O Projeto Nova Luz correspondeu à tentativa de revitalização dos bairros Bom
Retiro e Luz no centro de São Paulo. O Nova Luz consistia num megaprojeto de parceria público-privado sem precedentes, pois envolveria um único consórcio para implantar desde o planejamento até a execução do projeto. Durante este processo houve tanto cooperação quanto conflito entre a governança democrática e o planejamento urbano privado. No âmbito da participação, um avanço que pode ser notado é que este foi o único projeto de revitalização na capital paulista que envolveu um conselho de gestão municipal. No entanto, este conselho foi consultado na época apenas para a questão da moradia. Um dos motivos que desencadearam resistência à esse megaprojeto foi que estudos prévios apontaram que a revitalização anterior de áreas nessa região desencadeou processos de gentrificação, ou seja, o encarecimento do custo de vida na região, o que provocou o afastamento da população de baixa renda para áreas mais periféricas da cidade. Outro ponto que foi motivo de conflito entre a população local e o empreendimento, foi a falta de participação popular no projeto, o que levou às associações de moradores e comerciantes a protestarem e entrarem com ações na justiça para barrar a sua implantação. Os moradores tiveram êxito em atrasar a aprovação da obra, até a chegada de uma gestão mais progressista na prefeitura de São Paulo, que prometeu rediscutir o projeto com a população. Entre as intervenções feitas pelo governo do PT durante esse período, foi o programa “Braços Abertos”, que propunha uma outra forma de tratamento para os usuários de droga da região, que outrora era conhecido como “Cracolândia”. Por fim, segundo Shake (2016), pode se dizer que uma nova forma de planejamento urbano privado emergiu em São Paulo e se manifesta na forma deste projeto Nova Luz. Nele, há o envolvimento de gestores, setor privado e população, em uma dinâmica que não é necessariamente de oposição, mas que também pode se manifestar de maneira colaborativa entre esses diferentes setores. No entanto, neste caso específico, podemos perceber que o aspecto contencioso vigorou durante o processo, levando aos poucos o projeto a ser deixado de “escanteio”.