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linguagem
A política é um lugar por excelência, da eficácia simbólica, ação que se exerce por sinais
capazes de produzir coisas sociais e sobretudo, grupos. Pelo poder dos mais antigos efeitos
metafísicos ligados ao simbolismo, a saber, aquele que permite que se tenha tudo que pode
ser significado (Deus ou não-ser), a representação política produz e reproduz a cada instante
uma forma derivada de argumento do rei calvo na França que é caro aos lógicos: todo
enunciado predicativo que tenha como sujeito a classe operária – qualquer que seja dissimula
um enunciado existencial (há uma classe operária). De modo mais geral todo enunciado que
tem como sujeito coletivo, povo, classe, universidade, escola, estado, supõem resolvido o
problema da existência do grupo em questão e encobrem essa espécie de – falsificação da
escrita metafísica – que foi possível denunciar no argumento ontológico. O porta-voz é aquele
que ao falar em um lugar de um grupo, põe sub-repticiamente, a existência do grupo em
questão, institui este grupo pela operação de magia que é inerente a todo ato de nomeação.
É por isso que é preciso proceder a uma crítica da razão política intrinsecamente dada abuso
de linguagem, que são abusos de poder
O autor abandona de vez a busca da metafísica pela linguagem. Pois a lógica não
representa uma essência metafísica. A lógica é encontrada em uma variedade de jogos. A lógica
está presente na gramática e para a operacionalização da lógica se dar não passa pelo âmbito
ontológico (o que é linguagem). A lógica que possibilita as regras da linguagem surge tão somente
do consenso dos jogadores do jogo.
O jogo de cartas é um excelente exemplo para associar com a linguagem. No jogo, os
participantes precisam entender o valor de cada carta. Além do momento de jogar. Antes de haver
um vencedor ou perdedor no jogo; há o consenso racional de suas regras e da forma como deve
ser jogado. A expressão "cartas na manga", significa trapaça na linguagem popular. Em outras
palavras, quando um indivíduo burla as regras para se beneficiar no jogo, este está utilizando se
excedendo na jogatina, e consequentemente, na linguagem. Pertinente lembrar, pela citação
supramencionada de Bordieu: abuso de linguagem é abuso de poder[8].
Se possível fazer uma associação entre o jogo das regras de linguagem de Wittgenstein
com as teorias de Kelsen (interpretação autêntica) e Habermas (Agir comunicativo).
Provavelmente, podemos concluir que no jogo de Kelsen não é democrático. É um jogo
considerado excludente, pois, ainda que se tenha um entendimento sobre o ordenamento jurídico
positivo e a partir dele desenvolver uma interpretação adversa considerando que o fato de não ter
a competência destinada de quem pode interpretar (interpretação não-autêntica). Logo, não é um
jogo participativo, mas um jogo de obediência. Nesse jogo apenas é pedido que seja compreendido
a interpretação vinculadora – que cria direito.
Na associação de Habermas (agir comunicativo) com o jogo de Wittgenstein - é possível,
enfim, concluir que na teoria do referido autor, certamente o jogo é participativo. Implicando que o
jogo de linguagem é estruturador na medida em que preocupa-se em operacionalizar a efetiva
participação de todos que jogam na democracia. Proliferando assim, a linguagem com o poder.
Como visto anteriormente: abuso de linguagem é abuso de poder. E segundo a teoria de Habermas:
efetivar maior participação de linguagem possível.
Até então, foi discutido sobre linguagem. Contudo, até agora, a linguagem foi tratada
mediante estruturalismo e formalismo. Conveniente, portanto, invocar a outra filósofa da linguagem
Julia Kristeva em sua obra a história da linguagem. A autora além da busca ontológica da linguagem
(o que é a linguagem), ela finalmente propõe outra premissa: "como a linguagem deve ser
pensada[9]"
A língua é a parte social da linguagem, no caso, é um sistema autônomo de signos
combinados por leis específicas. A conclusão da autora sobre a emissão e recepção da linguagem
é pertinente ao presente trabalho acadêmico:
Feito a devida colocação de Bobbio. Podemos fazer uma crítica à teoria pura do direito pela
preocupação exuberante de sua estrutura e não de sua função. A preocupação excessiva na
ontologia da norma jurídica e dos seus conceitos normativos: "A análise estrutural permite
desmascarar tomadas de posição política que se alojaram nos conceitos tradicionais
aparentemente neutros da ciência do direito[13]"
O agir comunicativo, tendo como critério o que Bobbio afirma sobre a estrutura, a tese de
Habermas também recebe sua devida crítica. Afinal, a preocupação com a participação é tão
somente estruturante travestida de pragmatismo. No entanto, o problema segundo Bobbio não é a
estrutura, mas a finalidade. A sua função deve ser clara e objetiva para qualquer destinatário da
norma.
É certo que o Direito é escravo da linguagem[14]. E quando se propõe: “como a linguagem
deve ser pensada”, logo: “como o direito deve ser processado”. Pois a existência do direito faz parte
da linguagem. E se houver algum critério em como efetivar o direito; certamente transcende ao
estruturalismo jurídico. Há um ditado popular: "O sábio aponta para a lua, o tolo olha para o dedo".
Precisamente, o que os juristas tendem a fazer é promulgar uma formalidade excessiva. A forma
finalística parece esquecida entre os acadêmicos jurídicos.
Sobre o distanciamento da realidade pelo formalismo e tecnicismo. Carlos Alberto Alvaro
de Oliveira conduz a seguinte linha de pensamento: a pretensão de criar o direito descomprometida
com qualquer cultura e realidade social:[15]
Referências:
BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos da teoria do direito. Barueri: Manole,
2007
CONDE, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein - linguagem e mundo. São Paulo: Annablume, 1998
NOTAS:
[1] BOURDIEU, Píerre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1989, p.10
[2] Ibidem, p. 14
[3] CONDE, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein - linguagem e mundo. São Paulo: Annablume,
1998, p. 51
[4] Ibidem, p; 54
[5] Ibidem, p; 59
[6] Ibidem, p. 60
[7] Ibidem, p.112
[8] BOURDIEU, Píerre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1989, p. 74
[9] KRISTEVA, Júlia. A história da linguagem. Lisboa. Edições 70. 2003, p. 15
[10] Ibidem, p. 18
[11] MATURNA. Humberto. A árvore do conhecimento. As bases biológicas da compreensão
humana. São Paulo: Palas Athenas, 2006, p. 86
[12] BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos da teoria do direito. Barueri:
Manole, 2007, p. 54
[13] Ibidem, p. 56
[14] CALMON DE PASSOS, J. J. Instrumentalidade do processo e devido processo legal. Revista
de processo, v. 102, São Paulo, 2001, p. 65-66
[15] OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro. Do formalismo no processo civil: proposta de um
formalismo-valorativo. 4 ed. rev. São Paulo: Saraiva. 2010, p. 18