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FARRAPOS

DE
HOMENS

POR
IGNIS MOKSHA
Soeiro Pereira Gomes.
“Para os filhos dos homens que nunca foram meninos”

Pai Américo.
“Se Salazar diz que a revolução tem de continuar, enquanto houver uma casa sem pão – que
dizer dela, enquanto houver uma Criança sem casa!
E há mundos delas...”
dela

Pepetela
“Bendita língua que aceita brincadeiras!”

Pedro Páramo
“Em el cielo me dieron que se habian equivocado conmigoo; que me habian dado
corazon de madre pero un seno de una qualquiera.
Este livro é dedicado a ti Cassiano Baldé! Porque foste o único a
compreender o seu flagelo.

1
Os que me esqueci estão em baixo em * e em invisível...

1 Não alcançaram créditos necessários para serem nomeados….


NOTA

Esta é uma história de ficção baseada em factos reais. As personagens baseadas


em pessoas reais surgem aqui como ficção. A ação muita das vezes é roubada à
realidade, com nuances de imaginação. Qualquer afinidade com personagens reais
é pura coincidência.

entre milhares de olhares obsessivos, escolheram o olhar pacato e tímido deste


manuscrito. espero que; numa floresta de tantas, seja mais uma caneta ecológica,
pois, não existe melhor modo de espiritualizar a morte duma árvore, a não ser
através duma escrita sincera e sofrida. Para bem da minha e da vossa consciência;
convêm deixar algumas indicações ou contra indicações sobre o súbdito. CAROS
LEITORES; no desfolhar do romance algumas páginas poderão criar vertigens ou
perturbações ao leitor, caso isso aconteça; passe à página seguinte…. Devido às
flutuações inerentes no manuscrito; é recomendável aos passageiros-leitores que
tomassem clorpromazina como forma de seguro de saúde. Para os que sofrem de
extrema sensibilidade racial, que aportem alto níveis de xenofobia no sangue, ou
aleguem indícios de qualquer sintoma que possa causar interferências no seu
boletim clínico; é crucial fazerem alguns exercícios de respiração, para que na
hora da leitura; não falte o oxigénio necessário para suportarem o voo que estão
prestes a experimentar. Qualquer dano ou insanidade mental causada pela leitura
do mesmo não será responsabilizada pelo autor. Acrescento também; uma nota de
aviso aos Gramáticos mais reacionários para não perderem tempo com a leitura do
manuscrito, pois, poderão enlouquecer de tanta selvajaria linguística. Por fim, e
sem mais delongas; todas as personagens deste voo, desejam aos curiosos leitores;
uma viagem longa, recheada de sorrisos, de percalços, de tramoias aparvalhadas, e,
de abençoadas demências; uma viagem a expelir desventura… tal e qual como na
vida….
Em portugal, a pobreza é silenciosa! Esconde-se à socapa por entre as entranhas como
um cancro sossegado a derreter levemente sobre a carne viva. Respira tenebrosamente tal
e qual uma brisa inofensiva e mansa mas que no fundo é descaradamente falsa, cínica, e
cruel. Matreira, caminha acenando gestos aparentemente de belo e de bem, mas com a
boca a borbulhar o caos; perfura as veias da terra numa timidez hipócrita, e, apesar de
aparência silenciosa; ela é extremamente histérica, violenta, e suja, que morde e mastiga
como se fosse um sopro fingido; que entra, cola, e roí a vida devagar, bem devagar,
mesmo devagarinho …. e devagar engole a vida roída, e remoída; cospe-a como se
tratasse duma celebração divina. Coitada! a Pobreza lusitana; apadrinha-se de
samaritana, de padroeira dos diminutivos, no entanto só se a vê a rastejar e a tombar
num triturar enjoativo, quase não se ouve… quase não se vê… mas vê-se…. E ouve-se...
gritos a expandirem…. E a retornarem exaustos a despedaçarem o próprio som… Vê-se
com todos os seus tons, e toda a sua crosta, a roer calada, a mastigar; a botar pus...
sonolenta; mas não lenta….ainda com remelas; sussurra como se fosse um berro de um
Deus enlouquecido, e arde; arde tão pausadamente que seu lume brando entra em
qualquer encosta, e invade qualquer esquina, queima e se espalha tão lentamente em
qualquer praça, qualquer aldeia, bairro, canteiro, ou ruela, e a cada passo miudinho;
penetra e corta como se fosse um abraço apodrecido dum Demónio desolado . É neste
portugal amargo, que a Farrapada, areia pastosa das ruas, tornou-se refogado à pobreza;
cardumes de partos tombam e esfarelam em avenidas prenhes de bolorenta enfermidade,
cuja a penúria rasga com aferição seus cadáveres, libertando no ar um aroma a podridão
tão apurado que em cada rua que se passa, parece que se sente a morte a vomitar. Nas
ruas, nas aldeias, nas cidades, em cada pedaço de terra assente, os gemidos acutilantes
da farrapada, confundem os passageiros como risos de fantasia, gritam e cantam as
lamurias da escuridão lusitana; roçam a cegueira das ruas, rolam e enrolam-se com ela
como se tomassem as próprias ruas e as ruas as próprias vidas, mesmo cientes do que
são: os canteiros degradados dos subúrbios; troçam a pobreza com brio e valentia,
tropeçam, tombam, e riem…. e por vezes também; tropeçam, tombam e choram... sempre
ou quase sempre agarrados à esperança e à humildade; firmes, imaculados, revestidos de
heroísmo para continuarem a existir na orfandade.

Anisha fora mais uma Mãe corajosa, mais uma Mãe de tantas Mães sonhadoras
que choraram pelas brisas deliciosas do ocidente. Em busca de uma vida de
sonhos para si e para seus filhos; Anisha aventurara-se com o peito em contra-
mão no cruzeiro prometedor de Vasco da Gama. Assim que as esperanças
vazaram as ancoras em calçada portuguesa, Anisha perdera-se por entre as
caravelas de latão e as alucinações suicidas de Pessoa. (É que isto de acreditar nos
poetas nunca se poetizou de muito saudável! Ainda hoje os versos cheiram tanto a
Touriga que se espetam por entre as odes! E é quase absolutamente certo que o
Fernandinho devido às oscilações do corpo tenha desencaminhado as latitudes do
oculto. Isto porque, ainda ouve-se o Tio Sebastião; Padroeiro da emigração, a
cantar de fininho: Portugal? “ Nem lá vou nem faço minga” E as glorias
passadas lacrimosamente resmungam: Aonde vais Portugal? De bengala, já
velhinho e a caminho do teu jazigo com traça… Anisha não
imaginara que os amaldiçoados Karmas lhe viessem atormentar. Não acreditara
que as sementes da sua penosa Índia viessem consigo encarceradas na sua carne
não importasse onde ela estivesse. Fora atropelada por eles como um pedaço de
pó que não assenta no solo e que o vento dissipa à deriva sem deixar saborear o
gosto da nova terra. Aquele ar doce e colorido que viera a sorrir do oriente;
secara ao primeiro toque, a realidade lusitana era feroz, e o acostumado
desemprego cozido à portuguesa era um predador muito acolhedor nesta parte do
mundo. A miséria e a penúria foram mortíferas; esbateram nela com tanta força,
até fazerem ferida no seu ventre. Não havia outra solução a não ser colocar os
seus pequenos rebentos num orfanato.
Fora por cusquices do meio que Anisha soubera da existência dum orfanato
com o nome de: “A Casa dos Farrapos Condenados da Terra” com o vento
chegaram-lhe alguns substratos de conversa para lhe dizer muito bem de tal
instituição. Que era daqueles lugares regeneradores da alma que conseguiam
transformar canapés de canalha em cardápios de homens ilustres, que a educação
era solida, severa, esculpida à fita métrica, tal e qual como a vida o exigia. A
Casa dos Farrapos Condenados da Terra, ficava longe da capital; mesmo bem
longe, ficava mesmo distante de tudo, especada naqueles fins de mundo a que
chamavam; A Aldeia dos “Sós e dos Silêncios”. Por lá, o barulho alucinado da
cidade era uma minoria perdida; pouco ou nada se ouvia; permanecia distante
escondido de fininho nas costas do vales e das montanhas, submerso pelo
cacarejar dos passarinhos que transbordavam o ar de melodias, e onde o verde e
o branco da pedra amassavam a paisagem junto com o gado e as campesinas de
bigode ao lado dos homens de corcunda agachada a cozinhar o dia com as
enxadas espetadas na terra e com a boca aberta a desengonçar um ar tão honesto
que lhes fritava o peito duma só golada. Com o silêncio e a solidão a tomarem
conta de si; Anisha recolhera tudo o que precisava sobre A Casa dos Farrapos
Condenados da Terra e partira com os seus pequenos; Assoka Nerhu e Pholan
Gandhi para esse tal norte que ficava longe, mesmo longe de tudo.

Um nevoeiro denso, lento, e penetrante; ofuscava o caminho como se fosse fumo


ardente. Na rua uma nebulosa apocalítica esfumou-se do vidro do táxi; desnuda,
nítida, desvirginou do vidro uma claridade brilhante, tracejando na face de
Anisha, um cabeçalho feito de granito geometricamente alinhado, com um titulo
em metal a dizer: A Casa dos Farrapos Condenados da Terra. Anisha saiu do
carro; e firme olhou em frente e pasmou; os sismos da alma desenterravam--se,
hábeis, infalíveis, incorporavam-se lentamente nela, pasmada, com os olhos a
tropeçar, tentava desafiar aquele metal; a duvida, a fragilidade, o venenoso
arrependimento entornava-se na sua cara a querer arrancar-lhe a face como arame
farpado em corpo de encarcerado. Remoía a cabeça para um lado e para o outro,
ao mesmo tempo que tropeçava a vista entre seus pequenos e aquele metal fixo
que não mexia nem para um lado nem para outro, permanecia ali frontal e direto
a querer desafia-la. Hesitante entre a dor e a realidade; Anisha não pensara que
seus anseios de Mãe fossem parir fora do seu ceio; distante dos seus pequenos, a
imaginar ao longe como aquelas boquinhas iriam ser saciadas dia e noite, como
aqueles corpos iriam ser aconchegados nos dias de gelo, e principalmente como
aqueles delicados corações iriam ser acariciados nos momentos de aperto e
solidão. Apertava o peito e desapertava-o e sentia o aperto que aquele metal lhe
impingia no peito. Como qualquer aflição de mãe; não contara que fosse pausar o
peito para amamentar-los a meio; seus seios secaram e agora só vertiam água
salgada que escoria dos seus olhos. Era ela, a duvida, e o metal que lhe drenava
a maternidade como se mastigasse seu intimo e defeca seu-o algures em algum
lugar distante, eternamente afastado de si como a sua terra Natal. Anisha
despertara pequenos movimentos na calçada; passo a passo movia-se com
coragem e cobardia, com os olhos a humedecer a boca e as mãos suadas
pregadas nas mãos de Assoka Nerhu e Pholan Gandhi, o volume da entrada
intimidava-a; parava, e avançava, um pé para ali outro para acolá, com as mãos
suadas a querer escorregar das pequenas mãos de Assoka Nerhu e Pholan Gandhi,
tímida avançava, procurando devorar aquele metal que continuava cravado, firme,
obstinado a confrontar… como se adviesse dele qualquer espécie de sobriedade
do mal, a querer germinar como semente demoníaca. Ganhando coragem e
amenizando a cobardia, Anisha apertara as mãos dos seus pequenos com soberba
força que o pouco osso das mãos dos seus filhotes estalaram de tão apertadas que
estavam. Respirou fundo; e a derreter por dentro suspirou num murmúrio
silencioso:

- Arebaguandi!

Olhou para o motorista do táxi e deu sinal de partida, no mesmo realce


desviou a atenção para seus pequenos e de cara acolhedora – Disse :

- Venham meus filhos que já chegamos!…


O mais corpulento Pholan Gandhi, colocou o nariz à disposição respirou
um bocado ao seu redor e meio desconfiado – Perguntou:

- Mamadi ? Que téia é eta? O que faz aqui nois?

Um amontoado de lágrimas, entre-cortado de suspiros, descia e


escorregava num cavalgar tão vagaroso da face de Anisha quase como
um arranho frio e sorrateiro. Ela com o corpo a estremecer e o peito
inchado respondeu num tom delicado e ruidoso:

- Meu Filhinho; tu e teu irmão vão passar umas férias nesta casa! Vais
te divertir imenso! Criar imensos amigos!…

Olhava para seus filhos; e sentia uma irrupção voraz de vomitar toda
aquela voz, esterilizar suas palavras de todo o despudor, de toda
insinceridade; letra por letra, silaba por silaba, palavra por palavra, até
secarem inteiramente toda réstia de azia que crescia dentro si. Paralisava
no tempo; e o tempo respondia-lhe com sinceridade, era o pesar a vir à
superfície e riscar-lha pele e perfurar-lhe o corpo, fecundando-a de
mágoa, pois, a realidade era dura; não havia outro meio, outro caminho,
outra saída, agarrava por dentro a única convicção; de que os Deuses
lhe concederam livre vontade de salvaguardar seus filhos de tudo; da dor
e da miséria, custasse o que custasse. Pholan Gandhi enfraqueceu os
ombros e esboçou um sorriso convincente para a mãe. E a Mãe
impaciente recebeu seu sorriso de braços abertos totalmente aliviada.

Após esclarecimento; Anisha despediu-se do Táxi e de mãos dadas


com os pequenos entrou pela porta do orfanato. Já dentro da Casa dos
Farrapos Condenados da Terra, Anisha deparou-se com uma assustadora
envolvência da natureza; Árvores, Árvores e mais Árvores, tricotavam os
horizontes dum verde tão pujante que parecia que se sentia o paladar da
flora, ali bem condimentado. Olhou em frente em direção àquele verde;
e aquele verde afundou-lhe o rosto; uma onda reminiscente da sua
amada Índia invadiu-lhe o peito e os olhos começaram a dissecar os
sabores, os odores, as paisagens, paisagens enroladas que tocavam
lembretes dessa natureza que há tanto tempo deixara para trás quase
esquecida por entre os rumores do tempo e que agora lhe beijava a face
em manchas acentuadas. Anisha trincava o passado da sua terra e
desequilibrava as lágrimas partidas que já não eram coloridas; mas sim
transparentes como o vazio que a acompanhava. Com as mãos pregadas
às dos seus filhos; uma em Pholan e outra em Assoka Nerhu, Anisha
avançou mais um pedaço; uma avenida coroada de carvalhos idosos
agitavam os troncos como se tivessem cocegas, entortavam as cabeleiras
de um lado ao outro, esticavam os galhos como se dessem as mãos, a
tremer da raiz à ramada deixavam pedaços de folhas estremecerem no
vazio, caiam, e cortavam o vento como pássaros; caiam e também
flutuavam no ar como pássaros. E Anisha andava, respirava e
aconchegava-se como sentisse naquele momento a sua terra a roçar-lhe
as mãos, acariciar-lha cara, a sua terra abrindo as tripas convidando-a a
entrar. Anisha, movia o seu corpo no terreno, cada pegada na terra
assente era uma mordidela no espaço, o presente e o passado expressos
numa pegada, pois a terra persistia e o verde prosseguia não querendo
desistir. Comido já meio palmo de estrada; os vestígios da fauna
começavam a evidenciarem-se; vacas, porcos, cavalos,ovelhas, galinhas,
berravam Muuss Muuss e Mééés Mééés por cima de Quás!...Quás!... e
Quiquiriquis confundindo o ar com Pius!...Pius mascarados de
Cocorocós….. gritavam e estalavam os pulmões exaustivamente pelo ar
que seus latidos tomavam crosta nas encostas. Enquanto Anisha copiava
aragem, atrás de aragem, paisagem atrás de paisagem pensando e
sentindo cada vez mais sua Terra Natal; seus filhos Pholan Gandhi e
Assoka Nerhu, escutavam os Musss Muss e os Méééss Mééééss, os
Quás Quás e Quiquiriquis, arregalavam os tímpanos, ferviam os
pulmões, e davam asas às cordas vocais tentando homenageá-los. Mais
uns metros percorridos, quando os zunzuns humanos aniquilaram o
concerto da natureza; vocábulos, em diferentes tons, sotaques, origens,
misturados numa rapsódia palopiana difícil de decifrar. Das vozes
multicolores apareciam os protagonistas; crianças africanas, portuguesas,
ciganas, espanholas,timorenses, sujas, rotas semi-rotas, uns com sujidade
nos sorrisos, outros sem sorriso algum. Os mais pequeninos subiam às
cavalitas dos grandalhões e punham-se abanar os braços de maneira
desequilibrada, estremeciam os ossos dum lado para o outro aos pulos
sempre por cima das costelas dos mais crescidos que suportavam a
pressão a ranger os dentes e a farejar os joelhos no asfalto com dureza
e simpatia. Os que tinham mais dentes abriam os beiços e sorriam com
mais força, os que tinham menos também mostravam os dentes; sorriam
e cerravam logo as dentaduras para não desanimar a alegria que ali se
repartia. Pequenos e grandes, sujos e rotos, homens com dentinhos de
leite a pulverizar os corações como fossem especiarias trazidas da alma.
Anisha emocionada; olhou para os seus filhos e disse :

- Vejam meus filhinhos! Tanta felicidade há aqui para vocês meus


pequenos!

Pholan Gandhi e Assoka Nerhu escutaram a mãe com um sorriso na cara, e paralisaram

a face perante aquela malta que não parava de sorrir calmamente.

Anisha aproximou-se dum rapazito que entretinha os pés com uma bolinha de cartão e

perguntou:

- Meu pequenino aonde posso falar com o responsável?

O Pequeno coçou as sobrancelhas e com atitude de gato manhoso. - Respondeu:

- Dá moeda senhora ! É pá meenda !

Anisha achou engraçado o empreendedorismo nato do rapazito; e outra vez, quase

ejoativamente, as vozes do passado apoderavam-se dela; os gritos amargurados dos

miúdos da sua terra; sujos, rotos, tal como estes, a sorrir e a falecer por uma esmola,

por aparo, por um pedacinho de alimento, beliscavam-lhe o pêlo e ela ressentia ali a dor

dos que passaram e a dor dos estão em frente, especados e também atormentados com o
presente. Das poucas moedas que tinha consigo Anisha pegou na maior e colocou na

mão do pequeno. O pequenino contente com o ganho; esticou o corpo franzino e com os

lábios famintos despejou um beijo seco na cara de Anisha. E logo de seguida. -

Respondeu:

- Mia senhoia é ali a fente da tipoafia está lá o Pai Calos Salazar.


Nos encantos das redondezas os mexericos populares murmuravam que Pe. Carlos
Salazar era um homem muito célebre na corte Portuguesa; em qualquer recato português
aparecia sempre uma ou outra criatura de Deus que o benzia como se tratasse duma
aparição celestial. Os cochichos, os mexericos, os relatos, exaltavam que Pe. Carlos
Salazar era uma figura de porte aristocrático, de carisma superior; geométrico na postura
esticava o gargalo como se engasga-se quaisquer divindade a exprimir os céus na terra de
fato e sapatinho de vela. Que nascera num ceio de genética abastada, emigrante de
heranças militares, com refinamento apostólico. Pe. Carlos Salazar segundo o dito; era
um homem folhado de raro intelecto que desde da pequenez fora acimentado com o
cálcio do Estado Novo, e como tal; trazia na medula: a disciplina, a ordem, e a oração,
como mandamentos inabaláveis da vida. Inspirado religiosamente pela pedagogia
Salazarista e batizado com os circuitos da Pide nos descampados do Tarrafal; empenhava
aos Farrapinhos os mesmo métodos com alguns progressos no desempenho e com outra
nota artística. Acreditando, sem qualquer duvida ou remorso, ser a maneira mais suprema
de educar crianças. Um dos relatos mais espalhados pela comunidade local; talvez o mais
caricato na localidade, era que havia no seu quarto um quadro da Ultima Ceia recriado
por ele; sagrada bússola aonde imensas vezes recorria e orientava a sua conduta. Nesse
quadro, conforme os pareceres do mito; Pe Carlos Salazar mandara desmanchar o
original e com outro gosto pictórico esboçara com as suas próprias mãos o dito quadro.
Na tela que esboçara, em vez de deixar os apóstolos titulares de Cristo; pô-los no banco
de suplentes a observar os seus substitutos. Com outra imaginação e outro engenho na
sua Ultima ceia encontravam-se no núcleo da mesa: Salazar e Cristo, como se fossem
um casal apaixonado; semelhantes em matrimonio como Deus assim os concebera.
Depois à volta dispôs uma tirania diversa; ao lado do casal duma ponta a outra; brisas
vindas do oriente como Tsé – Tungs e Pol Pots paladares picantes de África como
Mugabes, Mobutus e kaddafis pulverizados com aromas exóticos do médio oriente como
Saddam ao lado de decorações liricas ao estilo de Mussulini e Ceacescu.
Mesmo com a mesa apertadinha de sabores sobrenaturais não faltava lugar para alguma
efervescência latina;

ver caraceteristicas da culinaria dos países e ver perfil do caracter dos ditadores

Carlos Salazar com um gosto pictórico mais refinado mandara desmanchar o original e

esboçara com as suas próprias mãos o dito quadro. Na tela que esboçara, em vez de

deixar os apóstolos titulares de Cristo, pô-los no banco de suplentes a observar os seus

substitutos. Na sua Ultima ceia encontravam se no núcleo da mesa: Salazar e Cristo

como se fossem um casal apaixonado; semelhantes como Deus assim o desejara. Depois

à volta dispôs Saddam Hussein, Al Kaddafi, Omar al Bashir, Pol Pot, Benedito Mussilini,
Mugabe, Mobutu, Hitler, Stalin, Mao-Tsé-tung. Pinochet e Ceuascecu. As vantagens dos

contos populares é que existem sempre mais palavras para amplificar o relato. E por

outro lado também havia quem fala-se com ele com um homem a transbordar de bem

Era tudo uma lenda... Nada factual. Por outro lado, também havia
quem falasse dele como ser cristalizado de Amor; que sugava
bondade das Inspirações de Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Luther
King, Óscar Romero, Mandela, Zumbi, Desmund Tutu, Aung San Suu
Kyi, Indira Gandhi e a majestosa Eva Perón; aquém roubava com
alguma assiduidade o seu clássico termo: “Los
Los Descamisados” para
rotular os Farrapos da Rua. Pe. Carlos Salazar sentia a pobreza e
a autoridade como ninguém; eram ingredientes indissociáveis. E
para fermentar bem esse canapé pedagógico havia uma historia muito
engraçada que contavam como cartão de visita da sua personalidade.
Segundo o dito relato; nos tempos em que a televisão aparecera
como artefato de masturbação alienígena, criando orgasmos
coletivos na população, nessa época de escassez e exclusividade
onde quem detinha o aparelho magico advinha do facto de possuir
estatuo ou robustez de carteira, mais concretamente que não estava
disponível como bufê para qualquer Zé da esquina. Mesmo nessa
época, houvera alguém que dispôs da sua alma solidária oferecendo
uma televisão para a Casa dos Farrapos Condenados da Terra. No
entanto; Pe. Carlos Salazar defensor canibal da pobreza, da vida
simples e humilde, recusou com um sorriso virtuoso de retrato
impressionista. Facto que chocara tremendamente o altruísmo de
quem oferecera o dito aparelho. Impávidos, perguntaram a razão da
nega; ele, sábio, de frases concisas, de semiótica simples,
respondeu: - “A Casa dos Farrapos Condenados da Terra não anda,
nem pode andar à frente do Povo!”
Dissolvendo rumores e mitos, e, focando mais concretamente a
realidade; Pe. Carlos Salazar após a morte de Jesus Santo Aguiar
fundador das Casas dos Farrapos Condenados da Terra tornara-se o
seu discípulo mais próximo e o grande baluarte das Casas dos
Farrapos Condenados da Terra. Sendo o seu eterno continuador de
espirito e também de ação, Pe. Carlos Salazar arregaçara as mangas
da batina, e sem medo de se ensujar na mendigagem pobretana,
colocara as Casas dos Farrapos Condenados da Terra a serem o
antibiótico das ruelas PALOPIANAS. Não só vincara na sementeira;
semeara, plantara, e cultivara um par de Casas por Portugal
inteiro, mas também transplantara a muda, para solos africanos.

Anisha escutou o menino e dirigiu-se diretamente à tipografia. Na


porta da tipografia o som tremido das maquinas descalçava-se pelo
chão; tocava em tudo e fazia tudo tremer de medo. Ao pé da
entrada, com o corpo pregado aos pés, Anisha tomou a dianteira e
entrou; raspou o chão com o seu corpo e também apertou o ruído
embaraçado da maquinaria, tremeu e pausou; moeu o pescoço para
ambos os lados, e voltou a pestanejar os pés receosamente tal e
qual como o das máquinas que não paravam de vacilar.
Alguém entrou e cruzou-lhe os olhares e ela timidamente devolve-
os, com a língua a engasgar, perguntou:

- Desculpe, aonde posso falar com Sr. Padre? O Sr. Padre o


responsável?

- Espere um minutinho menina que já o chamo! – Replicou o


Homenzinho. Impaciente, Anisha encarava o teto da entrada e
soprava os beiços como se tivesse a evaporar de si toda
desassossego.

Um homem alto, robusto, de olhar severo e com uma cara pouco


arranjada saiu da sala em direção a Anisha e perguntou:

- Diga lá menina? Em que a posso ajudar?

Sr. Padre; precisava de falar com o senhor! É sobre os meus


filhinhos…. As lágrimas escorriam do rosto de Anisha e
prolongavam-se como teias, teimosas como sarna.

O Sr. Padre contraiu uma face de preocupação e disse:

- Humm… sim menina; nesse caso é melhor irmos para um local mais
sossegado, assim ninguém nos perturba e a menina pode falar mais à
vontade, com mais calma. - E acrescentou:

- Entre aqui no meu escritório menina, não se preocupe, pode


deixar a pequenada por ai ambientar-se com os nossos rapazes.

Pholan Gandhi e Assoka Nerhu largaram as mãos da mãe, sacudiram os


pés, e desataram porta fora.

Anisha arrumou a face e por momentos serenou. Já dentro do


escritório, o Sr. Padre perguntou:

- Então, diga lá o que lhe vai na alma?

Anisha contraiu as rugas, e quase a falecer. - Respondeu:

- É assim Sr. Padre; vim da minha pobre e miserável Índia...


Anisha assim que soletrou palavra Índia; as imagens da sua terra
tomaram-lhe a mente e o sonho em si falou:

“Os gritos, a confusão, a precipitação incansável da cidade;


constantemente desperta, viva, em chamas…. As cores, os odores, o verde
e o feio coroados no mesmo toque; vozes, ruídos, inúmeros sentidos de
pessoas que andam apinhadas umas sobre outras, inundam os caminhos numa
pulsação aterrorizante. A rama perturbadora das crianças das ruas que
despertam cedo; acordam a cidade com os seus estrondos atormentados de
genica, põem os pés na complicação do trafico, vertiginosos, violentos,
baralham-se ao tato dos automóveis, desordenados vasculham esmolas na
paciência dos condutores, esgravatam as ruas cuidadosamente, palmo por
palmo, nos redutos, nas lixeiras, nas pocilgas, em cada contorno de terra
buscam o mais insignificante vestígio de comida que as multidões deixam
escapar das mãos. A chuva cai torrencialmente na cidade; mas as ruas, a
cidade, continua em chamas; a agitação, a pobreza viva; tudo gira com o
dia, esteja cristalino ou sombrio, multidões pulam as montanhas de lixo
mergulham os ganchos de ferro no entulho, e acolhem tudo. Os garotos
atiram-se para os esgotos, mergulham fundo e trincam garrafas de plástico
para negociar; os esgotos estão inundadas delas. As meninas órfãs seguram
flores na mão, esbatem nos troncos dos peões, deixam cair as flores na
porcaria, gemem e choram; e tentam vender o que resta delas. As barracas
abanam e as pessoas tossem, os insetos voam com a brisa e retornam às
barracas, as pessoas tossem e cospem contra o vento, as barracas abanam,
as caraças palpitam do lombo dos cães para as carecas dos recém nascidos,
os ratos correm por entre as brechas e os bebés gritam, a doença
estampada nas famílias; curvam as costas às pinturas penduradas nas
paredes das barracas, lavam o corpo conforme o desejo das pinturas, saem
das barracas e olham o gado gordo a passear serenamente e já não tossem,
voltam a curvar as costas. Crianças perseguem os cascalhares do gado,
procuram caca seca que os bichos aliviam no solo, quando encontram-na;
esfarelam-na na alegria de lambiscar pequenas sementes que não foram
trituradas pelo pasto. Mulheres ao longe; sós, desapegadas dos agregados
sangram pelas pernas, lavam-se; lavam o corpo até o deixarem sem nódoa;
quando limpas, voltam jovens para as famílias. Nas paredes apertadas das
ruelas outras mulheres sangram; encostam-se às paredes e dão vida; cortam
os cordões com foices e tomam as crias no colo, secam o sangue das crias
com os lábios, abraçam as crias com os braços, e descansam o corpo nas
paredes. Com os seios enrugados, puxam pelo leite que encontram no fundo
das garrafas que obtêm das lixeiras, molham as gargantas das crias, e
regalam-se com o seu sossego. Mães de família roubam a caridade dos
filhos e correm aflitas para os mercados; as esmolas são poucas; só levam
para casa um pedaço de frango um tanto doente por ser o mais barato que
se encontra no mercado. Outras mães de família também percorrem pela
sombra os entulhos das ruas, recuperam tudo o que a cidade não convoca;
nem tempo têm para apagar o cansaço; apressam-se para montar os barracos
na matina e exporem à venda o frango doente e tudo o que apanharam das
ruas da cidade. Encostadas aos becos, velhinhas bebem chá e cantam os
passados das suas mãezinhas que escalavam as montanhas mais altas que o
mar com as costas carregadas de pétalas e os dedos amassados de tanto
trabalhar. Homens brancos, deambulam pelos esconderijos sombrios da
cidade e farejam nos bordeis crianças vestidas de mulheres e cara meiga.

Com os olhos humedecidos recuperou o folgo e continuou:

- Ai Sr. Padre; nem sei o que lhe dizer sabe! Sabe; a vida é muito
complicada na minha pobre Índia. Há muita pobreza! Muita miséria!
Vim para Portugal para encontrar uma nova vida para mim e para os
meus filhinhos.

Padre Carlos Salazar contraiu as sobrancelhas de desgosto e


perguntou:

- E o Pai das crianças menina? Também veio consigo?

- É complicado Senhor Padre. - Respondeu ela

Anisha voltou a lagrimar e tremendo. – Lamentou:


- Sr. Padre eu estive noiva... Meu doce Rabti... Só que a vida...

Anisha molhava a cara e as reminiscências da sua Índia voltavam e


tomavam conta de si:

Minha face desaparecera de mim; e eu só dizia: Mata-me, Mata-me, Mata-


me, olhava para cima mas não via nada; só enxergava um peso por cima de
mim a cravar-me na terra como se tivesse a enterrar-me; arredava a face
para todos os lados e só reparava bocas a estremecerem e ampliarem-se
por cima de risos cercados de terror. Tentava reprimir meus pulsos para
qualquer dos lados; só que o peso era tão firme que me pregara os pulso
ao chão, e ali pregada ao chão, paralisada como a terra. Olhava para o
alto e via um vácuo a aproximar-se de mim e a secar-me o rosto.

Ravi de forma habitual, mandara Anisha dar uma volta pela aldeia à
procura de uns mantimentos que precisava em casa. Anisha comprometida com a
tarefa foi toda sorridente e destemida, sempre deslumbrante, de trombas
ataviadas, reinando no admirar das pessoas que a reparavam. Ela conhecia
decore e salteado aonde buscar todos os mantimentos que precisava; foi ali
e acolá, num instante. Feitas as compras, e já um bocado cansada, decidiu
ir por um caminho que não lhe era habitual, mas, como já estava com alguma
pressa, sabia que, por esse caminho chegaria mais depressa a casa. Era uma
alameda um tanto sinistra, se aparecessem por lá dez pessoas por dia, era
algo bastante incomum. Então, lá foi ela pelo sinuoso caminho...
Percorridos alguns metros desde partida, nada se passava, era ela e a
natureza unida numa única finalidade, chegar a casa o mais rápido possível.
Até que, num cruzamento depara-se com um homem, ainda não consegue ver bem,
mas a sua intuição lhe diz parecer algum turista, com traços típicos dum
Inglês, daqueles restos da rainha Inglaterra que ainda andam à deriva pela
nefasta Índia. Avançou passo a passo, receosa do que possa encontrar
naquele misterioso homem. A distância encurtara-se muito rápido, estava
agora a poucos metros do homenzinho; tentara não olhar demasiado para não
despertar qualquer movimento por parte dele, e não é que, o homem desperta
do transe em que se deparava, e vai ao encontro de Anisha. Ela amedrontada
com semelhante figura, confirmara a sua suspeita sobre a origem do Homem,
era mesmo um Inglês com a cara afogada de bebida, como era habitual da sua
espécie. Anisha com um jogo de cintura tentara se demover do homem, mas ele
colocou à sua frente aquele corpo embebido pelo álcool, num movimento de
yoga descontrolado, que por efeito, assustara ainda mais Anisha. E
abruptamente com os membros ainda a baloiçar e a boca a pulverizar aromas
mal cheirosos perguntou, Menina estou perdido, pode-me dizer onde fica o
mercado da aldeia. Anisha, meio apavorada respondeu, Senhor é só seguir
esta estrada por ai adiante e vai lá ter, é muito fácil. Ele sorriu um
sorriso com gradações de amarelo e preto e disse, Obrigado. Anisha ao ver
aquele sorriso tão feio, pensou, Que homem tão estranho, até me arrepia a
alma, é melhor me despachar antes que anoiteça. À medida que Anisha ia
pegar pé à estrada, o homem, num abalo desabrido agarrou-lhe no pulso e
disse, A menina é muito linda. Anisha entrara em estado de choque, e gritou
ferozmente, Largue-me seu bêbado, tenho noivo, só ele é que me pode tocar.
O Homem ficara enraivecido, sob a égide do álcool, as suas beiças pareciam
baba misturada com restos de bebida que carbonizara eloquentemente, a
raiva, o desejo, e a bebida misturados, fabricaram um cocktail de demência
mental. O Homem por consequente efeito de tal mistura, em desvarios loucos,
descontrolou-se dizendo, Quem é que a menina pensa que é, alguma donzela,
lá porque lhe demos a independência, não que dizer que podem falar tudo o
que lhes apetece, fique sabendo, que este país ainda é nosso, dos ingleses,
com tudo o que lhe pertence, incluindo as mulheres, para nós, vocês são
umas escravas, só servem para fins sexuais, perdão, exagerei um bocado,
claro, também se ajeitam nos afazeres, mas, para nada mais servem,
observando bem a sua carinha de menina, aposto que ainda é castiça, mas não
há problema, a menina vai-se lembrar de mim para o resto da sua vida, vai
ter o prazer e a honra, de ser desflorada em nome da grande Inglaterra.
Anisha, sem efeito, tentava em movimentos anêmicos libertar-se, e ao mesmo
tempo gritava, Largue-me seu animal, você não é digno, sua besta suja.
Chorava, implorava pelos infinitos deuses da Índia. Implorava pelo fogo de
justiça de Agni, pelas chamas ardentes de Surya, pelos sopros ferozes de
Vayu, e também, em bafos finais, implorava pelo diluvio de Varuna, mas nada

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