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ARTICULAÇÕES SIMBÓLICAS NO JORNALISMO1

acontecimentos e seus elementos constituintes


SYMBOLIC ARTICULATIONS IN JOURNALISM
evens and their constituent elements
Kelly De Conti Rodrigues2

Resumo: O atual ambiente social conta com uma grande abrangência de


dados que circulam e convergem nas mais diversas plataformas. Neste
trabalho, estudaremos as construções do acontecimento e suas articulações
de sentido dentro desse cenário. A partir desse pressuposto, analisaremos
elementos discursivos que influenciam a construção simbólica do
acontecimento, com foco em materiais produzidos por sites jornalísticos
brasileiros a respeito dos candidatos que pleitearam cargos nas eleições
nacionais de 2018. Com esse objetivo, a Análise do Discurso será a
metodologia que guiará o estudo. Focaremos nas produções que se baseiam
no Jornalismo de Dados e nos elementos que influenciam a construção
simbólica do fato.

Palavras-Chave: Análise do Discurso 1. Eleições 2. Jornalismo de Dados 3.

1. Introdução
Entre os estudos dos veículos de comunicação, diversas abordagens tratam do papel
destes na construção do acontecimento. As divergências entre estas, em grande parte,
permeiam o potencial de influência desses meios na sociedade. Ou seja, entre essas diferentes
abordagens, as propostas e análises variam, entre outros aspectos, no que se refere à forma
como tratam o quanto e se eles são capazes de agir sobre o conhecimento e as percepções dos
indivíduos em relação ao seu espaço de vivência. E, consequentemente, se também são
capazes de influenciar os modos de construção social da realidade.
Consideramos esse debate relevante nas pesquisas em Comunicação, uma vez que são
determinantes no modo de observar o objeto investigado. Por esse motivo, vale ressaltar que
trabalhamos com a percepção de que é necessário haver um equilíbrio nos modos de
considerar o papel dos veículos midiáticos. Trata-se de trazer a perspectiva de seu papel de
1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho 2 Comunicação e Discurso do 3º. CONEC: Congresso Nacional
de Estudos Comunicacionais da PUC Minas em Poços de Caldas, 30 e 31 de outubro de 2018.
2
Discente do programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), doutoranda, decontik@yahoo.com.br.

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construtor da realidade, mas sem desconsiderar ou negligenciar a importância dos outros
atores e instituições. Isso inclui os modos como estes enxergam os meios de comunicação e
suas produções e, em contrapartida, também influenciam estas. Essa maneira de analisar, com
isso, considera que os próprios produtores estão inseridos em um contexto social a partir do
qual são atores – não necessariamente únicos ou principais modeladores da construção da
realidade, mas de grande importância nesse processo – e também adaptam seus discursos e
modos de organizar os conteúdos – conscientemente ou não – às expectativas desse local e
temporalidade. Sendo que, da mesma forma, estes são construídos e constroem os meios. Ou
seja, atuam reciprocamente um sobre o outro. Não se trata de uma tentativa de qualificar
graus de relevância na composição da sociedade, mas de entender que o conjunto desta é
construído nessa interação.
Dentro desse cenário de troca de influências, o estudo focará a visão dos veículos de
comunicação e a construção simbólica mobilizada por produções jornalísticas. Analisaremos
os aspectos de construção discursiva que influenciam na forma de narrar os acontecimentos
sociais e seus efeitos de sentido.
Consideramos que, em um ambiente social em que os dados circulam e convergem
nas mais diversas plataformas, fica ainda mais evidente o quanto eles estão presentes na
construção social da realidade. Eles permitem traçar perfis, projetar acontecimentos,
disseminar mensagens estratégicas, entre outros aspectos. O mesmo vale para a utilização
dessas bases de dados dentro do jornalismo, como veremos nas análises.

2. Jornalismo e construção simbólica


Charaudeau (2010, p. 67) questiona como os indivíduos poderiam “trocar palavras,
influenciar-se, agredir-se, seduzir-se, se não existisse um quadro de referência?” Sem este
instituto norteador, não seria possível atribuir valor aos atos de linguagem e,
consequentemente, construir sentido e atingir o receptor.
A partir dessa ideia, remete-se que, para ser compreendido por seu interlocutor, o
produtor do discurso deve levar em conta “os dados da situação de comunicação”, os quais
tomam como base nas convenções e normas do comportamento linguageiro da sociedade, que
tornam possível a comunicação humana ao gerarem valores e simbologias. “A situação de

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comunicação é como um palco, com suas restrições de espaço, de tempo, de relações, de
palavras, no qual se encenam as trocas sociais e aquilo que constitui o seu valor simbólico”
(CHARAUDEAU, 2010, p.67).
Como ato discursivo, o jornalismo também se insere nesse jogo de regulação das
práticas sociais. Ele é produto de um lugar social e, bem como ocorre com qualquer outro
grupo ou prática humana, também sofre influência dos conflitos que permeiam as trocas do
local de sua origem. Os meios de comunicação como um todo são questionados a partir de
sua função social. No caso do jornalismo, interroga-se os efeitos de sentido na colocação de
seus discursos, de sua intertextualidade e de sua face de legitimidade diante de seu público.
Nessa linha de pensamento, trabalhamos com o aspecto do acontecimento como visão
social do mundo. Para Charaudeau, o acontecimento “[...] nunca é transmitido à instância de
recepção em seu estado bruto; para sua significação, depende do olhar que se estende sobre
ele, olhar de um sujeito que o integra num sistema de pensamento e, assim sendo, o torna
inteligível”. Ele ainda acrescenta que

O universo de discurso acha-se, pois, a meio caminho entre um “fora da linguagem”


e o processo linguageiro. Ele abarca os acontecimentos do mundo, mas estes só
ganham sentido por meio de uma estruturação que lhes é conferida pelo ato de
linguagem através de uma tematização. As noções de propósito, de universo de
discurso e de acontecimento estão, pois, intrinsecamente ligadas (CHARADEAU,
2010, p. 95).

Esse ponto é reforçado pelo contrato midiático, conforme descrito pelo autor (2010, p.
114), que determina as condições de encenação da informação. Nesse processo, o dispositivo
“[...] não comanda apenas a ordem dos enunciados, mas a própria postura do leitor”. O autor
explica que este se trata do esquema da construção de sentido aplicado à comunicação
midiática, sendo esta realizada segundo o processo de transformação e transação. Ele
descreve o funcionamento do seguinte modo:

O “mundo a descrever” é o lugar onde se encontra o “acontecimento bruto” e o


processo de transformação consiste, para a instância midiática, em fazer passar o
acontecimento de um estado bruto (mas já interpretado), ao estado de mundo
midiático construído, isto é, de “notícia”; isso ocorre sob a dependência do processo
de transação, que consiste, para a instância midiática, em construir a notícia em
função de como ela imagina a instância receptora, a qual, por sua vez, reinterpreta a
notícia à sua maneira.

Essas articulações entre a construção simbólica e do acontecimento serão centrais nesta


pesquisa. A proposta não é focar no JD exclusivamente no seu aspecto tecnológico de busca

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de bases e manipulação de softwares para a elaboração de conteúdo, mas como o uso destes e
a dimensão social e simbólica de sua construção discursiva são determinantes para a
representação do acontecimento.
Em relação ao JD, aliás, vale ressaltar que o final da década de 1960 foi determinante
na utilização de bases de dados numéricas na produção noticiosa. Nesse momento, Philip
Meyer, então repórter do Detroit Free Press, ajudou na consolidação do chamado Jornalismo
de Precisão, a partir do qual derivaram as técnicas do Jornalismo Guiado por Dados,
conforme ficou mais conhecido atualmente. Para ele, esse fazer jornalístico seria uma “volta
da força da objetividade” às redações, uma vez que, naquele momento, o New Journalism
possuía grande espaço nos veículos de comunicação. O repórter, aliás, defendia a
cientificidade desse processo ao afirmar que “o novo jornalismo de precisão é um jornalismo
científico. (...) Isso significa tratar o jornalismo como se ele fosse uma ciência, adotando
método científico, objetividade científica e ideais científicos em todo o processo de
comunicação de massa” (MEYER, 2002, p.5)3.
O autor, portanto, trabalha com a visão mais alinhada à objetividade do JD, ao
contrário do que se pretende adotar nesta pesquisa. Contudo, trata-se de uma bibliografia
importante por se tratar de uma das primeiras tentativas de conceituação e de ter influenciado
consideravelmente os pensamentos e as práticas a respeito dessa técnica. Outros trabalhos
atualizados do autor também foram considerados neste trabalho, uma vez que ele traz
relevantes contribuições sobre essa perspectiva histórica e também as técnicas utilizadas para
elaboração de conteúdos nessa linha. Ele destaca, por exemplo, os desafios dos profissionais
dessa área quando iniciou os trabalhos com o Jornalismo de Precisão e também daqueles que
trabalham atualmente.
Quando a informação era escassa, a maior parte de nossos esforços estavam
voltados à caçar e reunir dados. Agora que a informação é abundante, processá-la
tornou-se mais importante. O processamento acontece em dois níveis: 1) análise
para entender e estruturar um fluxo infinito de dados e 2) apresentação para fazer
com que os dados mais importantes e relevantes cheguem ao consumidor. Como
acontece na ciência, o jornalismo de dados revela seus métodos e apresenta seus
resultados de uma forma que possam ser replicados (MEYER, 2014, s.p.)

Essas considerações são importantes para compreender o funcionamento da produção


desses conteúdos e como isso influencia nas escolhas da maneira de narrar o acontecimento.
É esse ponto que Bradshaw (2014) destaca como o diferencial do Jornalismo de Dados (JD)
3
Tradução livre.

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em comparação ao restante do jornalismo. Para ele, o JD reúne as “[...] novas possibilidades
que se abrem quando se combina o tradicional ‘faro jornalístico’ e a habilidade de contar uma
história envolvente com a escala e o alcance absolutos da informação digital agora
disponível”. Ou seja, é a capacidade de buscar e entender o fluxo de dados e também de
como apresentá-los ao consumidor, como observado na citação de Meyer (2014).
Nessa linha de abordagem contemporânea do Jornalismo de Dados, também
consideramos, entre outros, os trabalhos de Suzana Barbosa (2007), Sandra Crucianelli
(2010), Jonathan Gray (2012) e Paul Bradshaw (2014). Esses autores podem contribuir por
meio de reflexões teóricas e práticas do Jornalismo de Dados. Eles trazem percepções sobre
as ferramentas e técnicas utilizadas pelos jornalistas para busca e filtragem desses dados para
a produção de notícias, a exemplo do que investiga Crucianelli (2010). Assim como
colaboram apontamentos a respeito das transformações do jornalismo digital em função da
utilização das bases de dados, das funcionalidades destas, da organização do conteúdo e de
como os usuários atuam como fontes informativas, como no trabalho de Barbosa (2007).
Também contribuem, entre outros aspectos, para as reflexões a respeito dos processos de
elaboração dos conteúdos do jornalismo de dados, como explorado por Gray (2012) e
Bradshaw (2014).
Neste trabalho, portanto, analisaremos as articulações simbólicas na narrativa do
jornalismo de dados. Para isso, traremos algumas classificações que servirão de guia para as
observações e estudo dos sentidos e seus efeitos na percepção sobre o acontecimento.

3. Tematização, personagens e bases de medida: percepções sobre o


acontecimento
A narrativa em torno de números e bases de dados, como qualquer elemento
discursivo, passa pela construção de seus elementos de composição e também atua como um
recurso argumentativo. Vale destacar também que todo discurso é produzido de forma
intersubjetiva, o que torna essencial compreendê-lo como histórico e subordinado aos enredos
sociais e culturais. Partindo dessas inferências, analisamos a matéria “Mesmo com vitória,

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Doria tem pior desempenho do PSDB em SP desde 1990”4, publicada pelo portal UOL em 28
de outubro de 2018, pouco após a confirmação dos resultados do pleito para governador do
estado de São Paulo. O candidato eleito pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira)
concorreu com Marcio França, do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Os dois chegaram ao
segundo turno após Doria obter 31,77% dos votos e França 21,53% na primeira etapa das
eleições, sendo que Paulo Skaf, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), alcançou uma
margem próxima do segundo colocado, com 21,09%.
Como proposta de análise, consideramos algumas categorias para compreender a
produção de sentido e a construção simbólica do conteúdo em questão, a saber: a tematização
e projeções, a participação dos personagens e as bases de medidas utilizadas. No primeiro
aspecto, observamos o direcionamento da temática das matérias, verificando se trazem
previsões de desdobramentos com base nos dados e que mecanismos discursivos utilizam
para isso. No que se refere aos personagens, identificaremos quem são eles e como
participam das matérias, observando que papel que lhes é atribuído no acontecimento
relatado (por exemplo, como o de autoridade para reforçar a veracidade ou de participante do
fato e sua interferência nele). Já as bases de medidas compreendem a análise de como é
representada a importância dos dados apresentados, o que faz com que eles sejam os
destaques escolhidos e de que modo isso é relatado.
A notícia inicia com o destaque para o desempenho do candidato João Doria em
comparação com seus antecessores ao reafirmar a informação do título de que teve o “pior
desempenho de seu partido na disputa pelo governo do estado desde 1990”. Também
salientam a curta margem de votos que lhe garantiu a vitória ao acrescentar que “o tucano
obteve 51,75% dos votos válidos, enquanto Márcio França (PSD) teve 48,25% -- uma
diferença de apenas 741.507 eleitores”.
Na sequência, reforçam a comparação de Doria com seus antecessores ao trazer
também os resultados do primeiro turno. A notícia demonstra o resultado inferior do atual
governador ao observar que “ao não decidir o resultado no primeiro turno, Doria já havia
quebrado uma tradição que vinha desde 2006 de vitórias tucanas na primeira fase da

4
Disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/28/mesmo-com-vitoria-joao-
doria-tem-pior-desempenho-do-psdb-em-sao-paulo.htm

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eleição. Em 2014, Geraldo Alckmin foi reeleito com 57,31% -- ou mais de 12 milhões de
votos. No pleito anterior, havia conseguido 50,63% dos votos, mas seu desempenho pode ser
considerado melhor do que o de Doria neste ano, uma vez que foi eleito já no primeiro turno.
Com José Serra, em 2006, foram 57,9% dos votos – quase o dobro de Doria no primeiro
turno, em 7 de outubro deste ano, quando alcançou apenas 31,77% dos votos”. Ainda nesse
ponto, outro dado levantado se refere ao fato de que, no primeiro turno, Doria obteve um
número total de votos “bem distante da média de seus correligionários, inclusive com menos
votos do que o total de eleitores que não escolheu candidato (a soma de brancos, nulos e
ausentes)”. A notícia disponibiliza um link para uma página do próprio UOL5 que traz um
levantamento que demonstra que Doria teve 19,47% destes, enquanto o total daqueles que
não escolheram candidato foi de 38,71%.
Após esses detalhamentos a respeito do número de votos, a matéria destaca a
manutenção da hegemonia do partido no estado de São Paulo, uma vez que o PSBD elege o
governador desde 1994. A única derrota desde sua fundação, em 1988, ocorreu em 1990,
quando Mário Covas ficou em terceiro lugar.
Na segunda parte da matéria, a temática gira em torno das eleições nacionais. Com o
intertítulo “votação de nanico em disputa presidencial”, afirma que “Nas eleições
presidenciais, o PSDB também amargou uma situação inédita nos últimos 24 anos: desde
1994, todos os tucanos que concorreram foram pelo menos ao segundo turno. Em 2018, o
candidato da sigla, Geraldo Alckmin, alcançou apenas 4,76% dos votos e ficou de fora,
chegando apenas em quarto lugar e somando pouco mais de 5 milhões de votos”.
A notícia interliga as duas temáticas anteriores ao trazer, na terceira parte, o
questionamento “Bolsodoria ajuda ou atrapalha?”. Nesse momento, abordam que o fato do
candidato ao Executivo nacional pelo PSDB, Geraldo Alckmin, estar fora do segundo turno
levou Doria a ligar sua imagem ao concorrente Jair Bolsonaro, do PSL (Partido Social
Liberal), que sempre liderou a disputa. Eles destacam que “o discurso, parecido com o do
presidente eleito, falava em endurecer a atuação da polícia no combate ao crime, entre
outras propostas”. Também lembram que Bolsonaro gravou um vídeo desejando boa-sorte a

5
Disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/raio-x/governadores-1-turno/estados-em-que-
a-quantidade-de-ausentes-brancos-e-nulos-supera-a-de-eleitores-do-candidato-mais-votado/?uf=sp

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Doria, mas sem declarar oficialmente apoio. Ainda trazem o fato de que a campanha passou a
utilizar o vídeo nas suas divulgações, além de criar e propagar a expressão “Bolsodoria”
como estratégia para fortalecer essa ligação. Finalizam com a consideração de que esse
método não funcionou na capital do estado, já que conquistou número de votos inferior ao de
Marcio França (41,9% a 58,1%).
Como observado, os personagens principais trazidos são o governador eleito por São
Paulo, João Doria, e seu partido, o PSDB. A “atuação” deles na narrativa é a de terem
conseguido uma vitória que também significou uma derrota: a perda de espaço no cenário
paulista, conforme apontado pelos números subsequentes. Estes demonstraram, de acordo
com a notícia, que a atuação de ambos nas eleições de 2018 representou uma perda de
prestígio no estado em que os “tucanos” são historicamente hegemônicos.
A respeito da categoria de tematização, fica evidente que a proposta não foi noticiar a
vitória no pleito, mas um fato que chamou mais a atenção devido aos dados, que foi essa
perda de espaço do PSDB no cenário paulista. As medidas usadas pela matéria para tal
afirmação são os apontamentos (1) de que foi o pior desempenho do partido desde 1990, (2)
da pouca margem de vantagem de sua vitória sobre França e (3) também de quebrar a
“tradição” de conquistar o cargo ainda no primeiro turno. Nesse ponto, os sentidos da
tematização trazidos projetam para imaginar o que causou essa diminuição da hegemonia e
também se essa deve ser a tendência do partido. Outro ponto relevante é o fato de que a
notícia poderia se limitar a destacar a vitória de Doria, mas a utilização e interpretação das
bases de dados são capazes de agregar uma nova significação ao acontecimento ao trazer
outras visões, conforme destacado.
Já a segunda e a terceira parte destacam a derrota do partido em cenário nacional, o
que levou Doria a adotar a estratégia de ligar sua imagem ao concorrente do PSL, que liderou
toda a disputa nacional. A construção discursiva demonstra a incerteza se tal recurso foi algo
eficiente ou não, já que ele foi eleito, porém não o ajudou a obter a maioria de votos na
capital. A importância de se considerar os contextos em que as produções jornalísticas são
publicadas faz-se presente nesse ponto, por exemplo, devido ao fato de que o conteúdo
destaca o fato de que Doria foi prefeito de São Paulo, mas não recorda as divergências que a
indicação de seu nome para o governo causou na capital. Isso porque o candidato havia feito

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a promessa, durante as campanhas para a prefeitura, que não deixaria o cargo para se
concorrer nas eleições estaduais.
A outra categoria que consideramos nas análises é a das bases de medidas utilizadas.
Estas são importantes por terem grande impacto nos sentidos do discurso. Isso porque são
elas que determinam o que faz um dado ser relevante e dimensionam o acontecimento dentro
do cenário descrito. Na notícia em questão, é possível notar que as medidas utilizadas são,
essencialmente, os dados históricos, sobretudo no estado de São Paulo. Isso fica evidente
quando comparam o desempenho de Doria com os de seus correligionários, mostrando que o
atual governador foi pior (já que a diferença em relação a seu concorrente foi menor se
comparado a disputas anteriores), e também que não conseguiu vencer as eleições no
primeiro turno, algo que acontecia com seu partido desde 2006. No segundo tópico, também
apontam que, nos últimos 24 anos, os tucanos que concorreram à presidência foram ao menos
para o segundo turno, algo que não ocorreu nestas eleições.
O que é importante observar nesse aspecto se trata do fato de que os sentidos
produzidos por esses dados são dimensionados a partir da medida de comparação. No caso
analisado, a percepção que a matéria objetiva transmitir – ou seja, que a vitória não tem
apenas aspectos positivos, pois significa também uma diminuição de hegemonia do partido –
é possível ser notada a partir da comparação dos dados atuais com os desempenhos
anteriores.
Esse sentido não seria transmitido da mesma maneira se houvessem apenas números
da campanha de Doria, sem que se medisse o que eles representam em relação a outros
momentos. A perda de prestígio do candidato é reforçada quando também destacam que seus
números na capital paulista foram piores se comparados com os de sua eleição como prefeito.
A matéria afirma que “ele alcançou apenas 41,9% dos votos do eleitor paulistano (França
ficou com 58,1%) no segundo turno. O número é menor do que há dois anos, na eleição para
prefeito de São Paulo, quando o candidato tucano venceu no primeiro turno, com 53,29%.
Fernando Haddad, que disputava a reeleição e ficou em segundo, teve apenas 16,7%”. O
sentido de perda de hegemonia está presente nesse apontamento ao demonstrar que Doria
perdeu eleitores no local. É evidente que outros elementos também influenciam nesse
número, como a disputa ser por um cargo diferente, o seu adversário ser outro e também o já

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mencionado fato de que o candidato havia prometido não deixar a prefeitura para concorrer
nessas eleições.

4. Considerações
Os veículos de comunicação e suas produções estão inseridos na perspectiva de que
todo discurso é histórico e subordinado aos enredos sociais e culturais. Essa consideração é
relevante de se observar ao estudar os efeitos de sentido de seus conteúdos.
No que se refere ao Jornalismo de Dados, é necessário também acrescentar a
importância ao fato de que a narrativa com base em números e bases de dados, como
qualquer elemento discursivo, passa pela sua composição para a produção de sentidos,
conforme destacado anteriormente. Com isso em vista, partimos do pressuposto que, com
base nos dados, ele reforça a veracidade do acontecimento, confere valores a ele, faz
previsões de desdobramentos, etc. Dessa forma, ele reconstrói o acontecimento. Ele não
aprofunda um fato já existente – função que muitas vezes lhe é atribuída –, mas cria novos a
partir das análises dos dados e formas de narrar o acontecimento.
Neste trabalho, portanto, buscamos estudar essas construções e suas articulações de
sentido. A partir desse pressuposto, analisamos alguns dos elementos discursivos que
influenciam a construção simbólica do acontecimento. Isso pôde ser notado na análise da
matéria “Mesmo com vitória, Doria tem pior desempenho do PSDB em SP desde 1990”,
publicada pelo portal UOL.
Ela serviu como base para observar como os aspectos simbólicos da narrativa são
determinantes para a produção de sentidos. Entre os elementos analisados, a tematização, o
papel dos personagens e a base de medida dos dados evidenciaram como essas escolhas
determinam a visão sobre o acontecimento. Ou seja, as percepções e sentidos sobre o fato são
bastante demarcados pela sua composição. O evento (a vitória de Doria), com isso, ganhou
novos contornos semânticos a partir da interpretação dos dados e elaboração de uma narrativa
que tematizou o aspecto de uma suposta perda de hegemonia de seu partido.

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Referências

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