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RIC

FAAO - FACULDADE DA AMAZÔNIA OCIDENTAL

REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FACULDADE


DA AMAZÔNIA OCIDENTAL
Vol. XII – Fevereiro – 2016
ISSN 2236-4773

FAAO Rio Branco - AC Vol. XII n. 1 p. 001-122 Fevereiro 2016


FAAO - FACULDADE DA AMAZÔNIA OCIDENTAL
Diretor Geral
Luiz Antônio Campos Corrêa
Vice - Diretor Geral
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Direito
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Coordenação Geral de Publicação
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Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2)


FICHA CATALOGRÁFICA
R454r Revista de Iniciação Científica da Faculdade da Amazônia
Ocidental/ Faculdade da Amazônia Ocidental, v. 12, Fevereiro (2016) – Rio Branco:
FAAO, 2016.
Publicação Semestral
ISSN: 2236-4773
1. Pesquisa Científica. 2. Produção Científica. I. Faculdade da Amazônia Ocidental.
CDD 001. 05
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Profa. Terezinha Campos Corrêa – FAAO
Bibliotecária Irene de Lima Jorge CRB 11ª/465

Produção Gráfica
Letra Capital Editora
www.letracapital.com.br

CORRESPONDÊNCIA

Faculdade da Amazônia Ocidental – Diretoria Acadêmica


Estrada Dias Martins, 894 – Bairro Chácara Ipê
Cep: Rio Branco – AC
direcaoacademica@faao.com.br
www.faao.com.br
Sumário

ADOÇÃO POR PESSOA OU CASAL HOMOSSEXUAL...................................... 7


Andressa Queiroz da Silva
Saimo Gabriel Mota de Souza

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUA


IMPORTÂNCIA NA VERIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO
ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS EMPRESAS................................................27
Ana Caroline da Silva Castro
Rogério de Souza Campos

AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E A REDUÇÃO


DA MAIORIDADE PENAL................................................................................33
Ketlyn Catrine dos Santos Arruda
Adel Malek Hanna

DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: A IMPORTÂNCIA


DA FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO....... 46
Lorena Vidal Calid
Priscyla Oriane Brasileiro

GESTÃO DA CIDADE PELA PARTICIPACÃO POPULAR – UMA


ANÁLISE DO ATUAL PLANO DIRETOR DE RIO BRANCO.............................. 55
Ana Maria Cardoso Cunha Araújo
Nélio Domingues Pizzolato

INSERÇÃO DE ADOLESCENTE EM ATOS INFRACIONAIS:


UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO OU ANÁLISE DESCRITIVA
DO CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
E REINCIDÊNCIA.............................................................................................64
Elica Oliveira da Silva
Rosangela de Souza Silva
Ionara Fonseca da Silva Andrade
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS
E ADOLESCENTES NA CIDADE DE RIO BRANCO/AC................................... 78
Izabel Cristina Contreiras Machado
Jara Isla Barbosa Rogrigues

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO DE MICRO E PEQUENAS


EMPRESAS COM ÊNFASE EM EMPRESAS PRESTADORAS
DE SERVIÇOS CONTÁBEIS..............................................................................90
Adevângela da Silva Fernandes Mesquita
Nataly da Silva Gonçalves Alencar
Raone José Souza Maia

ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL APLICADA A MICRO E PEQUENAS


EMPRESAS.....................................................................................................103
Jessica Campos Borel
Maria de Fátima Rodrigues dos Santos

A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA COOPERATIVA DE SAÚDE


DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO CORPO DE BOMBEIROS
DO ESTADO DO ACRE (CBSAÚDE) PARA OS MILITARES
DA CIDADE DE RIO BRANCO.......................................................................113
Bárbara Heliodora Bandeira Bezerra
Francisca Vânia Sabino
ADOÇÃO POR PESSOA OU CASAL
HOMOSSEXUAL.
Andressa Queiroz da Silva 1
Saimo Gabriel Mota de Souza 2

Resumo: Este trabalho tem como objetivo mostrar que não há nenhum tipo de
impedimento legal e moral para a efetivação do projeto parental e de exercer a
parentalidade, através da adoção, de casais formados por pessoas do mesmo sexo.
Para isso foi necessário utilizar as legislações brasileiras e levar em consideração o
reconhecimento dos direitos de homossexuais. O trabalho realizado foi feito atra-
vés de pesquisas bibliográficas e no Núcleo de Apoio Técnico às Varas de Infância
e Juventude da comarca de Rio Branco/AC. A pesquisa revela que apesar de não
haver nenhum impedimento nas leis para a adoção, a sociedade não aceita-a, devi-
do à cultura cristã enraizada, que gera preconceitos, e devido a esse fator alguns
juízes de Direito acabam indeferindo esses processos de adoção. Mas, com a deci-
são do Supremo Tribunal Federal (STF) de 5 de maio de 2011, a união estável de
casais homoafetivos e a entidade familiar homoafetiva foram reconhecidos, foram
concedidos direitos e benefícios para eles como a adoção.
Palavras-chave: Família homoafetiva. Adoção por homossexuais. Direito homopa-
rental.

Abstract: This paper aims to show that there is no legal impediment and moral
for the realization of the project and to exercise parental parenting by adopting
couples formed by persons of the same sex. This required using the Brazilian
legislation and take into account the recognition of gay rights. The work was
done through literature searches and the Center for Technical Support sticks
Childhood and Youth of the district of White-Ac River. The research reveals
that although there is no impediment in law to adopt, society does not accept
due to rooted Christian culture that generates prejudice and because of this
factor some judges end up rejecting these adoption processes. But with the de-
cision of the Supreme Court (STF) of 5 May 2011, the stable union of homosex-
ual couples and homosexual family unit were recognized, rights and benefits
has been granted to them as adoption.
Key-words: Homosexual family. Adoption by homosexuals. Homoparental right.

1
Graduanda em Serviço Social na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO); graduanda de
Licenciatura em Letras Vernáculas na Universidade Federal do Acre (UFAC).
2
Especialista em Gestão de Políticas Públicas com ênfase em relações etnorraciais e de gênero
pela Universidade Federal de Ouro Preto; especialista em Gestão de Saúde no Sistema Prisional
pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; graduado em Serviço Social pelo Instituto de
Ensino Superior do Acre (IESACRE).

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INTRODUÇÃO
No dia 5 de maio de 2011 o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu em
regime jurídico que a união estável passará a valer também para casais ho-
mossexuais, de acordo com o novo Código Civil. Assim, além do direito de
reconhecimento de união por casais formados por pessoas do mesmo sexo,
os mesmos direitos garantidos às uniões estáveis consideradas “normais” pela
sociedade passaram a valer para casais de uniões homoafetivas.
Além do direito à herança, divisão de bens, licença médica, pensão pre-
videnciária em caso de morte para viúvo/viúva, pensão alimentícia em casos
de divórcio, inclusão em planos de saúde e outros benefícios, casais homosse-
xuais também poderão adotar.
Neste artigo faremos um breve histórico do processo de adoção no Brasil,
bem como as suas legislações e faremos um diálogo com os direitos dos ho-
mossexuais que estão sendo violados, para assim mostrar os benefícios que a
adoção por esse grupo acarretará para eles mesmos e para as crianças/adoles-
centes que estão em situação de abrigamento ou de vulnerabilidade.
Não existe nenhum impedimento quanto à adoção por pessoa ou casal
homossexual, entretanto percebemos que ainda existem atitudes com precon-
ceitos gerados por hipóteses sem bases científicas. Deve-se questionar se é
melhor dar um lar que atenda às necessidades de crianças/adolescentes com
uma figura paterna/materna que seja um homossexual ou deixá-los em casas
de acolhimento, “invisíveis” e sem chances de desenvolverem outras capacida-
des porque os pretendentes à adoção são homossexuais.
A relevância deste artigo encontra fundamentos na busca pela redução de
preconceitos existentes a respeito da homossexualidade e da prática da ado-
ção, e a efetivação do princípio de igualdade trazida pela Constituição Federal
Brasileira.

1. METAMOFORSES DA FAMÍLIA
Quando pensamos no significado da palavra família, a cena de gênero
familiar que logo nos vêm em mente é aquela família de formato tradicional
composta por um pai, uma mãe e seus filhos. Entretanto, diante das transfor-
mações ocorridas ao longo do tempo, sejam elas por influências econômicas,
políticas, sociais ou ideológicas, a família acabou adquirindo novas conotações
conceituais e, consequentemente, estruturais. E aquelas que não têm esse for-
mato tradicional, denominado por Phillipe Ariés (1981) como família burgue-
sa, passam a sofrer preconceitos e repressão por serem consideradas desajus-
tadas e desestruturadas.
O Dicionário Silveira Bueno conceitua família como “conjunto de pai, mãe e
filhos; pessoas do mesmo sangue; descendência; linhagem” (BUENO, 2007, p.
347), e podemos perceber que o conceito usado pelo autor é arcaico e caiu em

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desuso, uma vez que existem famílias que podem ser compostas apenas pelo
pai e seu filho e que podem nem compartilhar o mesmo sangue ou linhagem.
Estamos falando de novos formatos de família que surgiram.
A família, segundo a Política Nacional de Assistência Social, é um grupo
de indivíduos unidos por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade,
que mantêm uma dependência econômica e compartilham obrigações recí-
procas para sua sobrevivência e reprodução. (BRASIL, 2004, p. 41).
A família nem sempre teve os atuais formatos e funções. Friedrich Engels
(1981) em seu livro A Origem da família, da propriedade privada e do Estado, trata
dessa evolução da sociedade passando pela fase do estado selvagem, da barbá-
rie até a civilização com base no trabalho de Morgan; assim, de acordo com
ele, é possível reconhecer quatro modelos de família: família consanguínea,
família punaluana, família sindiásmica e a família monogâmica.
Segundo Engels, o termo “família” vem de fumulus que é uma expressão
criada pelos romanos, que denominavam o escravo doméstico em um novo
organismo com um chefe que exercia poder sobre a mulher, os filhos e os
escravos. Mas, com o tempo o termo “família” passou a ser designado para
diferentes grupos sociais do que era inicialmente. Assim, as famílias

ao longo da História, não tiveram necessariamente a reprodução quoti-


diana ou geracional como função específica ou exclusiva e, em muitos
momentos desempenharam simultânea e prioritariamente, funções po-
líticas e econômicas (BILAC, Elisabete. In: CARVALHO, 2003, p. 31).

A família, segundo Morgan, “é um elemento ativo; nunca permanece es-


tacionária, mas passa de uma forma inferior a uma forma superior, à medi-
da que a sociedade evolui de um grau mais baixo para outro mais elevado”
(ENGELS, 2002, p. 34).
Destarte, torna-se dificultoso conceituar o termo família, entretanto, como
diz Bilac (2003), generalizar toda organização social historicamente formada
com o termo “família” é ignorar suas diferenças na reprodução social.
A família consanguínea, segundo Engels (1981), foi a primeira etapa da
família, e essa fase é caracterizada pelo casamento entre irmãos e irmãs car-
nais e colaterais de um grupo. Havia uma relação carnal mútua entre todos os
membros da família, e dessa relação excluíam-se apenas pais e filhos; todos os
avôs e avós eram maridos e mulheres entre si, bem como os netos, bisnetos,
irmãos e irmãs.
A segunda etapa da família foi a punaluana e sua principal característica
são os relacionamentos conjugais ou matrimônio por grupo. Nesse estágio de
organização familiar ocorre a exclusão das relações sexuais entre os irmãos
uterinos e depois as dos irmãos colaterais.
Segundo Engels, essa evolução ocorreu paulatinamente.

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Foi ocorrendo pouco a pouco, provavelmente começando pela ex-
clusão dos irmãos uterinos (isto é, irmãos por parte de mãe), a prin-
cípio em casos isolados e depois, gradativamente, como regra geral
(...) e acabando pela proibição do matrimônio até entre irmãos co-
laterais (quer dizer, segundo nossos atuais nomes de parentesco, en-
tre primos carnais, primos em segundo e terceiro graus) (ENGELS,
2002, p. 42).

Nessa fase os grupos de mulheres que formavam um núcleo ou gens, que


eram “a base da ordem social da maioria, senão da totalidade, dos povos bár-
baros do mundo” (ENGELS, 2002, p. 42), tinham maridos em comum com o
outro grupo formado pelos homens, mas seus irmãos eram excluídos. Nessa
etapa começam a serem formadas as linhagens ou sistema de parentesco, pois
todos têm um tronco em comum, o materno. Surge também a categoria de
sobrinhos e sobrinhas, de primos e primas.
No caso da família sindiásmica, terceira etapa da família, apesar de ainda
haver o casamento por grupos, é marcada pelos matrimônios por pares, onde
o homem possuía uma mulher principal entre o grupo de esposas, e a mulher
considerava esse homem como marido principal dentre todos os esposos do
grupo. Mas, mesmo tendo esse marido ou esposa principal ocorria a prática
do adultério. A poligamia e infidelidade eram consideradas direitos dos ho-
mens; já no caso das mulheres, eram punidas severamente caso o praticassem.
Engels considera que foi nesse período da família sindiásmica que surgiu
a origem da propriedade privada; o homem passou a viver com uma mulher,
mas havia poligamia no caso dos homens e exigia-se fidelidade da mulher, por
motivos econômicos. Antes, se considerava a linhagem materna, mas com o
advento da propriedade privada a formação da família passa a submeter-se ao
poder paterno, uma vez que as riquezas e bens gerados pelo pai são deixados
para os filhos.
Origina-se da família sindiásmica a quarta etapa da família, a família mono-
gâmica. Nela, continua a submissão da mulher ao poder paterno, os matrimô-
nios têm uma duração maior e somente o homem poderia terminá-la; da mu-
lher ainda se exige a fidelidade “que é monogamia só para a mulher, e não para
o homem. E, na atualidade, conserva-se esse caráter” (ENGELS, 2002, p. 65).
O principal objetivo dessa evolução da família é a procriação de filhos e
que não haja dúvida sobre a paternidade, ou seja, a criação de herdeiros para
que esses possam herdar os bens do genitor, líder e chefe de família.
Segundo Engels, essa foi a primeira formação da família que não ocorreu
por condições naturais, e sim econômicas. Fica claro que a origem dessa famí-
lia não é resultado do amor individual, mas porque o homem passa a valori-
zar mais a propriedade privada, bens e posses individuais que a propriedade
comum primitiva.

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Essa foi a origem da monogamia, tal como pudemos observá-la no
povo mais culto e desenvolvido da antiguidade. De modo algum foi
fruto do amor sexual individual, com o qual nada tinha em comum,
já que os casamentos, antes como agora, permaneceram casamentos
de conveniência. Foi a primeira forma de família que não se baseava
em condições naturais, mas econômicas, e concretamente no triunfo
da propriedade privada sobre a propriedade comum primitiva, origi-
nada espontaneamente (ENGELS, 2002, p. 67).

Outro trabalho feito sobre a evolução da família é o de Philippe Ariès


(1981) no livro História Social da Criança e da Família, onde o autor analisa
iconografias3 para descrever as mudanças que ocorreram com o formato e a
concepção de família da idade medieval até a idade moderna.
Conforme Ariès, para que se faça uma análise da iconografia da família é
necessário fazer uma análise também do papel da criança, pois “(..) a criança
se ligava a essa necessidade outrora conhecida de intimidade, de vida familiar,
quando ainda precisamente, de vida ‘em família’” (ARIÈS, 1981, p. 134), o sen-
timento de família surge junto com o sentimento da infância. As iconografias
que antes eram dos meses do ano passam a ser sobre a família,

o novo lugar assumido pela família na vida sentimental dos séculos


XVI e XVII. É significativo que nessa mesma época tenham ocorrido
mudanças importantes na atitude da família com a criança. A família
transformou-se profundamente na medida em que se modificaram
suas relações internas com a criança (ARIÈS,1981, p. 154).

No final do século XV, as crianças entre sete e nove anos de idade, de am-
bos os sexos e de qualquer classe social eram tiradas de seu lar e se tornavam
aprendizes na casa de outra família para que pudessem aprender um ofício ou
profissão, e boas maneiras. Existia um mestre, e esse mestre era o responsável
pela passagem de conhecimento ao aprendiz, pois ainda não existiam escolas
para que a aprendizagem ocorresse. Muitas vezes essa aprendizagem era con-
fundida com os serviços domésticos.

Assim, o serviço doméstico se confundia com a aprendizagem, como


uma forma muito comum de educação. (...) Era através do serviço do-
méstico que o mestre transmitia a uma criança, não ao seu filho, mas
ao filho de outro homem, a bagagem de conhecimentos, a experiência
prática e o valor humano que pudesse possuir (ARIÈS, 1981, p. 156).

Segundo o autor, o fato de as crianças serem tiradas de seu lar significava


3
Iconografia, descrição e conhecimento de imagens, retratos, quadros ou monumentos,
particularmente dos antigos (BUENO, 2007, p. 416).

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que não tinha como crescer um sentimento de família, mas não significa que
os pais não os amavam: “A família era uma realidade moral e social, mais do
que sentimental” (ARIÉS, 1981, p. 158).
É a partir do século XV que isso começa a mudar, e essa mudança ocorreu
junto com a criação das escolas. Segundo o autor, o fator responsável pelo
desenvolvimento do sentimento de família é a volta das crianças para casa
graças à escola. Agora, as crianças eram educadas pela escola, que antes era
restrita aos clérigos, e assim podiam voltar para seus lares. A escola surge não
somente pela necessidade de normatizar a educação, mas também para que os
pais mantivessem seus filhos mais perto; a criança passa a ser protagonista nas
relações familiares que passaram a ser mais sentimentais.

O clima sentimental era agora completamente diferente, mais próxi-


mo do nosso, como se a família moderna tivesse nascido ao mesmo
tempo que a escola, ou, ao menos, que o hábito geral de educar as
crianças na escola (ARIÈS, 1981, p. 159).

Assim, sobre essa mudança o autor adiciona ainda que “esse fenômeno
comprova a transformação considerável da família: esta se concentrou na
criança, e sua vida confundiu-se com as relações cada vez mais sentimentais
dos pais e filhos” (ARIÈS, 1981, p. 160).
É entre o final da Idade Média e os séculos XVI e XVII que a criança
ganha um espaço no seio familiar, o que não era possível anteriormente
devido ao período de aprendizagem em que ficavam nas casas de outras famí-
lias. A criança tem papel determinante para o nascimento e desenvolvimento
do sentimento de família com o seu retorno para o lar.

A criança tornou-se um elemento indispensável da vida quotidiana, e


os adultos passaram a se preocupar com sua educação, carreira e fu-
turo. Ela não era ainda o pivô de todo o sistema, mas tornara-se uma
personagem muito mais consistente (ARIÉS, 1981, p. 189).

Segundo Ariès, a partir do século XVII surge a principal característica


que diferencia a família medieval das demais, e essa família ainda mantinha
uma forte sociabilidade, ou seja, a família ainda era muito influenciada pelas
relações sociais que eram externas a ela, da sociedade. No século XVIII, a
família começa a se distanciar da sociedade e a “organização da casa passou
a corresponder a essa nova preocupação de defesa contra o mundo” (ARIÈS,
1981, p. 185). As relações sociais começaram a se internalizar para dentro de
casa, se particularizar.
A família moderna, ao se distanciar do mundo e da sociedade, começa a se
preocupar cada vez mais com a criança, com sua educação e seu futuro. Mas

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essa mudança não ocorreu da mesma forma e no mesmo momento em toda
as classes sociais.

Essa evolução da família medieval para a família do século XVII e


para a família moderna durante muito tempo se limitou aos nobres,
aos burgueses, aos artesãos e aos lavradores ricos. Ainda no início
do século XIX, uma grande parte da população, a mais pobre e
mais numerosa vivia como as famílias medievais, com as crianças
afastadas da casa dos pais. O sentimento de casa [...] não existia
para eles. O sentimento da casa é uma outra face do sentimento de
família. A partir do século XVIII, e até nossos dias, o sentimento da
família modificou-se muito pouco. Ele permaneceu o mesmo que
observamos nas burguesias rurais ou urbanas do século XVIII. Por
outro lado, ele se estendeu cada vez mais a outras camadas sociais
(ARIÈS, 1981, p. 189).

A família contemporânea, entretanto, foge ao formato tradicional, se-


gundo Simões (2012, p. 198): temos a família natural, de origem, biológica ou
consanguínea que são “a comunidade formada pelos pais e seus filhos, con-
juntamente ou não com avós, netos e tios”; a família monoparental é aquela
formada pela “mãe ou pai, um sem o outro, com seus filhos”; a família anapa-
rental, que são aquelas formadas “de familiares sem os pais, constituídas
por irmãos, tios, sobrinhos, primos e outros, podendo incluir pessoas sem
parentesco, em que a descendência biológica não é essencial e sim o vínculo
afetivo”; famílias homoafetivas “constituídas por pessoas do mesmo sexo, que
vinculam por laços de afetividade, de maneira pública, duradoura e contí-
nua, dentro de um contexto familiar análogo ao do casamento”; e a família
substituta “aquela em que é colocada a criança ou adolescente por meio de
guarda, tutela ou adoção”.
A família contemporânea é fruto de diversas transformações que são
exteriores a elas, mas que afetam as relações familiares e sociais, pois “a
família não é uma totalidade homogênea, mas um universo de relações dife-
renciadas, e as mudanças atingem de modo diverso cada uma das partes da
relação” (SARTI, A. Cynthia. In: CARVALHO, 2003, p. 39).
Assim, podemos perceber uma mudança também da função da família

Os grupos familiares surgiram, originalmente, para a proteção dos


indivíduos contra as ameaças externas, inicialmente físicas, depois
econômicas e políticas. Hoje, a família ainda tem essa função, só que
ela não é mais física, externa; é psicológica, compreendendo o sen-
timento de segurança, de apoio, de cooperação, de solidariedade e
de afeto, tão indispensáveis aos seres humanos, principalmente, pela
compartimentalização dos conhecimentos, pela impessoalização, pas-

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sando a ter relevância, em cada situação, apenas por aquela parcela de
si indispensável ao funcionamento daquela determinada engrenagem
(SAPKO, 2011, p. 66).

Os acontecimentos históricos que mais atingiram a família foram o pro-


cesso de industrialização e, juntamente com ele, o êxodo rural, mas principal-
mente a inserção da mulher no mercado de trabalho modificou as relações
familiares, transformando também a economia, a política, as relações sociais
e a ideologia da época.
Para Sylvia Laser de Mello (2003), a família é um aglomerado de pessoas
unidas por laços afetivos e consanguíneos que mantêm uma mútua depen-
dência e se ajudam em momentos de necessidade. Assim, a autora defende
que a família é mais ampla que o conceito de família tradicional que é tão
comumente apresentado, ela tem três tipos de laços:

a família nuclear própria; a família composta por várias famílias nu-


cleares que, por questões de sobrevivência, habitam juntas; a família
que inclui parentes de parentes e compadres sem laços consanguí-
neos. (MELLO, S. L. In: CARVALHO, 2003, p. 54).

A autora Heloisa Szymanski fala que ao analisar essas famílias, sejam


os arranjos familiares passados ou os novos, não devemos esquecer de que
cada um possui valores marcados pelo seu tempo e que cada uma delas cria
uma “cultura própria”, sendo assim não podemos impor um modelo e nem
gerar julgamento de valores àquelas famílias consideradas “diferentes” e
“desajustadas”.

Cada família circula num modo particular de emocionar-se, criando


uma ‘cultura’ familiar própria, com seus códigos, com uma sintaxe
própria para comunicar-se e interpretar comunicações, com suas re-
gras, ritos e jogos. Além disso, há o emocionar pessoal e o univer-
so pessoal de significados. (SZYMANSKI, Heloisa. In: CARVALHO,
2003, p. 25).

Passar a compreender a família através dos vínculos afetivos e da re-


lação de amor entre seus membros trará “sem dúvida, [...] profundas mo-
dificações nas relações interpessoais, especialmente nas relações entre os
gêneros” (SZYMANSKI, H. In: CARVALHO, 2003, p.26), um passo inicial
para que deixemos de lado conceitos preconcebidos contra esses novos
arranjos familiares.

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2. FAMÍLIA NO CONTEXTO DA ADOÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Conforme o artigo 127 da Constituição Federal brasileira, a convivência
familiar é um dos direitos fundamentais do cidadão, e, sendo assim, crianças
e adolescentes incluídos nessa categoria têm de usufruir desse direito cujos
responsáveis para sua efetivação são a família, a sociedade, a comunidade e o
Estado (BRASIL, 1988).
Como nem sempre a família biológica é capaz de dar a essas crianças e
adolescentes, reconhecidos como sujeitos de direito, um lar saudável, longe de
dependentes químicos e drogas, maus-tratos e abuso sexual (Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente, art. 19 e 130), foi assegurada através de ações e medidas ju-
diciais e extrajudiciais a concretização de seu direito de viver em família, mesmo
que ela seja substituta. Dentre essas ações e medidas judiciais e extrajudiciais
podemos citar a guarda, a tutela e a adoção (Estatuto da Criança e do Adoles-
cente, art. 28).
Vale ressaltar que a criança ou adolescente são retirados da família quan-
do for constatado que encontra-se em situação de risco pessoal ou de vulnera-
bilidade social. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) rege pela rein-
serção destes para sua família natural, e privilegia a permanência da criança
ou do adolescente na sua família de origem ou família extensa e, em última
estância, em família substituta “sem qualquer vínculo de parentesco, mas que
ofereça ambiente familiar adequado e tenha uma relação de afinidade ou afe-
tividade com a criança ou o adolescente” (FERREIRA, 2010, p. 22).
A adoção é uma medida excepcional regulamentada no Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente, do artigo 39 ao 52-D, cujo objetivo é fornecer um ambien-
te familiar adequado para que a criança ou adolescente cresça e se desenvolva
como pessoa cidadã e de direitos. O Estatuto da Criança e do Adolescente
em seu artigo 41 define adoção como a “condição de filho ao adotado, com
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de quais-
quer vínculos com pais e parentes, salvos os impedimentos matrimoniais”
(BRASIL, 2013, p. 19).
Muitos consideram o processo de adoção muito burocrático, entretanto
ele é necessário para garantir a segurança de crianças e adolescentes e evitar
ou minimizar adoções problemáticas ou malsucedidas. Existem dois processos
para se poder adotar uma criança ou adolescente: o primeiro é a habilitação
para adoção, e o segundo é a adoção. O início do processo de habilitação para
adoção inicia-se através do preenchimento de um cadastro de pretendente,
juntamente com a cópia de alguns documentos na Vara de Infância e Juventu-
de, cujos modelos serão apresentados anexos a este trabalho.
O processo de habilitação e de adoção não faz qualquer restrição quanto ao
estado civil, cor, sexo, classe social ou orientação sexual do perfil do requerente; é
necessário apenas ter 18 anos e não ser irmão ou um dos avós do adotando. Neste

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


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caso, o irmão ou avós apenas recebem a guarda ou a tutela já que a adoção tem o
objetivo de dar uma família para crianças e adolescentes e não gerar conflitos na
relação de parentesco.
Têm-se como os principais requisitos da adoção, segundo o Estatuto da
Criança e do Adolescente e o Código Civil (artigos 1.618º, 1.619º, 1.620º e
1.622º):
• idade mínima de 18 anos;
• ter a diferença de idade de no mínimo 16 anos entre adotante e
adotado;
• caso os pais ou representantes legais estejam vivos, ter o seu consenti-
mento, permissão, para adotar;
• se o adotando possuir mais de 12 anos de idade, ter seu consentimen-
to, permissão;
• passar pelo processo judicial, já que, de acordo com o ECA, não ocorre
adoção por procuração;
• adoção deve sempre beneficiar o adotando. (BRASIL, 2002)
Após o início do processo, o juiz de Direito despacha sobre a inclu-
são do requerente no grupo de habilitação. A participação do requerente
no grupo de adoção é um requisito obrigatório a ser obedecido dentro
do prazo de validade de um ano do início do processo de habilitação;
caso seja um casal que esteja querendo adotar, os dois precisam participar.
No Estado do Acre o grupo de habilitação e de adoção Acre ocorre em
datas específicas determinadas pelo Núcleo de Apoio Técnico (NAT) em
Rio Branco, localizado nas 1º e 2º Varas de Infância e Juventude, e se cha-
ma “Adotar é legal”.
O grupo tem como objetivo preparar e orientar psicossocial e judicial-
mente as pessoas interessadas em adotar, fazendo esclarecimentos sobre os
trâmites legais, sobre as responsabilidades dos pais para com esses filhos, so-
bre o desenvolvimento da criança e adolescente e incentivos à adoção, “assim,
este trabalho a ser desenvolvido terá por finalidade estimular os pretendentes
a refletirem sobre os aspectos psicossociais e legais relacionados à adoção”
(FERREIRA, 2010, p. 111). Essa preparação dos pretendentes está prevista no
ECA, art. 50, parágrafo 3º, onde

a inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de


preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Jus-
tiça da Infância e Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito
à convivência familiar (BRASIL, 2013, p. 22).

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Após a participação no grupo de habilitação a próxima etapa é a interven-
ção da equipe técnica na elaboração de um relatório psicossocial. Esse rela-
tório é feito com assessoria de um psicólogo e de um assistente social, quase
sempre através de visita domiciliar e entrevista, e tem como objetivo subsidiar
a decisão do juiz de Direito. Apesar de não definir quais são esses profissionais
da equipe técnica, o ECA, em seu artigo 151 prevê que

compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe


forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito,
mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desen-
volver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento,
prevenção e outros, tudo sob imediata subordinação à autoridade ju-
diciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico
(BRASIL, 2013, p. 61).

A intervenção técnica tem como objetivo verificar se os requerentes reú-


nem condições sociais e psicológicas para assumir a adoção e se é caso de a
criança ou adolescente ser colocado à disposição para adoção, e se é conve-
niente essa colocação (FERREIRA, 2010).
Nessa avaliação feita pela equipe interdisciplinar é verificada a situação
socioeconômica, psicoemocional, motivações e expectativas da adoção. O re-
latório com o resultado da avaliação é encaminhado ao Ministério Público e
ao juiz da Vara de Infância e Juventude. Quando o juiz de Direito considera o
requerente ou pretendente à adoção apto para adotar, ele passa a ser inserido
automaticamente na fila do Cadastro Nacional de Adoção. Vale ressaltar que
caso o requerente não seja aprovado no processo de habilitação de adoção ele
pode se adequar e entrar novamente com o processo.
O Cadastro Nacional de Adoção surgiu no ano de 2008, lançado pelo Con-
selho Nacional de Justiça, com o objetivo de facilitar o processo de adoção,
reunindo informações sobre o perfil de quem quer adotar e das crianças e
adolescentes que estão sob a tutela do Estado em instituições de acolhimento.
No início do processo o requerente preenche o cadastro de pretendente e
nele insere dados sobre as características do perfil da criança ou adolescente
que pretende adotar, como a quantidade de crianças ou adolescentes, faixa
etária, cor, raça, sexo, se aceita ou não que ele/ela tenha algum tipo de doença
ou deficiência tratável ou não. Após a aceitação, as partes são apresentadas e
ocorre um contato inicial entre a criança ou adolescente com os pretendentes
à adoção, e caso ela se encontre em instituição de acolhimento serão acompa-
nhados pela equipe técnica da instituição. Inicialmente são permitidas visitas
e passeios como formas de aproximação e, posteriormente, se ocorrer um
bom entrosamento entre as partes, adotantes e adotando, a equipe emite ao
juiz um oficio sugerindo o estágio de convivência familiar.

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Quando o adotando possui mais de 12 anos, é necessário seu consenti-
mento; ele é entrevistado e dirá se vai haver ou não continuação do processo
de adoção. Ademais, quando os genitores ou responsável estão vivos é neces-
sário seu consentimento também, conforme o artigo 1.621 do Código Civil
brasileiro (BRASIL, 2002).
Fica a critério do juiz se é necessário ou não o estágio de convivência entre
adotante e adotando, com o propósito de comprovar a compatibilidade e ter
um vislumbre do futuro relacionamento entre ambos, e esse período de con-
vivência também serve como prova de que as partes estão em harmonia antes
da sentença do processo de adoção e que ele “apresenta reais vantagens para o
adotando e funda-se em motivos legítimos” (BRASIL, 2013, p. 19).
Em seu artigo 46º o ECA adiciona que

(...) o estágio de convivência será acompanhado pela equipe inter-


profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, pre-
ferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execu-
ção da política de garantia do direito à convivência familiar, que
apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do deferi-
mento da medida (BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente,
2013, p. 20).

Muitas vezes, principalmente quando se trata de adoção pela família ex-


tensa da criança ou adolescente, não é necessário esse estágio de convivência,
já que há laços afetivos e ambos estão em sintonia. Quando o adotante não faz
parte da família extensa e não conhece o histórico da criança ou adolescente,
fica a critério do adotante saber seus antecedentes, entretanto é aconselhável
que o requerente conheça sua origem, sendo ela problemática ou não, para
que tenha conhecimento quando/se decidir compartilhar com essa criança ou
adolescente sua própria história.
Ao passo que o juiz concede o estágio de convivência e pelo tempo em que
ele também considerar apropriado, dá-se a guarda provisória aos adotantes.
Dado o estágio de convivência, o requerente inicia o processo de adoção,
e nesse novo processo existe uma nova petição feita por advogado ou defensor
público junto com uma lista de novos documentos.
Concomitantemente ao processo de adoção, ocorre, ou já ocorreu, o pro-
cesso de destituição do poder familiar, quando se sabe quem são os pais e
estão vivos. Na adoção a perda do poder familiar é, na verdade, uma transfe-
rência: é anulado o poder dos pais naturais e é dado para os adotivos.
Durante o processo de adoção ocorre novamente a intervenção técnica,
realizando-se um acompanhamento para verificar se os adotantes e adotados
estão se adaptando. É feito um novo relatório com uma nova avaliação e ela é
enviada ao Ministério Público e ao juiz da Vara de Infância e Juventude. O juiz

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decide-se a favor da adoção, ou não, e determina a emissão da nova certidão
de nascimento do adotando já com o sobrenome da nova família.
Durante a intervenção técnica é feita uma oitiva com a criança ou adoles-
cente, devendo ser escutada(o) antes da determinação a favor da adoção, e
quando alcançar idade superior a 12 anos deve expressar se deseja ser adotado
ou não, durante audiência perante o juiz de Direito.
É importante salientar que a adoção é definitiva e irrevogável: ao mudar
a certidão da criança ou adolescente não haverá diferença de tratamento para
filhos biológicos e adotados. Esse procedimento do processo de adoção nem
sempre segue esse caminho; o procedimento descrito é o mais comum, entre-
tanto existem diferentes modalidades de adoção que seguem condições pró-
prias estabelecidas por lei.
São modalidades de adoção também a adoção por estrangeiro, adoção
singular, unilateral e conjunta, adoção póstuma, adoção por ascendentes e ir-
mãos do adotando, adoção por tutor e curador, adoção por conviventes, ado-
ção intuiti persona, adoção inter-racial, adoção consentida ou indireta, adoção
à brasileira e a adoção tardia.

3. HOMOPARENTALIDADE E O DIREITO À ADOÇÃO HOMOAFETIVA


O termo homoparentalidade surgiu na França na década de 1990, e deriva
do francês homoparentalité. As próprias pessoas homossexuais criaram esse ter-
mo para designar famílias que são compostas por pais e mães homossexuais
que se autodeclaram homossexuais.
A afetividade serve como parâmetro para a identificação da família e serve
também para identificar os vínculos parentais existentes. Como vimos ante-
riormente, a família homoafetiva sofre preconceito e tem dificuldades de ser
reconhecida na sociedade, assim como os seus integrantes homossexuais.
É realidade que crianças e adolescentes convivem em lares com pessoas
homossexuais, e muitas vezes a sociedade não reconhece seu vínculo parental
e a função de educar, amar e zelar dentro dessa família. Essas famílias surgem
das mais diferentes maneiras como, por exemplo, os rearranjos familiares
onde um do casal teve filho no relacionamento anterior, assume sua orientação
sexual, encontra um companheiro do mesmo sexo onde este participada da
criação, educação desse filho, onde eles criam um vínculo de afetividade;
por reprodução assistida, onde um do casal se submete à fertilização in vitro
e o outro acaba ficando excluído da relação de parentesco, mesmo quando
o casal homoafetivo é que vai criar a criança. Outra possibilidade é que a
adoção, antes do reconhecimento da união homoafetiva, era realizada por
apenas um indivíduo do casal que adotava, mas agora, com essa inovação da
lei, os dois passam a adotar, com seus nomes no sobrenome da criança e na
certidão de nascimento.

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De acordo com Anna Paula Uziel (2007), o reconhecimento do casal ho-
mossexual como uma entidade familiar é o direito de exercer a parentalidade,
e há no Brasil uma grande dificuldade da efetivação dos direitos de casais
formados por pessoas do mesmo sexo.
A autora afirma ainda que apesar da sociedade “aceitar” homossexuais
como um casal, não aceitam reconhecer esse casal como uma entidade fami-
liar quando esta inclui uma criança. Ainda há uma estranheza quando um
casal homoafetivo tem o desejo de adotar e formar uma família.

Apesar dos avanços, ainda há, disseminada na sociedade, uma estra-


nheza em relação ao desejo de homossexuais de terem filhos, apon-
tando incoerência entre homossexualidade e parentalidade. [...] o
aumento do número de homossexuais querendo ter filhos torna
mais óbvio que seus desejos têm a mesma raiz dos heterossexuais:
criar uma criança e formar uma família (UZIEL, 2007, p. 125).

No que se refere à efetivação de direitos, o indeferimento do exercício


da parentalidade por casais homossexuais significa uma violação dos direitos
fundamentais e de alguns princípios apregoados na Constituição Federal bra-
sileira, tais como o direito à livre orientação sexual, o princípio da dignidade
da pessoa humana e o direito à igualdade.
Comecemos a explicitar o direito à igualdade, segundo o artigo 5º da
Constituição, o qual afirma que “todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza”. Assim, deve-se ter um tratamento de igualdade, juri-
dicamente, tanto a heterossexuais como a homossexuais; deve-se respeitar a
diversidade.
O direito à sexualidade engloba, segundo Dias (2011), a Declaração dos
Direitos Sexuais que contém 11 itens: 1. o direito à liberdade sexual; 2. o di-
reito à autonomia sexual; 3. o direito à privacidade sexual; 4. o direito à igual-
dade sexual; 5. o direito ao prazer sexual; 6. o direito à expressão sexual; 7. o
direito à livre associação sexual; 8. o direito às escolhas reprodutivas livres e
responsáveis; 9. o direito à informação baseada no conhecimento coletivo; 10.
o direito à educação sexual compreensiva; 11. o direito à saúde sexual.
Destarte, todos são iguais e têm os mesmos direitos independentemente
da orientação sexual, devendo ser respeitados e reconhecidos, permitindo-se
o desenvolvimento saudável da sexualidade que é inerente ao indivíduo.
Ademais, na Carta Magna não há nada escrito sobre a intolerância à livre
orientação sexual, nenhum tipo de punição ou enquadramento como crime.
Nota-se que a Constituição de 1988, apelidada de “Constituição Cidadã”,
garante direitos fundamentais como o direito à vida, à liberdade, à dignidade
e direitos sociais. Pautando-se no princípio da dignidade da pessoa humana,
abrangendo a todos, incluídos, assim, os homossexuais. No entanto, apesar

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de estar claro o direito desse público, quando o casal homossexual busca-o,
invariavelmente ocorre um mal-estar, desconforto, insegurança.
A lei maior brasileira também proíbe qualquer tipo de preconceito, por-
tanto, torna-se inconstitucional existir distinção de acesso de homossexuais
quanto ao desejo de se constituir uma família através da adoção. A homos-
sexualidade sempre existiu em nossa sociedade, e não pode ser a orientação
sexual uma justificativa para a negação de direitos ou inibição da formação de
uma família onde haverá amor, afeto e respeito.

(...) é preciso reconhecer as uniões de pessoas do mesmo sexo como


entidades familiares, embora diversas daquelas até hoje reconhecidas
como tal, já que não só não há óbice legal para isto – a enumeração
feita pela Constituição é meramente exemplificativa – como porque
estas entidades se revestem dos mesmos elementos caracterizadores
das demais comunidades familiares contemporâneas, ou seja, con-
vivência duradoura, estável, baseada no afeto, na solidariedade, no
respeito e auxílio mútuos, sendo plenamente capazes de receber uma
criança ou um adolescente, fornecendo-lhes um ambiente propício e
saudável para o seu desenvolvimento integral (SAPKO, 2011, p. 165).

É inquestionável que o conjunto de direitos e garantias fundamentais


firmados na Constituição é universal em todos os aspectos, contudo, costuma-
se justificar a negação de direitos a esse público com a alegação de ausência
de lei específica para os homossexuais. Entretanto, a simples aplicação da
Constituição é suficiente no atendimento aos homossexuais. No Brasil, as
normas e leis gerais da adoção são estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e pelo Código Civil, e nestes regramentos não há nenhum
tipo de proibição e nem lei específica para os homossexuais.
Com o reconhecimento da união homoafetiva, a justiça brasileira deixou
de se omitir e faz julgamentos com decisões favoráveis a esses casais que bus-
cam formar uma família com a adoção, ou seja, casais homoafetivos agora
podem sair da clandestinidade e adotar de forma legal, apesar de ainda existir
muito preconceito por parte da sociedade para com a família homoafetiva.
Em que pese o avanço no âmbito do judiciário de decisões favoráveis em
relação à adoção por casais homossexuais, percebe-se ainda algumas notícias
na mídia a respeito de julgamentos com decisões desfavoráveis, implicando
um longo e desgastante processo, com interposição de recurso até um possível
deferimento.
Antes da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o reconheci-
mento da união estável, somente uma pessoa do casal homossexual entrava
com o processo de adoção, e assim a intervenção técnica dos Juizados da In-
fância e Juventude (visita domiciliar, entrevista e participação no grupo de

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


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adoção) ficava prejudicada, pois não incluía a outra pessoa do casal que tam-
bém iria fazer parte da vida do adotado, além de não ter seu nome no registro
de nascimento da criança/adolescente. Além disso, quando o adotado fosse
buscar direitos assistenciais e patrimoniais ele não teria acesso, uma vez que
não teria nenhum documento que comprovasse o vínculo parental, refletindo-
se em prejuízo para adotando e adotado.
Devido à anterior omissão do poder Judiciário diante do impedimento
da adoção por casais homossexuais, muitos recorriam à adoção “à brasileira”,
apesar do risco de reclusão e de essa prática ser proibida; mas eles preferiam
correr esse risco devido à intolerância de alguns legisladores.
Na área jurídica existem quatro alternativas teóricas de interpretação da
lei: a positivista, a jusnaturalista, a realista e a garantista. A positivista é a
interpretação nua e crua, se baseia apenas no que está escrito na lei; a jusna-
turalista, oposta à positivista, alega que há um direito que se sobrepõe, como
um direito natural que é inerente aos seres humanos, semelhante ao espiritual;
a realista propõe a adequação do direito à realidade social em que estamos
inseridos; e a teoria garantista é a que proporciona a aplicação de princípios,
direitos e garantias fundamentais aos cidadãos.
Face a estas interpretações, pode-se inferir que há respaldo para que casais
formados por pessoas do mesmo sexo tenham direito a adotar, tanto na lei po-
sitivada como nas interpretações dela, exceto a jusnaturalista, que é contrária,
pois defende que, como casais homoafetivos não podem ter filhos por meio
biológico, eles não teriam esse direito; mas também existem casais heteros-
sexuais que por algum motivo também não podem ter filhos por meio bio-
lógicos, e que assim adotam para formar uma família. Então não deve haver
nenhum tipo de oposição para ambos os casos.
Impedir a adoção por homoafetivos é também suspender os direitos de
crianças e adolescentes de ter um lar, do cidadão brasileiro de formar uma
família e suspender os direitos previstos na Constituição. É necessário levar
em consideração que estando o casal dentro dos requisitos da adoção estabe-
lecidos no ECA e no Código Civil, passando pelo processo judicial, não há
nenhuma razão para impedir a adoção por casais homoafetivos, pois a família
substituta tem como objetivo dar à criança e/ou adolescente um lar, proteção
e amor, e a orientação sexual homossexual não impede.
É dever, também, do Estado a proteção à criança e ao adolescente, sendo
sua institucionalização um último mecanismo a ser considerado. Não se pode
permitir que o preconceito impeça crianças e adolescentes de ter um lar,
uma família. Torna-se imperioso conter o preconceito e legitimar a homopa­
rentalidade, admitir que homossexuais formem uma família e desempenhem
seu papel de pai ou mãe.
É notório que orientação sexual não determina nem influencia no
cumprimento das funções parentais (UZIEL, 2007). Como expressado

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anteriormente, há a ideia de que a orientação sexual interfere nas relações
familiares, considerando que a criança ou adolescente vai ser influenciada a
ser homossexual, que ela terá problemas psicológicos etc.

(...) crenças a respeito da homossexualidade advêm da formação fa-


miliar, da educação religiosa e dos aprendizados ao longo da vida.
Fantasias sobre ‘perversões sexuais’ entre homens homossexuais são
comuns, como a pedofilia, muitas vezes confundida com a própria
homossexualidade, além da ideia de que pais homossexuais incentiva-
riam seus filhos ao mesmo caminho ou os obrigariam a viver em am-
bientes imorais – entendidos de forma absoluta e necessária (UZIEL,
2007, p. 74).

A professora, psicóloga e pesquisadora Anna Paulo Uziel (2007), através


de pesquisas bibliográficas faz uma pesquisa comparativa analisando as fa-
mílias hetero e homossexuais para abordar a parentalidade homossexual, a
homoparentalidade. Nessa pesquisa ela leva em consideração os seguintes
questionamentos: a ocorrência de problemas psicológicos em crianças e ado-
lescentes por terem pais homossexuais; a chance de eles tornarem-se também
– por influência – homossexuais; o receio de sofrerem abuso sexual pelo ado-
tando; e o preconceito que esses filhos sofrerão por terem pais homossexuais.
A autora constatou que não há influência sobre a orientação sexual dos
filhos de heterossexuais e homossexuais, segundo ela não há probabilidade
a mais de filhos de homossexuais tornarem-se também homossexuais, assim
como o oposto evidentemente, também não há nenhuma influência de filhos
de heterossexuais tornarem-se heterossexuais.
Quanto ao risco de abuso e violência sexual, de acordo com a pesquisa
da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adoles-
cência (Abrapia), no Brasil a maioria dos casos de violência é praticada por
pais ou padrastos, e não há nenhuma ligação com orientação sexual. Mariana
Chaves (2012) afirma que 95% das violências sexuais contra crianças por parte
dos adotantes são heterossexuais, não há no país nenhum caso em que um
homossexual violente sexualmente o filho adotado ou biológico, assim, não
há como associar o risco de crianças e adolescentes sofrerem violência sexual
por ocasião dos adotantes serem homossexuais.
Crianças e adolescentes criados em famílias homoafetivas não apresentam
comportamento considerado “anormal”, problemas de autoestima, psicológi-
cos ou vulneráveis. O único fator negativo é a sociedade que discrimina essa
família, entretanto, essas crianças e adolescentes costumam ser bem prepara-
dos para enfrentar esse fator e não sofrem com o preconceito.
Durante a pesquisa a autora também levantou fatores relevantes, mostran-
do que, a partir do estudo, percebeu-se que

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 23
não há tendência a se reconhecer na parceira da mãe a figura do pai,
mas uma outra mãe, uma irmã mais velha; (...) as mães homossexuais
se empenham para que seus filhos tenham contatos sociais variados;
(...) as mães homossexuais tem maior cobrança e vigilância, inclusive
interna, são maiores em boa parte das vezes. (UZIEL, 2007, p.73-77).

Desta forma, ressalta-se que a adoção pode tirar crianças e adolescentes da


situação de acolhimento institucional há muito tempo, da situação de rua e da
marginalidade. A orientação sexual não define caráter e nem capacidade de
ser pai ou mãe, pois crianças nos lares de acolhimento foram deixadas, pelos
mais diversos motivos, por heterossexuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destarte, diante de tudo o que foi exposto chegamos à conclusão de que
a orientação sexual é uma manifestação afetiva e sexual do indivíduo, como
vimos ao estudar o aspecto histórico das sociedades; sempre existiu e sem-
pre vai existir a homossexualidade, ela não é uma opção e muito menos uma
doença que necessita de “cura”. Assim, a homossexualidade é amar/desejar
uma pessoa do mesmo sexo.
O preconceito acerca desse grupo é resultado da cultura religiosa enraizada
em nossa sociedade. Com o tempo e com a diminuição do fervor religioso, essa
diversidade será assimilada e aceita. Para isso, é necessário que os homossexuais
tenham os mesmos direitos que os heterossexuais, pois de acordo com a lei
maior, todos são iguais, cidadãos de direito que devem ter acesso a ele.
Assim, o casal homossexual deve ser reconhecido como entidade familiar,
quando possuem ou não filhos. O exercício da parentalidade deve ser garanti-
do, portanto, o direito à adoção deve ser assegurado.
Não há nenhum impedimento nas legislações ou lei específica para a ado-
ção por casais homossexuais. Uma vez que eles passem pelo processo de ha-
bilitação à adoção e estejam aptos, segundo os técnicos da Vara de Infância e
Juventude, não há nenhuma razão para vetar a adoção.
Julgar que homossexuais não exercerão a função parental devido à orien-
tação sexual, é inferir que heterossexuais não entregam seus filhos para ado-
ção e não têm seu poder familiar destituído.
Outrossim, como foi mostrado, não há nenhum fator concreto contra a
adoção, haja vista que hipóteses sem base científica de riscos sobre a possibili-
dade de afetar de forma negativa a vida de crianças e adolescentes, não devem
ser levadas em consideração.
Deve ser levado em conta também a questão do melhor interesse para
as crianças e adolescentes: deixá-los em casas de acolhimentos porque os
pretendentes à adoção são homossexuais ou dar-lhes o direito de ter um

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ambiente familiar adequado para que cresça e se desenvolva como pessoa
cidadã e de direitos, que é o objetivo da adoção.
As transformações ocorridas ao longo do tempo, econômicas, políticas,
sociais ou ideológicas, acabaram modificando também as conotações concei-
tuais e, consequentemente, estruturais acerca da família. Assim como defende
Marianna Chaves (2012), ocorre uma “idealização” da família e qualquer ou-
tro formato diferente do “normal” sofre preconceito.
A família homoafetiva é uma realidade e seu reconhecimento é um direito.
A realização do projeto parental, o direito de exercer a paternidade/materni-
dade por homossexuais, através da adoção é garantir acesso aos direitos, sem
discriminação e preconceito.
Existe uma necessidade de esclarecimento sobre esse tema, por isso seria
emergente a capacitação de profissionais que atuam em áreas do Direito, da
Psicologia, do Serviço Social e também da Educação.
A capacitação daqueles que estão envolvidos no processo de garantia de
direitos e do processo de adoção tem como objetivo ter consciência sobre as
questões de gênero e sexualidade.
Seria importante também a educação, a preparação e esclarecimento des-
sas questões para crianças e adolescentes, de uma maneira que os capacite
para prepará-los para situações de conflito envolvendo preconceitos em torno
de diversidade para que possam perpetuar desde cedo a igualdade.
Ademais, a bibliografia consultada e a pesquisa realizada nos mostram
que além de ser uma questão de acesso a direitos, a adoção por casais for-
mados por pessoas do mesmo sexo é uma questão humana, de afeto e amor.
Casais homossexuais, assim como os heterossexuais, têm o desejo de formar/
ser uma família.

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26 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E
SUA IMPORTÂNCIA NA VERIFICAÇÃO
DA SITUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA
DAS EMPRESAS
Ana Caroline da Silva Castro4
Rogério de Souza Campos5

Resumo: O presente artigo visa demonstrar o interesse que as empresas pos-


suem nas informações contábeis, principalmente a respeito de sua situação
econômico-financeira para melhor tomar suas decisões de negócios. Os rela-
tórios contábeis não podem ser considerados informações se não forem anali-
sados e interpretados. Por tanto, se faz necessário, principalmente para o pro-
fissional de contabilidade, saber que a técnica de análise das demonstrações
contábeis é primordial nesse processo de transformação de dados para infor-
mação contábil. Afinal, é por meio dessa técnica que os relatórios contábeis
são analisados e interpretados e passam a ser informações importantes para se
obter um diagnóstico do empreendimento.
Palavras-chave: Relatórios contábeis, analisados, interpretados. Informações
contábeis. Econômico-financeira.

Abstract: This article aims to demonstrate the interest that companies have
the accounting information, particularly about their financial position to take
better business decisions. The accounting reports can not be considered as
information if they are not analyzed and interpreted. Therefore, it is necessary
primarily to the accounting professional to know that the financial statements
analysis technique is essential that data transformation process for accounting
information, after all, it is through this technique that the financial reports
are analyzed and interpreted and pass to be important information to obtain
a diagnosis of the enterprise.
Key-words: Accounting reports, analyzed, interpreted. Accounting informa-
tion. Economic and Financial.

4
Acadêmica do curso de Ciências Contábeis, cursando o quarto ano na turma CCT04NA
pela Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO). E-mail: anykarol_@hotmail.com
5
Contador. Coordenador e professor do curso de Ciências Contábeis na Faculdade da
Amazônia Ocidental (FAAO). E-mail: rogeriocampos250@gmail.com

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 27
INTRODUÇÃO
O período de origem da Contabilidade acompanha o surgimento do ho-
mem e sua evolução. Ao longo dos tempos a Contabilidade tem evoluído cada
vez mais, devido ao avanço tecnológico e a evolução da sociedade. Essa neces-
sidade de avanço e transformação da contabilidade pode se resumir em uma
única palavra: “controle”. Desde os tempos mais remotos o ser humano busca
formas de controlar seu patrimônio. O homem primitivo já praticava uma
contabilidade rudimentar ao contar seus instrumentos de caça, pesca e seus
rebanhos.
A necessidade de analisar os números é tão antiga quanto a própria conta-
bilidade. A Contabilidade em sua forma primitiva, na qual a principal ativida-
de econômica era o pastoreio, atuava registrando a riqueza que nesse contexto
eram os inventários de rebanho, mas havia também uma preocupação com
relação à variação dessa riqueza, por isso, era feita uma comparação de dois
inventários em momentos diferentes, o que seria então de certa forma, uma
primeira prática de análise.

1. CONCEITOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES CONTÁBEIS


No campo da Contabilidade, surge uma diversidade de conceitos e siste-
mas de informações contábeis, das quais citaremos abaixo as que mais têm se
destacado no campo contábil.
Na perspectiva de Ching, Marques e Prado (2007) a Contabilidade é utili-
zada por todas as organizações independentemente de tamanho, objetivo ou
forma jurídica, isto porque não há organização que não tenha a necessidade
de um controle contábil.
Seguindo nesta perspectiva apontada acima, algumas questões se manifes-
tam, como: afinal, o que é Contabilidade? Por que é tão importante?
Para responder a estes questionamentos Horngren (2002 apud CHING;
MARQUES; PRADO, 2007, p. 5) aponta a Contabilidade como sendo um
sistema de informação que mede as atividades do negócio, o que pode pro-
porcionar uma perspectiva quanto aos rendimentos e lucros da empresa, além
de outras funções. E ainda afirma que a Contabilidade é conhecida como a
linguagem do negócio, e quanto melhor se entender essa linguagem melhores
serão as decisões de negócio.
Outro olhar sobre a Contabilidade é o de Marion (2012b) que a coloca
como sendo a ciência social que tem por objetivo estudar e controlar o patri-
mônio das entidades por meio do registro de operações administrativas e eco-
nômicas, diante das ações humanas. Neste ímpeto, a perspectiva de Marion
se aproxima da visão de Horngren, exceto pelo fato deste focar apenas como
atividade de negócios.

28 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Já Müller (2009) define a Contabilidade como a ciência que estuda o pa-
trimônio de uma pessoa, levando em consideração os resultados e reflexos,
como também a evolução, administração e tendências deste. Ressaltando que
este conceito deve ser entendido de forma ampla, e não restrita.
Sucintamente, a Contabilidade identifica o patrimônio das empresas,
efetua os registros das operações administrativas e econômicas, processa
os dados informados em relatórios e comunica os resultados para os toma-
dores de decisões. “A contabilidade capta dados, processa-os e os fornece
aos seus usuários na forma de demonstrativos contábeis ou relatórios. Es-
tes são produzidos de acordo com as necessidades desses indivíduos [...]”
(MÜLLER, 2009, p. 3).
As informações contábeis são extremamente importantes, pois ajudam os
gerentes a entender mais sobre a empresa. Com essas informações é possível
se ter respostas com relação ao desempenho da empresa em determinado pe-
ríodo, a posição da empresa no momento, saber onde estão sendo aplicados
os recursos e como foram obtidos.
Sendo assim, fica explícito que é de total importância para os toma-
dores de decisões entenderem qual o significado de um número contábil,
onde teve origem e quais suas limitações, para melhor tomar suas deci-
sões dentro das empresas, conforme acrescenta Ching, Marques e Prado
(2007, p. 6) “[...] quanto mais importante a decisão, maior a necessidade de
informação”.

1.1. Usuários das Informações Contábeis


Segundo Ching, Marques e Prado (2007), são muitos os usuários das infor-
mações contábeis, dentre eles: os administradores, as instituições financeiras,
os concorrentes e as autoridades fiscais, conforme descritos abaixo:
Administradores: utilizam as informações contábeis para melhor avaliar o
desempenho de sua empresa, identificar quais produtos são mais lucrativos,
para fazer melhor controle de estoque e evitar que falte ou exceda mercado-
ria, tomar decisões de investimento.
Instituições Financeiras: “[...] Essas instituições, antes de conceder um
empréstimo, fazem uma avaliação da capacidade da empresa tomadora de
saldar os pagamentos nos vencimentos, e com isso determina que montante
emprestar.” (CHING, MARQUES E PRADO, 2007, p. 6). Nessa avaliação as
instituições verificam o ativo da empresa, sua liquidez, seu endividamento e
objetivos futuros.
Concorrente: com as informações contábeis em mãos é possível saber
muito sobre determinada empresa. Os concorrentes, com base nessas infor-
mações, poderão adotar estratégias diferentes ou tomar decisões mais bem
fundamentadas.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 29
Autoridades fiscais: pertencentes a esses setores fiscais temos as Secre-
tarias da Fazenda, municipais e estaduais, e a Secretaria da Receita Federal,
como institutos responsáveis em tributar impostos e taxas a partir de informa-
ções contábeis disponibilizadas pelas empresas (CHING, MARQUES E PRA-
DO, 2007).
Diante dos usuários, das informações contábeis apresentadas acima, é no-
tória a importância dos profissionais de contabilidade para o manejo contábil
da sociedade e das organizações.

2. FUNÇÕES DA CONTABILIDADE
Das ações desenvolvidas pelos contadores, Sá (2014) destaca como sendo
uma das principais funções da Contabilidade o de registrar fatos ou valores
que modificam ou que venham a modificar a situação financeira ou patrimo-
nial de uma empresa.
Os fatos registrados na contabilidade são eventos que envolvem bens, di-
reitos e obrigações de uma empresa; portanto, para fazer registro dos fatos ou
valores, a contabilidade registra primeiramente o patrimônio da empresa. É
importante ressaltar que tais informações devem ser apresentadas em relató-
rios estruturados para que sejam entendidas e interpretadas por seus usuários.
Sá (2014, p.71) ainda complementa que “[...] todo relatório não interpreta-
do é apenas um dado”. Isto propõe a ideia de que as demonstrações contábeis
a princípio apresentam apenas dados e os usuários da contabilidade não estão
interessados em apenas dados contábeis, mas sim em informação contábil.

1.1. Aspectos: Econômico e Financeiro


O maior interesse dos usuários das demonstrações financeiras é conhecer
principalmente dois aspectos do patrimônio: o aspecto econômico e o aspec-
to financeiro. Portanto, o objetivo principal da contabilidade é conceder aos
usuários informações que possibilitem avaliar a situação econômica e financei-
ra das empresas e suas possíveis tendências.
O aspecto econômico refere-se ao capital aplicado na empresa, mais espe-
cificamente trata-se do rendimento que este proporciona aos seus investidores,
enquanto o aspecto financeiro trata da liquidez da empresa, ou seja, a capaci-
dade da empresa poder pagar seus compromissos assumidos com terceiros.
Iudícibus (et al., 2010) relata que o objetivo principal da Contabilidade
é conceder aos usuários informações que possibilitem avaliar a situação
econômica- financeira das empresas e suas possíveis tendências, o que é
evidenciada por meio de informações fundamentadas a partir de dados
extraídas do Balanço Patrimonial (estática patrimonial) e a situação econômica
a partir de informações evidenciadas por meio da Demonstração de Resultado
do Exercício.

30 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Sendo assim, fica explícito que para atender às necessidades de seus usuá-
rios a contabilidade tem que oferecer informações contábeis, e, para que os
dados contábeis sejam considerados informações, precisam ser analisados e
interpretados. Por isso é preciso se utilizar da técnica de análise das demons-
trações contábeis.

1.2. Análise das demonstrações contábeis


Além de registrar fatos contábeis, a contabilidade possui outros fatores,
como o de buscar conhecer suas causas e interpretá-los. Conhecendo as causas
dos fenômenos contábeis pode-se dar interpretação aos fatos.
Apesar de apresentar sinais no período em que surgiu a contabilidade, a
análise das demonstrações contábeis melhor fundamentada é mais recente,
e as primeiras práticas, propriamente ditas, de análise foram observadas no
final século XIX.
Segundo Marion (2002) a Análise das Demonstrações Contábeis foram se
desenvolvendo cada vez mais com o surgimento dos Bancos Governamentais,
que tinham bastante interesse na situação econômico-financeira das empresas,
e a abertura do capital das empresas Corporation S.A., que possibilitou a par-
ticipação de investidores como acionistas.
Assim, a análise passou a ser instrumento fundamental no intuito de me-
lhor identificar a situação econômico-financeira, conhecer as tendências de
determinada empresa com relação ao mercado e, por fim, mas não menos
importante, para tomar decisões.
Salienta-se que a Análise das Demonstrações Contábeis é uma técnica uti-
lizada para realizar a divisão, comparação e interpretação das demonstrações
contábeis a fim de se obter informações a respeito da situação econômico-fi-
nanceira das empresas. Segundo Franco (1980, p.106), “analisar uma demons-
tração é decompô-la nas partes que a formam para melhor interpretação de
seus componentes”.
De acordo com Matarazzo (2010), o objetivo da análise é obter informa-
ções das demonstrações financeiras para auxiliar na tomada de decisões. Os
dados são fornecidos pelos demonstrativos contábeis e, utilizando a técnica de
análise, são transformados em informações.
Entende-se então que por meio da análise de balanço é possível
obter informações de grande relevância sobre a situação econômica e fi-
nanceira de uma empresa, e, sendo assim, essa técnica contábil é de total
importância para uma empresa que pretende evoluir. Afinal, é através dos
resultados de análise que os analistas levantam um diagnóstico do em-
preendimento.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 31
CONCLUSÃO
Enfim, toda a metodologia aqui aplicada foi baseada não só em pesquisas,
mas também em conhecimentos adquiridos em sala de aula. Ficou explícito
que a Análise das Demonstrações Contábeis é uma técnica contábil funda-
mental para que os dados contábeis passem a ser informações contábeis e
assim atender o interesse maior de uma empresa que é obter informações a
respeito de sua situação econômico-financeira e melhor tomar suas decisões
de negócios.

REFERÊNCIAS
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nanças para não especialistas. 2ª. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
FRANCO, Hilário. Estrutura, análise e interpretação de balanços, de acordo com a nova
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acordo com as normas internacionais e do CPC. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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São Paulo: Atlas, 2002.
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Pearson Prentice Hall, 2009.
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profissionais em mercados competitivos. 6. ed. Rio de Janeiro: SENAC Rio de Janeiro,
2014.

32 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
E A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Ketlyn Catrine dos Santos Arruda6
Adel Malek Hanna7

Resumo: Este artigo traz uma breve discussão sobre a proposta de redução
da maioridade penal para os 16 anos de idade, tendo em vista que a crimina-
lidade vem atingindo o público infanto-juvenil, principalmente aqueles que
estão em situação de exclusão social, bem como em situação de risco; serão
expostas ainda as medidas aplicadas aos adolescentes infratores, em se tratan-
do das medidas socioeducativas e a importância da família em acompanhar
o adolescente. Assim, objetiva-se desenvolver uma perspectiva teórica no que
compete à redução da maioridade penal, quanto aos benefícios e malefícios
dessa proposta. Para o desenvolvimento do estudo foram utilizadas pesquisas
bibliográficas e documentais, além de se utilizar métodos histórico, qualitati-
vo e dialético. No decorrer do artigo, constatou-se as formas de punição des-
tinadas aos menores infratores desde o período colonial pós-descobrimento,
passando pelas ordenações, sendo exposta a historicidade das conquistas de
direitos das crianças e adolescentes. Outro fator apresentado foram as medi-
das socioeducativas como centro de suposta recuperação do indivíduo, bem
como a importância da família e do Estado em face da recuperação do adoles-
cente infrator, finalizando a pesquisa com a discussão da Proposta de Emenda
à Constituição que tem o objetivo de reduzir a maioridade penal para os 16
anos de idade. A finalização da presente pesquisa averiguou-se que as conquis-
tas apresentadas desde a chegada dos colonizados até a Constituição Federal
de 1988, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a
redução da maioridade penal pode representar um retrocesso social e jurídico
nas conquistas adquiridas.
Palavras-chave: Redução da Maioridade Penal. Adolescentes infratores. Medi-
das socioeducativas

6
Graduada em Serviço Social pela Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO). E-mail:
ketlyn.arruda@hotmail.com
7
Licenciado e bacharel em Letras, Português e Respectivas Literaturas, pela Universidade
Federal de Rondônia (UNIR), Unidade Vilhena. Mestre em Letras: linguagem e identidade,
pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Professor dos cursos de Serviço Social, Admi-
nistração, Ciências Contábeis, Direito, Arquitetura e Psicologia na Faculdade da Amazônia
Ocidental (FAAO). Professor da Faculdade META-FAMETA, nos cursos de Engenharia Civil
e Educação Física. E-mail: adel.amh@me.com.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 33
Abstract: This article provides a brief discussion of the proposed reduction
of the legal age to sixteen years of age, with a view that crime is reaching the
children and youth, especially those who are in situations of social exclusion,
as well as in situations of risk will still be exposed measures applied to juvenile
offenders, in the case of educational measures and the importance of family
to accompany the teenager. Thus, the objective is to develop a theoretical
perspective in that it is the reduction of criminal responsibility regarding
the benefits and harms of this proposal. To develop the study was used
bibliographical and documentary research, in addition to using historical,
qualitative and dialectical methods. Throughout the article, contacted to forms
of punishment for offenders at least since the post-discovery colonial period,
through the ordinations, being exposed to the historicity of the achievements
of the rights of children and adolescents. Another presented factor was the
educational measures as the center of the alleged recovery of the individual as
well as the importance of family and the state in the face of recovery adolescent
offender, ending the search to the discussion of the proposed amendment to
the Constitution is intended to reduce the legal age to sixteen years old. the
completion of this research it was established that the achievements presented
since the arrival of the colonized to the Federal Constitution of 1988, with
the ECA creation, the reduction of legal age may represent a social and legal
setback in the acquired achievements.
Key-words: Reduction of Criminal Majority. Juvenile delinquentes. Educational
measures

INTRODUÇÃO
O objetivo do presente artigo é esclarecer sobre as discussões acerca da
redução da maioridade penal, se tal proposta é um meio adequado para o
país, tendo em vista as visíveis desigualdades sociais, além de avaliar se esta
temática tem sido esclarecida em sua totalidade à sociedade.
Sabe-se que a criminalidade tem se expandido no Brasil e ainda vem
envolvendo os adolescentes em sua realidade como autores de atos infra-
cionais e, com tal problemática, é fato inquestionável que o Estado deve
intervir para a resolução da questão. A sociedade, principalmente as vítimas
das violências implementadas pelos jovens com idade inferior aos 18 anos,
exige medidas punitivas mais severas, pois entende que o principal motivo
pelo qual esses adolescentes cometem o ato infracional é o fato de não se-
rem punidos como adultos. Portanto, devido à impunidade, fica justificada a
proposta de redução da maioridade penal.
Este estudo é importante para a obtenção de informações sobre o contex-
to social em que esses jovens estão inseridos, sendo preciso ainda avaliar se
as medidas prisionais destinadas aos adultos são de fato uma solução cabível

34 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
para com os adolescentes, sendo estes pessoas em desenvolvimento, como
considera a Constituição brasileira de 1988, bem como o Estatuto da Criança
e do Adolescente. Além disto, é importante explicitar o contexto histórico
referente ao trato com as crianças e adolescentes brasileiros desde o período
colonial até a atualidade, e as conquistas de direitos, buscadas através de lutas.
Para atingirmos as metas pretendidas neste artigo, ele foi dividido em três
tópicos: o primeiro traz uma retrospectiva histórica dos direitos da criança
e do adolescente; o segundo trata sobre o debate da redução da maioridade
penal; e concluindo a pesquisa com o terceiro, que expõe sobre a importância
das medidas socioeducativas e o papel da família e do Estado no acompanha-
mento desses adolescentes infratores.

1. RETROSPECTIVA HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


No período Brasil-Colônia as legislações implementadas advinham da
Coroa lusitana, porém não existia nada específico em lei sobre o trato com
as crianças e adolescentes da época. O que se pode afirmar é que no perío-
do colonial o sistema que imperava era o escravismo e as crianças também
eram exploradas e não tinham direito algum. Em 1603, pelas Ordenações Fi-
lipinas, aqueles que fossem pegos cometendo qualquer tipo de crime, tendo
idade superior aos sete anos, eram considerados culpados e eram punidos
severamente sem muita diferença em relação aos adultos, sendo importante
destacar ainda que o Estado não oferecia proteção ao público infanto-juvenil.
Após a independência do país, os responsáveis pela criação das novas
leis que viriam a punir aqueles que cometessem ato infracional ou crime,
passaram a analisar a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão e perceberam com ela que as formas de punir implementadas eram
desumanas e cruéis. Em 1824, com a primeira Constituição, ainda não se
houve leis específicas que tratassem dos menores de 18 anos; na verdade, o
termo adolescência nem se considerava.
A problemática visível com relação ao trato do Estado para com as crian-
ças e adolescentes anos atrás é que, inicialmente, eles eram escravos; seus
destinos eram traçados desde o ventre. No entanto, tentou-se abolir o regime
escravocrata referente às crianças quando foi criada a Lei do Ventre Livre,
que promulgou que aqueles que nascessem daquele período em diante seriam
livres, porém havia uma falha na lei. O fato é que as crianças passaram de
escravas para crianças livres e abandonadas.
De acordo com Cervi e Damo,

se por um lado a lei definiu o destino dos filhos de escravas e com-


plicou a perpetuação do regime escravocrata, de outra banda, contri-
buiu para o aumento expressivo de crianças negras abandonadas nos

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 35
centros urbanos à própria sorte. O problema se agravou com a chega-
da de imigrantes europeus que passaram a vê-las como um problema
social (CERVI e DAMO, 2009, p. 220).

O que se confirma então, é que o Estado tentou um meio para acabar


com a escravidão, porém acarretou outra questão social, a qual é um forte po-
tencial para influenciar na expansão da criminalidade, pois sabe-se que esses
jovens sem direitos, sem proteção e em situação de vulnerabilidade, são mais
propícios à violência do que aqueles que tiveram todas as oportunidades de
inclusão social, tendo em vista que, nas ruas ficaram sujeitos a todo tipo de
perigo, sendo submetidos a variadas mazelas sociais. E como exposto acima,
elas foram realmente vistas como um problema para a sociedade.
Os viajantes que chegaram ao país, ao se depararem com órfãos aban-
donados nas ruas das cidades, incomodavam-se muito e os viam como um
problema na sociedade. O Estado então teria que resolver essa problemática.
Referente aos que cometiam ato infracional, percebeu-se em pesquisas
históricas que várias legislações foram instituídas, as punições eram estabele-
cidas, as idades de culpabilidade discutidas, questionadas e definidas, porém
não havia o olhar para os direitos dessas crianças e jovens no país. As mu-
danças de paradigmas sobre o que se discutir a respeito deles só foi possível
através de debates internacionais a respeito. Arruda (2014, p. 22), explicando
Teixeira (1994), expõe:

Por influência do debate internacional sobre o tema e das mudanças


na legislação de vários países, os juristas brasileiros concluíram que
deveria ser criado, para crianças e adolescentes, um direito no qual
a educação substituísse a punição e, portanto, houvesse um regime
pedagógico tutelar e não penitenciário; em suma deviam ser retirados
do código penal (ARRUDA apud TEIXEIRA, 1994).

Ou seja, as crianças e adolescentes precisavam ser vistos de outra forma, ne-


cessitavam de direitos que estimulassem a educação, o que é base para um bom
desenvolvimento psicossocial. Ao invés de serem punidos severamente, incluir
o adolescente no cenário penal fará com que essa superlotação só aumente, e
isso significa que o dinheiro que poderia ser investido em construção de novas
escolas e infraestrutura de melhoria da sociedade, será gasto em mais presídios.
Nesse contexto, os juristas avaliaram as formas de punição destinadas aos meno-
res e perceberam que eles não podiam ser tratados de forma igual aos adultos,
tendo em vista que estavam incluídos no Código Penal da época.
Sendo instituído o primeiro Código de Menores em 1927, ficaram conso-
lidadas as leis de assistência e proteção aos que tivessem idade inferior aos 18
anos. E ainda definido para o autor de atos infracionais que, dependendo da

36 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
gravidade do delito, seriam punidos em abrigos, que na verdade eram conhe-
cidos como colônias agrícolas (ARRUDA, 2014, p. 22). Após o primeiro Có-
digo de Menores, outros foram instituídos com algumas mudanças, chegando
às atuais legislações que tratam dos direitos dos adolescentes e a proteção a
eles, através da Constituição de 1988 e da atual Lei Nº 8.069, de 13 de julho de
1990, conhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (PLA-
NALTO, 2014). Ambos tratam do direito à educação como sendo primordial
para o desenvolvimento da pessoa humana.
Para Moreira (2014):

O paradigma norteador de qualquer reflexão sociopolítica e jurídica


acerca da criança e do adolescente não poderá deixar de ter, como
princípio, a compreensão de que estes sujeitos de direitos encontram-
se em fase de desenvolvimento e que assim devem ser tratados. Deve
buscar, sempre, um crescimento saudável desses sujeitos, amparado
pelo respeito aos direitos fundamentais, incluindo o direito de parti-
cipação, não permitindo qualquer forma de negligência que venha a
causar prejuízos ao seu desenvolvimento psíquico e físico. Sempre com
esse paradigma de respeito à condição peculiar de pessoa em desenvol-
vimento, de garantia plena de acesso a direitos, de tratamento pautado
pelo respeito à dignidade humana, deve-se compreender a execução e
a aplicação das medidas socioeducativas (MOREIRA, 2014).

Frisa o autor acima que o princípio é compreender que as crianças e ado-


lescentes são pessoas que estão em desenvolvimento e que, portanto, devem
ser assim observadas. E a reflexão que se faz sobre eles deve ser para com-
preender que eles devem crescer em ambientes saudáveis e que sejam respeita-
dos os seus direitos fundamentais, que eles não venham a sofrer nenhuma for-
ma de negligência que possa prejudicá-los em seu desenvolvimento mental e
biológico. São eles pessoas humanas que precisam viver dignamente em meio
à sociedade e que a melhor forma de resposta a um ato antissocial é por meio
de medidas socioeducativas e não pelas punitivas, destinadas aos adultos.
Ainda pode-se entender através do autor que as medidas socioeducativas
são importantes para incentivar a autoanálise desses jovens, pois, por serem
pessoas em desenvolvimento, estão sujeitas a errar em suas escolhas, bem
como aprender com elas, podendo assim tomar decisões de não cometê-las
novamente.
Quanto a isso é preciso ter por base a Constituição de 1988 e buscar in-
cansavelmente a efetivação dos direitos individuais e sociais garantidos por
ela. Uma lei sem a sua prática é apenas uma teoria, apenas um sonho não
conquistado.
Atualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei que expõe

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 37
sobre os direitos fundamentais desse público, e se refere ainda àqueles que
cometeram ato infracional, esclarecendo sobre as medidas socioeducativas
aplicadas a adolescentes de 12 a 18 anos incompletos, podendo ser estendidas
até os 21, dependendo de cada caso específico. Entenderemos agora qual a im-
portância dessas medidas para o adolescente, sendo possível então questionar
o porquê de substituí-las pela medida penitenciária.

2. A IMPORTÂNCIA DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E O PAPEL DA FAMÍLIA


E DO ESTADO
Para os adolescentes que cometem atos infracionais, existem leis com o
objetivo de responsabilizá-los por seus atos, pois, sendo pessoas em fase de
desenvolvimento, estão aptos a aprenderem muito com suas escolhas. Eles
são capazes de compreender o que é errado, portanto, de acordo com o ECA,
esses adolescentes são levados a juízo e, se comprovado o ato infracional, são
obrigados a cumprir a medida socioeducativa estabelecida, de acordo com a
gravidade da infração.
No decorrer do cumprimento das medidas socioeducativas, o adolescente
tem o acompanhamento de profissionais como psicólogos, assistentes sociais,
professores, dentre outros especialistas das áreas humanas. A equipe técnica
formada por esses profissionais tem a missão de estimular a mudança no com-
portamento desses jovens, além de zelar para que os vínculos familiares não
sejam rompidos, pois a família é a base para que esses adolescentes queiram
a mudança. Os profissionais articulam com a família, planejam atendimentos
de grupo ou individual para melhor compreender o contexto social em que o
adolescente era inserido antes do ato do delito. Observada então a vulnerabi-
lidade em que o jovem, bem como sua família tem, a equipe tenta realizar um
trabalho em cima da problemática detectada.
De acordo com Arruda,

o foco principal dos atendimentos aos adolescentes e ao seu grupo


familiar é entender os motivos que os levaram à prática do ato infra-
cional, analisando a história apresentada por eles, bem como avaliar
as demandas que serão exigidas e quais as que melhor se aplicam, ten-
do em vista as reais necessidades de cada um (ARRUDA, 2014, p. 36)

Portanto, torna-se claro que é preciso que os profissionais que lidam com
esses jovens façam a análise de vida de cada adolescente, em busca de encon-
trar os motivos que os levaram à prática do ato infracional, pois só através
disso é possível acertar a demanda que melhor se aplica para estimular neles
respostas diferentes a um determinado problema social, não com o delito, mas
sim com alternativas.

38 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
A equipe técnica poderá trabalhar para que a família e o adolescente te-
nham acesso aos direitos fundamentais, avaliando suas reais necessidades,
poderá propor meios de inclusão social, dentre outras ações.
O que se pode observar das medidas socioeducativas para a constru-
ção de novos ideais pelo adolescente é que elas têm um papel fundamental
“[...], na internalização de reais responsabilidades que ele deve ter diante de si
mesmo, de sua família e da sociedade como um todo” (ARRUDA, 2014, p. 38).
Desse modo, é possível que esses jovens venham a refletir sobre suas ações
de acordo com o que aprendem com as medidas, pois a equipe tenta integrá-los
de forma saudável ao convívio social. Com isso, podem criar novas possibilida-
des de vida e planos para um futuro digno.
Entretanto, também é fato que, nem todos os adolescentes que passam
pelas medidas socioeducativas realmente mudam de vida, porém se os profis-
sionais que estão dia a dia os acompanhando se retiverem a esse pessimismo,
de nada adiantaria e certamente essas medidas seriam um fracasso. É preciso
ter o olhar para aqueles que conseguiram mudar e tiveram suas vidas reesta-
belecidas. Por esses, vale a pena não desistir.
As medidas são de caráter educativo e estão inscritas no art. 112 do
ECA. São elas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de
serviço à comunidade, liberdade assistida, regime de semiliberdade e inter-
nação em estabelecimento educacional. Esta última só é aplicada mediante
grave ameaça ou violência à pessoa e no descumprimento injustificável das
medidas anteriores. E se houver alguma outra medida adequada, esta pode
ser aplicada.
Todas essas medidas são formas de inibir o ato do delito, e muitos adoles-
centes, depois de cumprirem com essas medidas, aprendem que sempre há
uma nova chance para a mudança. Além de serem responsabilizados por suas
escolhas ruins, são levados a se redimir com a vítima.
Ainda no Estatuto, está inscrito que

é dever da família assegurar a efetivação dos direitos referentes


à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária (PLANALTO, 2014).

Analisando tais direitos, pode-se entender que é necessário que a família


seja uma instituição plena para conseguir garantir todos eles. E se ela não pu-
der cumprir com esses deveres, deve recorrer ao Estado. É fato que a família
também deve ser assegurada de seus direitos para fazer cumprir o de seus
descendentes.
Quando enfocamos esses direitos e questionamos se esses adolescentes
infratores tiveram acesso a eles, em sua maioria vão responder que não, pois

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 39
de fato muito deles vivem em condições subumanas e seus pais não tiveram
condições propícias para concederem a eles tudo aquilo que necessitam.
O Estado, através das políticas públicas, deve incluir esses adolescentes
em programas sociais e estimular a educação para que sejam pessoas dignas e
honestas, futuramente preparadas para serem empregadas por ele mesmo ou
por instituições privadas. A dignidade humana gira em torno da educação e
do trabalho. Se o foco estiver em investir recursos nessas áreas, a criminalida-
de perderá forças para influenciá-los.

3. O DEBATE SOBRE A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL


Apesar das conquistas realizadas para a obtenção de direitos das crianças
e adolescentes, bem como de sua proteção integral, atualmente tem ocorrido
em meio à sociedade o debate sobre a punição destinada aos adolescentes
infratores. Nas assembleias legislativas, senadores e demais representantes po-
líticos vêm analisando a probabilidade de se diminuir a maioridade penal para
os 16 anos de idade.
Devido ao envolvimento de muitos jovens com a violência,

[...] a discussão sobre a punição desses adolescentes com os rigores


do Código Penal soa como uma forma de dirimir o sentimento de
impunidade com a aplicação da justiça, diminuindo assim também a
criminalidade (ARRUDA, 2014, p. 26).

Desse modo, se eles forem penalizados por meio da medida penitenciária,


o Estado estaria cumprindo com a justiça e esses jovens, ao entenderem que
podem ser punidos de tal forma, temeriam cometer o delito, o que muitos
entendem e acreditam que diminuiria o envolvimento deles com a criminali-
dade.
Ainda segundo o mesmo autor,

grande parcela da sociedade aprova a redução da maioridade penal


por entender que os adolescentes, de forma geral, não pagam por
seus atos, porém não é essa a verdade, existem as medidas socioeduca-
tivas que são aplicadas ao adolescente infrator, uma vez comprovado
o ato infracional [...] e esta medida levará em conta a capacidade dele
em cumpri-la (ARRUDA, 2014, p. 26).

O que a maioria das pessoas pensam é que esses adolescentes não res-
pondem judicialmente por seus atos, no entanto, a verdade é que eles são
responsáveis, já que o sistema jurídico os considera aptos a responderem
pelas suas atitudes. No ECA estão expostos os tipos de medidas aplicáveis
a eles: são as medidas socioeducativas. E cabe ao juiz específico da Vara da

40 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Infância e Juventude avaliar o caso e definir a medida que este adolescente
cumprirá. Elas vão desde a advertência até a internação em estabelecimento
educacional em que o adolescente fica em medida privativa de liberdade
pelo período máximo de três anos.
Porém, mesmo uma parcela da sociedade tendo conhecimento dessas me-
didas, grande parte ainda é a favor da proposta de redução da maioridade
penal, pois estão convencidos que são medidas fracas e incapazes de cumprir
com seu objetivo, recuperando os adolescentes. Até por acreditarem que pes-
soas de 16 anos de idade já são cientes de seus atos, sabem o que é certo e
errado, e teriam ainda a personalidade formada, o que torna justificável a
ingresso deles nos cárceres junto a adultos.
No entanto, esclarecendo o período da adolescência, Rassial expõe que

o adolescente se situa em uma ‘posição no intervalo’, na qual, por


não ser mais criança e tão pouco ser adulto atravessa um período de
indecisão subjetiva e de incerteza social que possui as característi-
cas de uma verdadeira crise psíquica (RASSIAL, 1997 apud RAUPP,
2006, p. 9).

Ou seja, não é possível afirmar que o adolescente tenha a personalida-


de formada quando na verdade ele está repleto de incertezas e de dúvidas.
Isso o leva a decisões inseguras e provavelmente cairá nos erros, porém não
significa que tenha que aceitar determinadas situações pela vida inteira. O
intervalo que ele passa da fase infantil para a adulta é um caminho miste-
rioso, que ele terá de seguir descobrindo o que surgirá na jornada, além de
construir a personalidade adulta. Nesse período, muitos adolescentes, por
tentarem descobrir a vida, acabam sendo atraídos por amizades perigosas.
Quanto a isso destaca-se o alto índice de envolvimento deles com pessoas
criminosas. Grande parte daqueles que cometem infrações, atualmente são
adolescentes.
Devido ao envolvimento desses jovens com a violência, a discussão da
maioridade penal torna-se relevante para a sociedade. As pessoas vítimas de
adolescentes infratores exigem respostas do Estado, pedem por medidas mais
severas. O que levou senadores a discutirem sobre a possibilidade de aprovar
a Proposta de Emenda à Constituição- PEC 33/2012, que propõe a punição
aos maiores de 16 anos que cometem crimes graves.
Durante a pesquisa sobre o assunto, foi possível observar que a maioria
dos estudiosos, do Direito, Psicologia, Serviço Social, Sociologia e outros pes-
quisadores são contra a redução da maioridade penal.
Erivã Velasco, representante do Conselho Federal de Serviço Social
(CFESS), afirmou em defesa dos adolescentes:

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 41
É preciso entender que crianças e adolescentes são pessoas de
direitos próprios e especiais, em razão da sua condição específica de
pessoa em desenvolvimento, e por isso necessitam de uma proteção
especializada, diferenciada e integral. A nossa luta não deve ser para
reduzir a maioridade penal, mas sim insistir na defesa de políticas
públicas para a infância e juventude, defender a implementação do
ECA em sua totalidade, inclusive no que diz respeito às medidas
socioeducativas para quem comete atos infracionais (VELASCO, In:
CFESS, 2014).

Segundo a autora, as crianças e adolescentes, sendo pessoas em desenvol-


vimento, devem ser reconhecidas com direitos especiais e específicos, e preci-
sam de proteção de seus direitos. No ECA, esta proteção deve ser assegurada
pela família, pela comunidade, pela sociedade em geral e ainda pelo poder
público, como consta em seu art. 4º. Ainda de acordo com o pensamento de
Velasco, a nossa luta não deve ser a favor da redução da maioridade penal,
mas pelas políticas públicas para o público infanto-juvenil.
A redução da maioridade penal não apresenta-se como solução para o
envolvimento dos adolescentes com a criminalidade, pois, ao analisarmos a
medida penitenciária adotada aos adultos, podemos observar que este sistema
é falho quanto à ressocialização do indivíduo após o cumprimento da pena. O
sistema penitenciário no Brasil é falho e falido.
É preciso ficar claro que os adolescentes que cometem atos infracionais
respondem sim judicialmente pelos seus atos, comprovando-se assim que
parte da população está equivocada quanto à afirmativa de impunidade: “A
dimensão sancionatória prevista no ECA considera o adolescente como res-
ponsável por suas ações e não mais somente como ‘vítima’, seja das causas
sociais ou familiares” (ARRUDA E PINTO, 2014).
A medida penitenciária não se aplica aos adolescentes e não pode se
comparar ainda com as punições que ocorrem em outros países, pois, “a pri-
são, não só no Brasil como em outros países, não educa, mas corrompe, avilta,
desmoraliza, denigre e embrutece o presidiário” (SILVA, 2002).
O que torna preocupante em submeter os adolescentes nessas instituições,
estando eles em plena fase de desenvolvimento físico-mental, porque corre-se
o risco de se tornarem mais violentos.
Além do sistema ser precário e impulsionar mais violência, outra proble-
mática relevante é a superlotação dos presídios que acolhem os adultos. As
celas já estão recebendo uma porcentagem muito maior daquela para a qual
foram criadas para suportar. Como então retirar os adolescentes das institui-
ções educacionais que se destinam à aplicação das medidas socioeducativas
para pô-los em situação pior?

42 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Arruda expõe:

[...] incluir o adolescente no cenário penal fará com que essa superlota-
ção só aumente e isso significa que o dinheiro que poderia ser investido
em construção de novas escolas e infraestrutura de melhoria da socie-
dade, será gasto em mais presídios (ARRUDA, 2014, p. 57).

A preocupação levantada acima deve ser analisada com atenção, pois de


fato o Estado deveria investir em mais presídios, e a verba que ele utilizaria
para o sistema penal seria retirada de onde? É preciso refletir. O melhor é que
se invista em educação de qualidade. E dentre as instituições punitivas trata-
das no presente artigo, as instituições que tratam das medidas socioeducativas
têm contribuído para a inclusão social com mais eficiência do que as medidas
penitenciárias.
O investimento que deve ser implementado nas instituições penitenciárias
deve ser para a reeducação dos educandos, e para a diminuição de seus presos
e não para a expansão do sistema.
O ECA não é uma lei que contribua para a impunidade, pelo contrário, ela
responsabiliza os adolescentes e também seus responsáveis. Ele não contém
somente o caráter punitivo. Suas formas de responder ao ato infracional são
inteligentes e estimulam mudanças e reflexões; o ato de reparar o dano e a
prestação de serviço à comunidade são fortes exemplos disso.
É preciso que o Estado faça valer de fato os direitos garantidos na Consti-
tuição, e o direito à educação é fundamental para o desenvolvimento humano.
E infelizmente o Brasil não tem um bom investimento nesse direito, pois o
índice de analfabetismo ainda é alto. O mais assustador é saber ainda que a
maior porcentagem daqueles que estão em ambas as medidas punitivas, tanto
pelo sistema socioeducativo quanto pelo sistema penal, são pobres e não têm
o ensino fundamental completo.
Portanto,“arrastar o problema do jovem no Brasil para o âmbito prisional
sem que jamais ele tivesse sido tratado decentemente no âmbito educacional
é triste, irresponsável e abusivo” (ENDO, 2007; In: ZAMORA, 2008, p. 15).
Como pode ser observado, as punições destinadas aos menores devem
partir de uma adequação que envolva ressocialização por meio da educação e
possibilidades de reinserção social.

CONCLUSÃO
O presente artigo trata de um assunto polêmico e importante para a so-
ciedade como um todo, pois a violência está presente em todas as camadas
sociais. No entanto, ela se destaca com mais intensidade na camada social
excluída de direitos. E não foi difícil entender isso. Estudos e pesquisas de-

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 43
monstram que os mais prejudicados são aqueles que não têm acesso aos seus
direitos fundamentais.
Como visto no primeiro título, foi uma jornada difícil e trabalhosa para a
conquista dos direitos sociais e principalmente dos direitos que tratassem es-
pecificamente das crianças e adolescentes. O país teve um histórico desumano
e cruel para com as pessoas. O racismo imperava, a injustiça era praticada e
aceita como sendo o certo.
Os adolescentes que cometiam delitos eram severamente punidos e não
tinham nenhum tipo de direito defendido em lei. Apesar das tentativas de
busca por seus diretos após a Independência, os representantes brasileiros
ainda não possuíam um olhar diferenciado para com o público infanto-juvenil.
As primeiras discussões que trataram desses direitos com atenção à prote-
ção integral, surgiram no âmbito internacional. Enfim, os legisladores brasilei-
ros passaram a ter por base as leis internacionais que tratavam da dignidade
humana.
Devido às conquistas de direitos para as crianças e adolescentes, atualmen-
te defendidos nacionalmente pela Constituição de 1988 e pelo ECA, a Pro-
posta de Emenda à Constituição para a redução da maioridade penal para 16
anos torna-se inviável, pois sua aprovação seria um regresso social. Seria uma
negação das lutas já vencidas. E ainda, a proposta é inconstitucional ferindo a
cláusula pétrea. Leis estas que foram avaliadas em convenções internacionais.
O público infanto-juvenil já foi massacrado por muitos anos, e atualmente
ainda há evidências de descaso para com eles. Nas ruas, pode-se ver seus direi-
tos sendo violados. O Estado, ao invés de tentar resolver o problema tirando
sua liberdade devia zelar para que sejam cidadãos livres e não somente isso,
mas cidadão livres com dignidade. E para que essa liberdade seja alcançada é
preciso que seus direitos fundamentais sejam garantidos de fato e de direito e
não somente na teoria.

REFERÊNCIAS
ARRUDA, Ketlyn Catrine dos Santos. “As Medidas Socioeducativas e a Redução
da Maioridade Penal” 2014. 57 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel
em Serviço Social). Faculdade da Amazônia Ocidental. Rio Branco/AC, 2014.
ARRUDA, Daniel Péricles; PINTO, Patrícia da Silva. O Trabalho do Assistente
Social na Medida Socioeducativa de Internação: Práticas e Desafios. Disponível em <
http://www.cress-mg.org.br/arquivos/simposio/O%20TRABALHO%20DO%20
ASSISTENTE%20SOCIAL%20NA%20MEDIDA %20SOCIOEDUCATIVA%20DE
%20INTERNA%C3%87%C3%83O.pdf> Acesso em 28 de outubro de 2014.
CFESS. A não redução da maioridade penal é motivo para comemorar! 24 de
fevereiro de 2014. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/
cod/1064> Acesso dia 11 de novembro de 2014.

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MOREIRA, Ivana Aparecida W. Reflexões acerca dos direitos humanos e as
medidas socioeducativas. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br>
Acessado dia 20 de outubro de 2014.
PLANALTO. Constituição Federal de 1988. Disponível em < http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 22 de
abril de 2014.
______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em 23 de outubro de 2014.
RAUPP, Luciane Marques. Adolescência, drogadição e políticas públicas:
recorrentes no contemporâneo. Pós-graduação em Psicologia Social e
Institucional. UFRGS. Porto Alegre, 2006. Disponível em: <http://www.lume.
ufrgs.br/bitstream/handle/10183/9985/000554400.pdf?sequence=1> Acesso dia
18 de junho de 2014.
SILVA, A. R. da. A (In) constitucional pena alternativa da perda de bens e valores.
Artigos Originais, Iniciação científica – Cesumar, vol. 4. n.01, pp. 13 – 22, 2002.
SILVA, Gustavo de Melo. “Adolescente em conflito com a lei no Brasil: da situação
irregular à proteção integral”. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. vol.
3, nº 5, 2011. Disponível em: <http://www.rbhcs.com/index_arquivos/Artigo.
AdolescenteemconflitocomaleinoBrasil.pdf> Acesso em 28 de maio de 2014.
ZAMORA, Maria Helena. Adolescentes em conflito com a lei: um breve exame da
produção recente em Psicologia. Revista Eletrônica, Rio de Janeiro, 2008.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 45
DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR:
A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO COMPLEMENTAR
DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO.
Lorena Vidal Calid8
Priscyla Oriane Brasileiro9

Resumo: O texto apresenta uma concepção sobre a importância de existir


uma formação pedagógica de professores atuantes no ensino superior. Mos-
tra-se a necessidade de instituir uma identidade do professor no ambiente de
ensino e para isso a reflexão quanto à formação do professor, qualificação aca-
dêmica, pedagógica e interpessoal. A relevância do tema está relacionada ao
entendimento sobre a necessidade não somente de conhecimentos específicos
das matérias lecionadas, mas também de aliar esses conhecimentos ao saber
ensinar, desenvolvimento de teorias didáticas, análise crítica das práticas, en-
tre outros aspectos que vão além do mostrar, como por exemplo, a avaliação.
Percebe-se a necessidade de que todos esses itens serem estudados e levados
em conta para que não haja apenas uma reprodução pessoal da figura do
professor e sim a formação de profissionais com capacidade crítica, na busca
de formar pedagogicamente o profissional docente, expor a valorização da
profissão de modo que a docência no ensino superior não seja vista apenas
como complemento de renda e conscientizar o docente de que o aluno, além
de profissional da área específica, poderá ser futuro docente.
Palavras-chave: Formação pedagógica no ensino superior. Identidade do pro-
fessor. Qualificação acadêmica.

Abstract: The text presents a conception of the importance of good pedagogical


training of teachers working in higher education. It shows the need to establish
an identity of the teacher in the teaching environment and this reflection as
teacher training, academic qualification, educational and interpersonal. The
relevance of the topic is related to the understanding of the need not only specific
8
Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade da Amazônia Ocidental,
pós-graduanda em Design de Interiores: produção e ambientação do espaço pelo IPOG,
especialista em docência no Ensino Superior pela Faculdade da Amazônia Ocidental,
graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade da Amazônia Ocidental.
E-mail: lohcalid@hotmail.com
9
Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade da Amazônia Ocidental,
pós-graduanda em Design de Interiores: produção e ambientação do espaço pelo IPOG,
especialista em docência no Ensino Superior pela Faculdade da Amazônia Ocidental,
graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade da Amazônia Ocidental.
E-mail: arqpbasileiro@gmail.com

46 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
knowledge of taught subjects, but also to combine this knowledge to learn
teaching, development of teaching theories, critical analysis of practices, among
other things that go beyond the show, as for example the review. We see the need
for all these items be studied and taken into account so that there is not only
a personal reproduction of the teacher figure, but the training of professionals
with critical skills, seeking to form pedagogically teaching professional, exposing
the appreciation the profession so that the teaching in higher education is not
seen only as an income supplement and educate the teacher that the student, in
addition to the specific professional area, may be future teachers.
Key-words: Pedagogical training. Identity of the teacher. Academic
qualification.

INTRODUÇÃO
Muitos profissionais tornam-se docentes em ensino superior como forma de
complementação de renda ou até mesmo em busca das primeiras experiências
profissionais, não sendo uma profissão escolhida pelo profissional e sim impos-
ta pela falta de oportunidade em sua área de formação específica ou até mesmo
pela alta demanda do mercado na área da educação. Percebe-se que esses no-
vos professores inseridos no âmbito do ensino, em sua maioria, são professores
“improvisados”, sem preparação para a sala de aula e sem formação pedagógica.
Vale ressaltar que, no Brasil, não há regulamento a respeito da formação de
docentes para o ensino superior, admitindo que este seja preparado em cursos
de especialização enquanto já docente e vivenciando a sala de aula.
Há certa indagação sobre o que caracteriza um professor universitário.
Estudos têm mostrado que os mesmos aprendem a docência de acordo com
as necessidades e dificuldades enfrentadas no dia a dia em sala de aula ou se
espelhando em seus professores da época em que eram discentes.
Para que um profissional seja um bom professor será suficiente o domínio
na área específica, não havendo a necessidade de formação complementar?
Indagar sobre a docência no ensino superior traz a reflexão sobre o méto-
do de formação para o professor universitário, buscando compreender de que
forma graduados na área específica se tornam docentes e, considerando seus
aspectos teóricos e práticos, quais as necessidades de aprendizado se fazem
necessárias para os desafios de uma formação pedagógica que evidencie o pa-
pel do professor universitário no processo de formação pessoal e profissional
dos acadêmicos.

1. A PROBLEMÁTICA DA DOCÊNCIA
O número de professores universitários tem aumentado consideravelmen-
te. Esses professores em sua grande maioria não estão preparados para as

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 47
novas atividades a que são designados, ou seja, sem formação pedagógica,
comprometendo a evolução dos alunos.
O fato de profissionais como advogados, arquitetos, engenheiros, conta-
dores, assumirem o posto também de professores, exige a necessidade de ins-
tituições de nível superior contratantes elaborarem programas de preparação
desses profissionais para o exercício da docência. Este preparo deve abordar
problemáticas da complexidade do que é o ensinar e formar diversos profis-
sionais para quaisquer áreas que os alunos possam vir a atuar.
Assim, Pimenta afirma que:

A preocupação com a qualidade dos resultados do ensino superior,


sobretudo os de graduação, revela a importância da preparação po-
lítica, científica e pedagógica de seus docentes. Também as novas de-
mandas apresentadas a esses profissionais, muitas vezes os sobrecar-
regando, tem impulsionado estudos e pesquisas na área (PIMENTA,
2002, p. 249).

Hoje, as instituições de ensino superior possuem professores com vasta


experiência e anos de estudo em suas áreas específicas, e impera o despre-
paro no processo de ensino e aprendizagem pelo qual se responsabilizam
ao entrarem na sala de aula. Resultando em aulas sem planejamento ou me-
todologias adequadas e preocupação no controle institucional. A docência
ultrapassa o âmbito da sala de aula e coloca em cheque as aplicações do
ensino de graduação.
A preocupação com a formação de professores universitários e com a qua-
lidade do ensino superior é algo crescente, devido à expansão do número de
docentes e cursos superiores. Dados da Unesco apontam para um aumento
de 40 vezes o número de professores universitários em 40 anos (UNESCO/
CRESALC).
O Decreto 2.207/97, no art. 13 (BRASIL, 1997) determina a quantidade
de docentes titulados que a instituição deve ter de acordo com seus anos de
vigência, porém não concebe a docência universitária como processo de for-
mação e sim como preparação para o exercício profissional do docente, a qual
realizar-se-á em pós-graduação stricto sensu, provocando aumento na demanda
desses cursos, especialmente na área da Educação, dado que percebe-se na
ausência de formação para a docência na programação das demais áreas. A
falta de obrigatoriedade expressa na lei acerca do nível de formação, provoca
também o crescimento da demanda do curso de pós-graduação lato sensu, que
significa salários mais baixos do que o exigido para o título anterior.
Estudos sobre pesquisas no Brasil, reconhecem a contribuição e o lugar
da ciência didática na formação e na atividade docente, buscando identificar
o processo de produção da identidade do professor, como a relação profes-

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sor-aluno em sala de aula, o ensinar e aprender na academia, metodologia no
ensino, caracterização do professor e o significado da avaliação para o profes-
sor e para o aluno.
Quando professores universitários são questionados a respeito do que es-
peram da didática, a resposta de que seriam as técnicas de ensino, já que o
único modelo a seguir são seus próprios professores, é quase que unânime. A
Pedagogia não se delimita à didática de sala de aula; está presente em ações
educativas da sociedade em geral, o campo didático é o ensino, atividade de
transformar a educação difusa em conteúdos formativos.

2. SABERES DA DOCÊNCIA
A principal mediação no processo de construção da identidade dos do-
centes é o significado social que atribui a si mesmos. Ao chegar na docência
universitária, trazem consigo inúmeros conceitos do que é ser um professor,
conceitos esses adquiridos através dos diversos professores que tiveram no am-
biente escolar e de graduação, formando pontos positivos e negativos, o certo
e o errado, para se espelhar ou não, somado aos estereótipos que a sociedade
e a mídia apresentam. Está formado o desafio da transição de ex-aluno da ins-
tituição para professor da mesma, formando sua própria identidade e modelo
de didática e procurando consertar as atitudes que julgaram inapropriadas de
seus antigos professores.
Segundo NÓVOA (1992, p. 10), “ser professor obriga a opções constan-
tes que cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar, e que
desvendam na maneira de ensinar a nossa maneira de ser”.
A educação é aliada à humanização, com o desígnio de transformar
indivíduos em seres atuantes da civilização e da inserção social crítica e
transformadora. Educar na universidade é preparar jovens para o mun-
do atual, e isso requer preparação científica, técnica e social. Sociedade
abastada em avanços civilizatórios e com vasto problema em desigualdade
social, econômica e cultural, dilemas de valores e de finalidades. O mestre
tem a árdua tarefa de ser papel fundamental na inserção do indivíduo no
mundo atual por intermédio de reflexão, conhecimento, compreensão, ha-
bilidades e atitudes, para que se tornem capazes de pensar e gerar soluções
para os desafios do cotidiano.
Portanto, o modo como a educação é praticada é importante e fundamen-
tal para sua finalidade de atender seus desafios contextualizados na contem-
poraneidade.
Quais são os desafios? Segundo Pimenta (2002)
a) sociedade da informação e do conhecimento;
b) sociedade da depreciação das condições humanas, traduzida na vio-

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n n Fevereiro 2016 n 49
lência, na concentração de renda na mão de minorias, pela destruição
da relação interpessoal etc.;
c) sociedade do não emprego e das novas configurações do
trabalho.
Reconhecendo a rapidez das informações na sociedade moderna, faz-se
necessário entender a diferença entre informação e conhecimento, as quais
assim se descrevem:
• Informação: manipulação e organização de dados, podendo represen-
tar uma modificação da informação que se recebe e carregando uma
diversidade de significados. Pode ser apresentada em forma impressa,
escrita, eletrônica, transmitida, falada, conversada e possui um ciclo
de vida, seu manuseio, armazenamento, transporte e descarte.
• Conhecimento: mais que obter informação, significa trabalhá-la. Ana-
lisar, organizar, identificar as fontes, estabelecer diferenças na produ-
ção de dados, contextualizar, relacionar. Transformar o que foi obtido
em conhecimento, que é o principal ponto de uma instituição de ensi-
no superior.
Conhecimento é tudo aquilo que o professor contextualiza, de acordo
com sua informação e experiência para que seja transmitido ao aluno.
Para a maioria dos professores “ter didática” é “saber ensinar” e afirmam
ainda que “muitos sabem a matéria, mas não sabem repassar aos alunos”, e
esse contraponto mostra o reconhecimento de que para saber ensinar não
basta o conhecimento e a experiência da área específica, fazendo-se necessário
saberes pedagógicos e didáticos.
Confirmando a afirmação de Suchodolski,

o conhecimento da ciência pedagógica é imprescindível, não por-


que contenha diretrizes concretas válidas para ‘hoje e amanhã’, mas
porque permite realizar uma autêntica análise crítica da cultura pe-
dagógica, o que facilita ao professor debruçar-se sobre as dificulda-
des concretas que encontra em seu trabalho, bem como superá-las
de maneira criadora (SUCHODOLSKI, 1979, p. 477).

A docência na universidade caracteriza-se como a continuidade de cons-


trução de identidade docente por meio dos saberes da experiência, construí-
dos com o exercício profissional. Esse ambiente de atuação profissional é cons-
tituído de propostas educacionais que venham a valorizar a formação docente,
reconhecendo a capacidade de decidir do indivíduo.
O princípio da profissão de professor exige discernimento acerca do sig-
nificado da educação na sociedade contemporânea que reflete na atividade

50 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
do docente, sempre estando atento às particularidades e à essência de ser
docente, respondendo aos desafios apresentados e construindo a identidade
do professor.

3. IDENTIDADE DO DOCENTE
Ao escolher tornar-se professor, o profissional traz consigo imensa baga-
gem de conhecimento em sua área de pesquisa e atuação profissional, porém
sem nunca ter havido o questionamento do que é ser professor, no mesmo
instante em que a instituição de ensino contratante já o supõe como docente,
tirando assim a carga de “se tornar”. Este fato traz danos e pouca evolução do
ensino e dos resultados, sem contar a desvalorização do profissional docente
no ensino superior.
Como as instituições de ensino superior podem possibilitar a construção
de identidade e a capacitação dos docentes?
Primeiramente pela efetivação da formação na área. O tempo passa-
do na universidade como graduando já é considerado como preparação
e profissionalização de sua área específica, porém não capacita para a es-
colha de atuação na docência. Profissionais que optam por cursar uma
pós-graduação em docência ou com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes), desfrutam disciplinas na área
pedagógica pondo em debate a preparação necessária para a prática da
docência. Contudo, para as demais áreas de especialização, a construção
do ser docente se dá através de sua trajetória em sala de aula como aluno
e posteriormente como professor, mas as diretrizes passadas ao longo dos
anos de graduação visam objetivos, conceitos e ideais para a participação
em sua entidade de classe, para uma profissão que comumente não é a de
docência.
Mesmo as instituições, tampouco o profissional, não dando os devidos
créditos a isso, a partir do momento que um graduado se torna professor, esta
passa a ser também a sua profissão, independentemente de outras atividades
que possa exercer na sua área específica, fora da instituição. Essa desconside-
ração da profissão leva à dificuldade de esclarecer a necessidade de alternati-
vas diante dos desafios da realidade de ensino.
A formação acadêmica, os conceitos e conteúdo específicos, os ideais
e objetivos, regulamentação e código de ética são elementos construtivos
da profissão docente que constituiriam uma formação inicial, porém esses
aspectos acabam sendo considerados apenas na profissionalização conti-
nuada. Ações mais efetivas vêm ocorrendo nessa modalidade de profissio-
nalização, entrelaçando os vários saberes da docência: experiência, conhe-
cimentos, saberes pedagógicos e processo de construção da identidade do
profissional.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 51
O conhecimento da realidade institucional é crucial para a docência uni-
versitária; o processo formativo objetiva a elaboração de propostas e orienta-
ções para a superação dos conflitos que possam vir a ser apresentados. Para a
construção dessa identidade docente é necessário reelaborar os conceitos to-
mados como verdades. A atuação profissional é um seguimento: planejamen-
to, execução, avaliação das atividades de forma individual. Faz-se necessário
indagar sobre o que deve ser mantido e o que deve ser descartado, fundamen-
talizando os fins e valores. Ser professor é aderir princípios, valores e investir
na potencialidade dos jovens.
A composição da identidade do docente, “(...) é uma dimensão decisiva
da profissão docente, na medida em que a mudança e a inovação pedagógi-
ca estão intimamente dependentes deste pensamento reflexivo” (NÓVOA,
1992, p. 16).
É possível compreender melhor o significado da prática docente definin-
do a diferença entre prática e ação:
• Prática: educar em diferentes conjunções institucionalizadas, cultura e
tradição das instituições. Conteúdo e ordem da educação.
• Ação: modo de agir e pensar, valores, conhecimento, esquemas
teóricos.
A prática é o que identifica as instituições e a compreensão das ações é
que possibilita a transformação das instituições e, consequentemente, de seus
professores. A constante preocupação com a qualidade dos resultados do ensi-
no superior revela a importância da preparação do docente, de forma política,
científica e pedagógica. As novas demandas apresentadas a esses professores,
sobrecarregando-os, impulsionam a percepção da necessidade de formação
do docente. A preparação pedagógica conduz a reconstrução da experiência,
sendo mobilizadora para a revisão e construção de novas formas de ensinar.
O desafio a ser enfrentado hoje é que a preparação pedagógica se dá em
conjunto do desenvolvimento institucional e pessoal, e nem sempre a institui-
ção está disposta a acompanhar a vontade de progresso do professor e vice-
versa, além da busca por professores abertos a essa reflexão sistemática da
ação docente, à reelaboração dos seus saberes e à prática do confronto com o
cotidiano da sala de aula, sem contar que o aluno como parceiro é um elemen-
to crucial para a reflexão docente.
A formação de docentes apenas por um currículo concebido através de suas
experiências específicas proporciona apenas uma fusão de vários conhecimen-
tos sem qualquer tipo de direcionamento ao plano pedagógico da instituição,
além de dificultar a produção de conhecimentos significativos e mais críticos. A
ação docente deve trazer transformação social e formação dos setores dominan-
tes, colaborando determinadamente para a construção de novos paradigmas e

52 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
implementação pedagógica, de modo que possibilite a formação de profissio-
nais compromissados com sua profissão, inclusive para o caso de virem a tor-
nar-se novos docentes. Percebem-se vários aspectos que favorecem à percepção
da identidade docente. O contato e a colaboração que o curso de especialização
docente podem trazer ao professor permitem repensar suas experiências profis-
sionais para poder levá-las à sala de aula, mediante análise e reflexão.
O desenvolvimento profissional envolve, sim, a formação inicial e conti-
nuada dos profissionais, junto à valorização da identidade docente. Identida-
de essa que reconhece a docência como campo específico de conhecimento,
configurado em quatro grandes áreas: 1) conteúdo das inúmeras áreas da
ciência e do aprendizado; 2) didática pedagógica diretamente relacionada à
prática profissional; 3) saberes pedagógicos mais amplos no campo pedagó-
gico teórico da prática educacional; 4) explicitação do sentido da existência
humana pessoal e individual, sensibilidade pessoal e social. Visto que a prática
da docência institucional é um campo específico de intervenção profissional
na busca pela prática social.
Todo esse desenvolvimento de mestres no âmbito da educação de cursos
superiores, tem sido objetivo de propostas educacionais da dita valorização
da formação de um docente, na tentativa de deixar de lado a racionalidade
técnica, fugindo da prática de professor apenas como executor das identida-
des alheias, reconhecendo a sua capacidade de decidir, produzir e ensinar. Ao
aceitar essa produção de identidade individual de cada professor, o confronto
das ações cotidianas passa a existir como produção teórica, possibilitando a
prática de rever as teorias da transmissão de informações, produzindo novas
ciências para a prática de ensinar. Tudo isso só é possível no momento em
que o professor consegue ampliar a sua consciência sobre a própria prática
de sala de aula e de universidade de forma global. Enfatiza-se a colaboração
dos professores em meio à transformação das instituições de ensino superior
e de educação continuada, mudando os projetos educacionais e as formas de
trabalhos pedagógicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos pontos aqui colocados, pode-se afirmar e frisar a importância
da preparação pedagógica para docentes ingressantes no quadro das universi-
dades. Há necessidade do desenvolvimento da identidade dos professores nos
cursos de pós-graduação, enquanto futuros professores de ensino superior.
Parte-se do pressuposto que a formação para a docência universitária é
imprescindível no âmbito do curso de especialização, independentemente de
que o curso seja para formação docente ou formação específica.
A preparação pedagógica: criação de disciplinas, acompanhamento de
aulas na graduação, programa de palestras, conferências e eventos, devem

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 53
ser adotadas como complementares à temática da docência, multiplicando
os aspectos extra sala de aula, ampliando o ensino como quesito social e não
apenas metodológico.
Não esquecendo que, ponto crucial para a implementação da prática da
formação para o docente, é trazer junto a este ponto a valorização do profissio-
nal. Para que o próprio graduado possa ver a docência como profissão e como
parte integrante da sua evolução como profissional em sua área de atuação.
Que a profissão do professor deixe de ser apenas complementação ou última
opção e sim profissão digna de atuar e buscar aperfeiçoamento e reconheci-
mento profissional e social.

REFERÊNCIAS
CASTELLI, Maria Dinorá Baccin; PEDRINI, Maristela. A Formação Docente No
Contexto Do Ensino Superior. IX Seminário de Pesquisa em Educação da Região
Sul, 2012.
BRASIL. Decreto n. 2.207, de 15 de abril de 1997. Regulamenta, para o Sistema
Federal de Ensino, as disposições contidas nos arts. 19, 20, 45, 46 e § 1º, 52,
parágrafo único, 54 e 88 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e dá outras
providências. 1997.
DURHAM, Eunice R.; SCHWARTZMAN, Simon. Avaliação do Ensino Superior
– Coleção Base, v.2. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992
NÓVOA, A. “Os professores e as histórias da sua vida” In: NÓVOA, A. (Org.).
Vidas de professores. Portugal: Porto, 1992.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargo. Docência no
ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002.
PAIVA, Vanilda; WARDE, Mirian Jorge. Dilemas do Ensino Superior na América
Latina. Campinas, SP: Papirus, 1994.
SUCHODOLSKI, Bogdan. Tratando de pedagogia. 4. ed. Barcelona: Península,
1979.
CRESALC, Unesco. Informa Bienal 1996-1997 da Oficina Unesco – Caracas.
Centro Regional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe.
Venezuela. 1998.
VASCONCELOS, Marilúcia Correia; AMORIM, Delza Cristina Guedes.
A Docência no Ensino Superior: uma reflexão sobre a relação pedagógica. Disponível
em: <https://www1.ufrb.edu.br/nufordes/pedagogia-universitaria? download=5:a-
docncia-no-ensino-superior-e-a-relao-pedaggica> Acesso em: 23 de julho de 2015.

54 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
GESTÃO DA CIDADE PELA PARTICIPACÃO
POPULAR – UMA ANÁLISE DO ATUAL PLANO
DIRETOR DE RIO BRANCO
Ana Maria Cardoso Cunha Araújo10
Nélio Domingues Pizzolato11

Resumo: O tema pesquisado – Participação Popular no Plano Diretor de Rio


Branco/AC – enfocou a elaboração do Plano Diretor de Rio Branco/AC,
como se deu esse processo e se realmente considerou a participação da popu-
lação rio-branquense. Atendendo aos objetivos propostos, foi feita a descrição
e também uma análise da percepção dos cidadãos sobre o mesmo. Como me-
todologia de trabalho adotou-se vários tipos de pesquisa – histórica, bibliográ-
fica, documental, e por fim, pesquisa de campo envolvendo entrevistas com
170 pessoas. O resultado obtido foi um documento que mostra o contexto de
gestão de cidade feita a partir desse instrumento, a importância da participa-
ção popular nas tomadas de decisões, a história da democracia e da partici-
pação no Brasil, além de contar de forma bem sucinta a história da evolução
urbana de Rio Branco e suas experiências com planos diretores. Para se che-
gar m a esse resultado, a Constituição Federal e o Estatuto da Cidade foram
igualmente estudados. A conclusão a que se chegou foi a de que o terceiro
Plano Diretor feito para Rio Branco contou com a participação popular, cum-
prindo os preceitos da democracia resguardados pela Constituição Federal e
pelo Estatuto da Cidade, ainda que, a pouca divulgação dos eventos e a falta
de conhecimento em relação ao mesmo tenha impossibilitado a participação
da maior parte dos habitantes de Rio Branco; as pessoas que participaram dos
eventos estavam investidas de autoridade para tomar as decisões, elas repre-
sentavam a população; a vontade da maioria dos partícipes prevaleceu, mesmo
que isso não reflita o sentimento de todos os moradores.
Palavras-chave: Gestão da Cidade. Democracia no Brasil. Participação Popu-
lar. Plano Diretor. Cidade de Rio Branco/AC.

10
Mestranda em Engenharia Civil pela UFF. Especialista em Gestão Ambiental Urbana pela
Fundação Escola do Servidor Público do Acre. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela
UFC. Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade da Amazônia Ocidental
(FAAO). E-mail: 12ana.cunha@gmail.com
11
Pós-doutor pela Université de Montréal. Doutor em Business School pela University of
North Carolina. Mestre em Engenharia de Produção pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro. Bacharel em Engenharia Industrial Mecânica pela Pontifícia Universida-
de Católica do Rio de Janeiro. E-mail: ndp@puc-rio.br

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 55
Abstract: The subject searched has focused on the preparation of the Director Plan
of Rio Branco, the capital city of the State of Acre (AC) in Brazil. The questions
of interest were how the process was conducted and if it has really considered
the participation of the city´s population. In view of the objectives proposed,
a description and analysis of its citizen´s perception was conducted. The
working methodology adopted has considered several types of search: historical,
documental, bibliographical, and field research involving interviews with one
hundred and seventy persons. The result was a document that discusses the city
management experiences along the previous Director Plans; the importance of
the popular participation in the decision making processes; a brief democracy and
participation history in Brazil; a short review of Rio Branco’s urban development
and its experience with previous Plans. The Federal Constitution and the Statute
of the Cities were also examined. The main conclusions were that the third
Director Plan made to Rio Branco was mostly popular and in compliance with the
requirements of democracy determined by the Federal Constitution and by the
Statute of the Cities, despite limited dissemination of the related events and the
lack of information has restricted the participation of most of the inhabitants; the
people who participated had the authority to take decisions since they represented
the population whose will ultimately prevailed although not reflecting the feelings
of the majority of the residents.
Key-words: Management of the City. Democracy in Brazil. Popular
Participation. Master Plan. City of Rio Branco/AC.

INTRODUÇÃO
O município de Rio Branco/AC esperou por 20 anos para ter o Plano
Diretor revisado, mesmo tendo essa legislação como instrumento para ações
rotineiras de licenciamentos de vários empreendimentos ao longo de todos
esses anos.
Passados todos esses anos, o Poder Público decidiu por montar uma equi-
pe e estrutura para gerenciar a ação de revisão e elaboração de uma nova lei.
O assunto em questão possui abordagem voltada para a forma como se deu
esse processo de revisão para a elaboração do novo instrumento de gestão.
A Prefeitura Municipal de Rio Branco vivenciou, por parte de alguns seg-
mentos de seus funcionários, uma série de questionamentos com relação à
forma de melhor desenvolver seus trabalhos, bem como das áreas nas quais
haveria necessidade de sofrer ajustes a fim de praticar uma administração
participativa. Aprofundar o tema sobre a gestão participativa é justificável em
função da participação popular ganhar importância cada vez maior no geren-
ciamento das cidades brasileiras.
Durante toda a feitura do Plano Diretor Participativo de Rio Branco, com-

56 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
preende-se que houve a manifestação popular. A população foi representada
pelos segmentos: poderes públicos, empresários, trabalhadores, categorias
profissionais, categorias acadêmicas, ONGs e movimentos sociais e populares.
Falar sobre a questão social se constitui uma oportunidade de aprender e
ajudar na construção desse processo de forma diferente, uma vez que não foi
encontrada nenhuma pesquisa elaborada na cidade de Rio Branco.

1. GESTÃO DA CIDADE
A cidade possui dentro de seu universo espaços para atividades distintas,
lugares específicos para o desenvolvimento de ações e, ainda demanda geren-
ciamento.
Falar de gestão da cidade com a participação popular demanda que se
avalie o capital social, apresentado por Fukuyama (1996, p. 21 e 22) como
“(...) a capacidade de as pessoas trabalharem em conjunto, em grupos ou
organizações que constituem a sociedade civil, para a prossecução de cau-
sas comuns”.
Tal participação só acontece quando a população confia nos gestores e na
motivação dos mesmos ao apresentaram suas propostas.

2. REGIME DEMOCRÁTICO NO BRASIL


Compreendendo que a participação popular na gestão das cidades é fruto
da maturidade do regime democrático no Brasil, é imprescindível abordar al-
gumas nuances, como o sentido do regime democrático, que segundo Arturi

uma definição do regime democrático, […], exige a observância


das seguintes condições: 1) que todos os atores políticos relevantes
devem submeter-se à livre competição pacífica pelo poder, seja por
valorizarem a democracia, seja por cálculo político que indique
que os custos e riscos de não a aceitar são maiores do que seguir
suas regras; 2) que nenhum ator político possua poder de veto quer
sobre a participação de outros, quer sobre os resultados da compe-
tição política; 3) que não existam instituições estatais independen-
tes e autônomas frente ao poder político democraticamente eleito
(ARTURI, 2001, p. 12-13).

A democracia é um conjunto de preceitos que institui os procedimentos à


tomada de decisões coletivas e quem está autorizado a tomar essas decisões.
Partindo dessa premissa, é possível afirmar que o Plano Diretor de Rio Branco
foi elaborado à luz da democracia, pois todo o processo de sua feitura contou
com a participação da Comissão Municipal de Urbanismo (CMU), compos-
ta por representantes dos segmentos sociais imbuídos de poder para decidir

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 57
questões relativas ao município. Essa permissão, cumprindo sua missão, to-
mou as decisões por toda a população do município.

3. PARTICIPAÇÃO POPULAR
A história da participação política no Brasil apresenta várias mudanças
que ocorreram ao longo dos anos. Inicialmente os ocupantes dos cargos do
poder Legislativo eram escolhidos mediante comprovação de renda – esse fato
aconteceu durante o Império, em 1822, após a Independência. A Lei Saraiva,
depois disso, define que o eleitor para tomar parte nas tomadas de decisões
precisava ter sido alfabetizado. Somente em 1932 foi concedido o direito ao
voto para as mulheres. Com o golpe militar, em 1964, os ocupantes de cargos
executivos passam a ser escolhidos ou indicados. Em 1979 foi permitida a
reorganização dos partidos políticos, no entanto, o eleitor tinha que vincular
suas escolhas no momento da votação para candidatos de um mesmo partido.
O Movimento Diretas Já nasceu pela insatisfação com esse governo.
Em registros feitos por Putnam, Leonardi e Nanetti (2002, p. 128), consta
que uma parte dos representantes políticos italianos da década de 1970 achava
que a democracia cresce quando há a participação popular, e que a descentra-
lização aumenta a eficácia administrativa.
Uma das consequências da democracia é resguardar o direito de participa-
ção da população na condução da gestão do lugar, sendo que a participação da
população funciona como um mecanismo que garante a eficácia dessa gestão.
A gestão democrática da cidade enfatiza a democracia participativa, tanto
no nível federal como estadual e municipal.
Embora seja necessária a participação popular, percebe-se que esse assun-
to não é interessante para as camadas populares e, por conta disso, muitos não
participam dos eventos de tomadas de decisão para o município, ainda que
sejam convidados para isso.
Tomando-se por base essas verdades, percebe-se que no caso de Rio Bran-
co/AC, a baixa participação deu-se também porque as pretensões da popula-
ção – que no geral tem necessidades mais imediatas – não eram prioridades
durante as discussões nas oficinas de leituras comunitárias e técnicas, ao lon-
go de todo o processo.

4. PLANO DIRETOR
Plano Diretor é um conjunto de regramentos e diretrizes técnicas para
o uso e ocupação do solo do município. Esse instrumento contribui para o
desenvolvimento do mesmo, no que diz respeito aos aspectos físico, social,
econômico e administrativo. Mas é necessário que esse conjunto de normas
seja construído com a participação da população local, pois somente dessa
forma atenderá seus anseios.

58 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Sobre essa temática, em entrevista concedida a Muniz, o ex-prefeito da
cidade de Fortaleza/CE, Vicente Fialho, opinou:

[…] o plano diretor é um instrumento de gestão da cidade, considerando-


se sempre que o planejamento urbano de uma cidade é um processo.
[...]. Então o plano diretor é um instrumento de trabalho que apoia
o processo contínuo de planejamento que toda cidade deve conter,
(MUNIZ, 2006, p. 232).

O planejamento urbano no Brasil e a gestão das cidades apresentam um


histórico de ocorrências em função do ordenamento das ocupações espontâ-
neas, com expectativa de neutralizar as implicações de urbanizações acelera-
das, ao invés de serem instrumentos para evitar tais resultados.
Bernardi, dissertando a respeito desse tema, diz que

[…] os primeiros planos diretores implantados no Brasil, em meados


do século passado, tinham mais um caráter de ordenamento e discipli-
namento do solo urbano. […]. Atualmente tem-se uma visão de plano
diretor mais ampla, considera-se que ele transcende ao aspecto físico-
territorial do espaço urbano, constituindo-se um instrumento integral
que abrange todos os aspectos da vida urbana, desde o planejamento
territorial até o desenvolvimento socioeconômico (BERNARDI, 2007,
p. 359-360).

Em 1964 o regime militar foi instaurado em nosso país, levando o governo


federal a acumular o poder de decisão, reduzindo a autonomia de estados e
municípios. Nesse período a política urbana ficou centralizada, o sistema na-
cional de planejamento acontecia por intermédio do Serviço Nacional de Ha-
bitação e Urbanismo (SERFHAU), do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Urbano (CNDU) e do Banco Nacional de Habitação (BNH).
Ainda sobre esse momento, Bernardi (2007, p. 361) relata que “(...)
durante o regime militar nos anos de 1970, as leis orgânicas dos municípios
adotaram o PDDI como instrumento de planejamento urbano, principalmente
as capitais”.
O autor complementa que por intermédio da Constituição de 1988 (art.
182, § 1º), o Plano Diretor passa a ser considerado norma constitucional, re-
gulamentada pelo Estatuto da Cidade (art. 4º, III), passando a ser instrumento
fundamental de planejamento municipal.

4.1. Plano Diretor de Rio Branco


A cidade de Rio Branco foi fundada em 1882 por Neutel Newton Maia,
ocupando primeiramente a margem direita do Rio Acre; no entanto, em 1912,
passando para as duas margens do rio.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 59
O crescimento desordenado da cidade e a conjuntura política nacional
proporcionaram a condição para que em Rio Branco/AC, ao longo dos anos
fossem elaborados três planos diretores: o primeiro em 1982; o segundo – ba-
tizado como 1º Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – gerado em 1986;
e o atual, de 2006.
O primeiro regramento referente ao ordenamento urbano em Rio Branco
sobreveio pela Lei Municipal n° 331 de 07/01/82, e passou a existir quando o
autoritarismo conduzia a história em nosso país. Ela instituía “normas para orde-
nar e disciplinar o parcelamento e a ocupação do território do município de Rio
Branco”. Essa foi uma tentativa de se fazer planejamento urbano em Rio Branco/
AC, mas se percebia que a questão urbana era dependente da esfera federal.
O segundo Plano Diretor de Rio Branco, nomeado como 1º PDDU/86, Lei
No 611/86 teve sua concepção iniciada em 1985, na administração do prefeito
Flaviano Melo, e foi finalizada em 1986, na gestão de Adalberto Aragão e Silva.
Em matéria escrita por Zílio (2003), publicada no jornal Página 20, dia 26 de
julho de 2003, esse fato ocorreu “(...) logo após o lançamento do programa
Cidade de Porte Médio (CPM), do Governo Federal, que priorizava os investi-
mentos nas cidades a partir de 100 mil habitantes”.
O referido plano nasceu em um tempo em que o corpo burocrático toma-
va as decisões, sem considerar a opinião da população.
Durante 20 anos o ordenamento da cidade de Rio Branco ficou sob essa
legislação, embora nesse tempo a área urbana do município tivesse sido am-
pliada. (Figura 1).
O terceiro Plano Diretor nasceu a partir da revisão do anterior por opção
da PMRB. Esse procedimento iniciou-se em março de 2005. A fim de garantir
que o processo fosse participativo, a PMRB instituiu a Comissão Municipal
de Urbanismo (CMU), composta por 66 membros representantes dos poderes
públicos e da sociedade civil organizada. Esse último plano representa uma
mudança radical no zoneamento da cidade, na classificação dos usos do solo,
índices urbanísticos e sistema viário, além de incluir a zona rural, que não
fazia parte dos planos anteriores.
A PMRB adotou como metodologia iniciar pela Leitura Comunitária, ou
leitura participativa da realidade do município. Essa ação se deu por meio de
oficinas feitas com a comunidade em bairros estratégicos da cidade.
Depois de feita também a leitura técnica e a definição dos instrumentos
previstos no Estatuto da Cidade que seriam utilizados, esse processo culminou
na proposta de projeto de lei, que, depois foi apresentada nas Audiências
Públicas e submetida à discussão entre os membros da CMU, delegados dos
segmentos sociais e parte da população.

60 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
5. ANÁLISE DE RESULTADOS E DIAGNÓSTICO
Feito e aprovado o Plano Diretor, foram aplicados questionários com o
propósito de extrair qual a visão que os entrevistados tiveram do processo e
se haviam participado dos eventos. Essa pesquisa alcançou um total de 170
entrevistados, dos quais 49% eram homens e 51% eram mulheres.
O Gráfico 1 ilustra os percentuais de participação nos eventos. Chama aten-
ção o fato de 70% dos entrevistados não terem tomado parte em nenhum deles.

FIGURA 1. EVOLUÇÃO URBANA DE RIO BRANCO – DE 1985 A 2005

Fonte: Prefeitura Municipal de Rio Branco/AC

GRÁFICO 1. PARTICIPAÇÃO NOS EVENTOS, AMOSTRA TOTAL.

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n n Fevereiro 2016 n 61
CONCLUSÃO
Ao longo da história, a população descobriu uma forma de provocar os
gestores para que desempenhassem o seu papel, no sentido de estabelecer
os regramentos norteadores desse crescimento de forma que as distorções
urbanas pudessem ser tratadas. Foi daí que nasceu a Constituição Federal de
1988. No entanto, a regulamentação dos dois artigos voltados para a questão
urbana só foi efetivada com o Estatuto da Cidade, Lei No 10.257, instituída em
10 de julho de 2001. Essa lei foi um divisor de águas para a forma de se fazer
a gestão do espaço urbano.
O ponto decisivo que pode ser visto é que a participação popular tem
suas formas de acontecer, e que realmente esse formato de fazer a gestão do
município foi o adotado pela PMRB durante a feitura do atual Plano Diretor.
No entanto, esse envolvimento acontece, muitas vezes, de forma diferente da
que é esperada, sobretudo quando se vê a situação com uma visão apaixonada,
ou ainda, quando se toma ao pé da letra a expressão “participação popular”.
Passado o momento de tomadas de decisões, outro fator deve ser con-
siderado: geralmente aquilo que foi o motivo de tantas discussões cai no
esquecimento da maioria dos que fazem parte do processo, e, por isso, ques-
tões que ficaram pendentes deixam de ser solucionadas por caírem no es-
quecimento.
Nas entrevistas feitas ficou claro que muitos munícipes não tomaram co-
nhecimento dos eventos que aconteceram durante a feitura do plano, e ainda,
pode-se perceber que o próprio plano ainda não é do conhecimento de todos.
Em virtude dessa comprovação, propõe-se que os gestores ampliem inves-
timentos no sentido de divulgar os eventos de tomadas de decisões, inclusive
para desmistificar a questão da participação popular, de forma que as pessoas
compreendam que nesse modelo elas encontram-se incluídas e assim, sintam
a liberdade de participar.
Essa proposta se dá em função de que sem o conhecimento do assunto e
sem acesso às informações, o desejo de participar das tomadas de decisões é
inevitavelmente reduzido.

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Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 63
INSERÇÃO DE ADOLESCENTE EM ATOS
INFRACIONAIS: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
OU ANÁLISE DESCRITIVA DO CUMPRIMENTO DE
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E REINCIDÊNCIA.
Elica Oliveira da Silva12
Rosangela de Souza Silva13
Ionara Fonseca da Silva Andrade14

Resumo: Este estudo teve como objetivo investigar como os adolescentes co-
meçam a cometer atos infracionais e por que em algumas situações ocorre a
reincidência mesmo após o cumprimento da medida socioeducativa. Diversos
são os motivos pelos quais os adolescentes encontram-se em conflito com a
lei. Fatores sociais, familiares, psicológicos, culturais são o mais frequentes.
Percebe-se a necessidade de investimentos em políticas sociais integradas que
atendam a população em suas necessidades. O Estatuto da Criança e do Ado-
lescente é a expressão máxima do desejo da sociedade brasileira de garantir
direitos das crianças e dos adolescentes fragilizados e principalmente os de
classe menos favorecida, e apesar de ter boas diretrizes e prever os direitos e
deveres na forma da lei não é totalmente eficiente. Verificada a prática infra-
cional, a autoridade competente deverá aplicar ao adolescente medida socioe-
ducativa levando em conta sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a
gravidade da infração. As medidas socioeducativas quando aplicadas e ade-
quadamente executadas se mostram eficazes na ressocialização de adolescen-
tes infratores, desde que aplicadas corretamente como proveu o legislador na
elaboração do ECA, devendo haver rígido acompanhamento do adolescente e
não somente no que diz respeito ao cumprimento da medida.
Palavras-chave: Adolescente. Ato infracional. Medida socioeducativa. Rein-
cidência.

Abstract: This study aimed to investigate how adolescents begin to commit


illegal acts and because in some situations occurs recurrence even after the
fulfillment of socio-educational measures. There are several reasons why
teenagers are in conflict with the law. Social, family, psychological, cultural
12
Graduada em Serviço Social pela Faculdade da Amazônia Ocidental – Rio Branco/AC – Brasil.
13
Graduada em Serviço Social pela Faculdade da Amazônia Ocidental – Rio Branco/AC – Brasil.
14
Graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Lin-
guagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre. Professora de ensino superior na
Faculdade da Amazônia Ocidental.

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are the most frequent. We see the need for investments in integrated social
policies that meet population needs. The Statute of Children and Adolescents
is the ultimate expression of the desire of Brazilian society to ensure rights of
children and vulnerable adolescents and especially the least favored class, and
despite having good policies and lay down the rights and duties under the law
does not It is totally efficient. Checked for criminal behavior, the competent
authority shall apply to the adolescent socio-educative measure taking into
account their ability to fulfill it, the circumstances and the seriousness of the
offense. The educational measures when applied and properly implemented
are effective in the rehabilitation of young offenders, if properly applied as
provided the legislator in the preparation of ACE and should be hard teen
monitoring and not only with regard to the fulfillment of the measure.
Key-words: Adolescents. Infraction. Socio-educational measures. Recurrence.

INTRODUÇÃO
A abordagem do adolescente ainda hoje é muito discutida em diversas
variáveis como sexualidade, conflito com a lei, maioridade penal, entre outros.
Em especial, o caso de adolescentes autores de atos infracionais é o mais de-
batido. De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a in-
cidência de delitos cometidos por adolescentes e jovens chega a 15% e a rein-
cidência nos atos vai de 13% a 22% em uma escala nacional (PASSOS, 2015).
No Estado do Acre, um das Unidades Federativas com as maiores taxas
de internação (onde em cada 10 mil adolescentes, 39,9 estão internados), um
estudo no ano de 2011 apontou cerca de 397 adolescentes cumprindo medi-
das socioeducativas, sendo tanto em meio aberto quanto fechado e realizavam
apoio técnico mediante supervisão (BRASIL, 2012).
Diversos são os motivos pelos quais os adolescentes encontram-se em con-
flito com a lei. Fatores sociais, familiares, psicológicos, culturais são os mais
frequentes. Percebe-se a necessidade de investimentos em políticas sociais in-
tegradas que atendam à população em suas necessidades.
Os adolescentes autores de atos infracionais necessitam mais de uma Rede de
Proteção do que de um sistema que os responsabilize. No entanto, todos os ado-
lescentes que cometerem delitos devem ser obrigatoriamente responsabilizados.
É dever do Estado, da sociedade e da família promover este direito e o
apoio por meio de políticas públicas voltadas principalmente para a educação,
esporte, cultura e lazer. Buscar medidas adequadas a cada situação e soluções
para evitar ou ao menos reduzir os atos e a consequente reincidência.
Instituir políticas que visem à autonomia das famílias e em reformas es-
truturais que permitam uma melhor distribuição de renda, de forma que a
própria unidade familiar possa suprir suas necessidades.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 65
A legislação traz um novo status para a política pública e impõe desafios
de melhoria na gestão do sistema, das unidades e dos programas, explicitando
uma série de direitos dos adolescentes: atendimento individualizado; atenção
integral à saúde; visita íntima; capacitação para o trabalho, participação da
família; dentre outros (BRASIL, 2012).
Considerando tais questões, este estudo, baseado em uma metodologia de
pesquisa bibliográfica por meio de dados históricos e atuais em revistas, arti-
gos, livros e reportagens, tem o objetivo de investigar como os adolescentes
começam a cometer atos infracionais e por que em algumas situações ocorre a
reincidência mesmo após o cumprimento da medida socioeducativa, tomando
como ponto de partida o Estatuto da Criança e do Adolescente, Políticas Pú-
blicas para adolescentes, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
e a influência da família e da sociedade.

1. O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


O artigo 227 da Constituição Federal que trata dos deveres da família, da
sociedade e do Estado de assegurar os direitos das crianças e adolescentes deu
origem ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual materializou e
regulamentou a Doutrina da Proteção Integral preconizada pela ONU (BOR-
GES, 2013). Tal artigo dispõe o seguinte:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão (BRASIL, 1988).
Para Lima (2014), somente com a Constituição de 1988 é que se reconhe-
ceu a possibilidade de crianças e adolescentes participarem direta e ampla-
mente de relações jurídicas com o mundo adulto, na qualidade de titulares
de interesses juridicamente protegidos. Foram concebidos, como sujeitos de
direitos, capazes para o exercício pessoal de direitos relacionados ao desenvol-
vimento saudável e de garantias relacionadas à integridade.
De acordo com esta nova Constituição, foram estabelecidos direitos e ga-
rantias às crianças e adolescentes. Direito à vida, no sentido de permanência
e no sentido de subsistência. Direito à saúde, como direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas adequadas. Di-
reito à educação, direito público, através de ensino fundamental obrigatório
e gratuito. Direito à profissionalização, como desenvolvimento profissional
mediante ensino especializado para aprimorar habilidades naturais, adquirir
técnicas de conhecimento e descobrir vocações. Direito à liberdade, funda-
mental e inerente ao ser humano e princípio básico a ser exercido por todo
cidadão (PRATES, 2001).

66 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
O Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta 267 artigos, constituindo-
se de dois livros: Parte Geral (artigo 1º ao artigo 85) e Parte Especial (artigo 86 ao
258), tendo ainda, as Disposições Finais e Transitórias (artigo 259 ao artigo 267).
Para o ECA em seu artigo 2º, considera-se criança, para os efeitos dessa
Lei, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre 12
e 18 anos de idade.
De acordo com BRASIL (1990), a Política de Proteção Integral, com ênfa-
se na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, veio substituir os modelos
vigentes e, como consequência, provocou uma necessidade premente de reor-
denar o sistema existente. Estabeleceu-se uma preocupação com a criminali-
dade juvenil e a conscientização quanto à gravidade das precárias condições
dessa população (p.11).
Com tal política, cabem duas abordagens principais: a promoção de direitos e
a defesa de direitos. A promoção de direitos estabelece: (1) direito à sobrevivência:
vida, saúde e alimentação; (2) direito ao desenvolvimento pessoal e social: educa-
ção, cultura, lazer e profissionalização; e (3) direito à integridade física, psicológi-
ca e moral: dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária. Já
a defesa de direitos objetiva manter crianças e adolescentes a salvo de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (LIMA, 2014).
O ECA surgiu no contexto de expansão da democracia social, pós-regime
militar, e de participação social, voltado para a promoção dos direitos sociais,
econômicos e civis dos jovens.
Tendo em vista uma nova legislação e de extrema importância, princípios
norteadores foram imprescindíveis para se concretizar e conscientizar o Estado
e a sociedade do momento de mudança que atravessavam, adotando-se os princí-
pios de: proteção integral, prioridade absoluta, condição peculiar da pessoa em
desenvolvimento, intervenção mínima, dentre outros (SOUZA & SILVA, 2012).
De acordo com Soares (2008), o ECA sistematiza, ainda, uma linha de
defesa de direitos através da instituição de medidas de proteção (artigos 98 a
102). As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre
que os direitos reconhecidos nessa Lei forem ameaçados ou violados: por ação
ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais
ou responsável; e em razão de sua conduta.

1.1. Ato Infracional


Ato infracional refere-se à conduta delitiva praticada por menor infrator,
distinguindo da denominação de crime utilizada para referir aos demais su-
jeitos com idade maior que 21 anos e tratados pelo Código Penal (SOUZA &
SILVA, 2012).
O artigo 103 do ECA define “ato infracional a conduta descrita como cri-
me ou contravenção penal”, sendo plenamente inimputáveis os menores de 18
anos, sujeitos às medidas previstas nessa Lei, devendo ser considerada a idade

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 67
do adolescente à data do fato. Ou seja, menor amparado por lei especial juvenil.
Considera-se adolescente infrator o autor da prática de qualquer “infração
penal”, atribuído pelo ECA, o qual não será penalizado, mas sim sofrerá medida
socioeducativa, onde se inclui a internação (BRASIL, 1990).
Conforme Souza & Silva (2012), o infrator estará sujeito à medida socioe-
ducativa, obedecidos os princípios da legalidade ou da reserva legal e aos
demais inerentes ao adolescente.
No campo jurídico, destaca-se o surgimento do sistema de responsabili-
zação penal do adolescente infrator e das ações civis públicas como instru-
mentos de exigibilidade dos direitos subjetivos da criança e do adolescente.
A função jurisdicional abandona o viés assistencial e passa a ser responsável
exclusivamente pela composição de conflitos (BORGES, 2013).
A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI desse artigo pres-
supõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da in-
fração, ressalvada a hipótese de remissão, a advertência poderá ser aplicada
sempre que houver tal prova.
O estatuto propiciou novos pensamentos e é responsável por avanços im-
portantes nos direitos das crianças e adolescentes. Entretanto, ainda há muito
a ser percebido e realizado pela família, comunidade, pelos profissionais de
saúde, educadores, instituições e Estado para que o ECA se torne plenamente
eficaz em nossa sociedade.

2. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Segundo Souza & Silva (2012), o adolescente infrator tem um tratamento
mais rigoroso do que a criança. O rol das medidas apresenta-se taxativo e sua
limitação decorre do princípio da legalidade. Desta feita, fica vedado impor
medidas diversas das previstas no artigo 112 do ECA, o qual dispõe:
Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – prestação de serviços à comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção em regime de semiliberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta sua capacidade
de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a presta-
ção de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental re-

68 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
ceberão tratamento individual e especializado, em local adequado às
suas condições (BRASIL, 1990).
O principal objetivo das medidas socioeducativas é a busca da reeduca-
ção e ressocialização do menor infrator que possui um elemento de punição,
uma vez que tem por finalidade reprimir futuras condutas ilícitas (SOUZA &
SILVA, 2012).
Há a necessidade, como regra geral, de se verificar, antes da aplicação
de medidas, a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade
da infração.

2. SINASE
Instituído pela Lei Federal 12.594/2012 em 18 de Janeiro de 2012, o SI-
NASE é também regido pelos artigos referentes à socioeducação do ECA,
pela Resolução 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA) e pelo Plano Nacional de Atendimento Socioedu-
cativo (Resolução 160/2013 do CONANDA).
A Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012 institui o Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo em todo o território nacional e regulamenta a
execução das medidas socioeducativas destinadas ao adolescente que pratique
ato infracional.
O marco legal do SINASE é resultado de forte mobilização da socieda-
de e ação propositiva do governo brasileiro que durante as últimas décadas
discutiu, propôs e se empenhou em assegurar direitos aos adolescentes que
cumprem medidas socioeducativas (BRASIL, 2012).
A articulação das políticas e normas regulamentadoras para a proteção e
promoção dos direitos de adolescentes cumprindo medida socioeducativa é
executada pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE),
por qual é organizada a execução das medidas socioeducativas aplicadas a
adolescentes aos quais é atribuída a prática de ato infracional (BRASIL, 2006).
O SINASE reafirma a diretriz do ECA sobre a natureza pedagógica da
medida socioeducativa e articula os três níveis de governo para o desenvolvimento de
programas de atendimento, considerando a intersetorialidade e a corresponsabilidade
da família, comunidade e Estado. E estabelece ainda as competências e res-
ponsabilidades dos conselhos de direitos da criança e do adolescente, preven-
do sua integração com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos
(SGD), tais como o Poder Judiciário e o Ministério Público (BRASIL, 2012).
Priorizaram-se as medidas em meio aberto (prestação de serviço à
comunidade e liberdade assistida) em detrimento das medidas privativas ou
restritivas de liberdade em estabelecimento educacional (semiliberdade e
internação), haja vista que estas somente devem ser aplicadas em caráter de
excepcionalidade e brevidade (BRASIL, 2006).

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 69
Trata-se de estratégia que busca reverter a tendência crescente de interna-
ção dos adolescentes, bem como confrontar a sua eficácia invertida, uma vez
que se tem constatado que a elevação do rigor das medidas não tem melhora-
do substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo.
O SINASE constitui-se de uma política pública destinada à inclusão do
adolescente em conflito com a lei que se correlaciona e demanda iniciativas
dos diferentes campos das políticas públicas e sociais (BRASIL, 2012).
Essa política tem interfaces com diferentes sistemas e políticas e exige
atuação diferenciada que coadune responsabilização (com a necessária limi-
tação de direitos determinada por lei e aplicada por sentença) e satisfação de
direitos (BRASIL, 2012).

3. ADOLESCÊNCIA
A adolescência é definida como um período biopsicossocial que com-
preende, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (1965), a segunda
década da vida, ou seja, dos 10 aos 20 anos, dividida em três fases: pré-ado-
lescência, dos 10 aos 14 anos; adolescência, dos 15 aos 19 anos completos; e
juventude, dos 15 aos 24 anos. Esse também é o critério adotado pelo Ministé-
rio da Saúde do Brasil (Brasil, 1990) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) (Brasil, 1990).
A fase da adolescência varia de pessoa para pessoa, de cultura e do perío-
do histórico que se analisa. Há algumas décadas a adolescência começava aos
13 e terminava aos 18 anos.
A adolescência pode ser entendida como um processo fundamental biológi-
co de vivências orgânicas, na qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e a
estruturação da personalidade que constitui o período da vida de 10 a 20 anos.
Por juventude entende o período entre 15 e 24 anos e resume uma categoria
sociológica que constitui o processo sociocultural demarcado pela preparação
dos indivíduos para assumir o papel de adulto na sociedade, no plano familiar
e profissional (LINS, 2002).
O processo de adolescer envolve a sociedade, o lar, a família, grupos, es-
cola, lazer, leis, serviços de saúde, planejamento urbano e todos os cenários
necessários para a existência adolescente (HEIDEMANN, 2006).
Segundo (HEIDEMANN, 2006), pode-se caracterizar a adolescência
como o processo de desenvolvimento físico, emocional e social do ado-
lescente como uma fase de mutação. Cabe uma diferenciação entre pu-
berdade e adolescência. Puberdade refere-se às modificações biológicas, e
adolescência refere-se às transformações biopsicossociais.
Para Prates (2001) a principal razão para a adolescência ser chamada de ida-
de-problema se deve ao fato de que os adolescentes, com muita frequência, são
julgados pelos padrões adultos e não pelos que são adequados às suas idades.

70 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
As condutas adolescentes agressivas com a família, escola e sociedade, tão
criticadas e abominadas, surgem em resposta aos seus conflitos anteriores.
Nessa situação, a agressão é a forma que o adolescente encontra para pedir
socorro e comunicar que ele não está bem (HEIDEMANN, 2006).
Estatisticamente, jovens de 12 a 15 anos sentem-se solitários com maior
frequência do que os de 16 a 20 anos, não existindo nítidas diferenças entre
meninos e meninas (KLOSINSKI, 2006).
Segundo Prates (2001), a família que maltrata crianças e adolescentes,
contribui para o aumento no número de jovens infratores, ocasionando fugas
do lar e desamparo, passando a se dedicar a atividades como vagar pelas ruas,
brincar, furtar, pedir dinheiro, usar drogas e prostituir-se.
A agressividade, como comportamento juvenil, pode ter muitas causas,
em parte condicionadas pelo desenvolvimento, e que ainda continuam sendo
normais. Mas por outro lado a agressão também pode ser entendida como
reação às numerosas contradições do mundo dos adultos.
Para Klosinski (2006), a inclinação para a violência e a criminalidade como
expressão de comportamento agressivo podem ser entendidas como sendo o
estágio final de um processo biopsicossocial; trata-se da união de várias cau-
sas, para o qual ocorrem muitos pressupostos das mais diferentes espécies, e
ao qual se acrescentam fatores situacionais e contextuais.
Entretanto, não há um conceito unificado de violência no Direito Penal,
como também não existem critérios que permitam estabelecer distinção entre
ações sociais e violência (KLOSINSKI, 2006).
Ainda segundo o mesmo autor, a violência reúne poder, prepotência,
opressão, abuso. Um contexto familiar agressivo aumenta a disposição para os
comportamentos agressivos. Crianças e adolescentes que são duramente cas-
tigados ou maltratados apresentam intensas fantasias de agressão. Por outro
lado, pessoas criadas em regime não autoritário têm-se mostrado fortemente
angustiadas, inseguras, irritáveis e reativamente agressivas.
Influências situacionais, como grande falta de espaço, a inexistência
de possibilidades adequadas de jogo e de ocupação, as situações frustran-
tes que impossibilitam a cooperação, ou condições de competição exces-
siva sem criação de laços, levam com frequência à raiva e agressão (KLO-
SINSKI, 2006).
Fatores típicos de influência sociocultural são ainda a violência familiar,
o abuso e abandono das crianças, o alcoolismo dos pais e o comportamento
violento dos adultos; tais fatores deixam marcas que fazem com que os que fo-
ram vítimas na infância mais tarde venham a ser os culpados na adolescência.
Por todos esses motivos é que a adolescência é a fase mais favorável para a
pessoa se envolver em práticas delituosas (VIDAL, 2003).

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 71
4. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A REINCIDÊNCIA DO ATO INFRACIONAL
A grande maioria dos adolescentes que se envolve com atos infracionais
é produto do contexto em que vive, envolvendo humilhação, privação mate-
rial, violências de diversos tipos, abandono familiar e falta de perspectivas
(VIDAL, 2003).
Dentre as inúmeras formas de violência às quais esses jovens são sub-
metidos, pode-se citar a violência emocional vivenciada dentro da própria
família, na escola, nas ruas, quando crianças e adolescentes são humilha-
dos, insultados, coagidos, ameaçados e/ou quando presenciam atos violen-
tos; a violência física, quando crianças e adolescentes recebem castigos físi-
cos, são espancados, feridos em sua integridade física; e a violência sexual,
quando são molestados sexualmente por um adulto ou outro adolescente
(VERONESE, 1998).
É grande o número de adolescentes que deixam a escola após inúmeras
reprovações, por não se sentirem instigados a aprender o que a escola tem
para lhes oferecer, talvez por não compreenderem o sentido desses conteúdos
em suas vidas práticas (VIDAL, 2003). Outros, ainda, deixam a escola para
trabalhar ou por não conseguirem conciliar trabalho e estudos.
Nesse sentido, muitas vezes a família tem grande influência, seja por ne-
gligenciar o abandono escolar ou por incentivar a evasão diante de uma dura
realidade onde a necessidade de sobrevivência fala mais alto (SOARES, 2008).
O alto índice de desemprego, a precariedade financeira e social de uma
grande fatia da população e a falta de perspectivas de mudanças também
pode influenciar no envolvimento dos jovens com os atos infracionais. O pró-
prio tráfico de drogas e o crime organizado representam meios de ganhar a
vida para muitas crianças e adolescentes que muitas vezes acabam por garan-
tir o sustento da família (VIDAL, 2003).
No entanto, os adolescentes em conflito com a lei não encontram eco para
a defesa dos seus direitos, pois, por terem praticado atos infracionais, são des-
qualificados enquanto adolescentes (BRASIL, 2012).
A segurança é entendida como a solução para proteger a sociedade da
violência produzida por “desajustados sociais” que precisam ser afastados do
convívio social, recuperados e reincluídos. Ainda parece difícil unir a ideia de
segurança e cidadania, e reconhecer no agressor um cidadão, mostra-se até
inapropriado para alguns.
Os adolescentes autores de atos infracionais não aceitam pacificamente
os valores e representações provenientes do padrão de honestidade da classe
trabalhadora “porque a sua presunção de margem de segurança e os limites
entre a licitude e a ilicitude de seus atos se dão dentro de um universo no qual
o quadro referencial também é outro (SOARES, 2008).
Os fatores que contribuem para que um adolescente se envolva na prática

72 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
de atos infracionais estão vinculados à influência emocional dos abandonos
vivenciados por eles (SOARES, 2008).
No entanto, torna-se insuficiente o trabalho psicológico somente, sendo
necessária uma visão ampla e sistêmica da vida desses jovens, envolvendo di-
versos setores e áreas de conhecimento, buscando reflexões e soluções para
uma realidade cruel que lhes é apresentada e estabelecida (VIDAL, 2013).

4.1. Fatores Familiares


Pode-se entender a família como um instrumento central no processo de
garantia de direitos da criança e do adolescente. Porém, todo o processo de
atenção à infância e juventude deve ser pensado a partir das condições e da
qualidade de vida que as famílias têm para cumprirem suas tarefas de susten-
to, guarda e educação de seus filhos (BRASIL, 2012).
As transformações econômicas, sociais, culturais e éticas têm colocado as
famílias cada vez mais em situação de vulnerabilidade, impondo exigências
maiores que suas possibilidades de cumpri-las (SOARES, 2008).
A sobrevivência das famílias, muitas vezes em condições subumanas, fragi-
liza sujeitos e vínculos, que passam a expressar-se através de comportamentos
agressivos, do uso frequente de drogas, da violência contra crianças, adoles-
centes e mulheres, de quebra de relações e do abandono (VIDAL, 2003).
Os atos infracionais podem ser entendidos como expressão das dificuldades
vividas pelas famílias no seu curso de vida, não como o fim de um processo edu-
cativo malsucedido, mas como um momento dramático do processo de viver do
adolescente e sua família que pode provocar transformações (MIOTO, 2001).
É nesse contexto que a criança cresce, torna-se adolescente com suas carac-
terísticas de sujeito em desenvolvimento que está constituindo sua identidade
adulta. O adolescente tende a contestar todo tipo de autoridade, tende à va-
riação de humor etc. (BRASIL, 2012). Deve ser feita uma revisão radical dos
modelos de atenção aos adolescentes e suas famílias que vigoram atualmente na
maioria dos serviços dedicados a eles.

4.2. Fatores Sociais


Os sujeitos em formação, quando não possuem suas necessidades satisfeitas
e seus anseios reconhecidos, não possuem um referencial no qual possam se
espelhar e apreender novas práticas. Ficam à mercê da vulnerabilidade social e
da violência juvenil e, a partir disso, encontram formas avessas mais adequadas
para sobreviver a essa situação, muitas vezes por meio das drogas, violências e
atos infracionais (SOARES, 2008).
Winnicott (2005) fala da privação emocional como um déficit, um com-
prometimento nas relações primárias, fundamentais e estruturantes da crian-
ça com as figuras parentais – especialmente a mãe – que deixam marcas, feri-
das psíquicas.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 73
Ainsworth (apud BOWLBY, 2002) identificou alguns tipos de privação
emocional, sendo eles:
• Privação emocional por relações insuficientes: quando a mãe, ou subs-
tituto, não dá ou não consegue dar, no tempo e intensidade necessá-
rios, a presença, a atenção e o carinho de que a criança necessita.
• Privação emocional por relações distorcidas: quando a percepção que
a mãe tem do filho e a conduta que assume perante ele vêm contami-
nadas por seus problemas pessoais, suas angústias, suas experiências
passadas e suas frustrações. Entre os casos de relações distorcidas es-
tão a rejeição, hostilidade, tolerância excessiva, controle repressivo,
falta de afeto, entre outros.
• Privação emocional por relações descontínuas: trata-se da interrupção
da convivência mãe-filho por um intervalo de tempo que seja signifi-
cativo para a criança. É quando a mãe se ausenta da criança, ou para
uma viagem mais longa ou por motivo de doença ou morte ou sepa-
ração do casal, ou por motivo de afastamento da própria criança que
passa a viver em outro lar ou instituição. Ocorre uma ruptura concreta
na relação mãe-filho.
Entendendo a delinquência como um padrão de conduta que se caracte-
riza pelo confronto e antagonismo frente às normas e valores sociais vigentes,
uma primeira via de solução para a privação emocional por meio da delin-
quência pode ser o apelo às drogas e a consequente adesão aos grupos de
usuários e aos seus valores (SOARES, 2008).
Uma outra forma de delinquência, mais explícita e reconhecida como tal,
são as condutas antissociais propriamente ditas, como furtos, roubos, agres-
sões, depredações, entre outros (BRASIL, 2012).
Winnicott (2005) reconhece na tendência antissocial duas direções ou mo-
tivações básicas, que não necessariamente se excluem: para o furto e para a
destrutividade.
Na motivação para o furto – onde se incluem os delitos contra o patrimô-
nio ou que visam à posse de objetos, dinheiro, bens materiais – o que se tem é
a procura obsessiva por “algo” que nunca se encontra, expressando a privação
do objeto primordial.
Na destrutividade, por outro lado – onde se incluem os crimes contra a
vida, contra a integridade física e moral, contra o ambiente e os atos de van-
dalismo – o que se percebe é a procura dos limites, do controle externo, da
continência dos próprios impulsos, já que a criança, por conta própria, não
sabe como contê-los e administrá-los.
A destrutividade é a expressão da privação do controle. Pela conduta an-
tissocial destrutiva, a criança ou adolescente busca o controle ambiental para
reconquistar sua segurança e resolver sua ansiedade (SOARES, 2008).

74 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Por meio da delinquência, a criança ou o adolescente manifesta a espe-
rança de encontrar um quadro de referência, ou seja, um controle externo
que o liberte de seus medos e ansiedades e o torne livre para viver, explorar
e dimensionar seus impulsos construtivos e destrutivos (WINNICOTT, 2005).

4.3. Fatores Psicológicos


Segundo Soares (2008), há adolescentes que apresentam distúrbios
psiquiátricos – os ditos psicopatas ou sociopatas – que são os indivíduos
portadores de comportamento antissocial e que por isso envolvem-se com o
crime, mas são casos extremos. Segundo o mesmo autor “o psicopata não
tem uma psicopatia, no sentido de quem tem uma tuberculose ou algo tran-
sitório”.
Na atuação dos psicólogos em centros de internação é necessário traba-
lhar no sentido de reatar os vínculos afetivos com as famílias, proporcionando
encontros em grupos multifamiliares, realizando visitas domiciliares ou mes-
mo favorecendo a terapia familiar dentro desse contexto, e não se fixar apenas
no fato de o adolescente estar institucionalizado (VIDAL, 2003).
O papel do psicólogo junto aos adolescentes privados de liberdade está na
garantia dos seus direitos, bem como os de suas famílias, e na busca de uma
compreensão desse adolescente e de sua realidade, na busca da reflexão sobre
seus atos e na busca da (re)construção de uma nova história (BRASIL, 2012).

CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como objetivo investigar como os adolescentes
começam a cometer delitos e por que em algumas situações ocorre a reinci-
dência mesmo após o cumprimento da medida socioeducativa.
Ao fim da pesquisa, foi possível perceber que o resgate do adolescente autor
de ato infracional não pode desconsiderar suas relações e interligações com a
sua realidade social. O ECA, apesar de ter boas diretrizes e prever os direitos e
deveres das crianças e adolescentes na forma da lei e de ter sido um marco após
o Código de Menores, mesmo sendo obedecido, não é totalmente eficiente.
Primeiramente, as medidas socioeducativas devem ser aplicadas de acor-
do com as características da infração, circunstância sociofamiliar e disponibi-
lidade de programas e serviços em nível municipal, regional e estadual.
Também se faz necessária a presença do Assistente Social para acompa-
nhamento. Tal profissional irá avaliar a aplicação da medida no ambiente do
adolescente; caso ele se ache impedido de cumpri-la, de nada adiantará sua
execução.
O Serviço Social também é responsável por fiscalizar se as tarefas descri-
tas na medida estão sendo realizadas, além da frequência do adolescente e os
incidentes que eventualmente podem ocorrer.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 75
As medidas socioeducativas devem favorecer uma ação social, psicológica
e pedagógica que possibilite a aceitação e reconhecimento do adolescente pe-
rante a sociedade e as leis do Estado.
As habilidades e potencialidades dos adolescentes devem ser valorizadas
e desenvolvidas, possibilitando seu resgate humano e sua efetiva cidadania.
A falta de meios e materiais humanos faz com que algumas medidas não
sejam concretizadas, como no caso da Liberdade Assistida, quando são neces-
sários profissionais capacitados para o acompanhamento do adolescente.
A medida de semiliberdade constitui uma medida privativa, aplicada pelo
juiz, no entanto, não há como prever o comportamento do adolescente fora
do ambiente de privação, e outros atos infracionais podem ser cometidos sem
que haja o conhecimento das instituições responsáveis.
As medidas socioeducativas quando aplicadas e adequadamente executa-
das se mostram eficazes na ressocialização de adolescentes infratores, desde
que aplicadas corretamente como proveu o legislador na elaboração do ECA,
devendo haver rígido acompanhamento do adolescente e não somente no que
diz respeito ao cumprimento da medida.
Ainda, não se pode deixar de considerar a responsabilidade de cada um
na tentativa de reverter o quadro de violência instalado e, consequentemente,
na recuperação desses adolescentes que sofrem com preconceitos e estigma-
tizações; afinal, trata-se de um ser em desenvolvimento físico e psíquico e é
nessa fase que ocorre a autoafirmação como cidadão.
Considerando por fim, que as falhas e ineficácias das políticas públicas
para adolescentes contribuem para o alto índice de atos infracionais e, como
consequência, a reincidência. Tratando-se da criação de políticas públicas
para adolescentes, o Brasil já não tem alcançado as expectativas esperadas
há anos e as que foram criadas constantemente vemos falhas graves que aca-
bam se tornando cada vez mais sem eficiência.

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Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 77
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE
DE RIO BRANCO/AC
Izabel Cristina Contreiras Machado15
Jara Isla Barbosa Rogrigues16

Resumo: A relevância deste trabalho é desmitificar frente à população as con-


dições de acolhimento de crianças/adolescentes que vivem em situação de
abrigo, sabendo que no Brasil existem cerca de 37.240 crianças e adolescentes
vivendo em acolhimento institucional, que é o que revela o Cadastro Nacional
de Crianças e Adolescentes acolhidos (CNCA), mantido pelo Conselho Na-
cional de Justiça (CNJ). A maioria das crianças/adolescentes em acolhimento
é do sexo masculino, chegando a um total de 19.641 indivíduos. No Acre, o
único abrigo destinado a crianças/adolescentes em situação de proteção es-
pecial e acolhimento institucional é o Educandário Santa Margarida, situado
na capital Rio Branco, com capacidade para acolher 40 crianças, de zero a 12
anos completos. Portanto, dentro desta realidade encontramos alguns mitos
criados pela sociedade, por não conhecer de fato toda a complexidade que
envolve a história de cada família. Dentro desses mitos podemos citar como
principais: abandono familiar, toda criança/adolescente está para adoção e
adoção é a melhor solução para a problemática. Ao contrário da visão da
sociedade a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA) determinam legalmente como deve ocorrer o Acolhimento Insti-
tucional, o que será esclarecido adiante.
Palavras-chave: Institucionalização. Família. Crianças. Adolescentes.

Abstract: The relevance of this work was to demystify to the population the
conditions for the reception of children/adolescents living in shelters, know-
ing that in Brazil there are about 37.240 children and adolescents living in
institutional care; it is what reveals the National Register of Children and
Adolescents received (CNCA), maintained by the National Council of Justice

15
Professora do Curso de Serviço Social da Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO),
graduada em Serviço Social na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO), acadêmica do 5º
ano de Direito na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO), pós-graduada em Psicologia,
Serviço Social e Direito na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO).
16
Graduada em Serviço Social na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO), acadêmica do
6º período de História na Universidade Federal do Acre (UFAC), pós-graduada em Psicolo-
gia, Serviço Social e Direito na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO).

78 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
(NYCs). The majority of children/adolescents in reception is male, reaching
the total of 19.641 persons. The State of Acre has only one shelter for chil-
dren/adolescents in situation of special protection and institutional host: it is
Educandário Santa Margarida, located in Rio Branco – capital city of State of
Acre –, and it’s capacity to attend just 40 children, from 0 to 12 years. There-
fore, within this reality we found some myths created by society, because all
the complexity that involves the history of each family is not known. Among
these myths we can cite as main: abandoning family; every child/adolescent
is for adoption and adoption is the best solution to the problem. On the con-
trary of the society’s vision, the Federal Constitution of 1988 and the Statute
of the Child and Adolescent (ECA) determine legally as should occur the In-
stitutional Host, which will be explained hereafter.
Key-words: Institutionalization. Family. Children. Teenagers.

INTRODUÇÃO
No mundo todo, sempre houve crianças e adolescentes negligenciados,
maltratados, abandonados e assim por diante, necessitando de um amparo
legal que regulamentasse sua situação.
No Brasil existem cerca de 37.240 crianças e adolescentes vivendo em
abrigos, que é o que revela o Cadastro Nacional de Crianças/Adolescentes
(CNCA), mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). São Paulo é o
estado com o maior número de crianças e adolescentes em acolhimento, com
8.485 do total. Na sequência aparecem os estados de Minas Gerais (5.574), Rio
de Janeiro (4.422), Rio Grande do Sul (3.802) e Paraná (2.943). A maioria das
crianças e adolescentes em acolhimento é do sexo masculino, chegando a um
total de 19.641; as do sexo feminino somam 17.599.
No Acre, o único abrigo destinado a crianças e adolescentes em situação
de proteção especial de acolhimento é o Educandário Santa Margarida, com
capacidade para acolher 40 crianças e adolescentes, com idade de zero até 12
anos completos.
Este trabalho tem como meta mostrar, a partir de pesquisas bibliográfica e
de dados colhidos em campo, os mitos criados sobre o acolhimento institucio-
nal de crianças e adolescentes no Educandário Santa Margarida.
Portanto, a escolha do tema visa contribuir com o debate sobre acolhimen-
to institucional no Estado do Acre, desconstruir a ideia que é “melhor manter
a criança/adolescente em situação de risco em abrigo institucional do que no
seu próprio lar”, sendo que o lugar adequado para eles é no seio familiar, que
tem um papel fundamental no seu desenvolvimento.
Este artigo propõe ainda discutir a importância da atuação do Serviço
Social, Psicologia e Direito no processo de acompanhamento e acolhimento
institucional de crianças e adolescentes.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 79
1. A ORIGEM DA FAMÍLIA EM TERMOS MUNDIAIS, DE BRASIL E ACRE
Para melhor compreensão do tema abordado, será exposto de forma su-
cinta a trajetória da família em distintos momentos do contexto social.
Ao longo dos séculos a família vem passando por diversas transformações
significativas na sua estruturação. De acordo com Engels (1984), a evolução
da família está ligada a uma redução constante dos círculos em cujo interior
predomina a comunidade conjugal entre os sexos, círculos estes formados
pela comunidade inteira da tribo.
Esse processo da evolução familiar consiste em reduzir os círculos que co-
meçam na selvageria até o modelo monogâmico predominante mais conhecido
na atualidade. Para Engels, podemos destacar como modelo tais famílias: famí-
lia consanguínea – sendo esta a primeira etapa da família; nela, os ascendentes
e descendentes, os pais e os filhos são os únicos que, reciprocamente estão ex-
cluídos dos direitos e deveres do matrimônio; família punaluana – nesse mode-
lo familiar se tem o matrimônio por grupos, isto é, os homens dessa tribo têm
várias mulheres em comum; família sindiásmica – no regime de matrimônios
por grupos, talvez antes, já se tem a formação de uniões por pares, sendo assim
um homem tem uma mulher principal entre as várias esposas, e para ela o espo-
so principal entre vários; família monogâmica – foi a primeira forma familiar
que se baseia não em formas naturais, mas sim econômicas, e concretamente no
triunfo da propriedade privada, originada espontaneamente; assim a origem da
família está ligada estreitamente à história da linhagem e dos genes com intuito
de deixar herança para a prole.
Com o passar do tempo a família vai tomando novas formas e novas ca-
racterísticas.
No Brasil Colonial, de acordo com Samara (1993), o modelo familiar era
o patriarcal, que era chefiada pelo pai, que tinha a obrigação de preservar
sua linhagem e a honra da família. Nesse período, a mulher tinha somente a
função de cuidar das tarefas da casa e dos filhos.
Com a evolução natural dos tempos, isso começa a mudar, e os papéis
familiares já não são mais os mesmos; a mulher sai do lugar de dependência
financeira do marido e se insere no mercado de trabalho, e isso modifica dire-
tamente a dinâmica familiar.
Assim, é preciso compreender que a família vive em um processo de cons-
tantes transformações.
Na atualidade, designa-se por família o conjunto de pessoas que possuem
grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa formando um lar. Uma fa-
mília tradicional é composta por pai e mãe, unidos pelo matrimônio ou união
estável, com um ou mais filhos, compondo uma família nuclear ou elementar.
Sendo a família a instituição responsável por promover a educação dos
filhos e influenciar seu comportamento no meio social.

80 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Os novos arranjos se fortaleceram após a promulgação da Constituição Fe-
deral Brasileira de 1988, que estabelece que os filhos extraconjugais tenham
os mesmos direitos que os nascidos da relação matrimonial, e dispensa o vín-
culo do casamento civil para que se possa reconhecer uma família, relação
esta conhecida como uma união estável. E o que era conhecido anteriormente
como pátrio poder, com a nova Carta Magna é denominado poder familiar.
Assim, o modelo patriarcal cada vez menos se faz presente na atuali-
dade, e o que observamos são relações baseadas no carinho, afeto que conduz
o casal a viver harmonicamente com os filhos, sejam biológicos ou não.
Outro ponto relevante é que a união pode ser duradoura ou não, pois
a Constituição Federal Brasileira de 1988 aprovou também o divórcio dos
cônjuges. Podemos destacar também dois novos tipos de arranjos familiares
mais presentes nas famílias contemporâneas, que são elas: família homoafeti-
va – que se constrói a partir da união de duas pessoas do mesmo sexo; família
monoparental – que é chefiada pelo o pai ou pela mãe e uma ou mais crianças
ou adolescentes.
O conceito de família vai mudando de acordo com as mudanças sociais, ou
seja, a família já não é mais a mesma de pouco tempo atrás.
Segundo Marconi e Presoto (2009), dentre as funções da família alguns
estudiosos destacam quatro, que são: sexual, reprodução, econômica e educa-
cional. Sexual – atende às necessidades sexuais do casal permitidas através do
matrimônio ou da união. Reprodução – visa perpetuar a espécie, mesmo em
sociedades onde há liberdade sexual, a procriação é regulada com normas e
sanções que legitimam a família. Econômica – assegura o sustento e proteção
do grupo, conduzindo a divisão de tarefas e a estratificação, com status dife-
renciados entre os membros. Educacional – o grupo tem a responsabilidade
de transferir os conhecimentos de geração a geração.
Cabem, então, às famílias a responsabilidade pela criação, educação, de-
senvolvimento e formação da criança. Porque é através da família que esse
pequeno ser recebe orientação e estímulo para ocupar seu lugar na socie-
dade adulta. Os jovens aprendem e assumem atitudes e papéis do pai e da
mãe; o marido exerce o papel de elo entre família e meio social através da
provisão de bens materiais, e a esposa e mãe é responsável pela criação dos
filhos e cuidados do lar (PRADO, 1984 p.76).

1.1. A infância no contexto mundial, Brasil e Acre.


Segundo o Dicionário Aurélio “infância é o período de crescimento, no ser
humano, que vai do nascimento à puberdade”.
Ariès (1978) revela que no século XVII as crianças e adolescentes não se
diferenciavam dos adultos. Era comum que a criança passasse a viver em outra
casa e não a de sua família; vivia numa espécie de anonimato; e nessa socieda-
de antiga, tradicional, a criança era vista como objeto de entretenimento para

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 81
os adultos, além do descaso e da desvalorização das mesmas. Ariès demonstra
como isso acontecia:

Essa sociedade via mal a criança, e pior ainda o adolescente, um sen-


timento superficial da criança era reservado à criancinha em seus pri-
meiros anos de vida, enquanto era uma coisinha engraçadinha. As pes-
soas se divertiam com a criança pequena, como um animalzinho, um
macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas acontecia,
alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito
caso, pois, uma outra criança logo a substituiria (ARIÈS, 1978, p. 69).

Meninos e meninas a partir de seus sete anos de idade iam para as casas de
outras pessoas, para trabalharem, sendo chamados de aprendizes. Porém, com
o tempo, a necessidade de uma educação teórica substituiu a educação prática
e pelo costume desenvolveu a escolarização, onde os pais desenvolveram um
sentimento novo em relação às crianças, sendo esse clima sentimental diferente
do que se tinha antes, algo mais próximo da nossa realidade nos dias de hoje.
No Brasil Colonial, as famílias eram numerosas, sendo normal uma família
ter até 33 filhos, e nesse período não se tinha muita afetuosidade para com a
criança, que, de acordo com Kidder e Fletcher vemos:

A mãe brasileira quase invariavelmente entrega o seu filho a uma pre-


ta para ser criado. Assim que as criaturas se tornam muito incômodas
ao conforto da senhora, são despachadas para a escola, e coitado do
pobre professor que tem de impor-se a esse espécime irrequieto do
gênero humano (KIDDER e FLETCHER, 1853, p. 182).

Nesse período, além das famílias serem numerosas, tinha-se ainda inúme-
ros casos de mortes de crianças ainda com pouca idade, e isso explica o fato
de os pais não terem muito apego às mesmas.
Essa realidade começou a mudar quando as crianças aos poucos vão ga-
nhando espaço e reconhecimento na sociedade. Com o decorrer do tempo, as
crianças foram transformadas em menores, e passaram a ser objeto de aten-
ção de médicos, juristas, psicólogos e pedagogos, sob a influência da “filosofia
das luzes”, do utilitarismo e da medicina higienista.
Já as famílias que deram origem à população acriana foram duas: família
indígena e família seringueiro. Dessa forma, tínhamos o perfil de dois tipos de
crianças no Acre: a indígena e os filhos de seringueiros.
As crianças indígenas ajudavam os pais em algumas atividades e a realização
de tarefas correspondentes à idade, como por exemplo, cuidar dos irmãos mais
novos para as meninas, e os meninos ajudavam os pais, por exemplo, a pescar.
Elas eram ainda livres para brincar durante o dia, para tomar banho no rio, can-
tarem e brincarem de roda e assim aprenderem as tradições da tribo.

82 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
Já os filhos de seringueiros aprendem cedo o ofício da extração do látex
com os pais (nesse caso a maioria das vezes para os meninos); as meninas
aprendem muito pequenas ainda, com a mãe a cuidar da casa, lavar a roupa,
fazer doces, cuidar dos irmãos etc.
Nesses dois modelos familiares encontrados na região acriana as crianças
cedo tinham que aprender as responsabilidades da vida adulta e por conse-
quência logo formavam suas famílias.
Na atualidade, embora seja lamentável a situação de risco social em que
se encontra grande parcela de crianças e adolescentes, o Estatuto da Criança
e do Adolescente veio então proporcionar às crianças e adolescentes do país
uma nova realidade, tornando-os sujeitos de direitos e deveres, rompendo
com uma visão de ser desvalorizado, objeto de intervenção para a cidadania
plena dos seus direitos.

2. MEDIDAS DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E OS DIREITOS DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE NO BRASIL COMO CIDADÃO
DE DIREITOS
Em todos os tempos ou em qualquer parte do mundo sempre houve crian-
ças sem proteção, sem valor, sendo abandonadas, negligenciadas, maltratadas,
órfãs, entre outros.
No decorrer da história da infância surgiram estratégias de enfrentamento
que visam minimizar a situação de abandono, negligência, maus tratos, violên-
cia intra e extrafamiliar em que muitas delas viviam e ainda vivem.
O sistema a “roda dos expostos” foi o primeiro mecanismo criado para dar
assistência à criança abandonada em todo o território brasileiro. E tinha como
finalidade salvar essa criança pobre de qualquer circunstância proveniente do
abandono e preservar sua identidade.
Como se pode observar,

o sistema de rodas de expostos foi inventado na Europa medieval. Se-


ria ele um meio encontrado para garantir o anonimato do expositor
e assim estimulá-lo a levar o bebe que não desejava para a roda, em
lugar de abandoná-lo pelos caminhos, bosques, lixo, porta de igreja
ou de casas de famílias, como era de costume, na falta de outra opção.
Assim procedendo, a maioria das criancinhas morriam de fome, frio
ou mesmo comidas por animais, antes de serem encontradas e reco-
lhidas por almas caridosas (MARCILIO, 2011, p.98)

Tendo como ideia principal ações de caridade/religião, as rodas dos expostos


tinham o intuito de preservar do mal e salvar a criança pobre.
Em 1906 foi criado o Código de Menores, sendo o primeiro instrumento
de proteção e assistência exclusiva a crianças e adolescentes no país. Tinha um

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n n Fevereiro 2016 n 83
caráter de controle e exclusão social discriminatório, que associava a pobreza
à delinquência, sendo essas crianças pobres consideradas pequenos bandidos.
Somente em 1993 é que o Brasil se dá conta das pressões, influenciadas do
exterior, de que essa situação deve mudar e nesse contexto histórico destaca-se
o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, a Pastoral do Menor,
organizações de direitos humanos e ONGs apoiados em debates internacio-
nais, como as Regras de Beijing (1985) e na Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos da Criança em 1989. Todo esse processo resultou na criação
do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) sancionada pelo o
presidente Fernando Collor no dia 13/07/1990, assim tornando extinto o Có-
digo de Menores.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) introduziu uma série de
mudanças para considerar essa população não adulta, mas como cidadãos de
direitos e não como objeto de intervenção, instituiu a ideia de Proteção Inte-
gral, enfatizando o dever da família, Estado e sociedade em zelar pelo cumpri-
mento de tais direitos. O artigo 23 veio romper com a cultura de que pobreza
é motivo suficiente para o afastamento familiar e nessas situações o convívio
familiar deve ser mantido e preservado.
Faz-se importante destacar, que o afastamento do convívio familiar só deve
ocorrer quando a medida for a mais adequada para garantir a proteção a
crianças/adolescentes; em determinada situação todos os esforços devem ser
feitos para viabilizar o retorno ao convívio familiar; não sendo possível, se faz
através da família substituta (adoção).

2.1. Definição de Abrigo Institucional


É um serviço que oferece acolhimento provisório para crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar por meio de medida protetiva
de abrigo (ECA, art. 101), em função de abandono ou cujas famílias ou res-
ponsáveis encontram-se temporariamente impossibilitados de cumprir tal
função de cuidado e proteção, até que seja possibilitado o retorno familiar;
não ocorrendo, sai com a família substituta através da adoção, sendo este o
último recurso.
O abrigo dever estar numa área de residências com aspectos de um lar,
não podendo ter placas indicativas, tendo como público-alvo crianças e ado-
lescentes de 0 a 18 anos, sob medida protetiva de abrigo.
Sendo que o objetivo das casas de acolhida é proporcionar proteção inte-
gral, assegurar-lhes os direitos e restabelecer os vínculos familiares e comunitá-
rios; até que essas condições estejam superadas com possibilitadas de reintegra-
ção familiar e/ou colocação em família substituta.
Vale ressaltar que para a Psicologia todo o processo de acolhimento é bastante
difícil para as crianças e traz consigo algumas consequências, abaixo listadas:

84 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
1. A criança chora, chama e busca ao progenitor ausente, recusando
quaisquer tentativas de consolo por outras pessoas.
2. Retraimento emocional que se manifesta por letargia, expressão facial
de tristeza e falta de interesse nas atividades apropriadas para a idade.
3. Desorganização dos horários de comer e dormir.
4. Regressão ou perda de hábitos já adquiridos, como, por exemplo, fa-
zer xixi e/ou cocô na roupa (ou cama), falar como se fosse mais novo.
5. Desinteresse paradoxal, que se manifesta por indiferença às recorda-
ções da figura cuidadora (fotografia ou menção do nome), ou mesmo
uma espécie de “ouvido seletivo”, que parece não reconhecer essas
pessoas.
6. Como comportamento alternativo, a criança pode mostrar-se exata-
mente ao contrário das características acima; torna-se extremamente
sensível a qualquer recordação do(a) cuidador(a), apresentando mal
-estar agudo diante de qualquer estímulo que lembre da pessoa.
7. Chama as mães sociais ou alguém que cuide dele (a) de “mãe”, ao in-
vés de suas mães biológicas.
8. Agressividade, irritabilidade, depressão, entre outros.

2.2. O Educandário Santa Margarida


O Educandário Santa Margarida é uma instituição filantrópica, cultural e
de Assistência Social, fundada em 30/08/1942 e criada originalmente como
Sociedade de Assistência aos Lázaros e defesa contra a lepra em Rio Branco,
pela senhora Eunice Weaver.
Posteriormente, para atender a interesses da legislação, e por delibera-
ção da diretoria, teve alterado seu nome para Sociedade Eunice Weaver de
Rio Branco, e novamente para atender aos preceitos legais advindos com a
aprovação do novo Código Civil de 2002, teve seu nome alterado, passando a
denominar-se apenas Educandário Santa Margarida. Sua fundação veio para
atender ao interesse sanitário: qualquer pessoa que tivesse diagnosticada a
existência da lepra, era sumariamente excluído da comunidade e isolado em
colônias para leprosos, onde ficavam até sua morte.
Cumprindo fielmente suas finalidades, prestou assistência aos filhos sa-
dios dos portadores de lepra que não podiam ficar na companhia dos pais
doentes, até que os mesmos pudessem exercer funções para a manutenção da
própria subsistência.
Na medida em que foi se desenvolvendo tratamento eficaz para a hanse-
níase, a Sociedade Eunice Weaver começou uma nova fase de atividades, pres-
tando assistência inicialmente às crianças carentes da comunidade – os chama-
dos “desvalidos da sorte” – e, mais tarde, expandiu o atendimento a crianças

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 85
e adolescentes dentro do Sistema de Garantia de Direitos, como instituição
de acolhimento de crianças necessitadas de proteção especial. Portanto, as
expressões da questão social identificadas na atualidade são: vulnerabilidade
social, abandono, negligência, risco pessoal (tais como abuso ou exploração
sexual, violência física, sexual e psicológica).
O Educandário Santa Margarida, tem ainda como finalidade: manter a
instituição de abrigo para crianças e adolescentes sem vínculos familiares, em
situação de risco social por negligência ou abandono; promover o atendimen-
to psicossocial, de saúde, de educação, de proteção e defesa de direitos de
crianças e jovens em situação de risco social por negligência ou abandono,
encaminhado pelos órgãos de defesa de direitos da criança e do adolescente;
promover a ética, a paz, a cidadania, os direitos humanos, a democracia e ou-
tros valores universais, com a finalidade de colocá-los à disposição da Justiça
para promoção de adoção permanente ou temporária; promover a segurança
alimentar e nutricional dos abrigados; promover a cultura, educação e prepa-
ração dos abrigados para vida adulta em sociedade.
Hoje, aos 74 anos de fundação, é a única instituição que atende crianças
(zero a 12 anos), no município de Rio Branco, na modalidade abrigo. Atua
como entidade de enfrentamento, prevenção e reinserção na família das
crianças/adolescentes vítimas de abandono, negligência ou violência, seja físi-
ca, psicológica ou sexual, encaminhadas pela Vara da Infância e Juventude de
Rio Branco e Conselhos Tutelares.
O educandário tem capacidade para acolher 40 crianças na faixa etária de
zero a 12 anos, distribuídos da seguinte forma: 16 crianças de 0 a 5 anos (ber-
çário); 12 crianças do sexo feminino na faixa etária de 6 a 12 anos; 12 crianças
do sexo masculino na faixa etária de 6 a 12 anos.
A origem de seus recursos se procede da seguinte forma:
1) governo do estado;
2) convênios e aluguéis;
3) prefeitura: convênios;
4) doações da sociedade civil que somam o maior número
de doações;
5) penas alternativas.

3. O SERVIÇO SOCIAL E A PSICOLOGIA NO ACOLHIMENTO


INSTITUCIONAL
Como foi falado no decorrer deste trabalho, o acolhimento institucional
envolve diferentes fatores e formas de pensar, e são criados alguns preconcei-
tos que vão se multiplicando em meio à sociedade. Sendo esse procedimento
algo bastante antigo no mundo, mas que continua na atualidade como um

86 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
problema que ainda não foi erradicado. Milhares de crianças e adolescentes
ainda vivem em abrigos em situação de acolhimento institucional, e como
uma herança histórica trouxe consigo uma bagagem de mitos, um exemplo é
pensar que esses sujeitos estão abandonados pelos pais ou se encontram em si-
tuação de adoção, mas como podemos ver, isso não é real. Existe um pequeno
número de crianças e adolescentes que se encontram nessas situações, porém
são exceções. As crianças e adolescentes em risco social são encaminhados
pelo Juizado de Menores ou Conselhos Tutelares por se encontrarem com seus
direitos violados, e não entregues ao abrigo para adoção, como se pensava.
A sociedade comumente tem a ação de julgar as famílias desses indivíduos
como responsáveis por essa situação, mas desconhecem a real problemática de
seus familiares. No Acre, em especial, esses pais estão diretamente ligados ao
fato de serem usuários de drogas, com deficiência mental, dentre outros pro-
blemas. Cabe então aos profissionais que atuam nessa área, assistentes sociais,
psicólogos e operadores do Direito, desmitificarem essa situação, apoiando e
incentivando as famílias à reabilitação química para futuramente recuperar a
guarda de seus filhos.
Cabe ainda a esses profissionais, em especial os psicólogos, olhar para a
subjetividade desses indivíduos com o intuito de proporcionar autoconfiança
para a resolução de seus conflitos pessoais e principalmente auxiliar para que
crianças e adolescentes sofram menos com os impactos do acolhimento insti-
tucional, para que as mesmas não levem consigo traumas para o resto da vida.
Aos assistentes sociais existe a necessidade de não intervir de forma frag-
mentada, visando apenas às crianças e adolescentes, mas sim o núcleo familiar
inteiro, levando em consideração que muitas vezes não são apenas as crianças e
adolescentes que se encontram com seus direitos violados, mas a família toda.
Por isso, deve-se desenvolver junto às famílias alternativas de mudanças com a
finalidade de auxiliar as mesmas em novas possibilidades de vida, assim empo-
derando-as e fortalecendo-as. E ajudar aos pais a romper com a ideia de que ins-
titucionalizar crianças e adolescentes seja uma forma de garantir seus direitos.
Temos, então, o dever de mostrar à população e às famílias que o abrigo
institucional, por mais que deva parecer com um lar, não é um lugar propício
para crianças/adolescentes, e sim que é dever da família desenvolver tal fun-
ção de cuidar e proteger seus filhos. Existe a necessidade de olharmos para
essas crianças/adolescentes em situação de acolhimento como uma realidade
que precisa de mudanças, pois o Poder Público e a sociedade de maneira
geral não se importa com os mesmos, ficando eles esquecidos em abrigos e
ignorados por todos, como um problema que a séculos o Brasil ainda tem que
enfrentar. Sendo que temos que vê-los como o futuro da nação e temos que
nos questionar: será que estamos fazendo algo para melhorar essa problemáti-
ca? Quem serão esses pequenos indivíduos na vida adulta? Qual o futuro que
queremos para o nosso país? O que posso fazer para mudar essa realidade?

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 87
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do adolescente
têm buscado e garantido os direitos inerentes a crianças e adolescentes. Com
o passar dos tempos cada vez mais se discute sobre a garantia e a efetividade
desses direitos, sejam em âmbito nacional ou internacional.
Durante a realização deste artigo, pôde-se constatar que o Educandário
Santa Margarida atende crianças e adolescentes em situação de risco, sendo
esses inseridos dentro do sistema de prioridade absoluta e garantia de direi-
tos, como instituição de acolhimento de crianças que necessitam de proteção
especial. O perfil das crianças e adolescentes estudados é de classe baixa, o
que revela a característica de exclusão social; na sua maioria somam um total
de 60% da população abrigada nesse lar.
A responsabilidade em assistir crianças/adolescentes que passam por si-
tuação de acolhimento institucional não é apenas dos governantes nas esferas
federal, estadual e municipal, mas, sim, de todos conjuntamente, ou seja, fa-
mília, comunidade e Estado.
Os motivos que levam crianças/adolescentes para as instituições acolhe-
doras é um fato complexo que envolve aspectos econômicos, culturais, sociais
entre outros.
O assistente social, o psicólogo e o operador do Direito possuem papel de
suma importância para um bom funcionamento das casas de acolhimento. Esses
profissionais visam garantir os direitos desses “pequenos cidadãos” e para isso
são desafiados a irem além dos muros institucionais, mantendo um real com-
promisso com essas crianças /adolescentes e suas famílias, buscando garantir a
proteção social dos mesmos.
A elaboração deste artigo não teve a intenção de esgotar o saber nem mes-
mo o assunto sobre acolhimento institucional de crianças/adolescentes, mas
visa contribuir para que crianças e adolescentes não sejam retiradas de seus
lares por fragilização psicossocial de suas famílias.
Buscou-se ainda não fazer juízo de valor, e sim colaborar para que essas
institucionalizações sejam minimizadas, para romper com o mito de que abri-
gar é a melhor forma de garantir os direitos. Levando em conta que o melhor
lugar para o desenvolvimento saudável de crianças/adolescente é no seio da
família, em um ambiente inundado de harmonia, amor, afeto e respeito.
Com o intuito de trazer informações desse assunto foi elaborado este tra-
balho, abordando conceitos e relevantes informações da trajetória familiar. E,
por fim, fica o desafio à sociedade em geral, os profissionais que atuam frente
à infância e juventude, que não desistam de lutar para a efetivação desses di-
reitos, levando sempre em consideração o princípio da dignidade da pessoa
humana.

88 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philip. A história social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1981.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Centro Gráfico,
1988.
______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990.
ENGELS, Friendrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.
Tradução de José Silveira Paes. São Paulo: Global, 1984.
KIDDER, P. P.; FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros: esboço histórico e
descritivo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 5ª
edição. São Paulo: Atlas, 2009.
MARCÍLIO, Maria Luiza. História social da infância no Brasil. 8ª edição. São Paulo:
Cortez, 2011.
PRADO, Danda. O que é Família. 4ª edição. São Paulo: Brasilense, 1984.
RIGONATTI, Sergio Paulo. Temas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica. São
Paulo: Vetor, 2003.
SILVA, E. R. A (coord). O Direito à Convivência Familiar e Comunitária. Os Abrigos
para Crianças e Adolescentes no Brasil. Brasília: IPEA/CONANDA, dezembro de
2004.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 89
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO DE MICRO
E PEQUENAS EMPRESAS COM ÊNFASE EM
EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS
CONTÁBEIS
Adevângela da Silva Fernandes Mesquita17
Nataly da Silva Gonçalves Alencar18
Raone José Souza Maia19

Resumo: A falta de planejamento em relação aos aspectos financeiros é uma


das principais razões para o fracasso de empresas no Brasil. De acordo com
dados do SEBRAE, mais de 70% das micro e pequenas empresas brasilei-
ras fecham as portas nos primeiros cinco anos. Por isso, para que um novo
empreendedor obtenha sucesso é preciso seguir alguns cuidados quando o
assunto é a vida financeira do novo negócio. No Brasil, a cada dia, as micro
e pequenas empresas vêm tentando sobreviver no mercado, buscando me-
lhores formas de diminuírem seus custos para que tenham um melhor desen-
volvimento econômico. A partir dessas informações, buscamos mostrar neste
trabalho que uma forma para que essas empresas atinjam melhor capacidade
de desempenho é o planejamento tributário, onde mostraremos o quanto es-
sas empresas representam para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, e
o quanto elas são afetadas pela alta carga tributária brasileira, que, muitas
vezes, chegam a falir por não suportarem tal carga, e também por falta de co-
nhecimento do gestor ao gerir o empreendimento. Nesse contexto, buscamos
mostrar, através de análises e demonstrações, que, com um adequado planeja-
mento fiscal, podemos minimizar a carga tributária e, consequentemente, seus
custos, tendo como demonstração uma pequena empresa fictícia do ramo de
prestação de serviços contábeis.
Palavras-chave: Planejamento Tributário. Simples Nacional. Lucro Presu-
mido.

Discente no curso de Pós-Graduação em Auditoria e Finanças na UNINORTE. Graduada


17

em Ciências Contábeis pela UNINORTE. E-mail: adevangelafernandes@hotmail.com


18
Discente no curso de Pós-Graduação em Auditoria e Finanças na UNINORTE. Graduada
em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário UNISEB. E-mail: natalyalencar63@gmail.com
19
Orientador, docente do Curso de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade
da Amazônia Ocidental (FAAO). Graduado em Administração pela Faculdade Barão do
Rio Branco. Mestrando em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP - FGV).
E-mail: raonemaia@gmail.com

90 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
ABSTRACT: The lack of planning in relation to financial aspects is one of the
main reasons for the failure of companies in Brazil. According to SEBRAE
data, more than 70% of micro and small Brazilian companies close their doors
in the first five years. So for a new entrepreneur to get success you need to
follow some precautions when it comes to the financial life of the new business.
In Brazil, every day, micro and small companies are trying to survive in the
market, seeking better ways to lower their costs so they have a better economic
development, from this information we seek to show in this paper that a way
for these businesses to achieve better performance capability is tax planning,
which show how much these companies account for the GDP (gross domestic
product) national, and how they are affected by high Brazilian tax burden,
which often come to fail by not supporting the cargo and also for lack of
knowledge of the manager to manage the enterprise. In this context, we seek
to show through tests and demonstrations, which, with proper tax planning,
we can minimize the tax burden and thus the costs, with the demonstration a
small fictitious company in the business of providing financial services.
Key-words: Tax Planning. Simple national. Presumed profit.

INTRODUÇÃO
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), o Brasil possui a maior carga tributária da América Latina, onde, de
acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), no ano
de 2014, o percentual da carga foi de 35,42% do Produto Interno Bruto (PIB). É
nesse cenário que as micro e pequenas empresas tentam se firmar no mercado,
exigindo que seus gestores procurem formas de minimizar seus custos para que,
assim, aumentem consideravelmente seus lucros e consigam sobreviver.
É notório que as micro e pequenas empresas pontuam entre um grupo
considerável e de vital importância para a economia brasileira e, segundo o
SEBRAE (2011, p. 43), estas correspondem a 99% dos estabelecimentos for-
mais no país. Ainda segundo o SEBRAE, um dos motivos que potencializam
os investimentos nesse setor é “o maior motivo de início de uma MPE é a des-
coberta de uma oportunidade de negócio. [...] O segundo maior motivo é a
experiência em outra MPE [...]” (SEBRAE, 2011, p. 45), o que, de certa forma,
intensifica maior possibilidade de sucesso. Ainda de acordo com o SEBRAE, a
maioria das micro e pequenas empresas não sobrevivem aos primeiros cinco
anos (SEBRAE, 2010), e isso se deve à falta de conhecimento e planejamento
do empreendedor em gerenciar de modo geral o seu negócio, levando em
consideração também os seus aspectos financeiros e tributários, pois, segun-
do Fabretti (2006, p. 33), “o planejamento tributário exige, antes de tudo, um
bom planejador”.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 91
O planejamento fiscal trata-se de forma que minimiza a carga tributária,
de forma legal. Todos os contribuintes têm o direto de adequar a sua empresa
de forma que seja melhor para a diminuição dos custos de seus empreendi-
mentos, para que estejam preparados para quaisquer ocorrências fortuitas
que possam agregar prejuízos para si.
O planejamento tributário é um recurso de suma importância para as
empresas, pois, através dele, poderão ser compreendidas e interpretadas da
melhor forma as leis que regem o sistema tributário e que vivem em constan-
tes modificações. Nele serão expostos as tributações alcançadas pelas micro
e pequenas empresas e como elas podem se beneficiar delas. Mostrar-se-á,
também, os regimes de tributação e seus conceitos, bem como as definições
e especificações de acordo com o seu enquadramento tributário, sejam pelo
Lucro Presumido ou pelo Simples nacional.
Desse modo, objetiva-se, através deste artigo, analisar e identificar a me-
lhor forma de tributação das empresas do ramo de serviços contábeis, através
do planejamento tributário, para que, dessa maneira, minimizem seus impos-
tos e diminuam seus custos, obtendo, assim, um maior lucro e se mantendo
estáveis no mercado.

1. PLANEJAMENTO
1.1. Conceito de Planejamento
Podemos encontrar muitos autores discorrendo a respeito de planejamen-
to fiscal, e um deles é Chiavenato, que descreve da seguinte forma o planeja-
mento tributário:

O planejamento constitui a primeira das funções administrativas, vindo


antes da organização, da direção e do controle. Planejar significa inter-
pretar a missão organizacional e estabelecer os objetivos da organiza-
ção, bem como os meios necessários para a realização desses objetivos
com o máximo de eficácia e eficiência. (CHIAVENATO, 2004. p. 209).

Tendo como base o texto acima, podemos dizer que planejamento é uma
tarefa que busca organizar, preparar e estruturar uma ideia de modo que ela
possa ser executada da melhor forma possível, com o intuito de se alcançar o
objetivo pretendido. O indivíduo que assume essa responsabilidade é o gestor
ou administrador do negócio, tornando-se essencial para que as tomadas de
decisões venham ser coerentes e precisas, de modo que se possibilite alcançar
o objetivo, pois aquele que planeja tem maior chance de prever que pode
acontecer e agir com eficácia.
Para fazer um planejamento é necessário traçar metas para que a empresa
possa, através delas, obter seus objetivos, a fim de ter eficácia e eficiência na-
quilo que deseja alcançar, no caso a redução dos custos.

92 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
1.2. Planejamento Tributário
O planejamento tributário é um instrumento pouco utilizado pela mi-
croempresa, porém é uma das melhores formas de economizar, conforme o
livro de Gustavo Oliveira, onde ele mostra o seguinte sobre o planejamento
tributário:

O planejamento tributário pode ser conceituado como um conjunto


de medidas com o objetivo de reduzir, economizar o pagamento de
tributos, de forma legal, levando-se em conta as possíveis mudanças
rápidas e eficazes, na hipótese do fisco alterar as regras fiscais. Justi-
fica-se assim a necessidade, para implementação de um planejamento
tributário eficaz, das empresas cercarem-se de profissionais de diver-
sas áreas, como administradores, contadores, advogados e economis-
ta (OLIVEIRA, 2008 p.196)

Sendo assim, planejamento tributário ou fiscal nada mais é do que uma


forma lícita de minimizar a carga fiscal com o objetivo de se reduzir os impactos
nos recursos financeiros e orçamentários do contribuinte segundo os termos
previstos em lei, para que não haja uma interpretação equivocada. Planejar é
diferente de sonegar, pois quando planejamos escolhemos uma ou mais op-
ções dispostas em lei que resulte em um menor recolhimento de impostos. Já a
sonegação fiscal trata-se de uma prática ilegal, não obedecendo à lei, podendo
ser por omissão de receita para o ente federal, estadual ou municipal.

2. REGIMES TRIBUTÁRIOS
A condição estabelecida para as micro e pequenas empresas deve ser es-
tudada de modo especial, seja pelo impacto que a carga tributária causa sobre
a mesma, ou devido aos regimes de enquadramento tributário vigente, seja o
lucro presumido ou o simples nacional, pois em simples gesto da escolha de
um regime, sem antes planejar, pode acarretar no insucesso do negócio.

2.1. Lucro Presumido


Qualquer empresa pode optar por esse regime, onde seu faturamento
pode ser de até 78 milhões anuais, conforme Lei 12.814/2013 e não seja obri-
gada ao Lucro Real. Segundo Santos (2008, p. 2) “o Lucro Presumido é uma
forma de tributação simplificada para efeito da determinação da base de cál-
culo do imposto de renda e da CSLL das pessoas jurídicas que não são sujeitas
à apuração do lucro real”.
A empresa poderá escolher a melhor opção até o último dia útil de abril,
conforme (Lei no 9.430 de 27 de dezembro de 1996), pois é o pagamento da
primeira parcela ou cota da apuração do lucro presumido que é feita trimes-
tralmente.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 93
Nesse regime, os impostos federais que o compõe são quatro:
• IRPJ Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) – conforme Lei nº 9.430
de 27 de dezembro de 1996, o Imposto de Renda das pessoas jurídicas
é calculado com base no lucro da empresa, podendo ser real, presu-
mido ou arbitrário, e apurado trimestralmente; a alíquota aplicada ao
lucro é de 15%.
• Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) – este imposto é
pago pelas pessoas jurídicas residentes no Brasil, onde a alíquota é
15% para instituições financeiras, e 9% para as demais pessoas jurídi-
cas em geral.
• COFINS – sobre o faturamento mensal é aplicada a alíquota de 3%,
conforme o disposto no inciso II do art. 10 da Lei nº 10.833/03 e art.
27 da Lei 10.865/04, onde diz que a base de cálculo da COFINS são as
receitas financeiras auferidas pela empresa.
• PIS – sobre o faturamento mensal é aplicada a alíquota de 0,65%,
conforme com o disposto no inciso II do art. 10 da Lei nº 10.833/03 e
art. 27 da Lei 10.865/04, onde diz que a base de cálculo do PIS são as
receitas financeiras auferidas pela empresa.
• INSS – são os encargos gerados da folha de pagamento, onde são
calculados sobre as remunerações pagas: 8% de INSS, 5,80% Tercei-
ros, 20% Empresa, 2% RAT e 8% de FTGS.

As empresas que se enquadram no regime do lucro presumido, ainda de-


vem cumprir obrigações acessórias, conforme disposto no art. 27 do RIR/99.
Algumas das obrigações são:
• Escrituração Contábil Digital (ECD), conforme Instrução Normativa
RFB nº 1.420/2003, art. 3º, II.
• Escrituração Contábil Fiscal (ECF), conforme Instrução Normativa
RFB nº 1.422/2013;
• Escrituração Fiscal Digital (EFD), Contribuições, conforme Instrução
Normativa RFB nº 1.252/2012.
• Escrituração Fiscal Digital (EFD), ICMS/IPI, conforme Protocolo
25/2012.

2.2 Simples Nacional


Esta forma de tributação é bem simplificada tratando-se de recolhimento
de impostos, pois reúne vários impostos em uma guia única. Regido pela Lei
Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, abrange todos os en-
tes federados (União, estados, Distrito Federal e municípios). Para ingressar

94 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
nesse regime de tributação, basta a empresa possuir receita anual de até R$
3.600.000,00, não podendo ultrapassar esse valor, enquadrar-se na definição
de microempresa ou empresa de pequeno porte, cumprir os requisitos pre-
vistos na lei e formalizar a opção. O Simples Nacional abrange os seguintes
impostos: IRPJ, CSLL, PIS/Pasep, COFINS, IPI, ICMS, ISS e a Contribuição
para a Seguridade Social destinada à Previdência Social a cargo da pessoa
jurídica (CPP); recolhidos através do DAS (Documento de Arrecadação Sim-
plificado), onde o vencimento é todo o dia 20 de cada mês.
Segundo Ferreira (1997, p. 56), citando a Lei 9.317/96, as principais obri-
gações das empresas optantes pelo Simples consistem em efetuar o pagamen-
to dos impostos e contribuições unificados pelo Simples em uma guia única,
apresentar anualmente declaração simplificada e possuir livro-caixa, livro de
registro de inventário de todos os documentos nos quais se baseia a escritura-
ção desses livros.
Assim, as exigências das obrigações solicitadas pelo fisco para as empresas
optantes pelo Simples Nacional são bem simplificadas, para não dificultar a
inclusão no sistema e para melhor compreensão do contribuinte. Mantendo
as obrigações em dia, a empresa se mantém sem pendências, prolongando sua
permanência nesse regime de tributação. Além de ser obrigado a apresentar
as obrigações acessórias, como o regime do lucro presumido.

3. COMPARAÇÃO DO REGIME DE LUCRO PRESUMIDO E SIMPLES NACIONAL


3.1. Metodologia
Procuramos mostrar a melhor forma de tributação de uma microempresa,
fazendo a comparação de dois regimes, o Lucro Presumido e o Simples Na-
cional. Trata-se de um estudo de caso de uma empresa fictícia prestadora de
serviços contábeis localizada na cidade de Rio Branco, através de consultas e
análises de leis, artigos e livros que discutem sobre planejamento tributário.
Atualmente a empresa encontra-se no regime do lucro presumido, faturando
mensalmente na faixa de R$ 45 mil a R$ 65 mil, possuindo15 funcionários.
Veremos a seguir se sua opção foi a melhor forma de economia tributária e se
houve um planejamento tributário adequado.

3.2. Resultados da análise


Como citado anteriormente, a empresa em questão está no regime do
lucro presumido, e abaixo foi feita uma análise do ano de 2015, do que ela
pagou em impostos, e um comparativo caso ela tivesse optado pelo Simples
Nacional, e verificaremos se realmente foi a melhor opção.
A empresa possui a Classificação Nacional de Atividade Econômica
(CNAE) de atividade 6.920-6/01 (atividades de contabilidade), onde sua ati-
vidade também compreende registro contábil das transações comerciais de

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empresas e de outras entidades, elaboração do balanço anual de empresas,
preparação de declarações de Imposto de Renda, de pessoas físicas e jurídi-
cas, atividades de assessoria e representação (não jurídicas) exercidas ante
a administração tributária em nome de seus clientes. Podendo ser Lucro
Presumido, pois não se encaixa na obrigatoriedade de Lucro real, conforme
a Lei nº 9.718/1998, art.14.
Observemos a tabela abaixo:

TABELA 1 - LUCRO PRESUMIDO 2015

Fonte: Elaborado pelos autores.

No ano de 2015 a empresa recolheu de imposto o montante de R$


131.914,14. Observamos na Tabela 1 que sobre a receita auferida foi mul-
tiplicada a alíquota correspondente de cada imposto como destacado aci-
ma, resultando em cinco guias mensais. O IRPJ e a CSLL são calculados
mensalmente, porém seu recolhimento é feito a cada trimestre, pagas em
cota única, ou em três cotas, desde que o valor da parcela não seja inferior
a R$ 1.000,00. Na tabela não foi destacado o adicional de IRPJ de 10%,
pois podemos observar que o lucro presumido da atividade estudada é de
32%, e não ultrapassou os R$ 20.000,00 mensais, sendo assim indevido o
adicional. Já os impostos recolhidos sobre a Folha de Pagamento foi um to-
tal de R$ 5.177,16 como mostramos na Tabela 2, relacionando os impostos
devidos.

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A empresa possui 15 funcionários com remuneração de R$ 788,00, veja
abaixo:

TABELA 2 – ENCARGOS DA FOLHA DE PAGAMENTO

Fonte: Elaborado pelos autores.

No caso da Tabela 2 os valores seriam recolhidos em duas guias: uma de


FGTS de R$ 945,60, e outra no valor de R$ 4.231,56, correspondente ao INSS.
A quantia repassada para os cofres públicos no ano de 2015 no regime
de tributação do Lucro Presumido foi no total de R$ 137.091,30, um valor
bastante considerável.

3.3 ANÁLISE DO REGIME SIMPLES NACIONAL

A empresa em estudo enquadra-se no anexo III, conforme o artigo 18, §


5º-B, da Lei Complementar nº 123/2006:
As empresas optantes pelo Simples Nacional, enquadradas nesse anexo,
onde não procede ao recolhimento do Risco Acidente do Trabalho (RAT),
conforme art. 13 da Lei Complementar nº 123/2006, assim como também
não procede ao recolhimento de Contribuição Patronal que é de 20%, base le-
gal (art. 13 e 17 da Lei Complementar nº 123/2006), e da contribuição devida
para outras Entidades e Fundos (Terceiros), de acordo com art. 13 § 3º da Lei
Complementar nº 123/2006. Uma das vantagens sendo Simples Nacional é a
contribuição patronal, pois reduz na folha de pagamento 20%, que já é uma
economia.
Analisemos a tabela abaixo:

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TABELA 3 – SIMPLES NACIONAL, ANEXO III

Fonte: http://idealsoftwares.com.br/tabelas/tabela

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Acima temos a Tabela 3 utilizada pelo anexo III do Simples Nacional,
e como podemos observar a alíquota a ser aplicada sobre o faturamento
tem como base os últimos 12 meses de receita, e à medida que ela (receita)
aumenta, a alíquota do imposto sobe. Também vemos que através de uma
guia única são recolhidos os seguintes impostos: IRPJ, CSLL, COFINS, PIS
E INSS/CPP; é uma forma de simplificação.

TABELA 4 - SIMPLES NACIONAL 2015

Fonte: elaborado pelos autores

A Tabela 4 demonstra que a empresa teve alíquota inicial de 4%, pois era
início de atividade, não possuindo nenhum faturamento anterior; na coluna
de Serviços, expõe o valor da receita mensal, o Documento de Arrecadação
mensal (DAS) que significa o valor do imposto do Simples Nacional a recolher
e o ISS, que é calculado sobre o faturamento, possui uma alíquota de 5%, pois
no Município de Rio Branco é determinado que o ISS seja recolhido em uma
alíquota fixa para o município. O valor de impostos federais recolhidos no ano
foi de R$ 34.551,31 e municipal R$ 31.215,00
Para cálculo dos impostos recolhidos na folha elaboramos uma breve pla-
nilha expondo os valores recolhidos. Como dito anteriormente, constam ape-
nas os encargos devidos pelas empresas do Simples Nacional, vejamos:

TABELA 5 – ENCARGOS DA FOLHA DE PAGAMENTO


REMUNERAÇÃO FGTS 8% INSS 8%

Fonte: elaborado pelos autores.

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n n Fevereiro 2016 n 99
Como podemos verificar neste caso, os encargos incidentes sobre a Folha
de Pagamento de uma empresa do Simples Nacional são bastante vantajosos:
os valores reduzem, gerando uma vantagem, pois acaba poupando os recursos
das empresas, que podem ser utilizados em outros investimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O planejamento tributário não é somente uma forma de reduzir custos,
mas também traz uma oportunidade competitiva. O planejamento deve ser
elaborado de forma lícita, amparada pela legislação, a fim de o contribuinte
reduzir sua carga tributária. No planejamento tributário apresentado neste
artigo (da empresa prestadora de serviço contábil), como dito anteriormente,
seu regime atual é o Lucro Presumido, onde observamos que não foi uma
boa escolha, pois recolheu um valor maior de impostos. Quando realizamos
esse planejamento tributário observamos que no Lucro Presumido a empresa
recolheu um valor de R$ 131.914,39; já no Simples Nacional recolheria um
total de R$ 65.766,31, onde teria economizado um valor de R$ 66.148,08,
uma quantia considerável que poderia ser utilizada para outros investimentos,
talvez em capacitação de funcionários, novas máquinas que agregassem valor
aos serviços prestados aos seus clientes etc.
O planejamento fiscal é importante tanto para micro e pequenas como
para empresas de grande porte, pois ele reflete, diretamente, na economia da
empresa.
As pequenas e microempresas são as que mais sofrem, devido a menor
capacidade financeira, não dispondo de adequada assessoria jurídica-contábil
que as mantenham informadas e atualizadas quanto à aplicação da legislação
tributária vigente no momento da realização de seus negócios. A dificuldade
para interpretar a legislação tributária que as pequenas e microempresas bra-
sileiras enfrentam é grande (MONTSERRAT, 2007). Diante de todo o exposto
neste artigo, podemos concluir que para que um negócio obtenha sucesso,
perante nossa economia que não é estável, necessita de meios que diminuam
seus custos, e um desses meios é o Planejamento Tributário.

REFERÊNCIAS
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2004.
FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 10ª ed. revista e atualizada.
São Paulo: Atlas, 2006.
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19/03/1999 – Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e
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Disponível em: < http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/
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OLIVEIRA, Gustavo Pedro de. Contabilidade tributária. 2ª ed. rev. e ampliada. São
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PLANALTO. Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996 - Dispõe sobre a
legislação tributária federal, as contribuições para a seguridade social, o processo
administrativo de consulta e dá outras providências. Disponível em: < http://www.
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Disponível em: < http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
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SISTEMA NORMAS. Gestão da Informação. Receita Federal. Instrução Normativa
RFB nº 1.252, de 1º de março de 2012. Dispõe sobre a Escrituração Fiscal Digital
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Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição Previdenciária sobre a Receita
(EFD-Contribuições). Disponível em: < http://normas.receita.fazenda.gov.br/
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TI-IDEAL-Tabelas Práticas. Disponível em: <http://idealsoftwares.com.br/tabe-
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102 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL APLICADA
A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
Jessica Campos Borel20
Maria de Fátima Rodrigues dos Santos21

Resumo: O presente trabalho discute sobre a escrituração contábil aplicada à


micro e pequenas empresas, no qual será abordada uma análise desde a origem
da contabilidade até os dias atuais, e como os empresários e profissionais da
contabilidade vêm se adaptando com o cenário da escrituração contábil e suas
mudanças, que ocorrem cada vez mais no seu dia a dia. O objetivo estabelecido
é identificar até aonde vai o nível de conhecimento que os empresários têm em
relação à importância da escrituração na empresa. A metodologia utilizada foi
através de pesquisas bibliográficas, e pesquisa de campo realizada com os em-
presários. Os resultados obtidos apontaram que a maioria dos empresários não
possui conhecimento suficiente em relação à escrituração contábil na empresa.
Palavras-chave: Escrituração contábil. Empresário. Nível de conhecimento.

Abstract: This paper discusses the bookkeeping applied to micro and small
business, in which we will cover an analysis from origin of accounting until
the present day, with business and accounting professionals has been adapting
to the setting of accounting records and their changes is a time in the daily
business. The goal set is to identify where it goes until the level of knowledge that
entrepreneurs have regarding the importance of bookkeeping in the company.
The methodology used was through literature searches, research conducted
field with entrepreneurs. The results obtained showed that most entrepreneurs
do not have enough knowledge about the bookkeeping in the company.
Key-words: Accounting. Businessman. Level of knowledge.

INTRODUÇÃO
A escrituração contábil para micro e pequenas empresas, tem importância
fundamental tanto para a organização da empresa, quanto ao seu desempe-
nho, ou até mesmo para auxiliar na tomada de decisões.
20
Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO), Rio
Branco/AC.
21
Graduada em Ciências Contábeis, especialista em Docência do Ensino Superior, vice-
coordenadora do Curso de Ciências Contábeis e coordenadora do curso de Secretariado
Executivo.

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n n Fevereiro 2016 n 103
Quanto mais houver registros na contabilidade, desde que estejam de acor-
do com os princípios da contabilidade, tanto mais irá ajudar a manter maior
organização na empresa, e através desses resultados os gestores obterão as
informações necessárias para a tomadas de decisões.
Portanto, pode-se afirmar que quanto mais clareza a empresa tiver através
dos seus registros contábeis, mais confiança irá transparecer aos seus gestores,
e com isso disponibilizará informações necessárias que irão auxiliar na toma-
da de decisões da empresa.

1. CONTABILIDADE
1.1. Conceito de Contabilidade
A contabilidade possui vários conceitos como sendo a ciência que estuda
e controla o patrimônio.

O Conselho Federal de Contabilidade conceitua a contabilidade como


ciência que estuda e pratica as funções de orientação, de controle e
de registro relativas à administração econômica (Conceito Formulado
pelo 1º Congresso Brasileiro de Contabilistas, realizado no Rio de
Janeiro, de 17 a 27 de agosto de 1924) (RIBEIRO, 2013, p. 2).

A contabilidade é a ciência do patrimônio, pois nela está envolvido todo


um conjunto de informações sobre sua história, com sua forma de linguagem
própria, seus métodos e toda sua teoria envolvida.
A contabilidade é considerada uma ciência social, apresentando como ob-
jeto principal o patrimônio da empresa, e tem como objetivo controlar todo o
patrimônio da entidade, incluindo suas variações no decorrer da sua adminis-
tração. O patrimônio são todos os elementos, objetos de uso e de consumo,
valores a pagar ou a receber da entidade envolvida.

1.2. Conceito de Micro e Pequenas Empresas


Conforme a Lei n° 123, de 14 de dezembro de 2006, Lei Geral das Micro e
Pequenas Empresas, normatizando para fins tributários e outros benefícios, com
base no faturamento anual, o porte das micro e pequenas empresas perante a
Receita Federal relaciona-se com o seu faturamento, pois o faturamento para mi-
cro empresa pode ser de até R$ 360 mil, e para a empresa de pequeno porte o
faturamento pode atingir até R$ 3,6 milhões; as empresas que são consideradas
de porte normal são as que têm um faturamento acima de R$ 3,6 milhões.

1.3. Conceito de Planos de Contas


De acordo com Ribeiro (2009), o plano de contas é um conjunto de contas
que engloba as diretrizes e normas que direcionam as tarefas do setor da con-
tabilidade, com o objetivo de uniformizar todos os registros contábeis.

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1.4. Escrituração
De acordo com o CFC e o SEBRAE, a escrituração contábil tem como
obrigatoriedade o respaldo no código comercial, que estabelece que todos os
comerciantes devem seguir uniformemente a escrituração, obter livros neces-
sários, e além disso, encerrar anualmente um balanço patrimonial. A escritu-
ração deve seguir um padrão, de forma que alcance todas as operações que
são necessárias para o livro diário, desde que tenha individuação e clareza nos
seus registros. Os registros devem estar em ordem cronológica de dia, mês e
ano, não podendo haver intervalos em branco, borradoras, emendas, entreli-
nhas e raspaduras. Caso o empresário se recuse a apresentar os livros perante
o poder Judiciário, ele responderá perante as autoridades responsáveis.

1.5. Ativo
Segundo o Conselho de Contabilidade, 2012, NBC TG1000, o ativo possui
o benefício econômico futuro, pois é através de seu potencial de contribuição
de forma direta (ou até mesmo na forma indireta) para os fluxos de caixa ou
os equivalentes de caixas da empresa, e esses fluxos podem ser de origem do
uso do ativo ou da sua liquidação.
Ainda de acordo com o Conselho Federal de Contabilidade, 2012, NBC
TG1000, a maioria dos ativos como os imobilizados e bens imóveis, possuem
a forma física, mas essa forma não é essencial para a existência de ativo, pois
alguns ativos são intangíveis.
Ademais, quando se determina a existência do ativo, o direito de proprie-
dade passa a ser não essencial, como por exemplo: os bens imóveis colocados
no regime de arrendamento mercantil são ativo se a empresa controlar os
resultados esperados que fluam sobre os bens imóveis.

1.6. Passivo
O passivo possui uma característica de que a empresa tem a obrigação de
registrar todos os fatos que provem o que acontece em uma determinada ins-
tituição. A FASB, em seu pronunciamento SFAC 6, relata três características
essenciais para o passivo:
a) contém uma obrigação ou responsabilidade presente com uma ou mais
entidades, prevendo liquidação pela transferência futura provável ou
pelo uso de ativos numa data especificada ou determinável, na ocorrên-
cia de um evento predeterminado, ou assim que seja solicitada;
b) a obrigação ou responsabilidade compromete dada entidade, permi-
tindo-lhe pouca ou nenhuma liberdade para evitar o sacrifício futuro;
c) a transação ou outro evento que obriga a entidade já ocorreu.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 105
1.7. Patrimônio Líquido
Para Ribeiro (2009), patrimônio líquido é o quarto grupo de elementos
patrimoniais que, justamente com os bens, com direitos e com obrigações,
completará a demonstração contábil denominada Balanço Patrimonial.

1.8. Receita
De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade, 2012, NBC TG1000,
a receita é definida como todos os ganhos obtidos para a empresa, ou seja, é o
aumento do patrimônio da entidade através de atividades desenvolvidas pela
empresa distinguidas por várias definições como: vendas, juros, honorários,
aluguéis, royalties, dividendos e lucros distribuídos. E ganho é um elemento
que se enquadrada como aumento no patrimônio líquido, mas não é conside-
rado uma receita propriamente dita, e para seu reconhecimento nas demons-
trações contábeis fica diferenciado das demais receitas, para se tornar útil nas
tomadas de decisões. (CONSELHO DE CONTABILIDADE, 2012).

1.9. Despesa
A despesa envolve todas as perdas que se originam através de atividades
da empresa, ou seja, são todos os gastos que uma empresa precisar ter para
obter uma receita, por exemplo: o custo das vendas, depreciação e salários,
e emprega geralmente a redução do ativo como caixa e equivalente de caixa,
bens do ativo e estoques. E perda também é considerada um fato redutor do
patrimônio, que se origina através das atividades da empresa, mas é reconhe-
cida separadamente das outras despesas nas demonstrações de resultado, pois
suas informações são de útil importância para as tomadas de decisões econô-
micas. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2012).

2. DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
De acordo com Ribeiro (2009), conforme a Lei n° 6.404/76, demonstra-
ções contábeis são a representação de relatórios elaborados através de infor-
mações adquiridas dos registros contábeis mantidos pela empresa, ou seja, a
demonstração é representação da estrutura da situação patrimonial e financei-
ra, e também o desempenho da empresa.

2.1. Objetivo das Demonstrações Contábeis


As demonstrações contábeis têm como objetivo informar e oferecer in-
formações importantes sobre a situação financeira da entidade como, por
exemplo, o balanço patrimonial e demonstrar a situação do desempenho da
empresa através de relatórios contábeis. E também a utilização do uso de fluxo
de caixa que é uma ferramenta essencial, pois essas informações poderão ser
utilizadas para fins de tomada de decisões da empresa pelos seus administra-
dores. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2012)

106 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
2.2. Apresentações das Demonstrações Contábeis
É obrigação da empresa divulgar com clareza cada demonstração contá-
bil e notas explicativas, e diferenciá-las das outras informações apresentadas
eventualmente no mesmo documento. A empresa transparecer informações
necessárias de forma que estejam destacadas, e se necessário repeti-las para
que haja uma boa compreensão da informação disponibilizada como, por
exemplo: o nome da empresa a qual pertence a demonstração contábil, se as
demonstrações se referem a uma entidade individual, a data do encerramen-
to, a moeda utilizada e o nível de arredondamentos efetuados. (OSNI MOU-
RA RIBEIRO, 2013)
A obrigação da empresa de divulgar informações nas notas explicativas se
torna obrigatório devido ter que colocar algumas informações básicas como
sua localização, o país onde foi registrada, a atual localização do seu escritório,
as principais atividades desenvolvidas na empresa e também a descrição da
origem das operações da entidade (RIBEIRO, 2013)

3. DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS


3.1. Balanços Patrimoniais
De acordo com Ribeiro (2013), o balanço patrimonial é a demonstração
contábil que evidencia, resumidamente, o patrimônio da empresa, quantitati-
va e qualitativamente.

3.2. Demonstração Do Resultado Do Exercício (DRE)


Segundo Ribeiro (2013), a DRE é o relatório contábil destinado a apre-
sentar a composição do resultado formado em certo período de operações da
empresa, levando em conta o princípio da competência, mediante o confronto
das contas correspondentes.

3.3. Demonstração Dos Fluxos De Caixa (DFC)


Segundo Ribeiro (2009), é o relatório contábil que por fim poder eviden-
ciar as transações ocorridas em um determinado período, e que provocaram
modificações no saldo do caixa da empresa.

4. DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS FACULTATIVAS


4.1. Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
Nas demonstrações das mutações do patrimônio líquido são demonstradas
as variações desenvolvidas durante o exercício nos saldos das contas do patrimô-
nio líquido, analisando os saldos iniciais, os aumentos do capital, os ajustes de
exercício, as reversões de reservas o lucro líquido do exercício e seu destino final,
e também os saldos finais das contas que compõem o patrimônio líquido da enti-
dade (RIBEIRO, 2013).

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 107
4.2. Demonstrações de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)
Segundo Ribeiro (2009), o relatório contábil que possui a finalidade de
transparecer o lucro líquido, as reversões de reservas, os ajustes contábeis
referentes ao exercício anterior, a parcela dos lucros, os dividendos, e tam-
bém os saldos da conta lucro ou prejuízo acumulados, tanto no início como
no encerramento, é classificado como Demonstração de Lucros ou Prejuízos
Acumulados (DLPA). Entretanto, o movimento ocorrido durante o exercício
social é evidenciado o lucro ou prejuízo acumulado. Essa avaliação da DLPA
é uma obrigação exigida pela Lei n°. 6.404/76 que, por sua vez, faculta às
empresas de incluí-la na demonstração das mutações do patrimônio líquido.

4.3. Demonstrações do Valor Adicionado


De acordo com Ribeiro (2013), a demonstração do valor adicionado é um
relatório contábil que demonstra a situação da riqueza de determinada entida-
de, ou seja, o quanto foi utilizado para se obter os fatores de sua produção, e
mencionar a forma que foi utilizada para a distribuição dessa riqueza entre as
pessoas envolvidas incluindo empregados, governo, acionistas etc. Portanto, a
DVA tem como finalidade demonstrar a origem da riqueza gerada pela entidade
e como foi feita a divisão da riqueza da empresa entre seus diversos setores que
contribuíram diretamente ou indiretamente para a construção da empresa.

5. ESTUDO DE CASO
5.1. Pesquisa De Campo
A pesquisa foi realizada através de formulário, com perguntas voltadas à
contabilidade da empresa, com o objetivo de descobrir o nível de conhecimen-
to que os empresários têm em relação à utilização da escrituração contábil na
empresa.

5.2. Resultados Obtidos


De acordo com os dados colhidos em campo, pode-se verificar que 60%
dos questionários respondidos apresentam a ideia de uma contabilidade fiscal,
sem cunho na formação de informações sobre a situação financeira e patrimo-
nial da empresa, sendo os principais objetivos apenas: os recolhimentos de
tributos e geração de informações para o Fisco. Já para 40% dos questionários,
verificou-se que apresentam a ideia de uma contabilidade mais ligada à forma-
ção de informações para a tomada de decisão. Pode se concluir através dessa
análise, que o empresário não tem a real ideia de para que serve o contador.
Uma pequena parte das empresas entrevistadas têm apenas um conhecimento
superficial das vantagens de um contador na empresa.
O gráfico abaixo revela que 80% das empresas pesquisadas possuem conta-
bilidade regular e 20% não possuem contabilidade regular na empresa.

108 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
O gráfico acima representa que 30% das empresas pesquisadas possuem
um contador apenas para gerar tributos, e 70% das demais empresas utilizam
além da apuração dos impostos.

O gráfico acima representa que 90% das empresas pesquisadas possuem


conhecimento sobre o poder de decisão quando registram suas informações
contábeis, e 10% das demais empresas desconhecem essas informações.

O gráfico anterior representa que 50% das empresas pesquisadas analisam


a contabilidade de sua empresa junto ao contador, e 50% das demais empresas
não fazem esse procedimento.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 109
O gráfico acima representa que 70% das empresas pesquisadas utilizam
as informações contábeis para a tomada de decisão, e 30% das demais em-
presas não utilizam-se dessas informações para tomar decisão nos negócios
da empresa.

O gráfico acima representa que 80% das empresas pesquisadas, conse-


guem organizar seus documentos para facilitar a contabilização pelo conta-
dor, e 20% das demais empresas não conseguem organizar os documentos das
empresas para entregar de forma correta ao contador.

O gráfico acima representa que 90% das empresas pesquisadas confiam


nas informações geradas pelo contador nos demonstrativos, e 10% das demais
empresas não confiam nessas informações, pois segundo elas o ser humano
pode errar como qualquer outro.

110 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
CONCLUSÃO
Neste artigo foi desenvolvido o trabalho sobre escrituração contábil apli-
cada à micro e pequena empresa, com o objetivo de evidenciar os principais
procedimentos contábeis aplicáveis às micro e pequenas empresas de acordo
com as Normas Brasileiras de Contabilidade. Foram realizadas pesquisas bi-
bliográficas e pesquisa de campo aplicada em 10 empresas de diferentes ra-
mos de negócios na cidade de Rio Branco, Estado do Acre.
Com as pesquisas foi esclarecido que a contabilidade surgiu há muito tem-
po, desde os tempos do homo sapiens, e através disso, foi descoberto que a Con-
tabilidade é de fundamental importância para o desenvolvimento da entidade,
e comprova que com sua aplicação dentro da empresa traz confiabilidade nas
tomadas de decisões, pois além de fornecer subsídios contribui para o desen-
volvimento da empresa.
Analisando as informações coletadas, obteve-se resultados tanto positivos
quanto negativos, pois eles demonstraram que para se fazer escrituração na
empresa é necessário que se tenha conhecimento além da teoria da contabi-
lidade, pois o empresário precisa colocar em prática esses procedimentos, e
para que isso seja executado de maneira certa, é necessário que a empresa
tenha um profissional na área de contabilidade para disponibilizar essas infor-
mações ao empresário ou ao seus administradores.
Durante a pesquisa, foi encontrado que há uma deficiência muito ampla
em relação ao empresário com o contador. Conforme a pesquisa realizada
nas empresas, 60% dos questionários respondidos apresenta a ideia de que o
contador só serve para fazer uma contabilidade fiscal, ou seja, apenas serve
para apurar imposto para o empresário pagar. Conforme a pesquisa, 40%
das empresas têm um pouco a mais de conhecimento em relação ao papel do
contador, que segundo eles o contador além de fazer apuração dos tributos,
auxilia fornecendo informações necessárias para a tomada de decisão.
Também foram encontradas muitas outras dificuldades em parte do em-
presariado em relação à contabilidade, inclusive a maioria das entidades entre-
vistadas concorda que é importante manter a contabilização da sua empresa
em dia, mas não fazem isso porque na maioria das vezes não têm auxílio
do contador, ou, mesmo tendo o contador orientando, não querem praticar
os procedimentos corretos, principalmente empresários mais antigos que, na
maioria das vezes discriminam os princípios da contabilidade.
A maioria dos empresários só veem o contador como uma despesa a mais
à empresa; que só fazem apuração de impostos para a empresa pagar. Mas, na
realidade o contador não serve somente para isso; serve para a empresa como
uma ferramenta de fundamental importância.
Com auxílio do contador, a empresa obtém grandes vantagens, além de
colocar a escrituração em dia, ele terá confiabilidade nos resultados infor-

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 111
mados através de relatórios contábeis e poderá se utilizar delas para futuras
tomadas de decisões.
Com a pesquisa de campo, foi fácil notar que 50% das empresas pesquisadas
analisam a contabilidade junto ao contador, e 50% das demais empresas não fa-
zem esse procedimento. Com base nesses dados pode se considerar que o pensa-
mento do empresário em relação à escrituração contábil vem ganhando enfoque
cada vez mais, e com isso cada vez mais os empresários atentam a esses detalhes.
Com isso os empresários notam que a importância de manter a contabilidade em
dia é de fundamental importância para o desenvolvimento da sua empresa.
Portanto foi esclarecido que a contabilidade cresce a cada dia mais, po-
rém, a maioria dos empresários não está acompanhando essa evolução, mas,
conforme a pesquisa, os empresários estão dando uma importância melhor
voltada à escrituração contábil, e descobrindo sua importância na empresa e
suas vantagens que trazem resultados positivos colocando-a em prática.

REFERÊNCIAS
CONTABILIDADE, Conselho Federal. Normas Brasileiras De Contabilidade. 2. ed.
Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2012.
GRECO, A.; AREND, L. Contabilidade Teoria e Prática Básicas. 7.ed, Porto Alegre:
Sagra Luzzatto, 1997.
ÍUDÍCIBUS, S.; MARION, J.C. Introdução À Teoria Da Contabilidade. 3.ed, São Pau-
lo: Atlas S.A., 2002.
ÍUDÍCIBUS, Sérgio, Teoria da Contabilidade. 7.ed, São Paulo: Atlas, 2004.
______. Teoria da Contabilidade. 6.ed, São Paulo: Atlas, 2000.
MEDEIROS, Valdeci. Função e Funcionamento: Das Contas. 2009.
RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade Básica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
______. Contabilidade Fundamental. 4. ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 2013.
______. Contabilidade Intermediária. 2.ed., São Paulo: Saraiva, 2009.

112 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA COOPERATIVA
DE SAÚDE DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO CORPO
DE BOMBEIROS DO ESTADO DO ACRE (CBSAÚDE)
PARA OS MILITARES DA CIDADE DE RIO BRANCO
Bárbara Heliodora Bandeira Bezerra22
Francisca Vânia Sabino23

Resumo: Este artigo tem a finalidade de apresentar a importância da atuação


da Cooperativa de Saúde dos Servidores Públicos do Corpo de Bombeiros do
Estado do Acre para os militares de Rio Branco. Tendo no desenvolvimento di-
vidido em várias partes que mostram sua atuação e desenvolvimento, tais como
o trabalho desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Acre no mu-
nicípio de Rio Branco, todo serviço e formação. Logo poderemos ver o papel
desempenhado pela CBSAUDE para com os militares, observando a importân-
cia que as cooperativas têm nos dias atuais, seu crescimento no ramo coope-
rativista, o papel de como um futuro administrador poderá exercer em uma
cooperativa. O objetivo principal deste estudo é mostrar como a cooperativa é
importante para os militares, onde cada vez mais sua atuação vem beneficiando
o cooperado. Os resultados obtidos com o tema deste artigo foram muitos,
principalmente no aspecto da saúde, que nos dias atuais só tem piorado na rede
pública. A cooperativa busca soluções e facilidade para seus cooperados, mos-
trando a cada um os seus direitos e deveres, tendo a visão do cooperado sobre
a cooperativa. Podemos assim concluir que o cooperativismo vem sendo con-
siderado importante instrumento no combate às diferenças sociais e políticas.
Palavras-chave: Administração. Cooperativismo. Corpo de Bombeiros do Es-
tado do Acre.

Abstract: This article aims to present how the employee the importance of the
work of the Cooperative Health of the Public Servants of the State of Acre
Fire Department - CBSAUDE for Rio Branco military. Having divided the
development into several parts which show its operation and development,
such as work carried out by the State of Acre Fire Department in Rio Branco
municipality, every service and training. Soon we see the role of CBSAUDE
toward the military, noting the importance that cooperatives have today, its
growth in the cooperative sector, the role of as a future administrator may
22
Acadêmica do Curso de Administração na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO).
23
Orientadora. Pedagoga, especialista em Administração Escolar, professora do Curso de
Administração, coordenadora da Pós-Graduação da FAAO, editora assistente da revista de
iniciação científica, revisora técnica e metodológica.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 113
exercise in a cooperative. The aim of this study is to show how the cooperative is
important for the military, where more and more its performance has benefited
the cooperative. The results obtained with the theme of this article were many,
and mainly related to health public services, which, nowadays, has gotten worse.
The cooperative seeks solutions and ease towards its members, showing to each
one their rights and duties, and getting in return their member’s view of the
cooperative. We can thus conclude that the cooperative has been considered an
important tool to fight against social and political differences.
Key-words: Administration. Cooperatives. The State of Acre Fire Department.

INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos, a cooperação constitui processo social
básico e era meio necessário de defesa contra todos os inimigos. Podemos
afirmar que a cooperação desde cedo atraiu a atenção do homem como
processo que merecia ser encorajado. As provas de que realmente produzia
resultados são encontradas em todos os recantos do mundo e, por isso mesmo,
as ideias concernentes à sua complicada natureza têm caráter universal.
Podemos pegar as práticas de cooperação, tais como as que foram realizadas
pelos Pioneiros de Rochdale, que em 1844 organizaram uma cooperativa de
consumidores e através disso deram origem a grandes movimentos referentes a
esse tipo de cooperativismo, principalmente na Inglaterra, dentre outros países
Com o objetivo de desenvolver e colocar em ação a prática associativa e incentivar
modelos que permitissem obter um desenvolvimento econômico e um avanço
no modo de produção, o cooperativismo, nas últimas décadas, vem se firmando
como uma alternativa segura de quem opta por um mundo mais justo.
O presente trabalho visa mostrar todo o trabalho desenvolvido numa
cooperativa de saúde que tem como finalidade maior o bem-estar e a certeza
de que seus associados estão tendo um serviço digno. Criada por militares
do Corpo de Bombeiros do Estado do Acre (onde o vínculo com o Estado
está apenas no fato de se tratar de militares), podemos assim observar que
a cooperação vem ganhando um olhar seguro, levando em conta todas as
vantagens que o cooperativismo oferece. Tais vantagens, como as econômicas,
são resultante do desaparecimento do conflito trabalho versus capital; vantagens
sociais provenientes da participação dos associados na gestão da cooperativa;
vantagens de ordem interna, como resultado da manutenção da liberdades
democráticas e da realização da democracia econômica. Assim sendo, o grande
enfoque deste artigo é apresentar a importância da sua atuação para com os
associados, apresentando um serviço de agrado e competência, levando ao
associado a facilidade dentre os serviços prestados pela cooperativa.
O trabalho apresentado contém três capítulos. O primeiro capítulo é sobre

114 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
a administração, suas perspectivas, suas influências, abordando o histórico e a
conceituação do cooperativismo; sua atuação e desenvolvimento no Brasil;
seus ramos; a classificação das sociedades cooperativas segundo a legislação; os
movimentos cooperativistas. Abordamos ainda os princípios do cooperativismo,
sua representação nacional, entidades, suas características, diferenças e
responsabilidades sociais. No segundo capítulo será desenvolvido uma abordagem
sobre o Corpo de Bombeiros no Estado do Acre, traçando uma linha do tempo,
sucinta, desde o surgimento à execução desses serviços propostos; o papel do
administrador nas cooperativas, mantendo-as em pleno funcionamento.
Para o terceiro capítulo abordar-se-á o papel da CBSAÙDE como prestador
de saúde para seus associados e como essa cooperativa é vista por eles.

1. EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
Desde o início da história humana exigia-se organização para executar
tarefas, que a princípio estava ligada à atividade doméstica e familiar. Nesse
primeiro momento da história já é possível notar as bases da administração
que mais tarde se aprimorariam para atender às necessidades de grupos e
organizações em diversos contextos. Em cada período histórico, ao surgir pro-
blemas decorrentes da evolução humana, precisava-se de novas soluções para
atender essas necessidades.
Nos tempos atuais, a sociedade vista como típica de países desenvolvidos é
uma sociedade pluralista de organizações, na qual a maior parte das obrigações
sociais – tais como a produção de bens ou serviços – é de responsabilidade
das organizações (por exemplo, indústrias, universidades, escolas etc.). E
que necessitam serem administradas para com isso se tornarem eficientes e
eficazes. Nas proximidades do século XIX, a sociedade era diferente, contendo
um número mínimo de pequenas organizações, tais como pequenas oficinas,
artesãos independentes, dentre outros. Mesmo sabendo que o trabalho sempre
tenha existido na história da humanidade, as organizações e sua administração
formam um capítulo recente. Com o aumento da competitividade e a oferta de
produtos e serviços, é natural surgir com mais frequência enfoques e tendências
que ajudem as organizações a serem mais eficientes, e principalmente a
sobreviverem nesta época incerta e de mudanças constantes.

1.2. A Administração e suas Perspectivas


O mundo moderno se caracteriza por organizações nas quais o esforço
maior se encontra no cooperativismo do homem, e esse esforço é a base
fundamental da sociedade. Com isso, pode-se perceber que a tarefa básica da
administração é contribuir na organização das pessoas para desenvolverem
suas atividades de maneira eficiente e eficaz. Podemos então dizer que nas
organizações (tais como indústrias, comércio, serviços públicos, hospitais,

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 115
universidades) ou qualquer outro empreendimento humano, a eficiência e a
eficácia dependem daqueles que exercem a função administrativa.
Podemos assim afirmar que para o mundo moderno no qual estamos
hoje, a administração é a chave para a solução dos problemas que afligem esse
mundo. A palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para)
e minister (subordinação ou obediência) e significa aquele que realiza uma
função sob o comando de outro, isto é, aquele que presta um serviço a outro
(ADMINISTER33, 2015)
A administração, então, passou a ter como principal tarefa interpretar os
objetivos da organização e transformá-la em ação organizacional, por meio de
planejamento, com uma organização, sem esquecer da direção e controle dos
esforços realizados nas áreas e níveis da organização, com um único objetivo
de garantir a competitividade em um mundo de negócios.

1.3. Conceito de Administração


É o método de tomar decisões, utilizando os recursos, trabalhando em
equipe para atingir os objetivos da empresa, assim existem os princípios onde
o administrador é influenciado para os resultados, que são eles: planejar,
organizar, executar e controlar.

1.4. Conceituação do Cooperativismo


É frequente apresentar-se o cooperativismo como a terceira força
econômica, isso sendo entre o capitalismo e o socialismo. Podemos então
dizer que aí está uma falsa perspectiva, de modo que as instituições socialistas
implicam em sujeição passiva do homem num arquétipo fixado sendo imposto
pela cúpula da administração estatal, onde tende o indivíduo se engajar como
engrenagem da máquina social, numa submissão cientificamente escravizante.
Pelo contrário, o cooperativismo pressupõe o sistema sociopolítico da li-
vre empresa, podemos assim dizer da livre iniciativa, ou seja, da liberdade
econômica, sistema ao qual os socialistas denominam, também com inteira
impropriedade, de regime capitalista. Assim, o que se poderia chamar, com
significado real, de regime capitalista é o próprio sistema socialista: capitalis-
mo de Estado, onde este se fez patrão-único.
Por se tratar de um processo associativo pelo qual homens livres fortale-
cem suas forças de produção, suas capacidades de consumo e suas poupanças,
com um único foco, a fim de se desenvolverem economicamente e socialmen-
te, procurando sempre melhorar seu padrão de vida, ao mesmo tempo em
que de alguma forma beneficia uma sociedade em geral, com isso há o aumen-
to da produção, do consumo e do crédito.

O fato de uma cooperativa não poder manter uma existência indepen-


dentemente das atividades de seus associados, conjugando ao princí-
pio de que uma cooperativa é formada para prestar serviços a seus

116 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
associados e não para auferir lucros, confere uma marca distinta ao
capital social da cooperativa (SÁ LEITÃO, 1987, p. 16).

O cooperativismo é uma doutrina que considera as cooperativas como


uma forma ideal de organização da humanidade baseando-se na democracia,
participação, direitos e deveres iguais para todos sem qualquer tipo de discri-
minação, e de qualquer natureza, para com todos os sócios.
O que hoje conhecemos como cooperativismo teve suas origens na Re-
volução Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII, época em que a
mão de obra perdeu grande poder de troca. Salários baixos e uma jornada de
trabalho longa trouxeram muitas dificuldades socioeconômicas para a popu-
lação. Foi diante dessa crise que surgiram, dentre a classe operária, lideranças
que criavam associações de caráter assistencial; no entanto, a experiência não
teve resultado positivo.

1.5. Princípios do Cooperativismo


Tais princípios devem nortear a gestão das organizações cooperativistas e a sua
aplicação é fator determinante para a caracterização da filosofia cooperativista, em
contraposição às práticas das organizações capitalistas. Segundo Galwlak e Ratzke
(2007) os princípios cooperativos são as linhas orientadoras através das quais as
cooperativas levam os seus valores à pratica. Os princípios são caracterizados
por: a) adesão voluntária e livre – as cooperativas são organizações voluntárias,
abertas a todas as pessoas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades
como membros, sem discriminações sexuais, sociais, raciais, políticas e religiosas;
b) gestão democrática e livre – elas são organizações democráticas, controladas
pelos seus membros, que participam ativamente na formulação da suas políticas
e na tomada de decisões; c) participação econômica dos membros – os membros
contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no
democraticamente (parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da
cooperativa e os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração
limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão); d) autonomia e
independência –as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua,
controladas pelos seus membros; e) educação, formação e informação – elas
promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes
eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente,
para o desenvolvimento das suas cooperativas (informam o público em geral,
particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens
da cooperação); f) intercooperação – as cooperativas servem de forma mais
eficaz os seus membros e fortalecem o movimento cooperativo, trabalhando em
conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais; g)
interesse pela comunidade – elas trabalham para o desenvolvimento sustentado
das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 117
1.6. A Ética nas Cooperativas
Ao mencionar a questão da responsabilidade social nas empresas, já é pos-
sível notar que o crescimento das atividades econômicas e os avanços tecnoló-
gicos estão relacionados com o aumento da população e que há necessidade de
mercados consumidores para a absorção do produto de ambos: atividades eco-
nômicas e novas tecnologias. O aumento demográfico e a elevação na demanda
impulsionam a expansão das atividades econômicas e o desenvolvimento de
novas tecnologias. Neste contexto, a responsabilidade social tem como signifi-
cado um compromisso fundamental no âmbito empresarial, despertando para
outra realidade, que é a importância de a empresa contribuir para uma comu-
nidade atuante. Também através de projetos envolvendo meio ambiente, saúde,
educação, dentre outros, é que eles podem ajudar seus empregados a melhorar
a qualidade de vida e também buscar resultados positivos.
Muitas empresas levam a sério essa interação com a comunidade, com o
meio ambiente e com o corpo dos empregados, certo que essas relações tor-
naram-se uma questão de estratégia e de sobrevivência empresarial, e também
pelo lado ético, moral e humano da responsabilidade social. Assim, muitas
empresas e cooperativas já despertaram, e estão despertando para a questão
de que ser bem sucedido à custa da saúde física e mental dos trabalhadores,
uso desenfreado do meio ambiente, sem se preocupar com uma parcela consi-
derável da sociedade, gera prejuízos em longo prazo.

2. CORPO DE BOMBEIROS NO ESTADO DO ACRE


Para melhor entendimento do tema abordado neste estudo, é preciso
conhecer o desenvolvimento e a atuação do Corpo de Bombeiros no município
de Rio Branco e no Estado do Acre. A ideia de bombeiro no Acre surgiu com a
instalação do governo provisório do Estado Independente do Acre, Luiz Galvez
Rodrigues Arias, chefe do governo provisório, através do Decreto n° 07, na data
de 17 de julho de 1899, que tinha desempenho sobre vários departamentos,
entre eles o de Justiça, que criou o Corpo de Bombeiros. Os primeiros serviços
de combate ao incêndio deram-se quando se pode perceber que a existência do
serviço de extinção de incêndios era paralela à do serviço de polícia. E foi no
dia 1º de janeiro de 1921 que as companhias regionais de policiais vieram com a
missão de policiar a região e, por ocasião de incêndios, aquela determinada tropa
era acionada e utilizavam os meios de que dispunha, como pá, enxada, balde de
água, areia, dentre outros meios; assim controlavam as chamas e evitavam sua
propagação, socorrendo vítimas, e tendo como primeiro comandante o major
Duarte de Menezes – comandante da Companhia Regional de Polícia do Alto Juruá.

2.1. O Corpo de Bombeiros


O Corpo de Bombeiros Militar do Acre carrega o lema: “Vidas alheias e
riquezas salvas”. Para cumprir com tal lema, o CBMAC dispõe de um quartel

118 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
operacional em Rio Branco, o 1° Grupamento de Incêndio (1° G.I), situado
na Estrada da Usina, nº 669, bairro Morada do Sol. O efetivo total é de 279
militares; destes, 122 estão classificados no 1° G.I, onde são distribuídos em
guarnições que ficam num plantão de 24 horas para atender às emergências
que chegam do Centro Integrado de Operações e Serviços Públicos (CIOSP),
através do telefone 193.
Para melhor atender à população, o CBMAC realiza os seguintes serviços:
combate ao incêndio, resgate, corte de árvores, vistoria técnica, palestras
educativas, formação de brigada, além de ser o órgão de coordenação e
execução dos serviços da defesa civil.

2.2. A Importância do Administrador na Cooperativa


Para vencer os desafios de uma cooperativa é preciso fazer uma gerência
com responsabilidade. A administração de grandes empresas é uma fonte
de bons exemplos e ao longo dos anos estudos mostram como aplicar
seus métodos em vários outros ramos, inclusive nas cooperativas que têm
características organizacionais semelhantes.
No entanto, para ser aplicado é necessário que o responsável busque
tais conhecimentos e passe a gerir seu aprendizado a fim de estar preparado
para as mutáveis necessidades da organização. Ele cria oportunidades para
melhorar seu talento e criatividade. É atento à tecnologia, porque dominá-la
garante mais segurança/confiabilidade nos serviços que oferece. O gestor,
como principal exemplo, sabe que se não buscar qualificação, em consequência
os funcionários pensarão que não precisarão se aperfeiçoar. Isso porque ele
influencia os outros por meio das suas ações.

3. COOPERATIVA DE SAÚDE DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO CORPO DE


BOMBEIROS
A Cooperativa de Saúde é classificada como um sistema de autogestão em
saúde. Trata-se de um sistema cooperativo de gerenciamento de serviços de saú-
de, sem fins lucrativos. Convêm salientar que ela é formada e atende exclusiva-
mente à “família bombeiro militar”, sem ter vínculo com qualquer outra pessoa
que não faça parte desse rol. Ela é formada por um grupo de pessoas vinculadas
ao Corpo de Bombeiros que criaram um fundo financeiro que é destinado espe-
cificamente para serviços de saúde. A arrecadação é utilizada à medida que os
serviços são solicitados, pelos cooperados. O fundo de reserva, quando não uti-
lizado, permanece para o grupo. É como se esse grupo de pessoas depositasse
todo mês uma quantia de dinheiro num fundo de reserva, e usasse esse dinheiro
nas consultas, exames ou internamentos daqueles que necessitaram dentro do
grupo. O dinheiro que sobra continua nesse fundo de reserva e é usado em ou-
tro momento para fins da saúde dos membros do mesmo grupo. Com isso, ela é
capaz de oferecer com qualidade serviços de saúde aos seus cooperados. A CB-

Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n. 1


n n Fevereiro 2016 n 119
SAÚDE, nos dias atuais, procura sempre levar para seus cooperados o melhor
atendimento, usando sempre o bom relacionamento, ética, para que assim não
ocorram problemas no ambiente organizacional, procurando sempre estar com
profissionais bem qualificados para melhor atender seus usuários. A CBSAÚDE
é uma parceira formal da UNISOL BRASIL, com participação efetiva em reu-
niões, palestras, feiras, visitas técnicas, entre as demais atividades desenvolvidas
pela União Solidária. Assim é formada a CBSAÚDE, com seus serviços ofereci-
dos para melhor atender seus cooperados, com uma estrutura física digna de
um atendimento exemplar e que está de acordo com a necessidade de todos os
seus usuários, buscando sempre melhorias para assim se destacar dos demais
planos de saúde que existem no município de Rio Branco.

3.1. A Atuação da CBSAÚDE


A CBSAÚDE atua no ramo da saúde, com uma rede conveniada com as
seguintes especialidades: alergistas, cardiologistas, clínica geral, oftalmologista,
endocrinologista, ortopedia, fisioterapia, odontologia, óticas, psiquiatra, psico-
logia, laboratórios, hospitais, dentre outras áreas. A cooperativa oferece somen-
te convênio com academias, clínicas radiológicas, fisioterapeutas, laboratórios,
médicos odontológicos, óticas, psicólogos, rede de hospitais e o SESC.
O seu controle de qualidade é promover um atendimento eficaz relacio-
nado à saúde dos servidores públicos do CBMAC e seus dependentes, além
de visar o corporativismo financeiro com vistas a promover uma saúde de
qualidade. E ela conta com os seguintes parceiros: com estagiárias, ofereci-
das pela Federação do Comércio; uma faxineira, oferecida por uma empresa
terceirizada; médicos que atuam na própria cooperativa nas demais áreas de
odontologia, fisioterapia, nutrição, psicologia. Os clientes da CBSAÚDE são os
próprios militares, e muitos trabalham no Corpo de Bombeiros do Estado do
Acre; e outros já estão aposentados, sem contar com seus familiares que estão
incluídos como seus dependentes.

3.2. A Visão dos Associados


É de importância fundamental que os associados estejam sabendo dos
desenvolvimentos das atividades cooperativistas, a fim de que os serviços
prestado pela CBSAÚDE sejam com eficiência e eficácia. Na função de donos
e usuários da cooperativa, os cooperados, além de serem responsáveis pelo
alcance dos objetivos estabelecidos, é preciso definir claramente como é que
devem ser desempenhados os serviços propostos.
Contudo, o cooperado deve ter a consciência de que o cooperativismo va-
loriza a produtividade e a eficiência, não visando somente o lucro e a acumu-
lação de capital e, sim, a atenção que deve ser dada ao progresso e qualificação
dos serviços prestados aos seus donos – usuários.
A formação do capital é um fator de extrema importância, mas não ne-

120 n Revista de Iniciação Científica da FAAO n Rio Branco - AC n Vol. XII n n. 1 n Fevereiro 2016
cessita ser visto como fim ou objetivo último do processo econômico, mas,
sobretudo, deve ser visto como um instrumento necessário para a prestação
dos serviços e sua expansão; portanto, deve ser visto como um meio de demo-
cratização de oportunidades e de renda. Entretanto, se faz necessário que o
grau de satisfação do cooperado em relação ao desempenho da cooperativa
esteja em níveis elevados para, assim, se ter a realimentação dos cooperados
em todo o processo. De uma forma mais ampla, estando os cooperados sa-
tisfeitos com o desempenho da CBSAÚDE, eles irão adquirir consciência da
responsabilidade da participação e influenciarão cada vez mais no destino da
cooperativa. Desta forma, a participação dos cooperados pode promover um
maior engajamento, que resulta em criatividade e inovação, fatores estes que
em conjunto realimentam positivamente o ciclo produtivo e faz com que a
CBSAÚDE se torne uma organização com grande desempenho.

CONCLUSÃO
Podemos concluir que a importância da prestação de serviços que a coopera-
tiva oferece para os militares de Rio Branco vem da maneira de como se comuni-
cam e saber lidam com diferentes situações com os próprios cooperados oferecer
um plano com os melhores profissionais, atendendo em todas as especialidades
além das necessidades dos militares. Contando com um ambiente amplo e confor-
tável com o objetivo da satisfação dos seus usuários, com funcionários oferecen-
do o melhor comportamento, sobretudo usando a ética profissional, sempre no
momento em que algum militar chega à cooperativa ou até mesmo por telefone,
dando um “bom dia”, fazendo com que o cooperado sinta-se como parte da orga-
nização da cooperativa, respeitando os colegas e chefes, evitando desentendimen-
to na própria cooperativa, pois uma boa postura gera satisfação dentro da orga-
nização. Hoje, saber se comunicar é muito importante, ter uma boa expressão e
saber falar e, principalmente, ouvir, pois conviver com pessoas diferentes requer
capricho e determinação dentro de um ambiente organizacional.
O comprometimento dos militares (cooperados) e seus superiores traz
para a cooperativa confiança, credibilidade e melhora no aspecto de estar
sempre procurando trazer o melhor para os associados. A cooperativa está no
caminho certo e obtendo seus objetivos de alcançar a qualidade de um plano
de saúde que futuramente não apenas só para militares, mas como para toda
a população do município de Rio Branco.

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