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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 07

Negativos ou valores negados:


desvendando a história dos números negativos

Cristiane do Socorro Ferreira dos Santos


UEPA/PA
csfsantos@bol.com.br

Resumo
Neste trabalho, trataremos da análise de documentos, livros e artigos publicados por célebres matemáticos
e expoentes da comunidade científica, que se dedicaram ao estudo dos números negativos. Nele, daremos
ênfase às principais dificuldades encontradas por estes pesquisadores. Dificuldades estas que ainda hoje
atormentam estudantes de nível fundamental e médio e até mesmo superior. Buscaremos ainda, em ordem
cronológica, enfatizar os motivos que levaram os números negativos a serem ‘negados’ por vários
matemáticos da época e evidenciaremos ainda algumas demonstrações relativas aos conceitos que foram
abordados por matemáticos na tentativa de legitimar a presença dos negativos na matemática.

Palavras-chave: números negativos, difícil aceitação, representação geométrica.

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NEGATIVOS OU VALORES NEGADOS:


DESVENDANDO A HISTÓRIA DOS NÚMEROS NEGATIVOS

Cristiane do Socorro Ferreira dos Santos


UEPA
csfsantos@bol.com.br

Introdução
Os números negativos, os quais atualmente, manipulamos com extremo domínio, deve-se a
brilhantes matemáticos que durante muitos anos (Chang Tsang, 200 a.C. a Hankel, 1867 d.C.)
contribuíram exaustivamente para a construção epistemológica deste assunto. Neste trabalho, buscamos
através da análise de documentos, explicitar a intrigante e difícil historia dos números negativos, dando
ênfase às dificuldades encontradas ao longo dos tempos.
Existem diversos trabalhos de cunho didáticos destinados à análise de conceitos numéricos. Jean
Piaget (1949), por exemplo, baseando-se em observações do comportamento infantil, fez um extenso
comentário às dificuldades inerentes aos números negativos. Em seu estudo, Piaget cita textos de
D'Alembert, onde afirma que a única dificuldade estaria residida no caráter fixo (estático) do número e
que este obstáculo desapareceria se associarmos um número à ação (dinâmica) e não a um estado.
Neste artigo opta-se em ressaltar as dificuldades encontradas para a aceitação dos números
negativos que serão amplamente discutidos de forma cronológica por matemáticos que se dedicaram ao
estudo dos números negativos através dos séculos.

Conceito de número
A origem deste conceito ocorreu simultaneamente com o surgimento da Matemática. As
atividades práticas do homem, por um lado, e as exigências internas da Matemática por outro
determinaram o desenvolvimento do conceito de número. A necessidade de contar objetos levou ao
aparecimento do conceito de número Natural. A exemplo, o pastor de ovelhas, que para saber quantas
ovelhas tinha associava cada ovelha a uma pedrinha e a guardava num saquinho, quando ia recolher o
rebanho retirava uma pedrinha do saco para cada ovelha que encontrava e no final da contagem se
sobrasse alguma pedrinha era porque alguma ovelha havia se extraviado. Assim, o homem aprendeu a
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contar fazendo comparações. Mas, para comparar, o homem usava principalmente os dedos das mãos
surgindo assim à idéia comum aos dois conjuntos que ele comparava, o número. Além, de pedras, o
homem também registrava números fazendo nós em corda. Existem também, registros de mais de 30 mil
anos atrás, na Tchecoslováquia de um osso de lobo que fora encontrado com 55 incisões profundas,
estavam dispostas em duas séries, uma com 25 incisões profundas e outra com 30, e em cada série, os
riscos estavam dispostos em grupos de 5.
Estudos na área de educação infantil mostram que se dermos a uma criança de dois anos de idade,
que ainda não aprendeu a contar, três brinquedos, deixá-la brincar e, depois de algum tempo, retirar dois
deles sem que ela perceba, a criança sentirá falta dos brinquedos, mesmo sem tê-los contado. Isso porque
a criança tem uma noção de número, ou melhor, possui senso numérico, embora não saiba representa
números por meio de palavras ou símbolos, ela reconhece, na situação em questão, que alguma coisa
mudou em sua coleção de brinquedos, logicamente o senso numérico não deve ser confundido com
contagem, haja vista, que o senso numérico pode ser observado, até mesmo em algumas espécies
irracionais, ao passo que a contagem é um atributo exclusivamente humano.

Invenção dos números negativos


O desenvolvimento subseqüente do conceito de número prosseguiu principalmente devido ao
próprio desenvolvimento da Matemática. A origem dos números negativos é incerta. Eles já aparecem na
obra chinesa ‘Nove capítulos sobre a arte matemática’, cerca de 200 a.C., devido provavelmente a Chang
Tsang (Hollingdale, 1989). Os chineses estavam acostumados a calcular com duas coleções de barras,
vermelha para os números positivos e pretos para os números negativos. No entanto, não se tem clareza
do quanto tais idéias foram recebidas pelos próprios chineses. Também, não se têm registros de como este
conhecimento foi perpassando a outros locais. Alias, a história da ciência japonesa é um capitulo que só
recentemente começou a ser devidamente investigado (Needham, 1981).
Entre os gregos, as regras dos sinais aparecem implicitamente na obra de Diofanto de Alexandria
(Séc. III), em sua obra encontramos, explicitamente o problema dos negativos, nas equações do tipo ax +
b = 0 onde a e b inteiros e maiores que zero, para o qual as soluções eram valores negativos. Contudo
considerava esses números como falsas raízes, classificando assim o problema como absurdo. Ao
contrário dos números naturais e fracionários positivos que tem raízes em experimentações geométricas,
os números negativos, os irracionais e os complexos surgiram da manipulação algébrica, como na
resolução de equações de 1º e 2º graus. Os Matemáticos indianos descobriram os números negativos
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quando tentavam formular um algoritmo para a resolução de equações quadráticas. É exemplo disso, as
contribuições de Brahomagupta, pois a aritmética sistematizada dos números negativos encontra-se pela
primeira vez na sua obra, onde as regras que regem a aritmética com os números negativos aparecem
explicitamente, datado em 628 d.C. Brahmagupta, não só utilizou os negativos em seus cálculos como
também os considerou entidades separadas e os dotou de uma aritmética concordante com a dos inteiros.
As regras sobre grandezas já eram conhecidas pelos teoremas gregos sobre subtração, como por exemplo,
(a -b).(c -d) = ac + bd -ad -bc, mas os hindus as converteram em regras numéricas
sobre números negativos e positivos. Assim o produto concreto do tipo (x-3) (x-4) foi desenvolvido
algebricamente, o que há de supor que ele conhecia a identidade algébrica (a-b) (c-d) = ac-bc-ad+bd. É
citado uma regra para este produto de diferenças que pode ser considerada como o "germem" do que pode
ser chamado de regra de sinais: "Subtração por subtração dá adição". Isto não significa que conhecesse os
números negativos, pois esta regra se refere ao produto de diferenças e sempre a>b e c>d , e não há
produto de números negativos.

Porque valores negados?


Apesar dos desenvolvimentos de Brahmagupta, nos séculos XVI e XVII, muitos matemáticos
europeus não apreciavam os números negativos e, se esses números apareciam nos seus cálculos, eles os
consideravam falsos ou impossíveis. Exemplo, deste fato seria Michael Stifel (1487- 1567) que se recusou
a admitir números negativos como raízes de uma equação, chamando-lhes de "numeri absurdi". Cardano
usou os números negativos embora os chamando de "numeri ficti".
E, para os gregos não era diferente, eles acreditavam que:
“para quem a geometria era um prazer e álgebra um demônio necessário, rejeitaram os números
negativos. Incapazes de ajustá-los em sua geometria, incapazes de representá-los por figuras, os gregos
consideraram os negativos não exatamente como números”(Kasner e Newman, 1968).
A grande contribuição dos hindus (séc. VI) para a matemática foi à criação de um sistema de
numeração posicional de base dez, cuja eficácia e simplicidade para o cálculo aritmético se estenderam
universalmente, eles aplicaram princípio de valor-lugar e dotaram o símbolo babilônico de separação,
usado na escrita dos números, criando então o conceito do zero, o símbolo da casa vazia. Os matemáticos
hindus mostraram-se virtuosos no cálculo aritmético e algébrico que permitiram conceber um novo tipo
de símbolo para representar dívidas que posteriormente o Ocidente chamariam de negativo. O que foi
evidenciado com o surgimento do sistema bancário com uma estrutura de credito internacional,
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possibilitando a retirada de 7 ducados para uma pessoa que tinha saldo de 2 ducados, ficando com um
saldo devedor de 5 ducados (2 – 7 = -5), “Na verdade eles formularam as operações aritméticas sobre os
números negativos com esta aplicação em mente” (Kline, 1987). No entanto, os números negativos não
foram aceitos por todos os hindus, Bhaskara (séc. XII), por exemplo, resolveu a equação x2 + 45x = 250,
encontrou as soluções x = 50 e x = -5, mas mostrou-se cético quanto à validade da raiz negativa (Struik,
1989). Para ele “o segundo valor não devia ser tomado por ser inadequado, pois as pessoas não aceitam
raízes negativas” (Reid, 1960).
No final do século XVII, surgiu a obra de Viéte (1540 - 1603), um dos introdutores dos símbolos
"+", "-" e "=", entretanto estes símbolos referiam-se apenas à operação de subtração entre números
'verdadeiros', para Viéte, os números negativos eram desprovidos do significado intuitivo e físicos.
Descarte (1596 – 1650) definiu um sistema de coordenadas a partir de duas semi-retas opostas, obtendo,
portanto, um eixo de - a + , apesar disso não encontrou aplicações para as raízes negativas de
equações. Além, do mais Descartes tomou como 'falsas’ as raízes negativas, alegando serem ‘menores
que nada’ e desenvolveu a transformação das raízes negativas em positivas.
Em sua ‘Regra de sinais’, Descartes afirma:
“Se os coeficientes de uma equação são reais e todas as suas raízes são reais, então o número de
raízes estritamente positivas (levando-se em conta suas multiplicidades) é igual ao número de trocas de
sinais na seqüência dos seus coeficientes. Se a equação também tem raízes complexas, então o número de
trocas nos sinais dos seus coeficientes menos o número de raízes positivas é um número par” (R.
Descartes, 1673 in La Geométrie Livro III).
Com isso, Descartes estabelecia que o número de raízes “verdadeiras” era igual a, no máximo, o
número de trocas de sinais nos coeficientes da equação.
Arnaud (1612 - 1694), questionou que: -1 : 1 = 1: -1, pois "-1 é menor do que +1; daí, como
poderia um menor estar para um maior assim como um maior está para um menor?" (Arnaud, Apud
KJine, ibid). Em contrapartida, Leibniz (1646 - 1716); embora visse esta mesma objeção, afirmou que se
poderia calcular com tais proporções, uma vez que 'formalmente' isto equivalia a calcular com
quantidades imaginárias, que já àquela época haviam sido introduzidas. Leibniz, nada mais fez que
condicionar a validade das operações com os negativos, até então obscuras. Na ausência de
fundamentação estrutural, até mesmo para os positivos, tomou a regra (-) x (-) = (+) sem discussão.
Até aqui percebemos que a difusão dos números negativos não se deu de forma tranqüila e
imediata. E, esta descrença quanto aos números negativos vão permanecer até o século XIX. Por exemplo,
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Nicolas Chuquet (séc. XV) e Michel Stifel (sec. XVI) ainda chamam os números negativos de ‘números
absurdos’; a ainda muitos matemáticos dos séculos XVI e XVII, que não aceitam os números negativos
como mais que meros símbolos e os que o aceitavam não os admitiam como raízes de equações, a
exemplo, Cardan que em sua obra ‘Ars Magna’ dividiu os números em ‘números verdadeiros’, ou seja, os
números considerados reais em sua época, naturais, frações positivas e alguns racionais; e ‘números
fictícios’ ou ‘números falsos’ correspondendo aos negativos e suas raízes complexas.

Depois de séculos de objeções à aceitação


O Renascimento abriu uma nova etapa para os números negativos. Provavelmente foi neste
período que apareceu um número negativo ligado a uma equação algébrica, na obra do matemático
francês Nicolás Chuquet (1445-1500). Trata de seu "Triparty", escrita em 1484, que poderíamos dizer
hoje 4x = -2 (os símbolos "x", "=", "-" não existiam). Temos ainda Stevin (1548-1620) aceitando os
números negativos como raízes e coeficientes de equações. Admitindo a adição de x +(-y) em lugar de
considerá-la como subtração de y á x. Também tratou de justificar geometricamente a regra de sinais
fazendo uso da identidade algébrica: (a-b) (c-d)= ac-bc-ad+bd.
No século XVII, com o nascimento das ciências modernas, amplia-se o uso dos números
negativos. Aparecem as primeiras intenções de legitimá-los. Foi o matemático Albert Girard (1590-1639)
o primeiro a reconhecer explicitamente a utilidade algébrica de admitir as raízes negativas e imaginárias
como soluções formais das equações; porque ele permitia uma regra geral de resolução na construção de
equações através de suas raízes.
E, no século XVIII a situação dos números negativos mudou consideravelmente quando foi
descoberta uma interpretação geométrica dos números positivos e negativos como sendo segmentos de
direções opostas (fig. 1). Os números negativos aparecem naturalmente em trabalhos científicos,
justificados pela seguinte frase: "a eficácia do cálculo é suficiente para confortar o matemático em sua
fé". Porém em trabalhos de cunho didático para iniciantes, ainda não houvera um pesquisador capaz de
formalizar com clareza de raciocínio a validade dos números negativos.

fig.1
Na figura 1, temos a escala horizontal das posições relativas aos números positivos e negativos.

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O "Tratado da Álgebra" (1748) publicado após a morte de seu autor, Colin Maclaurin, tornou-se
uma obra de referência na Grã-Bretanha, a qual tratou de definições sobre quantidades negativas. Nesta
obra, Maclaurin expõe a idéia de que uma quantidade negativa é tão real quanto uma positiva, porém
tomada em sentido oposto. Entretanto, ele afirmava que esta quantidade só existiria por comparação e
nunca isoladamente. Para isto ele enunciou: "se uma quantidade negativa não possui outra que lhe seja
oposta não se pode desta subtrair outra menor ". Ou seja, Maclaurin somente admitia quantidades
negativas em relação ao zero origem. Algo que outrora causava grandes conflitos, pois não se faziam a
distinção do zero absoluto ao zero relativo a origem. Em um trecho de sua obra ele define a regra de
sinais, esta dedução deu início a uma era de formalismo até então inexistente.

Demonstração da regra de sinais segundo Colin Maclaurin


Seja,
+ a - a = 0 e n uma quantidade positiva ou negativa.
Temos
n( + a - a) = 0 se n > 0
Daí vem
+n.(+a) + n.(-a) = 0
Logo
+n.(-a) = -na
Assim, (+) .( -) = (-) se n < 0
-n(+a) -n(-a)=0
Logo
-n(-a) = +na
Assim, (-) .( -) = (+)
Leonhard Euler (1707 – 1783), um dos mais destacados matemáticos do século XVIII, manipulava
números negativos e complexos com extrema naturalidade, porém, sem levantar polêmicas sobre o grau
de validade de seus métodos. Desenvolveu uma obra de cunho pedagógico para principiantes, em 1770,
tentando justificar a regra. “Euler enveredou por um argumento totalmente inconveniente para mostrar (-
1) (-1) 'deve' ser igual a +1. Pois, como ele racionou, deve ser + 1 ou -1, e não pode ser -1 = (+1) (-1)
desde que -1 = (+1)(-1)”(Courant e Robbins, Ibid). Ele fixou-se na antiga metáfora não geométrica hindu
para explicar a operação de subtrair -b como sendo o mesmo que somar b, visto que, segundo ele;
"cancelar um débito significa o mesmo que dar um presente” (Euler, apud Kline, Ibid).

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Demonstração da regra dos sinais segundo Euler


Consideremos os seus argumentos:
1. A multiplicação de uma dívida por um número positivo não oferece dificuldade, pois 3 dívidas
de a escudos é uma dívida de 3a escudos, logo (b).(-a) = -ab.
2. Por comutatividade, Euler deduziu que (-a).(b) = -ab
Destes dois argumentos conclui que o produto de uma quantidade positiva por uma quantidade
negativa e vice-versa é uma quantidade negativa.
3. Resta determinar qual o produto de (-a) por (-b). É evidente diz Euler que o valor absoluto é ab.
É, pois então necessário decidir-se entre ab ou -ab. Mas como (-a)b é -ab, só resta como única
possibilidade que (-a).(-b) = +ab.
É claro que este tipo de argumentação vem demonstrar que qualquer "espírito" mais zeloso,
como Stendhal, não pode ficar satisfeito, pois principalmente o terceiro argumento de Euler não
consegue provar ou mesmo justificar coerentemente que - por - = +. No fundo, este tipo de argumentação
denota que Euler não tinha ainda conhecimentos suficientes para justificar estes resultados
convincentemente. Na mesma obra de Euler podemos verificar que ele entende os números negativos
como sendo apenas uma quantidade que se pode representar por uma letra precedida do sinal - (menos).
Euler não compreende ainda que os números negativos sejam quantidades menores que zero.
D'Alembert (1717-1783) também se demonstrou confuso na assimilação dos números relativos,
conforme mostra o artigo “Negativo”: "Dizer que as quantidades negativas estão abaixo de nada é
afirmar uma coisa que não se pode conceber". Mais a diante ele insiste no fenômeno de hesitação dos
negativos. "Quantidades negativas encontradas no cálculo algébrico indicam realmente quantidades
positivas que supusemos numa falsa posição. O sinal de menos que encontramos antes de uma
quantidade serve para rectificar um erro que cometemos na hipótese inicial". Neste artigo D'Alembert
insiste na não existência de quantidades negativas isoladas.
Lazare Carnot (1753-1823), profundo conhecedor da obra de D'Alembert, além de membro da
Academia de Ciências de Paris, foi sem sombra de dúvidas uma dos matemáticos que tiveram um papel
provocador na compreensão dos números negativos, porém não apontando soluções para as questões
levantadas: "A quantidade negativa -3 seria menor que +2; contudo sabe-se que (-3)2 >(+2)2, o que
confronta com todas as idéias claras que se poderiam formar sobre quantidade". Carnot, como defensor
das idéias D'Alembertianas, admitia que as quantidades negativas só diferem das positivas por serem
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tomadas em sentido oposto, em relação ao zero origem. Partindo dessa premissa, Moebius e Charles
viriam a elaborar a teoria sobre geometria orientada, utilizando um eixo para representar toda a reta real, e
sem no entanto recorrer as obras de Descartes e Cramer onde figuram o raciocínio de semi-retas opostas.
Porém o fenômeno da hesitação ainda persistia. Haja vista, que o homem comum ( plebeus e mercadores
em geral) encontraram pouca utilidade para os números negativos, em sua vida quotidiana. Pierre-Simon
de Laplace (1749-1827), professor da Escola Normal Superior, também demonstra o mesmo embaraço de
seus antecessores, ao declarar ser "a regra de sinais um assunto que levantaria dificuldades,
principalmente o produto (-).(-)”.
Em meio a todas essas idéias que tangenciavam a historia dos números negativos, August Cauchy
(1789-1857) foi o responsável pelo início de uma confusão entre (+ e -) operatórios e predicativos e que
futuramente irá despertar o interesse de Hankel. Cauchy, em um de seus artigos define as leis de
crescimento e diminuição, respectivamente, pelos sinais + e - ( operatórios) e em seguida define
quantidades negativas por grandezas que diminuem representadas por um número precedido do sinal - e
positivas precedido pelo sinal +. No entanto estas definições caíram em contradição, pois podemos
diminuir um número (grandeza) positivo multiplicando-o por um fator entre 0 e 1, e além disto sabe-se
que o produto de duas quantidades negativas resultaria num aumento, contradizendo portanto, às
definições cauchynianas. Porém, ele se põe a refletir e então adota um novo ponto de vista, apresentando
a multiplicação de modo formal. A partir destas quatro equações Cauchy define a regra de sinais.
Demonstração das Regras de Sinais para a multiplicação segundo Cauchy
1) a = +A 3) +a = +A 5) -a = - A
2) b = - A 4) +b = - A 6) –b = +A
Substituindo 1 em 3 temos: +(+A) = +A +.+=+
Substituindo 2 em 4 temos: +(-A) = -A +.-=-
Substituindo 1 em 5 temos: -(+A) =-A -.+=-
Substituindo 2 em 6 temos: -(-A) =+A -.-=+
Finalmente Dedekind (1831-1916), estabeleceu uma relação de equivalência entre pares de
números naturais e faz referência da subtração como inversa da adição: a-b =c-d, logo a+d = b+d . Ele
demonstra que esta relação é de equivalência, e o conjunto das classes de equivalência será o conjunto dos
números inteiros.
Mas a legitimidade dos números negativos deve-se definitivamente por Hermann Hankel (1839-
1873) que publicou em 1867, "Teoria do Sistema dos números Complexos". Hankel formulou o princípio
de permanência e das leis formais que estabelece um critério geral de algumas aplicações do conceito de
número, que atinge o máximo de compreensão sobre os números relativos, ultrapassando os obstáculos da
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ambigüidade dos dois zeros (dificuldade em associar o zero absoluto com o zero origem de um eixo
orientado), da Estagnação no estágio das operações concretas e da busca por um modelo unificador que
viesse a funcionar tanto em modelos aditivos quanto em multiplicativos. É importante destacar que
Hankel tinha o propósito de definir a teoria sobre números complexos e foi apenas de passagem, em
algumas de suas demonstrações que ele desvendou por completo todas as dúvidas que pairavam sobre os
números negativos. Hankel afirmava que os números não são descobertos e sim inventados, imaginados.
Ou seja, ‘aqueles que se aventurarem em procurar todas as explicações lógicas na natureza, ou mundo
real, jamais conseguirão adquirir maturidade em conceitos matemáticos, que outrora, são definidos para
um mundo ideal’. Sob esta linha de raciocínio ele abandonou o ponto de vista "concreto" baseado em
exemplos práticos passando a adotar o "formal". A partir das propriedades aditivas de IR e multiplicativas
em IR+, Hankel propõe estender estas propriedades de IR+ a IR.
Demonstração das Regras de Sinais para a multiplicação segundo Hankel
0 = a x 0 = a x ( b + op.b) = ab + a x ( op. b) (1)
0 = 0 x (op.b) = (a + op. a) x (op. b) = (op.a ) x (op. b) + a x (op.b) (2)
0 = 0 x b = (a + op. a) x (b) = ab + (op.a) x b (3)
Comparando as equações (1) e (2) termo a termo , conclui-se
(op. a) x (op. b) = ab
Logo, (- ) . ( -) = (+)
Comparando as equações (1) e (3) termo a termo , conclui-se
a x (op. b) = (op. a ) x b
Logo, (- ).( +) = (+).(-)
Diante da revolução causada pela obra de Hankel, surge então a seguinte indagação ‘seria possível
obter-se este nível de compreensão sobre os números negativos, séculos antes?’. Se os antecessores de
Hankel dispusessem de um bom modelo capaz de sustentar as principais propriedades sobre o conjunto
dos números negativos, certamente a resposta para esta pergunta seria óbvia, sim. Porém a história
mostrou que os dois principais modelo, comercial ( dívidas e bens ) e geométrico ( produto equivalente a
área ), possuíam falhas que de certo só serviram para desnortear o raciocínio de grandes matemáticos que
calcaram suas teorias sobre tais modelos. Portanto, a revolução principal realizada por Hankel foi a de
recusar a busca por um bom modelo.
A partir das idéias formuladas por Hankel, vários autores viriam a defendê-lo, tais como Piaget e
Bachelard. Este último escreveu: "a opinião pensa mal, designando os objetos por sua utilidade, acaba de
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impedirmos de conhecê-los, logo o primeiro obstáculo a transpor é eliminá-la". Mas, só a partir dos
trabalhos de John Hudde (1957) que os matemáticos começaram a adotar mais freqüentemente os
coeficientes literais nas equações como representando números positivos ou negativos (Kline, Ibid).
Por fim, o estudo epistemológico descrito neste trabalho mostrou que toda teoria baseada
exclusivamente em exemplos práticos e concretos é susceptível a falhas e contradições, sendo, portanto
deficiente e responsável por vários obstáculos que perduraram muitos anos até que se chegasse completa
assimilação dos números negativos.

Referências
DESCARTES, R. The Geometry of René Descartes. Dover, Ny, 1954.
BOYER, B. C. "História da Matemática". Editora Edgard Blücher. SãoPaulo, 1996.
EULER, L. Elements à Álgebra, Projeto Euclides. 2ª ed, IMPA, 1987.
CAJORI. Florian. A history of mathematical notations. Dover. Chicago, 1928.
MEDEIROS, Alexandre. MEDEIROS, Cleide. Números Negativos: Uma história de incertezas. Bolema,
ano 7, n.° 8, pp. 49 a 59, 1992
TALAVERA, Leda Maria Bastoni. Uma abordagem histórica dos números negativos. USP.
KLINE, Morris. Mathematics for the nonmathematician. Dover. Mineola, 1967

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