Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
DE
HOMENS
POR
IGNIS MOKSHA
Soeiro Pereira Gomes.
“Para os filhos dos homens que nunca foram meninos”
Pai Américo.
“Se Salazar diz que a revolução tem de continuar, enquanto houver uma casa sem pão – que
dizer dela, enquanto houver uma Criança sem casa!
E há mundos delas...”
dela
Pepetela
“Bendita língua que aceita brincadeiras!”
Pedro Páramo
“Em el cielo me dieron que se habian equivocado conmigoo; que me habian dado
corazon de madre pero un seno de una qualquiera.
Este livro é dedicado a ti Cassiano Baldé! Porque foste o único a
compreender o seu flagelo.
1
Os que me esqueci estão em baixo em * e em invisível...
Anisha fora mais uma Mãe corajosa, mais uma Mãe de tantas Mães sonhadoras
que choraram pelas brisas deliciosas do ocidente. Em busca de uma vida de
sonhos para si e para seus filhos; Anisha aventurara-se com o peito em contra-
mão no cruzeiro prometedor de Vasco da Gama. Assim que as esperanças
vazaram as ancoras em calçada portuguesa, Anisha perdera-se por entre as
caravelas de latão e as alucinações suicidas de Pessoa. (É que isto de acreditar nos
poetas nunca se poetizou de muito saudável! Ainda hoje os versos cheiram tanto a
Touriga que se espetam por entre as odes! E é quase absolutamente certo que o
Fernandinho devido às oscilações do corpo tenha desencaminhado as latitudes do
oculto. Isto porque, ainda ouve-se o Tio Sebastião; Padroeiro da emigração, a
cantar de fininho: Portugal? “ Nem lá vou nem faço minga” E as glorias
passadas lacrimosamente resmungam: Aonde vais Portugal? De bengala, já
velhinho e a caminho do teu jazigo com traça… Anisha não
imaginara que os amaldiçoados Karmas lhe viessem atormentar. Não acreditara
que as sementes da sua penosa Índia viessem consigo encarceradas na sua carne
não importasse onde ela estivesse. Fora atropelada por eles como um pedaço de
pó que não assenta no solo e que o vento dissipa à deriva sem deixar saborear o
gosto da nova terra. Aquele ar doce e colorido que viera a sorrir do oriente;
secara ao primeiro toque, a realidade lusitana era feroz, e o acostumado
desemprego cozido à portuguesa era um predador muito acolhedor nesta parte do
mundo. A miséria e a penúria foram mortíferas; esbateram nela com tanta força,
até fazerem ferida no seu ventre. Não havia outra solução a não ser colocar os
seus pequenos rebentos num orfanato.
Fora por cusquices do meio que Anisha soubera da existência dum orfanato
com o nome de: “A Casa dos Farrapos Condenados da Terra” com o vento
chegaram-lhe alguns substratos de conversa para lhe dizer muito bem de tal
instituição. Que era daqueles lugares regeneradores da alma que conseguiam
transformar canapés de canalha em cardápios de homens ilustres, que a educação
era solida, severa, esculpida à fita métrica, tal e qual como a vida o exigia. A
Casa dos Farrapos Condenados da Terra, ficava longe da capital; mesmo bem
longe, ficava mesmo distante de tudo, especada naqueles fins de mundo a que
chamavam; A Aldeia dos “Sós e dos Silêncios”. Por lá, o barulho alucinado da
cidade era uma minoria perdida; pouco ou nada se ouvia; permanecia distante
escondido de fininho nas costas do vales e das montanhas, submerso pelo
cacarejar dos passarinhos que transbordavam o ar de melodias, e onde o verde e
o branco da pedra amassavam a paisagem junto com o gado e as campesinas de
bigode ao lado dos homens de corcunda agachada a cozinhar o dia com as
enxadas espetadas na terra e com a boca aberta a desengonçar um ar tão honesto
que lhes fritava o peito duma só golada. Com o silêncio e a solidão a tomarem
conta de si; Anisha recolhera tudo o que precisava sobre A Casa dos Farrapos
Condenados da Terra e partira com os seus pequenos; Assoka Nerhu e Pholan
Gandhi para esse tal norte que ficava longe, mesmo longe de tudo.
- Arebaguandi!
- Meu Filhinho; tu e teu irmão vão passar umas férias nesta casa! Vais
te divertir imenso! Criar imensos amigos!…
Olhava para seus filhos; e sentia uma irrupção voraz de vomitar toda
aquela voz, esterilizar suas palavras de todo o despudor, de toda
insinceridade; letra por letra, silaba por silaba, palavra por palavra, até
secarem inteiramente toda réstia de azia que crescia dentro si. Paralisava
no tempo; e o tempo respondia-lhe com sinceridade, era o pesar a vir à
superfície e riscar-lha pele e perfurar-lhe o corpo, fecundando-a de
mágoa, pois, a realidade era dura; não havia outro meio, outro caminho,
outra saída, agarrava por dentro a única convicção; de que os Deuses
lhe concederam livre vontade de salvaguardar seus filhos de tudo; da dor
e da miséria, custasse o que custasse. Pholan Gandhi enfraqueceu os
ombros e esboçou um sorriso convincente para a mãe. E a Mãe
impaciente recebeu seu sorriso de braços abertos totalmente aliviada.
Pholan Gandhi e Assoka Nerhu escutaram a mãe com um sorriso na cara, e paralisaram
Anisha aproximou-se dum rapazito que entretinha os pés com uma bolinha de cartão e
perguntou:
miúdos da sua terra; sujos, rotos, tal como estes, a sorrir e a falecer por uma esmola,
por aparo, por um pedacinho de alimento, beliscavam-lhe o pêlo e ela ressentia ali a dor
dos que passaram e a dor dos estão em frente, especados e também atormentados com o
presente. Das poucas moedas que tinha consigo Anisha pegou na maior e colocou na
mão do pequeno. O pequenino contente com o ganho; esticou o corpo franzino e com os
Respondeu:
ver caraceteristicas da culinaria dos países e ver perfil do caracter dos ditadores
Carlos Salazar com um gosto pictórico mais refinado mandara desmanchar o original e
esboçara com as suas próprias mãos o dito quadro. Na tela que esboçara, em vez de
como se fossem um casal apaixonado; semelhantes como Deus assim o desejara. Depois
à volta dispôs Saddam Hussein, Al Kaddafi, Omar al Bashir, Pol Pot, Benedito Mussilini,
Mugabe, Mobutu, Hitler, Stalin, Mao-Tsé-tung. Pinochet e Ceuascecu. As vantagens dos
contos populares é que existem sempre mais palavras para amplificar o relato. E por
outro lado também havia quem fala-se com ele com um homem a transbordar de bem
Era tudo uma lenda... Nada factual. Por outro lado, também havia
quem falasse dele como ser cristalizado de Amor; que sugava
bondade das Inspirações de Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Luther
King, Óscar Romero, Mandela, Zumbi, Desmund Tutu, Aung San Suu
Kyi, Indira Gandhi e a majestosa Eva Perón; aquém roubava com
alguma assiduidade o seu clássico termo: “Los
Los Descamisados” para
rotular os Farrapos da Rua. Pe. Carlos Salazar sentia a pobreza e
a autoridade como ninguém; eram ingredientes indissociáveis. E
para fermentar bem esse canapé pedagógico havia uma historia muito
engraçada que contavam como cartão de visita da sua personalidade.
Segundo o dito relato; nos tempos em que a televisão aparecera
como artefato de masturbação alienígena, criando orgasmos
coletivos na população, nessa época de escassez e exclusividade
onde quem detinha o aparelho magico advinha do facto de possuir
estatuo ou robustez de carteira, mais concretamente que não estava
disponível como bufê para qualquer Zé da esquina. Mesmo nessa
época, houvera alguém que dispôs da sua alma solidária oferecendo
uma televisão para a Casa dos Farrapos Condenados da Terra. No
entanto; Pe. Carlos Salazar defensor canibal da pobreza, da vida
simples e humilde, recusou com um sorriso virtuoso de retrato
impressionista. Facto que chocara tremendamente o altruísmo de
quem oferecera o dito aparelho. Impávidos, perguntaram a razão da
nega; ele, sábio, de frases concisas, de semiótica simples,
respondeu: - “A Casa dos Farrapos Condenados da Terra não anda,
nem pode andar à frente do Povo!”
Dissolvendo rumores e mitos, e, focando mais concretamente a
realidade; Pe. Carlos Salazar após a morte de Jesus Santo Aguiar
fundador das Casas dos Farrapos Condenados da Terra tornara-se o
seu discípulo mais próximo e o grande baluarte das Casas dos
Farrapos Condenados da Terra. Sendo o seu eterno continuador de
espirito e também de ação, Pe. Carlos Salazar arregaçara as mangas
da batina, e sem medo de se ensujar na mendigagem pobretana,
colocara as Casas dos Farrapos Condenados da Terra a serem o
antibiótico das ruelas PALOPIANAS. Não só vincara na sementeira;
semeara, plantara, e cultivara um par de Casas por Portugal
inteiro, mas também transplantara a muda, para solos africanos.
- Humm… sim menina; nesse caso é melhor irmos para um local mais
sossegado, assim ninguém nos perturba e a menina pode falar mais à
vontade, com mais calma. - E acrescentou:
- Ai Sr. Padre; nem sei o que lhe dizer sabe! Sabe; a vida é muito
complicada na minha pobre Índia. Há muita pobreza! Muita miséria!
Vim para Portugal para encontrar uma nova vida para mim e para os
meus filhinhos.
Ravi de forma habitual, mandara Anisha dar uma volta pela aldeia à
procura de uns mantimentos que precisava em casa. Anisha comprometida com a
tarefa foi toda sorridente e destemida, sempre deslumbrante, de trombas
ataviadas, reinando no admirar das pessoas que a reparavam. Ela conhecia
decore e salteado aonde buscar todos os mantimentos que precisava; foi ali
e acolá, num instante. Feitas as compras, e já um bocado cansada, decidiu
ir por um caminho que não lhe era habitual, mas, como já estava com alguma
pressa, sabia que, por esse caminho chegaria mais depressa a casa. Era uma
alameda um tanto sinistra, se aparecessem por lá dez pessoas por dia, era
algo bastante incomum. Então, lá foi ela pelo sinuoso caminho...
Percorridos alguns metros desde partida, nada se passava, era ela e a
natureza unida numa única finalidade, chegar a casa o mais rápido possível.
Até que, num cruzamento depara-se com um homem, ainda não consegue ver bem,
mas a sua intuição lhe diz parecer algum turista, com traços típicos dum
Inglês, daqueles restos da rainha Inglaterra que ainda andam à deriva pela
nefasta Índia. Avançou passo a passo, receosa do que possa encontrar
naquele misterioso homem. A distância encurtara-se muito rápido, estava
agora a poucos metros do homenzinho; tentara não olhar demasiado para não
despertar qualquer movimento por parte dele, e não é que, o homem desperta
do transe em que se deparava, e vai ao encontro de Anisha. Ela amedrontada
com semelhante figura, confirmara a sua suspeita sobre a origem do Homem,
era mesmo um Inglês com a cara afogada de bebida, como era habitual da sua
espécie. Anisha com um jogo de cintura tentara se demover do homem, mas ele
colocou à sua frente aquele corpo embebido pelo álcool, num movimento de
yoga descontrolado, que por efeito, assustara ainda mais Anisha. E
abruptamente com os membros ainda a baloiçar e a boca a pulverizar aromas
mal cheirosos perguntou, Menina estou perdido, pode-me dizer onde fica o
mercado da aldeia. Anisha, meio apavorada respondeu, Senhor é só seguir
esta estrada por ai adiante e vai lá ter, é muito fácil. Ele sorriu um
sorriso com gradações de amarelo e preto e disse, Obrigado. Anisha ao ver
aquele sorriso tão feio, pensou, Que homem tão estranho, até me arrepia a
alma, é melhor me despachar antes que anoiteça. À medida que Anisha ia
pegar pé à estrada, o homem, num abalo desabrido agarrou-lhe no pulso e
disse, A menina é muito linda. Anisha entrara em estado de choque, e gritou
ferozmente, Largue-me seu bêbado, tenho noivo, só ele é que me pode tocar.
O Homem ficara enraivecido, sob a égide do álcool, as suas beiças pareciam
baba misturada com restos de bebida que carbonizara eloquentemente, a
raiva, o desejo, e a bebida misturados, fabricaram um cocktail de demência
mental. O Homem por consequente efeito de tal mistura, em desvarios loucos,
descontrolou-se dizendo, Quem é que a menina pensa que é, alguma donzela,
lá porque lhe demos a independência, não que dizer que podem falar tudo o
que lhes apetece, fique sabendo, que este país ainda é nosso, dos ingleses,
com tudo o que lhe pertence, incluindo as mulheres, para nós, vocês são
umas escravas, só servem para fins sexuais, perdão, exagerei um bocado,
claro, também se ajeitam nos afazeres, mas, para nada mais servem,
observando bem a sua carinha de menina, aposto que ainda é castiça, mas não
há problema, a menina vai-se lembrar de mim para o resto da sua vida, vai
ter o prazer e a honra, de ser desflorada em nome da grande Inglaterra.
Anisha, sem efeito, tentava em movimentos anêmicos libertar-se, e ao mesmo
tempo gritava, Largue-me seu animal, você não é digno, sua besta suja.
Chorava, implorava pelos infinitos deuses da Índia. Implorava pelo fogo de
justiça de Agni, pelas chamas ardentes de Surya, pelos sopros ferozes de
Vayu, e também, em bafos finais, implorava pelo diluvio de Varuna, mas nada