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Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

Apontamentos das Aulas de Praticum Processo Penal

2014/2015

Rui M. Vasconcelos Pinto

Docente: Rui da Silva Leal

Universidade Católica Portuguesa – Escola do Porto

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2014/2015 UCP-Porto
Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 26 de setembro de 2014, 10h15

Docente: Rui da Silva Leal

- E-mail: silvaleal-2562p@adv.oa.pt

- Telemóvel: 918657410

- Código de Processo Penal

- Código Penal

- Curso de Processo Penal - Germano Marques da Silva (vários volumes)

- Código de Processo Penal Anotado - Paulo Pinto Albuquerque

- Manual do Professor Figueiredo Dias (Coimbra Editora)

- Avaliação

* 2 testes (o 1º vale 25%; o 2º vale 45%);

* Assiduidade/Intervenção (4 faltas permitidas) - 15%;

* Trabalho de Grupo (15%);

- Mínimo 4 pessoas/grupo

- Cada grupo fica com 1 tema (sorteio)

- Depois de atribuído o tema, há que fazer uma busca na jurisprudência


(jurisprudência atual)

- Há apresentação oral, em aula, do trabalho de grupo - (Defesa do Trabalho: 5 de


Dezembro, das 9h30 às 13h30)

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Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

- Temas:

+ Nulidades e Irregularidades (118º - 123º CPP)

+ Revistas e Buscas (Meios de Obtenção de Prova - 174º e ss CPP)

+ Art. 400, nº1, al. e) CPP - Decisões que não admitem recurso /e/ou/ Dupla
Conforme Condenatória - Art. 400, nº1, al. f) CPP

+ Escutas telefónicas (telefónicas/correio eletrónico/...)

+ Reconhecimento de pessoas em audiência de julgamento - 147º CPP

+ A inconstitucionalidade do Art. 381º CPP (Processo Sumário)

+ Alteração substancial e não substancial de factos

Ao longo das aulas, vamos analisar um processo (inventado), que começa com um
Auto de Notícia, em que se dá conhecimento de alguns factos.

Um processo criminal pode ter diversas fases processuais, e é importante saber


qual o crime em causa e qual o seu tratamento no Código Penal (direito substantivo -
direito penal) e conhecer as regras adjetivas aplicáveis (direito processual penal).

A título de nota importante, nunca esquecer: no processo criminal lidamos


diretamente com a liberdade dos indivíduos.

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Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

Praticum Processo Penal


Sexta-Feira, 3 de outubro de 2014, 10h15

Vamos começar a matéria pelo estudo prático dos requerimentos. Vamos falar em
requerimentos escritos e requerimentos orais.

Quando se fala em requerimento, refere-se a qualquer peça processual, seja um


simples requerimento de justificação de faltas, seja um requerimento de recurso. Trata-se
daqueles documento que os juízes, procuradores e advogados escrevem, e que vão
formando o processo.

Pretende-se entender quais são as regras fundamentais aos escrevermos o que quer
que seja no processo, seja uma queixa, um recurso, etc...E, convém referir, há
determinadas regras que não estão, normalmente, discriminadas na lei, mas que se
aprendem com a prática.

O Processo, com as novas tecnologias, começa a ser diferente. No Processo Civil,


a regra é a de que tudo entra através de uma plataforma informática (Citius), e o processo
vai estando, todo ele, informatizado (se se quiser consultar o processo não é necessário
dirigirmo-nos ao tribunal, porque temos a ele acesso na plataforma informática).

Por outro lado, no Processo Criminal, podemos ver, na parte já do Julgamento


(desde que não haja segredo de justiça), o processo no Citius, embora o Processo Criminal
não funcione através do Citius, porque tudo o que são peças processuais, neste processo
criminal, são entregues em papel, via fax, email, etc, (que são, posteriormente,
digitalizados pelo tribunal e introduzidos no processo).

Os requerimentos escritos são feitos, pelo advogado, Ministério Público ou Juiz,


no seu gabinete, e que depois, assim escritos, chegam ao Processo.

Já os requerimentos orais são feitos durante a diligência judicial (durante o


processo). Há a possibilidade de se fazer um requerimento (oral) em plena diligência,
requisitando à entidade que está a dirigir aquela diligência para se fazer este requerimento.

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E em todas as diligências judiciais existe uma ata, que dá conta do que lá se passou (se
estamos em Julgamento, chama-se ata, e há um funcionário que está na sala e vai
escrevendo aquilo que o juiz o mandar escrever/autorizar que escreva). Ou seja, um
requerimento oral é aquele requerimento que é ditado em diligência judicial.

O requerimento que fizermos será entregue em tribunal e vai entrar no processo


(processo físico, constituído por folhas, que está arrumado e organizado na secretaria do
tribunal).

Podemos, também, consultar o processo em tribunal, e rubricar as várias páginas


do processo, para termos, futuramente, a certeza do que vimos e do que consultamos.

O Processo Penal inicia-se do Inquérito, com a notícia do crime/queixa. Assim,


entra na secretaria do Ministério Público a primeira folha do processo (que é o auto de
notícia/a queixa). Esta queixa entra na secretaria do MP e o MP ordena que se abra um
processo criminal (pedindo ao funcionário da secretaria que registe a queixa e se dê início
a um processo novo, numerando-o). Como se procede à numeração dos processos? Se o
último for o 23/2014, então este novo processo será o 24/2014, mantendo este número até
ao fim. E isto é relevante, porque em todos os requerimentos que fizermos, temos de
introduzir o número do processo.

Mas há que ter atenção ao tribunal que se entrega os requerimentos!

No MP há secções! Quando estivermos no Tribunal de Vila Flor, em que há


poucos processos, não se justifica haver muitas secções de MP, e muitos procuradores.
Note-se que o MP como só tem procuradores (e não juízes) só tem secções e não juízos.

Caso não saibamos indicar a identificação do tribunal, número do processo ou


secção, toda esta informação consta do dossier do processo, que pode ser por nós
consultado.

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Por outro lado, num requerimento, além do número de processo ou do tribunal, há


que indicar a quem dirigimos o requerimento, seja ao advogado, seja ao Procurador do
MP, seja ao juiz. No fundo, um requerimento pede/requer algo a alguém (requer-se que
se justifique a falta, que se abra a instrução, etc...).

Se for um requerimento a pedir a justificação da falta, devemos dirigi-lo à pessoa


que dirige aquela fase processual, e normalmente conseguimos perceber a quem dirigimos
o requerimento. Mas nem sempre é assim: os requerimentos nem sempre se dirigem à
entidade que dirige aquela fase processual. Os requerimentos devem ser sempre
requeridos à entidade que tem capacidade para decidir aquele requerimento (diferir ou
indeferir).

Exemplificando: se estivermos em inquérito, e se o advogado fizer um


requerimento para que o arguido seja libertado da medida de coação de prisão preventiva,
este requerimento tem de ser dirigido ao Juiz de Instrução Criminal (que tem capacidade
para decidir sobre a matéria de medidas de coação). E, no entanto, quem dirige o Inquérito
é o MP.

Portanto, o que temos sempre de perguntar ao fazer um requerimento para saber a


quem dirigir o requerimento é: quem é que tem conhecimento para conhecer este
requerimento? E não perguntar: quem é que dirige esta fase processual?

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Esta é a primeira parte de um requerimento, dirigir-nos à entidade competente:

A um juiz, temos de nos dirigir desta forma: Exmo. Senhor Juiz de Direito do
Tribunal da Instância Local de Matosinhos (porque, como estamos em tribunal, o Juiz é
sempre um Juiz de Direito, porque aplica a lei. Por outro lado, nos Julgados de Paz os
Juízes não são Juízes de Direito, porque podem julgar segundo a lei ou segundo a
equidade).

Nota: Agora as comarcas (que são 23) estão divididas em Instâncias Centrais (que
dá o nome à Comarca) e em Instâncias Locais. Exemplo: Porto é a Instância Central, e
Matosinhos ou Maia são instâncias Locais.

Se nos dirigirmos ao MP, devemos fazê-lo desta forma (se for na primeira
instância): Exmo. Senhor Procurar Adjunto dos Serviços do MP de Matosinhos. Mas, se
for na Relação ou no Supremo, já devemos referir "Exmo. Senhor Procurador Geral dos
Serviços do MP".

Se nos dirigirmos aos órgãos de polícia criminal, depende de quem for (PJ, GNR,
PSP). Se for à PJ, devemo-nos dirigir ao Inspetor em concreto (Exmo. Senhor Inspetor
Rui), ou ao Diretor da PJ/Comandante da GNR.

Se for um Juiz de Instrução: Exmo. Senhor Juiz de Direito do Tribunal de


Instrução de Lisboa

- No STJ= Juiz Conselheiro

- Na Relação: Juiz Desembargador

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Exemplo de um requerimento:

Processo 23/2014.0 MD PRT

2ª Secção Criminal

(.0 = número introduzido pela secretaria) ; (MD = identificação do funcionário da secretaria) ; (PRT = Comarca do Porto)

Exmo. Senhor

Juiz de Direito do Tribunal da Instância Local de Matosinhos

Há que sublinhar que o advogado tem de ter uma Procuração escrita em que o seu
cliente lhe atribui poderes de representação.

Quem "fala no processo"/quem faz os requerimentos, são os intervenientes


processuais (o defensor, por exemplo). Mas, apesar de o advogado assinar, é o nome do
arguido (por exemplo), que aparece no requerimento.

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Exemplo de requerimento:

Processo 23/2014.0 MD PRT

2ª Secção Criminal

Exmo. Senhor

Juiz de Direito do Tribunal da Instância Local de Matosinhos

José da Silva Rocha, arguido/assistente identificado no processo em cima


referenciado, em que é assistente/arguido Maria Albertina da Costa, expõe....

EXPOSIÇÃO FACTUAL

(exposição factual do que, sumariamente, se pretende) - Esta exposição é o


fundamental do requerimento. Em todos os requerimentos, sejam eles quais forem, esta
exposição é uma exposição factual (O António que deu dois murros no José; A Maria que
não pagou a renda ao senhorio Manuel; o Mário que atropelou um peão na passadeira).
E, em tribunal, discute-se quem tem razão: deu um murro ou não? Foi em legítima defesa?
quem atropelou? foi o carro que atropelou o peão ou o peão que atropelou o carro? Depois,
o tribunal aplica a lei a estes factos, mas os tribunais existem porque há conflitos de facto
entre as pessoas. E, por isso, quando o juiz profere a sentença, tem de enunciar os factos
provados! (Art. 374º CPP).

Ou seja, o fundamental no processo são os factos! Depois de serem invocados e


alegados os factos, há que iniciar a matéria de direito (a lei só é conjugada com os factos,
no fim!) Isto, porque os factos têm de ser integrados nas normas legais! Ou seja, não se
trata só de atirar para o processo factos! Têm de ser contados os factos a pensar na sua
integração na lei (eu falei dos factos A, B, C e D para integrar a norma! Eu invoco factos
a pensar na lei, mas só vou falar na lei quando terminar a história factual).

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Esta exposição factual tem de ser feita de forma lógica e cronológica, e só se vai
contar aquilo que é relevante, de forma sucinta/sintética/objetiva.

EXPOSIÇÃO DE DIREITO

Os requerimentos escritos terminam com a parte de direito.

Se é um recurso, ou uma sentença, por vezes a parte de direito é mais complexa,


citando as normas legais, a conjugação dos factos com a norma, a interpretação seguida,
as considerações doutrinais, casos jurisprudenciais, etc...

- Exemplo: “Requer (há quem diga que se escreva "requere") a V. Ex.ª, se digne
... (p ex.: a considerar justificada a falta, nos termos do disposto no art. 117º do CPP).”

Depois juntam-se os comprovativos necessários (atestado médico, p ex.)

ASSINATURA

O advogado,

Rui Vasconcelos Pinto (com ou sem data, porque a data está, já, no carimbo do
requerimento). Claro que os despachos e sentenças têm de ter data, obrigatoriamente.

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- Exemplificando um requerimento escrito:

“António Pereira da Silva, que é arguido num processo criminal, tinha audiência
de julgamento marcada para hoje, às 9h30, e ontem à noite telefonou ao advogado a dizer
que está com uma gripe que o impede de comparecer no julgamento. O advogado diz-lhe
que isto não é causa para adiamento, mas que tem de justificar a falta, pedindo-lhe um
atestado médico (que será entregue depois de amanhã, apenas). O advogado vai ao
julgamento e vai requerer a justificação da falta.”

Quando estamos em audiência de Julgamento, e se o arguido falta, e se o crime


imputado for grave, e ele não estiver em prisão preventiva, e se faltar injustificadamente,
pode equacionar-se um crime de fuga, por isso, há que ter cautelas.

Para além disto, se não justificar a falta, acresce uma aplicação de uma malta (de
mínimo de 2 UC e de máximo 10 UC - Art. 116º CPP). 1 Unidade de Conta (UC -
Regulamento das Custas Judiciais) = 102 euros = 1/4 do salário mínimo nacional (com o
aumento do salário mínimo, aumenta a UC).

E com a falta, o arguido, além da multa, corre ainda o risco de ver agravada a sua
medida de coação (caso tenha sido alvo de uma - Art. 116º CPP). Por isso, há que justificar
a falta, para evitar estas situações.

O Art. 117º CPP prevê como é que se justifica a falta.

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- Exemplo do requerimento do advogado:

Processo 1/2014.0 MD VC

Juiz 1

Instância Local de Matosinhos

Exmo. Senhor

Juiz de Direito do Tribunal da Comarca de Vila do Conde

António Pereira da Silva, arguido identificado no processo acima referenciado,


em que é assistente Maria Albertina da Silva, também ali identificada

EXPÕE:

Encontra-se doente.

Permanece no Hospital por um período previsível de duas semanas.

Protesta juntar aos autos, no prazo legal, o respectivo documento comprovativo.

Por este motivo, não poderá estar presente na audiência de discussão em Julgamento,
designada para o dia de hoje, 3/10/2014, às 9h30.

REQUER:

A V. Ex.ª, nos termos do disposto do Art. 117º do CPP, se digne considerar justificada a
mencionada falta, seguindo-se de mais termos legais.

O advogado,

Rui Vasconcelos Pinto

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O requerimento do advogado deve ser escrito num papel timbrado, com a sua
identificação.

Se for enviado por fax, temos de entregar em cinco dias o original, por correio
registado. Ou entregar no tribunal. E guardar sempre todos os comprovativos de entrega.

Convém guardar sempre uma cópia do enviado e ficar com uma prova que foi
entregue.

E o requerimento pode ser (ou não) escrito por articulado.

- Para a próxima aula: ler auto de notícia, ver os crimes envolvidos e a sua natureza e se
podia haver detenção.

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Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 9 de outubro de 2014, 10h15

Há requerimentos escritos e orais. Os escritos já vimos, vamos agora abordar os


orais (aqueles feitos em plena diligência judicial). Estes requerimentos ficam registados
numa ata ou auto (Art. 99º CPP), que resume o que aconteceu na diligência.

A audiência de julgamento não é registada em auto, mas sim em ata. E só fica


registado em ata aquilo que o Juiz determinar que o funcionário pode escrever.

Atenção que quando se fala em requerimentos, há que entender que o Juiz não
requer nada, apenas decide, emitindo ou sentenças ou despachos. O juiz nunca pede nada,
não requer nada, apenas decide.

O MP pode decidir (na fase de inquérito), proferindo despachos/decisões. Mas,


durante o inquérito, há atos que não é o MP que decide (tudo o que tem que ver com
DLG), que são decididos pelo Juiz de Instrução (Art. 268º/269º CPP). Contudo, nas outras
fases processuais, o MP tem de requerer/pedir (como na instrução, julgamento ou alguns
atos do inquérito).

Em julgamento, o MP, como se disse, também requer.

Vamos imaginar que estamos em julgamento, e que António deu dois murros e
umas cabeçadas, em plena via pública, no José. Abriu-se o inquérito, correu o processo e
começou-se o Julgamento. Em plena audiência de julgamento ouvem-se as testemunhas
todas, e no fim o defensor (advogado do arguido), que teve a informação através do
arguido que há uma testemunha que não foi ouvida em julgamento e que assistiu a tudo
(era uma testemunha que ninguém sabia da existência dela, mas que estava escondida e
viu tudo). Mas já estamos na fase final de julgamento! Nenhuma testemunha conseguiu
descrever os factos na sua integralidade (ninguém viu tudo!). Porém, esta testemunha que
apareceu agora viu tudo, mas não foi indicada como testemunha.

Ora, o advogado toma conhecimento da existência desta testemunha no dia


anterior à audiência de Julgamento, e portanto, o advogado pede ao cliente que leve a

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testemunha à audiência e, posteriormente, pede-se ao Juiz para que ouça a testemunha.


Muitas vezes acontece que a produção de prova ocorra durante o julgamento, sem estar
previsto. Quando isto acontece, utiliza-se o Art. 340º CPP (o tribunal pode ordenar a
produção de prova a requerimento).

O advogado pode pedir ao Juiz para fazer um requerimento, e o juiz tem de


autorizar este requerimento (e depois pode deferi-lo ou indeferi-lo).

Portanto, pode-se requerer a produção de um meio de prova que ainda não tinha
surgido (Art. 340º, nº1 CPP).

Quando não somos autorizados a requerer, então como advogados temos de


exercer o Direito de Protesto (que consta do Estatuto da Ordem dos Advogados, aprovado
por lei).

Ou seja, podemos fazer o tal requerimento, e o juiz autoriza, e o funcionário do


tribunal já sabe que tem de escrever o requerimento oral, ditado pelo advogado, para o
funcionário, em voz alta, para que toda a gente da sala consiga ouvir. Portanto, este
requerimento é ditado para a ata.

- Art. 315º CPP: o arguido tem um prazo para apresentar contestação e rol de
testemunhas

- E pode alterar o rol de testemunhas (Art. 316º CPP).

- Mas o Art. 340, nº1 CPP permite apresentar testemunhas fora deste prazo, tendo
de ser uma testemunha necessária e essencial à descoberta da verdade material e
à boa decisão da causa.

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Portanto, o requerimento oral ditado para a ata seria, por exemplo, assim (e
começasse logo com a parte factual/relatar factos/exposição de factos; e depois segue-se
o requerimento de direito; isto porque não é necessário identificar nem tribunal, nem
arguido, porque este requerimento oral será junto ao processo):

"No dia de ontem, o arguido teve conhecimento da existência de uma pessoa que assistiu
à integralidade dos factos aqui em discussão.

Atenta à insuficiência da prova produzida nesta audiência, uma vez que nenhuma
testemunha inquirida assistiu à integralidade dos referidos factos, a inquirição da referida
pessoa revela-se necessária e essencial à descoberta da verdade e à boa decisão da causa.

Trata-se da Senhora Dona Maria do Céu Ferreira Coelho, solteira, maior, residente na
Rua Alfredo da Costa, nº 12, Porto, e encontra-se presente nas instalações deste tribunal.

Assim sendo, requer a V. Exª., nos termos do disposto/do consignado/do preceituado no


Art. 340, nº1 do CPP, se digne admitir a inquirição como testemunha da pessoa acima
identificada.

- Está terminado Sr. Juiz-"

Depois o Juiz dita ao funcionário (normalmente, nem dita, porque o funcionário


já está habituado, e já escreve isto automaticamente):

"Seguidamente, concedida a palavra ao Procurador do MP, para se pronunciar sobre o


antecedente requerimento, disse/pelo mesmo foi dito o seguinte:" (É o princípio do
contraditório a funcionar - Art. 327º CPP).

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E, depois, o Procurar do MP dita para a ata:

"Opõe-se ao requerido.

Na verdade, a prova já produzida nesta audiência já se afigura totalmente esclarecedora


dos factos aqui em discussão.

Ou seja, o tribunal possui já todos os elementos probatórios que o habilitam a proferir


uma decisão conscienciosa, motivo pelo qual a inquirição da dita pessoa se revela
desnecessária."

"Seguidamente, dada a palavra ao ilustre mandatário do assistente, por ele foi dito o
seguinte":

"Subscrevendo a argumentação do MP, deve indeferir-se o requerido" "Mais nada Sr.


Juiz"

"Seguidamente, ele Sr. Juiz proferiu o seguinte despacho:"

"Como muito bem disse o MP (lol), na sua douta promoção (porque o MP não requereu,
apenas sugeriu/promoveu), o tribunal encontra-se já suficientemente habilitado a proferir
uma decisão conscenciosa.

Assim sendo, não se afigura necessária a inquirição da pessoa mencionada.

Por isso, indefere-se o requerido".

Depois, diz o Juiz: "Sr. Procurar, tem a palavra para alegações" (porque já não há mais
ninguém para ouvir, e portanto passa-se às alegações).

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Mas, diz o advogado diz: "Sr Juiz, queria fazer outro requerimento. Quero arguir a
nulidade do despacho de indeferimento" (note-se que este despacho não é susceptível de
recurso - Art. 400, nº1, al. b) CPP).

- Por isso é que se disse que a testemunha era não só necessária como "Essencial",
a pensar no Art. 120, nº2, al. d), in fine CPP (nulidades: esta alínea concreta refere-
se à "essencialidade" à descoberta da verdade).

Eis o requerimento do advogado:

"O despacho acabado de referir está ferido de nulidade.

Com efeito, a inquirição da mencionada pessoa revela-se não apenas necessária, mas
também essencial à descoberta da verdade e à boa decisão da causa, pelos motivos
deixados exarados no nosso requerimento.

Assim, requer a V. Ex.ª, nos termos do disposto do Art. 120º, nº2, al. d), última parte do
CPP, se digne declarar a arguida nulidade, sanando-a de imediato." "Mais nada Sr. Juiz"

- "Seguidamente, dada a palavra ao Sr. Procurador":

"Não há qualquer nulidade, porque a inquirição da dita pessoa, como diz que dissemos,
não é necessária e muito menos essencial e muito menos essencial à descoberta da
verdade e à boa decisão da causa.

Deve, por isso, indeferir-se a arguida nulidade"

- "Dada a palavra ao advogado do assistente: por ele foi dito que subscreve integralmente
a decisão do MP"

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"Seguidamente, o Sr. Juiz profere o seu Despacho:

"- Pelos motivos que deixamos consignados no nosso despacho anterior, e como muito
bem diz o MP, a inquirição da mencionada pessoa não é necessária e muito menos
essencial, à descoberta da verdade e à boa decisão da causa.

Vai, por isso, indeferida a arguição de nulidade"

- E deste despacho já há recurso, num prazo de 30 dias! Porque saber se há ou não


nulidade não depende da livre resolução do tribunal (Art. 399º/400º, nº1, al. b), à contrario
CP).

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- Relativamente ao auto de notícia:

- Há um crime de injúria (Art. 181º CP) e de tentativa de homicídio (Art. 131º


CP/Art. 22º CP)

- Não há crime de ameaça (Art. 153º CP), uma vez que a ameaça feita integra o
próprio homicídio tentado (é um acto de execução do crime de homicídio).

O crime de homicídio é na forma tentada, porque por razões alheias à sua vontade,
o autor não consumou o crime (elemento: morte não foi consumada). A pessoa que
dispara acaba por ter "sorte" ao não matar. Por isso, o crime é um crime de homicídio na
forma tentada.

O Crime de Homicídio Tentado é praticado por António Freitas, e o Crime de


Injúria é praticado por António Freitas e por Bento Silva.

O crime é de injúria e não de difamação (Art. 180º CP), porque a difamação há


uma espécie de triângulo, porque envolve um terceiro a quem são dirigidos os insultos do
ofendido, e na injúria o insulto é direto.

O crime de homicídio é um crime público (o procedimento criminal não depende


de queixa do ofendido nem de acusação particular), e a injúria é um crime particular
(porque depende de acusação particular - Art. 188º CPP).

Nos crimes de acusação particular o ofendido tem de apresentar queixa, e


posteriormente tem de se constituir assistente (Art. 68º CPP) e, por fim, deduzir acusação
particular. São três momentos diferentes! (Art. 50º CPP).

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O ofendido faz queixa aos órgãos de polícia criminal (os crimes particulares
também dependem de queixa do ofendido!). Prazo: 6 meses (Art. 113º, nº5 CP)

Depois, para se constituir assistente, num crime particular, tem o ofendido de fazer
um requerimento, dirigido ao Juiz de Instrução Criminal (porque estamos em Inquérito),
a pedir a constituição de assistente (Art. 68º, nº2 CPP):

"Exmo. Sr. Juiz de Instrução Criminal da Comarca do Porto,

José Andrade da Silva, queixoso (já apresentou queixa!) identificado nos autos, EXPÕE:

Pretende constituir-se assistente nestes autos.

Porque constituiu advogado (é obrigatório - Art. 70º CPP), porque está em tempo (respeita
o prazo do Art. 68, nº2 CPP), e auto-liquidou a respetiva taxa de justiça (é necessário
pagar-se 1 UC para se constituir assistente), e tem legitimidade REQUER a V. Ex.ª, nos
termos do disposto no Art. 68, nº1, al. b) e nº2 CPP, do Art. 70º, nº1 CPP, e do Art. 8º do
Regulamento das Custas Judiciais (RCJ), se digne admiti-lo a intervir nos autos naquela
qualidade."

Depois, isto vai ao Juiz de Instrução, e este Juiz manda notificar o MP e o arguido
para que estes digam se se opõem à constituição de assistente (Art. 68, nº4 CPP). E,
depois, o juiz emite despacho de constituição de assistente, notificando-o.

Apresentada a queixa, começa a correr o processo. Pode o assistente desistir?


Pode! Art. 116º CP. E o juiz tem de homologar esta desistência, perguntando ao arguido
se se opõe.

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Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 17 de outubro de 2014, 10h15

- Aula na Sala de Atos !!!!!

- 3 de Dezembro - 14h30 - Dia Europeu do Advogado (UCP)

- Grupo do trabalho: Rui M Vasconcelos Pinto, Francisca ML, Catarina Rios,


Catarina Silva, Inês Cortinhas, Tatiana Rosário, Daniela Vieira

- Tema: Alteração Substancial e Não Substancial dos Factos

A regra é que o MP tem legitimidade para promover o Processo Penal (Art. 58º
CPP), que se aplica aos crimes públicos, salvo as excepções dos crimes semi-públicos
(Art. 49º CPP) e particulares (Art. 50º CPP).

O prazo para apresentar queixa é de 6 meses a partir da data do conhecimento do


crime e dos seus autores (se o crime foi cometido no dia 17 de outubro de 2014, o prazo
termina no dia 17 de abril de 2015. Se esse dia for Sábado ou Domingo, à cautela é melhor
apresentar no dia útil anterior, porque trata-se de um prazo de caducidade) - Art. 115, nº1
CP

Pode-se desistir da queixa (Art. 116º CP), mas o arguido pode não aceitar. Mas é
sempre aconselhável que aceite a desistência, por uma questão de precaução (Art. 51º
CPP e Art. 116, nº2 CP).

- Art. 68º, nº2 - 10 dias para, nos crimes particulares, haja lugar à constituição de
assistente.

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- Art. 141, nº7 CPP - o depoimento do arguido no interrogatório é gravado (e é


lavrado um ato). Posteriormente, há um auto de inquirição do assistente (que é
datilografado), e depois há um acto de inquirição de testemunha (que também é
dactilografado).

- Art. 255, nº4 CPP - nos crimes cujo procedimento dependa de acusação
particular não há lugar a detenção em flagrante delito, mas apenas à identificação
do infrator.

No caso do auto de notícia, em que o crime de injúria é particular, a detenção não


podia ter sido feita.

- António Freitas, que deu o tiro e injuriou, podia ser detido (porque estava em
causa um crime público);

- Bento Silva apenas cometeu um crime de injúria (crime particular), logo não
podia ter sido detido.

Se o crime de injúria (em regra, crime particular), for cometido contra um docente,
por exemplo, ou contra uma autoridade pública, o crime é semi-público (Art. 188º CP +
Art. 184º CP + Art. 187º CP).

E nestes casos, pode haver lugar a detenção (Art. 255, nº 3 CPP) - Art. 255, nº1,
al. b) CPP - qualquer pessoa pode proceder à detenção, de acordo com este artigo

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Pode-se desistir da queixa até à publicação da sentença em primeira instância (a


publicação é feita com a leitura total da sentença).

Mas, note-se que uma coisa é a desistência da queixa e outra coisa é a renúncia da
queixa. Desiste-se de uma queixa que já se apresentou, e renuncia-se ao direito de
apresentar queixa que ainda não existiu.

As finalidades da detenção encontram-se previstas no Art. 254º CPP.

Há uma diferença entre detenção e prisão. A prisão é uma pena (pena de prisão)
ou uma medida de coação (prisão preventiva).

- Para quê que se detém? (Art. 254º CPP)

- Para se apresentar o detido a Processo Sumário, no prazo máximo de 48h - Art.


381º e ss CPP

- Para o detido ser presente ao juiz para primeiro interrogatório judicial (no prazo
de 48h) - Art. 141º CPP

- Para a aplicação e execução de uma medida de coação (no prazo de 48h)

- Para assegurar a presença imediata, ou no mais curto prazo (sem nunca exceder
24h), do detido perante autoridade judiciária (juiz, juiz de instrução ou procurador
do MP) em ato processual. Pode ser detida uma testemunha, um perito, porque
estas pessoas foram previamente notificadas de forma legal para comparecer a
uma diligência judiciária, e faltou sem justificação (Art. 116/117º CPP). Como
não se justificou a falta, vai ser aplicada uma multa e pode ser ordenada a sua
detenção para que essa pessoa seja presente a uma autoridade judiciária para que
se realize a detenção, noutra data.

- Nota: se eu for a pessoa a deter, e tiver um polícia à porta de casa com um mandato de
detenção, eu alego que não vou, porque o polícia não pode entrar em minha casa, porque
não tem mandato de busca, sob pena de cometer um crime!

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- Art. 255º CPP - detenção em flagrante delito

- Art. 255, nº4 CPP - se o infrator não tem identificação, leva-se o infrator para a esquadra
para que ele se identifique (Art. 250º CPP), e isto não é uma detenção.

- Art. 256º CPP - está prevista a "quase flagrante delito" ("acabou de cometer")

- Art. 257º CPP - detenção fora de flagrante delito

- Só pode o juiz, o MP ou uma autoridade judicial proceder a esta detenção

Podia o António Freitas ter sido detido pelos populares (em flagrante delito)? Sim,
mas com que finalidade?

Ac. 174/2014 TC - decreta a inconstitucionalidade com força obrigatória e geral


do Art. 381º CPP, dizendo que o processo sumário só pode ser usado para crimes puníveis
com pena de prisão até 5 anos (devido à questão da redução excessiva das garantias de
defesa do arguido).

Portanto, no auto de notícia, não podíamos ter detenção com a finalidade de


Processo Sumário, porque trata-se de um crime de homicídio na forma tentada.

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Mas podia ter sido detido para ser presente a primeiro interrogatório judicial (Art.
141º CPP). Ou seja, o MP ouve o arguido nos termos do Art. 143º CPP (interrogatório
não judicial), e depois, se entender que não o deve libertar, o MP aplica o Art. 141º CPP,
para apresentar o arguido ao juiz de instrução (primeiro interrogatório judicial de arguido
detido).

O interrogatório do Art. 141º CPP serve, sobretudo, se o MP quiser aplicar uma


medida de coação, que só pode ser aplicada pelo juiz.

Ou seja, a detenção é feita pelos particulares, chamam as autoridades judiciárias,


que mantêm a detenção!

No auto de notícia, o detido António Freitas vai ser apresentado ao MP.

Temos também uma "nota de constituição de arguido". A PSP deteve António


freitas, e constitui-o arguido (Art. 57º e Art. 58º CPP), indicando-o os seus direitos e
deveres (Art. 61º CPP). A constituição do arguido faz-se informando-o dos seus direitos
e deveres, e se estas formalidades não forem observadas, as declarações do arguido não
valem como prova (Art. 58, nº5 CPP - é prova proibida). É-lhe entregue, ao António
Freitas, a nota de constituição de arguido, para assinar e para ficar com cópia.

Posteriormente, aplica-se o Art. 196º CPP, pedindo-se ao arguido que assine o


Termo de Identidade e Residência, indicando a residência onde pode ser notificado por
via postal simples e não registada. Se mudar de residência, deve o arguido comunicar, ou
se se ausentar por mais de 5 dias, deve comunicar também, sob pena de a notificação ser
considerada como válida.

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Depois o arguido é notificado, nos termos da Lei 34/2005, para constituir defensor
(passando-lhe uma procuração), e caso isto não se verifique, é-lhe nomeado um advogado
oficiosamente para os atos processuais em que é obrigatória a presença de defensor (Art.
64º CPP).

E, depois, é feito este mesmo processo para Bento Silva.

E, posteriormente, surge o auto de apreensão (pag. 13).

E depois surge o auto de interrogatório do arguido (interrogatório não judicial -


Art. 143º CPP).

- Art. 275º CPP: tudo é reduzido a autos

Se o arguido mentir quanto à sua identificação, comete o crime previsto no Art.


359º CP.

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Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 24 de outubro de 2014, 10h15

- Simulação do primeiro interrogatório judicial do arguido detido

* Art. 141º CPP

Quando o sujeito é detido, fora dos casos do Art. 254º CPP + Art. 143º CPP, vai
ser presente ao MP (Art. 259º CPC).

O arguido é interrogado pelo juiz de instrução em ato seguido à detenção só no


caso em que já há despacho a aprovar uma medida de coação, e ainda não se conseguiu
aplicar (há, nestes casos, mandados de detenção, e apenas um juiz pode aplicar uma
Medida de Coação - nunca o MP).

Mas a regra é que, posteriormente à detenção, o sujeito é presente ao MP e o MP


decide o que fazer.

Mesmos nos casos em que há despachos do juiz a mandar aplicar as medidas de


coação, a polícia pode levar o sujeito ao MP, que depois o encaminha para o juiz de
instrução.

E este primeiro interrogatório do MP (interrogatório não judicial), segue as regras


do interrogatório judicial do Art. 141º CPP.

Se, posteriormente, o MP não libertar o sujeito (dentro das 48h para a detenção),
o sujeito tem de ser presente ao juiz de instrução (Art. 143º, nº3 CPP), para aplicação de
MC, no âmbito do primeiro interrogatório judicial (Art. 141º CPP).

O sujeito detido vai para a esquadra quando o agente policial tem ordens para o
fazer (e não para o levar a tribunal diretamente).

Pode o MP libertar o arguido sem aplicação de MC, quando não se verifiquem os


requisitos do Art. 204º CPC (pelo menos um).

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Note-se que o crime, e a sua natureza, por si só, não faz imediatamente suscitar
um dos perigos do Art. 204º CPP.

Temos de articular o Art. 141º CPC (que é uma diligência autónoma) com o
despacho a requerer uma MC (Art. 194º CP) - embora possam os dois atos ocorrer no
mesmo momento, estes dois atos são sempre diferentes.

Portanto, a audição para aplicação de MC pode ser feita num ato autónomo do
interrogatório

* Para a próxima aula:

- abordagem ao Art. 194º CPP

- preparar a promoção do MP a pedir a MC, a oposição do defensor e o despacho


do juiz (com audição prévia)

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Praticum Processo Penal


Sexta-feira, 31 de outubro de 2014, 10h15

Hoje vamos simular a aplicação de uma MC.

Uma vez ouvido o arguido sobre os factos que lhe são imputados, em primeiro
interrogatório do arguido detido, agora se fosse o mesmo interrogatório, o que é que a
Sra. Juiz faria?

Estamos, no caso concreto, na fase de Inquérito!

- Art. 194º, nº1 CPP

Pode o juiz, lendo o Art. 194º, nº1 CPP, no final do primeiro interrogatório judicial
do arguido, pode o Juiz aplicar a MC sem mais? Sem ouvir o MP? Não, tem sempre de
ouvir o MP: durante o inquérito, a MC é sempre decretada mediante requerimento do MP,
sob pena de nulidade; e depois do inquérito, o Juiz pode aplicar oficiosamente a MC, mas
sempre ouvindo o MP, sob pena de nulidade.

Por isso, o MP tem de dizer à Juiz que quer fazer um requerimento para aplicar
uma MC.

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Mas, se estamos nas fases posteriores ao Inquérito (instrução, julgamento ou


recurso), o juiz pode oficiosamente decidir a aplicação de um MC, mas sempre ouvindo
o MP, sob pena de nulidade.

- Existe uma nulidade insanável (Art. 119º, nº 1, al. b) CPP).

- Mas há quem entenda que só há nulidade insanável se a lei expressamente


o disser, tratando-se então de uma nulidade relativa, dependente de
arguição. Rui Silva Leal não entende desta forma, e entende que estamos
no âmbito de uma nulidade insanável, ou seja, não está dependente de
arguição, e quando o juiz tem dela conhecimento tem o dever de
oficiosamente a declarar, e pode invoca-la a todo o tempo, até ao trânsito
em julgado da sentença. (Tese de Doutoramento do Professor Damião da
Cunha fala disto). Por isto é que se diz que a nulidade insanável fica sanada
com o trânsito em julgado da decisão.

- Mas, por outro lado, a prova proibida sobrevive ao caso julgado, e pode
ser fundamento de recurso de revisão (Art. 449º. nº1, alínea e) CPP).

Mas nesta questão das Nulidades, a terminologia usada no CPP nem sempre é a
mais correta: estamos no âmbito de uma nulidade insanável, e no entanto, o Art. 194º, nº1
CPP apenas refere "nulidade"

E há casos em que se fala de nulidade quando na verdade se está a falar de prova


proibida (Art. 126º, nº1 CPP). Mas, nestes casos, mesmo que a nulidade não seja arguida,
ela nunca é sanada! Portanto, este vício não é o da nulidade mas sim o da inexistência de
prova. O vício da inexistência parece, pela primeira vez, no código de Napoleão, a
propósito dos casamentos e dos divórcios (O casamento forçado, contra a vontade, não
era nulo, era inexistência).

E porquê que o legislador no Art.126º CPP nem sequer fala de nulidade insanável?
Só fala de nulidade? Para Rui Silva Leal a redação do Art. 126º CPP foi retirada na íntegra
do artigo semelhante da CRP, pelo que, o legislador penal ordinário não quis corrigir o
legislador constitucional. Por isto é que se fala em nulidade, mas o intérprete tem de
enquadrar esta situação num regime de inexistência de prova. Por isso é que uma

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confissão do arguido feita sob tortura, obviamente não vale como prova, é uma prova
proibida: mais do que nula, é inexistente, e sobrevive ao caso julgado, podendo ser
arguida sempre, como fundamento de recurso de revisão.

Portanto: o art. 194º, nº1 CPP é uma nulidade insanável. (Art. 119º, nº1, al. b)
CPP).

Este artigo 194º, nº1 CPP também se aplica às medidas de garantia patrimonial.

A caução é uma medida de garantia patrimonial? Sim, no caso do Art. 227º CPP
(caução económica). A caução económica não tem nada que ver com a caução do Art.
197º CPP. O Art. 197º CPP é uma MC e o Art. 227º CPP é uma medida de garantia
patrimonial.

O juiz na aplicação de MC está vinculado ao Princípio da Legalidade, pelo que


não pode inventar outras MC, porque as MC restringem a liberdade de um presumido
inocente em virtude de exigências cautelares.

As medidas de garantia patrimonial são só duas: caução económica e arresto


preventivo e aplicam-se quando há um fundado receio de diminuição substancial das
garantias patrimoniais do causador do crime, e não vai ter património para pagar as
multas/custas e indenizações processuais. Ou seja, garantem patrimonialmente o
pagamento futuro de multas, custas ou indemnizações.

A regra é que primeiro tentamos aplicar a caução económica e só depois o arresto,


mas também se pode aplicar o arresto primeiramente.

Mas o fundado receio que se refere no Art. 227º CPP tem de ser transformado em
facto! Porquê que há fundado receio? (o arguido tem um carro e colocou-o à venda na
internet, por exemplo).

A caução do Art. 197º CPP era antigamente chamada de caução carcerária (para
não ir preso preventivamente, pode o arguido prestar caução - Art. 205º CPP e ss).

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Se na diligência, o procurador do MP promoveu a aplicação de uma MC (prisão


domiciliária - Art. 201º CP), porque soube que o arguido andou a telefonar às testemunhas
a ameaça-las, havendo perigo de perturbação do inquérito se o arguido estiver em
liberdade.

O MP pede a prisão domiciliária com base no Art. 204, al. b) CPP.

Mas o senhor juiz aplica a prisão preventiva. Pode? Não - Art. 194º, nº3, porque
o fundamento do MP foi o da al. b) do Art. 204º CPP. Mas o 194º, nº2 CPP permite, se o
fundamento do MP for diverso (Art. 204º, al. a) e c) CPP).

Estes dois artigos foram alterações de 2013! Porque antigamente, fosse qual fosse
o fundamento da aplicação de MC, o juiz de instrução nunca pode aplicar MC mais grave
do que a requerida pelo MP, porque o MP é que dirige o inquérito.

A fundamentação da al. b) do Art. 204 refere-se ao perigo de perturbação do


inquérito, pelo que, como é o MP que dirige o inquérito, com esta fundamentação, nunca
pode o juiz aplica MC mais gravosa.

Mas surge uma dúvida: o MP requer a aplicação da prisão domiciliária com base
na perturbação do inquérito (Art. 204º, al. b) CPP), e o juiz diz que quer aplicar prisão
preventiva, mas já com base no Art. 204, al. a) CPP. Pode? Há divergência doutrinal.
Mas, à partida, não pode, porque o juiz está vinculado ao fundamento do requerimento
do MP (Damião da Cunha e Rui Silva Leal defendem isto). Rui Silva Leal entende que
há uma nulidade insanável (Art. 119º, al. b) CPP) nestes casos. Mas a jurisprudência não
concorda, e permite que os juízes apliquem medidas mais gravosas fundamentadas
noutras alíneas do Art. 204º CPP.

E se o MP requerer, com base no Art. 204º, al. b) CPP, a aplicação ao arguido de


uma caução (MC - Art. 197º CPP), de 15.000 euros, e o juiz, com base nesta alínea b) do
Art. 204º CPP aplica-lhe 25.000 euros. Não pode! Durante o inquérito isto não pode
acontecer (Art. 194,º nº3 CPP).

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E imagine-se que a arguida é detida e sujeita a prisão preventiva em novembro de


2012. Logo a seguir, em Março 2013 entra em vigor a Nova Lei que altera o CPP, que
vem dizer que o juiz de instrução pode aplicar uma MC mais gravosa do que a que foi
requerida pelo MP, durante o inquérito (dependendo do fundamento). Contudo, em
novembro de 2012, o CPP referia que o juiz não podia aplicar MC mais gravosa, seja qual
for e independentemente do fundamento. Em Maio de 2013 o MP promove a libertação
da arguida, 9 dias antes do término do prazo de libertação da arguida pelo prazo máximo
da prisão preventiva. A arguida é libertada e notificada para se pronunciar sobre novas
MC a aplicar (apresentações periódicas 1 vez por mês, e suspensão da atividade da PJ).
E a Juiz de Instrução, contra quem já tinha sido apresentada uma queixa da arguida, por
factos passados, depois vem dizer que quer aplicar uma MC mais gravosa, tornando as
apresentações periódicas para todos os dias do mês.

Pode a juiz fazer isto? Art. 5º CPP - aplicação da lei no tempo (Art. 5º, nº2, al. a)
CPP - lei adjetiva/processual é de aplicação imediata a qualquer processo, novos ou
pendentes; no DPP também é assim, a não ser que dessa aplicação imediata da lei possa
resultar para o arguido um agravamento sensível da situação processual do arguido).

Portanto, não pode a juiz fazer isto (Ac. Relação Coimbra de 16/10/2013).

Ainda a propósito das MC, quando não há alteração das circunstâncias, não pode
haver alteração da MC.

O Art. 191º CPC releva para a aplicação das medidas de coação.

Só se pode aplicar MC se se verificar pelo menos um dos perigos do Art. 204º


CPP.

Depois, temos de recorrer ao Art. 193º CPC.

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Uma coisa é o primeiro interrogatório do arguido, e coisa diferente é a audição do


arguido para a aplicação das MC. Podem ocorrer ao mesmo tempo, mas também podem
ocorrer em separação.

- Para aplicação da MC, o juiz tem de fazer um juízo valorativo tríplice:

1) Verifica-se, ou não, algum dos perigos do Art. 204º CPP? Se sim, então é
necessário aplicar uma MC.

2) Sendo necessária uma MC, qual é a MC adequada (princípio da adequação)?


(Art. 197º CPP a 202º CPP). Primeiro tem que se ver qual o crime imputado, e
perceber a pena abstratamente possível. Depois, no caso concreto, qual é a MC
mais adequada, sendo certo que a prisão preventiva é a medida excepcionalíssima.

3) De acordo com as sanções aplicáveis e com a gravidade do crime, vamos agora


afinar a MC - princípio da proporcionalidade.

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Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 31 de outubro, 17h30

- Aula de Recursos no Processo Penal

Os recursos estão previstos no CPP: começam no Art. 399º CPP até ao 436º CPP.

Vamos apenas abordar os recursos ordinários (e não recursos extraordinários: para


fixação de jurisprudência e de revisão).

A regra é a de que se pode recorrer de todas as decisões cuja irrecorribilidade não


esteja prevista no código.

Só se pode recorrer das decisões judiciais, de magistrados judiciais/juízes. Nunca


se pode recorrer das decisões do MP (onde só cabe reclamação ou impugnação, por
exemplo).

Portanto, só se pode recorrer de acórdãos (sentenças de tribunais coletivos ou de


júri), sentenças e despachos interlocutórios.

Quando pensamos num recurso, normalmente pensamos no recurso de uma


sentença. Embora se possa recorrer, também, de qualquer despacho, desde que a lei não
diga que eu não posso.

- Art. 141º, nº6 CPP - está referido que o MP e o defensor podem sugerir
ao juiz determinadas perguntas a dirigir ao arguido. Mas o juiz pode
indeferir estas perguntas por despacho irrecorrível, logo não é possível
recurso destas decisões judiciais.

Mas para eu recorrer de uma decisão eu tenho de conhecer o seu processo de


tomada de decisão.

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Para se saber como é que se faz uma sentença, temos de recorrer ao CPP (art. 374º
CPP). A sentença tem, fundamentalmente, três partes (nos números 1, 2 e 3 do referido
artigo).

A sentença começa pelo relatório: o relato daquilo que passa formalmente no


processo, começando por identificar o arguido. Depois, identifica-se o assistente, as
partes civis e, posteriormente, indica-se os crimes imputados ao arguido e, por fim, um
resumo da contestação do arguido (Art. 315º CPP), caso ele queira apresentar.

A segunda parte da sentença é a fundamentação (Art. 374º, nº2 CPP). Esta é a


parte fundamental da sentença. A fundamentação significa que o juiz vai ter que dizer, no
fim do julgamento, nesta sentença, por escrito, quais são os factos que considera provados
(FACTOS PROVADOS), enumerando-os, e quais os factos não provados (que foram
levantados na audiência de julgamento). E, ainda na fundamentação, tem o António que
explicar porque motivo considera os factos provados e os factos não provados,
explicando. Isto é importante para que toda a gente entenda qual foi o raciocínio feito
pelo tribunal para chegar àqueles factos provados e àqueles factos não provados. A
comunidade, em geral, se quiser ler aquela sentença, têm de conseguir perceber qual foi
a decisão da matéria de facto. Aliás, o próprio tribunal, ao escrever, autocontrola-se. E,
depois, há que referir também a fundamentação de direito, após a fundamentação de facto.
Ou seja, com os factos provados, o tribunal integra determinada norma jurídica,
fundamentando o direito aplicado. O tribunal pensa nos factos integrando-os
juridicamente, fundamentando/explicando a decisão de facto e de direito.

A terceira parte é a parte decisória: qual a decisão final.

Mas a sentença pode estar ferida de determinados vícios, como a nulidade (Art.
379º CPP), como é o caso da falta de fundamentação da sentença. A falta total da
fundamentação constitui nulidade, mas se a falta for meramente parcial. Mas se a
fundamentação faltar, apenas em parte, então só estamos perante uma insuficiência e
nunca uma nulidade.

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E qual é o tribunal de recurso competente?

- Art. 427º CPP e Art. 432º CPP

No Art. 427º CPP refere-se que excetuando-se os casos em que há recurso direto
para o STJ (recurso per saltum), o recurso, por regra, interpõe-se da primeira instância
para a relação.

Portanto, o recurso da primeira instância, se não for um recurso per saltum (Art.
432º CPP), é recorrível para a Relação (Art. 427º CPP). Note-se que, p ex, os juízes de
primeira instância são julgados na relação, os juízes desembargadores (da relação), sao
julgados no STJ, e os juízes do STJ são julgados, também, da relação. Por isso, a Relação
funciona como primeira instância quando julga juízes ou procuradores que trabalham na
primeira instância.

- Art. 400º CPP

- Art. 414º CPP

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Prazos de recurso

- Art. 411º CPP

O prazo começa a contar no dia seguinte ao depósito da sentença na secretaria,


que é quando a mesma fica acessível a todos os intervenientes processuais.

Por vezes sucede que, lida a sentença, queremos interpor recurso imediatamente
após a leitura da mesma, através de um requerimento ditado para a ata (Art. 411º, nº2
CPC): "Não me conformando com a sentença acaba de proferir, dela pretende interpor
recurso, para o tribunal da relação do Porto, a subir imediatamente nos próprios autos
(Art. 406º CPP), com efeito suspensivo (Art. 408º CPP).”

E a partir daqui temos 30 dias para apresentar a explicação do recurso.

O prazo de recurso alarga-se se o processo for de espcial complexidade (se for,


por exemplo, muito grande) - Art. 107º, nº6 CPP.

Quem é que pode recorrer? - Legitimidade e interesse em agir

- Art. 401º CPC

O MP pode recorrer, incluindo recorrendo no exclusivo interesse do arguido.

O arguido e o assistente só podem recorrer de decisões contra si proferidas. E o


mesmo se aplica às Partes Civis.

Portanto, a legitimidade para recorrer afere-se antes da decisão ser proferida.


Depois de proferida a decisão, trata-se do interesse em agir, e aí, à excepção do MP,
interessa saber contra quem é a decisão.

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Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

Por outro lado, já ouvimos falar que o recurso sobe imediatamente, sobe nos
próprios autos, e tem (ou não) efeito suspensivo. Estamos, na verdade, a falar do Art.
406º, Art. 407º, e Art. 408º CPC.

O que é subir nos próprios autos? E subir em separado? - Art. 406º CPC

Estamos na primeira instância e interpomos recurso para a relação. Isto significa


que o recurso vai subir para um tribunal superior. E pode subir nos próprios autos, ou
seja, as folhas do recurso são metidas no processo, e o processo, c/ o recurso, vai subir
para o tribunal superior. Ou, então, pode o recurso subir em separado: o processo continua
a sua tramitação normal na primeira instância, e o recurso, sozinho, sobe em separado
(separado do processo), ao tribunal superior, e eventualmente junto de algumas folhas do
processo, para instruir o recurso.

Art. 407º CPP - Art. 406º CPP - Art. 408º CPP

Quando é que o recurso vai para o tribunal superior? No momento em que é interposto
ou mais tarde? Art. 407º CPP

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Recurso de decisão condenatória. Regime de subida:

- Sobe imediatamente - Art. 407, nº2, al. a) CPP

- Nos próprios autos - Art. 406º, nº1 CPP

- Efeitos: Art. 408º CPP

Uma coisa é o efeito suspensivo do processo (todo o processo para, incluindo os


efeitos da decisão, que faz parte do processo) e coisa diferente é o efeito suspensivo da
decisão do processo (o processo continua a tramitar, mas aquela decisão é suspensa nos
seus efeitos).

Art. 400º CPP – este artigo refere quando é que não é admissível recurso.

Mas há outros casos previstos na lei, sem ser o Art. 400º CPP:

- Art. 42º, nº1 CPP

- Art. 86º, nº2 e nº5 CPP

- Art. 141º, nº6 CPP

- Art. 291º, nº2 CPP (mas pode-se recorrer do despacho que indefere a
reclamação)

- Art. 310º, nº1 CPP

- Art. 313º, nº4 CPP

- (...)

Nota:

- Art. 400º, nº1, al. a) CPP (um despacho de mero expediente destina-se a prover
o regular andamento do processo - Art. 152º, nº4 CPCivil - por exemplo: notifico
o arguido para comparecer no dia X à audiência de julgamento).

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Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 14 de novembro de 2014, 10h15

- Na próxima semana não haverá aulas!

- Teste (amanhã): medidas de coação, detenção, recursos, requerimentos, etc....

- Será 1 caso prático

Revisões para o primeiro teste:

Imagine-se que há uma aplicação de uma MC.

O defensor do arguido interpõe recurso, sendo que o requerimento deve ser


entregue no local em que está o processo (eventualmente, na primeira instância).

E depois aplica-se o art. 414º CPP. Se o juiz que decretou a MC não admitir
recurso (só pode não admitir o recurso com os fundamentos do Art. 414º, nº2 CPP), há
lugar a reclamação para o presidente do tribunal para onde iria o recurso (art. 405º CPP).
Contudo, esta reclamação é entregue, na mesma, na primeira instância.

Imagine-se que o juiz que decretou a MC julga admissível o recurso. O recurso


tem de ser entregue com cópias, depois o juiz vai ao juiz, que admite o recurso, e depois
a secretaria envia o recurso aos restantes intervenientes processuais (MP, assistente e
partes civis), para que estes possam responder ao recurso (art. 413º CPP). Depois da
resposta deles, é tudo junto ao processo e é enviado o recurso ao tribunal superior.

E, depois, há que ver se o recurso sobe nos autos ou em separado (art. 406º, art.
407º e art. 408º CPP).

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Perante o caso concreto é fácil percebermos qual é o regime de subida do recurso


(art. 406º CPP), qual é o momento da subida (art. 407º CPP) e quais são os efeitos do
recurso (art. 408º CPP).

Para sabemos, antes de mais nada, o momento da subida (se sobe já, ou se sobe
no fim), há que ver o art. 407º, nº2 CPP. Só se não couber neste artigo é que vamos tentar
aplicar o art. 407º, nº1 CPP. Se não couber em nenhum destes números, então significa
que o recurso não sobe imediatamente e que a situação cabe no art. 407º, nº3 CPP. Se o
recurso não sobe imediatamente, significa que o recurso está pronto, mas fica retido no
processo, subindo em diferido (até decisão que ponha termo à causa, que pode ser um
simples despacho de prescrição, ou uma sentença). Caso o recurso suba imediatamente
(art. 407º, nº1 e nº 2 CPP), isto significa que o recurso mal esteja pronto sobe ao tribunal
superior.

Note-se: se o recurso de determinada decisão subir em diferido (art. 407º,


nº3 CPP), é preciso interpor-se recurso da decisão que põe termo à causa
para que este recurso que sobe em diferido e que "ficou em banho maria",
suba também!

Que casos é que cabem no art. 407º, nº1 CPP? Este artigo refere-se a recursos que
sobem imediatamente, porque a sua retenção os tornaria "absolutamente inúteis". Quer
isto dizer que se aquele recurso vier a ser guardado no processo, quando vier a ser
decidido mais tarde já não vale a pena.

Durante o inquérito, há uma testemunha do arguido que assistiu aos factos todos,
mas que está doente e que vai morrer. Pode-se ouvir a testemunha no inquérito,
normalmente, mas se ela morrer impossibilita a utilização das suas declarações prestadas
em inquérito ou instrução na audiência de julgamento. Então pede-se no inquérito que
esta testemunha seja ouvida para declarações para memória futura, fazendo-se uma
espécie de antecipação de julgamento no inquérito (esta testemunha será ouvida numa
espécie de mini-julgamento, perante um juiz e advogados. Estas declarações serão
gravadas e poderão ser usadas, caso a testemunha morra, em audiência de julgamento).

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Contudo, o juiz no inquérito indefere este pedido de audição da testemunha para


memória futura. E nós interpomos recurso! Ora, este recurso não consta do art. 407º, nº2
CPP (casos em que o recurso sobe imediatamente). Mas cabe no art. 407º, nº1 CPP,
subindo imediatamente. Porque se o recurso fosse retido, a testemunha poderia acabar por
morrer, tornando inútil o recurso!

Ou seja: "absolutamente inútil" é sempre uma expressão utilizada quando


está em causa a "morte" de alguém/de alguma testemunha por exemplo.
("só quando se vai para o paraíso inquirir testemunhas é que se usa o Art.
407º, nº1 CPP).

Art. 64 CPP: casos de obrigatoriedade de assistência (advogado).

- Note-se que o MP é uma "autoridade judiciária" (art. 1º CPP).

Rui da Silva Leal: "O Estado é uma pessoa de mal. O Estado existe porque existem
pessoas. O Estado/os tribunais existem para servir as pessoas. Não é o contrário: as
pessoas não existem para servir o estado!"

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Portanto, em caso de recurso, a primeira coisa a fazer é ir ao Art. 407º CPP e


perceber o momento da subida: sobe já ou sobe mais tarde?

Depois disto, temos de saber se o recurso sobe nos próprios autos ou se sobe em
separado? (Art. 406º CPP).

O prazo de recurso é de 30 dias (art. 411º CPP).

Há uma sentença que condena o arguido. Qual é o seu momento de subida? Art. 407º, nº2
CPP - sobe imediatamente.

E qual é o regime da subida? Sobe nos próprios autos - Art. 406º, nº1 CPP - ou
seja, este recurso que vai em papel, por email, por fax, e que depois é imprimido na
secretaria do tribunal, sendo posteriormente inserido no processo. Depois, vai ao juiz, que
admite o recurso, sendo enviadas cópias aos restantes intervenientes. Depois, sobem os
autos (todo o processo) à relação, porque o recurso está dentro do processo.

Se não subir nos próprios autos, o processo continua a sua marcha normal na
primeira instância, e é enviado para o tribunal superior só o recurso (sobe em separado).

Ora, nos próprios autos sobem todos os recursos que coloquem termo à causa/ao
processo, sendo despachos ou sentenças. Por outro lado, na segunda parte do art. 406º,
nº1 CPP diz-se que também sobem nos próprios autos os recursos os recursos retidos (art.
407º, nº3 CPP), ou seja, os recursos que devam subir com os recursos das decisões que
coloquem termo à causa.

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Imagine-se que somos advogados do arguido que foi preso preventivamente. Não
concordamos e interpomos recurso.

- Momento da subida: Art. 407º, nº2, al. c) CPP - Sobe imediatamente

- Regime da subida: Art. 406º, nº2 CPP - porque o recurso não ficou retido,
subindo imediatamente, e porque não se trata de uma decisão que coloque termo à causa.

- Só falta ver os efeitos do recurso (art. 408º CPP).

Quanto aos efeitos do recurso

- Art. 408º, nº1 CPP - efeito suspensivo do processo

* Recurso de decisões finais condenatórias

* Recurso de despachos de pronúncia (no final da instrução, em que o juiz


pronuncia o arguido e o manda para julgamento).

- Nestes casos, o recurso tem efeito suspensivo do processo, ou


seja, enquanto o recurso não for decidido, todo o processo fica
suspenso.

- Art. 408º, nº2 CPP - efeito suspensivo da decisão (o processo continua a andar,
mas aquela decisão fica suspensa, não sendo cumprida a decisão (a decisão fica "em
banho maria/à espera") até que seja decidido o recurso).

* É o caso da quebra da caução! Se o arguido não concordar com a quebra


da caução, este recurso suspende a decisão recorrida, ou seja, o arguido
não perde o dinheiro até o recurso ser decidido.

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Se não se tratar de nenhuma situação prevista nestes artigos, o recurso não tem
efeito suspensivo. Note-se que não se diz "efeito meramente devolutivo" como no
Processo Civil. Diz-se "sem efeito suspensivo"

- O despacho que aplica MC, a ser recorrido, não tem efeito suspensivo
(sobe imediatamente - art. 407º, nº2, al. c) CPP - em separado (art. 406º,
nº2 CPP) - e sem efeito suspensivo (art. 408º à contrario).

O Art. 408, nº3 CPP refere aos casos do Art. 407º, nº1 CPP (é o caso das declarações para
memória futura).

Nestes casos, estes recursos têm efeito suspensivo no processo se estiverem em


causa atos cuja validade dos atos subsequentes deles depender.

Há um caso em que o advogado tinha dois arguidos, um deles que exercia cargos
políticos (sujeito a um regime próprio, e a processos criminais autónomos dos demais
arguidos). A determinada altura deste processo, é deduzida acusação, no final do
inquérito, o arguido político não quer requerer abertura de instrução, mas o outro arguido
quer. Portanto, o advogado fez requerimento a requerer a separação dos processos, mas a
juiz de instrução indeferiu.

Houve recurso, mas o juiz reteve o recurso, dizendo que o recurso só iria subir no
fim. Portanto, o advogado reclamou para o Presidente da Relação (art. 405º CPP), dizendo
que se o recurso só subisse no fim, então o arguido já teria de ter sido sujeito à instrução,
que era precisamente o que se evitava. Então, o presidente da relação deu razão ao
advogado, permitindo a separação dos processos, e referindo que o recurso tinha de subir
imediatamente, tendo efeito suspensivo do processo, porque dele depende a validade dos
atos subsequentes (in casu, a instrução), isto é, o arguido só consegue não ser sujeito a
instrução se o processo parar enquanto não se decidir o recurso (art. 408º, nº3, primeira
parte CPP). Se assim não fosse, se não envolvesse a validade de atos subsequentes, o
efeito era o mero efeito suspensivo da decisão.

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Saber se o recurso é para o STJ ou para a Relação é fácil:

- Cabe o art. 432º CPP (recurso para o STJ)? Se sim, o recurso é para o STJ.

- Não cabe no art. 432º CPP? Então o recuso é para a Relação (Art. 427º CPP)

Note-se que:

- Uma queixa (crimes semi-públicos ou particulares) é uma denúncia (participação


criminal).

- Mas uma denúncia nem sempre é uma queixa, porque a denúncia pode-se referir
a crimes públicos.

- Nos crimes públicos chama-se sempre "denúncia", e nos crimes


particulares/semi-públicos chama-se sempre "queixa".

- As denúncias ou queixas podem ser verbais (art. 246º CPP).

Art. 218º CPP

- Prazos de duração máxima das MC (medidas de coação).

Dia 26/11 - a partir das 17h00 - reunião de grupo

- Relação do Porto (pesquisar acórdão sobre alteração substancial e não


substancial de factos, pós-2013)

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No inquérito, o juiz só aplica a MC porque o MP pediu; caso contrário não o poderia


fazer.

- Art. 61º CPP

Direitos e Deveres processuais do arguido

- Art. 141º, nº4, al. e) CPP + Art. 194º, nº6, al. b) CPP

- Relação entre Art. 141º, nº4, al. b) CPP com o Art. 64º, nº1, al. b) CPP + Art. 357º, nº1,
al. b) CPP

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Sexta-Feira, 28 de novembro de 2014, 10h15

- Rui da Silva Leal: "A lei existe porque há cidadãos e não o contrário"

Continuando a analisar o nosso caso, na página 20 do caderno II temos o Auto de


Interrogatório Judicial de Arguido Detido:

O arguido não quis constituir advogado, mas como ia ser Interrogado por um juiz,
tinha de ter advogado, sendo-lhe nomeado um (artigo 64º, nº1, als. a) e b) CPP).

Acabando o interrogatório, é dada a palavra ao MP para, por exemplo promover


uma MC.

E, posteriormente, é dada a palavra ao mandatário do arguido.

E, por fim, há despacho do juiz.

Depois na página 27 surge um mandado de condução ao estabelecimento


prisional. O arguido, para entrar no estabelecimento prisional, tem de levar um papel do
juiz.

Neste caso, na pagina 29, a queixa podia ser feita em processo autónomo ou no
processo que já estava a decorrer pelo crime de homicídio.

Tratam-se de crimes semi-públicos e particulares, pelo que é necessário queixa.

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Na página 30, o ponto 6º poderia ser: "Os denunciados agiram de forma voluntária,
livre e consciente, (...), bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por
lei."

O professor acrescentaria um novo artigo na queixa dizendo: "Ambos os arguidos


se constituíram autores materiais de um crime de injúria, p. e p. (previsto e punível) pelos
artigos 181º e 183º, nº1, al. a) CP".

O assistente presta declarações, e não depoimento, porque nem sequer faz


juramento.

Nota: DUC = Documento Único de Cobrança = documento comprovativo da auto-


liquidação da taxa de justiça

Na procuração, substabelecer é nomear outro advogado para substituir, com


reserva (uma vez) ou sem reserva (sempre).

O inquérito vai continuando. O inquérito (artigo 262º CPP) é o conjunto de


diligências de prova, tendo em vista o final do inquérito, procurando perceber se
efetivamente foi praticado um crime, em que circunstâncias e por quem.

Relevam, aqui, os meus de prova e os meios de obtenção de prova.

Desde que não seja prova proibida, é admissível. Mas o MP é que vê, perante o
caso concreto, que tipo de investigação pretende realizar e que tipo de provas deve
produzir.

Sendo que no inquérito, todas as diligências de prova são reduzidas a auto (artigo
275º CPP), com excepção do artigo 141º CPP, que deve ser gravado (interrogatório ao
arguido).

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Se se ouve uma testemunha, faz-se auto de inquirição! As testemunhas são


inquiridas, não interrogadas.

Até que chega um momento em que o MP termina a investigação e encerra o


inquérito. E depois o que pode fazer o MP? O que deve fazer quando o inquérito terminou,
quando não há mais diligências, é estudar cuidadosamente o processo, e quando chega ao
fim deve tomar uma decisão, através de um juízo de prognose póstuma: se com base na
informação recolhida, se se transpuser para julgamento, dará uma provável absolvição ou
uma provável condenação? Se der uma provável condenação, significa que a prova
contém indícios suficientes, deduzindo, portanto, acusação (artigo 283º CPCP)!
Diferentemente, se não existirem indícios suficientes, deve ser arquivado (artigo 277º
CPP) o inquérito.

O arquivamento consta do artigo 277º CPP:

* nº1 - arquivamento por se não ter verificado crime ou, havendo crime,
não ter sido aquele arguido a praticar, ou na hipótese de o crime não ser público.

A redação do artigo 283º, nº2 CPP resultou de uma definição jurisprudencial.

Análise das diligências de prova que temos no nosso Processo (caderno II)

- A partir da página 33

- Artigo 134º CPP

- Artigo 132º CPP

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Praticum Processo Penal

Sexta-Feira, 12 de dezembro de 2014, 10h15

Para o teste sai a matéria até hoje. Ou seja, devemos estudar:

- Matéria para o primeiro teste

- Produção de Prova

- Inquirição de Testemunhas

- Acusação

- Arquivamento

- Fazer minuta das fases processuais (queixa, acusação, etc…)

- (…)

O Artigo 141º, nº4, al. b) CPP está relacionado com o artigo 357º CPP.

- Artigo 141º, nº4, al. b) CPP: São informações que o juiz de instrução, no primeiro
interrogatório, tem de dar ao arguido.

O arguido tem direito ao silêncio, mas se falar, tudo o que disser, pode ser utilizado
no processo, ainda que seja julgado na ausência. E esta advertência tem de ser feita. Se
não for feita esta advertência, em julgamento, depois não se pode utilizar as palavras do
arguido.

Se o arguido presta depoimento em inquérito, perante uma autoridade judicial, a


se esta com ele o defensor, e se esta advertência foi feita, depois em julgamento pode ser
lido o que o arguido disso.

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Isto é relevante porque o artigo 356º CPP diz que , regra geral, nada do que se
passa no inquérito pode ser lido no julgamento, nomeadamente declarações de
testemunhas, a não ser que haja acordo entre todos.

Atente-se aos seguintes artigos:

- Artigo 356º CPP - reprodução ou leitura permitidas de autos e declarações

- nº1, al. a) CPP - é o caso da testemunha que vive em Lisboa e não se pode
deslocar ao Porto. Então o juiz, em Lisboa, ouve a testemunha, e manda a
gravação para o Porto.

- nº1, al. b) CPP - tudo o que são autos do inquérito de depoimentos de


assistente, testemunhas, partes civis, etc não se pode ler, salvo nas
excepções previstas no nº2 do artigo 356º CPP.

- Artigo 357º CPP - reprodução ou leitura permitidas de declarações do arguido

Este artigo foi alterado com a lei 20/2013.

Até esta alteração, as regras deste artigo eram as seguintes: se o arguido


pedisse para se ler o que ele disse no inquérito, então podia ler-se. Podia também
ler-se quando havia discrepância sensíveis quanto ao que disse num inquérito a
um juiz de instrução e o que diz em julgamento.

Com a lei 20/2013, procedeu-se a uma alteração, e agora já não se fala em


"discrepância sensível". Para, em julgamento, o juiz leia as declarações do
arguido, basta que o arguido tenha prestado depoimento em inquérito, perante uma
autoridade judiciária, juiz ou MP, e desde que tenha prestado esse depoimento
perante um defensor (artigo 64º, nº1, al. b) CPP), e desde que o arguido tenha sido
informado. Caso falte o defensor, há nulidade insanável (artigo 119º CPP).

Ou seja, hoje em dia, podemos começar um julgamento, se o juiz quiser,


lendo a acusação ao arguido e depois lendo logo as declarações do arguido em
inquérito. Porquê que se alterou a lei? Porque muitas vezes sucedia que o arguido

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confessava o crime no inquérito e o MP olhava para a confissão e acusava, e


cessava a investigação. Porém, chegava-se a julgamento, e o arguido não
confessava nada, porque nem sequer falava, evitando haver as tais discrepâncias
sensíveis, porque um silêncio não é discrepante com as declarações de inquérito.
Não podendo ler, não havia prova da confissão. Não havendo prova, e não
havendo mais nenhuma prova, tinha de haver absolvição. Mas isto ocorria por
culpa da incompetência do MP.

Atualmente, em julgamento, pode ler-se as declarações do arguido,


mediante o preenchimento dos requisitos referidos.

Problema: atualmente, o juiz tem acesso aos dados do inquérito, mesmo


que não os possa ler em julgamento.

Visto tudo isto, eis a seguinte conclusão:

Há que conjugar o artigo 64º, nº1, al. b) CPP, com o artigo 141º, nº4, al. b) CPP
(e artigo 143º CPP) e com o artigo 357, nº1, al. b) CPP.

Note-se que não se aplica o artigo 144º, nº2 CPP (o OPC, quando procede ao
interrogatório, não pode advertir o arguido que as suas declarações serão lidas em
julgamento, porque o juiz não pode ler estas declarações prestadas ao OPC).

O artigo 144º, nº2 CPP também diz que o OPC (órgão de polícia criminal) não
pode dizer ao arguido, quando o interroga, quais são os elementos de prova/do processo
que indiciam os factos que lhe são imputados. O OPC tem de dizer os factos imputados
ao arguido, mas não lhe pode dizer que provas existem no sentido daqueles factos
imputados. Por outro lado, o juiz de instrução e o MP têm de fazer isto. Na verdade, esta
solução existe porque o OPC não tem de fazer juízos de valor sobre prova. Ficará o
arguido prejudicado com isto? Não, porque pode usar a sua grande arma de não falar.

Aliás, por isto tudo é que é fundamental a presença do defensor do inquérito, para
garantir que tudo isto é cumprido.

Se o arguido se calar no inquérito o juiz não tem nada para ler em julgamento.

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Importante: as declarações legalmente lidas em julgamento não valem como


confissão, mas valem como prova.

Por isso é que o arguido, seja culpado ou inocente, no início do inquérito nunca
deve falar.

Pergunta-se: e se o juiz ler as declarações do arguido em violação do artigo 357º ? Ou


seja, e se o juiz ler ilegalmente as declarações em inquérito do arguido?

As declarações não valem como prova (prova proibida), segundo Rui da Silva
Leal.

O facto de não se dizer na lei que há nulidade, não prejudica o facto de a prova ser
proibida/inexistente (artigo 118º, nº3 CPP).

As nulidades deixam de existir a partir do momento em que há caso julgado, mas


as provas proibidas sobrevivem ao caso julgado, mediante recurso de revisão.

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Quanto à acusação:

Tínhamos visto no nosso processo simulado que durante o inquérito as diligências


de prova eram todas reduzidas a autos. Ou seja, todas as provas são escritas. E o inquérito
é constituído por esse conjunto de diligências de prova. E quando o MP chega ao fim, e
termina o inquérito, procede ao despacho final de inquérito.

Este despacho pode ser de arquivamento, de acusação, ou de arquivamento e


acusação (arquivamento em relação ao crime X ou ao arguido Y, e acusação em relação
ao crime Z ou ao arguido W).

Arquiva-se porque não há crime, ou porque aquele arguido não cometeu aquele
crime, ou porque não há indícios suficientes da prática do crime. E este despacho de
arquivamento é notificado a todos, nos termos do artigo 277º CPP.

Se houver indícios suficientes, procede-se à acusação: Artigo 283 CPP; - Artigo


284 CPP; - Artigo 285 CPP

Quanto aos crimes públicos e semipúblicos (exemplo: homicídio ou ofensa à


integridade física simples), estamos a falar sempre do artigo 283º CPP e do artigo 284º
CPP. Nos crimes particulares, estamos a falar apenas do artigo 285º CPP.

Quanto a um crime público ou semipúblico, a mera diferença é que no semipúblico


para o inquérito se iniciar é preciso queixa, porque depois a acusação é igual. Chega-se
ao final do inquérito, e o MP procede ao seu juízo de prognose póstuma, e decide acusar.
Deduz, então, a acusação nos termos do artigo 283º CPP.

Esta acusação é notificada às pessoas que estão aferidas no artigo 277º, nº3 CPP
(arguido, assistente, defensor, etc...).

Perante esta notificação da acusação do MP, o assistente (ofendido) lê a acusação


e pode, também ele e apenas se quiser, deduzir a sua própria acusação, no prazo de 10
dias, nos termos do artigo 284º CPP.

Se o MP não deduzir acusação, o assistente não pode deduzir acusação. Por isso,
o MP é sempre o primeiro a deduzir acusação e a determinar se temos acusação ou
arquivamento.

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Quanto aos crimes particulares, terminado o inquérito, o MP não tem legitimidade


para deduzir acusação. Por isso, terminado o inquérito, o MP notifica o assistente se
entende ou não haver indícios suficientes. E, depois, em primeiro lugar, o assistente, se
quiser, deduz a sua acusação particular, no prazo de 10 dias (artigo 285º CPP).

Se o assistente deduzir acusação, o MP pode, em segundo lugar, se quiser, deduzir


a sua própria acusação, nos termos do artigo 285º, nº4 CPP.

Ainda que o MP tenha dito que não tenha encontrado indícios suficientes, o
assistente pode na mesma proceder à acusação particular, e o processo vai para
julgamento.

Se o MP entender que há indícios suficientes e notificar o assistente, pode o


assistente não deduzir acusação? Pode não deduzir! E pode o MP deduzir acusação? Não,
só pode se o assistente também deduzir.

Isto porque o crime particular é um crime muito mais pessoal, e portanto, não põe
na disponibilidade do MP a decisão de acusar.

O MP deduz a sua acusação quanto aos crimes públicos e semipúblicos nos termos
do artigo 283º CPP, e notifica o ofendido ou assistente. Mas pode acontecer que ainda
não haja assistente, e muitas vezes o ofendido sabe que está a correr o inquérito mas ainda
não se constituiu assistente por razões económicas. E o inquérito vai correr e não precisa
de assistente para nada. Mas chega a altura em que o ofendido recebe a notificação da
acusação, e o ofendido só pode deduzir acusação se for assistente. E agora? Vai a correr
constituir-se assistente? Terá tempo para tudo dentro dos 10 dias para se deduzir acusação
do artigo 284º CPP?

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Nesta sede, é relevante o artigo 68º, nº3 CPP, onde se refere que o requerimento
para constituição de assistente pode ser feita no próprio ato de acusação. Na própria
acusação que o ofendido deduz, pede logo a constituição do assiste. Será algo assim: (a
acusação é dirigida ao juiz de julgamento)

Exmo. Senhor Juiz de Direito do Tribunal Criminal da Comarca do Porto

José Andrade da Silva, ofendido nos autos acima referenciados, pretende constituir-se
assistente neste processo, porque tem legitimidade, porque já auto-liquidou a respetiva
taxa de justiça, porque constituiu advogado (...) (já fizemos um requerimento igual a este
de constituição de assistente)

Desde que admitido a intervir nessa qualidade (desde que admitido a intervir como
assistente) vem deduzir a respetiva acusação, nos termos do disposto no artigo 284º CPP,
nos seguintes termos:

- E agora faz a acusação que entender.

Mas pode acontecer que o advogado do assistente concorde na íntegra com a


acusação do MP. E, então, por razões de economia e celeridade processuais, não tem de
estar a copiar a acusação toda de novo. Portanto, pode subscrever a acusação do MP
(artigo 284º, nº2, al. a) CPP).

- Basta referir: "Vem deduzir acusação contra arguido António Freitas,


subscrevendo na íntegra a acusação do MP".

Se concordar com a prova que o MP indicou na sua acusação, e não quiser


acrescentar mais nada, nada se diz quanto à prova (artigo 284º, nº2, al. b) CPP). Portanto,
o assistente pode limitar-se a deduzir acusação através de uma mera adesão à acusação
do MP.

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Porém, se o assistente quiser, pode deduzir a sua própria acusação (artigo 284º,
nº1 CPP), pelos mesmos factos do MP, por parte dos factos apenas, ou por outros factos,
desde que esta alteração não seja uma alteração substancial dos factos, nos termos do
artigo 1º, al. f) CPP. Se implicar, temos uma nulidade insanável.

Por isso, se o assistente receber a acusação do MP e achar que faltam lá factos,


tem é de requerer a abertura de instrução (artigo 287º, nº1, al. b) CPP).

Nos crimes particulares, em primeiro lugar, é o assistente que tem de deduzir a


acusação (exposição de facto (descrição da história por ordem lógica e cronológica);
exposição de direito (integração da norma legal nos factos - "agiu voluntária, livre e
conscientemente, com intenção de matar, bem sabendo que a sua conduta era proibida e
punida por lei. Praticou, assim, um crime X previsto no CP/constituiu-se autor material
do crime X previsto no CP); prova; assinatura).

E depois, o MP se concordar com essa acusação, apenas refere "concordando com


a acusação particular, acompanha a mesma".

- Nota: ler bem o caderno III que foi distribuído (e os restantes cadernos)

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Rui Manuel Vasconcelos Pinto Praticum Processo Penal

Em relação às Medidas de Coação temos de saber:

1) Qual é o crime imputado - sabendo o crime, temos de ver qual é a pena de prisão
aplicável ao crime e qual os seus limites mínimos e máximos.

- É preciso saber os pressupostos específicos de aplicação de uma MC

2) Analisar o artigo 204º CPP e escolher uma MC adequada

3) Recorrer ao Princípio da proporcionalidade, para "afinar" a MC (pesando o


crime em si e as sanções das MC) e ao princípio da subsidiariedade (basta a prisão
domiciliária para acautelar o perigo em causa? É preciso recorrer-se à prisão
preventiva?).

Exemplo de uma minuta de aplicação de uma MC:

- Há indícios da prática dos factos X, Y e Z

- Estes factos consubstanciam o crime A

- O crime é punido com a pena T

- No caso concreto, verifica-se que existe o perigo do arguido continuar a sua


atividade criminosa. Este perigo existe devido a isto. (fundamentação)

- Sendo assim, a MC adequada será a X

- E, portanto, promove-se, desde já, a apresentação do arguido a juiz de instrução


para aplicação de MC (artigo 194º CPP). Não tem de ser detido, basta ser
notificado.

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E depois o juiz vai decidir. Pergunta-se: tem o arguido que ser ouvido? Audição
prévia? Silva Leal crê que sim, sob pena de nulidade insanável (artigo 119º CPP). E esta
audição prévia não faz parte do primeiro interrogatório do arguido detido, não é a mesma!
São diferentes: esta declaração prévia nada tem que ver com as declarações sobre os
factos imputados ao arguido.

- A página 23 o caderno III tem uma espécie de promoção do MP sobre a promoção de


uma MC.

Rever:

- Recursos (prazos, decisões que não admitem recurso, efeitos, etc...)

- Artigo 340º CPP

O teste terá 8 perguntas

- Devemos usar respostas sucintas, com fundamento legal.

- 3 das perguntas serão de elaboração de minutas (peças processuais - factos,


primeiro; direito, depois!), como a queixa

Para a próxima aula:

- Preparar julgamento, lendo os artigos: 311º CPP, 312º CPP, 313º CPP, 315º CPP,
316º CPP, e seguintes

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