas
competências,
de
participar
na
gestão,
e
de
destituir
órgãos
executivos
(mecanismos
para
tornar
a
fiscalização
politica
efectiva).
11.5. IDENTIFICAÇÃO
DOS
ÓRGÃOS
Para
todos
os
tipos
societários,
existe
um
órgão
primordial
e
comum
–
a
Assembleia
Geral.
Trata-‐se
de
um
órgão
soberano,
constituído
pelos
sócios
e/ou
acionistas,
a
quem
compete,
“grosso
modo”,
a
formação
do
núcleo
essencial
da
vontade
social,
a
eleição
e
destituição
dos
membros
dos
demais
órgãos
sociais,
as
alterações
estatutárias,
as
grandes
operações
de
reorganização
da
estrutura
jurídica
(fusão,
cisão,
transformação,
agrupamento)
e
financeira
(aumento
e
redução
de
capital
social),
e
a
dissolução
da
sociedade
comercial
(arts.
53º
e
ss,
189º,
248º,
270º-‐E,
373º
e
472º,
CSC).
Sociedades
em
Nome
Colectivo
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
órgão
principal
é
o
Colégio
dos
Sócios
-‐
órgão
originário
(191º).
Temos
ainda
a
Gerência,
para
além
dos
sócios;
é,
por
isso,
o
segundo
órgão
principal,
mas,
pela
regra
do
191º,
percebemos
que
existe
uma
coincidência
entre
os
sócios
e
os
gerentes,
daí
que
se
conclua
que
ainda
que
formalmente
haja
separação
orgânica
entre
sócios
e
gerentes,
como
são
as
mesmas
pessoas,
esta
separação
orgânica
é
mais
insipiente,
há
pouca
complexidade
orgânica.
Sociedades
por
Quotas
Mais
uma
vez,
temos
o
Colégio
dos
Sócios
e
a
Gerência
(252º
ss)
como
órgãos
principais.
A
complexidade
tende
a
ser
superior,
porque
é
frequente
que
os
gerentes
não
sejam
sócios,
i.e.,
podem
ser
estranhos.
Há
uma
maior
segregação
orgânica.
A
gerência
é
o
órgão
a
quem
compete
a
gestão
e
a
representação
da
sociedade,
podendo
ser
composta
por
sócios
ou
terceiros,
e
funcionando,
em
regra,
conjuntamente
(252º
a
261º,
CSC).
Diz
o
art.
261º
que
a
gerência
pode
actuar
no
exercício
de
poderes/competências
externas
-‐
a
vinculação
externa
da
sociedade
–
e
em
deliberações
internas.
É
atribuída
maior
importância
ao
órgão
de
gerência
comparativamente
com
as
sociedades
em
nome
coletivo.
A
lei
prevê
que
se
tomem
decisões
internas;
há
maior
densidade
orgânica.
Admite-‐se
ainda
a
criação
de
Conselho
Fiscal
–
órgão
de
controlo
político
de
pura
fiscalização
-‐
de
acordo
com
o
art.
262º,
mas
é
bastante
raro.
Sociedades
Anónimas
Tenho
sempre
o
Colégio
dos
Sócios
como
órgão
principal
sendo
que
os
órgãos
derivados
podem
estruturar-‐se
de
acordo
com
três
modelos
de
governação
–
importante
para
Corporate
Governance.
As
sociedades
anónimas
são,
de
longe,
o
tipo
societário
dotado
de
uma
estrutura
orgânica
mais
complexa,
prevendo
actualmente
a
lei
três
modelos
alternativos
de
organização
das
sociedades
anónimas
(278º).
11.5.1. MODELOS
ALTERNATIVOS
DE
ORGANIZAÇÃO
DAS
SOCIEDADES
ANÓNIMAS
Modelo
Tradicional
Inventado
em
1867,
e,
há
quem
o
considere
latino.
⇒ Nos
termos
do
art.
278º,
podemos
distinguir:
dois
órgãos
-‐
o
Conselho
de
Administração
e
o
Conselho
Fiscal.
O
Conselho
de
Administração
tem
poderes
de
gestão
(arts.
405º
e
406º);
o
Conselho
Fiscal
é
o
órgão
de
controlo
político.
Se
olharmos
para
as
competências
do
Conselho
Fiscal
(art.
420º),
uma
delas
é
logo
fiscalizar
a
administração
da
sociedade
(número
1
alínea
a)).
E
as
alíneas
seguintes
podem
ser
incluídas
nesta.
Não
tem
as
competências
de
participar
na
gestão
ou
de
nomear
e
destituir
os
administradores
e,
por
isso,
é
que
é
de
pura
fiscalização.
O
Conselho
Fiscal
não
tem
competências
de
controlo
político
reforçado.
Temos
de
adoptar
aqui
a
distinção
de
RUI
PINTO
DUARTE.
Os
órgãos
de
governo
são
o
Conselho
de
Administração,
enquanto
órgão
executivo,
e
o
Conselho
Fiscal,
órgão
de
controlo
político.
A
Comissão
Executiva
não
é
obrigatória,
mas
na
prática
sociológica
é
frequente
(face
à
tendência
de
informação
de
oligarquia).
Existe
a
lógica
de
concentração
do
poder
e
informação
nos
órgãos
superiores.
Na
terminologia
do
professor,
é
possível
distinguir:
⇒ O
modelo
tradicional
simples;
⇒ O
modelo
tradicional
complexo
ou
estratificado:
temos
mais
um
órgão,
que
é
a
Comissão
Executiva.
Passamos
a
ter
o
Conselho
Administrativo,
o
Conselho
Fiscal
e
a
Comissão
Executiva;
a
Doutrina
considera
que
isto
altera
o
equilíbrio
de
forças:
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
o O
órgão
executivo
passa
a
ser
a
Comissão
Executiva,
que
detém
o
poder
executivo;
o O
Conselho
de
Administração
passa
a
ser
apenas
um
órgão
de
controlo.
Se
no
modelo
tradicional
complexo
estratificado,
o
maioritário,
a
Comissão
Executiva
é
o
órgão
de
gestão,
o
Conselho
de
Administração
não
é
órgão
de
gestão,
mas
sim
de
controlo.
{Crítica
modelo
tradicional
simples:
não
há
um
órgão
de
controlo
político
com
poderes
limitados,
não
há
um
órgão
de
pura
fiscalização.
Crítica
modelo
complexo:
fiscal.
Existem
dois
órgãos
de
controlo,
logo
há
menor
controlo
porque
está
disperso}.
Aplica-‐se
o
modelo
anglo-‐americano
se
quisermos
Governance
eficiente.
Modelo
tradicional
complexo
se
quisermos
maior
assimetria
de
informação.
Modelo
Anglo-‐Americano
Importação
Jurídica
em
Especial
da
Experiência
Norte-‐Americana
O
art.
278º/1,
b),
fala
em
Conselho
de
Administração
e
Comissão
de
Auditoria.
Os
EUA
não
tinham
um
modelo
de
governo
com
dois
órgãos:
executivo
e
de
supervisão.
Porém,
em
meados
do
século
passado
começaram
a
perceber
que
talvez
devessem
mudar.
Os
estatutos
das
grandes
sociedades
norte-‐americanas
começaram
a
prever
um
regime
da
prática
dualista
e
a
partir
daqui
a
doutrina
norte-‐americana
começou
a
teorizar
sobre
este
novo
modelo
estatutário
dualista
criando
um
paralelismo
com
os
alemães.
Começaram
então
a
fazer
com
que
o
Board
of
Directors
assumisse
um
controlo
político
delegando
a
gestão
nos
Officers,
CEO,
CFO
(executivos).
No
Board
podem
estar
administradores
e
gestores
que
são
também
executivos,
porém
pode
fazer-‐se
uma
clivagem
essencial
entre
os
executivos
–
officers
–
e
não
executivos
–
directors
que
não
são
officers.
Ao
fazer
a
delegação
e
reservando
para
si
o
controlo
político,
aproximaram-‐se
dos
alemães.
Impõe-‐se
regras:
a
maioria
no
Board
tem
que
ser
executivos
que
se
reúnem
separadamente,
são
por
isso
um
órgão
de
exclusivo
controlo.
Quem
nomeia
os
executive
officers
é
o
Board.
Os
atos
de
gestão
mais
importantes,
na
prática,
são
discutidas
no
Board.
Os
executivos
são
o
órgão
de
gestão
e
o
Board
são
o
órgão
de
controlo.
O
Conselho
de
Administração
é
um
órgão
de
controlo
e
a
comissão
de
auditoria
é
também
um
subórgão
de
controlo,
o
órgão
de
gestão
é
a
comissão
executiva,
mas
não
diz
na
alínea
b).
O
art.
423º-‐
B
é
uma
transposição
imperfeita
do
regime
norte-‐americano,
os
membros
da
Comissão
de
Auditoria
não
podem
exercer
funções
executivas.
Esta
é
um
subórgão
do
Conselho
de
Administração,
o
que
significa
que
há
órgãos
do
Conselho
de
Administração
que
são
órgãos
da
Comissão
de
Auditoria.
A
lei
diz
que
aos
membros
da
comissão
de
auditoria
é
vedado
exercer
funções
executiva,
mas
quem
as
exerce
é
o
Conselho
de
Administração,
a
não
ser
que
delegue
os
poderes.
Interpreta-‐se
então
o
numero
3
do
423º
no
sentido
de
ter
que
haver
delegação
de
poderes
dentro
do
Conselho
de
Administração,
ou
seja,
determinados
membros
passam
a
ser
administradores
executivos,
para
que
os
que
pertencem
à
comissão
de
auditoria
deixem
de
ser
administradores
executivos.
Administradores
executivos
Comissão
de
Auditoria
Delegam
na
comissão
de
Maioria
são
administradores
auditoria.
não
executivos,
independentes
das
finanças.
Comissão
de
executiva
Só
estes
têm
poder
executivo.
Administradores
Não
Executivos
Perdem
poder
executivo.
I.e.,
nos
termos
do
405º,
o
Conselho
de
Administração
tem
competências
de
gestão,
este
é
que
tem
funções
executivas.
Acrescenta
o
407º
que
grande
parte
destes
poderes
podem
ser
delegados,
nomeadamente
numa
Comissão
Executiva
ou
administradores
executivos
individualmente,
sendo
o
caso
menos
frequente.
Assim,
temos
residualmente
a
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
delegação
na
Comissão
de
Auditoria.
Na
opinião
da
maioria
da
doutrina
o
423º-‐B/3
devia
dizer
que
há
delegação
na
Comissão
Executiva
para
os
poderes
executivos
estarem
apenas
nos
verdes
e
deixem
de
estar
nos
vermelhos,
membros
da
Comissão
de
Auditoria.
Nesta
modalidade,
são
órgãos
principais
o
Conselho
de
Administração
compreendendo
uma
Comissão
de
Auditoria,
41
assim
como
uma
Comissão
Executiva ,
por
isso
a
maioria
da
doutrina
considera
que
este
art.
não
está
completo.
Este
modelo
é
bastante
próximo
do
americano:
o
Conselho
de
Administração
é
um
órgão
de
controlo
político
como
um
todo,
são
quem
nomeia
e
destitui
os
executivos,
sendo
a
Comissão
de
Auditoria
um
subórgão,
órgão
de
fiscalização.
A
Comissão
Executiva
é
o
órgão
de
gestão.
Modelo
Germânico
Importação
do
Regime
Germânico
Na
sua
origem
baseia-‐se
a
ideia
de
órgão
de
controlo
político
de
supervisão
com
competências
acrescidas
de
modo
a
fazer
controlo
político
efectivo:
(1)
uns
são
«os
executivos»
que
se
encontram
no
Conselho
de
Administração
Executiva/Administração,
(2)
por
contraponto,
outros
são
os
«não
executivos»,
e
estão
todos
nos
órgãos
de
supervisão,
Conselho
de
Supervisão.
Isto
é
o
que
encontramos
no
art.
278º/1
c).
Existe
ainda
o
Revisor
Oficial
de
Contas,
não
é
muito
importante,
faz
apenas
controlo
contabilístico.
⇒ Executivos
–
Conselho
de
Administração;
⇒ Não
Executivos
–
Conselho
de
Supervisão.
A
nossa
importação
peca
em
dois
sentidos,
que
culminam
no
menor
reforço
dos
poderes:
o Os
arts.
441º
e
425º
dizem
que
os
executivos
podem
ser
nomeados
pelos
órgãos
de
supervisão
e
pelos
sócios
se
os
estatutos
assim
o
determinarem.
Na
Alemanha,
é
sempre
pelo
órgão
de
supervisão,
por
via
a
ter
competência
reforçada.
Nós
temos
menos
poderes
reforçados.
o Em
relação
ao
poder
de
participação
na
gestão,
os
alemães
veem
esta
participação
na
gestão
de
três
formas:
(1)
estatutos
estabelecem
que
determinados
poderes
têm
que
ter
autorização
do
órgão
de
supervisão;
(2)
quando
o
órgão
de
supervisão
no
seu
regulamento
interno
assim
o
determinar;
(3)
e
quando
o
órgão
de
supervisão
o
determinar
ad
hoc.
Em
Portugal,
de
acordo
com
o
442º,
é
só
através
dos
estatutos
que
o
órgão
tem
intervenção.
Em
Portugal
há
um
menor
reforço.
Em
rigor
não
são
três
modelos
mas
sim
cerca
de
nove,
pois
olhando
para
o
art.
278º,
em
especial
o
número
4,
5
e
6,
vemos
que
podem
haver
pequenas
alterações
aos
modelos,
i.e.,
submodalidades.
Relevância
dos
Estatutos
Como
ainda
agora
se
viu,
dada
a
natureza
imperativa
dos
modelos
sociais,
os
estatutos
sociais
não
poderão
estipular
a
inexistência
de
órgãos
sociais
obrigatórios
nem
criar
modelos
orgânicos
atípicos
ou
mistos,
além
de,
em
certos
casos,
deverem
mesmo
optar
expressamente
por
um
dos
modelos
alternativamente
predispostos
pela
lei
(272º/g))
e
278º).
Como
é
evidente,
a
liberdade
de
conformação
estatutária
dos
sócios
em
sede
de
organização
societária
termina
onde
as
normas
imperativas
do
legislador
societário
começam.
12. COMPETÊNCIAS
DO
CONJUNTO
DOS
SÓCIOS
12.1. SOCIEDADES
ANÓNIMAS
Colégio
dos
sócios
têm
essencialmente
competências
internas,
Pontualmente
há
competências
com
o
exterior.
41
Não
tem
que
ser
necessariamente
uma
comissão
executiva,
podem
nomear
apenas
3,
por
exemplo,
e
estes
não
criarem
um
órgão
colegial.
Não
é,
contudo,
a
prática,
porque
assim
não
são
obrigados
a
reunir
e
explicar
o
que
estão
a
fazer.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
12.1.1. COMPETÊNCIA
DE
DESIGNAÇÃO
DOS
ÓRGÃOS
DERIVADOS
(COMPETÊNCIA
EXTERNA)
|
ART.
252º
o Designação
de
gerentes
[podem
ser
designados
nos
estatutos,
fora
esses
casos,
são
designados
pelos
sócios]
-‐
391º;
o Designação
dos
administradores
das
sociedades
anónimas;
o Criação
dos
membros
do
Conselho
Fiscal
–
415º;
o Nomeação
dos
membros
do
Conselho
de
Auditoria
-‐
423º-‐C;
o Nomeação
dos
membros
do
Conselho
Geral
e
de
Supervisão
-‐
435º;
o Nomeação
do
Secretário
da
Mesa
da
Assembleia
Geral
-‐
446º;
42
o Os
administradores
executivos
podem
ser
designados
pelos
sócios,
se
estiver
no
estatuto
-‐
425º .
12.1.2. ALTERAÇÃO
ESTATUTÁRIA
(COMPETÊNCIA
INTERNA)
|
ART.
85º.
Temos
ainda
as
normas
que
estabelecem
maiorias
qualificadas
para
as
alterações
estatutárias:
265º
(sociedades
anónimas)
e
383º
e
386º
(sociedades
por
quotas).
12.1.3. APRECIAÇÃO
PERIÓDICA
DA
SITUAÇÃO
DA
SOCIEDADE
(COMPETÊNCIA
INTERNA)
o Prestação
de
contas:
o Na
sociedade
por
quotas
é
o
246º;
o Nas
sociedades
anónimas
é
376º.
12.1.4. AFECTAÇÃO
DOS
RESULTADOS
(COMPETÊNCIA
INTERNA)
o Contas
do
ano
passado;
o Orçamento
do
ano
seguinte
–
arts.
246º
e
376º.
12.1.5. COMPETÊNCIA
DE
GESTÃO
(COMPETÊNCIA
INTERNA)
o Nas
sociedades
por
quotas
(246º/2
alínea
c)
e
b)),
está
previsto
que
os
sócios
possam
deliberar
sobre
matérias
de
gestão,
porque
a
gerência
não
tem
competências
exclusivas;
o Nas
sociedades
anónimas
há
competência
exclusiva
de
gestão
por
parte
do
Conselho
de
Administração.
A
maioria
da
doutrina
interpreta
o
373º/3
no
sentido
de
os
sócios
não
terem
competência
de
gestão
nas
sociedades
anónimas,
mas
há
quem
entenda
que
não
é
assim
–
concepção
moderna
de
sociedade
anónima:
a
sociedade
anónima
deve
ser
seguida
com
eficácia
de
gestão,
não
é
uma
democracia.
Os
sócios
não
podem
tomar
decisões
e
gestão.
⇒ Os
autores
portugueses
que
adoptam
a
posição
minoritária
têm
ideologia
de
esquerda
mais
intensa.
A
posição
de
ENGRÁCIA
ANTUNES
e
de
PEDRO
CAETANO
NUNES
é
de
que
o
poder
exclusivo
de
gestão
é
em
rigor
uma
iniciativa
exclusiva
de
gestão,
isto
porque
as
grandes
decisões
de
gestão
são
sempre
levadas
ao
sócio.
Temos
o
exemplo
da
fusão;
logo,
não
é
exclusivo
do
Conselho
de
Administração,
os
sócios
têm
uma
palavra
a
dizer
nestas
grandes
decisões,
não
há
exclusividade
de
gestão
em
rigor
técnico,
mas
sim
de
iniciativa
da
gestão.
A
ideia
não
é
a
da
não
intervenção
dos
sócios
nas
decisões
de
gestão;
o
que
é
proibido
é
que
os
sócios
tomem
a
iniciativa
de
exteriorizar
instruções
aos
gestores
–
iniciativa
de
gestão.
Pode
ter
que
exigir
autorização
dos
sócios,
em
áreas
importantes
como
alterações
estruturais,
mas
não
pode
tomar
iniciativa.
Noção
de
Gestão
Em
grande
medida,
a
maioria
das
decisões
dos
sócios
também
relevam
da
gestão.
Pense-‐se
no
exemplo
da
fusão
–
as
grandes
alterações
estatutárias
são
da
competência
dos
sócios,
como
é
o
caso
da
competência
de
fusão.
Esta
matéria
também
tem
relevo
de
gestão.
Assim,
deve
distinguir
se
são
decisões
estruturais
de
gestão,
que
pertencem
42
Estão
a
contratar
pessoas
para
terem
vínculo
obrigacional
com
a
sociedade,
daí
ser
competência
em
rigor
externa.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
aos
sócios
ou
se
são
competências
de
gestão
não
tão
estruturais,
as
quais
pertencem
apenas
ao
Conselho
de
Administração.
Mas
todas
elas
são
competências
de
gestão.
Querela
doutrinária
–
é
possível
que
os
estatutos
estabeleçam
que,
além
das
fusões,
há
outras
matérias
que
exigem
o
«sim
final»
dos
sócios?
PEDRO
CAETANO
NUNES
e
MENEZES
CORDEIRO
entendem
que
sim
–
é
possível
que
os
estatutos
alarguem
a
competência
dos
sócios
para
matérias
de
gestão
estruturais.
Especialmente,
nas
sociedades
anónimas
fechadas,
faz
todo
o
sentido
alargar
o
leque
de
matérias
de
gestão
sujeitas
à
aprovação
dos
sócios.
Instruções
versus
Autorização
Autorização
-‐
os
administradores
tomam
a
iniciativa,
mas
aquilo
ainda
tem
de
passar
pelos
sócios;
Instruções
-‐
a
iniciativa
é
dos
sócios,
o
que
regra
geral
não
sucede.
Ainda
a
propósito
do
373º/3,
alguma
doutrina,
entre
eles
o
Professor
e
MENEZES
CORDEIRO,
discute
até
que
ponto
os
estatutos
podem
prever
que
é
necessária
uma
autorização
dos
sócios
para
a
prática
de
determinados
actos
nas
SA.
E
discute-‐se
ainda
se
as
decisões
que
podem
ser
prejudiciais
aos
sócios
podem
não
precisar
da
sua
autorização.
12.2. SOCIEDADES
POR
QUOTAS
A
este
propósito
temos
o
art.
261º:
competência
interna
e
externa
dos
gerentes.
Quando
se
fala
em
«vinculada»,
abordamos
a
competência
externa
e
deliberações
de
competência
interna.
⇒ Há
vários
gerentes
e
os
poderes
externos
são
exercidos
conjuntamente;
⇒ Declaração
negocial
conjunta
maioritária.
Se
forem
dois
gerentes,
têm
que
assinar
os
dois.
No
acto
conjunto
atua
um
determinado
conjunto
de
pessoas,
todos
no
mesmo
sentido;
já
nas
deliberações,
cada
um
vai
no
seu
sentido;
visa
possibilitar
várias
opiniões
–
alternativa
dialética
do
voto.
O
processo
de
formação
do
negócio
jurídico
admite
a
divergência,
o
que
não
se
admite
nestas
declarações
conjuntas
maioritárias.
Liberdade
Estatutária:
• Os
estatutos
podem
estabelecer
um
número
inferior
de
assinaturas
para
a
vinculação,
porque
isso
não
origina
problemas
para
os
terceiros;
• Mas
e
se
os
estatutos
estabelecerem
um
número
superior
de
assinaturas
para
que
haja
vinculação,
também
é
possível?
Maioria
da
Doutrina
diz
que
sim,
desde
que
de
tal
haja
publicidade
do
registo
comercial;
• Pode
haver
referência
nominal
a
um
gerente?
(P.e.,
se
for
o
Joaquim
a
intervir,
ele
pode
assinar
sozinho)
–
isto
também
é
possível,
desde
que
inscrito
no
registo
comercial.
A
assinatura
de
um
único
gerente,
apesar
de
haver
vários,
é
admitida
por
alguma
jurisprudência,
mas
tal
é
contra
legem
–
1ª
Directiva
de
Coordenação.
O
regime
do
261º
é
supletivo,
podem
estabelecer-‐se
regras
diferentes
através
dos
estatutos.
Quais
regras?
⇒ É
possível
a
vinculação
de
um
numero
inferior
à
maioria
–
não
há
problemas
para
os
terceiros,
maior
protecção
quanto
mais
fácil
for
a
vinculação
da
sociedade.
⇒ E
um
número
superior
à
maioria?
A
maioria
da
doutrina
diz
que
sim,
desde
que
esteja
publicitado
no
registo
comercial.
TEIXEIRA
DOS
SANTOS
considera
que
não.
⇒ É
possível
a
referência
nominal
a
um
gerente?
Sim,
desde
que
haja
publicidade
registral:
o
X
intervém
sempre
(protecção
de
terceiros).
Quanto
à
delegação
do
poder
de
representação,
ao
abrigo
do
261º/2
é
possível
fazer
a
delegação
apenas
a
1,
i.e.,
ao
nível
interno
2
delegam
1
e
só
esse
vincula
a
sociedade.
Do
ponto
de
vista
conceptual
pode
distinguir-‐se
os
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
poderes
de
representação
originários
dos
delegados.
Esta
credencial
tem
uma
estrutura
analítica
semelhante
a
uma
procuração.
Ainda
a
propósito
da
vinculação
nas
sociedades
por
quotas,
o
art.
246º/c)
estabelece
que,
salvo
disposição
estatutária
em
contrário,
a
alienação
ou
oneração
de
imóveis
ou
de
estabelecimento,
depende
de
deliberação
dos
sócios.
Temos
aqui
uma
querela,
sendo
que,
parte
da
doutrina,
considera
que
isto
limita
os
poderes
dos
gerentes
ou
que
limita
meramente
os
poderes
internos.
Parte
da
doutrina
considera
que
limita
externamente.
Para
o
Professor
e
COUTINHO
DE
ABREU,
estas
limitações
têm
efeito
meramente
interno,
i.e.,
quando
dois
gerentes
vendem
um
imóvel
sem
terem
perguntado
aos
sócios
se
concordam,
a
venda
é
eficaz,
pois
a
exigência
da
deliberação
dos
sócios
tem
efeitos
meramente
internos,
não
afecta
a
competência
externa
e
o
poder
de
deliberação.
Assim,
será
esta
uma
norma
com
efeito
externo
ou
meramente
interno?
o COUTINHO
DE
ABREU:
não
há
limitação
da
vinculação
externa;
o RAUL
VENTURA:
há
limitação
da
vinculação
externa;
o PEDRO
CAETANO
NUNES:
a
fusão,
por
exemplo,
está
elencada
no
nº1
do
246º,
ou
seja,
corresponde
ao
núcleo
das
deliberações
que
injuntivamente
cabem
aos
sócios.
Diferentemente,
as
deliberações
referidas
no
246º/2
(em
que
se
insere
a
alienação
e
oneração
de
imóveis)
não
são
injuntivas,
pelo
que
não
devem
repercutir-‐se
na
esfera
externa
da
sociedade.
Aula
de
2
de
maio
de
2017
A
norma
legal
de
referência
é
o
art.
261º
do
CSC.
A
regra
supletiva,
sem
prejuízo
dos
estatutos
o
poderem
fazer,
aponta
para
um
regime
de
vinculação
através
da
actuação
da
maioria
dos
gerentes.
Ainda
na
aula
passada,
a
liberdade
de
estatuição
–
vinculação
com
um
número
superior
{problemática
doutrinária}.
Foi
ainda
feita
referência
à
nomeação
do
gerente
[só
é
vinculado
se
assinado
por
A,
p.e.].
Olhámos
ainda
ao
art.
262º,
da
possibilidade
de
delegação
do
poder
de
representação;
e
para
o
art.
246º/2,
que
refere
a
competência
dos
sócios,
a
qual
se
discute
se
é
uma
competência
que
vai
limitar
a
deliberação
dos
gerentes
ou
se
tem
apenas
um
limite
interno,
não
interferindo
na
gerência.
ENGRÁCIA
ANTUNES
defende
que
é
uma
competência
puramente
interna.
Competência
Interna
(ou
Poder
de
Administração/Gestão)
⇒ Ao
contrário
das
SA,
em
que
os
administradores
têm
uma
competência
exclusiva
de
gestão;
nas
SQ,
os
gerentes
ou
a
gerência
não
têm
quaisquer
poderes
exclusivos.
A
consequência
prática:
os
sócios
podem
dar
instruções
aos
gerentes;
podem
tomar
a
iniciativa
de
gestão,
dando
instruções.
⇒ O
art.
261º
é
um
artigo
complexo
do
qual
resultam
várias
normas
jurídicas
–
sobre
a
competência
quer
externa,
quer
interna.
Quando
se
fala
nas
deliberações
por
maioria,
o
legislador
estabelece
uma
regra
sobre
a
competência
interna
(distinta
da
que
fala
da
externa
ou
da
vinculação
da
sociedade
através
da
actuação
dos
gerentes).
Os
votos
da
maioria
são
a
competência
interna.
Aos
olhos
de
COUTINHO
DE
ABREU,
num
podes
deliberativo
ou
decisório.
As
decisões
são
adoptadas
por
maioria
dos
gerentes
por
via
da
deliberação.
Pormenor:
neste
contexto,
faz
sentido
não
falar
apenas
na
actuação
dos
gerentes,
mas
também
nas
decisões
da
gerência
enquanto
subjectividade
jurídica.
⇒ É
possível
uma
delegação
da
competência
interna.
É
uma
delegação
interna
que
não
visa
apenas
atribuir
o
poder
externo
de
actuação
a
um
dos
gerentes,
mas
o
poder
interno
de
tomar
decisões
sobre
certas
matérias.
Não
tem
grande
relevância
nas
SQ,
porque,
em
princípio,
a
Sociedade
é
mais
pequena
e,
assim
menos
complexa.
Em
estruturas
muito
grandes,
a
distribuição
das
competências
decisórias
é
relevante.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
P.e.,
numa
mercearia
em
que
a
decisão
é
vender
o
imóvel,
é
uma
decisão
que
apenas
se
adopta
uma
vez
na
vida.
Já
numa
multinacional,
é
diferente,
pode
ser
algo
mais
comum.
Sociedades
Anónimas
|
Arts.
408º
e
406º
Competência
Externa
(ou
Poder
de
Representação)
|
Art.
408º
A
regra
supletiva
é
também
a
regra
da
actuação
conjunta
maioritária
–
existe
uma
declaração
negocial
conjunta
da
maioria
dos
administradores
(se
forem
dois,
duas
assinaturas;
se
forem
cinco,
serão
três).
A
sociedade
fica
vinculada
pelos
negócios
assinados
pela
maioria.
Jurisprudência
contra
legem
–
tem
relevância
neste
ponto.
I.e.,
a
ideia
de
que
basta
uma
assinatura
para
vincular
uma
sociedade
anónima.
O
regime
legal
não
é
esse
{foi
debatido
em
aula
prática
de
apresentação
de
acórdãos}.
Os
Conselhos
de
Administradores
podem
ser
compostos
por
muitos
administradores.
Neste
caso,
imaginando,
p.e.,
que
existem
20
administradores
–
a
empresa
só
ficaria
vinculada,
se
aplicando
a
regra
supletiva,
se
presentes
mais
de
10
administradores
(ou
assinaturas).
Ora,
a
logística
é
complicada,
pelo
que
dentro
das
SA
têm
de
haver
mecanismos
que
facilitem
este
ponto.
Assim,
admite-‐se
que
os
estatutos
possam
delimitar
um
número
por
baixo.
P.e.,
«bastam
dois
administradores
e
o
Presidente».
⇒ Já
sabemos
que
a
cláusula
estatutária
pode
colocar
um
número
inferior.
Mas
e
for
superior?
A
Doutrina,
e
a
Jurisprudência
têm
considerado
que
não
(i.e.,
a
inadmissibilidade
desta
cláusula
supramaioritária).
O
Professor
acrescentou
que
nem
faria
sentido,
na
medida
em
que
se
já
é
difícil,
43
em
termos
logísticos,
garantir
esta
maioria,
quanto
mais
pedir
um
valor
acima
dessa
maioria .
Por
último,
é
possível
a
referencia
nominal
a
um
administrador?
P.e.,
fica
vinculado
com
a
assinatura
de
A.
COUTINHO
DE
ABREU
defende
que
não
é
admissível
nas
SA;
a
maioria
da
doutrina
defende
que
é
admissível
a
referencia
nominal,
desde
que
não
seja
afastada
como
alternativa,
a
regra
supletiva
legal.
I.e.,
é
possível
que
os
estatutos
estabeleçam
isto,
desde
que
a
Sociedade
também
se
possa
vincular
pela
assinatura
da
maioria,
tal
como
previsto
no
art.
408º.
Delegação
da
Competência
Externa
–
há
uma
grande
clivagem
doutrinária,
que
opõe
o
Professor
PEDRO
CAETANO
NUNES
e
os
Professores
COUTINHO
DE
ABREU
e
Alexandre
Sobral
Martins
(Escola
de
Coimbra).
Segundo
PEDRO
CAETANO
NUNES,
é
possível,
nos
termos
normais,
uma
delegação
do
poder
de
representação
–
que
opere
através
das
chamadas
credenciais
(papel
em
que
os
administradores
em
numero
suficiente
para
vincular
a
sociedade
–
ou
seja,
a
maioria
-‐,
opere
essa
delegação
=
assine).
Em
todo
o
caso,
a
lei,
quando
foi
feita,
nos
trabalhos
preparatórios,
não
facilita
muito
esta
possibilidade.
É
esta
a
segunda
clivagem
doutrinária.
SOBRAL
MARTINS
e
COUTINHO
DE
ABREU
defendem
uma
ideia
que
joga
melhor
com
a
letra
da
lei.
O
art.
408º/2
aponta
para
a
ideia
de
que
há
delegação
da
competência
interna
(do
poder
decisório),
sendo
que,
quando
tal
se
verifica,
também
se
admite
que
exista
delegação
da
competência
externa.
O
administrador
fica
simultaneamente
com
o
poder
de
decidir
e
de
vincular
a
sociedade.
P.e.,
o
poder
decisório
em
matérias
financeiras
é
delegado
no
CFO,
sendo
que
este,
ao
abrigo
do
art.
408º/2,
pode,
além
de
decidir,
vincular
a
Sociedade.
De
acordo
com
esta
interpretação,
as
credenciais
já
não
seriam
admissíveis
(como
defendido
na
primeira
querela).
43
Do
ponto
de
vista
prático,
isto
não
tem
tendência
para
acontecer.
É
apenas
um
caso
de
escola.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
COMPETÊNCIA
Externa
Interna
Poder
de
Poder
de
Representação
Administração
Vinculação
da
Decisório
ou
Sociedade
Delibera“vo
Para
SOBRAL
MARTINS
e
COUTINHO
DE
ABREU,
quando
há
um
administrador
delegado
a
nível
de
competência
interna,
o
mesmo
também
estará
delegado
a
nível
de
competência
externa.
P.e.,
se
tinha
a
competência
para
decidir
de
um
contrato
com
um
serralheiro,
então
também
podia
assinar
esse
contrato.
Ex.:
imaginando
que
se
tinham
de
deslocar
a
Londres,
em
época
de
Natal.
Tiram
à
sorte
e
sai
B.
Todos
os
administradores
decidiram
vender
o
imóvel,
mas
tiraram
à
sorte
quem
ia
executar
a
venda
do
imóvel.
O
poder
decisório
não
é
delegado;
ou
seja,
na
competência
interna
(não
delegado)
e
na
competência
externa
(delegado).
É
diferente
o
exemplo
anterior.
A
questão
é
determinar
se
pode
existir
um
administrador
delegado
que
iria
com
uma
credencial
até
Londres.
A
Escola
de
Coimbra
não
autorizava
esta
situação,
porque
na
leitura
literal
do
art.
408º,
só
se
permite,
nas
SA,
uma
delegação
do
poder
de
vinculação
mimética,
ou
seja,
quando
há
delegação
da
competência
interna,
existe,
automaticamente,
uma
delegação
de
competência
externa
{só
há
poder
de
vinculação
–
i.e.,
poder
de
representação
-‐
se
existir,
numa
primeira
fase,
a
delegação
do
poder
decisório
–
i.e.,
poder
de
administração};
não
é
possível
o
44
recurso
a
credenciais.
O
Professor
defende
que
não
devemos
seguir
a
letra
da
lei.
Competência
Interna
(ou
Poder
de
Administração/Gestão)
|
Art.
406º
⇒ É
de
recordar
o
art.
373º/3.
Na
aula
passada,
falámos
da
competência
dos
sócios,
tendo
sido
dado
um
exemplo
de
competências
em
matéria
de
gestão.
Nas
SQ,
os
sócios
têm
plena
competência
de
gestão,
mas
nas
SA,
esta
competência
é
limitada,
na
medida
em
que
os
gerentes
têm
algumas
reservas.
Assim,
e
nas
SA,
os
sócios
têm
algumas
competências,
embora
limitadas.
Têm
competência,
p.e.,
nas
fusões,
porque
são
questões
estruturais
de
gestão.
Por
regra,
não
tomam
decisões
em
matéria
de
gestão
nas
SA
e
não
podem
dar
ordens
aos
administradores.
O
reflexo:
o
Conselho
de
Administração
tem
iniciativa
exclusiva
de
gestão
nas
SA.
Ou
seja,
a
primeira
grande
consequência
prática
–
os
sócios
não
podem
dar
instruções
aos
administradores
e,
se
houver
uma
decisão
por
parte
destes,
não
é
vinculativa.
⇒ Não
sendo
possíveis
instruções
dos
sócios,
são
possíveis
autorizações
que
condicionem
as
decisões
dos
Conselhos
de
Administração?
A
maioria
tende
a
dizer
que
é
admissível
[PEDRO
CAETANO
NUNES,
ENGRÁCIA
ANTUNES,
MENEZES
CORDEIRO;
COUTINHO
DE
ABREU
é
contra,
a
não
ser
nas
Sociedades
de
tipo
44
É
de
notar
que
a
relação
entre
“aligeirar”
e
“criar
cautelas”,
i.e.,
também
não
se
deve
chegar
ao
ponto
de
pedir
apenas
uma
única
assinatura
para
a
vinculação.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
germânico].
Os
estatutos
podem
estabelecem,
p.e.,
em
matérias
que
se
consideram
importantes
para
a
sociedade,
que
o
Conselho
de
Administração
não
pode
decidir
e
executar
de
imediato,
tendo
que,
45
primeiro,
pedir
a
autorização
aos
sócios
(autorização
para
execução
a
nível
externo).
Advertência:
estamos
no
âmbito
da
competência
interna.
Se
falha
a
autorização,
mas
os
administradores
praticam
na
mesma
o
acto
externo,
não
há
qualquer
vício,
na
medida
em
que
estes
têm
efectivamente
competência
externa.
Não
devemos
confundir
as
coisas.
A
consequência
jurídica
é
invalidar
a
decisão
interna;
responsabilidade
ou
até
a
demissão
dos
administradores;
nunca
é
a
invalidade
do
acto
praticado
pela
administração.
As
consequências
serão
sempre
internas,
nunca
terão
afectação
externa.
⇒ Nas
SA
de
modelo
germânico
(Conselho
de
Administração
Executivo
e
Conselho
Geral
de
Supervisão),
o
CGS
tem
poderes
de
participação
na
gestão.
Estes
poderes
funcionam
através
da
necessidade
de
uma
autorização
do
CGS
para
determinados
actos
de
gestão.
Nas
SAMG,
a
autorização
não
será
concedida
pelos
sócios,
mas
pelo
CGS.
⇒ Em
suma:
as
instruções
não
são
admissíveis;
mas
é
possível
que
existam
autorizações
que
condicionem
as
decisões
do
Conselho
de
Administração.
Aqui
há
uma
pequena
clivagem:
(1)
autores
que
defendem
que
a
necessidade
de
autorização
pelos
sócios
é
válida;
(2)
autores
que
defendem
que
tal
não
é
passível
de
acontecer,
a
menos
que
se
trate
de
uma
SA
de
tipo
germânico,
através
do
CGS.
O
art.
410º/7
determina
a
necessidade
da
tomada
de
decisões
por
maioria
dos
votos
dos
administradores
presentes.
Delegação
da
Competência
Interna
–
há
duas
formas
de
delegação:
(1)
ampla;
(2)
restrita.
A
lei
não
usa
a
terminologia
discriminada,
mas
antes
no
“encargo
especial”,
correspondente
à
deliberação
restrita
[número
1
do
art.
407º];
e
ainda
na
“delegação”,
correspondente
à
deliberação
ampla
[número
3
do
art.
407º].
O
professor
defende
a
«ampla
e
restrita».
O
encargo
especial
é
uma
forma
de
delegação,
na
opinião
do
Professor
{atenção,
na
medida
em
que
Coutinho
de
Abreu
não
adopta
a
posição
do
Professor,
pelo
que
pode
criar
confusões
na
leitura
do
manual}.
A
organização
das
grandes
empresas
vai
ao
encontro
do
que
o
Professor
sustenta.
Como
se
distingue
a
delegação
ampla
e
a
delegação
restrita?
a. Por
um
lado,
extensão
das
matérias
delegadas
–
a
delegação
ampla
permite
delegar
mais
matérias;
b. A
delegação
ampla
permite
estratificação
orgânica
(criação
de
Comissão
Executiva).
A
estratificação
orgânica
só
é
possível
na
delegação
ampla.
O
art.
407º/2
e
4
determinam
que
não
podem
ser
delegadas
as
matérias
elencadas
nas
alíneas
do
art.
406º.
No
art.
407º/2
–
delegação
restrita
–
temos
como
limite,
todas
as
matérias
elencadas
no
art.
406º;
no
art.
407º/4,
são
apenas
algumas
alíneas.
Para
além
do
limite
legal
do
elenco
de
matérias
do
art.
406º,
também
não
é
possível
delegar
matérias
que
não
sejam
de
gestão
corrente.
O
legislador
não
foi
muito
claro,
mas
interpretando
a
lei:
1. Cláusula
geral
que
proíbe
as
delegações
de
matérias
não
correntes;
2. Limite
legal
do
art.
406º.
A
cláusula
geral,
por
maioria
de
razão,
também
vale
para
a
delegação
restrita.
Se
é
restrita,
tem
menor
extensão
de
matérias
delegáveis.
Se
na
ampla
não
se
pode
ultrapassar
a
gestão
corrente,
então,
por
maioria
da
razão,
também
não
se
pode
na
restrita.
45
P.e.,
multinacional
que
todos
os
dias
vende
inúmeros
imóveis
–
nesta
SA,
não
faz
sentido
que
tenha
de
pedir
autorização,
na
medida
em
que
é
algo
comum,
pacífico
de
acontecer
todos
os
dias,
pelo
que
essa
autorização
seria
um
entrava
ao
funcionamento.
Contudo,
se
fosse
uma
empresa
de
menor
dimensão,
em
que
a
venda
do
imóvel
teria
impactos
maiores,
aí
já
seria
viável.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Na
delegação
restrita,
todas
as
alíneas
do
art.
406º
tratam
de
matérias
que
não
podem
ser
delegadas.
Na
prática,
as
matérias
relevantes
são
as
identificadas
de
a)
a
m).
A
competência
decisória/deliberativa
tem
de
ficar
no
pleno
do
CA,
não
podendo
ser
dada
a
determinado
administradores
delegados.
Na
delegação
ampla,
as
alíneas
e),
g),
h),
i)
e
j)
já
são
passíveis
de
delegação.
São
matérias
delegáveis
no
regime
da
delegação
ampla.
O
legislador
estabelece
uma
cláusula
geral
para
dificultar
a
vida
dos
agentes
económicos
e
para
que
os
juristas
possam
valorizar
os
seus
serviços.
Na
opinião
do
Professor,
depende
da
dimensão
e
do
tipo
de
empresa.
A
cláusula
geral
depende
do
caso
concreto,
mas
há
que
ter
em
conta
a
delimitação
do
conceito
de
gestão
corrente.
Ex.:
estabelecimento
(delimitação)
do
sistema
de
controlo
interno.
Os
administradores
executivos
têm
de
estabelecer
o
sistema
de
controlo
interno
ao
longo
dos
diferentes
patamares
da
empresa
–
saber
o
que
os
colaboradores
fazem
e
quais
os
riscos
da
sua
actuação.
É
um
exemplo
de
gestão
que
não
se
trata
de
gestão
corrente.
Na
opinião
do
Professor,
é
uma
matéria
de
gestão
não
corrente,
a
par
da
planificação
e
da
nomeação
dos
colaboradores
de
topo,
pelo
que
não
pode
ser
delegada.
A
estratificação
orgânica
opera
uma
mudança
muito
importante
na
estrutura
de
Governo
–
assimetria
de
poder
e
assimetria
de
informação.
quando
se
cria
mais
um
patamar
da
estrutura
orgânica,
p.e.,
uma
Comissão
Executiva,
faz-‐se
com
que
o
poder
e
a
informação
se
concentrem
nessa
estrutura
de
topo,
criando
as
assimetrias
face
aos
outros
órgãos.
⇒ A
delegação
ampla
só
é
possível
caso
seja
admitida
pelos
Estatutos
(art.
407º/3);
46
⇒ A
delegação
restrita
é
sempre
possível,
a
não
ser
que
os
estatutos
a
proíbam.
{O
modelo
tradicional
estratificado
fazia
com
que
a
Comissão
Executiva
passasse
a
ser
um
órgão
de
administração.}
A
lei
prevê
outros
dois
modelos
(além
do
tradicional),
nos
arts.
423º
e
ss.
Os
arts.
406º
e
407º
valem
para
o
CA
do
modelo
anglo-‐americano.
O
art.
423º-‐B/3
proíbe
o
exercício
de
funções
executivas
pelos
membros
da
Comissão
de
Auditoria,
pelo
que
se
conclui
que
a
lei
exige
uma
delegação
de
competências
no
modelo
anglo-‐americano.
Este
modelo
está
mal
explicado
pelo
legislador.
Ao
determinar
que
o
exercício
é
proibido,
indirectamente,
exige
a
delegação.
Conselho
de
Administração
=
conjunto
de
administradores;
Comissão
Executiva
=
subórgãos
que
integra
o
Conselho
de
Administração;
Comissão
Executiva
e
Comissão
de
Auditoria
=
Conselho
de
Administração.
Ou
seja,
além
de
serem
parte
do
Conselho
de
Administração,
são
também
parte
da
Comissão
Executiva.
No
organigrama
abaixo,
temos
10
administradores,
sendo
que
cinco
deles
fazem
parte
da
Comissão
Executiva,
um
faz
parte
da
Comissão
de
Auditoria,
e
os
outros
três
estão
apenas
no
Conselho
de
Administração.
Mas
em
caso
de
deliberação
do
CA,
tem
de
haver
uma
maioria
quanto
aos
10
administradores.
A
cinzento,
temos
o
Conselho
de
Administração,
sendo
que,
dentro
deste,
temos
a
Comissão
Executiva
e
Comissão
de
Auditoria.
Todos
os
administradores
que
estão
quer
numa,
quer
noutra
Comissão,
estão
no
CA,
pelo
que,
em
caso
de
deliberação,
todos
têm
de
votar.
46
Se
os
estatutos
nada
disserem,
é
possível
a
delegação
restrita,
mas
não
a
ampla,
ou
seja,
não
é
possível
a
estratificação
orgânica
com
a
criação
de
uma
Comissão
Executiva,
e
a
delegação
das
matérias
das
alíneas
e),
g)
h),
i)
e
j)
do
art.
406º.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Aparentemente,
de
acordo
com
a
letra
da
lei,
este
regime
não
se
estenderia
ao
modelo
germânico.
É
errado.
O
Professor
considera
que
não
se
aplica
a
delegação
ampla
com
estratificação
orgânica,
mas
pode
aplicar-‐se
a
delegação
restrita
ou
na
matéria
da
ampla,
desde
que
não
exista
estratificação
orgânica.
Do
ponto
de
vista
prático,
há
ainda
uma
matéria:
mesmo
que
se
crie
uma
Comissão
Executiva
(não
no
modelo
germânico,
onde
tal
não
é
possível
–
para
os
modelos
tradicional
e
anglo-‐americano),
faz-‐se
uma
distribuição
de
pelouros
dentro
da
Comissão
Executiva,
correspondendo
isso
a
mais
uma
delegação
de
competências.
13. DEVERES
DOS
ADMINISTRADORES
Os
sócios,
enquanto
tais,
não
têm
deveres.
Falamos
de
deveres
dos
órgãos
derivados.
Há
uma
ressalva:
nas
SC,
os
sócios,
em
princípio,
também
são
gerentes
e,
como
tal,
têm
deveres.
Iremos
começar
por
falar
dos
deveres
em
sentido
amplo,
i.e.,
a
responsabilidade
dos
órgãos
de
gestão
(incluindo
também
os
gerentes).
No
segundo
momento,
falaremos
dos
deveres
dos
órgãos
de
controlo
{tema
frequente
em
exame
final}.
⇒ Distinção
dos
deveres
gerais
e
deveres
específicos
–
a
lei
utiliza
o
termo
«dever
fundamental»
como
sinónimo
do
dever
geral
(art.
64º
do
CSC).
Os
deveres
gerais
ou
fundamentais
são
dois:
⇒ O
dever
de
cuidado,
diligência,
administração
ou
gestão
[o
professor
prefere
a
terminologia
gestão];
⇒ O
dever
de
lealdade.
O
professor
considera
que
o
dever
de
gestão
é
um
dever
primário
de
prestação
e
o
dever
de
lealdade
é
um
dever
acessório
de
conduta,
decorrente
da
boa-‐fé.
A
lealdade,
neste
contexto
fiduciário,
é
mais
intensa
do
que
nas
relações
obrigacionais,
pelo
que
se
aproxima
da
fidelidade.
O
Professor
considera
e
salvaguarda
ainda
que
os
deveres
específicos
podem
ser
entendidos
como
episódios
ou
decorrências
dos
deveres
gerais.
Ex.:
proibição
de
concorrência
para
gerentes
e
administradores
–
é
uma
manifestação
do
dever
de
lealdade.
Ou
seja,
é
uma
manifestação
do
dever
legal.
Ex.:
quando
a
lei,
pontualmente,
determina,
em
caso
de
fusão,
que
os
administradores
têm
de
celebrar
escritura
pública
e
levá-‐la
ao
registo
comercial,
está
a
determinar
deveres
específicos
que
decorrem
do
dever
de
gestão.
O
Dever
de
Gestão
É
considerado
como
uma
prestação
de
serviço,
segundo
PEDRO
CAETANO
NUNES
e
MENEZES
CORDEIRO.
COUTINHO
DE
ABREU
tem
maior
dificuldade
em
enquadrar
desta
forma.
⇒ Prestações
de
Meio
e
Prestações
de
Resultado
–
é
essencial
distinguir,
com
consequências,
sobretudo,
em
sede
de
ónus
de
prova.
No
caso
do
dever
de
gestão,
trata-‐se
de
uma
prestação
de
resultado.
O
CCiv
não
distingue,
e
todo
o
regime
está
pensado
para
as
prestações
de
resultado.
As
prestações
de
meios
são
uma
descoberta
feita
pela
Doutrina
Francesa,
mas
continuam
fora
da
lei
nacional.
Na
preparação
daquilo
que
será
um
CCiv
Europeu,
já
constam.
A
distinção
interessa
a
vários
níveis,
mas
sobretudo
em
dois:
⇒ Distribuição
do
ónus
da
prova;
⇒ Incumprimento
das
obrigações.
Nas
prestações
de
resultado,
a
mera
ausência
de
resulta
altera
o
ónus
da
prova.
Será
o
devedor
quem
fica
com
o
ónus
de
provar
todos
os
elementos
que
afastem
a
sua
responsabilidade.
Na
responsabilidade
obrigacional,
temos
cinco
elementos
da
responsabilidade
civil,
mas
de
forma
mais
forçada.
I.e.,
quando
há
uma
prestação
de
resultado,
a
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
ausência
desta
faz
presumir
que
há
a
violação
de
um
dever,
da
ilicitude,
da
culpa,
e
até
mesmo
o
dano
tende
a
ser
presumido.
Na
prática,
fica
quase
tudo
do
lado
do
devedor.
Nas
prestações
de
meio,
não
faz
sentido
aplicar
o
mesmo
regime,
na
medida
em
que
não
há
um
resultado
incito
à
própria
prestação
que
sirva
de
critério
para
operar
aquela
distribuição
de
ónus
da
prova.
P.e.,
a
prestação
do
médico
é
uma
prestação
de
meio
e
não
de
resultado.
A
vida
ou
a
morte
não
são
resultados
do
médico,
ou
seja,
se
acontecer
este
resultado
a
meio
do
processo,
não
se
pode
presumir,
desde
logo,
que
há
violação
do
dever.
P.e.,
o
insucesso
empresarial
não
é
um
resultado,
porque
se
assim
fosse,
o
resultado
seria
o
sucesso
ou
insucesso.
Contudo,
este
sucesso
ou
insucesso
não
faz
parte
da
prestação.
Tem
que
diligenciar
pelo
sucesso,
mas
não
deve
a
obtenção
desse
sucesso.
A
lei,
no
art.
64º/1,
a),
tem
uma
estrutura
complexa.
«Devem
observar
deveres»
é
desde
logo
estranho.
E
mais,
«revelando»
e
«empregando»,
também
são
deveres.
Quanto
aos
«deveres
de
cuidado»,
o
Professor
prefere
que
se
use
o
termo
gestão,
na
medida
em
que
cuidado
não
concretiza
muito.
Do
ponto
de
vista
técnico-‐jurídico,
é
importante
reter
e
fazer
a
ponte
com
o
art.
487º
do
CCiv,
por
remissão
do
art.
799º
do
CCiv
(critério
do
bom
pai
de
família).
Os
critérios
são
a
diligência
do
tráfego
naquele
contexto
profissional.
Destas
ideias
resulta
que
o
bom
pai
de
família
é,
por
regra,
profissional.
O
que
resulta
do
art.
64º/1,
a)
é,
essencialmente,
uma
exigência
de
profissionalismo.
A
propósito
da
diligência
do
bom
pai
de
família
–
corolário
práticos:
47
a. Os
executivos
têm
que
ser
profissionais
no
seu
pelouro ;
48
b. Os
não
executivos
têm
que
ter
um
profissionalismo
mínimo ;
49
c. Mesmo
que
não
seja
executivo,
se
tiver
conhecimentos
técnicos,
têm
que
ser
competente
Aula
de
5
de
maio
de
2017
O
art.
64º
do
CSC
faz
referência
a
dois
deveres:
(1)
deveres
de
cuidado;
(2)
deveres
de
lealdade.
Esta
enunciação
é
fraca,
pelo
que
devemos
falar
de
dois
conjuntos
de
deveres.
É
o
dever
de
diligência,
administração
e
gestão;
e
o
dever
de
lealdade,
no
sentido
de
fidelidade.
Nos
trabalhos
preparatórios
da
lei,
também
se
encontram
expressões
como
gestão
e
administração.
A
verdade
mais
próxima
é
que
são
sinónimos,
versam
todos
sobre
a
mesma
coisa.
Deveres
Gerais
ou
Fundamentais
versus
Deveres
Específicos
–
é
muito
frequente
que
se
faça
esta
distinção
pela
Doutrina.
A
expressão
mais
frequente
é
a
de
deveres
gerais.
Ex.:
proibição
de
concorrência
–
dever
específico
dos
administradores
(arts.
254º
e
298º/3).
Não
passa
da
manifestação
do
dever
de
lealdade.
Ex.:
regras
sobre
o
mecanismo
de
fusão
entre
empresas
–
quando
há
uma
deliberação
dos
sócios
no
sentido
de
aprovar
a
fusão,
os
administradores
ou
gerentes
têm
o
dever
de
celebrar
escritura
pública,
e
de
a
levar
a
registo
predial.
Estes
são
deveres
específicos,
meras
decorrências
ou
concretizações
do
dever
de
cuidado
ou
de
gestão.
⇒ Estes
deveres
específicos
–
tendencialmente
-‐,
são
reconduzíveis
aos
deveres
gerais
(o
sintético
e
analítico).
Em
análise
do
direito,
deve
perceber-‐se
a
natureza
do
dever
em
causa
para
o
reconduzir
a
um
dever
geral.
Todos
os
deveres
específicos
abordados
ao
longo
do
código
vão
ser
reconduzidos
aos
deveres
gerais,
pelo
que
interessa
o
estudo
a
fundo
dos
deveres
gerais,
em
primeira
instância.
47
Têm
que
ter
um
profissionalismo
correspondente
ao
pelouro
que
assistem.
Se
é
CFO,
p.e.,
tem
que
ter
conhecimentos
financeiros.
48
Capacidade
de
controlo
financeiro
e
conhecimento
da
actividade
social.
49
Mesmo
que
não
tenha
competência
subjectiva
(não
objectiva),
tem
competência
técnica.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
Professor
tem
a
tendência
de
reconduzir
estes
dois
deveres
gerais
–
gestão
e
lealdade
-‐
à
teoria
geral
das
obrigações
(tradição
germânica).
O
dever
de
cuidado
é
uma
prestação
de
serviço;
é
um
dever
acessório
de
prestação;
e
o
dever
de
lealdade
é
um
dever
acessório
de
conduta.
Em
direito
das
obrigações
entende-‐se
que
o
vínculo
que
une
o
credor
ao
seu
devedor
é
um
vínculo
complexo,
que
se
diversifica
noutros
ramos:
i.e.,
dever
primário
de
prestação
e
deveres
acessórios
à
obrigação
principal
(art.
762º/2
do
CCiv
–
as
partes
devem
observar
os
ditames
da
boa-‐fé
–
o
conceito
geral
de
boa-‐fé
é
a
base
para
a
descoberta
dos
deveres
acessórios
de
conduta).
Este
dever
de
lealdade
está
no
inverso
do
art.
762º/2
do
CCiv.
Não
é
consagrado
no
CCiv,
na
medida
em
que
tem
um
dispositivo
especifico
(art.
64º
do
CSC),
mas
tem
um
dever
próximo
deste
corolário
de
boa-‐fé.
Há
quem
diga
que
este
dever
de
lealdade
é
fiduciário,
i.e.,
é
mais
intenso.
Não
se
fala
da
propriedade,
mas
da
parte
contratual.
Não
dos
direitos
reais,
mas
dos
contratos
que
têm
elementos
fiduciários
{desproporção
dos
meios
face
aos
fundos
–
risco
de
abuso
de
poder}.
É
possível
que
uma
parte
da
Doutrina
defenda
que,
por
ser
tão
mais
intenso,
não
corresponde
à
boa-‐fé
do
art.
762º/2
do
CCiv.
Há
outra
parte
da
Doutrina
que
defende
que
é
uma
opção
de
grau
[posição
do
Professor].
50
Quer
seja
mais
intenso,
quer
seja
uma
“coisa”
diferente,
em
todo
o
caso,
é
um
dever
acessório
de
conduta .
Dever
de
Gestão
{continuação}.
Quer-‐se
comparar
esta
bitola
de
diligência
com
a
bitola
do
bom
pai
de
família
do
CCiv.
Além
desta
referência
à
diligência,
são
de
observar
certas
palavras
que
constam
da
alínea
b)
ao
art.
64º.
O
tema
do
«interesse
social»
vem,
por
opção
do
legislador,
a
propósito
do
dever
de
lealdade.
[de
volta
à
matéria]
História
de
Marquês
–
este
dito
marquês,
por
sucessão,
foi
nomeado,
com
6
meses,
membro
de
administração
de
um
Banco.
Quando
chegou
aos
30
anos,
o
banco
foi
a
insolvência,
e
tentaram
responsabilizar
os
diversos
membros,
incluindo
o
marquês.
Este,
desde
que
tinha
sido
nomeado,
aos
6
meses,
nunca
tinha
ido
a
uma
reunião.
Desta
feita,
foi
absolvido,
porque
naquela
altura,
os
administradores
não
tinham
de
mostrar
tanta
diligência.
É
um
paradigma
negativo
daquilo
que
é
a
diligência
dos
administradores.
História
da
uma
senhora
norte-‐americana
–
sociedade
que
cobrava
os
prémios
de
seguros
e
entregava
às
seguradoras.
A
empresa
tinha
sido
criada
pelo
marido,
mas
essa
sempre
foi
administrativa
na
empresa.
O
marido
faleceu
e
deixou
dois
filhos,
sendo
que
estes
ficaram
a
encabeçar
a
empresa.
A
senhora
ficou
alcoólica.
Na
sequencia
disto,
um
dos
filhos
ficou
com
o
dinheiro
todo
e
deixou
a
senhora
com
as
dívidas.
Esta
foi
responsabilizada,
como
forma
de
conseguir
executar
o
património
criado
pelo
marido.
Foi
o
paradigma,
ou
precedente,
que
inverteu
a
regra
da
história
anterior.
A
senhora,
no
caso
em
apreço,
tinha
de
ter
tomado
padrões
de
diligencia
mínimos
(reuniões;
conhecimentos
mínimos
da
sociedade;
e
o
mínimo
de
conhecimentos
financeiros).
Existem
três
concepções
sobre
o
interesse
social,
sendo
que
este
tema
releva,
em
primeiro
lugar,
nos
deveres
dos
administradores
(art.
64º).
Contudo,
para
os
académicos,
também
é
relevante
nas
deliberações
abusivas
dos
sócios.
Um
dos
critérios
para
definir
se
uma
deliberação
é
abusiva,
é
se
vai
além
do
interesse
social.
Conceito
de
Interesse
Social
para
Efeitos
de
Responsabilidade
dos
Administradores
51
• Monismo
–
share
holder
value,
ou,
na
gíria,
o
valor
accionista ;
50
Há
quem
defenda
que
esta
lealdade
é
algo
diferente
da
boa-‐fé
do
art.
762º/2
do
CCiv.
E,
por
outro
lado,
há
quem
defenda
que
se
trata
apenas
de
uma
questão
de
grau,
não
tendo
de
ser
necessariamente
diferente.
51
Só
para
criar
vantagens
aos
accionistas,
i.e.,
maximizar
os
lucros
para
os
accionistas.
Em
contrapartida,
no
pluralismo,
vão
ser
tidos
em
conta
também
os
credores,
os
trabalhadores.
Na
segunda
perspectiva,
não
se
vai
criar
ou
maximizar
o
lucro
apenas
para
os
sócios.
Num
ponto
intermédio,
temos
o
valor
accionista
iluminado
–
dar
um
bocado
mais
aos
trabalhadores,
a
longo
prazo,
cria
valor
para
os
accionistas
(alinham-‐se
interesses
e
todos
progredirmos).
Contudo,
o
Professor
considera
que
esta
última
perspectiva
não
é
certa,
na
medida
em
que
é
uma
forma
de
perseguir
interesses
de
vários
–
dissimulação
dos
interesses.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
• Pluralismo
–
stake
holder
value
–
criação
de
valor
para
todos
aqueles
que
orbitam
em
torno
da
empresa;
52
• Institucionalismo
–
empresa
em
si
(instituição
empresarial
–
os
administradores
seguem
o
interesse
desta) .
Em
termos
legais,
o
legislador
parece
estar
a
apostar
numa
posição
intermédia
entre
o
monismo
e
o
pluralismo.
É
um
pouco
mais
os
sócios,
mas
olhando,
um
pouco,
para
os
credores
e
trabalhadores.
Na
opinião
do
Professor,
em
rigor
técnico,
é
pluralismo,
porque
não
se
fala
apenas
em
accionistas.
Não
é
o
nosso
legislador
que
tem
tendências
de
política
de
Esquerda,
sendo
que
isto
também
acontece
em
países
como
EUA
e
UK
(acolhem
soluções
semelhantes).
⇒ É
difícil
concretizar
a
conduta
de
um
administrador
com
base
na
ideia
de
prosseguir
um
interesse
social.
Mas
não
dá
para
fugir
muito
a
esta
abstracção.
Em
cada
caso
concreto,
cada
decisão
de
gestão
é
uma
singularidade.
Portanto,
não
é
possível
esclarecer
o
que
cada
administrador
deve
fazer
na
vida
social.
⇒ Há
deveres
de
prestação
mais
complexos
(ex.:
prestações
de
serviço
com
complexidade
técnica)
que
carecem
de
se
determinar
qual
é
o
interesse
a
prosseguir.
Para
delimitar
a
prestação,
é
preciso
saber
o
fim.
Em
análise
económica
–
muito
liberal,
com
pressuposto
utilitarista
(mão
invisível
de
mercado:
há
ganhos
para
todos
se
forem
seguidos
os
interesses
de
todos)
–,
chama-‐se
a
atenção
para
que
a
generalidade
dos
stake
holders
têm
contratos
com
a
sociedade
e
recebem
valores
fixos.
Em
contraponto,
os
sócios
são
detentores
de
pretensão
residual.
Se
a
gestão
for
má,
o
sócio,
o
último
a
receber
o
dinheiro,
já
não
vai
receber
nada.
Em
contrapartida,
se
a
gestão
for
boa,
vai
conseguir
pagar
aos
credores
e
afins,
e
receber
ainda
uma
quantia.
A
gestão
da
empresa
deve
ser
deixada
na
mão
dos
sócios.
É
o
argumento
que
modela
a
arquitectura
das
leis.
Isto
não
funciona
bem
em
proximidade
de
insolvência.
É
a
história
da
roleta
russa:
na
proximidade
de
insolvência
deixam
de
haver
capitais
próprios;
os
sócios,
se
quiserem
distribuir
os
dividendos,
já
não
recebem
nada,
sendo
que
o
passivo
vale
tanto
como
o
activo.
Os
sócios
passam
a
ter
uma
pretensão
para
realizar
comportamentos
abusivos
–
incentivo
para
se
portarem
mal.
Como
já
perderam
tudo,
fazem
apostas
de
gestão
arriscada
–
se
as
apostas
correrem
bem,
recebem
bastante;
se
correrem
mal,
não
perdem
nada,
na
medida
em
que
já
não
tinham
nada,
ou
seja,
quem
perde,
são
os
credores.
Há
uma
externalização
absoluta
do
risco
dos
credores.
“Se
calhar
a
bala”,
já
não
será
para
o
sócio,
mas
para
o
credor.
Assim,
os
deveres
devem
levar
a
que
em
caso
de
insolvência,
o
interesse
a
salvaguardar
seja
o
dos
credores,
e
não
o
dos
sócios.
[PER:
processo
especial
de
revitalização.
Colocou-‐se
o
processo
de
recuperação
de
empresas
fora
da
insolvência.
Começa-‐se
o
mecanismo
de
recuperação
da
empresa.
Mas
o
enquadramento
é
sempre
o
mesmo:
a
base
legal
do
art.
64º
do
CSC
e
a
lógica
da
roleta
russa
–
salvaguarda
do
interesse
do
credor].
Isto
faz
sentido
para
as
grandes
sociedades
anónimas.
Dever
de
Legalidade
|
Existe
ou
Não?
Segundo
o
PEDRO
CAETANO
NUNES,
o
dever
de
legalidade
não
é
um
dever
autónomo.
Quando
se
fala
em
legalidade,
não
se
fala
de
um
dever
legal
específico
imposto
aos
administradores.
É
a
legalidade
externa,
i.e.,
deveres
que
a
lei
vai
impor
à
própria
Sociedade
(p.e.,
não
pode
haver
corrupção).
Estes
deveres
de
legalidade
externa
importam,
na
medida
em
que
são
os
administradores
que
fazem
com
a
sociedade
cumpra
ou
viole
os
seus
deveres.
Há
duas
formas
de
enquadrar:
1. PEDRO
CAETANO
NUNES
–
não
é
um
dever
autónomo,
é
apenas
um
aspecto
do
dever
de
gestão.
Gerir
a
sociedade
implica
que
os
administradores
não
deixem
com
que
a
Sociedade
pratique
crimes;
52
Enquanto
realidade
sociológica.
Têm
que
ser
criadas
vantagens
para
a
empresa.
O
Professor
considera
que
é
difícil
saber
o
que
é
a
empresa.
A
empresa
não
existe
sobre
a
perspectiva
de
colher
utilidades,
i.e.,
este
critério
serve
para
esconder
o
jogo.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
2. Outra
parte
da
Doutrina
defende
que
existem
os
três
deveres,
i.e.,
o
dever
de
gestão,
o
dever
de
lealdade
e,
por
fim,
o
dever
de
legalidade
(autónomo).
O
Professor
considera
ainda
que
o
dever
de
gestão
se
divide
em
cinco
elementos:
• Risco
na
Gestão
ou
Risco
Empresarial
(primeira
componente
é
a
adopção
deste
risco);
Coutinho
de
Abreu
defende
que
há
um
dever
de
diminuição
do
risco
empresarial.
Pedro
Caetano
Nunes
defende
que
esse
dever
de
diminuição
não
existe.
Isto,
em
contexto
de
responsabilidade
dos
administradores,
é
relevante.
• Obtenção
de
Informação
(no
processo
de
decisão
empresarial);
Obter
a
informação
no
momento
prévio;
no
percurso
decisório.
Neste
contexto,
fala-‐se
em
procedimentalização
da
gestão
–
além
de
os
administradores
decidirem
bem,
devem
fazê-‐lo
de
forma
cuidadosa.
É
a
análise
do
processo,
i.e.,
é
um
dever
procedimental.
• Planificação
Empresarial;
Corresponde
à
gestão
planeada.
• Organização;
Organização
por
Departamentos
e
delegação
de
tarefas.
• Vigilância.
Havendo
várias
delegações
de
tarefas,
tem
de
haver
vigilância.
Existe
também
a
par
da
obtenção
de
informação.
A
vigilância
é
uma
matéria
central,
distingue-‐se
em
vigilância:
(1)
vertical
e
(2)
horizontal.
Os
executivos,
exercem
uma
vigilância
vertical
sobre
os
patamares
inferiores
da
empresa,
ou
seja,
sobre
os
colaboradores
e
os
trabalhadores.
E
os
não
executivos,
exercem
uma
vigilância
horizontal
sobre
os
executivos.
A
informação
circula
no
sentido
inverso.
A
horizontal
é
mais
sintética,
a
vertical
é
mais
intensa.
A
propósito
deste
tema
vamos
falar
da
delegação
de
poderes.
A
vigilância
pontual
existe
quando
o
administrador
dá
conta
de
um
problema
e
tem
de
reagir
pontualmente.
A
vigilância
sistémica
é
baseada
em
fluxos
de
informação.
os
administradores
não
podem
estar
à
espera
que
os
problemas
surjam
pontualmente
à
sua
frente.
Têm
de
requerer
informação
para
irem
verificando
se
não
há
problemas.
Temos
ainda
o
ponto
da
delegação
de
poder
–
não
interessa
muito
para
as
SQ.
Esta
distinção
vertical
e
horizontal
interessa
é
para
as
SA.
Convoca
o
art.
407º
do
CSC.
O
pressuposto
base
é
a
distinção
entre
competência
externa
e
interna.
A
delegação
externa
é
a
do
art.
408º/2.
A
delegação
de
poderes
opera
uma
bifurcação
dos
deveres
dos
administradores
–
i.e.,
vem
regulado
no
art.
407º/8.
Por
força
desta
delegação,
é
um
negócio
jurídico
complexo,
que
altera
os
poderes
–
as
competências
–
e
os
deveres.
Os
administradores
delegados
ficam
com
a
gestão
activa
(em
rigor
já
tinham
face
a
dadas
matérias,
mas
agora
ficam
mais
intensa);
os
delegantes
passam
a
ter
um
mero
dever
de
vigilância,
deixando
de
ter
dever
de
gestão
activa.
1. Administradores
Delegado:
1.1. Gestão
Activa
dos
Cinco
Elementos;
1.2. Alteração
dos
Poderes
(Competências)
e
dos
Deveres.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
2. Administradores
Delegantes:
2.1. Já
não
têm
de
tomar
decisões
sobre
as
matérias;
2.2. Têm
de
vigiar
se
estão
a
ser
tomadas
as
decisões
correctas,
se
não
há
conflito
de
interesses;
2.3. O
número
8
do
art.
407º
trata
da
vigilância
horizontal
dos
não
executivos
em
relação
aos
executivos.
Esta
matéria
convoca
a
distinção
entre
executivos
e
não
executivos.
A
delegação
de
poderes
é
um
tema
central
convocado
a
este
prepósito.
Convoca
ideias
das
matérias
anteriores:
a
delegação
de
poderes
opera
uma
bifurcação
dos
deveres
dos
administradores
(art.
497º/8).
A
delegação
é
um
negócio
jurídico
complexo,
que
altera
os
poderes
e
os
deveres.
A
alteração
de
deveres
ocorre
quando
os
administradores
delegados
ficam
com
a
gestão
activa
(sobretudo
mais
intensa
–
porque
na
prática
já
o
eram);
os
administradores
delegantes
passam
a
ter
um
mero
dever
de
vigilância.
Os
delegantes
deixam
de
ter
um
dever
de
gestão
activa.
Já
não
têm
de
tomar
decisões
sobre
as
matérias,
mas
antes
vigiar:
se
não
há
conflito
de
interesses,
se
a
gestão
é
correta,
entre
outros
aspectos.
Esta
vigilância
do
407º/8
é
a
vigilância
horizontal.
Dos
não
executivos
em
relação
aos
executivos.
O
artigo
407º/8
é:
EXE
←
NEX.
Isto
implica
a
adoção
de
risco
empresarial,
a
obtenção
de
informação,
a
planificação
empresarial,
organização,
vigilância
vertical
(aqueles
cinco
critérios).
Comissão
Executiva
Conselho
Fiscal
Modelo
Tradicional
Simples
[MTS]
Modelo
Tradicional
Estratificado
[MTE]
Modelo
Anglo-‐Americano
[MAA]*
*
O
MAA
é
igual
ao
TEM,
com
a
particularidade
de
não
ter
Conselho
Fiscal.
Ø Neste
1º
modelo
há
poder
executivo
em
todos:
todos
eles
tem
de
fazer
a
gestão,
a
obtenção
de
informação
e
os
outros
elementos
elencados;
em
relação
a
todas
as
matérias
da
empresa.
Ø Neste
2º
modelo,
é
criada
Comissão
Executiva
(os
três).
Toda
a
gestão
corrente
é
delegada
na
Comissão
Executiva
(nas
matérias
em
que
o
foram
–
porque
há
sempre
matéria
em
que
não
é),
é
que
vão
fazer
aqueles
cinco
critérios.
E
os
a
verde
vão
passar
a
ser
os
não
executivos;
fazem
uma
vigilância
horizontal
em
relação
ao
trabalho
dos
a
preto.
Isto
tem
a
ver
com
a
delegação
ampla
(art.
407º/3).
O
art.
408º
apenas
remete
para
o
art.
407º/3.
Uma
questão
que
se
levanta
na
Doutrina
é
a
de
saber
se
esta
bifurcação
também
vale
para
a
delegação
restrita.
PCN
considera
que
a
bifurcação,
apesar
da
letra
da
lei,
tem
de
jogar
para
todas
as
formas
de
delegação.
Já
COUTINHO
DE
ABREU
tem
uma
posição
no
sentido
contrário,
mas
não
é
muito
claro.
A
vigilância
horizontal
também
é,
no
fundo,
o
controlo
político.
Corresponde,
no
fundo,
à
supervisão.
A
lei
utiliza
diferentes
terminologias.
No
art.
408º
utiliza
o
termo
«vigilância»;
noutros
fala
de
fiscalização.
A
Doutrina
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
considera
que
esta
vigilância
horizontal
é
controlo
político
de
um
órgão
de
poder.
A
vertical,
em
contrapartida,
diverge.
Quando
se
diz,
no
art.
407º/8
de
vigilância
horizontal,
é
vigilância
da
gestão
–
é
controlo
político.
Delegação
Restrita
• Modelo
Tradicional
Estratificado:
Temos
um
Conselho
de
Administração
e
um
Conselho
Fiscal;
e
é
criada
uma
Comissão
Executiva
(i.e.,
delegação
ampla).
Os
que
pertencem
a
esta,
são
os
executivos,
enquanto
os
que
ficam
no
Conselho
de
Administração
são
não
executivos.
Neste
caso,
os
administradores
que
não
pertencem
à
Comissão
Executiva,
exercem
uma
vigilância
horizontal
sobre
os
que
pertencem
à
CE.
Mesmo
dentro
da
CE,
podem
ser
distribuídos
pelouros
(delegação
restrita).
• Modelo
Tradicional
Simples:
A
delegação
restrita
nunca
implica
criar
a
Comissão
Executiva.
Não
há
delegação
ampla
numa
Comissão
Executiva,
mas
pode
haver
delegação
restrita
dentro
do
Conselho
de
Administração.
P.e.,
existe
uma
delegação
em
que
um
passa
a
ser
CEO
e
outro
CFO,
sendo
que
o
terceiro
domina
as
relações
laborais.
São
as
únicas
delegações
de
competência
que
existem
(ao
abrigo
do
art.
407º/1).
Ou
seja,
os
outros
deixam
de
ser
encarregues?
Deixam
de
ter
vigilância
activa?
Passam
a
exercer
vigilância
horizontal?
O
Professor
defende
que
se
aplica,
na
mesma
o
art.
407º/8,
ficando
a
exercer
a
vigilância
horizontal.
PEDRO
CAETANO
NUNES
e
FERREIRA
GOMES
defendem
que
se
aplica
na
mesma
o
art.
407º/8,
pelo
que
os
outros
só
têm
de
exercer
uma
vigilância
horizontal.
Há
então
aqui
um
dever
de
vigilância
horizontal
dos
outros
administradores
que
não
ficaram
com
certo
pelouro
sobre
o
administrador
que
ficou
com
esse
pelouro.
COUTINHO
DE
ABREU
diz
que
é
a
mesma
coisa
para
todos:
todos
têm
de
decidir
e
assim.
• No
Modelo
Germânico:
Esses
são
só
executivos.
Todos
têm
de
ter
funções
executivas.
Não
pode
haver
nenhum
que
passe
a
ser
um
Non
Executive,
Director.
Não
pode
haver
uma
estratificação
acrescida,
não
pode
haver
uma
Comissão
Executiva.
Os
fluxos
de
informação
são
sempre
os
mesmos.
• No
Mundo
dos
Negócios:
Mesmo
quando
há
uma
Comissão
Executiva,
dentro
desta,
há
distribuição
de
pelouros.
P.e.,
o
CFO
tem
vigilância
vertical
sobre
o
Departamento
Financeiro
e
o
CEO
sobre
o
Departamento
Laboral.
Não
se
misturam
e
a
lei
não
diz
nada
sobre
isto,
o
que
é
estranho.
No
primeiro
momento,
há
uma
delegação
ampla
na
Comissão
Executiva
e,
num
segundo
momento,
há
uma
delegação
dentro
da
Comissão
Executiva.
Há
dois
níveis
de
delegação.
Cada
executivo
tem
o
pelouro
que
lhe
cabe,
não
dominando
todas
as
matérias
da
empresa.
O
art.
407º
está
na
parte
do
Código
que
regula
o
Modelo
Tradicional.
Aos
olhos
do
legislador,
o
MG
não
admite
delegações.
Ou
seja,
não
se
aplica
directamente
o
art.
407º;
mas
aplica-‐se
com
as
devidas
adaptações:
não
se
pode
criar
uma
Comissão
Executiva
e
todos
têm
de
ser
executivos.
Todos
têm
de
ter
os
seus
pelouros.
Neste
caso,
continuam
todos
a
ser
executivos,
mas
cada
um
tem
o
seu
Departamento.
Há
uma
gestão
activa
do
seu
Departamento.
Não
há,
em
sentido
estrito,
vigilância
horizontal,
mas
supervisão
de
outro
órgão.
A
vigilância
horizontal,
no
fundo,
é
um
controlo
político,
ainda
que
não
seja
um
órgão
autónomo.
Os
não
executivos
têm
interesse
em
controlar;
mas
os
que
têm
de
ser
controlados,
vão
dar
a
menor
quantidade
possível
de
fluxos
de
informação.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
57
• Proibição
de
Apropriação
de
Informação
Privilegiada
;
58
• Proibição
de
Apropriação
de
Oportunidades .
Há
situações
que
não
tem
a
ver
com
a
lealdade
perante
a
Sociedade,
mas
perante
os
sócios,
pelo
que
é
duvidoso
que
a
base
legal
continue
a
ser
o
art.
64º/1,
b).
Assim,
levante-‐se
a
questão
de
saber
se
deve
basear-‐se
noutras
normas.
Operações
de
Controlo
de
Sociedade
É
um
conceito
que
visa
abarcar
as
operações
de
M&A
(Management
Buy
Out
–
Compra
da
Sociedade
pelos
seus
Administradores
–
é
uma
das
operações
que
caba
neste
conceito).
Têm
a
característica
de
deixarem
intocado
aquele
que
é
o
património
social.
Os
activos
e
os
passivos
não
são
tocadas.
Quem
pode
sair
prejudicado
pelos
administradores
não
é
a
Sociedade,
mas
os
Sócios,
na
medida
em
que
apenas
se
tocam
nas
acções.
Do
ponto
de
vista
da
recondução
do
Direito
das
Obrigações:
⇒ Eficácia
a
Favor
da
Protecção
de
Terceiros.
A
justa
causa
pode
ter
dois
fundamentos
–
a
violação
grave
de
deveres,
entre
os
quais,
a
mais
grave,
a
violação
do
dever
de
lealdade;
e
a
incapacidade
para
o
exercício
de
funções,
que
pode
ser
física
ou
por
incompetência
técnica
(p.e.,
A
era
gestor
bancário,
mas
deixou
de
acompanhar
a
evolução
técnica
dos
Programas
utilizados).
RESPONSABILIDADE
CIVIL:
há
várias
modalidades
em
função
dos
diferentes
credores
da
indemnização.
Temos
a
responsabilidade
perante
a
sociedade
(bifurcação
quanto
à
legitimidade
processual
–
dois
níveis:
pode
actuar
a
própria
sociedade
através
do
Conselho
de
Administração
ou
por
via
da
Acção
Social
(art.
87º
do
CSC);
perante
os
sócios;
perante
os
credores;
perante
outros
terceiros,
que
não
os
sócios
e/ou
credores.
Aula
de
9
de
maio
de
2017
{dever
de
lealdade
–
artigo
escrito
pelo
Professor
Pedro
Caetano
Nunes}
O
art.
71º
do
CSC
é
uma
hipótese
a
reter
de
responsabilidade.
O
art.
72º
é
a
primeira
modalidade,
trata-‐se
da
responsabilidade
perante
a
sociedade.
A
responsabilidade
é
obrigacional,
em
que
há
presunção
de
culpa.
Os
arts.
73º
e
74º,
ainda
respeitam
a
responsabilidade
obrigacional.
O
mesmo
vale
pare
os
arts.
75º,
76º
e
77º
-‐
próprio
crédito
da
S
é
exercido
pelos
Conselho
de
Administração.
No
art.
76º
há
possibilidade
de
nomeação
de
representante
especial
(no
lugar
dos
administradores).
No
art,
77º
temos
acção
de
responsabilidade
perante
a
sociedade,
mas
por
sócio
minoritário.
Este
sócio
minoritário
(art.
77º),
e
apesar
da
maioria
dos
sócios
não
quererem
responsabilizar
um
determinado
administrador
–
é
comum
que
não
queiram,
porque
costumam
ser
eles
a
nomear
-‐,
pode
intentar
uma
acção
de
Resp.
No
art.
78º
temos
a
responsabilidade
perante
os
credores;
no
art.
79º,
perante
os
sócios
e
outros
terceiros.
É
de
reter
que
estas
responsabilidades
são,
tradicionalmente,
enquadradas
na
responsabilidade
extracontratual
(ou
seja,
se
é
perante
a
sociedade,
é
obrigacional
[obrigação
do
administrador
perante
a
sociedade];
se
é
perante
terceiros,
é
extraobrigacional).
56
Utilização,
p.e.,
do
cartão
de
crédito
da
empresa
para
pagar
o
casamento
da
filha.
57
Quando
uma
pessoa
não
trabalha
em
full
time,
não
é
exigível
que
não
possa
ter
outras
actividades,
pelo
que
não
se
pode
aplicar
a
proibição
de
concorrência.
Assim,
são
criados
outros
mecanismos.
58
Ex.:
inspecção
de
petróleo.
A
Sociedade
inspectora
apercebe-‐se
de
uma
zona
de
recursos
naturais
de
petróleo.
A
Sociedade
não
tem
como
propósito
a
exploração,
pelo
que
se
levanta
a
questão
de
saber
quem
pode
ficar
com
aquele
recurso?
Não
poderá
ser
o
próprio
Administrador,
sendo
que
isso
seria
desleal.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Responsabilidade
perante
os
Credores
(art.
78º/1)
–
por
ofensa
a
direitos
absolutos
ou
violação
de
normas
de
protecção,
destinadas
a
proteger
interesses
alheios.
O
património
não
é
protegido
em
termos
absolutos.
Constam
a
propriedade,
os
direitos
de
autor,
os
direitos
reais,
os
direitos
de
propriedade
intelectual,
i.e.,
o
património
não
é
valor
absoluto.
Só
há
o
recurso
ao
património
quando
há
uma
violação
das
normas
de
protecção.
Em
suma,
só
há
ofensa
ao
património
se
houver
uma
violação
de
normas
de
protecção.
Os
direitos
de
crédito
dos
credores
são
sempre
relativos;
há
um
direito
de
crédito
face
à
Sociedade
e,
face
a
terceiros,
nomeadamente,
aos
administradores,
não
há
direito
nenhum;
mas
a
lei
permite
uma
responsabilidade
extracontratual
quando
há
violação
das
normas
de
protecção
(normas
sobre
capital
social,
proibição
de
distribuição
de
lucros,
art.
32º
do
CSC,
normas
sobre
intangibilidade
do
capital
social,
entre
outras).
1. Esta
responsabilidade
extracontratual
é
rara;
2. O
art.
78º
estabelece
um
requisito
de
dupla
causalidade:
1.1. Administradores
têm
de
violar
as
normas
de
protecção;
1.2. Essa
violação
tem
de
criar
uma
diminuição
do
património
social;
1.3. Esta
diminuição
tem
que
provocar
uma
insuficiência
para
satisfação
dos
credores.
Do
ponto
de
vista
doutrinário:
pode
haver
responsabilidade
perante
os
credores
para
lá
do
caso
do
art.
78º
-‐
porque
este
tem
critérios
de
difícil
aplicação.
Porque
é
que
não
se
esquece
o
art.
78º
e
não
se
recorre
directamente
ao
art.
483º
do
CCiv?
Ou
a
normas
do
Código
dos
Valores
Mobiliários?
No
art.
78º/2
fala-‐se
da
possibilidade
de
os
credores
actuarem
por
via
subrogatória,
exercendo
créditos
daquela
sociedade
perante
os
administradores.
Está
em
causa
uma
substituição
processual
da
sociedade
pelos
credores.
Assim,
a
modalidade
de
responsabilidade
é
a
primeira
–
responsabilidade
perante
a
sociedade.
Temos
uma
acção
subrogatória.
Responsabilidade
perante
os
Sócios
e
Terceiros
(art.
79º)
–
seria
extracontratual,
mas
há
quem
diga,
incluindo
PCN,
que
em
relação
aos
sócios,
accionistas,
que
a
responsabilidade
não
será
extracontratual,
mas
uma
situação
de
terceira
via
de
RC
(zona
cinzenta
entre
a
contratual
e
extracontratual
–
doutrina
do
contrato
com
eficácia
de
protecção
de
terceiros).
Há
quem
diga
que
os
administradores
podem
ter
uma
Resp
perante
os
sócios
que
englobe
deveres
de
protecção
destes
terceiros.
PEDRO
CAETANO
NUNES
apontou
para
este
caso
as
Operações
de
Controlo
das
Sociedades
{deveres
de
lealdade
dos
administradores
perante
os
sócios
–
transaction
in
control
–
OPA,
fusão,
MBO,
LBO}.
Por
último,
outra
palavra
mágica
no
artigo,
«danos
directos».
A
responsabilidade
não
pode
ser
reflexa,
indirecta,
tem
de
ser
directa.
I.e.,
quando
a
sociedade
sofre
danos,
indirectamente,
reflexamente,
esses
danos
afectam
o
valor
das
participações
sociais.
A
cotação
das
acções
desce.
Se
entendermos
que
há
responsabilidade
dos
administradores
por
esse
dano,
poderá
haver
responsabilidade
extracontratual.
Mas
só
poderá
haver
responsabilidade
perante
os
sócios
se
existe
dano
directo
na
esfera
do
sócio.
P.e.,
um
dano
directo
–
operações
de
controlo
de
sociedade.
Os
casos
mais
tradicionais,
referidos
há
mais
tempo
pela
doutrina
portuguesa,
são
as
situações
em
que
o
administrador
perturba
uma
AG
ou
o
direito
de
voto.
Título
VII
|
Disposições
Penais
(Arts.
509º
e
ss)
Tutela
Penal
de
determinados
comportamentos
considerados
como
graves
na
vida
societário.
Temos,
p.e,
certos
comportamentos
dos
administrados.
P.e.,
administrador
que
perturba
uma
Assembleia
Social,
impedindo
um
sócio
do
seu
direito
de
voto.
São
casos
que
cabem
no
art.
483º
do
CCiv.
Aqui
temos
uma
norma
penal
que
protege
o
património
puro
dos
sócios
–
abarca
vários
direitos,
incluindo
o
de
participar
nas
deliberações
sociais
(art.
516º).
I.e.,
normas
penais
são
exemplos
práticos
de
normas
de
protecção
e
de
responsabilidade
de
danos
directos
dos
sócios.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
A
responsabilidade
perante
terceiros
obedece
aos
dois
mesmos
critérios.
Já
não
se
coloca
a
questão
do
CCiv,
do
contrato
com
eficácia
de
protecção
de
terceiros.
Ex.:
OPA
–
quando
o
administrador
impede
que
a
OPA
tenha
sucesso,
porque
receia
que
um
novo
accionista
maioritário
venha
destituir
a
administração,
colocando
uma
da
sua
confiança,
adopta
medidas
defensivas,
fundadas
no
seu
interesse.
Está
a
prejudicar
os
accionistas,
directamente,
na
medida
em
que
os
impede
de
obter
um
bom
preço
pelas
acções.
Ex.:
projecto
de
fusão
de
duas
sociedades.
Se
não
for
estabelecida
uma
relação
de
troca
justa
ou
adequada,
há
problemas.
A
Sociedade
A
vale
100
milhões
e
a
B,
outros
100
milhões.
Os
sócios
de
uma
e
outra,
devem
ter
50%
da
nova
Sociedade.
Se
se
enganarem
a
fazer
as
contas
no
projecto
de
fusão,
podem
fazer
com
que
as
acções
percam
valor.
Na
operação
de
fusão
também
não
há
directos
no
património
social;
podendo
haver
no
património
dos
sócios.
14. DEVERES
DOS
TITULARES
DE
ÓRGÃOS
DE
CONTROLO
|
ART.
64º/2
Os
deveres
gerais
ou
fundamentais
dos
administrados
estão
elencados
no
art.
64º/1.
Em
relação
aos
outros
titulares
de
órgãos
derivados,
os
deveres
são
os
mesmos.
É,
na
mesma,
o
dever
de
lealdade,
que
pode
ter
um
conteúdo
ou
manifestações
diferentes
(p.e.,
a
proibição
de
concorrência
dos
administradores
tem
um
conteúdo
maior
que
o
de
outros
titulares
de
órgão
de
controlo).
Além
deste
dever
de
lealdade,
há
o
dever
de
cuidado,
de
diligência,
com
diferença
de
que
a
terminologia
gestão
ou
administração
já
não
faz
sentido.
Ou
é
apelidado
de
dever
de
cuidado
ou
diligência,
ou
a
terminologia
será
a
de
controlo,
supervisão,
fiscalização
(professor
prefere
estas
terminologias,
na
medida
em
que
a
diligência
ou
cuidado
não
indicam
devidamente
a
prestação).
Em
termos
de
teoria
da
personalidade
colectiva,
das
organizações,
existem
órgãos
derivados
que
têm
os
ditos
poderes-‐deveres.
Quando
olhamos
para
as
competências
dos
órgãos
de
controlo
político,
temos
de
determinar
que
são
também
deveres.
P.e.,
art.
441º/1,
d)
–
fiscalizar
a
actividade
dos
executivos:
todas
as
alíneas
seguintes
são
exemplos
da
fiscalização.
O
conceito
da
alínea
d)
abarca
todas
as
alíneas
seguintes.
O
conceito
de
supervisão:
⇒ Competência
de
nomear
e
destituir
os
administradores
(art.
441º/1,
a));
⇒ Competência
de
participar
na
gestão
(art.
442º).
Os
membros
do
Conselho
Geral
e
de
Supervisão
têm
estes
poderes,
e
o
dever
acrescido
de
fiscalização,
ou
seja,
de
cuidado
e
diligência.
Somando
estes
dois
preceitos
com
a
alínea
d)
e
seguintes,
temos
o
conceito
de
supervisão.
Poderes-‐Deveres
Há
poderes
do
Conselho
Fiscal
que
não
são
desenvolvidos
com
a
mesma
intensidade
face
aos
restantes
órgãos
dos
outros
órgãos
de
controlo.
Atentar
ao
art.
420º.
A
alínea
a)
determina
o
dever
de
fiscalizar
e
as
alíneas
seguintes
dão
os
dispositivos
que
permitem
saber
o
que
cabe
nesta
fiscalização.
Os
órgãos
de
poder
político
têm
todos
uma
alínea
que
fala
de
fiscalizar
e
alíneas
seguintes
que
concretizam
esse
conceito.
O
art.
420º/3
determina
que
podem
actuar
individualmente,
fazendo
Inspecções
e
verificações
na
empresa.
Além
do
art.
420º/3,
interessa,
sobretudo,
o
art.
421º/1.
Mais
uma
vez,
«qualquer
membro»
-‐
poderes
individuais.
Ou
seja,
se
assim
não
fosse,
a
maioria
poderia
impedir.
P.e.,
um
advogado
de
uma
sociedade
comercial
não
se
pode
recursar
a
dar
toda
a
informação
a
um
membro
de
um
Conselho
Fiscal
(alínea
c)).
Além
deste
poder,
pode
obter
informações
e
inspecionar
os
livros
e
bens
da
sociedade
junto
dos
administradores.
Há
poderes
extremamente
fortes
a
propósito
dos
membros
do
CF.
⇓ PCN,
por
identidade
ou
maioria
de
razão,
os
membros
dos
outros
órgãos
de
controlo
político
também
devem
ter
estes
poderes
individuais,
que
são,
no
fundo,
poderes-‐deveres.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
modelo
que
se
aproxima
às
boas
práticas
é
o
modelo
germânico
e,
depois,
o
anglo-‐americano.
[FIM
DO
CAPÍTULO
DA
ESTRUTURA
ORGÂNICA
DAS
SOCIEDADES
COMERCIAIS]
15. DELIBERAÇÕES
DOS
ÓRGÃOS
DAS
SOCIEDADES
COMERCIAIS
Neste
capítulo,
vamos
recuperar
algumas
noções
gerais
sobre
a
noção
de
deliberação
enquanto
negócio
jurídico;
analisar
as
várias
espécies
de
deliberações;
as
várias
modalidades
de
AG;
e,
por
fim,
os
vícios
das
deliberações
sociais.
Ø A
deliberação
pode
ser
vista
como
resultado
ou
como
processo.
Como
processo
–
como
conjunto
de
actos
-‐,
é
essencialmente
caracterizada
por
dois
momentos:
(1)
proposta
de
deliberação;
(2)
votação.
Antes
da
proposta
haverá
uma
discussão;
e
depois
desta,
poderá
haver
nova
discussão.
Depois
da
votação,
haverá
a
contagem
dos
votos;
poderá
haver
uma
proclamação
de
resultado;
elaboração
da
acta,
consoante
o
processo
deliberativo,
i.e.,
seja
mais
ou
menos
formas.
Ou
seja,
além
destes
dois
actos
essenciais,
podem
haver
outros.
Alternativa
Dialética
de
Voto:
há
uma
proposta
e
o
voto
é
exercício
de
modo
dialético.
É
«sim»
ou
«não»,
i.e.,
não
podem
acrescentar
nada
à
deliberação.
Se
se
quiser
acrescentar
algo,
é
necessário
fazer
nova
proposta.
Como
resultado
é
reconduzível
ao
conjunto
dos
votos
que
fizeram
vencimento.
De
onde
emanam
os
efeitos
ou
a
eficácia
jurídica?
Os
votos
vencidos
ou
os
que
fizeram
vencimento?
São
o
conjunto
dos
votos
que
fizeram
vencimento.
Um
dos
fundadores
da
casa
–
FERREIRA
DE
ALMEIDA
–
entende
que
o
NJ
não
pode
ser
explicado
apenas
como
certo
acto
de
vontade;
é
caracterizado
por
produzir
efeitos
conforme
ao
seu
significado.
O
texto
jurídico
cria
efeitos
conformes.
Há
uma
Polémica
Doutrinária
–
saber
se
a
deliberação
constitui:
o Um
NJ
especial
–
a
maioria
da
Doutrina
acolhe
este,
ou
o
próximo
ponto.
Neste,
temos
MENEZES
CORDEIRO;
o Um
NJ
unilateral
–
neste,
temos
FERREIRA
DE
ALMEIDA;
o Um
acto
que
não
se
enquadra
na
teoria
do
NJ
–
ainda
tem,
pelo
menos,
um
fundador
em
Portugal.
Tem
origem
em
Gierke,
mas
está
completamente
ultrapassada;
o Uma
modalidade
de
DN
[Professor]
–
se
não
tiver
que
interagir
com
outra
DN,
pode
ser
aceite;
mas
se
tiver
que
ser
aceite,
dá
origem
a
um
contrato.
Contraposição
entre
a
Deliberação
e
o
Acto
Conjunto
–
a
actuação
conjunta
não
é
uma
deliberação;
todos
exteriorizam
vontades
e
emitem
declarações
no
mesmo
sentido.
Já
na
deliberação,
pelo
Pp
da
Suficiência
da
Maioria,
podem
haver
os
votos
a
favor
ou
os
votos
contra.
Quando
a
lei
exige
uma
deliberação
unânime,
em
rigor,
será
um
acto
conjunto.
E,
já
do
ponto
de
vista
prático,
se
a
deliberação
é
unanime,
não
interessa
que
se
vote
a
favor
ou
contra.
Quando
acabarem
todas
as
assinaturas,
teremos
uma
acto
conjunto.
Se
é
preciso
unanimidade,
já
não
é
preciso
o
processo
deliberativo.
No
CSC,
há
referência
à
decisão
do
sócio
único,
a
propósito
das
Sociedades
por
Quotas
Unipessoais.
De
acordo
com
a
classificação
estudada,
as
deliberações
de
sócio
único
são
actos
singulares.
Classificação
de
Deliberações
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
1. A
Positiva
e
Negativa:
a
positiva
corresponde
ao
vencimento
dos
votos
positivos;
a
negativa,
ao
vencimento
dos
votos
negativos.
1.1. A
positiva
pode
ser
de
conteúdo
positivo;
1.2. A
positiva
pode
ser
de
conteúdo
negativo.
Em
ambos
os
casos,
ganhou
o
«sim»
na
deliberação,
mas
no
primeiro
caso
há
formulação
positiva
da
proposta
de
deliberação
e
no
segundo
caso
há
formulação
negativa
da
proposta
de
deliberação.
Tem
a
ver
com
os
efeitos
jurídicos
(ponto
de
referência).
Os
efeitos
do
NJ.
A
formulação
positiva
permite
criar
um
conteúdo
jurídico
positivo;
a
negativa,
não
o
permite.
Ex.:
proponho
autorização
do
exercício
de
actividade
concorrente
pelo
gerente.
É
uma
formulação
positiva,
pois
permite
o
exercício
da
actividade
concorrente,
que
modifica
os
direitos
da
sociedade
perante
o
administrador
e
os
deveres
desta
face
à
sociedade.
Ex.:
proponho
não
nos
opormos
ao
exercício
da
actividade
concorrente
do
gerente.
É
uma
formulação
positiva,
porque
há
autorização
da
não
oposição.
Ex.:
proponho
não
autorizar
a
venda
do
imóvel
pelos
gerentes
(art.
246º/2,
c)).
É
uma
formulação
negativa,
porque
não
causa
nenhum
efeito.
Se
não
autoriza,
não
produz
quaisquer
efeitos.
Espécies
de
Deliberação
1. Orgânicas
versus
Não
Orgânicas
–
as
orgânicas
são
as
dos
sócios
e
dos
outros
societários;
as
não
orgânicas
são
as
do
não
obrigacionistas.
As
orgânicas
são
imputadas
à
Sociedade;
as
não
orgânicas
são
imputadas
aos
estranhos
à
sociedade.
Os
obrigacionistas
são
pessoas
ou
entidades
que
emprestam
dinheiro
à
Sociedade,
ou
seja,
capital
alheio.
A
lei
prevê
determinados
esquemas
de
organização
obrigacionista.
As
deliberações
dos
sócios
são
o
mesmo
que
a
formação
de
vontade
da
sociedade.
Em
rigor,
a
sociedade
não
tem
vontade,
porque
não
tem
«pernas
e
braços».
O
NJ
deliberativo
dos
sócios
é
imputado
à
sociedade,
que
pode
ser
tida
como
autor
jurídico.
Em
rigor,
é
um
fenómeno
de
representação.
Pode
haver
um
confronto
entre
as
deliberações
de
um
órgão
e
outro
–
conflitos
interorgânicos
-‐,
que
têm
de
ser
resolvidos
em
sede
de
tribunal.
Todas
as
deliberações
orgânicas
=
imputação
à
pessoa
colectiva;
as
que
não
são
orgânicas
=
não
imputáveis
à
pessoa
colectivas.
Deliberações
Orgânicas
|
Em
Particular,
dos
Sócios
1ª
Distinção
–
entre
colégios
dos
sócios
e
de
certas
categorias
de
sócios:
tem
subjacente
a
ideia
de
direitos
especiais
dos
sócios
ao
abrigo
das
SA.
Os
direitos
especiais
nas
SA
são
direitos
de
categorias
de
sócios
(categoria
A,
as
comuns;
e
outras,
que
são
as
especiais).
Por
vezes,
é
necessária
a
vontade
comum
de
todos
os
sócios,
por
outras,
a
vontade
específica,
p.e.,
para
determinar
se
aceitam
a
alteração
dos
seus
direitos
especiais
(arts.
24º/6
e
389º).
Vigora,
por
regra,
o
Pp
da
Suficiência
da
Maioria,
o
qual
se
concretiza
na
exigência
de
uma
mera
maioria
simples.
Por
vezes,
podem
ser
exigidas
maiorias
qualificadas.
P.e.,
uma
alteração
estatutária
–
nos
diferentes
tipos
de
SC
podem
ser
exigidas
maiorias
qualificadas.
Uma
deliberação
unanime
já
será
um
acto
conjunto.
Ex.:
maiorias
qualificadas
(arts.
265º
para
SQ;
383º
e
386º
para
as
SA).
Formas
de
Deliberação
dos
Sócios
|
Arts.
53º
e
54º
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
⇒ Inexistência;
⇒ Ineficácia
stricto
sensu;
⇒ Nulidade;
⇒ Anulabilidade.
Aula
de
16
de
maio
de
2017
{recapitular
os
arts.
53º,
55º,
56º,
57º
e
58º}
16. DIFERENTES
TIPOS
DE
VÍCIOS
16.1. INEXISTÊNCIA
Situação
em
que
há
uma
acta
de
uma
AG
que
nunca
se
realizou
(forjada).
Qualquer
vício
de
um
NJ
constitui
um
desvalor,
falando-‐se
em
valor
negativo
ou
positivo.
Primeiro
tenho
de
saber
se
existe
um
NJ,
para
depois
saber
se
há
um
vício.
Temos
uma
previsão
positiva
–
saber
se
existem
os
pressupostos
do
NJ;
e
uma
previsão
negativa
–
é
inválido
porque
estão
verificados
outros
pressupostos.
Temos
duas
previsões
normativas,
uma
com
valor
positivo,
outra
com
negativo.
Na
inexistência
há
uma
falta
de
verificação
dos
pressupostos
da
existência
do
próprio
NJ.
O
problema
está
na
previsão
positiva.
Há
uma
aparência
de
verificação
dos
pressupostos
do
NJ,
neste
caso
da
deliberação
negocial.
Há
uma
aparência
de
deliberação,
ou,
em
termos
mais
simples,
um
vício
de
inexistência.
Do
ponto
de
vista
técnico-‐
jurídico,
deve
ser
enquadrado
não
como
um
vício,
mas
como
uma
falta
de
pressupostos
do
NJ.
Tem
lógica
considerar
que
há
uma
patologia
autónoma,
ainda
que
a
lei
não
considere
autonomamente
o
vício
da
existência.
Do
ponto
de
vista
metodológico,
há
uma
falta
de
pressupostos
do
NJ
ou
da
deliberação.
16.2. INEFICÁCIA
|
ART.
55º
A
matéria
deve
ser
relacionada
com
os
direitos
especiais
dos
sócios.
Se
existir
consentimento
do
sócio
afectado,
sana-‐se
o
vício.
P.e.,
a
deliberação
social
que
determine
o
despedimento
do
gerente
com
direito
especial
à
gerência
será
ineficaz,
a
menos
que
exista
o
consentimento.
16.3. NULIDADE
|
ART.
56º/1
As
quatro
alíneas
deste
artigo
determinam,
desde
logo,
que
as
duas
primeiras
são
vícios
de
procedimento
e
as
duas
últimas,
a
vícios
de
conteúdo.
Assim:
o Alíneas
a)
e
b)
–
nulidade
de
procedimento:
a
AG
não
convocada
é
a
primeira
sanção
mais
grave
a
que
a
lei
associa
a
sanção
da
nulidade.
Sobre
esta
a
alínea
a),
a
grande
questão
é
saber
se
a
expressão
«não
convocada»
é
apenas
quanto
ao
acto
de
convocação
ou
se
basta
que
a
carta
ao
sócio
não
tenha
sido
remetida
(se
a
falta
de
um
dos
sócios
é
subsumível
a
esta
alínea).
A
doutrina
dominante
defende
que
a
falta
de
convocação
de
apenas
um
sócio
gera
a
nulidade.
A
b)
é
uma
situação
menos
frequente
–
com
ressalva
das
deliberações
unanimes
por
escrito,
mas
nessas
há
unanimidade
e,
como
tal,
nenhum
problema.
Qualquer
outro
vício
de
procedimento
que
não
caiba
nestas
alíneas,
gera
apenas
anulabilidade.
o Alíneas
c)
e
d)
–
nulidade
do
conteúdo:
existem
duas
previsões,
«bons
costumes»
e
«normas
legais
injuntivas»
(preceitos
legais
que
não
possam
ser
derrogados).
A
cláusula
geral
dos
bons
costumes
é
limite
aos
NJ
(arts.
280º
e
ss
–
ofensa
aos
bons
costumes
também
gera
a
nulidade).
Em
ambos
os
caos,
estão
em
causa
situações
em
que
há
interesse
publico
ou
interesses
de
terceiros
que
são
perturbados
e,
por
isso,
a
lei
reage
com
vício
da
nulidade
(articular
ao
CCiv
–
arts.
280º
e
ss).
Os
bons
costumes
são
uma
cláusula
geral,
tal
como
a
boa-‐fé.
Há
um
teórico
alemão
que
faz
uma
tripartição
dos
bons
costumes,
boa-‐fé
e
lealdade.
Os
bons
costumes,
para
este,
são
o
mínimo
ético
admitido
a
todo
o
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
cidadão,
ainda
que
em
contextos
contratuais,
jurídicos
ou
relações
jurídicas
de
sujeitos
determinados.
Quando
já
existe
a
cláusula
contratual
=
boa-‐fé;
quando
ainda
não
temos
=
bons
costumes.
A
boa-‐fé
entra
em
jogo
em
situações
mais
pontuais
(contratuais,
pré-‐contratuais
ou
similares).
Os
bons
costumes
entram
em
quaisquer
situações
no
âmbito
do
direito
privado.
São
o
limite
ético.
Ainda
a
propósito
das
três
cláusulas
gerais:
têm
duas
funções,
designadamente,
(1)
recepção
da
ética,
da
moral
do
direito;
(2)
delegação
no
juiz
do
poder
de
conformação
de
direito.
Em
vez
de
o
legislador
determinar
aquilo
que
é
proibido,
cria
este
conceito
amplo.
Hoje
em
dia,
entende-‐se
que
as
CG
são
uma
porta
aberta
para
o
peso
dos
princípios
constitucionais
no
OJ
infra
constitucional
(eficácia
horizontal
dos
princípios
constitucionais,
dos
direitos
fundamentais).
Lógica:
recebe-‐se
a
moral
no
direito,
delega-‐se
o
poder
de
delegação
no
juiz.
A
moral
não
pode
ser
algo
que
não
seja
conforma
com
os
direitos
e
princípios
constitucionais.
Uma
deliberação
social
que
ofenda
os
princípios
da
livre
concorrência
(valor
constitucional
material,
consagrados
no
TUE)
–
será
ofensiva
dos
bons
costumes,
e,
como
tal,
nula.
Exemplos
da
Doutrina
para
a
alínea
d):
distribuição
de
lucros
fictícios
para
enganar
alguém
(p.e.,
o
fisco).
A
alínea
c)
é
uma
alínea
que
está
a
mais.
O
exemplo
que
se
costuma
apontar
é
o
das
deliberações
dos
sócios
na
matéria
de
gestão.
Para
VASCO
DA
GAMA
ou
LOBO
XAVIER,
dir-‐se-‐ia
que
este
exemplo
cabe
na
c),
pois
a
gestão
é
da
competência
exclusiva
(injuntiva)
do
Conselho
de
Administração.
Mas
se
isto
configura
uma
violação
de
uma
norma
injuntiva,
então
já
cabia
na
alínea
b),
pelo
que
esta
alínea
não
acrescenta
nada.
16.4. ANULABILIDADE
|
ART.
58º
O
número
1
tem
quatro
alíneas,
sendo
a
mais
importante
a
alínea
a).
É
uma
espécie
de
saco
roto.
É
uma
situação
de
vício
residual.
Tem
uma
visão
residual
de
anulabilidade.
Do
ponto
de
vista
prático,
temos
de
ver
se
há
inexistência
ou
nulidade;
se
não
for,
cabe
na
anulabilidade
(casos
práticos).
⇒ A
violação
dos
estatutos
gera
sempre
anulabilidade.
⇒ A
violação
de
leis
não
injuntivas
gera
a
mera
anulabilidade.
⇒ Na
alínea
a)
cabem
os
vícios
de
procedimento
e
conteúdo
que
não
gerem
nulidade.
Sobre
vícios
de
procedimento,
é
de
fazer
referência:
Teoria
da
Relevância
dos
Vícios
do
Procedimento
É
uma
importação
germânica.
Há
determinados
vícios
de
procedimento
menos
relevantes
que
não
faz
sentido
que
gerem
invalidade
de
deliberação
social.
Constitui
um
limite
para
os
vícios
das
deliberações
sociais.
Ao
abrigo
desta
teoria,
os
vícios
de
procedimento
só
são
relevantes
se:
1. Afectam
um
direito
de
resultado
[o
resultado];
2. Afectam
o
direito
de
participação
de
um
dos
sócios
ou
de
vários
sócios.
Se
há
um
problema
de
procedimento
que
limita
o
direito
do
sócio
a
participar,
votar
ou
discutir,
esse
vício
já
é
relevante,
mesmo
que
o
sócio
tenha
uma
quota
baixa
ou
um
número
reduzido
de
acções.
Do
ponto
de
vista
metodológico,
esta
teoria
baseia-‐se
numa
interpretação
restritiva
das
normas
jurídicas.
Não
é
uma
lei
ou
norma
nova,
mas
uma
interpretação
diferente.
De
outra
forma
não
haveria
maneira
de
implementar
esta
ideia.
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
Ainda
sobre
a
alínea
a)
–
o
vício
pode
surgir
no
NJ
como
um
todo
ou
numa
DN,
i.e.,
pode
surgir
num
voto
ou
em
toda
a
deliberação.
Os
vícios
de
conteúdo
surgem
em
toda
a
deliberação.
Mas
podem
haver
situações
em
que
surge
só
num
voto.
A
propósito
desta
situação,
em
que
o
vicio
começa
no
voto,
fala-‐se
na
prova
da
resistência
(verificar
se
depois
de
retirado
o
voto,
a
deliberação
se
mantem
ou
não
–
se
é
um
sócio
com
peso
muito
relevante,
mesmo
em
erro,
retirado
o
seu
voto,
a
deliberação
já
não
se
mantém).
A
alínea
b)
trata
das
deliberações
abusivas.
Em
litígios
judiciais
(vida
prática),
quando
não
há
mais
argumento,
é
abusivo.
Está
próximo
do
instituto
do
abuso
de
direito,
previsto
no
art.
334º
do
CCiv
–
esta
é
mais
generosa,
atribui
ao
juiz
o
poder
de
conformação
mais
amplo
[formulação
muito
vaga].
Aqui,
pelo
contrário,
sob
inspiração
germânica,
a
lei
não
atribui
tanta
generosidade
ao
juiz;
estabeleceu-‐se
uma
norma
com
muitos
pressupostos.
É
um
problema
próximo
do
abuso
de
direito;
mas
aqui
temos
uma
previsão
normativa
distinta
do
art.
334º
do
CCiv.
Além
disso,
é
de
verificação
muito
difícil,
por
ter
requisitos
muito
complexo.
A
lei
prevê
duas
situações
na
alínea
b):
a. Voto
com
dolo
de
vantagem
especial;
b. Voto
emulativo.
Tem
que
haver
o
propósito
(dolo,
intenção)
do
sócio,
de
obter
vantagens
para
si
ou
para
terceiros,
e
a
intenção
de
prejudicar
a
sociedade
ou
os
sócios.
Não
se
olha
de
forma
objectiva
para
a
deliberação;
é
análise
subjectiva,
i.e.,
provar
que
certa
pessoa
teve
estas
intenções
(ponto
a
da
alínea
b)).
Há
intenção
de
prejudicar
a
sociedade
ou
os
sócios,
independentemente
da
criação
de
uma
vantagem.
É
só
para
fazer
mal
(ponto
b
da
alínea
b)).
A
expressão
final
retrata
a
prova
de
resistência
(«a
menos
que
se
prove»).
Olha-‐se
para
a
intenção
do
concreto
sócio,
sendo
ainda
necessário
verificar
se
esse
sócio
tem
poder
suficiente
para
afectar
a
deliberação.
Assim,
esta
previsão
é
quase
impossível
de
se
verificar.
Quase
nunca,
na
vida
prática,
se
verifica
um
caso
que
se
subsuma
à
alínea
b)
do
art.
58º/1.
A
Doutrina
cria
soluções
alternativas:
(1) Ideia
de
lealdade
dos
sócios,
sendo
que
a
violação
desta,
poderia
ser
subsumível
à
alínea
a);
(2) Abuso
de
direito
do
art.
334º
do
CCiv.
Por
causa
desta
formulação
subjectiva
do
regime
das
deliberações
abusivas,
a
Doutrina
aponta
para
as
soluções
indicadas
nos
pontos
anteriores.
Os
contra-‐argumentos:
a
lei
previu
o
regime
específico
na
alínea
b)
do
art.
58º/1,
pelo
que
não
se
deve
aplicar
as
teorias.
Segundo
o
Professor
–
ao
contrário
de
COUTINHO
DE
ABREU,
o
dever
de
lealdade
não
é
característico
do
contrato,
mas
antes
um
dever
distinto.
Este
dever
de
lealdade
não
existe
da
mesma
forma
em
todos
os
tipos
de
SC.
Nas
SA
não
faz
sentido
dizer
que
há
um
dever
de
lealdade
que
afecta
todos
os
sócios.
Nos
outros
tipos
societários
ou
nas
SA
relativos
aos
sócios
empresários,
já
fará
sentido.
Quanto
ao
art.
334º
do
CCiv,
aplica-‐se
quando
se
limitam
direitos
e,
neste
caso,
há
um
direito
de
participação
social,
pelo
que
a
formulação
deste
artigo
é
a
mais
imputável.
Na
alínea
c)
temos
a
violação
de
deveres
de
informação.
também
não
é
necessária,
porque
caberia
na
a).
Na
c),
falam-‐se
de
elementos
mínimos
de
informação;
na
a),
qualquer
violação
do
direito
à
informação
poderá
ser
considerada
como
vicio
de
procedimento.
Desde
que
seja
um
vicio
que
afecte
uma
informação,
é
relevante.
Pela
a)
já
temos
a
violação
de
qualquer
lei,
sendo
que,
dentro
dos
direitos
estabelecidos
por
lei,
está
o
da
informação.
! Por
vezes,
a
lei,
especificamente,
determina
que
o
vicio
é
nulidade.
Os
artigos
da
parte
geral
do
CSC,
forçam
a
ser
feita
a
análise
da
norma,
no
sentido
de
saber
se
é
supletiva
ou
injuntiva.
Se
for
injuntiva
=
nulidade;
se
for
supletiva
=
anulabilidade.
Polémica
Doutrinária
|
Maiorias
Qualificadas
Exigidas
por
Lei
Joana
Almeida
|
2016-‐2017
O
regime
da
arguição,
do
art.
412º
é
que
levanta
maiores
questões.
Da
letra
da
lei
resulta
–
aparentemente
-‐
que
os
sócios
não
podem
impugnar
directamente,
nos
tribunais,
as
decisões
do
Conselho
de
Administração.
O
próprio
CA
pode
opinar
sobre
os
vícios
das
suas
deliberações,
declarando
a
nulidade
ou
anulabilidade
das
suas
próprias
decisões,
mas
também
a
AG
o
pode
fazer.
Ou
seja,
a
AG
pode
declarar
a
anulabilidade
ou
nulidade
de
decisão
da
CA.
A
ideia
que
resulta:
o
accionista
não
ataca
directamente
a
decisão
do
CA,
faz-‐se
com
que
matéria
seja
discutida
em
AG;
se
houver
a
maioria,
anula-‐se
ou
dá-‐se
a
nulidade;
se
não
houver
maioria,
não
se
pode
ir
para
tribunal.
Há
quem
defenda
que
não
se
pode
defender
esta
teoria,
i.e.,
defendem
que
os
sócios
têm
direito
de
impugnar
directamente
as
deliberações
do
CA.
O
Professor:
Joga-‐se
aqui
um
problema
de
protecção
da
iniciativa
de
gestão
do
CA.
É
também
uma
regra
que
protege
as
deliberações
do
CA
{articulação
com
a
Business
Judgment
Rule}.
Esta
ideia
de
que
é
necessário
proteger
as
decisões
do
CA
aponta
no
sentido
de
impedir
que
os
sócios
as
impugnem,
directamente,
em
tribunal.
Ou,
quando
vão
directamente
para
tribunal,
os
juízes
só
podem
admitir
determinados
vícios,
não
permitindo
que
se
alterem
decisões
de
conteúdo
(administração).
Art.
20º
da
CRP:
tutela
cautelar
efectiva.
Abarca
várias
facetas
e
elementos,
sendo
um
desses
a
tutela
cautelar
efectiva.
Só
é
possível
a
tutela
cautelar
junto
dos
tribunais,
sendo
relevante
para
os
efeitos
do
art.
412º
do
CSC.
Assim,
o
art.
412º
é
inconstitucional,
pontualmente,
quando
rejeita
a
tutela
cautelar
efectiva.