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Terapias Pós-modernas – Perspectiva

Multidisciplinar

Brasília-DF.
Elaboração

Luciana Raposo dos Santos Fernandes

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
A PLURALIDADE DO PENSAMENTO PÓS-MODERNO.................................................................. 10

UNIDADE II
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE................................................................................ 23

CAPÍTULO 1
A ÉTICA PÓS-MODERNA, CIDADANIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL......................................... 24

UNIDADE III
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS........................................................................................... 37

ABORDAGENS TERAPÊUTICAS PÓS-MODERNAS........................................................................ 38

UNIDADE IV
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA
PÓS-MODERNIDADE..................................................................................................................... 61

CAPÍTULO 1
INTERVENÇÕES CLÍNICAS E SOCIAIS........................................................................................ 61

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 78

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 81
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O que é a pós-modernidade?

Com esse questionamento iniciamos nosso caderno de estudos e pesquisa sobre a


disciplina Terapias Pós-Modernas.

Pós-modernidade representa mudança. Seja mudança nas ciências, artes e nas


sociedades avançadas, sendo reconhecido desta forma depois da década de 1950.

Na visão de Friedrich Nietzsche (2012), quando se desconstrói uma ideia já existente,


acaba se construindo um outro pensamento novo.

Segundo Domingues (2010), o Paradigma Mediológico, desenvolvida por Marshall


McLuhan, ligado à pós-modernidade, versa sobre a forma como os meios de comunicação
estendem o corpo humano em grande escala.

Além disso, inúmeros pensadores alegam que uma marca da pós-modernismo é o


individualismo, representado por:

»» Narcisismo.

»» Hedonismo.

»» Consumismo.

Figura 1.

Fonte: <http://www.marleneklitzke.com/2014/01/o-homem-pos-modernidade-e-psicoterapia.html >. Acesso em: 8/2/2018.

7
A pós-modernidade é inovação e mudança, mas também é continuidade.

Na mídia, aquilo que era papel hoje é touch screen. Roupas, corpos, arte, trabalho,
família nuclear, religião etc., a estética das relações foi sofrendo desdobramentos.
A foto de família que antes necessitava de alguém para tirar, agora é uma selfie.

Será a pós-modernidade resume aquilo que já passou?

Esse será um dos pontos abordados em nossa disciplina.

Objetivos
»» Compreender o contexto das teorias pós-modernas.

»» Contrastar o escopo linguístico das ciências sociais, com a narrativa dos


processos de sentido e relevância das terapias pós-modernas.

»» Repensar a teoria e prática clínica.

»» Analisar o construtivismo social.

»» Compreender a influência sócio-construtivista como base epistemológica


das terapias pós-modernas.

8
REFLEXÕES SOBRE
O MOVIMENTO UNIDADE I
PÓS-MODERNO

O marco inicial da era pós-moderna é, segundo Bezerra e Bezerra (2012), compreendido


pela produção em larga escala proveniente de uma ampla revolução nos modos de
produção, ocorrido na Revolução Industrial.

Para Bock (2001), essa modernidade tem uma série de características como:

»» A existência de um Estado regulador da vida social.

»» A luta de classes.

»» O nascimento de partidos políticos que vão definir ideologias.

»» Uma noção de espaço de tempo muito delimitado – principalmente pelo


incremento do avanço no ritmo dos transportes.

A pós-modernidade é um tema vasto e complexo.

Figura 2.

Fonte: <http://mudarsaopaulo.blogspot.com.br/2011/09/pos-modernidade-tensoes-e-contradicoes.html>. Acesso em:


8/2/2018.

Em nossa disciplina vamos fornecer um panorama geral do desenvolvimento da


pós-modernidade e como este influenciou o surgimento das terapias pós-modernas.

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CAPÍTULO 1
A pluralidade do pensamento
pós-moderno

Há críticas e defesas à pós-modernidade. Mas, afinal, por que o pós-moderno se tornou


algo tão falado. E quando se fala, o seu conceito acerca é entendido de forma clara?

Para falar de pós-modernidade não podemos iniciar sem o olhar histórico.

Vamos iniciar pelo Egito Antigo, de acordo com Figueiredo (1993), não havia mobilidade
social. Existiam paradigmas, que chamamos de paradigmas teológicos – essa questão
se expandiu para a Idade Média. Mas, no Egito Antigo havia uma pirâmide como
hierarquia. O filho do Faraó seria Faraó. O filho do soldado seria soldado. Por isso não
havia mobilidade social. Não existia uma possibilidade de se quebrar esse movimento
pré-estabelecido. Ou seja, socialmente, já estava pré-instituído o papel que cada um
exerceria.

E, segunda Da Matta (2007), tinham poderes e regras estabelecidas. Tudo de forma


pragmática, um exemplo é o código de Hamurabi – código baseado na antiga Lei de
talião, “olho por olho, dente por dente”. Não havia relativização, não havia julgamento,
não existia uma contextualização mais ampla das questões. Era tudo instituído.

Para falar de modernidade, pós-modernidades, tais conceitos devem estar claros.

Então, para falar de pós-modernidade, o que seria a modernidade?

O que são os tempos modernos? Que mudanças ocorreram do paradigma antigo para
a modernidade? Seria uma forma de pensamento, uma forma de fazer ciência que
começou a se desenvolver com a industrialização e com a medicina. Que aliás, deram
origem a uma série de instituições, tais como: o hospício, o hospital, a fábrica.

Então, tanto o hospício, segundo Foucault (1961, 1977), como o hospital que provém da
área médica quanto a fábrica que vem da parte industrial e tecnológica criaram formas
de fazer a sociedade viver e que até hoje repetimos – de forma até inconsciente – frases,
falas e comportamentos sem nem atentar que se reproduzem esse modus operandi:
questões prontas.

Na Idade Média, por exemplo, temos a tortura sendo instituída de forma normativa aos
diferentes.

10
REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO │ UNIDADE I

Não era apenas as mulheres que ardiam na fogueira por serem consideradas bruxas,
mas todo aquele que fosse contrário ao sistema de crenças instituídas e valorizadas.

Pessoas questionadoras! Isso já era o suficiente para ser considerado indesejável ao


sistema.

No caso das mulheres que, segundo Japiassú (1976), questionassem sua submissão
a figura masculina, o impedimento ao conhecimento, sua posição como propriedade.
Dentre tantos outros questionamentos feitos – a solução mais interessante era torturar
ou exterminar essa pessoa. Que por razões simplistas e reducionistas apresentava uma
possessão demoníaca que lhe fazia pensar.

Questionar paradigmas não era uma boa ideia na Idade Média. Afinal, as ideias vinham
da figura do diabo. O conformismo era a palavra de ordem.

Com o desenvolvimento da Medicina, segundo Hycner (1995), o foco foi desviado para as
razões da loucura, falência de órgãos, porque as pessoas morriam. E assim, a Medicina
começou a se desenvolver bastante. Com esse desenvolvimento surgiram os padrões
para fazer ciência, ligados a classificação e hierarquização. Enfim, para Grandesso
(1998), tentar achar uma solução para o que é certo e errado, normal e anormal. Muitas
pessoas, até os dias de hoje, no meio acadêmico utilizam termos como objeto de estudo,
por exemplo. Recortar o objeto de estudo, provar o que você está pesquisando esse
discurso surgiu e se mantém exatamente embasados nesses paradigmas de ciência e de
modernidade.

Podemos aqui fazer um paralelo com a questão da fábrica.

Figura 3.

Fonte: <https://chapeudosol.wordpress.com/2010/09/18/marx-em-tempos-modernos/>. Acesso em: 12/2/2018.

11
UNIDADE I │ REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Foram descobertos padrões para se produzir em larga escala. E o ambiente escolar


foi adaptado para cumprir este papel também, ou seja, para oferecer um modelo de
educação que formasse pessoas para serem absorvidas para o trabalho na fábrica.

Assistam ao filme Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin. Será uma


experiência elucidativa. A crítica ao tratamento desumanizado. Link: <https://
www.youtube.com/watch?v=zwa5Y_yWRRk>.

Foucault estudou bastante essa temática e depois ele amplia para a questão do poder
em relações microfísicas.

Retornando a ampliação do médico, nessa época, começaram a ser criadas as


fantasmagorias, tais como:

»» Quem é o homem para brincar de Deus?

»» O homem quer curar as doenças?

»» Desenvolver tecnologia para quê?

»» Onde chegará a cura no futuro?

»» Talvez se possa ressuscitar os mortos?

»» Quais serão as implicações disso?

Nesse momento, século XIX, são escritos livros como Frankenstein (1818), de Mary
Shelley.

Figura 4.

Fonte: <http://www.papelpop.com/2013/10/um-classico-para-ler-frankenstein-de-mary-shelley/>. Acesso em: 12/2/2018.

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REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO │ UNIDADE I

Segundo Gergen (1986), esse medo de uma tecnologia nova sempre permeou o
imaginário humano.

Outro personagem que surgiu em um momento de passagem e trauma foi o monstro


Godzilla, desenvolvido logo após a guerra – é uma alusão ao poder e receio da ação das
armas químicas sobre a natureza e o homem.

O filme Poltergeist – O fenômeno (foi a tradução dada no Brasil), relata a ânsia em


saber o que vai ocorrer com a manipulação da televisão. Em um futuro próximo, essa
energia pode indicar que poderá se manter e transferir energia espiritual.

Modernidade ou Pós-Modernidade não tem um início. Para Gadamaer (1996), não é


um tempo. Não há um ano específico em que começa. Na verdade, é um paradigma de
pensamento. A modernidade é um paradigma filosófico. Seria como perguntar: “qual a
forma de pensar moderna?”

Já a pós-modernidade, segundo Gergen (1996), nada mais é do que a crítica da falência


da modernidade. Essa forma de pensar moderna, essa forma de conduzir o próprio
pensamento, a ciência, a filosofia da modernidade; entrou em falência. Não servindo
mais com a mudança do mundo que foi acontecendo.

Então, a pós-modernidade é considerada por muitos, como Fried e Fuks (1994),


Capra (1995) e Camilo (2001), como a modernidade tardia. Citando como exemplo a
modernidade líquida de que fala Bauman (2001), ela ainda é a modernidade. Não é o
que vem depois da modernidade. Ela faz a mesma coisa que a modernidade fez, ou seja,
critica o paradigma teológico. A pós-modernidade crítica a verdade da própria ciência,
a verdade que foi criada dentro dessa maneira de fazer ciência.

A seguir, duas figuras expressivas da modernidade e da pós-modernidade.

A árvore do conhecimento que representa um paradigma moderno, pois a modernidade


era caracterizada pela hierarquização. Até hoje, como supracitado em nosso material,
as pessoas repetem esse modo de pensar. Por exemplo, qual a profissão mais
importante que a outra. Pensemos como seria ficar dois dias sem o coletor de lixo, e
vamos ver o caos que as cidades se tornaram. Existe uma profissão mais importante
que a outra? Será?

13
UNIDADE I │ REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Figura 5.

Fonte: <https://neurosefreudiana.wordpress.com/2008/07/07/%CE%BC%CE%B1%CE%B8%CE%B8%CE%B1%CE%B9%CE%BF%C
E%BD/>; <http://gta.wikia.com/wiki/File:Wikipedia-logo-en.png>. Acesso em: 24/5/2018.

O paradigma moderno, de acordo com Hare-Mustin e Marecek (1988), acostumou as


pessoas a pensarem que a práxis de um juiz vale mais do que a de um gari, um coletor
de lixo. Que o trabalho de um pedreiro vale menos do que o de um médico. Mas, onde as
pessoas morariam senão houvesse quem construir essas casas e prédios. Nas cavernas?

Essa não é uma crítica. É uma constatação. Foi criado um modo de viver que não
nos leva a pensar no que falamos, pois é baseado na hierarquização da ciência e do
conhecimento. O que vale mais a Filosofia ou a Sociologia? E quanto as subáreas do
conhecimento.

Nosso pensamento cabe em uma caixa? Não podemos articular estudos diferentes?
Se estudamos comunicação, não há possibilidade de estudar sociologia, economia e ver
como essas questões podem fazer a publicidade ser melhor manejada.

O pensamento da modernidade separou as áreas de conhecimento. Fazendo nossa


cabeça ter uma visão de mundo muito separada, recortada dentro do escopo das ciências
que estudamos.

Para Gergen (1994), a figura ao lado da árvore do conhecimento (figura 5), a Wikipedia,
por outro lado, é o reflexo de um pensamento que pode ser chamado de pós-moderno.
Queremos fazer um adendo aqui sobre a terminologia, pois os termos não modernidade,
transmodernidade ou, como Bauman (2001) diz, a modernidade líquida são termos
totalmente aceito em relação a pós-modernidade ou pós-moderno.

No wikipedia conseguimos passear pelas diferentes formas de pensamentos que ali


se encontram. São pessoas que estão ali falando. Não é a fala de um Prof. Dr. ou de
um Jurista que está valendo mais e sim o que está sendo construído coletivamente

14
REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO │ UNIDADE I

em rede. O wikipedia quebra a lógica da hierarquização. Esse é um reflexo da


pós-modernidade que quebra essa lógica de que necessariamente todo pensamento
tem que ser hierarquizado.

Há a dicotomização ou a dualidade, a forma de se pensar: certo ou errado, bonito ou


feio, alta ou baixa cultura, por exemplo.

Figura 6.

Fonte: <http://www.igormiranda.com.br/2017/12/led-zeppelin-material-inedito-2018.html>; <http://www.gazetadopovo.com.


br/blogs/falando-de-musica/mozart-ou-mendelssohn-qual-o-maior-prodigio-musical-da-historia/>. Acesso 12/2/2018.

Todas as classificações dentro de ciências modernas são feitas. Para Holzman e Morris
(2000), com base em dicotomização, isso serve e aquilo não serve, verdade ou mentira.
Opostos semânticos. Enquanto, a pós-modernidade passou a considerar quer a realidade
é muito mais complexa que simplesmente dois lados.

Por que é tão difícil, hoje, para as pessoas conversarem sobre política? Porque se você
for de esquerda não fale com quem é de direita e vice-versa. E as pessoas têm uma
dificuldade muito grande de fazer o levantamento dos aspectos sociais, econômicos,
políticos, das questões midiáticas, dos interesses, das próprias questões inconscientes
que envolvem cada pessoa que cresceu e viveu em um ambiente de valor diferenciado
para discutir algumas questões. E as pessoas reduzem todas o que percebem do outro
a rótulos.

No final das contas, vemos que dentro do paradigma moderno tínhamos: ou você gosta
de rock ou de música clássica, gosta de pop ou de funk etc.

Tinha que haver uma classificação. Estamos utilizando um exemplo acerca da música.

E a pós-modernidade nos apresenta:

15
UNIDADE I │ REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Figura 7.

Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=pMxnCZGS6rk>. Acesso em: 12/2/2018.

A banda de rock Metallica tocando junto com a orquestra sinfônica. Para aqueles que
apreciarem rock ou quiserem ouvir como ficou o som. O link: <https://www.youtube.
com/watch?v=pMxnCZGS6rk>.

Onde está a dicotomização?

A pós-modernidade rompeu com esse conceito. Quem disse que não pode misturar
rock com música clássica?

Vemos isso em todos os lugares.

A diversidade e a inclusão estão cada vez mais presentes.

Para Gadamaer (1996), a quebra da dicotomização se expandiu para o meio acadêmico.


As ciências começaram a relativizar. Existem autores que não conseguimos classificar:
por exemplo, Foucault é um sociólogo, um antropólogo, um psicólogo, um historiador.

Passando para os filmes. Como classificar um filme? Comédia, ação, drama. Não! É um
filme muito bom que tem a mistura de vários elementos.

As relações de causa e efeito é próprio da modernidade. A modernidade, para


Grandesso (2000), cria a relação de causa e efeito. Exemplificando: o aluno reprovou
porque não estudou. O aluno reprovou porque não estudou ou ele reprovou porque
não tem merenda na escola dele, porque pega cinco ônibus para chegar a escola, ou
anda 5 quilômetros todos os dias para ir e voltar da escola. Quais as condições sociais
e econômicas da família dele? É uma família disfuncional? Ele tem alguma dificuldade

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REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO │ UNIDADE I

de aprendizagem? Ele é alimentado em casa? Foi acometido por alguma doença na


infância?

Por que esse aluno não aprende?

Hoje quando discutimos educação, não discutimos apenas o currículo formal.


Uma cartilha que está dentro de um papel. Discutimos alimentação, saúde mental,
orientação, sexualidade, relações familiares. Ou seja, uma série de questões que vão
além da planilha ou de uma cartilha que ele tem que estudar ou decorar. A fala sobre
essas questões influencia a aprendizagem sobre cada um. Achar que algum não aprende
só porque não estudou é a reprodução do paradigma da modernidade.

Em 2012, houve um incêndio na Boate Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul. Por
que tocar nesse tema?

Bem, foi uma situação trágica que mobilizou todo o país e atingiu a inúmeras pessoas.
As que faleceram, as que sobreviveram, as famílias. Todos foram tocados por esse
acontecimento. Mas, achar um motivo, um culpado, é quase impossível pelo paradigma
do pós-moderno. Prender ou dar algum tipo de pena para todos os envolvidos. Pois
houve uma série de fatores que contribuíram para que esse incêndio ocorresse. É muito
complicado. A culpa poderia ser: da banda ou de alguém da banda que estava com um
sinalizador na mão, foi de quem produz ou permite produzir a espuma de isolamento
acústico que é altamente tóxica, foi a boate que colocou essa espuma tóxica ou dos
seguranças que trancaram a porta por achar que as pessoas estavam correndo para sair
sem pagar, bombeiros, prefeitura etc., ou seja, são tantos os fatores que torna difícil
seguir na discussão dessa questão. Para abordar essa questão, há necessidade de muitos
pontos de vista, muitas perspectivas.

Figura 8.

Fonte: <https://noticias.gospelprime.com.br/padre-culpa-pais-incendio-boate-kiss/>. Acesso em: 12/2/2018.

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UNIDADE I │ REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Por isso utilizar esse exemplo. Pois não ocorreu por um fator. Não há um algo
determinado. O fogo, o sinalizador, foi algo muito maior. Pede uma análise e discussões
muito amplas – como aliás ocorreu – em todas as áreas: jurídica, filosófica, psicológicas,
jornalísticas dentre outras.

A serialização na mídia. Era comum séries de filmes, desenhos, quadrinhos e isso


existia também na forma de pensar. As crianças aprendiam de modo seriado. Hoje
vemos crianças de 12 anos que apresentam um conhecimento construído pela internet
no que chamamos de cultura da convergência – que demonstram um conhecimento
fora de série. Eles leem livros que não foram indicados pela escola. Assistem a vídeos
de filosofia, estudam matemática com aplicativos que ainda não foram utilizados na
escola.

Enquanto a modernidade traz a serialidade, a pós-modernidade quebra com a


serialidade.

Figura 9.

Fonte: <https://www.google.com.br/search?q=gibis+antigos&rlz=1C1CHBD_pt-PTBR785BR785&source=lnms&tbm=isch&sa=
X&ved=0ahUKEwiU1bunusLZAhXJqFkKHbFkCc4Q_AUICygC&biw=1024&bih=672#imgrc=w5l7oc-qZmgQ-M:>; <http://www.
vivernoexterior.com/arquivos/537>. Acesso em: 12/2/2018.

Acima uma representação da modernidade com os gibis e sua serialidade. Ao lado, o


filme X- Men, da Marvel, com a quebra da serialidade. De que forma essa serialidade é
quebrada na pós-modernidade? Não há uma sequência seriada, os episódios começam
pelo fim, retornam para o início. Para entender o Universo da Marvel temos que
entender os filmes. E esses filmes mostram o antes, o depois, universos paralelos,
misturam tudo isso com serie de animação, séries na TV. É quebrada a linearidade e as
pessoas começam a aprender por diversos pontos de entrada.

Vocês já devem ter visto um bloco lego (figura 10). Mas, se perguntou como tudo
começou?

18
REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO │ UNIDADE I

Figura 10.

Fonte: <https://www.finnishdesignshop.com/storage-small-storage-lego-storage-brick-red-p-8697.html>. Acesso em: 12/2/2018.

E porque se chama Lego?

Na verdade, o nome é mais antigo que esse bloco de plástico, que se popularizou
na década de 1950. Criado pelo carpinteiro dinamarquês, muito respeitado Ole
Kirk Kristiansen, dono de sua própria empresa. Mas, eram tempos difíceis, final
da década de 1920, e ele não tinha muito dinheiro, tendo que demitir todos seus
funcionários.

Além da crise, veio a perda de sua esposa, e quatro filhos para serem criados. Como
carpinteiro Ole sempre criou com bastante facilidade e suas invenções deixavam os
filhos tão felizes que ele passou a fabricar brinquedos. Ele decidiu tentar. Havia muita
madeira em sua carpintaria e os brinquedos foram feitos. Entretanto, as vendas não foram
impulsionadas. Até que um de seus filhos começou a ajudar com o desenvolvimento dos
projetos. Assim, o nome e a qualidade dos brinquedos de madeira produzidos por Ole
foram longe.

Um dia entra por sua porta um atacadista com uma grande encomenda de brinquedos.
Os funcionários foram recontratados. A produção estava a todo vapor. Mas, no meio
de todo esse trabalho ele recebeu uma carta dizendo que o atacadista havia falido e
que não poderia pagar pelos brinquedos encomendados. O que fazer? Sair e vender
seus brinquedos. Uma estratégia melhor do que ficar parado com seu material
confeccionado.

Nada é rápido. Mas, todos ao nosso modo esperamos resultados pelo trabalho que
desempenhamos. E Ole estava decidido a crescer. Para isso, ele precisava de um nome,
uma marca para seus brinquedos. Veio a ideia de colocar Leg Godt (que significa brinque
bem). Mas, ainda não era esse o nome. Até que um caminhão para em frente sua janela
com a palavra MøLLe-GO. Ele viu apenas LEGO. O Universo trouxe um nome adequado
a Ole. E ele nem imaginava que em latim a palavra LEGO significa ”eu junto”.

19
UNIDADE I │ REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Figura 11.

Fonte: <http://watersindenmark.blogspot.com/2013/01/dotw-2-ole-kirk-christiansen.html>. Acesso em: 12/2/2018.

Os blocos da LEGO é um exemplo muito elucidativo da quebra da seriealidade,


dentre inúmeros que poderíamos apresentar, mas esse é realmente muito expressivo,
principalmente, aos que desenvolvem trabalhos ligados à infância.

O que começou como blocos de montar foi sofrendo desdobramentos com o tempo.
Essa é a quebra de paradigma da pós-modernidade.

Os LEGOS de hoje?

Vamos ver como estão?

Figura 12.

Fonte: <https://lista.mercadolivre.com.br/brinquedos- Fonte: <https://lista.mercadolivre.com.br/brinquedos-


hobbies/lego-blocos-montar/bonecos-em-sorocaba-sao- hobbies/lego-blocos-montar/bonecos/lego-simpsons>.
paulo/usados/>. Acesso em: 12/2/2018. Acesso em: 12/2/2018.

20
REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO │ UNIDADE I

Houve uma total mudança na estética. Dos blocos de encaixe chegamos ao caderno de
anotações agendas LEGO.

Figura 13.

Fonte: <http://www.paladinstore.com/Agenda-Lego>. Acesso em: 12/2/2018.

A ordem das peças de encaixe foi transformada em objetos de uso comum. Do nosso
cotidiano. Qualquer peça pode se tornar um lego. Poderíamos apresentar peças e mais
peças. Essa explanação sobre um brinquedo comum a que todos têm acesso demonstra
como a pós-modernidade está presente em nossas vidas e há muito tempo. Como
definir? Os brinquedos da Lego foram lançados no mercado com uma finalidade –
brinquedo infantil – contudo o pós-moderno transmuta esses conceitos.

O ordenamento, quer seja na culinária, na disciplina escolar, no trabalho, nas artes


plásticas – dentre uma infinidade de exemplos que podem ser citados – reforçam que
a modernidade presava pela ordem. E, hoje, na pós-modernidade, vemos a criação nas
artes, na música, em tudo o que apresentamos neste capítulo uma quebra de paradigmas.

Figura 14.

Fonte: <http://www.daisylucas.com.br/oops-deixei-cair-a-torta-de-limao/>. Acesso em: 12/02/2018.

21
UNIDADE I │ REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO PÓS-MODERNO

Na Netflix era apresentada uma série original chamada Chef’s table e em um dos
episódios foi contada a história da torta de limão que se tornou o carro chefe de um
restaurante. Tudo isso porque o chef italiano Massimo Bottura em um momento de
correria em seu restaurante deixou a torta de limão se quebrar, criando assim uma nova
estética que fez com que essa torta rompesse com a estética da torta de limão como
conhecemos.

A torta de Massino passou a se chamar Oops, I dropped the lemon tart ou Ops, derrubei
a torta de limão.

Isso é renovador!

Quando pensamos em uma torta de limão, a imagem que vem a nossa mente é muito
provavelmente a da figura a seguir.

Figura 15.

Fonte: <http://tatapereira.com.br/torta-de-limao-da-cris>. Acesso em: 12/02/2018.

Quando a torta de limão de Massino foi quebrada, surgiu o carro chef do seu restaurante.
E por quê? Porque enquanto todos fazem a torta do mesmo modo, com a mesma estética,
a torta de limão dele é a primeira torta de limão quebrada.

Muitas pessoas hoje despontam pois fazem algo que quebra a ordem, ou seja, vão pelo
caminho contrário.

Quando quebramos uma ordem, às vezes criamos outra ordem.

Como diz Deleuze, vamos criar diferenças sobre as repetições.

Já existe muita repetição no pensamento. Existem outras formas para fazer as mesmas
coisas. Caso contrário, nada teria sido criado.

Pensar novas formas.

E as Terapias Pós-Modernas se dispõe a essa demanda.

22
OS NOVOS
PARADIGMAS DA UNIDADE II
PÓS-MODERNIDADE

Homens e mulheres pós-modernos padecem de alguns sintomas nas mais variadas


dimensões de sua existência. Neste cenário, a obra do sociólogo Zygmunt Bauman
(2001) pode nos fornecer um diagnóstico das inúmeras faces da sociedade paralisada
pelo medo.

A visão de Bauman (2001) nos traz questões como o despertar do sono da modernidade,
a crença na razão e na vida administrada. Pela discussão da pós-modernidade em seus
vários aspectos, nossa disciplina abordará, nesta unidade, os novos paradigmas da
Psicologia na pós-modernidade.

Figura 16.

Fonte: <http://informecritica.blogspot.com.br/2011/05/modernidade-e-pos-modernidade.html>. Acesso em: 18/2/2018.

23
CAPÍTULO 1
A ética pós-moderna, cidadania e
responsabilidade social

Vamos compreender a diferença entre ética moderna e pós-moderna pela percepção do


mal-estar que se instalou no corpo social e na alma.

Será a liberdade realmente a grande


conquista da pós-modernidade?
Entendemos que o mal-estar da liberdade que caracteriza nossa contemporaneidade
é uma questão que ficaria mais clara se pudéssemos fazer alguns comentários sobre
épocas históricas anteriores e teorias éticas anteriores a atualidade para que fosse
possível entender melhor quais foram as transformações históricas que levaram a essa
situação ética que estamos caracterizando como o mal-estar da liberdade.

A liberdade sempre esteve vinculada a dificuldades:

dificuldades práticas e teóricas.

Dificuldades a respeito da concepção da liberdade e dificuldades a respeito da prática


da liberdade. Isso vem desde muito tempo. Se remontarmos ao início da Filosofia
na Grécia, segundo Miró (1994) e Lalande (1996), a teoria ética de Aristóteles já
encontraríamos dificuldades para lidar com a liberdade. Ou seja, dificuldades para
dar conta dessa questão fundamental para a moralidade que é a liberdade de escolha.
E essa dificuldade nós já encontramos em Aristóteles pela simples razão de que para ele
a ética não é uma ciência demonstrativa.

Figura 17.

Fonte: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/aristoteles.htm>. Acesso em: 12/2/2018.

24
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE II

Ética na pós-modernidade
A palavra Ética vem do grego ethos que significa costume, hábito.

De acordo com Morin (1995), ética é a disciplina relacionada ao que consideramos


moralmente certo ou errado, bom ou mau. Pode ser vista como nosso sistema de valores
e princípios morais.

O que que a ética implica? A ética implica um “saber fazer”. Mas, justamente, esta união
entre o saber e o fazer é que a desvinculam de um conhecimento puramente teórico
e absolutamente demonstrativo ou exato. Esse saber que nosso fazer, a nossa ação
pressupõe ele não é aceitável e uma abordagem exata e por isso Aristóteles o chama de
discernimento prático (MORI; REY, 2012).

Há uma espécie de discernimento na escolha que fazemos entre o bem e o mal, a cada
decisão que precede as nossas ações.

E, a partir desse discernimento, nós agimos e adotamos os critérios que entendemos


necessários para a boa vida ou a vida moral – ou melhor, a vida moralmente adequada.

Se nos perguntassem acerca da exatidão desses critérios e de como operamos essas


escolhas, nós não poderíamos dizê-lo com a mesma segurança com que seriamos capazes
em princípio de expor procedimentos de ordem científica. Isso porque a Ética não é
uma ciência (MYERS, 2006). Não existe uma ciência ou um saber teórico relativo as
escolhas humanas. Não é uma “coisa” ou uma questão que podemos tratar com precisão.
Isso certamente é uma dificuldade, pois não podemos abordar a ética teoricamente e,
também, ao praticá-la de forma moral, não somos inteiramente capazes de expor com
precisão o que realmente estamos fazendo e os fundamentos da nossa ação.

Figura 18. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Fonte: <https://espectivas.wordpress.com/2013/08/10/santo-agostinho-e-o-cogito-de-descartes/>; <https://felipepimenta.


com/2013/03/13/a-uniao-da-alma-e-do-corpo-segundo-sao-tomas-de-aquino/>. Acesso em: 12/2/2018.

25
UNIDADE II │ OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE

Essas dificuldades permaneceram ao longo da história. Se tomássemos outro exemplo,


como o das Filosofias Cristãs como a de Santo Agostinho (bispo católico, teólogo e
filósofo) ou de São Tomás de Aquino (teólogo, expoente da escolástica).

Nós veremos que também, embora, nesse caso haja um fundamento muito claro e um
princípio muito bem definido de Ética que no caso de uma Filosofia Cristã é Deus. Esse
Deus que é, também, além de todos os seus outros predicados, o supremo legislador
moral. Ou seja, aquele que dita os mandamentos e as regras da nossa ação. Ainda
assim a experiência ética que fazemos no cotidiano, nas nossas ações particulares. Ela
encontra certamente dificuldades para que possamos elaborar essa aproximação. Pois
a experiência ética no cotidiano encontra dificuldades de aproximar Deus de nossas
ações particulares.

Quer dizer essa relação entre esse princípio supremo de legislação moral – no caso seria
Deus – e as nossas ações particulares cria um espaço que vai das nossas ações finitas
e singulares a esse grande princípio de legislação ética que é Deus é um espaço muito
grande, uma distância muito grande. É a distância que vai do finito ao infinito (KVALE,
1992; NIETZCHE, 2012).

Portanto, essa distância prejudica um pouco a precisão e a aplicação de como


descreveríamos a aplicação desse princípio tão geral a ações particulares que ocorrem
na nossa vida e exigem decisões morais (PENN, 1989, 1998).

A Filosofia Moderna permanece também com essas mesmas dificuldades relativas a


amplitude, generalidade de um princípio – sem dúvida nenhuma, um princípio ético,
um princípio de legislação, um princípio de correção das nossas ações. E a presença
desse princípio geral e universal em cada uma das nossas ações particulares, que é o
que realmente importa – a aplicação desse princípio geral a ações particulares para que
elas possam se beneficiar desse critério ético (JAPERS, 2006).

No mundo moderno um mundo laico. E a partir do século XVII, com René Descartes
(filósofo, físico e matemático francês), temos o “início” desse período histórico em
que esse mundo teocrático, regido por Deus e por critérios religiosos e teológicos é
substituído pela razão. Razão esta que cada vez vai se emancipando mais, ocupando
mais espaços em todos os aspectos da vida inclusive no aspecto ético (MARX, 2011;
PENN, 2001).

O que acontece nessa transição é que essa dependência que o indivíduo sente em
relação a Deus como princípio supremo de suas ações deixa de existir ou se enfraquece
o indivíduo passa a ser enquanto indivíduo emancipado dependente de si mesmo.

26
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE II

Isto é livre.

Pelo menos, em princípio.

E essa liberdade, então, expressa-se na razão como sendo o único princípio legislador,
em todos os aspectos da vida, inclusive no aspecto ético.

Descartes chama de sabedoria, de acordo com Schultz e Schultz (2012), exatamente, essa
capacidade que nós teríamos de vincular as nossas normas de ação, os nossos modos
de agir, enquanto respeitantes da moralidade a princípios básicos, metafísicos, gerais
que sustentam todo o edifício do nosso conhecimento e da nossa prática formando uma
totalidade muito coesa, muito coerente em que o que chamamos de teoria e prática
estão perfeitamente entrosados em um único todo. (MILLER; SHAZER, 2000).

Figura 19.

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Libro_Los_Viejos_Abuelos_Foto_68.png>. Acesso em: 12/2/2018.

Nesse sentido, então, essas bases metafísicas, portanto, absolutamente racionais


– porque para Descartes a Metafísica é o conhecimento racional mais elevado, mais
rigoroso que se pode ter – têm sobre si um eixo, digamos que científico, que corresponde
ao desenvolvimento das bases na ciência natural (que na época era a única que existia).
E os ramos desse saber – lembram da árvore do conhecimento ou da sabedoria?

Segundo Lalande (1996), para Descartes, os ramos do conhecimento eram a Mecânica


(técnica ou tecnologia), a Medicina e justamente a Moral. Então, vemos que há um
edifício coeso e coerente que como último ramo dessa grande árvore temos a Ética.
Portanto, há uma continuidade entre a Ética e os demais aspectos da teoria e da prática.
Essa concepção de totalidade que mostra, então, um ser humano unificado. Unificado
pela unidade da sua razão é um grande pressuposto da filosofia moderna no seu início.

27
UNIDADE II │ OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE

É um grande pressuposto do que entendemos como humanismo, dentro do período


clássico da modernidade.

Período esse que se caracteriza pela confiança ilimitada na razão e em todas as


capacidades que dela possam derivar em termos teóricos e em termos práticos.

Desde o conhecimento mais fundamental até os aspectos mais cotidianos da nossa


prática e, portanto, do nosso agir moral, a razão está presente como único princípio
ao qual devemos atender e como estamos subordinados a nossa razão somos livres.
Porque aquele que se subordina a si mesmo é livre. Com isso se instaura essa liberdade
moral que, no entanto, já apresenta essa dificuldade que não é muito diferente da que
relatamos em relação a Filosofia de Aristóteles e as Filosofias Cristãs (LÉVY, 2001).

Como fazer com que essas bases metafísicas tão profundas e tão amplas que são
capazes de sustentar todo conhecimento e toda prática possam, ao mesmo tempo,
ligar-se as nossas ações particulares e fornecer critérios para as nossas decisões enquanto
sujeitos singulares que somos. Diferenciados uns dos outros e ao mesmo tempo sujeitos
também a toda diversidade de acontecimentos e situações que aparecem na nossa vida
(ANDERSEN, 1997, 1995).

Portanto, novamente o problema de unir, de relacionar uma extrema generalidade


– o que é necessário para que a ética possa ter fundamento universal – e a extrema
particularidade, aquela singularidade que caracteriza a cada sujeito e a cada ação
subjetiva.

Quando a Filosofia abandona essas veleidades metafísicas, de acordo com Capra (2007)
e Lalande (1996), se assim pudéssemos denominá-las, e passa a se preocupar com
aquilo que nós chamamos de objetividade científica, o que acontece, no século XVIII,
com o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), certamente também a moralidade, a ética
vai sofrer profundas modificações. Ou seja, a descrença na possibilidade da metafísica
vai fazer com que não possamos mais fundar a ética em princípios metafísicos que
estariam por definição fora do alcance do conhecimento objetivo.

Para Kant (2008), a razão teórica é bastante limitada. Ela na verdade só tem um alcance
que corresponde aos fenômenos físicos e matemáticos. E, portanto, tudo mais extrapola
aquilo que pudesse ser objeto de um conhecimento teórico rigoroso. Inclusive a ética.
A ética ou a prática tem que ser estabelecida em termos completamente diferentes
da teoria. Porque justamente, de acordo com o que já vimos e lembrando a própria
concepção aristotélica; não haveria como enquadrar as nossas ações, a nossa vida moral
nos critérios ou nas categorias que são aquelas pelas quais conhecemos objetivamente o
mundo como, por exemplo, os fenômenos naturais.

28
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE II

Para Lalande (1996), é preciso que se faça uma diferença bastante radical. Que acontece,
então, de forma bem diversa daquela unidade da razão que era apregoada no “início”
da modernidade por Descartes. Essa diferença radical é aquela que se faz entre a razão
ou a racionalidade teórica (razão científica) e a racionalidade prática (razão relativa aos
critérios da ação). Uma coisa não pode ter nada a ver com a outra, embora sejam dois
usos da razão.

Vejam a existência de uma dificuldade quase insuperável.

Como podemos ter dois usos tão diferentes da razão sem possibilidade de qualquer
relação entre eles e, no entanto, ainda assim dois modos de usar a mesma razão.
Evidentemente, o pensamento humano hora aplicado a ciência, hora aplicado ao modus
operandi, aos critérios que adotamos para a moralidade das nossas ações.

Se um ato é racional e os atos morais devem sê-lo, então, eles têm que possuir um
fundamento universal. Só que não pode ser teórico, tem que ser prático.

Esse fundamento racional deriva, na visão de Hare-Mustin (1994), da ação do sujeito


moral. Ou seja, quando ele age e raciocina sobre os critérios de sua ação, o faz de modo
muito diferente do cientista – que se dedica ao conhecimento objetivo das coisas. Pois
a ciência, o saber teórico ele está inteiramente pautado pela necessidade. A necessidade
é o fundamento das leis científicas, da regularidade da natureza. Enfim, desse saber
rigoroso que caracteriza a ciência moderna e o seu progresso. Cada vez mais a natureza
sendo conhecida e dominado, porque cada vez sabemos mais a respeito das regras e da
absoluta regularidade que preside o comportamento dos fenômenos da natureza.

Figura 20.

Fonte: <http://www.controversia.com.br/blog/2016/06/01/etica-como-potencia-e-moral-como-servidao/>. Acesso em:


12/2/2018.

Sem liberdade, não há moralidade. Porque se o agente moral não é livre, ele não
pode assumir a responsabilidade pelas suas decisões. E, portanto, há uma relação

29
UNIDADE II │ OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE

que sempre foi mantida nas várias teorias éticas que apareceram pela história entre a
liberdade, a moralidade e a responsabilidade. Não faria sentido, por exemplo, imputar
responsabilidade a uma pessoa que absolutamente determinada a fazer aquilo que ela
faz. Se ela não teve escolha você não pode argui-la a respeito da responsabilidade pelos
seus atos (SARTRE, 2012).

Então, é por isso que a ética tem que receber um enfoque completamente distinto
da ciência da natureza, pois a natureza é o reino da necessidade, ao passo que a ética
(moral) é o reino da liberdade.

Com todos os exemplos que fornecemos até este momento fica sempre caracterizado que
há uma instância normativa que precede as ações do sujeito. Mesmo não podendo definir
teoricamente, há um certo tipo de essência ou uma certa característica fundamental
daquilo que podemos chamar de natureza humana que faz com que algo preceda as
decisões morais e assim haja uma espécie de fundamento da nossa liberdade.

Esses exemplos são importantes para que nós possamos entender a problematização,
pois eles culminam em uma perspectiva que costumamos chamar de Iluminismo, ou
seja, a razão iluminada, esclarecida, emancipada. Uma crença muito profunda do século
XVII e sobretudo do século XVIII, que foi denominado por Kant como “a maioridade
da razão”. O ser humano teria chegado a sua maioridade, quer dizer ao pleno uso da
sua razão. Onde isso reflete? Na ética, principalmente, na capacidade de discernir e
racionalizar os atos, ações e se conduzir. Sempre de acordo com as normas racionais.

No século XX, temos uma vertente importante da Filosofia e com profunda repercussão
ética que é o Existencialismo.

Privilegiar o indivíduo frente justamente as normas, aos conceitos ou aos princípios


demasiadamente amplos que vigoravam na Filosofia tradicional, afirmando a realidade
do indivíduo como sendo primordial e o existencialismo do século XX vai além disso.
Além de reafirmar a individualidade do indivíduo, afirma também a existência como
um processo contínuo de se constituir e, portanto, sem nenhuma essência que possa
nos definir previamente. Essa é marca do humano. A marca da condição humana, a
marca da nossa existência (SLUZKI, 1992).

Por isso, falamos em condição e não em natureza, pois a natureza significa algo fixo,
substancial, essencial. Condição significa uma certa vivência ainda que continuada,
mas diferenciada daquilo que vamos sendo. E essa expressão vamos sendo, justamente
substitui a palavra “mágica” da metafísica tradicional que é o “ser”. A Filosofia tradicional
sempre privilegiou o ser. E o ser humano seria caracterizado pelo seu “ser”, pelo que ele
é fundamentalmente, essencialmente (WHITE, 1991).

30
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE II

A perspectiva existencial muda tudo isso


Por meio do existencialismo, se quisermos nos definir temos que fazê-lo em termos
de processo, ou seja, uma continuidade existencial, que é sobretudo uma construção.
Uma autoconstrução que cada um faz de si mesmo (WALDEGRAVE, 2000) ou uma
autoconstituição pela qual o indivíduo vai, então, tornando-se aquilo que ele puder
vir a ser. Por meio de todas as dificuldades e os obstáculos que se colocam diante dele
para que essa constituição de si mesmo, essa construção de sua identidade. Portanto,
há uma diferença fundamental: nada nos identifica antes de constituirmos a nossa
própria identidade. Na verdade, não temos identidade, nós tentamos constituir uma
ao longo desse processo de existência que é também um processo de identificação
(WHITE, 1988).

E como fazemos?

A partir do que o fazemos?

A partir da liberdade.

Isso constitui uma modificação profunda em relação às filosofias tradicionais porque


a liberdade foi sempre concebida como um atributo. Primeiro, somos alguma coisa e
depois temos vários atributos. Dentre esses atributos está a liberdade e a exercemos
assim como o entendimento, vontade e outros (ANDERSEN, 1992; CARVALHO;
CUNHA, 2006).

Para Carvalho (2005), o ser humano é um ser social que se organiza naturalmente
em grupos e, quando em colaboração, formam parcerias. Há a formação do vínculo.
Sociedade é uma associação amistosa com outros.

A Psicologia Clínica, para Nunes (1997), segue a contracorrente desse movimento de


que os livros de autoajuda apresentem receitas ─ de bolo industrializado e cheio de
conservantes ─ alegando o contrário. São livros para vender a ilusão.

Inscrito no templo de Delfos, o conhece-te a ti mesmo não se reveste, inicialmente, de


uma dimensão filosófica, muito menos se configura como um preceito de moralidade,
propriamente. Influenciado pelas conclusões de Roscher (1901), Foucault admite
a interpretação de que o preceito délfico, assim como outros tantos, expressa uma
recomendação para o ritual das consultas a serem feitas aos deuses no templo: os
consulentes não poderiam inquirir demais nem prometer o que não fosse possível
cumprir. E como preparo às consultas, precisariam examinar a necessidade e a utilidade
de suas próprias interrogações.

31
UNIDADE II │ OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE

Para Foucault (1977), é fundamental ressaltar:

»» ao estimular o outro a se ocupar consigo próprio é atribuída uma tarefa,


um ofício determinado pelo preceito délfico do conhece-te a ti mesmo;

»» ao se ocupar com os outros, o ser humano não se ocupa de si e não se


importa com algumas atividades que lhe poderiam ser proveitosas;

»» ao instigar o outro ao cuidado de si, é provocada a disruptura, o incomodo,


a agitação inevitável.

O estudo da alma humana e a existência do humano, de acordo com Angerami


(1985), se intercruzam. Assim, podemos afirmar que a Psicologia é uma ciência em
construção e de que o psicólogo é um profissional em constante formação. Não há
psicólogo pronto.

O ser humano está em constante processo de mutação.

Desse modo, compreender o ser humano requer estudo incessante e a capacidade de


aprender com as próprias vivências.

Para Hycner (1995), deste modo, o caráter ontológico nos define como seres da ação,
seres ativos, seres da compreensão já que está é um aspecto da ação. Importante também
introduzirmos a dialógica, pois a ação é essencialmente dialógica e isso quer dizer em
particular, que além de ser compreensão a ação é relação dialógica.

A ação, ainda para Hycner (1995), em particular, se dá no modo ontológico de sermos.


O modo ontológico é todo ele vivido como a ação. Os momentos de duração do modo
ontológico de nós sermos são todos eles vivência de ação e de compreensão. E são
eminentemente dialógicos. Dialógico, em particular, quer dizer um modo de sermos
que está fora da dicotomia Eu Isso – ou seja, Sujeito e Objeto – isso quer dizer um modo
pré-reflexivo de sermos. Falamos aqui de teoria e de comportamento.

A Psicologia remonta à Grécia Antiga e seria impossível nos desvencilharmos dos


constructos desenvolvidos nessa época, na visão de Lalande (1996), tão importante
à história da civilização. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) em seu antigo
manuscrito intitulado Acerca da alma, abordou muitas das aflições que até hoje
permeiam a existência humana. Só para constar a importância dessa obra é
tamanha que Acerca da Alma é considerado por muitos como o primeiro Manual
de Psicologia.

32
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE II

Figura 21.

Fonte: <http://www.cocktail-td.com/resposabilidade-social-corporativa>. Acesso em: 12/2/2018.

Para Gergen (1998), o que caracteriza uma sociedade é a partilha de interesses entre os
seus membros e a concordância com regras comuns.

Mas, nem todos aceitam as mesmas regras. E alguns não aceitam regra alguma.
Portanto, a fim de se garantir a justiça e equidade social, foram sendo desenvolvidas
regras de convivência e civilidade. No centro dessas regras, encontramos a ética. Por
meio da ética, busca-se uma fundamentação para encontrar um melhor modo de viver.
A harmonia – talvez possamos usar esse termo.

Como podemos saber se estamos agindo da melhor forma para todos?

As várias perspectivas da ética dão conta dessa questão.

Kant (2008) apresenta a perspectiva construtivista que defende que os indivíduos têm
dentro de si a noção de dever.

O conjunto das regras sociais é da responsabilidade de todos, já que todos nós somos
coautores da sociedade em que vivemos.

Nessa vertente, criaram-se várias formas de governo no Brasil vivemos em uma


democracia.

Figura 22.

Fonte: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/certas-palavras/diversidade-o-futuro-mundo/>. Acesso em: 9/3/2018.

33
UNIDADE II │ OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE

Cidadania e responsabilidade social são questões que estão em voga. Presente nos
jornais, na televisão, nos debates. É um termo que até algumas décadas atrás não estava
presente, mas que agora está e se faz presente (GONZÁLEZ- REY, 2001).

Devemos deixar claro o que é para todos. Uma primeira ideia que as pessoas têm sobre
políticas públicas é que tem alguma relação com o governo. Mas, qual a definição mais
clara?

Políticas públicas é o pensar o Estado e o Governo em ação, ou seja, são todas as


atividades que partem do Estado e a forma como isso é executado pelo Governo.
Podemos, então, dividir esta definição em uma definição mais política e em uma
definição mais administrativa.

Segundo Clastres (1990), a definição política é de que políticas públicas dentro da


democracia é sempre um processo decisório que vai envolver conflitos de interesse.
Vamos, portanto, pensar a sociedade como uma entidade composta por diversos grupos,
seguimentos políticos; cada um com as suas ideias, ideologias, visões de mundo. E esses
grupos estão a todo momento debatendo como o Estado e o Governo devem agir. Então
esta é a primeira noção: política pública como conflito de interesse. E o conceito que
deriva disso é aquilo que o Governo decide fazer e não fazer. Ou seja, quem ganha, por
que motivo ganha e em que momento quem está ganhando.

E temos a definição administrativa da política pública como um conjunto de projetos,


programas e atividades governamentais. Exemplificando: um programa da prefeitura
que está beneficiando o nosso bairro. Isto é uma política pública. Ou aquela política
econômica do Governo Federal que está levando mais oportunidades de empregos para
uma determinada região. Também é uma política pública. São dois exemplos de política
pública no sentido administrativo. Uma vez que foi tomada uma decisão o Governo, vai
transformar em um programa, um projeto, uma atividade que vai entrar em execução
(IANNI, 1996).

É importante também frisarmos que o conceito de políticas públicas é amplo.

Diferenciação entre Política de Estado e


Política de Governo
A Política de Estado é toda aquela política que independente de qual seja o Governo e o
governante, aquilo terá que ser feito. Geralmente, está presente dentro de um aspecto e
de um aparato jurídico legal, por exemplo, a Constituição. E aquilo que ali está descrito
terá de ser realizado de qualquer maneira (PENN, 1989).

34
OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE II

Já a Política de Governo vai depender da alternância de poder, pois cada Governo tem o
seu projeto e durante aquele período – em princípio de 4 anos – vai transformar ideias
em políticas públicas que vão ser executadas ao longo de um tempo. Muitas vezes, boas
políticas de governo, na medida em que tem continuidade de um governo para outro,
tornam-se políticas de Estado (ANDERSEN, 1991).

Ou seja, políticas de Estado geralmente está presente nas Leis. E as políticas de Governo
como algo que é restrito a um mandato de determinado grupo político, de determinado
partido. Outro ponto importante a ser esclarecido no escopo das políticas públicas é o
entendimento que o termo não é sinônimo de gestão governamental. O público é hoje
muito mais um sinônimo de interesse público – que vai do Governo até a Sociedade
passando pelas diversas organizações da sociedade civil, incluindo o chamado terceiro
setor e mesmo o mercado (MARX, 2013).

Então, as políticas públicas hoje vão envolver: o primeiro setor é o Estado, o Governo;
o segundo setor que é a iniciativa privada; o terceiro setor formado por associações
e entidades da sociedade civil, sem fins lucrativos – como as organizações não
governamentais, fundações, entidades filantrópicas, associações de bairro, movimentos
sociais dentre outras organizações.

Para Gonçalves (2017), como nosso país tem uma tradição forte, do século XX, que foi
uma tradição autoritária, com um período de ditatura, e dentro dessa tradição havia
um modelo muito centralizador de gestão pública. A ideia que muitas pessoas têm de
políticas públicas é uma ideia de que é algo só do Governo. Não é do coletivo, não
havendo a necessidade de participação do cidadão. O ato de votar encerra a participação
pois a medida que já elegeram os governantes, as decisões ficam ao critério deles. Essa é
a cultura de grande parte da população, quando o que deve ocorrer é o contrário.

Portanto, hoje a noção que se constrói de políticas públicas é uma noção de construção
com o coletivo. De uma coprodução entre o Estado e a Sociedade Civil.

A responsabilidade social é desempenhada tanto por pessoas físicas quanto jurídicas.


O que fazer para ter um mundo melhor? Qualquer pessoa pode realizar ações voluntárias
e ter uma responsabilidade para com outras pessoas. O equívoco é pensarmos que
responsabilidade social é realizada exclusivamente por empresas. É claro que empresas,
em princípio, têm mais possibilidade de realizar e interferir positivamente na sociedade
em que ela está e precisam realizar ações de responsabilidade social para atender
inclusive a legislação (FOUCAULT, 1977).

Mas, erra também a empresa que pensa que doar brinquedos no fim do ano para uma
instituição de acolhimento já resolve sua parte de responsabilidade social. Apesar de

35
UNIDADE II │ OS NOVOS PARADIGMAS DA PÓS-MODERNIDADE

ser uma boa ação, as questões relacionadas ao acolhimento não são resolvidas desta
forma (FREEDMAN; COMBS, 1996).

Muitas empresas realizam ações no seu entorno e esquecem completamente dos seus
colaboradores. Fazem o bem do lado de fora e deixam de lado os funcionários.

Grandes empresas fazem ações voltadas para a responsabilidade social inclusive como
forma de marketing. Mas, isso não significa que pequenas empresas não possam
melhorar a qualidade de vida de seus funcionários, como pode impactar positivamente
o seu entorno e os seus clientes.

Sobre a responsabilidade social, acesse o link:

<https://www.youtube.com/watch?v=Iwq1EVfFZds>.

36
TERAPIAS
PSICOLÓGICAS UNIDADE III
PÓS-MODERNAS

Depois da razão, o que nos caracteriza de fato como seres humanos – independente do
gênero – é a subjetividade, que é a nossa capacidade de sentir, de ser, de se expressar.
A afetividade. A necessidade de nos sentirmos amados, desejados.

Subjetividade pode ser definida como o espaço íntimo de encontro do indivíduo consigo
(mundo interno) e do encontro com o outro (mundo externo/social). E por meio dessas
interações, vamos construindo nossa identidade, nossa subjetividade, pensamentos,
emoções, sentimentos, valores e crenças. Enfim, nossa forma de nos relacionar conosco
e com o outro (o mundo).

O valor das diversidades e a importância das diferenças na construção de um mundo


democrático. Devemos nos dar conta de que há um motivo além para o conhecimento da
concepção pós-moderna dentro das abordagens terapêuticas que é a triste e complicada
situação que nosso país e o mundo vivem hoje. E que tem sido motivo de depressões,
agonias e compartilhadas – assim supomos.

Figura 23.

Fonte: <http://maravilhosa-graca.blogspot.com.br/2014/05/depois-de-morder-o-fruto-proibido.html>. Acesso em: 18/2/2018.

37
Assim, o tom de nossa Unidade III é um tom de otimismo.

Discutir a importância das Terapias Pós-Modernas em um mundo compartilhado é,


acima de tudo, apostar na possibilidade de sair dessa situação crítica de crise. E quando
nos referimos a crise, não estamos apontando apenas para a crise econômica, mas para
a crise do humano. Para aquilo que se rompe no indivíduo, que se fragmenta, que é
abafado, que é não dito. Entendendo que no escopo das Psicologias Pós-Modernas as
abordagens e suas metáforas teóricas desenvolvem tipificações do mundo da experiência
de forma histórica, cultural, filosófica, antropológica, sociológica, de forma ampla,
existencial e ontológica (ANDERSON; GOOLISHIAN, 1988).

Vemos que estamos melhor do que já estivemos antes.

A civilização e os processos tecnológicos avançam.

Mas, e quanto ao humano?

CAPÍTULO 1
Abordagens terapêuticas
pós-modernas

Qualquer que seja o cenário que desejamos para nosso país, se queremos uma
sociedade mais justa e que nos dê orgulho em pertencer, ela terá que conter mais que
um projeto de crescimento econômico, mais do que um projeto de ampliação da massa
de trabalhadores. Ela precisa conter um projeto de cidadania.

Nós que pensamos ser totalmente possível – somos otimistas – que nosso país ofereça
sugestões e propostas de crescimento para além da nossa fronteira. Se tivermos
competência para isso. Para termos essa competência precisamos discutir as nossas
questões e, é nesse sentido, que vamos trazer até vocês alguns tópicos que prévios a
discussão de alguns setores em particular:

»» Construtivismo, em suas várias vertentes.

»» Processos reflexivos.

»» Práticas coletivas.

»» Práticas colaborativas terapia narrativa.

38
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

Antes gostaríamos de lembrar que os seres humanos são a única espécie talvez –
ou melhor, com certeza – cujo destino e a própria essência não está contida nas
determinações da ordem vital. Nós somos seres de natureza? Somos. Mas, a nossa
natureza é peculiar, em relação aos nossos primos próximos os primatas superiores
(FRIED, 1968).

O Construcionismo Social e as Terapias


Pós-Modernas

Figura 24.

Fonte: <https://grupopapeando.wordpress.com/2011/09/26/o-medo-na-era-da-liquidez/>. Acesso em: 6/3/2018.

O que há de peculiar nessa natureza?

Se quisermos resumir, podemos dizer que possuímos uma estrutura biológica.


Sobretudo temos um órgão especial que é o cérebro, que dentro da imaturidade e da
prematuridade que nos caracteriza como uma mente prematura. O ser humano nasce
muitos anos antes de conseguir sobreviver sozinho o que nos joga imediatamente na
dependência do mundo que nos cerca para que nós nos constituamos como humanos
(WHITE, 1993).

39
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

Para Sartre, nós estamos sós, sem escusas. O homem está condenado a ser livre.

Jean-Paul Sartre, companheiro de Simone de Beauvoir, foi um dos maiores escritores


do século XX, tendo escrito obras no campo da literatura, da filosofia e até mesmo peças
teatrais.

Figura 25.

Fonte: <https://www.vix.com/pt/maes-e-bebes/542081/tecnica-carinhosa-ajuda-bebes-dependentes-com-colo-e-cancoes-de-
ninar-de-voluntarios>. 18/2/2018.

O pensamento sartriano é um pensamento estruturado sobre o conceito de humanismo.

Figura 26.

Fonte: <http://lounge.obviousmag.org/dossier/2012/06/sartre-e-simone-uma-historia-de-fidelidade-sem-compartilhar-o-
banheiro.html>. Acesso em: 18/2/2018.

A visão de mundo e ser humano que passa pela filosofia de Sartre que foi uma grande
coqueluche francesa do final dos anos 1940/1950.

40
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

Sartre traz temas renovados

Como vimos ao longo de nosso caderno de estudos e pesquisas, estamos acostumados


a definir o período moderno pelo movimento do humanismo. E o que nós queremos
dizer com isso é que a partir de um certo momento, podemos mencionar o século XVII,
utilizando a visão de períodos históricos, o fato é que a civilização passou a se pautar
por um outro eixo como sendo a hegemonia do homem. Mais precisamente a liberdade
do pensamento ou a autonomia, a independência da razão. A partir de então, em todos
os aspectos da teoria e da prática, instaurou-se uma certa primazia sendo caracterizado
pelo sujeito humano e o pensamento humano (BEAUVOIR, 1982).

O intelecto humano atua como critério de verdade e como critério do bem. Então, o
homem, agora intelectualmente liberto das imposições dogmáticas que pesaram
sobre ele em épocas passadas, é moralmente responsável sobre sua vida, pretende
então construir o seu destino. É, portanto, a partir do interesse humano que se vai
moldar a todas as realizações que configuram um leque paradigmático para a práxis
psicoterapêutica (CECCHIN, 1992).

A pós-modernidade confere a nós terapeutas uma atuação voltada para a transformação


social que contribui para a experiência pessoal, profissional, política, implicando no
desenvolvimento de uma ética das relações (BAUMAN, 2001).

Ao atuarmos como terapeutas de abordagens pós-modernas, estamos legitimando


uma série de relações dentro da complexidade de mundo por meio do tratamento e da
valorização do indivíduo.

O pensamento das abordagens terapêuticas pós-modernas manifesta-se na aplicação


dos princípios construtivistas e suas derivações:

»» Construtivismo psicológico.

»» Construtivismo radical.

»» Construtivismo dialético.

»» Construtivismo epistemológico.

»» Construtivismo hermenêutico.

»» Construtivismo terapêutico.

Dentre outros, a nomenclatura pode mudar, mas todos são definidos como
pós-modernos e apresentam uma oposição a epistemologia objetiva e suas implicações
baseadas no poder.

41
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

O que essas terapias trazem de novo? Não é a multiplicidade, mas sim a multifocalidade.

Ou seja, existem posições focadas no self que se podem assumir como narradoras.
E cada posição do self tem sua história diferente para contar. Portanto, se partirmos
do pressuposto que muitas pessoas com as quais trabalhamos são pessoas em que
a multifocalidade está reduzida isto implica no movimento reflexivo da narrativa
(DOMINGUES, 2010).

Cada terapeuta tem seu modus operandi de tecer o processo com seu atendido.

O paradoxo da equivalência, ou seja, a boa terapia é aquela que traz relevância ao


crescimento pessoal do nosso atendido.

Temos que refletir sobre a narrativa do nosso atendido. Cremos que essa é a grande quebra
de paradigma das terapias pós-modernas. Elas não se propõem a autocategorização,
mas a lidar com a narrativa, que muitas vezes é caótica.

Nas narrativas caóticas o que temos é uma dificuldade em criar significação narrativa,
para o terapeuta se torna uma tarefa árdua dar sentido – pois a fala do atendido solta
de um tópico para outro. Existem múltiplas posições, mas nada em comum entre elas.

A lógica e a razão forneceram ao ser humano progresso, conforto e felicidade.

Um dos grandes enganos da sociedade atual é o “querer se livrar de” – e não importa
muito do que... as pessoas apenas querem se livrar de... tudo que as desagrada. Da
dor, do sofrimento, dos rompimentos, das perdas. A todo e qualquer custo “temos que
ser” felizes.

Figura 27.

Fonte: <http://revistadmais.com.br/conheca-quatro-aplicativos-que-auxiliam-pessoas-com-deficiencia/>. Acesso em:


18/2/2018.

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TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

Para Featherstone (1999) e Ianni, (1996), nunca estivemos tão próximos e ao mesmo
tempo tão distantes. A globalização, as mídias sociais, os likes etc. Somos aquilo que a
quantidade de likes define. Vamos a um show, mas queremos registrar nos celulares o
evento. E a emoção? Onde registramos? Também no aparelho?

A geração que mais precisa da aprovação do outro para seguir adiante. Como lidar
comisso? Era para ser bom! Sim. Ora, podemos fazer uma live (transmissão ao vivo
do facebook, por exemplo), ligar para o Japão, nos conectamos em uma rede. Mas, há
necessidade de afeto, senão seremos robóticos.

Isso nos traz uma contribuição do cinema o filme do diretor alemão Wim Wenders Tão
perto, tão longe – é possível presenciar e não se envolver. Nos envolvemos, enquanto,
pessoas nas redes sociais? Ou damos likes por cortesia. Como uma gentileza a ser
retribuída tacitamente, como uma venda de indulgências da era moderna.

A Psicologia Clínica, para Nunes (1997), segue a contracorrente desse movimento de


subserviência a aceitação do tudo e ao embate ao “querer se livrar de” ... Não existem
fórmulas instantâneas para lidar com a complexa natureza do humano. Por mais
que os livros de autoajuda apresentem receitas – de bolo industrializado e cheio de
conservantes – alegando o contrário. São livros para vender a ilusão.

Mediante o que foi explanado até esse momento, podemos afirmar que a Psicologia
nasce de dois ramos distintos: a Filosofia que considera os pensadores Aristóteles e
Platão como os primeiros psicólogos (como mencionamos acima) e a Medicina que
tenta encontrar respostas fisiológicas, se focando na doença e não no Eu.

A liberdade de escolha é absoluta, isso quer dizer que ela não é condicionada por
qualquer determinação anterior. Assim, se quisermos insistir na necessidade ou na
conveniêniencia de uma definição de realidade humana, essa definição só poderia ser
uma: liberdade. O homem é liberdade. Isso quer dizer que ele não a tem, como uma
qualidade, um atributo, uma faculdade, como pensava a Filosofia Clássica. A liberdade
é ele mesmo. Ou seja, a liberdade e a subjetividade são idênticas.

Percebemos, então, que a liberdade não é uma definição, ao passo que ela não nos diz o
que o ser humano é. Ela abre possibilidades, para que ele escolha o que virá a ser.

Para Rudio (2003), pelo fato de sermos liberdade a única escolha que não podemos
fazer é a de deixarmos de ser livres. Diante disso, a frase emblemática de Sartre:
o homem está condenado a ser livre. Isso expressa uma relação certamente paradoxal
entre liberdade e fatalidade. É como se nós dissessemos que somos fatalmente livres ou
que estamos destinados a ser livres. O que parece uma contradição, mas é a forma pela

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UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

qual a filosofia da Existência nos diz que nós não podemos escapar da nossa própria
liberdade.

Outra consequência ética, segundo Foucault (1977), é a liberdade originária que implica
em uma responsabilidade total. Na verdade, sempre se soube que a responsabilidade é
a contrapartida da liberdade. Quase todas as teorias éticas dizem isso, porque somente
aquele que é livre pode ser responsabilizado pelas suas ações.

Alguém que esteja determinado a agir, na visão de Foucault (2006), a partir de uma
força a qual ele não poderia resistir, este certamente não pode ser considerado como
responsável. Talvez por isso as teorias éticas sempre procuraram remeter a nossa
liberdade ou grau em que exercemos a nossa liberdade em uma instância de onde ela
proviria e com a qual poderíamos dividir a nossa liberdade, pois dessa forma dividimos
sobretudo a nossa responsabilidade. Ela pode ser dividida com Deus, com a sociedade,
com as minhas tendências naturais, com o meu inconsciente, com o meu partido...
Não importa, se a minha liberdade não for total não serei totalmente responsável.

Nesse sentido, para Talaferro (1996), o existencialismo é difícil. Pois a liberdade e a


reponsabilidade são vistas de uma maneira originária e muito radical. O homem está
só, surge gratuitamente no mundo, desaparece do mesmo modo, nada explica, não
tem fundamento, não possui raízes metafísicas, nem naturais. É nessa solidão e nesse
desamparo que o homem exerce a liberdade e que ele é inevitavelmente responsável
por tudo.

Na verdade, para o existencialismo, na visão de Schneider (2009), o homem é


responsável pelos outros e por si mesmo também, porque não havendo valores
universais previamente determinados a que se possa recorrer como critério de escolha;
cada vez que um homem escolhe, cada vez que exerce um ato livre, ele escolhe também
o critério e o valor a partir do qual esse ato é efetuado. E esse valor que surge com a
liberdade é único, não pré-existia. E, ao mesmo tempo particular, fruto de uma escolha
pessoal. Mas, também universal, pois exprime tudo aquilo que se possa demonstrar ao
nível de critério moral.

Ao exercermos a nossa liberdade por nós mesmos e ao inventar valores e critérios dessa
liberdade, atingimos nessa invenção tudo aquilo que podemos atingir. Nada mais há
para que possamos recorrer, nada mais que possamos esperar.

O critério humano do meu ato só vai existir no meu próprio ato e por meio da minha
própria escolha. Portanto, se há algo de universal nos critérios e nos valores morais que
orientam a nossa conduta; essa universalidade não vem de uma instância transcendente

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TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

ou de algo que seja diferente de nós. Ela vem de nós mesmos. Uma espécie de
singularização de universalidade que nós procuramos viver.

Estamos falando de uma liberdade difícil porque não é possível fugir a responsabilidade
do ser humano. Na verdade, não posso fugir a responsabilidade de ser humano. Isto é
ser livre. Sou responsável pelas escolhas, por meio das quais eu me constituo e vou
construindo a minha existência e, ao fazer isso, é como se eu estivesse propondo a todos
os demais os valores e critérios da existência.

Por exemplo, para Da Matta (1981), há todo um conjunto de fatos que delimitam a
nossa situação no mundo e nos quais eu não posso interferir até porque já existiam
antes que eu aparecesse. A época em que nascemos, o lugar, a família, a classe social.
Enfim, uma série de condições que nós não escolhemos, que não podemos modificar
e que são aquelas em meio as quais vai contecer o exercício da minha liberdade.
E, portanto, a liberdade é ao mesmo tempo limitada e possibilidade por tudo isso que
rodeia o indivíduo e, sobretudo, pelos outros. Pelas outras pessoas que nos rodeiam.

Figura 28.

Fonte: <https://wonderopolis.org/wonder/what-is-infinity>. Acesso em: 18/2/2018.

Então, para Foucault (1977), o exercício de liberdade é limitado porque ele se exerce
de encontro com essas condições. Condições que atuam muitas vezes como obstáculos,
sendo chamadas por Sarte de índices de adversidade. E, também, é possibilitado porque
as escolhas sempre dependeram – em grande parte, pelo menos – do sentido que a
pessoa vier a atribuir a esses fatos e as outras pessoas com as quais se defronta.

Não podemos mudar o fato de que existem coisas e de que existem outras pessoas e de
que existe o mundo objetivamente. Mas, podemos livremente atribuir este ou aquele
sentido aos fatos. E é nessa diferença entre o fato bruto e o sentido que podemos
atribuir por meio da liberdade – nesse espaço, nessa diferença que ocorre o exercício
da liberdade. Sempre situada, portanto, paradoxamente uma escolha absoluta e ao
mesmo tempo uma escolha mediada pelos fatores que constitue a situação do viver e
que podem atuar como determinantes na situação em que se vive.

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UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

Há, portanto, um papel nessa situação como o contexto da liberdade e é essa noção de
situação e a função que ela desempenha na constituição da nossa existência que nos
leva a história. Afinal, uma situação é sempre uma situação histórica. Pois ela é vivida
dentro dos limites de um tempo e de um lugar em que as pessoas agem historicamente.

Para Da Matta (1981), um sujeito livre é sempre um agente histórico. A existência, desse
modo, é sempre uma existência histórica. Com isso a liberdade e a responsabilidade de
que nós falamos ganham significações muito concretas e muito bem determinadas.

A existência não é uma noção abstrata ou indeterminada porque ela sempre ocorre de
forma histórica e concreta. Indivíduos e grupos são produtos históricos, Sarte concorda
nesse ponto de vista com o marxismo – quanto ao estabelecimento dessa relação entre
os homenes e a história.

A realidade humana tem na existência a sua origem e o seu fim. Precisamente, porque
o processo de existir ocorre concretamente como um processo histórico.

Quando Sartre (2012) fala na interioridade e na subjetividade, não pensa em noções e


conceitos cartesianos – como uma alma, ou interioridade do espírito – mas, em algo
que se expressa sempre na hisória.

Para Bauman (2001), uma subjetividade que não se expressa, num mundo subjetivo
em ações e condutas, em atos não existe. A existência consiste exatamente nisso em
expressar o que nos é interior, mas sem que se possa fazer realmente uma separação
entre esss dimensão da interioridade – que valeria por si mesma – e a sua expressão
objetiva, esterna. Coisa que os clássicos costumavam separar, dando a alma, ao
espírito e a interioridade certa autonomia que dentro de um processo existencial não
tem cabimento. Porque justamente seria como que voltar a conceber essa essência
inddependente e autonoma que depois poderia vir a ser expressa acidentalmente ou
secundariamente.

Nada disso, para Sartre (2012), corresponde a existência ou a esse processo de existência.

Há que se ter uma expressão em atos, condutas em ações dos indivíduos.

Ou seja, nas histórias dos indivíduos, nas histórias pessoais. Essas histórias pessoais
que se dão sempre num contexto maior disso que nós chamamos de história geral.

Se há esse contexto e se cada um de nós é uma história individual enquadrada nesse


contexto maior, então não seria o caso de dizer que a história nos limita, que a
história nos determina. Já que como expomos anteriormente nós somos produzidos
historicamente – visão de Karl Marx, adotada por Sartre – sem dúvida a história nos

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TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

determina. Contudo, Sartre acrescenta que a história nos determina ao ponto em que
a fazemos, pois assim como só podemos conceber indivíduos históricos assim também
só podemos entender que só existe história na medida em que existem indivíduos que a
fazem: agentes históricos, ou na visão de Richard Parker atores históricos.

Entre o sujeito e as condições nas quais ele está inserido, há uma tensão, há uma
contradição entre polos opostos e isto é uma relação dialética. Ou seja, um tipo de relação
em que nenhum dos dois termos se reduzirá ao outro e que nenhum será subordinado
pelo outro.

Leben – vida em alemão – a partir do termo vida, surgiram as expressões vivência e


vivencial; como um modo compreensivo de ser. E que podemos dizer hoje, que não
só compreensivo como implicativo. Ou seja, não é explicativo. E essa distinção entre
as qualidades explicativas e implicativas do modo fenomenológico existencial de
sermos e as qualidades explicativas do modo teórico de nós sermos são extremamente
importantes para esclarecermos não só todo o gestaltificativo.

Figura 29.

Fonte: <http://www.institutgestalt.com/content/grupos-de-crecimiento-y-continuidad>. Acesso em: 18/2/2018.

E como está acontecendo no modo pré-reflexivo de sermos, a ação não é dicotomia


sujeito e objeto, quanto mais vivenciamos a ação nós não estamos cindidos na dicotomia
sujeito e objeto. Quando nós vivenciamos a ação, nós vivenciamos a condição de atores
e nesta condição: nós não somos nem sujeito e nem objeto. Destarte que sujeito e objeto
são próprios do modo acontecido de sermos.

E a duração da ação nós somos do acontecer. Então, enquanto acontecer, nós somos
a ação. A ação não é dicotomia sujeito e objeto, uma vez que em particular a ação é
relação Eu Tu. Em que o Eu é a ação e o Tu é a ação. Então, no odo de sermos da ação
não vigora a dicotomia sujeito e objeto, mas a interação (inter ação) entre o Eu e o Tu
que são ambos ação.

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UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

De modo que a relação Eu e Tu é a dinâmica da ação que é eminentemente


compreensível, eminentemente compreensão. Então, Rogers elegeu o modo de sermos
da ação, o modo ontológico de sermos como elemento central da sua teoria. A vivência
desse modo ontológico de sermos da ação que o Rogers costuma chamar de empatia.

Matin Buber faz uma antropologia, uma ontologia dos modos humanos de sermos.
Que, aliás, ele desenvolve primorosamente, no livro Eu Tu e no qual ele desenvolveu
toda uma tematização dos dois modos humanos de ser: o modo Eu Tu e o modo Eu Isso.

O modo de sermos Eu Tu não é modo de sermos da dicotomia sujeito objeto, não é o


modo de sermos da utilidade, não é o modo de sermos da causalidade e é o modo de
sermos do acontecer. Ou seja, o modo fenomenológico existencial de sermos da ação.
O modo de sermos do desdobramento das possibilidades, da ação, da atualização.

Então, Buber vai entender esses dois modos de sermos enquanto humanos.

Ao modo Eu Isso de sermos o Buber aplica o termo relacionamento, termo em particular


do relacionamento sujeito objeto, que é característico do modo Eu Isso de sermos.

E com relação ao modo Eu Tu de sermos, o Buber utiliza o termo relação. E que é o


modo de sermos Eu Tudo qual se desenvolve uma relação com a alteridade, quer dizer
o modo de sermos Eu Tu, enquanto modo de sermos da ação é o modo de sermos que
contém a relação entre um Eu e uma ALTERIDADE. Um Eu e um Tu.

Em particular, uma alteridade intendida como ponto de possibilidade, como foco de


sentido independente do poder ou controle de um sujeito, ou se nós mesmos enquanto
sujeitos. E igualmente independente do controle arbitrário de nós mesmos como
sujeito, um Eu que se dá como possibilidade e como desdobramento de possibilidades,
como a ação.

De um modo tal, no modo Eu Tu de sermos o que vigora é o desdobramento de uma


interação. A interação entre o Eu e o Tu, na qual o Eu se dá como possibilidade em
desdobramento como ação, como a cognição da ação do desdobramento de possibilidade.
E o Tu se dá como ação e o desdobramento de possibilidades.

Como temos visto ao longo do nosso caderno de estudos e pesquisa, as Terapias


Pós-Modernas entendem o ser humano como detentor de liberdade, escolha, sempre
no presente.

A ação é compreensão.

E como acontecendo no modo pré-reflexivo de sermos a ação não é dicotomia sujeito e


objeto, quanto mais vivenciamos a ação nós não estamos cindidos na dicotomia sujeito

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TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

e objeto. Quando nós vivenciamos a ação, nós vivenciamos a condição de atores e nesta
condição: nós não somos nem sujeito e nem objeto. Destarte que sujeito e objeto são
próprios do modo acontecido de sermos.

O modo Eu Isso é o modo de sermos em que vigora a causalidade.

Enquanto modo Eu Isso de sermos vigora a utilidade. É modo de sermos dos úteis.
É o modo de sermos dos usos e das utilidades. Então o modo de sermos EU ISSO é
característico da dicotomia sujeito e objeto, o modo teorético de sermos, é o modo
acontecido de sermos e é o modo de sermos onde vigora a causalidade, onde vigora a
utilidade – enquanto modo de sermos do acontecido.

Modos humanos que ele vai entender, podemos dizer genericamente, como um modo
coisa de ser (um modo do acontecido), o modo explicativo de ser, o modo de ser da
utilidade, o modo de ser da causalidade, o modo teórico de ser, o modo de ser da relação
sujeito objeto: EU ISSO.

Modo de sermos no qual é possível a técnica, quanto um procedimento repetitivo e


enquanto um procedimento objetivo praticado por um sujeito que procede sobre o
objeto e é o modo de sermos teórico da moral e do moralismo.

Ao contrário do modo Eu Tu de sermos que é o modo de sermos da Ética. E da vivência


ética do modo ontológico de sermos.

Modelo Eu Isso:

»» Dicotomia sujeito e objeto.

»» A utilidade.

»» A causalidade.

»» A realidade.

»» A técnica.

»» O moralismo.

Todas essas são características naturais do modelo Eu Isso de sermos. Do ser


humano enquanto modo acontecido de ser humano. Mas, nós não somos apenas
o modo do acontecido, quer dizer ontologicamente naquilo que nos constitui mais
fundamentalmente, nós não somos simplesmente acontecido; nós somos acontecer.

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UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

E é a continua emergência da ação, a contínua emergência de possibilidades que são


em seu desdobramento o que chamamos de forças criativas. É a emergência continua
de possibilidades da dialógica compreensiva da ação no modo de sermos da ação que
o Rogers chamou de tendência atualizante. A tendência atualizante nada mais é que a
existência de nós outros enquanto humanos caracterizados pela continua emergência
da ação, pela continua emergência de forças e possibilidades que se desdobram com
a ação.

De um modo tal que, quando Rogers elege como centro de sua concepção e do método
a tendência atualizante, ele privilegia o modo ontológico de nós sermos, o modo
fenomenológico existencial e dialógico de nos sermos que é eminentemente o modo de
sermos da compreensão.

Devemos mencionar que mesmo depois de nascer o ser humano se encontra em simbiose
com o ser que lhe dá carinho, o amamenta, quem faz a maternagem. E, quando a mãe
retorna a vida normal, ou seja, quando o bebê já possui certa autonomia, vai crescendo.
Ocorre o desmame, o desfralde, entre outras mudanças, o bebê ou a criança começa
a sentir falta desse afeto, vem um sentimento de estranheza a essa ausência, advém o
choro. É natural que isso ocorra.

O que nós queremos é buscar o nosso cliente para um encontro verdadeiro o tempo
presente, ou seja, um encontro dialógico. A Filosofia do Martin Buber vai tratar da
fenomenologia do ser. A ideia é buscarmos o tempo todo mergulhar no mundo do outro.

Essa postura implica em pressupostos importantes:

»» Aceitar o outro ser humano.

»» Confirmar o outro em sua alteridade, sua singularidade.

»» A tentativa de sanar possíveis rupturas das relações humanas.

Dentre outros conceitos acreditamos no que chamamos de entre da relação, onde eu


encontro o outro através desse meio, desse entre.

Descontraindo, um pouco, ser terapeutas é para os fortes. Afinal, não é uma tarefa fácil
ter de lidar com a dor do outro e com as próprias dores. O terapeuta lida com demandas
e com questões muito especiais.

Cada vez mais a humanidade necessita dos nossos serviços, enquanto psicólogos
clínicos, tantas questões estão deorganizando organismicamente as pessoas.
O consultório proporciona a visão das pessoas que estão em depressão, ansiedade.
E aqui se faz necessário falar sobre Zygmunt Bauman (2001) – falecido em 9 de janeiro

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TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

de 2017 – e o conceito da vida líquida que o ser humano tem hoje. A obra de Bauman
é uma referência para a compreensão do modo de sermos da atualidade. Por meio
do conceito de liquidez, Bauman explica as mudanças que a civilização sofreu com a
globalização.

Figura 30.

Fonte: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/01/11/quem-serve-modernidade-liquida-de-bauman3/>. Acesso em:


10/09/2017.

O pensador polonês Bauman extrapola termos como filósofo, pensador, economista,


porque, na verdade, ele possui uma vasta obra. Mas, dentro da abordagem do Bauman
sobre o mundo contemporâneo podemos perceber que ele tem um discurso baseado
em alguns pontos que são fundamentais. De forma, que Bauman analisa o mundo pós-
moderno ou modernamente líquido. E o que ele quer dizer a partir dessa visão? Ele
torna de certa forma uma discussão que encontramos na obra de Freud, dentro de uma
perspectiva da civilização moderna o indivíduo moderno está buscando segurança e
liberdade.

Na verdade, o projeto de civilização moderna garante a esse indivíduo muito mais


segurança e, consequentemente, menos liberdade. Por isso temos uma série de padrões,
estereótipos, modelos, tradições e rótulos; e o que percebemos – principalmente a partir
do fim do século XX e início do século XIX – são intensificados movimentos em prol de
uma bandeira da liberdade.

Liberdade de expressão, sexual, política.

Enfim, percebemos que em todas as partes do planeta um clamor pela liberdade,


consequentemente, há uma perda no que diz respeito à segurança. Segundo Bauman,

51
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

encontramos nesse ínterim um momento muito delicado no que diz respeito a


globalização. Porque temos um cenário europeu em que há uma chegada e um fluxo
de vários imigrantes, sendo esse um tema bastante relevante – fluxos migratórios
internacionais – de modo que temos uma globalização que favorece a liberdade e a
influência de bandeiras que são levantadas no Oriente, no Ocidente.

Exemplificando: um movimento que ocorre na América do Sul acaba repercutindo


do outro lado do planeta e serve de inspiração para várias lutas e vários movimentos.
É nesse contexto de busca desenfreada por liberdade e movimentação de cidadãos
globais que percebemos uma pontuação fundamental feita por Bauman. Estamos
vivenciando um momento novo, estamos vivendo um momento de liberdade, em
detrimento da segurança.

Logo, segundo Bauman, o sentimento que predomina na sociedade modernamente


líquida ou pós-moderna é justamente a insegurança, a instabilidade, o vazio nas relações
e o medo.

Nesse sentido, a presença do estrangeiro, a presença do estranho é vista como


perturbadora. E esse é um cenário considerado – nas principais metrópoles – como
caótico, haja vista que uma parcela da população de mostra, extremamente, indiferente
e até hostil em relação a presença do estrangeiro. E o que cabe a esse estrangeiro é buscar
uma identidade, buscar uma afinidade com outros estrangeiros, que se encontram
na mesma condição. Daí provindo à constituição dos guetos estrangeiros em cidades
consideradas globais.

Há, então, segundo Bauman, um novo tipo de cosmopolitismo, que reforça o


etnocentrismo de classe e de origem étnica. O estranhamento frente ao estrangeiro, ao
estranho permanece no ser humano. Uma questão para psicólogos, enquanto cientistas
do comportamento e da mente humana, é desmembrar e oferecer uma leitura sobre a
condição do mundo pós-moderno.

Mundo este marcado pela luta da liberdade, em detrimento de uma suposta segurança.
Temos que abordar os relacionamentos em sua totalidade. Quantos psicólogos oferecem
atendimento virtual?

A relação pessoa a pessoa na dialógica da relação terapêutica transpôs o setting


terapêutico. O psicólogo pode estar no Brasil e seu cliente na Alemanha. E, nesse
sentido, é uma relação terapêutica líquida, em que os padrões vão sendo construídos,
percebidos. É uma nova vivência da Psicologia e da relação terapêutica.

52
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

A música The Times They are a Changing (1964) parece mais atual do que nunca.
Link: <https://www.youtube.com/watch?v=tzwBlm99YJY>.

Abordagem colaborativa na Terapia


Pós-Moderna
O conteúdo abordado neste capítulo é extremamente relevante no que se refere ao
progresso e aprimoramento da ciência da psicologia, pois aborda questões e críticas
essenciais para a reflexão diante da importância dos estudos que ela pode desenvolver,
em termos de beneficiar os indivíduos, bem como a sociedade como um todo, de modo
que assuma um olhar mais humanizado, exercendo seu papel primordial, o qual se
refere ao auxílio do sujeito, a partir da compreensão de sua história de vida, seu contexto
e suas peculiaridades, não se perdendo em generalizações e padrões que anulam a
riqueza característica dos processos psíquicos e do funcionamento da pessoa.

Destarte, discutiremos questões acerca de visões reducionistas e mecanicistas, frente


à visualização dos processos humanos, bem como visões subjetivas e fenomenológicas
que também fazem parte desse contexto.

O termo psicologizante assume teor pejorativo, pois, apesar de englobar o verbo


psicologizar que, por sua vez, assume o significado de “dedicar-se à psicologia”, é
empregado para apontar elaborações quanto a previsões e estimativas de conteúdo
psicológico, sem comprovação científica (HOLANDA, 2010).

Dessa maneira, de modo mais complexo, pode-se discutir o conceito inerente ao “olhar
psicologizante” enquanto um processo de apontar que os comportamentos humanos
podem ser compreendidos pela ciência da psicologia em sua totalidade. Na condição
de existir uma análise de algo diferente em um indivíduo, ou seja, que foge dos padrões
denunciados como normais, o mesmo merece e necessita de ajuda dos profissionais que
atuam nessa área. Contudo, destaca-se que a definição e relação entre saúde/doença,
normal/anormal e funcional/disfuncional têm como base uma cultura, compartilhando
uma mesma realidade coletiva, ou seja, uma mesma constituição interna socialmente
(FOUCAULT, 2005).

Por isso, ressalta-se a importância do questionamento quando a esse tipo de olhar,


discutido acima, já que denominações quanto ao que é normal ou não são extremamente
complexas, pois dependendo de um contexto, uma cultura, isso se torna algo
extremamente peculiar e relativo. Não se pode resumir, limitar e anular o indivíduo a
partir de generalizações, as quais estabeleçam regras e padrões de como o mesmo deve
se sentir, agir, pensar, funcionar. Tal processo acaba por negligenciar a singularidade
e complexidade do ser-humano, pois ainda que participe de uma mesma cultura, as
pessoas têm naturezas particulares e extremamente ricas, no que se refere à unicidade

53
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

de seus processos psicológicos, experiências, vivências e modos de perceber o mundo,


os outros e a si próprias.

Destarte, a doença, ou o sintoma, é apenas parte de uma complexa trama que engloba
uma pessoa em um determinado contexto, sendo detalhada, muitas vezes, por teorias
explicativas que, em última análise, consideram nada mais que recortes da realidade
para desenvolver generalizações frente a um universo de possibilidades e singularidades
(CARVALHO; CUNHA, 2006). Por isso, visualizar o processo de adoecimento enquanto
uma expressão de plurideterminação, na qual se combinam fatores genéticos, sociais,
psicológicos e culturais de forma simultânea e recursiva, ou seja, seu curso nunca é
decidido de forma unilateral por um desses aspectos, valoriza e reafirma a pessoa
ressaltando sua singularidade e seu papel enquanto sujeito de seus próprios processos,
impedindo a visualização da mesma enquanto vítima e reflexo de seus sintomas, o que
por sua vez também impossibilita a visão dela como incapaz, estática e com necessidade
de conserto, tendo-se como pano de fundo categorias baseadas em padrões generalistas
e reducionistas (MORI; GONZÁLEZ REY, 2012).

Como o psicólogo pode entender a situação e a carga emocional de uma mulher negra,
por exemplo, em um país como o nosso que coisifica a mulher negra, atribuindo a esse
ser humano o rótulo de mulata exportação. O que significa ser tida como um mero
objeto de desejo. Uma coadjuvante no cenário social, atuando em papel de doméstica
ou como a mulher que surge no carnaval “maior espetáculo da Terra” com seu bandeiro
(uma alusão aos glúteos) e que atrai gringos para o comércio do sexo. Como entender
essa demanda, esse lugar de desconforto?

Podemos como psicólogos discorrer sobre esses e uma imensidão de outras questões
da mulher negra na sociedade, mas o fato é que falamos do que apenas sabemos.
Não temos como sentir se a nossa pele não for negra.

Surgem, então, as militâncias dentro do contexto psicológico.

Mas, as terapias pós-modernas quebram o paradigma de ter que escolher, de não poder.
Somos atores no processo da complexidade social.

Nessa direção, os conceitos de patologia e processo patológico, tendo-se por base os


preceitos da psicopatologia, não implicam em centralizar e destacar isoladamente a
doença e seus sintomas, dando margem para conotações negativas e atrelando-se aos
conceitos de cura. Pelo contrário, os mesmos correspondem a uma disposição e a um
movimento do fenômeno fundamental, que constitui a existência do homem. Destarte,
a hermenêutica discute e estuda os processos de adoecimento em termos de busca pela
compreensão quanto aos modos de ser, os quais, por sua vez, compõem uma existência
adoecida (MARTINS, 1999).

54
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

Essas considerações delineadas apontam as semelhanças existentes entre a epistemologia


e a hermenêutica e a psicologia pós-moderna, no que diz respeito ao reconhecimento
da complexidade característica do ser-humano, assim como seu desenvolvimento e
relacionamento com o mundo, de modo peculiar.

Nesse sentido, viver a vida plena é deixar-se fluir diante de cada acontecimento, tendo
a capacidade de se manter presente no momento atual. Indo mais além, considerando
que o “eu” e a personalidade são desenvolvidos pelas experiências, torna-se importante
se abrir totalmente para as possibilidades que surgem em cada contexto, tendo em vista
que essa postura de abertura é capaz de permitir que as mesmas construam o “eu”.
Assim, levanta-se possibilidades para o desenvolvimento e a organização do “eu” fluido,
mutante e harmonioso, processo que Rogers explica ser de suma relevância para a vida
do indivíduo (COLLIN et al., 2012).

O autor afirma que as vidas estão em eterna mudança. Na condição de negar esse
fluxo dinâmico, as pessoas criam esquemas voltados a aspectos relacionados ao que
consideram como as coisas deveriam ser, tentando, dessa forma, moldar a si mesmas,
bem como modelar suas noções de realidade. Essas atitudes traçam limites, no que diz
respeito à capacidade de se permanecer aberto e presente às experiências, podendo,
nesse sentido, dar surgimento a estados de sentimentos os quais estão voltados a
sensações de aprisionamento e estagnação. Mais ainda, a terapia pós-moderna explica
que quando a realidade não condiz com o que o indivíduo quer ou busca, o sentimento
de incapacidade de mudar de ideia pode emergir de modo brusco, ou seja, a postura de
inflexibilidade e rigidez é capaz de se sobressair na situação, e, assim, abrir possibilidade
para o surgimento de um conflito, o qual se manifestará sob a forma de uma postura
defensiva (COLLIN et al., 2012).

A postura defensiva, citada no parágrafo anterior, pode ser caracterizada como uma
tendência inconsciente de se utilizar estratégias, as quais impedem que estímulos
indesejáveis ou problemáticos atinjam a consciência. Desse modo, a pessoa nega
ou distorce o que de fato está ocorrendo, com o intuito de manter e proteger ideias
preconcebidas. Todavia, infelizmente, esse processo gera uma interpretação limitada e
artificial da experiência, bloqueando inúmeras emoções, reações e ideias em potencial,
fazendo com que a pessoa se feche totalmente para tais possibilidades ali existentes na
situação (COLLIN et al., 2012).

Cabe ao terapeuta pós-moderno trabalhar para eliminar barreiras, promovendo


melhorias nos grupos que são considerados como minorias: movimento LGBTS,
mulheres, indígenas, negros, para citar alguns. O fato é que promoveríamos melhorias
não só para cada uma dessas pessoas, mas para a sociedade, para o coletivo.

Por meio de ações afirmativas consistentes, eliminaríamos o preconceito total, pois


educaríamos. As ações afirmativas só vão ter sentido dentro da educação.
55
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

Perceberam a atuação da Terapia Pós-Moderna em cada uma dessas questões. E como


o trabalho dessa abordagem fala ao social, da mesma forma que aborda as questões da
pessoa indivíduo no setting terapêutico. E como as ações voltadas ao coletivo estão de
acordo com as ações afirmativas.

Onde devemos fazer uma campanha de prevenção ao tabagismo? No 3° ano de ensino


médio ou nos primeiros anos do ensino fundamental? Com relação ao problema
ambiental? E sobre a educação no trânsito? Se houvesse um maior esforço com relação
ao processo educativo para questões sociais, não haveria necessidade de tanta gambiarra
social para resolver essas e outras questões.

Não basta ter a lei, temos que ser educados para entender que ela é necessária.

Tem que existir um comprometimento do coletivo.

A Terapia pós-moderna se apresenta como um conjunto de abordagens teóricas,


fundamentalmente humanistas, existenciais e fenomenológicas que tem como
pressuposto o olhar da Psicologia que entende o fenômeno psicológico oriundo também
das questões que são desenvolvidas no campo da sociedade.

A Terapia Narrativa é, por exemplo, uma das formas de psicoterapia pós-moderna e


colaborativa. Desenvolvida por Michael White e David Epston, a visão desta abordagem
acerca do indivíduo é que as pessoas são os maiores especialistas de suas próprias vidas.
Deste modo, o olhar sobre as histórias que elas contam sobre si mesmas passa a ser
priorizado.

Figura 31.

Fonte: <https://amenteemaravilhosa.com.br/terapia-narrativa/>. Acesso em: 8/2/2018.

56
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

Então compreendemos a subjetividade enquanto um processo também de


desdobramento, de múltiplas determinações das questões sociais que a população
brasileira vivencia no seu cotidiano.

Assim, na verdade, não há uma área específica de atuação, mas sim toda uma forma de
compreender essa realidade vivenciada pelas pessoas atendidas a partir desse recorte
de como esse sofrimento, essas potencialidades individuais estão refletindo também
aquilo que se desdobra no campo da vida concreta.

Então, partimos do presuposto de que não há uma separação, uma divisão entre o que
é o indivíduo e a sociedade. Ao contrário, há uma relação que é determinada de forma
dialética.

Isso vale para qualquer área de atuação. Seja no campo, por exemplo, da saúde, da
assistencia social, da relação com a justiça, no campo da educação, entre tantas outras
áreas de atuação da Psicologia. A Psicologia Social nos ajuda exatamente a compreender
o fenomenopsicologico a partir dessas bases.

De acordo com Carvalho (2005), o campo das políticas públicas vem responder uma
demanda que diz respeito às próprias lutas sociais da população brasileira, tendo em
vista a garantia de seus direitos. Direitos esses que estão garantidos na plataforma –
pelo menos do ponto de vista formal – na própria Constituição Brasileira: o direito à
educação, direito à saúde, direito à segurança, entre outros. Direitos estes que precisam
de alguma forma estar presentes no Estado, a partir de ações estruturais junto à
população.

Então, as políticas públicas são esse conjunto de ações, de práticas, de intencionalidades


do Estado tendo em vista o atendimento a esses direitos e garantias fundamentais da
população.

E como o psicólogo se alinha aos atores da sociedade para promover as políticas


públicas?

Essa questão é muito importante para a Psicologia e para categoria profissional da


psicologia. Pois, entra enquanto um processo de profissionalização da Psicologia no
campo das políticas públicas. Isso não ocorre de forma neutra, ou apartada das próprias
lutas ou reivindicações da sociedade.

É fundamental ter em vista que o princípio da atuação do psicólogo, para Vaistman


(1992), quando está no campo das políticas públicas é contribuir para a garantia dos
seus direitos. Principalmente, na população que configuramos como aquela que está
mais vulnerabilizada, que está mais aviltada na garantia de seus direitos. Como nós,

57
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

pelo fazer específico da Psicologia em diálogo com estes atendidos, em diálogo com
com coletivos e grupos atendidos – também em diálogo com outros profissionais que
atuam no campo das políticas públicas – conseguimos construir práticas que visam
essa garantia de direitos também.

De fato, é um campo que se caracteriza pela multidisciplinariedade, um campo que se


caracteriza pelo diálogo que deve ser constante.

Tanto profissões da área da saúde, quanto oriundas das ciências sociais são ciências
humanas. Em verdade, o fenômeno humano não é recordado por disciplina, então,
quanto mais pudermos ter esse olhar que transversaliza de fato todos os saberes em
prol da garantia dos direitos, estaremos mais próximos desses objetivos.

Temos várias formas de pensar essas contribuições.

Por exemplo, no campo da saúde mental, tendo em vista a Lei no 10.216, promulgada
em 2001, a chamada Lei da Reforma Psiquiátrica, esta é uma Lei que reorienta uma
forma de atenção e cuidado em saúde mental no território brasileiro tendo em vista as
práticas antimanicomiais. Ou seja, a vida em liberdade o cuidado no território. Então,
vamos pensar e acolher essa pessoa que possui ou está passando por algum momento
de sofrimento psíquico intenso e compreender essa pessoa – não a partir do estigma da
sua doença ou do seu diagnóstico psiquiátrico; mas sim das suas potencialidades.

Texto para pesquisa link:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf>.

Fazemos isso, por exemplo, com o diálogo com os profissionais da Terapia Ocupacional
que nos ajudam a pensar e o projeto terapêutico desse indivíduo. No sentido de
compreender quais as atividades que vinculam, quais são as formas de autonomia que
ele vai construindo na forma de se relacionar, na produção de vínculos.

Vamos dialogar com os profissionais do Serviço Social que atuam também no campo
da saúde mental, buscando também compreender como que se dá, como se configura
a vulnerabilidade a que esse sujeito está inserida, quais são os processos de geração de
renda, os processos de garantias por meio de benefício de prestação continuada que
podem ser dados a esse sujeito – e que fazem parte dessa política da assistência social.

Podemos pensar no campo da Educação. Um direito que é negado a boa parte da


população brasileira. Como resgatar a possibilidade de retomar estudos, retomar o
processo de contato com a cultura; quanto que isso é fundamental para que esses sujeitos

58
TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS │ UNIDADE III

cada vez mais estejam construindo processos de autonomia. E não uma autonomia
pensada no nível do individual, mas uma autonomia que o insere nesse território, que
o faz transitar nesses processos.

Enfim, há um diálogo que precisa se dar nas diferentes formas.

Destarte, cabe à ciência a exploração de novas práticas. De acordo com Polkinghorne


(1988), existem cinco elementos centrais na epistemologia da prática, sendo assim
apresentados:

1. Construtivismo: representa a construção das múltiplas versões, ou seja,


não há uma observação factual neutra e imparciais quer pelo terapeuta,
quer pelo atendido.

2. A inexistência de fundamento seguro de conhecimento: ou seja,


a quebra do paradigma de que um único modelo teórico possa dar conta
da complexidade das questões e demandas do humano.

3. Afragmentação do conhecimento, ou seja, a total valorização da


subjetividade, excluindo a predição de respostas baseadas em modelos
teóricos experfimentais.

4. O neopragmatismo ou a mudança da visão de uma perspectiva


empírica dos vários modelos da realidade. Uma quebra de paradigma
entre a visão moderna de “saber” para o “saber como” característica do
pós-moderno.

5. A interdisciplinaridade se encontra implicita nos modelos já


mencionados e permeia o modus operandi de inúmeros setores e atividades
da complexidade de mundo instituida no pós-modernismo: urbanismo,
gestão com pessoas, mediação de conflitos e justiça restaurativa, assim
como temas específicos como gênero, educação, etnia, violência.

Como define muito bem o psicólogo social Kennth Gergen (1985, 1994), o construtivismno
social é uma consciência compartilhada, uma epistemologia que agrega contribuições
de divervas áreas das ciencias humanas e sociais.

Para Gergen (1994), as críticas ao fundacionalismo empírico apresenta uma


gama de abordagens teóricas, que podem ser denominadas como pós-empiristas,
pós-estruturalistas, não fundacionalsitas e pós-modenas. Entre estas estão pensamento
de Wittgenstein, a sociologia do conhecimento de Berge e Luckmann, a história da
ciência de Kuhn, o desconstrucionismo francês de Foucault e Derrida, o movimento
feminista e de outras minorias sociais.

59
UNIDADE III │ TERAPIAS PSICOLÓGICAS PÓS-MODERNAS

Ao abraçar a epistemologia da terapia pós-moderna, o terapeuta passa a um nível


metateórico de reflexão, fazendo com que se a realidade ganhe multiplicidade. Nesse
momento, não cabe eleger um modelo de self ou de referencial teórico como o absoluto.
Ou contrário, inicia-se um trabalho voltado para a complementaridade.

Os dilemas humanos são mais fortes que qualquer tipo de argumentação voltada ao
conceito de valor verdade. As técnicas no escopo das terapias pós-modernas só são
inteligíveis como geradoras de contextos favoráveis a mudança, tendo seus valores
voltados a transformações criativas.

As terapias pós-modernas podem ser entendidas como um saber que se compõe de


experiências. Não existem verdades únicas, pois o tempo muda e instável, e os contextos
que a compõe são redefinidos e modernizados com cada geração de pessoas que os
habitam.

60
A FALÊNCIA DA
MODERNIDADE E
O PARADIGMA DO UNIDADE IV
PROCESSO DE TRABALHO
NA PÓS-MODERNIDADE

Há quase 30 anos, os intelectuais se perguntam o que é a pós-modernidade e quando a


modernidade acabou. E as respostas são as mais variadas o possível, tais como:

»» A quem diga que a pós-modernidade começou com a Revolução Francesa


de 1789.

»» Outros dizem que começou em maio de 1968 na França.

»» Já há os que garantem que foi ao final na segunda guerra mundial.

O tema da pós-modernidade nos coloca de frente com uma temática quase sem solução.

Controverso.

De difícil resposta, mas interessante.

CAPÍTULO 1
Intervenções clínicas e sociais

Em seu livro intitulado “A condição Pós-Moderna” (1979), o escritor francês já


falecido, Jean-François Lyotard, oferece uma releitura de “jogos de linguagem”, termo
originalmente cunhado por Ludwig Wittgenstein, referindo-se a agonística entre esses
jogos.

Na verdade, não chegou a ser um livro, mas sim um relatório encomendado pelo governo
canadense sobre o que seria o conhecimento no futuro. E ao longo dos anos 1980 e 1990
foi muito lido e é o texto fundador da pós-modernidade. Ele que nos dá a primeira

61
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

resposta consistente para o que é a pós-modernidade, assim como a fragmentação, a


multiplicidade de centros e a complexidade das relações.

Pelo link: <http://books.scielo.org/id/gf5mh/pdf/


n a s c i m e n t o - 9 7 8 8 5 7 9 8 3 0 9 8 3 - 0 2 . pdf> o livro/relatório de
Lyotard encontra-se disponível para apreciação.

Lyotard disse que a pós-modernidade é algo bem simples. A pós-modernidade é


simplesmente a constatação de que a ideia de verdade construída lentamente pelos
pensadores modernos faliu.

Tudo que pensávamos que era verdade, hoje, é apenas uma hipótese.

Então, Lyotard diz que a pós-modernidade é um problema do saber filosófico,


consistindo basicamente no seguinte: como eu tenho certeza de que uma teoria é certa
e a outra não.

Ou dizendo de outra maneira: um pensador monta um sistema filosófico; outro monta


um sistema filosófico oposto. Como saber quem está certo? Como definitivamente dizer
quem tem razão. E Lyotard diz: não tem como dizer. Um sistema filosófico substitui
o outro, eles se equivalem ou se digladiam. Salvo erros lógicos, erros factuais, coisas
grosseiras, eliminado tudo isso. O que sobra não tem como decidir.

As nossas velhas certezas, leis históricas, grandes utopias, a ideia de que caminhávamos
necessariamente para um mundo melhor. Que um dia chegaríamos a estação final.
Aquela em que a humanidade estaria redimida dos seus erros passados. A emancipação
dos iluministas. Tudo isto são hipóteses. Nenhuma certeza.

Desde as épocas mais remotas, o ser humano buscou compreender o mundo que o
cerca, conhecendo suas origens. Ao entendermos a Psicologia como um conhecimento
amplo, podemos afirmar que os filósofos da antiguidade, os pré-socráticos eram,
essencialmente, estudiosos da psique e fomentavam a essência da Psicologia, mesmo
que assim não o fossem denominados na época.” Conheci a ti mesmo!”.

A influência dos paradigmas clássicos do método científico é inegável e influenciaram


as ideais e práticas de toda uma época. Oferecendo ao mundo o progresso tão esperado,
com respostas objetivas, liberdade, ordem e justiça social. De acordo com Dahlberg
et al. (2003), o projeto defendido pela modernidade, berço do surgimento da ciência
clássica, compreende – além do progresso contínuo – a proposta de um ser humano
totalmente livre, autônomo, autorrealizado, maduro e racional. Ou seja, a emancipação
e liberdade para o indivíduo, nos aspectos sociais, político e cultural.

62
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

Neste sentido, a constante procura por respostas pautadas no racionalismo, caracteriza


uma forma de pesquisa sobre o ser humano, sua essência e seus aspectos naturais em
sua personalidade. Assim, a díade progresso/tecnologia cria um meio para alcançar
a felicidade. Com base nessas reflexões se mostra clara a difusão e aceitação da
ciência moderna, haja vista, que oferecia em seu paradigma a promessa de ordem,
desenvolvimento e progresso social.

Durante séculos, a civilização acalentava o sonho de ter seus problemas emergentes


resolvidos, tais como: cura de epidemias que dizimavam milhões de vidas; a produção
de alimentos para todos; a busca da equiparação social e justiça e, fundamentalmente,
a superação de mitos e crenças religiosas que, ao longo da história da humanidade
escravizaram a mente humana, privando a produção de um saber que fosse sustentado
por si próprio. O nascimento do método científico foi a resposta tão desejada e por isso
muito bem-vindo. Devemos destacar que esse momento foi marcado pela filosofia de
René Descartes, a Metodologia Cientifica de Francis Bacon, a Teoria Política do Poder
Divino de John Locke e a Teoria Matemática de Isaac Newton.

Figura 32. Da esquerda para à direita, os pensadores precursores do iluminismo: René Descartes, Francis Bacon,

John Locke e Isaac Newton.

Fonte: <http://historiadomundo.uol.com.br/idade-moderna/precursores-do-iluminismo.htm>. Acesso em: 25/2/2018.

Hoje não se come com os olhos, se tira a foto do que se vai comer. E são esperados
likes de aprovação ao nosso prato do dia – ou melhor, ao prato de quem posta a foto
do que vai comer. E subjaz na fragilidade de um self ávido por aprovação do coletivo,
suas carências mais primitivas. Temos os seguimentos da alegria expostos nas médias

63
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

sociais – fitness, comida saudável, autoajuda, maquiagem do dia para ir à feira. Todo
sortilégio de coisas jogadas ao acaso daqueles que biuscam pela facilidade.

O árduo trabalho de construção se perdeu, no meio do consumo. O capitalismo nos


tirou a inocência daquilo que é genuíno, individiual, peculiar. Há modismos que são
seguidos sem que se saiba sequer o motivo.

Não há infelicidade no facebbok, no instagram, no snapchat, ou seja, lá em qual a nova


vitrine da vez. A nova forma de tornar público, o que nos é de mais sagrado, íntimo e
particular.

A era da exposição!

Expomos sentimentos, expomos o corpo, expomos os desafetos. As epssoas fazem lives


para discutir a relação conjugal ou as rusgas de uma separação infeliz. Pedem zoom e
perguntas quantos estão assitindo.

Vamos aplaudir isso?

Devemos nos questionar enquanto psicológos o que não apenas Rogers diria sobre, mas
o que os principais pensadores da Psicologia diriam sobre isso.

Eles não estão aqui. Mas, nós sim! O que podemos dizer sobre isso?

O que vocês dizem acerca disso?

O que ocorre há 1 minuto já é passado. Quantas curtidas Eu e Tu merecemos?

Estamos nos tornando um país com mais idosos. Menos pessoas nascem. Está se
configurando uma nova face nas demandas do social: a terceira idade. E parece que
quando se faz 40 anos entramos para um limbo social no Brasil. É inacreditável que uma
pessoa com mais de 40 anos tenha dificuldades de se recolocar no mercado de trabalho,
pois alguém mais jovem e com menor experiência se torna apto a determinado cargo.

A questão da terceira idade terá que ser revista. Nós, psicólogos, podemos atender
longinquamente. Diferente de um médico cirurgião plástico que necessita da destreza
das mãos; de um jogador de futebol; ou de uma modelo internacional. Contudo, o
médico, o jogador e a modelo compoartilham o vivenciado, a experiência. Eles sabem
como fazer e o que fazer. Aos que chegam cabe aprender.

Nós psicológos observamos o devir da ação em diversos contextos. Somos pesquisadores


do ente, do entre, daquilo que não é visto, mas é sentido.

64
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

O estilo de vida contemporâneo traz muita ansiedade. A rapidez, a demanda, a pressão,


a competição geram muita ansiedade. Mas, há uma tendência também de patologizar
(no sentido de tornar doença) alguma coisa que faz parte a vida.

A tristeza é importante, tem o seu lugar. Embora possa não ser agradável, ela é um
momento de reflexão, de redefinir algumas bases, alguns comportamentos. Contudo, as
pessoas não estão tolerando mais ficar tristes. Não estão se permitindo mais ficar tristes
e demandam pílula para evitar esse sentimento.

Uma pele perfeita, um sorriso absolutamento branco, uma felicidade inesgotável.

A mídia

Ora, existem modelos. Cada uma das épocas da civilização trouxe suas contribuições
com modelos a serem seguidos. Isso não é novo. O novo é a velocidade com que as
informações se espalham.

Modelos de juventude, de disponibilidade, de alegria, de vitalidade e a competição


excessiva e acirrada não permite que a pessoa tenha seu momento de instrospecção, de
tristeza, de regulação organísmica e até as demandas de produtividade. Então, hoje, já
não podemos parar. Temos uma dor de cabeça, um resfriado queremos ficar recolhidos,
passar 2 dias quieto e isso não nos é permitido. Temos que tomar alguém medicamento
para continuar na ativa, continuar produtivo.

Nosso instrumento de trabalho como terapeutas é a nossa escuta, nossa voz, nosso
corpo, nossa cognição, sensibilidade, enfim, nosso Eu. Quando algo ocorre com nosso
Eu como fazer? Continuar, mesmo quando há uma demanda de se reconher ou seguir?
Questões que são pessoais, mas que estão presentes no cotídiano do psicológo.

O mito do super-herói é algo perigoso.

Para Mori (2012) , a dependência de psicofarmacos (ansiolóticos, antidepressivos) vem


sendo estudada ao redor do mundo e constantam que entre 30% da população adulta
(independente de sexo ou classe social) faz uso de algum medicamento.

O que é bastante preocupante, principalmente, considerando os efeitos adversos, os


desdobramentos disso, a dependênciaque esse tipo de medicamento provoca – tanto
física quanto psicológica.

A dor de cabeça, por exemplo – é na maioria das vezes tensional. Ou seja, as pessoas
têm um dia mais exigido, mais disputado, horários corridos, a alimentação dos fast

65
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

foods – ao fim do dia vem a dor de cabeça. E realamente, a dor é uma das principais
causas da procura do atendimento médico e da compra de remédios.

Mas, quando a dor de cabeça está em seu início, há formas de sanar tal desconforto.
Ficando em um local mais escuro, em silêncio. No caso das dores causadas por
tensão. Lógico que há casos de enxaquecas e síndromes que causam dores de cabeça
insuportáveis. Mas, cada caso é um caso e merece ser oservado.

Para utilizarmos uma metáfora: a imagem do Universo comparada a de um grande


relógio, inteiramente determinístico.

Figura 33.

Fonte: <http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2015/02/conheca-o-relogio-de-pulso-que-reproduz-em-tempo-
real-os-movimentos-do-sistema-solar.html>. Acesso em: 25/2/2018.

A necessidade de encontrar e buscar incessantemente verdades é a marca da ciência


moderna, com o crivo do estatuto da cientificidade, garantindo a construção de
conceitos lógicos. Entretanto, o fato de métodos, processos e técnicas serem criados
pelos homens – com a finalidade de permitir controlar alguns fenômenos e criar
outros – não se altera a condição ontológica de inospitalidade no meio e da liberdade
humana.

Segundo Dahlberg et al. (2003), o pensamento e a produção de conhecimentos da


ciência moderna alteraram de forma incontestável a sociedade ocidental do século
XVIII até metade do século XX. Com o passar do tempo, a humanidade percebe que a
ciência moderna não daria conta de compreender esse complexo e amplo universo que
acomoda a complexidade e diversidade da existência humana.

66
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

Mas, não podemos negar que esse pensamento foi um divisor de águas, em relação a
Psicologia enquanto ciência abstrata e que nasceu da Filosofia.

Deste modo, segundo Capra (1983), para a Psicologia, o método científico foi
fundamental, enquanto possibilidade de marcar sua posição e receber a aceitação como
status de ciência. Assim, para conferir seriedade ao objeto de estudo da Psicologia –
o psiquismo – os princípios da mecânica de Newton foram essenciais na busca da
cientificidade.

É nesse sentido que os movimentos da primeira e segunda onda, respectivamente a


Psicanálise de Freud e o Behaviorismo de Skinner, se enquadram no escopo da ciência
positivista.

Assim, a Psicanálise e o Behaviorismo formaram as duas primeiras forças dentro da


Psicologia. Sendo a Psicologia Humanista reconhecida como a terceira força.

O “Retrato de Dorian Grey”, um romance filosófico do escritor e dramaturgo Oscar Wilde,


é uma crítica a sociedade inglesa do século XVIII. Mostra, por meio das personagens
Dorian Grey e Lord Henry, a decadência moral e espiritual da sociedade que aparenta ser
nobre, entretanto, é arrogante e hipócrita. A trama é muito bem construída e apresenta
na figura de Lord Henry a materialização da hipocrisia, pois ele induz os outros a fazer
tudo o que ele mesmo não tem coragem para fazer e verbaliza tudo em que não acredita,
ou seja, é um charlatão. Já Dorian tem em si a arrogância e crenças alimentadas pelo
status social e sua beleza.

Figura 34.

Fonte: <http://revivedmovies.blogspot.com.br/>. Acesso em: 21/02/2018.

67
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

A obra também é uma crítica à valorização exagerada da juventude – nada mais atual!

Acessem ao link <https://www.youtube.com/watch?v=fiP1y60y4uw>.

E tirem suas próprias conclusões acerca do filme. As condições externas desfavoráveis


adoeceram Dorian?

Práticas tidas como comuns e humanas, como a camisa de força, a contenção no leito, as
injeções de leite, os banhos em banheiras com água e gelo o ECT (eletroconvulsoterapia),
começaram a ser questionados ao redor do mundo. Assim, como exemplo de reforma
psiquiátrica podemos citar a Itália. Em contrapartida, como um dos exemplos mais
degradantes no Brasil, temos o Hospital Psiquiátrico de Barbacena, Minas Gerais, no
qual 60 mil pessoas morreram, sendo jogadas em covas coletivas, isso quando seus
corpos não eram vendidos à Universidades de Medicina.

Era um hospital Psiquiátrico Ou um mecanismo de punição do poder autoritário vigente


em nosso país? Esse hospital funcionou por 80 anos.

Estes são os indesejáveis, os que não deviam ser vistos, aqueles que eram dispensáveis
a sociedade e seus bons costumes.

Figura 35.

Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=CVMGZqV2cP4>. Acesso em: 25/2/2018.

A figura 35 é um exemplo da desconstrução e do sucateamento contínuo da tendência


autorealizadora do ser humano. A desconstrução do self. A impossibilidade do exercício
da autonomia.

68
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

Onde colocar as mãos?

Vejam nessas fotos, as mãos não são mãos com um sentido. O esquema corporal dessas
pessoas foi apagado.

Que modelo de atendimento era esse?

Eram pacientes com questões de saúde mental?

Sugestão de leitura: Vigiar e Punir, de Michel Foucault. O livro em pdf está


disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/121335/mod_
resource/content/1/Foucault_Vigiar%20e%20punir%20I%20e%20II.pdf>.

Portanto, no link a seguir são apresentados alguns dados baseados no


documentário intitulado Holocausto Brasileiro, link: <https://www.youtube.
com/watch?v=02KW-64go7E>.

Pode-se afirmar, então, que o processo de aceitação incondicional, no âmbito da clínica,


engloba o olhar incondicional do psicólogo com relação ao paciente, de modo que o
trabalho, nesse âmbito, também consiste no auxílio do profissional buscar facilitar
e elaborar estratégias, que contribuam para que o próprio paciente desenvolva essa
aceitação. Recurso este que envolve a visão que o sujeito atribui a si mesmo, aos outros
e ao ambiente em que vive, tornando possível, assim, o surgimento de um processo
aberto às experiências e transformações. Esse cuidado abre margens para que o
sujeito exerça de modo mais profundo, com a ajuda das ferramentas utilizadas no
contexto psicoterapêutico, a sua habilidade no que se refere à paciência, ao passo que,
consequentemente, pressões externas e internas se aliviam, pois há o rompimento da
ideia incorreta de que conquistas, formas de se pensar e ver as coisas, além do que
se têm, representam fatores os quais definem e estipulam o nosso valor no mundo
(COLLIN et al., 2012).

Outro termo relacionado ao processo de se viver de modo pleno refere-se à autoconfiança.


A partir do momento que o sujeito vai se tornando mais receptivo às questões que estão
ao seu redor, ao mesmo tempo, vai desenvolvendo sua capacidade de confiança em si
e em seus instintos, ficando mais seguro em seus processos de tomada de decisão, ao
passo que também reconhece de modo mais significativo suas próprias competências.
O mesmo, assim, clarifica que sentido o seu “eu” autêntico deseja seguir, algo que, por
sua vez, amplia a possibilidade dele realizar escolhas de acordo com o que realmente
precisa (COLLIN et al., 2012).

Nesse ponto, ressalta-se que ao se comprometer em direção ao cuidado e ampliação da


qualidade de vida da pessoa que adoece física e/ou psicologicamente, os profissionais
69
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

dessa área não devem centralizar o trabalho no combate à doença, mas sim na capacidade
de ação e transformação do sujeito diante dela, contribuindo para que consiga visualizar
e desenvolver novas formas para se viver. No caso das psicopatologias mais graves essa
questão torna-se ainda mais relevante, pois a participação ativa da pessoa, bem como
a consideração relacionada ao potencial que ela tem para se reinventar, pode ampliar
seu bem-estar, ainda que ela esteja diante de situações as quais constantemente lhe
apresente limites (BESSA, 2014; CARVALHO; CUNHA, 2006).

Em Foucault (2006), observamos que o trabalho de atendimento dentro do sistema


prisional – falando do ponto de vista não apenas da da Psicologia, nas de todas as
áreas de interseção nesse espaço de confinamento é bastante contraditório. De um
lado, acabamos respondendo a uma convocação histórica, no lugar que a Psicologia
é colocada enquanto aquela que produz a Psicologia do testemunho, ou seja, aquela
que é capaz de conseguir definir qual é a verdade, principalmente, a verdade tomada
nos processos jurídicos com um peso bastante fundamental; de outro lado, tudo o que
conseguimos conquistar enquanto sociedade brasileira e conquistar enquanto formas
de atuação da Psicologia que visa superar essa visão da Pscilogia do testemunho, no
sentido de nos tornarmos profissionais que, antes de mais nada, são profissionais da
garantia de direitos.

Então, o papel do psicólogo é um papel fundamental no sentido de poder articular redes


de produzir formas de atuação que também dialoguem com políticas públicas que seja e
estajam levadas ao sistema prisional para que façam uma interface com essa instituição
que é tão fechada, no sentido de preservar os direitos humanos os quais esse indivíduo
ainda tem direito.

De acordo com o Estatuto Legal do Aprisionamento, no nosso país, há uma função


declarada da pena a de retribuir o dano que o sujeito cometeu com um ato considerado
delituoso, aliado a um processo que se considera de reinsersão profissional, reintegrção
social desse sujeito. Só que essa função declarada da pena, quem conhece de fato o
sistema prisional percebe que ela está fadada ao fracasso.

Em verdade, o sistema prisisonal brasileiro, assim como o sistema prisional no mundo


todo, acaba sendo um grande espaço de conteção e também de aniquilamento dessas
subjetividades. Utilizamos a terminologia das ilusões re:

»» A ilusão da reabilitação.

»» A ilissão da resocialização.

»» A ilusão da reintegração.

70
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

Como se isso fosse possível dentro de um contexto de alta violação de direitos humanos,
ao ponto que partimos dessa reflexão, sobre o própria papel dessa instituição, que está
nesse contexto como psicológos, e nos coloca diante desse dilema: vou reforçar uma
instituição, vou atuar para que essa instituição continue promovendo esses processos
de niquilamento de individiualidades, porcessos de aviltamento de direitos ou vamos
buscar garantir que ao menos esses sujeitos consigam construir a própria ponte com a
vida aqui fora. Ou seja, construir processos de liberdade.

Esse debate no campo da Psicologia é muito intenso na interface do Direito.

Qual o lugar que ocupamos? Quem é o nosso cliente? A quem devemos atender?
O sistema de justiça que ai está e que, infelizmente, entende que o aprisionamento é
a forma de resorver as questões sociais; ou nós vamos atender de fato a esses sujeitos
que quando olhamos para suas histórias de vida, fica muito claro que são sujeitos que
passaram por diversos movimentos de retirada dos seus direitos, das suas garantias
fundamentais. Então, é este o momento de virada que uma boa parte da nossa categoria
profissional da psicologia se coloca no enfrentamento à própria psicologia que se
construiu naquela relação com a Justiça de forma hegemonica.

Temos aqui um campo bastante complicado, um campo que, infelizmente do ponto de


vista das demandas e anseios sociais, está pautado pela lógica de mais encarceramento,
de penas cada vez mais duras. Ou seja, é um debate altamente punitivista como a
pedra de toque da mudança da própria sociedade brasileira. Como se o processo de
punitivismo pudesse transformar a realidade brasileira.

Segundo Almeida e Weis (1988), num contexto em que três pessoas reunidas toma o
nome de revolução e ler Karl Marx é ser subversivo, podemos assinalar que a década
de 1960, em nosso país não estava convidativa a novas tendências ou movimentos
intelectuais.

Figura 36.

Fonte: <http://praxis-juridica.blogspot.com.br/2016/03/judicializacao-de-politicas-publicas-na.html>. Acesso em: 25/2/2018.

71
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

Mensagens cifradas em músicas, novelas, peças teatrais etc. qualquer produção


intelectual era revisada pelos censores do regime. Pessoas que obviamente não liam
Niettzsche, Freud ou Kant.

<https://www.youtube.com/watch?v=RzlniinsBeY>.

A música Cálice é um exemplo notório de mensagem, uma metáfora ao não


falar, ao se calar.

Mesmo com tudo contra, foi nesse momento histórico que as psicoterapias iniciam seus
primeiros passos no país. Uma busca pela reorganização organísmica? Provavelmente,
quem pode se manter são com receio de sair à rua, de fazer um comentário e ser
ouvido, de estudar algum curso da área de humanas? Pessoas sumiram e não tiveram a
dignidade de serem veladas até hoje.

Assim as mais diversas abordagens psicológicas chegam ao Brasil como um refrigério


mental aos que não aceitavam a forma como o poder estava sendo exercido. Isso
significava o ganho de espaços de subjetividade em um contexto político repressor e
abusivo.

As psicoterapias, então, surgem como um dos poucos espaços de privacidade total para
os adversários do regime; já que no setting havia a possibilidade de serem geradas
novas formas de percepção de self (eu) e do meio ao qual o indivíduo se encontrava
inserido.

Era uma transposição; o microespaço do setting terapêutico ganhava a status de


macroespaço no qual não havia o se cale; mas também não há a obrigatoriedade do fale.
O movimento, o processo vai sendo construído por meio de elementos impregnados
de liberdade e de segurança. Na terapia era possível abarcar o mundo, fazer críticas a
situação do país, a qualidade do ensino, as relações amorosas, ao conceito de família,
as relações extraconjugais etc. tudo poderia ser dito. Dizer sem ser julgado. Isso foi
libertador.

A terapia foi considerada uma prática quase sacrossanta, o novo confessionário. Sem
julgamentos, sem penitências. Mas, também, não era um processo isento de dor. Porém,
era um caminho não repressor.

72
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

Figura 37.

Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=ngmEqwrweiY&list=RDngmEqwrweiY#t=16>. Acesso em: 25/2/2018.

A psicoterapia era a possibilidade de expressar ideias acerca do novo, do que já havia


ocorrido, do que estava por vir. O único risco era se autoconhecer! Não havia nada a se
perder. Ou seja, tudo aquilo que o regime militar buscou combater como a liberdade de
expressão impulsionou o movimento de propagação e crescimento da psicoterapia em
nosso país. Podemos dizer que o consultório psicológico era uma trincheira, um refúgio
seguro em meio a uma guerra de instabilidades e ausência de confiança.

Podemos confiar em nosso psicólogo(a)? No consultório é possível dizer coisas que


mais ninguém pode ouvir.

Não podemos dizer que em 1960, a psicoterapia tinha o alcance que tem na atualidade,
ela ficou restrita por um bom tempo a uma elite reconhecidamente pertencente a classe
mais abastada.

De acordo com Foucault (1975), a psicologia atuou como um equipamento sociopolítico,


em prol da subjetividade. E, para Michel Foucault, a subjetividade é interpretada como
um conjunto de cognições pertencentes ao cerne do ser humano.

O confronto com os padrões impostos por regimes autoritários foi a grande causa da
militância nos anos de 1960. As pessoas estavam mudando, e começaram a questionar
os por quês. Diferentes aparatos de poder constituídos pelos movimentos da massa,
do povo produziram alterações em diversos modos de demonstrar a subjetividade.
Processos de subjetivação cada vez mais intensos passaram a ser experienciados,
contribuindo para o desenvolvimento psicológico.

73
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

A introspecção foi um exercício de autodescoberta de potencialidades. De modo que, ao


se abster das questões do meio e focar em si o indivíduo cresce, e assim pode encarar os
problemas externos – para além de si – com um novo olhar.

Pesquisas recentes que forram feitas como sendo do Conselho Federal de Psicologia
(CFP) – dentre outras – apontam que na atualidade o profissional da Psicologia que
atua exclusivamente com a Psicologia em sua maioria é assalariado. Isso é um dado
interessante que nos mostra que a nossa profissão, que surgiu em 1962 como profissão
regulamentada no território brasileiro, surgia como um caráter de profissional
autônomo, de profissional liberal e que hoje ela está se caracterizando a partir do
assalariamento. Estamos nos proletarizando enquanto profissionais da Psicologia.

Pesquisem no link: <http://site.cfp.org.br/legislacao/codigo-de-etica/>.

E quem nos empega? A maior parte dos profissionais está atuando no campo das
políticas públicas, da saúde, da assistência social, da educação, da Justiça ou atuam em
ONGs – organizações não governamentais o terceiro setor que nós abordamos.

Figura 38.

Fonte: <http://quadro-a-quadro.blog.br/por-uma-forma-pos-moderna-de-pensar-os-quadrinhos/>. Acesso em: 25/2/2018.

De certa forma esses dois polos: da administração direta estatal como de terceiro setor,
percebemos que são formas de atuação ligadas a garantias de direitos.

74
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

Ou seja, a universidade precisa dialogar com essa prática. A Universidade precisa


dialogar com o que hoje está sendo exigido da Psicologia nesses contextos também.

É fundamental que o campo das políticas públicas seja introduzido cada vez mais nos
cursos oferecidos aos psicólogos. Exatamente, por isso temos uma Unidade construida
inteiramente para favorecer a organização de formas pelas quais vocês possam dialogar
com esse campo.

Nota-se que o diálogo reflexivo do profissional, no curso da atividade terapêutica,


constitui um recurso essencial para o desenvolvimento de novos aspectos facilitadores
do processo de experiência da doença, de modo que não anula a capacidade de ação da
pessoa frente aos aspectos de sua vida e não negligência a riqueza de suas vivências,
considerando, assim, todo o sistema global que envolve um processo de adoecimento,
não restringindo tudo aos sintomas. Esse tipo de trabalho pode favorecer seu processo
de desenvolvimento, sendo decisivo para que a experiência se torne uma fonte de novos
espaços relacionais e novas possibilidades, dando margem para a emersão do sujeito no
lugar da vítima incapaz (BESSA, 2014).

Enquanto profissionais da área da saúde, observamos a enorme responsabilidade que


temos em assumir um trabalho tendo por base os princípios da terapia centrada na
pessoa, de modo que possamos visualizar a experiência do adoecimento como mais
uma experiência de vida do indivíduo, o qual pode por meio desse processo crescer
e se transformar, de maneira única e singular. Observamos, portanto, o importante
papel que nós, profissionais da área da saúde, temos ao trabalhar com esses pacientes,
haja vista que possuímos ferramentas e dados cruciais capazes de auxiliar a pessoa na
visualização de alternativas diante das situações que vivencia, contribuindo para que a
mesma se posicione e se torne produtiva nesse contexto.

A liberdade tão falada por Paulo Freire (1993) está diretamente relacionada a
conscientização histórica e social. Isso porque os sujeitos são construídos a partir dos
atravessamentos sociais, históricos e culturais que os marcam.

Assista ao vídeo:

<https://www.youtube.com/watch?v=60c1RapBN7U>.

Com a visão de Freire sobre o processo de ensino aprendizagem, um dos grandes


aspectos do modo de sermos da ação e que implica na visão existencial fenomenológica
é viver o compartilhamento de sentido, a dialógica.

75
UNIDADE IV │ A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE

Compartilhamento este que se dá de várias formas diferentes, mas que em particular,


ocorre inter-humanamente. Ou seja, além de ver a personalidade como um campo vasto
de potencialidade e capacidade a superação e a mudança.

O privilégio do modo de sermos da ação, e este modo, em contraposição com o modo


de sermos do acontecido é o modo de sermos do acontecer; ou seja, o modo fenômeno
ontológico do acontecer representa a sensibilidade, a vontade, os desejos, e o potencial.
Toda uma potencialidade de vivência de forças que se desdobram e que unem em
direção a ação.

Assim, é imprescindível estar atento a como o sujeito experiência uma experiência.


Ou seja, o seu modo de vivenciar um determinado acontecimento. E esse modo sofre
atravessamentos do tempo histórico, da cultura e da sociedade em que o sujeito
vive. O indivíduo vai responder aos acontecimentos a partir das suas condições de
possibilidades, de como é possível para ele responder a esse acontecimento estando no
tempo histórico que ele está, na sociedade que ele está, na cultura que ele vive.

Dessa forma, aceitar a minha experiência é aceitar-me a mim. É me permitir ser o que
sou e sentir o que sinto.

Compreender é, então, deixar que o outro seja quem ele deseja ser, independentemente
das convenções, da avaliação que posso ou não fazer dele. Que essa avaliação seja apenas
a minha opinião sobre ele, sem impor a ele um modo de agir. Dessa forma, estaremos
sendo congruentes com esse outro.

Na maioria das vezes, somos um eu que não somos, isto é, somos o que a sociedade
deseja que sejamos. Fingimos em função do que nos é dito como certo e assim não nos
aceitamos, nos impomos a nós mesmos mudanças, enquanto deveríamos lutar para
deixar cada vez mais exposto quem somos.

O bem-estar ocorre como uma consequência natural ao modo harmônico de


funcionamento adotado pela pessoa, tendo em vista que o já vivenciado não apresenta
mais condição de sustentabilidade. Sendo assim, é justo pensarmos que a mudança
advém da habilidade do ser em restaurar sua saúde, bem-estar, equilíbrio. Já nos
estados patológicos encontramos um movimento em preservar o estado cristalizado de
comportamento alimentando assim o estar doente, a desorganização organísmica, pois
o ser considera que qualquer alteração é consonante com uma mudança no ambiente.
Aqui surge a necessidade do olhar individual sobre a desorganização apresentada por
uma pessoa adoecida. Notemos eu olhar individual não representa a defesa de um olhar
individualista, afinal, este ser está inserido no contexto ambiental como um ser social
que manifesta a patologia. Portanto, não desvinculado da experiência coletiva.

76
A FALÊNCIA DA MODERNIDADE E O PARADIGMA DO PROCESSO DE TRABALHO NA PÓS-MODERNIDADE │ UNIDADE IV

A mudança é uma consequência inevitável do contato, já que assimilar o que é assimilável


nas experiências de troca com o mundo ou rejeitar aquilo que é inassimilável levará
inevitavelmente a uma mudança. Deste modo, seja qual for a experiência que a pessoa
tiver, ocorre uma mudança e novas configurações são feitas em nós, haja visto que o
contato traz a oportunização à ação.

A pergunta principal da obra de Jean-François Lyotard é “o que prova que uma prova é
uma boa prova”. Eu apresento uma prova e vocês apresentam outra. O que prova que a
minha prova é melhor do que a prova de vocês?

Normalmente, nada!

Exacerbação? Sim!

Mas, podemos encontrar falhas lógicas, falhas de raciocínio, falhas de argumentação,


falhas factuais. Porém, quando se trata de pensadores importantes não tem essas
falhas. Então, podemos nos perguntar: quem está certo Kant ou Schopenhauer? Afinal,
Schopenhauer construiu o seu pensamento em oposição a Kant. Quem está certo?
E sobre Hegel? Ele também refutou Kant.

Quem lê um, diz que está perfeito. Tudo foi dito. Até ler o próximo e descontruir tudo
que havia lido, pois a atual leitura é melhor.

O contrário de uma verdade profunda não é necessariamente uma ideia errada ou falsa,
mas possivelmente outra verdade profunda, segundo Pascal.

No terreno das ideias, é possível entender que concepções diferentes podem conviver.

Não somos produtores de verdades absolutas e em conhecimentos somos produtores


de possibilidades.

77
Para (não) Finalizar

Figura 39.

Fonte: <https://missaoposmoderna.wordpress.com/deus-na-pos-modernidade/>. Acesso em: 25/2/2018.

À flor da pele
Sobraram raízes

Daquela paixão

Em forma de voz,

Em forma de tom

Do som do seu riso,

Da falta de siso

Nasceram frutos

Com gosto de orvalho

E troncos tão fortes

Mas galhos tão frágeis

Que isolaram a razão,

78
PARA (NÃO) FINALIZAR

Violaram a emoção

Criaram espaços sombrios

Invadiram meus poros

Trouxeram arrepio

Deixaram minh´alma

À flor da pele

Tiraram minha vida do sério,

Misturando a verdade e o mistério

Rasguei minha alma,

Entreguei-me a um pranto

Que formou mil rios

E em meu desvario

Vi estrelas cadentes

Como beijos ardentes

Sonhei acordada

Caminhei por uma estrada

Que pensei ser o tudo

Mas que me levou ao nada

Lutei, quis fugir,

E não consegui

Voltei aos seus braços

Chorei e sorri

Fui tola e sábia

Ouvi mil palavras

E um castelo montei

A você coroei

Como único Rei

79
PARA (NÃO) FINALIZAR

E a mim proclamei

Sua abelha rainha

O amor recendia

A paixão renascia

E reinava a alegria

Mas, ao certo não sei,

Se vivi ou sonhei
Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura

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