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5.1.

Introdução

Como, de resto, em todo conhecimento humano, a teoria do tratamento da


água baseia-se em modelos físicos, químicos, fisico-químicos e bioquímicos,
entre outros, que procuram explicar, do modo mais simples possível, os nem
sempre bem conhecidos mecanismos envolvidos em cada uma das fases de
tratamento.
Evidentemente, tais modelos explicam diversos fenômenos ocorridos, mas
apresentam, quase sempre, um ou mais pontos que não resistem a
questionamentos mais profundos.
A complexidade dos materiais inertes ou orgânicos (entre os quais incluem-
se os organismos vivos) a serem removidos da água em tratamento pode ser
apontada como a responsável por essa dificuldade de adaptação do modelo às
situações reais.
Entretanto, e felizmente para os profissionais sanitaristas que precisam
transformar água bruta em água tratada, os modelos disponíveis para o dia-a-dia
têm sido suficientemente práticos.
Mas a fragilidade dos modelos deve servir como lembrete permanente, do
quão parco é o conhecimento humano a respeito da real natureza do Universo, e
da grandeza da Criação.
Tal constatação faz do verdadeiro cientista um humilde, cônscio de sua
ignorância, que parece aumentar a cada acréscimo de conhecimento adquirido.
Ao mesmo tempo, torna-o orgulhoso por tornar-se, a cada nova e pequena
descoberta, cúmplice do Criador, e responsável por transmiti-la, em Seu nome, à
Humanidade, para que todos possam dela ser beneficiados.
Uma vez ressalvados os pontos anteriores, procurar-se-á apresentar, nos
Itens a seguir, breves descrições a respeito das principais idéias utilizadas no
estudo do tratamento da água.
O leitor deverá, sempre que desejar, recorrer às Referências Bibliográficas
apresentadas no final deste Capítulo, para se aprofundar mais nos tópicos
abordados.

5.2. Impurezas encontradas na água bruta

Para efeito do que se descreve a seguir, supõe-se que a água bruta seja
potabilizável, ou seja, atenda aos padrões descritos pelo CONAMA e pelo
COPAM, já do conhecimento do leitor, e anexos a este livro.

5-1
Em tais condições, a turbidez da água bruta é devida principalmente à presença
de partículas de argila, sob forma grosseira (e, assim, facilmente removíveis) ou
de suspensões coloidais (de remoção mais difícil, que exige tratamento químico)
provenientes da erosão do solo, ou, o que é menos comum, à presença de algas
ou a crescimentos bacterianos.
Já a cor (especificamente, a cor verdadeira, tendo em vista que, como foi visto,
há também a cor aparente, devida à reflexão de corpos presentes na água,
separáveis por centrifugação) deve-se principalmente à presença de substâncias
químicas provenientes da degradação da matéria orgânica (folhas e plantas
aquáticas com as quais a água tenha estado em contato).

Figura 5.1 – Classificação das partículas na água, segundo seus tamanhos

É interessante ressaltar mais uma vez que, na maioria das águas brutas
com que o sanitarista trabalha, os organismos patogênicos costumam, quase
sempre, estar associados a partículas responsáveis pela turbidez, que parecem
utilizá-las como substrato e forma de proteção.
É interessante ressaltar mais uma vez que, na maioria das águas brutas
com que o sanitarista trabalha, os organismos patogênicos costumam, quase
sempre, estar associados a partículas responsáveis pela turbidez, que parecem
utilizá-las como substrato e forma de proteção.
Assim sendo, quando se promove a redução da turbidez da água bruta, são
também removidos os patogênicos a ela associados. Além disto, os organismos
que porventura atravessem essa fase de tratamento ficam expostos à ação dos
compostos desinfetantes, sendo por eles eliminados.
5-2
O termo argila compreende grande variedade de compostos. Em geral,
refere-se à terra fina (0,002 mm de diâmetro ou menos), às vezes colorida, que
adquire plasticidade ao misturar-se com quantidades limitadas de água.
Arboleda V., em sua obra publicada pelo CEPIS 8, apresenta uma descrição
das argilas mais importantes para o sanitarista. Para efeito do que será visto
neste livro, entretanto, basta saber que, do ponto de vista químico, a argila é um
silicato de alumínio, que forma cristais. Diz-se que as argilas possuem grande
superfície específica.
Por superfície específica entende-se a superfície total que um corpo possui
em relação ao seu volume.
Ora, tomando-se, como exemplo, a forma cúbica, um cubo de aresta L tem a
seguinte área superficial:
A = 6L2
e o seguinte volume:
V= L3
Portanto, sua superfície específica será:
Superfície específica = A/V = 6L2/L3 = 6/L
Um cubo de aresta dez vezes menor tem a seguinte área superficial:
A = 6.(L/10)2 = 6L2/100
e o seguinte volume:
V = (L/10)3 = L3/1000
Portanto, sua superfície específica será:
Superfície específica = A/V = (6L2/100) / (L3/1000) = 60/L
Ou seja, o cubo menor, de aresta dez vezes menor que a do cubo maior,
tem área superficial específica dez vezes maior que a desse cubo.
Assim sendo, quanto menor é a partícula, maior é a sua superfície
específica.
Quanto maior a superfície específica das partículas, maior será a
probabilidade de sucesso de reações e interações que ocorram em suas
superfícies.
Além disto as argilas apresentam a propriedade de interagir com o meio aquoso
que as cercam, substituindo íons metálicos de seus cristais por outros, também
metálicos, mas de cargas elétricas diferentes, o que faz com que suas partículas
se tornem eletricamente carregadas (freqüentemente negativas), assim como o
meio que as circunda ( que, em conseqüência, se torna positivo).
Por seu turno, a cor das águas potabilizáveis deve-se, na maioria dos casos,
à existência de soluções coloidais, constituídas de grande variedade de extratos
vegetais. Entre os principais citam-se os taninos, ácido húmico e humatos,
originários da decomposição da lignina. O humato férrico, algumas vezes
presente, produz intensa coloração 4.
Como no caso das argilas, as partículas coloidais responsáveis pela cor
tornam-se eletricamente desequilibradas, quase sempre negativas. Graças a
este fato, a cor pode ser removida nas estações de tratamento de água
utilizando-se o mesmo processo de remoção da turbidez.
O caráter negativo das partículas descritas anteriormente pode ser
observado da seguinte forma: coloca-se a amostra de água com as partículas
em suspensão sobre uma lâmina de microscópio, e submete-se essa amostra a

5-3
um campo elétrico - vide Figura 5.2. As partículas suspensas migrarão para o
polo positivo do campo elétrico, revelando, dessa forma, sua carga.

Figura 5.2 – Célula de eletroforese

5.3. Desestabilização das partículas coloidais

Levando em conta que a água bruta contém, em seu seio, suspensões e


soluções coloidais, responsáveis, respectivamente, pela turbidez e cor, torna-se
necessário remover esses colóides, para o que eles devem ser desestabilizados.
Isto é feito através de processos químicos, nos quais são adicionados à
água certos compostos denominados coagulantes, floculantes ou auxiliares,
conforme a atividade que desempenhem.
Com referência aos termos coagulação e floculação, alguns autores
propõem que sejam definidos da forma a seguir 8.
• Coagulação: começa no mesmo instante em que são adicionados
coagulantes à água; dura apenas uma fração de segundo. Basicamente,
consiste numa série de processos físicos e químicos envolvendo os
coagulantes, a superfície das partículas, algumas substâncias químicas

5-4
presentes na água, especialmente as que lhe conferem a denominada
alcalinidade, e a própria água.
• Floculação: é o fenômeno através do qual as partículas já desestabilizadas
chocam-se umas com as outras para formar coágulos maiores.
Dois modelos, sumarizados pelo CEPIS 8 e por Campos e Povinelli 4,
nomeadamente o físico e o químico, procuram explicar o que ocorre durante a
coagulação e a floculação. Cada um deles explica parte dos fenômenos que
ocorrem de fato, deixando, por seu turno, outros sem justificativa satisfatória.
Qualquer que seja o modelo que se considere, a prática mostra ser
adequado proceder à aplicação do produto químico coagulante do modo mais
uniforme possível em toda a massa líquida, durante o tempo mais curto que for
possível e com grande intensidade de agitação. Em seguida, a agitação pode (e
deve) ser lenta, diminuindo de intensidade com o passar do tempo.
A adequada coagulação permite economizar produtos químicos e tempo de
aglutinação para a floculação da água em tratamento.
Modernamente, estudos experimentais 5 vêm sendo realizados com o
objetivo de, através da utilização de meios granulares, obter a micro-floculação
e, simultaneamente, a decantação da água em tratamento. Com isto, é possível,
a um só tempo:
a) reduzir as dimensões da unidade de tratamento (por ser necessário um
tempo de floculação bem menor para formar micro-flocos, do que o
necessário para formar flocos, cuja velocidade de sedimentação permita sua
remoção em decantadores convencionais);
b) reduzir o consumo de floculantes, tendo em vista que os colóides
desestabilizados não precisarão crescer.

5.4. Principais coagulantes, floculantes e auxiliares

Campos e Povinelli 4 relacionam os compostos a seguir como os principais


coagulantes/floculantes:
• sulfato de alumínio: fácil de transportar e de manusear. Seu custo é baixo
e é produzido em várias regiões brasileiras;
• sulfato ferroso: muito útil para tratar águas que apresentem pH elevado;
• sulfato férrico: conveniente para o tratamento de águas altamente
coloridas ou ácidas;
• cloreto férrico: produz bons flocos em amplo intervalo de pH;
• aluminato de sódio: pode ser empregado, juntamente com a cal, para
abrandamento de águas.
A Tabela 5.1 mostra que cada coagulante/floculante requer, para atuar, um
pH adequado. Assim sendo, pode ser necessário ajustar esse parâmetro antes
de adicionar o produto químico escolhido. Para tanto, utiliza-se quase sempre a
cal hidratada para aumentá-lo, ou o ácido sulfúrico para reduzi-lo.

5-5
Tabela 5.1 - Coagulantes primários e faixas de pH em que são utilizadas

Coagulantes Faixas de pH
Sulfato de alumínio 5,0 a 8,0
Sulfato ferroso 8,5 a 11,0
Sulfato férrico 5,0 a 11,0
Cloreto férrico 5,0 a 11,0
Sulfato ferroso clorado acima de 4,0
Aluminato de sódio e sulfato de alumínio 6,0 a 8,5

A coagulação e a floculação podem realizar-se com maior eficiência se forem


utilizados, em conjunto com os coagulantes/floculantes, compostos denominados
auxiliares. Entre eles, citam-se, como os mais importantes, a sílica ativada (ou
sílica coloidal; pode ser preparada na própria estação de tratamento de água,
utilizando-se solução de silicato comercial, 40° a 42° Bé, diluída em até 1,5%
de SiO2 neutralizado com H2SO4 até o pH de 8,4) e, mais recentemente, os
denominados polieletrólitos. Tais produtos químicos são compostos de longas
cadeias moleculares que podem apresentar grande número de cargas quando
lançados na água. Tais cargas são responsáveis pela atração e fixação dos
colóides que se deseja remover da água em tratamento.

5.5. Química do sulfato de alumínio, alcalinidade e dureza na água em


tratamento

5.5.1. Introdução

Tendo em vista que, entre os diversos produtos químicos capazes de se


comportarem como coagulantes/floculantes, o sulfato de alumínio vem sendo o
mais utilizado nas estações de tratamento de água brasileiras, esta publicação
contemplará somente a química deste composto. O comportamento químico de
outros compostos poderá ser estudado pelo leitor em algumas das obras citadas
entre as referências bibliográficas listadas no final deste Capítulo.
Embora não seja do escopo deste livro o aprofundamento na denominada
química aquosa do sulfato de alumínio, algumas noções básicas são importantes
para o profissional envolvido com o tratamento da água, e serão brevemente
enfocadas neste Item. Tais noções baseiam-se no trabalho publicado por
Amirtharajah e Mills 2.
Quando o sulfato de alumínio é adicionado à água, ele se dissocia,
conforme indica a equação a seguir:
Al 2(SO4 ) + 6H 2O → 2 Al +3 + 6OH − + 6H + + 3SO 4−2
3
Imediatamente após, o íon Al+3 é hidratado, coordenando seis moléculas de
água e formando o íon Al(H2O)6+3. Esse íon pode então formar diversos
produtos, alguns dos quais, das mais simples formas, são complexos
monoméricos e diméricos, em que ligações coordenadas ocorrem com o íon
hidroxila OH-, que passam a substituir as moléculas de H2O.

5-6
Por exemplo, a primeira reação é representada pela equação de equilíbrio:
Al (H 2O )+3 + H 2O → Al (H 2O )5 OH + 2 + H 3O +
6
Pode-se imaginar diversas outras espécies, à medida que as moléculas de
água vão sendo substituídas pelo OH-, que serão positivamente carregadas,
neutra ou negativamente carregadas:
Al (H 2O )+3 OH + 2 → Al (H 2O )4 (OH )2+ →
5

→ Al (H 2O )3 OH 3 → Al (H 2O )2 (OH )−4 →

→ Al (H 2O )OH − 2 → Al (OH )6−3


5
Para simplificar a exposição, as moléculas de água ligadas ao íon alumínio
serão omitidas. Assim, por exemplo, Al (H 2O )5 OH +2 será escrito AlOH +2 nas
discussões a seguir.
A partir das espécies anteriores, é possível construir polímeros com diversos
dos produtos anteriores, que formarão espécies tais como:
Al 13 (OH )+345 , Al17 (OH )17
+4
, Al 18 (OH )+204 , Al 16 (OH )+153
Por mais de duas décadas, pesquisadores buscaram determinar a
predominância, ou mesmo a existência, dessas espécies. Para os engenheiros
civis, e no que diz respeito à aplicação ao tratamento da água, é suficiente
aceitar o fato de sua existência.
Conforme foi visto no Item 5.2 anterior, as partículas responsáveis pela cor e
turbidez nas águas naturais são normalmente colóides eletricamente
desequilibrados, de carga negativa. Elas permanecem separadas umas das
outras porque possuem a mesma carga (negativa), e se repelem. Para que elas
possam se unir, é necessário desestabilizá-las, vale dizer, neutralizá-las. Para
tanto, basta fazer com que os produtos mencionados anteriormente sejam
adsorvidos pela enorme superfície específica dos colóides, de forma a anular a
carga total de cada partícula, ou torná-la próxima de zero.
Entretanto, pelo menos duas dificuldades são encontradas para a
consecução desse objetivo.
A primeira diz respeito à formação de uma espécie de dupla capa de cargas
positivas ao redor do colóide, atraídas pelas cargas negativas dessas partículas.
Assim sendo, é necessário que os produtos resultantes da dissociação do sulfato
de alumínio - positivamente carregados - sejam adicionados à água em local de
intensa dissipação de energia na massa líquida. Essa energia, transmitida sob
forma de energia cinética aos produtos e às partículas coloidais, permitirá aos
primeiros atravessar a dupla camada de carga positiva que envolve o colóide,
permitindo sua adsorção e neutralização parcial da partícula (ver Figura 5.3).

5-7
Figura 5.3 – A teoria da dupla capa

A segunda diz respeito ao curto tempo de vida dos produtos de dissociação,


inferior a um segundo para a maioria deles. Nestas condições, a adsorção
desses produtos pela superfície dos colóides somente ocorrerá durante curto
intervalo de tempo.
Dos produtos mencionados anteriormente, um é neutro e, nas condições
usuais, apresenta-se insolúvel: é o hidróxido de alumínio, Al(OH)3, que se
apresenta sob forma de um pequeno floco gelatinoso. precipitável.
Nas condições de pH que prevalecem usualmente nas unidades de mistura
rápida e floculação, decorridos alguns segundos, os diversos produtos tendem a
se transformar nesse composto. Esse tempo oscila entre um e sete segundos.

5-8
Caso os colóides não sejam desestabilizados pelas formas dissociadas do
alumínio, o hidróxido de alumínio poderá desestabilizá-los, mas através de outro
mecanismo, baseado na saturação e arraste dos colóides.
O processo que desestabiliza os colóides através da adsorção, em sua
superfície, de produtos do alumínio, de carga oposta, é denominado
desestabilização por adsorção e neutralização.
O processo que desestabiliza os colóides através da saturação da água em
tratamento com o gel hidróxido de alumínio, e arraste dos colóides aprisionados
nesse gel, denomina-se desestabilização por varredura.
Na prática, os dois processos podem ocorrer combinados, conforme será
visto adiante.
É importante salientar, mais uma vez, o curto período de existência das
formas dissociadas do sulfato de alumínio na água. Decorrido esse tempo,
grande parte do alumínio passará a existir como hidróxido de alumínio, sólido e
precipitável. Desse modo, a primeira equação apresentada neste Item tende a
evoluir para:
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2 0 → 2 Al (OH )3(s )↓ + 6H + + 3SO 4−2
Os Itens a seguir descrevem esses mecanismos.

5.5.2. Desestabilização por adsorção e neutralização

Conforme foi mencionado, nesse tipo de desestabilização as partículas


presentes na água bruta adsorvem, em suas superfícies, formas dissociadas do
sulfato de alumínio capazes de neutralizá-las. Assim sendo, será possível
aproximá-las umas das outras e, desta forma, floculá-las (vide Figura 5.4).

Figura 5.4 – Desestabilização por adsorção e neutralização

5-9
Algumas (poucas) estações de tratamento de água possuem um aparelho
eletrônico denominado zetâmetro, capaz de medir o denominado potencial zeta
das partículas (vide Figura 5.2, onde é indicado o potencial zeta da partícula
coloidal).
Quando se neutralizam as partículas coloidais, através da correta adição de
coagulante, consegue-se "zerar" o potencial zeta.
Entretanto, na maioria das vezes não se dispõe desse equipamento, e
determina-se experimentalmente como fazer para desestabilizar corretamente as
partículas, através de ensaios de jarros, em que se testam diversas dosagens de
coagulantes, floculantes e compostos para a ajustagem do pH.
A desestabilização por adsorção exige que a mistura rápida seja feita com muita
energia e durante tempo muito pequeno.
Isto porque, como foi visto, os produtos de dissociação do sulfato de
alumínio que podem ser adsorvidos pelas partículas ficam disponíveis na água
apenas alguns segundos. Em seguida, formam hidróxidos, que são importantes
nas fases seguintes do tratamento, mas não para a desestabilização por
adsorção e neutralização.
Além disto, esses produtos precisam ser lançados energicamente contra as
partículas, para que sejam capazes de atravessar as nuvens de cargas, também
positivas, que as cercam (dupla capa). Somente após atravessarem essas
nuvens é que os íons metálicos poderão ser adsorvidos pelas partículas.
Do exposto, conclui-se que, para que as partículas possam ser
desestabilizadas por adsorção e neutralização, o misturador rápido deverá
apresentar duas características essenciais:
• misturar energicamente o coagulante à água bruta;
• efetuar essa mistura em tempo muito curto.

5.5.3. Desestabilização por varredura

Neste caso, a desestabilização das partículas é feita pelo hidróxido de


alumínio.
Normalmente, nas condições de pH e dosagem de floculante que se
adiciona à água em tratamento, esse hidróxido é insolúvel. Apresenta-se sob
forma de gel (semelhante à gelatina), e precipita-se quando a água é deixada
em repouso.
Durante a floculação, as partículas desse gel chocam-se com as partículas
que se deseja remover da água em tratamento, e as adsorvem.
Funcionam como pequenas vassouras peludas, que agarram essas
partículas.
Por esse motivo, diz-se que as partículas são desestabilizadas por
varredura, isto é, elas são varridas da água utilizando essas mini-vassouras, vide
Figura 5.5.

5-10
Figura 5.5 – Desestabilização por varredura

Ao se tratar a água de piscinas, através da adição de sulfato de alumínio em


altas concentrações, pode-se observar que, de um dia para o outro, as
impurezas da piscina precipitam-se em seu fundo.
Este é um exemplo típico da ação desestabilizadora das impurezas através da
varredura.
A desestabilização por varredura não necessita de boa mistura rápida, tendo
em vista que, sendo o hidróxido de alumínio o agente responsável pela
desestabilização das partículas, e que ele vai se formar de qualquer forma, não
há mais a preocupação de se contar com uma mistura rápida e enérgica do
floculante com a água em tratamento.

5.5.4. Combinação da adsorção e varredura

Conforme foi visto, desestabilizar por varredura as partículas presentes na


água bruta é quase sempre algo fácil de ser feito.
Na realidade, e em vista do exemplo da piscina citado no sub-item anterior,
muitas vezes não é necessário nem misturador rápido nem floculador para isto,
desde que sejam utilizadas altas dosagens de coagulante.
Desestabilizar por varredura, portanto, qualquer um pode conseguir, desde
que tenha breves noções sobre o tratamento da água.
Por outro lado, desestabilizar por adsorção e neutralização é bem mais
complicado.
Primeiro, porque exige um bom misturador rápido. Segundo, porque exige
muita habilidade e conhecimento do operador.
A desestabilização por adsorção e neutralização ocorre em faixas estreitas
de pH da água floculada.

5-11
Além disto, dosagens excessivas de coagulante podem re-estabilizar as
partículas que se deseja remover.
Isto porque, sendo essas partículas de carga predominantemente negativa,
conforme foi visto, sua desestabilização é conseguida através da adsorção de
cargas positivas.
A adição em excesso, de produtos de dissociação pode fazer com que as
partículas coloidais deixem de ser negativas e se tornem positivas.
Nessas condições, ocorrerá o que se denomina re-estabiização das partículas.
O operador habilidoso saberá combinar os processos da desestabilização
por adsorção e o da desestabilização por varredura.
Para tanto, ele dosará a quantidade correta de floculante, capaz de, ao
mesmo tempo:
• fornecer íons metálicos em quantidade suficiente para que, ao serem
adsorvidos pelas partículas, reduzam suas cargas negativas, o que propiciará
sua aproximação;
• formar hidróxido metálico em quantidade suficiente para adsorver as
partículas parcialmente desestabilizadas e, portanto, mais próximas umas das
outras (por isto, são necessários flocos menores de hidróxidos para adsorvê-
las).
Observe que, neste caso, assim como na desestabilização por adsorção, é
necessário contar com um bom misturador rápido. A combinação dos dois
processos - adsorção e varredura - permite obter flocos bem formados com
pequeno consumo de floculante.

5.5.5. Diagrama de Amirtharajah e Mills

As espécies resultantes da dissociação do sulfato de alumínio que


permanecerão em solução estarão presentes em equilíbrio com a fase sólida
Al(OH)3 em concentrações muito baixas, nas faixas usuais de pH que
prevalecem nos floculadores das estações de tratamento de água, e o(s) tipo(s)
dessas espécies dependerá(ão) do pH da água em tratamento, conforme será
visto a seguir.
A título de exemplo, considere-se o que acontece com a forma Al(OH)4-.
Essa forma convive em solução aquosa com a fase sólida, o hidróxido de
alumínio, segundo a equação de equilíbrio a seguir:
Al (OH )3(s ) + H 2O ↔ Al (OH )− + H +
4
Como em toda solução aquosa, esse equilíbrio é expresso por uma
constante de equilíbrio, a qual denomina-se de K4, e que determina as
concentrações em que os solutos estarão presentes:
[ ][ ]
K 4 = Al (OH )− H +
4
Na expressão anterior, os termos entre colchetes representam as
denominadas atividades dos produtos. Entretanto, corriqueiramente utiliza-se as
concentrações molares, em substituição às atividades, com o objetivo de
simplificar os cálculos.
Aplicando logaritmo à expressão anterior, obtém-se:
5-12
[ ] [ ]
− log K 4 = − log Al (OH )− − log H +
4
Ora, o logaritmo negativo da constante K4 é outra constante, denominada
pK4 Já o logaritmo negativo da concentração hidrogênio-iônica é conhecido do
engenheiro civil, denominado de pH.
Assim sendo, pode-se escrever:
[ ]
pK 4 = − log Al (OH )− + pH
4
Observe, portanto, que a concentração de saturação do produto Al(OH)4-
será tão maior quanto maior for o pH da solução, vide Figura 5.6.

Figura 5.6 – Variação da concentração de saturação do produto de


dissociação Al (OH)4 - com o pH da solução

O mesmo pode ser feito para um produto positivo.


Tome-se, por exemplo, o próprio íon Al+3.
A equação de equilíbrio será:
Al (OH )3( s ) ↔ Al +3 + 3OH −
cuja constante de equilíbrio é:
[ ][ ]
K 3 ↔ Al + 3 OH −
3

Aplicando logaritmo a essa expressão, obtém-se:

5-13
[ ] [ ]
pK 3 = − log Al +3 − 3 log OH −
pK 3 = − log[Al ]− 3 pOH
+3

Ora, sabe-se que a própria água se dissocia, segundo a expressão


simplificada:
H 2O ↔ H + + OH −
sendo sua constante de equilíbrio, nas condições usuais:
[ ][ ]
K a = H + OH − = 10 −14
Aplicando logaritmo:
[ ] [ ]
pK a = 14 = − log H + − log OH −
pK a = 14 = pH + pOH
Do exposto, e tendo em vista que cada molécula de água dissocia-se em um
íon H+ e um íon OH-, decorre que, para a água pura:
pH = pOH = 7
ou ainda:
pOH = 14 - pH
Levando este último resultado à equação:
[ ]
pK 3 = − log Al + 3 − 3 pOH
obtém-se:
pK 3 = − log[Al ]+ (42 − 3 pH )
+3

(42 − pK 3 ) = const . = 3 pH + log[Al + 3 ]


Observe, portanto, que a concentração de saturação do produto de hidrólise
+3
Al será tão maior quanto menor for o pH da solução, conforme mostra a Figura
5.7.
Em seu trabalho, Amirtharajah e Mills (op. citada) apresentam o diagrama da
Figura 5.8, onde aparecem representadas as linhas correspondentes às
concentrações de saturação dos produtos de hidrólise considerados mais
importantes. A exemplo dos gráficos das Figuras 5.3 e 5.4 anteriores, ele tem,
nas abcissas, os valores de pH, enquanto que, nas ordenadas, aparecem: à
esquerda, o logaritmo da concentração molar do alumínio; à direita, a
concentração, em miligramas por litro, do produto comercial Al2(SO4)3.14,3H2O
(que não é necessariamente a formulação do produto químico fornecido à
estação de tratamento de água; portanto, para utilização prática do diagrama, a
correção correspondente às moléculas de água de hidratação deve ser
efetuada).
O diagrama destaca quatro áreas importantes, que são:
a) a região onde se consegue desestabilizar por adsorção os colóides presentes
na água a tratar. Observe que as dosagens de sulfato de alumínio a empregar
são baixas, inferiores a 2 mg/L de AL2(SO4)3.14,3H2O. O pH da água, após a
adição do sulfato, oscila entre o mínimo de 5,0 e o máximo de 7,0. Analisando a
grosso modo, verifica-se que, observadas essas condições, os colóides
absorverão os produtos de dissociação mais convenientes e na quantidade

5-14
exata para sua desestabilização. No limite superior da dosagem de sulfato,
portanto, a carga negativa com que o colóide se apresentava terá sido anulada.

Figura 5.7 – Variação da concentração de saturação do produto de


dissociação Al +3 com o pH da solução

b) a região de re-estabilização do colóide. Cargas positivas adsorvidas em


excesso pelo colóide, anteriormente negativo, podem reverter sua carga, re-
estabilizando-o como partícula positiva.
c) a região onde os colóides são desestabilizados por varredura, isto é, onde o
gel hidróxido de alumínio adsorve os colóides presentes na água bruta. Observe
que esta é a região onde o trabalho é realizado com maior facilidade, pois a faixa
correspondente do pH da água após a adição do sulfato de alumínio é bem mais
ampla: de 5,8 a 9,2. Por outro lado, as dosagens de sulfato necessárias são
superiores a 15 miligramas por litro.
A possibilidade de utilização de um dos mecanismos anteriores no tratamento da
água depende não só da sua qualidade, mas também do tipo de instalação de
tratamento que se tem nas mãos, e da habilidade do operador.
Recomenda-se ao leitor o estudo do texto citado, para conhecer, de modo
mais aprofundado, o assunto, e que permaneça atento aos diversos trabalhos
que evoluíram dessa obra, e vêm sendo apresentados nos diversos eventos
científicos nacionais e internacionais.

5-15
Figura 5.8 – Diagrama para projeto e operação utilizando sulfato de
alumínio

5.5.6. Problema resolvido

Ensaios de laboratório concluíram que a dosagem ótima de sulfato de


alumínio que deverá ser aplicada a determinada água bruta é igual a 23 mg/L.
Ocorre que a formulação do produto químico a ser dosado na ETA é
AL2(SO4)3.20H2O, enquanto que o produto químico utilizado nos ensaios de
laboratório era AL2(SO4)3.14,3H2O. Qual deverá ser a dosagem correspondente
na ETA, para que sejam obtidos os mesmos resultados?
Resolução:
A massa molecular do sulfato de alumínio pode ser calculada da forma a
seguir, utilizando as massas atômicas apresentadas no Anexo 17:

Assim sendo, o peso molecular do produto químico utilizado no laboratório é:

5-16
Portanto, da dosagem utilizada, a dosagem de sulfato de alumínio (subtraída
a água de hidratação) foi, na realidade:
342
dosagem = 23 = 13,12mg / L
599,4
O produto químico a ser utilizado na ETA tem, em sua molécula, 20
miligramas de água de hidratação. Portanto, seu peso molecular será:

Assim sendo, a dosagem de sulfato de alumínio na ETA deverá ser:


702
dosagem = 13,12 = 26,93mg / L
342

5.5.7. Problema resolvido

Um ensaio de jarros indicou as seguintes dosagens de sulfato de alumínio e


pH finais de floculação. Classifique o mecanismo de desestabilização dos
colóides correspondentes a cada um deles, segundo o diagrama de Amirtharajah
e Mills, admitindo que cada molécula de sulfato de alumínio tenha 14,3
moléculas de água de hidratação:
1° caso: pH = 6,8; dosagem de sulfato: 8 mg/L
2° caso: pH = 7,5; dosagem de sulfato: 8 mg/L
3° caso: pH = 7,5; dosagem de sulfato: 30 mg/L
Resolução:
Conforme mostra a Figura 5.9, o mecanismo de desestabilização em cada
caso é:
1° caso: desestabilização por adsorção e neutralização;
2° caso: combinação dos dois processos;
3° caso: desestabilização por varredura.

5.5.8. Alcalinidade e dureza

Os carbonatos e bicarbonatos são, em grande parte, os responsáveis pela


denominada alcalinidade, vale dizer: a capacidade de neutralizar ácidos.
Outros sais de ácidos fracos, tais como boratos, silicatos e fosfatos, que
podem estar presentes em pequenas quantidades, aumentam também a
alcalinidade das águas naturais potabilizáveis.
De qualquer forma, e independentemente dos compostos presentes, a
alcalinidade medida é expressa em termos de CaCO3.

5-17
Figura 5.9 – Problema resolvido 5.5.7

Já o cálcio é o principal responsável pela dureza.


Uma água dura requer grandes quantidades de sabão para formar espuma.
Outros íons bimetálicos, tais como: o Mg+2,quase sempre associado ao
SO4 ; o Sr+2 associado ao NO3-; e o Mn+2, associado ao SiO3-2; conferem dureza
=

à água.
Na maioria dos casos o cálcio encontra-se associado ao íon bicarbonato,
que se transforma em carbonato (pouco solúvel) com o aumento da temperatura,
segundo a reação:
Ca(HCO3 )2 → CaCO3 + CO2 + H 2O

À precipitação do carbonato de cálcio (CaCO3) provoca o entupimento das


canalizações de água quente e a explosão de caldeiras.
Assim sendo, a dureza devida ao bicarbonato de cálcio torna-se perigosa,
devendo ser controlada.
O aumento do pH converte os bicarbonatos (HCO3-) em carbonatos (CO3-2)
pois, na reação:
CO −2 + H + ↔ HCO 3−
3
a remoção dos íons H+ da solução deslocará o equilíbrio para a esquerda.

5-18
Assim sendo, o aumento do pH faz com que o bicarbonato de cálcio se
transforme em carbonato de cálcio, precipitável, propiciando sua remoção da
água.
Tendo em vista que a dureza devida ao bicarbonato de cálcio pode ser
facilmente removida, quer por elevação da temperatura, quer por aumento do
pH, denomina-se esse tipo de dureza de dureza temporária, contrapondo-se à
dureza devida à associação dos metais descritos com outros tipos de ânions
que, por serem mais dificilmente removíveis, constituem a denominada dureza
permanente.
Quando a água em tratamento possui alcalinidade natural devida à presença
do bicarbonato de cálcio, e a ela é adicionado o ácido sulfúrico (H2SO4), ocorrerá
a seguinte reação, que neutraliza, dessa forma, o ácido que foi adicionado à
água:
Ca(HCO3 )2 + H 2SO 4 → CaSO 4 + 2CO2 + 2H 2O
A reação anterior pode ser re-escrita da seguinte forma, após multiplicar todos
os seus termos por 3:
3Ca(HCO3 )2 + 3H 2SO4 → 3CaSO 4 + 6CO2 + 6H 2O
Em seguida, ela será somada membro a membro com a reação (já vista):
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2O → 2 Al (OH )3( s ) ↓ + 6H + + 3SO4−2
e que pode ser re-escrita da forma:
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2O → 2 Al (OH )3(s ) ↓ + 3H 2SO 4
Obtém-se:
3Ca(HCO3 )2 + 3H 2SO4 → 3CaSO 4 + 6CO2 + 6H 2O
Al 2 (SO 4 )3 + 6H 2O → 2 Al (OH )3(s ) ↓ + 3H 2SO 4
Al 2 (SO 4 )3 + 3Ca(HCO3 )2 → 3CaSO 4 + 6CO2 + 2 Al (OH )3( s ) ↓
Observe que foram cancelados os termos idênticos que aparecem em lados
opostos do sinal (• ).
Não obstante, a adição de sulfato de alumínio à água em tratamento tende a
reduzir seu pH, devido ao fato de que o CO2 resultante tende a reagir com a
água, formando um ácido fraco, o ácido carbônico, segundo a reação:
CO2 + H 2O → H 2CO3
Por outro lado, o bicarbonato de cálcio é convertido a sulfato de cálcio, vale
dizer: parte da dureza temporária é convertida em dureza permanente, o que
pode constituir uma desvantagem do ponto de vista da remoção da dureza.

5.6. Equilíbrio carbônico da água: agressividade e incrustabilidade

Entre as diversas equações de equilíbrio químico que prevalecem nas águas


naturais, apresentam especial interesse ao estudo do tratamento da água as que
dizem respeito ao equilíbrio dos compostos inorgânicos do carbono.
Este elemento químico se faz presente na água principalmente absorvido
sob a forma de gás carbônico:

5-19
CO2 + H 2O → H 2CO3
Se o pH da água é inferior aa 4,5 significa que ela contém ácidos minerais
fortes, não havendo o ácido carbônico (H2CO3). Conforme foi visto, a COPAM e
o CONAMA (vide Anexos 13 e 14) não consideram águas em tais condições
como potabilizáveis (para tanto, o pH deverá estar compreendido entre 6,0 e
9,0).
Se ocorrer a elevação do pH acima de 4,5, o ácido carbônico passa a
encontrar condições para permanecer dissociado na água, combinando-se com
os carbonatos (CO3-2) com os quais entra em contato, transformando-se em
bicarbonatos (HCO3-) segundo a reação:3).
H 2CO3 + CO3−2 ↔ 2HCO3−2
No caso específico do carbonato de cálcio, cuja importância já foi salientada
anteriormente, observa-se que as águas naturais contendo gás carbônico (e,
portanto, H2CO3) são capazes de solubilizar as rochas calcárias (que contêm
CaCO3), tornando-se mais duras, através do aumento de suas concentrações de
bicarbonato de cálcio.
Quanto menos elevado é o pH (e, portanto, maior a concentração de
CaCO3), mais o equilíbrio da concentração é deslocado para a direita, sendo
que, abaixo do valor 8,3, só são encontrados bicarbonatos na água,
desaparecendo os carbonatos (vale dizer, o H2CO3).
Se o pH ultrapassa o valor 8,3, os íons bicarbonato passam a se transformar
em íons carbonato, segundo a reação:
HCO3− ↔ CO3−2 H +
Os carbonatos de cálcio são pouco solúveis na água, Aproveitando-se deste
fato, um dos processos de remoção de cálcio das águas de abastecimento
(causador de dureza, conforme visto) consiste em elevar seu pH acima de 8,3
(normalmente até 10,6 - 10,8, segundo Adad 1). Nestas condições, o carbonato
de cálcio precipita-se, podendo ser removido.
Se a água tiver seu pH superior a 11, significa que contém hidróxidos, sendo
imprópria para fins de potabilização.
Em resumo, tem-se:
a) a água contém carbonatos e hidróxidos: o pH é elevado, acima de 11;
b) a água contém carbonatos e bicarbonatos: o pH é superior a 8,3 e
normalmente inferior a 11;
c) a água contém somente bicarbonatos: o pH é igual ou inferior a 8,3.
Se, por um lado, a presença excessiva de carbonatos e bicarbonatos de
cálcio poderá, como mencionado, incrustar tubulações, sua presença em
quantidades adequadas poderá ajudar a combater a corrosão das superfícies
metálicas que contenham ferro.
Os mecanismos de corrosão das superfícies metálicas são complexos,
sendo difícil avaliar, a partir de alguns parâmetros, se uma água poderá ter sua
agressividade corrigida através de medidas simples, ainda mais quando a água
tratada deverá ser potável (o que elimina de vez uma série de inibidores de
corrosão disponíveis no mercado). O leitor deverá recorrer às referências

5-20
bibliográficas 1,3 para inteirar-se do assunto e permanecer atento às publicações
periódicas que permanentemente trazem novas descobertas sobre esse tema.
Entretanto, simplificadamente pode-se assumir que a corrosão do ferro
ocorre devido à sua ionização (e conseqüente solubilização)em certo ponto da
superfície metálica, denominado ânodo:
Fe − 2e − → Fe +2
o que requer a existência de um cátodo:
2e − + 2H 2O → H 2 + 2OH −
Se a água contém íons cálcio e bicarbonato, a reação no ânodo passará a
ser:
2e − + 2H 2O → H 2 + 2OH −
2Ca +2 + 2HCO3− + 2OH − → 2CaCO3 + 2H 2O
2e − + 2Ca +2 + 2HCO3− → 2CaCO3 + H 2
O CaCO3 formado, por ser insolúvel, deposita-se sobre o ânodo, cobrindo-o
e, em conseqüência, desativando-o.
Assim sendo, o processo corrosivo é inibido.
Para avaliar se as quantidades de cálcio, bicarbonatos e carbonatos (vale
dizer: alcalinidade) e teor de sólidos totais dissolvidos (vale dizer: capacidade de
transporte de elétrons), a dada temperatura, tornam a água agressiva ou
incrustante, Langelier 6 propôs um método, sumarizado sob a forma do diagrama
representado na Figura 5.10.
A partir dos valores extraídos daí, pode-se determinar o denominado índice
de saturação:
I s = pH − pH s
onde:
pH s = pCa + pAlc + C
Se pH < pHs, Is é negativo e a água é corrosiva.
Se pH > pHs, Is é positivo e a água é incrustante.
[ ] [ ]
pCa = − log Ca + 2 , onde Ca +2 é a concentração molar do íon cálcio.
pAlc = − log[HCO ] , onde [HCO ] é a concentração molar do íon bicarbonato.

3

3
C = índice que depende do teor de sólidos e da temperatura.
Observe, entretanto, que o índice de Langelier tem caráter apenas
qualitativo, não sendo possível, somente através dele, determinar quais os
compostos (e em que proporções) que, adicionados à água, permitiriam corrigir
seu desequilíbrio.
Marques e Leão 7 redigiram um trabalho dirigido à COPASA objetivando
permitir a seus funcionários a correta interpretação do equilíbrio carbônico da
água, com base no modelo originalmente proposto por Caldwell e Lawrence.
Trata-se de um modelo bem mais poderoso, permitindo inclusive determinar
e quantificar os produtos químicos necessários para estabelecer o equilíbrio.
Para os que desejam aprofundar-se no assunto, recomenda-se a leitura da
íntegra do citado trabalho.

5-21
Figura 5.10 – Diagrama para a determinação do índice de Langelier 6

5-22
Questões para recapitulação
(respostas no final deste Item)

1. Segundo Amirtharajah e Mills, os três mecanismos através dos quais é


possível desestabilizar os colóides presentes na água bruta são:
1.a. _____________________
1.b. _____________________
1.c. _____________________
2. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
2.a. Na desestabilização por adsorção e neutralização as partículas presentes na
água bruta adsorvem, em sua superfície, íons metálicos de carga positiva
capazes de neutralizá-las.
2.b. Na desestabilização por adsorção e neutralização é importante misturar
energicamente o floculante à água bruta e efetuar essa mistura em tempo muito
curto.
2.c. Quando se neutraliza as partículas através da correta adição de floculante,
zera-se seu potencial zeta.
2.d. Observa-se experimentalmente que as partíiculas que se deseja remover da
água em tratamento apresentam cargas elétricas negativas.
3. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
3.a. Na desestabilização por varredura a desestabilização das partículas é feita
pelo hidróxido metálico, que é o composto que se forma quando se adiciona o
floculante à água bruta.
3.b. Os hidróxidos metálicos formam pequenas partículas insolúveis, sob forma
de gel, que se chocam com as partículas que se deseja remover da água em
tratamento e as adsorvem.
3.c. Os hidróxidos metálicos funcionam como pequenas vassouras peludas que
agarram as partículas que se deseja remover da água em tratamento.
3.d. A desestabilização por varredura não necessita de boa mistura rápida; não
há a preocupação de se contar com uma mistura rápida e enérgica do floculante
com a água em tratamento.
4. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
4.a. Na coagulação, se íons metálicos positivos forem adsorvidos pelas
partículas em quantidades acima da necessária para neutralizá-las, ocorrerá a
re-estabilização das partículas.
4.b. A combinação dos processos de desestabilização por adsorção e
neutralização e desestabilização por varredura permite obter flocos bem
formados com pequeno consumo de floculante.
4.c. Na combinação dos processos de desestabilização por adsorção e
neutralização e desestabilização por varredura é necessário contar com um bom
misturador rápido
4.d. A desestabilização por adsorção e neutralização ocorre em faixas estritas do
pH da água floculada.
5. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
5.a. Alcalinidade da água é a sua capacidade de neutralizar ácidos.
5.b. Outros sais de ácidos fracos, tais como boratos, silicatos e fosfatos, também
contribuem para a alcalinidade das águas naturais e potabilizáveis.

5-23
5.c. A alcalinidadde da água é expressa em termos de CaCO3.,
independentemente dos compostos que a causam.
5.d. O cálcio é o único elemento responsável pela dureza.
5.e. Uma água dura requer grandes quantidades de sabão para formar espuma.
5.f. Outros íons bimetálicos, tais como: o Mg+2, quase sempre associado ao SO4-
2
; o Sr+2 associado ao Cl-; o Fe+2 associado ao NO3-; e o Mn+2 associado ao SiO3-
2;
conferem dureza à água bruta.
5.g. O íon bicarbonato transforma-se em carbonato (pouco solúvel) com o
aumento da temperatura.
5.h. A precipitação do carbonato de cálcio provoca o entupimento das
canalizações de água quente e a explosão de caldeiras.
5.i. O aumento do pH converte os bicarbonatos em carbonatos.
5.j. A dureza devida ao bicarbonato de cálcio denomina-se temporária.
6. Assinale a(s) alternativa(s) falsa(s) ou verdadeira(s)
6.a. Se a água contém carbonatos e bicarbonatos, seu pH é superior a 8,3 e
normalmente inferior a 11.
6.b. Se a água contém somente bicarbonatos, seu pH é igual ou inferior a 8,3.
6.c. A presença de carbonatos e bicarbonatos de cálcio em quantidades
adequadas poderá ajudar a combater a corrosão das superfícies metálicas que
contenham ferro.
6.d. Se pH < pHs, Is é negativo e a água é incrustante.
6.e. Se pH > pHs, Is é positivo e a água é corrosiva.

Respostas:
1.a. desestabilização por adsorção e desestabilização; 1.b. desestabilização por
varredura; 1.c. Combinação dos dois processos anteriores; 2.a.(v); 2.b..(v);
2.c..(v); 2.d..(v); 3a. (v); 3b..(v); 3.c..(v); 3.d..(v); 4.a..(v); 4b.(v); 4.c.(v); 4.d.(v);
5.a.(v); 5.b.(v); 5.c.(v); 5.d.(f); 5.e.(v); 5.f.(v); 5.g.(v); 5.h.(v); 5.i.(v); 6a. (v); 6b.(v);
6c.(v); 6.d.(f); 6.e.(f)

Referências bibliográficas

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1972, 135p.
2. AMIRTHARAJAH, A., MILLS, K. M. Rapid mix design for mechanisms of alum
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3. AWWA. Water quality and treatment: a handbook of public water supplies.
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4. CAMPOS, José Roberto, POVINELLI, Jurandyr. Coagulação. In: Técnica de
abastecimento e tratamento de água. São Paulo: CETESB, 1974. v2, cap.21,
p.711-751.
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7. MARQUES, Benjamin Campolina de A., LEÃO, Sérgio França. Dureza e
abrandamento das águas: modelos de análise gráfica. Belo Horizonte, COPASA
MG, 1984. 67p. (trabalho não publicado)
8. TEORIA, diseño y control de los procesos de clarificación del agua. Lima:
CEPIS, 1973. 558p. (serie tecnica, 13)
9. WATER treatment handbook. Paris: DEGRÈMONT, 1991.

5-25

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