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História do Pensamento Económico

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Índice
Simeão Nhabinde

I. Abordagens Teóricas ................................................................................................................. 5

II. Mercantilismo ........................................................................................................................... 13

III. Fisiocracia ............................................................................................................................... 19

IV. Escola Clássica....................................................................................................................... 25


4.1. Principais Autores das Ideias do Pensamento Clássico............................................... 28
4.1.1 Adam Smith ................................................................................................................ 29
4.1.2. Thomas Robert Malthus........................................................................................... 34
4.1.3. David Ricardo ............................................................................................................ 38

V. Reacções Anti-Liberais ........................................................................................................... 47


5.1. Nacionalismo .................................................................................................................... 48
5.2. Socialismo ......................................................................................................................... 49
5.3. karl Marx ............................................................................................................................ 51

VI. Marginalismo e Neoclassicismo............................................................................................ 64


Aspectos Gerais ........................................................................................................................... 64
6.1. Autores das Ideias e Pensamento Marginalista ................................................................. 74
6.1.1. Gossen e as Origens do Marginalismo.................................................................... 75
6.1.2. Stanley Jevons .......................................................................................................... 75
6.1.3. Carl Menger................................................................................................................ 76
6.2. Síntese Neoclássica: Alfred Marshall ............................................................................. 79

VII. Keynesianismo ...................................................................................................................... 84

VII. Neoliberalismo ..................................................................................................................... 103

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Nota Introdutória

História do Pensamento Contemporâneo é um texto de apoio que resulta de notas pessoais de


docência na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane. O manual é sobretudo
produto das constatações em relação às dificuldades dos discentes em “inalar” em tão pouco
tempo conteúdos da evolução da teoria económica a partir de obras originais de autores como
Adma Smith, Karl Marx, Alfred Marshal Keynes entre tantos outros.
O texto tem um objectivo meramente didáctico e não publicitário e é resumo e síntese cruzada
das principais ideias de alguns dos grandes autores das ideias que acabaram por fazer toda a
construção da evolução da teoria económica.
O manual é constituído por sete unidades. Destas, seis são as que julgo representarem os
principais momentos do pensamento económico desde os mercantilistas aos actuais neoliberais.
Isto não significa que antes do mercantilismo não tenha havido alguma emergência de ideias
económicas. Na verdade a partir da antiguidade oriental é possível notar a existência de algumas
forma concretas de evolução de ideias económicas. Neste sentido, antes do
mercantilismo podemos sintetizar a emergência e evolução das ideias económicas da seguinte
forma: Na antiguidade oriental o código de Hamorabi publica há 200 aC já estabelecia várias
regras referentes ao juro, ao salário e duração do trabalho. Pensamento religioso hebraico que
enfatizava mais os valores morais que materiais. O pensamento grego que teve como figuras
relevantes Xenofonte, Platão (428-347 aC) e Aristóteles (382-322 aC). Xenofonte interessou-se
mais pelas regras de uma boa gestão fundiária enquanto que Platão viria a desenvolver ideias
sobre o comunismo aristocrático e idealista reservado às classes superiores. O dinheiro devia ser
deixado aos produtores que constituíam a classe inferior. O pensamento platónico reflectia
também a divisão do trabalho, trocas e moeda. As ideias de Aristóteles viraram-se a uma crítica à
economia da riqueza em função da finalidade do Homem que devia realizar o fim da sua natureza
de acordo com a sua grandeza. Aristóteles chama crematística à economia da riqueza que é a
economia dos traficantes e dos usurários. A esta economia de riqueza opunha a economia da
natureza cujo fim era a satisfação das necessidades modestas, pessoais e familiares. Embora
Aristóteles condenasse o comércio e o empréstimo a juros defendia a propriedade privada. Os
conceitos de valor de uso e valor de troca que viriam a ser desenvolvidos mais tarde pelos
clássicos têm a sua base em Aristóteles. Durante o Império romano a vida económica e social
foi
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marcada pelas ideias do direito de propriedade e direito testamentário. O pensamento medieval
assente na escolástica a ideia económica fundamental era a de que a riqueza devia estar ao
serviço do bem comum. A escolástica chegou a distinguir três espécies de actividades
económicas: artes produtivas dos artesãos e agricultores, actividades menores que eram
consideradas as actividades económicas e os negócios e finanças que eram consideradas
actividades menos importantes. A figura mais proeminente da escolástica seria S. Tomás de
Aquino que defendia que a propriedade privada tinha duas funções: função administrativa e função
de uso. A função administrativa era a função económica de gestão de bens enquanto que a função
de uso traduzia-se na partilha do supérfluo constituindo assim um dever de justiça. Em S. Tomás
de Aquino havia duas espécies de bens: os bens consumíveis cuja natureza não se destruía
com o uso e podiam ser arrendados sem juro e os bens não consumíveis. Na antiga China
e na antiga Índia também evoluíram algumas ideias económicas não menos importantes. Na
antiga China entre o século VI e IV aC encontramos dois pensamentos divergentes do ponto de
vista do papel do indivíduo e do Estado no processo económico: o confucionismo defensor da
burocracia do Estado e o taoísmo de Lao Tse que desenvolveu o laissez-faire numa reacção
contra o controle estatal da vida económica. A visão taoista era a de que o controlo do Estado
dificulta o desenvolvimento individual e, no plano económico, leva ao empobrecimento das
massas e à proliferação de comportamentos nocivos. Lao Tsé defendia assim que a
prosperidade do povo dependia da ausência das proibições ou seja quando a actividade
económica não é penalizada por impostos excessivos, o povo prospera e deixa-se governar
facilmente. As ideias “liberais” de Lao Tsé foram continuadas por Chuang Tsé (369-286 aC) que
transformou a ideia de ordem espontânea numa concepção anarquista da sociedade.

As ideias e o pensamento em geral vão para além das políticas, isto porque é a partir de
determinadas ideias e modelo de pensamento que são implementadas determinadas políticas
económicas e sociais para um certo contexto temporal e geográfico. Por isso, cada tema inicia
sempre com uma pequena abordagem sobre os contextos históricos das ideias de cada autor. É
uma abordagem pequeníssima que cabe ao estudante enriquecê-la a partir de outras leituras1.

1
. Pode enriquecer lendo por exemplo, Temas de História Económica de S. Nhabinde.
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O tempo de leccionação da disciplina é muitíssimo curto (um semestre de 16 semanas com 4
horas por semana). Mas o contexto filosófico é de capital importância para o evoluir das várias
ideias e alguns autores não puderam atingir um patamar tão gloriosamente reconhecido
como a dum Adam Smith, David Ricardo, Alfred Marshall, Karl Marx ou keynes. Mas duma ou de
outra forma tiveram um contributo decisivo para os debates e prevalência desta ou daquele
ideia. Para colmatar a insuficiência desta informação filosófica e da de outros autores, no fim de
cada unidade recomenda-se ao estudante um trabalho de pesquisa individual sobre as correntes
filosóficas de cada época e dados biográficos de cada autor. Num contexto do e-learning julgo ser
trabalho simples e motivador porque o estudante vai encontrar que a informação contida neste
texto de orientação também pode obtê-la facilmente por via da internet e sintetiza-la melhor.

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I. Abordagens Teóricas

História das Ideia Económicas e Pensamento Contemporâneo

O Conceito

A História do Pensamento Económico estuda a sucessão das doutrinas da economia e


revoluções intelectuais que acontecem na teoria social e económica onde verdades
aparentemente firmes e estabelecidas são substituídas por novas revelações face às crises
permanentes que surgem na sociedade e na ciência económica.
A razão fundamental do estudo da História Económica reside no facto de a ciência económica ser
tão falível como qualquer outra ciência. Para se ter uma consciência plena desta situação é
através do estudo das ideias já que elas fornecem um laboratório mais extensivo no qual é
possível adquirir a metodologia sobre os actuais sucessos da teoria económica.
As Ideias Económicas e as Crises da Ciência Económica
Todas as ciências estão permanentemente em crise doutrinal por isso cada época histórica tem a
sua própria corrente doutrinal predominante. Na ciência económica as razões fundamentais
dessas crises são as seguintes: carácter híbrido da ciência económica na medida em que ela
procura ser ciência humana e ciência exacta, quer dizer ao mesmo tempo a mais humana das
ciências exactas e a mais exacta das ciências sociais; dupla natureza da ciência económica:
absolutismo das ciências exactas e relativismo das ciências humanas, por conseguinte sujeita a
crise própria das ciências humanas e das ciências exactas, em simultâneo; o facto de a ciência
económica ser uma ciência social e política que trata do governo dos homens, correndo assim o
risco de se transformar em ideologia, o de servir de instrumentos às ambições dos homens, dos
grupos sociais e das nações.

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Revoluções e Evolução da História das Ideias Económicas


A evolução das ideias económicas são provocadas pela sucessão de paradigmas ou doutrinas
económicas que resultam duma visão diferenciada do mundo. As revoluções nas ideias
económicas são provocadas pela revelação de uma anomalia que mostra que o antigo paradigma
tem de ser mudado, segundo pelas transformações do objecto que a economia se propõe a
observar: os modos de organização da economia, as tecnologias da produção e das trocas, a
deslocação geográfica das zonas de prosperidade, o aparecimento de novos grupos sócio-
profissionais, etc.

Ideologia e a Ciência Económica

A ideologia que é definida por Araújo (1986: 14-15) como sendo “ um conjunto de normas,
valores, símbolos, ideias e práticas sociais que procuram justificar as relações económicas e
sociais existentes no interior da sociedade. Ela surge como uma necessidade da justificação da
própria sociedade perante os seus membros quanto a questões como: quem cria o excedente
económico, quem se apropria desse excedente e com que direito. Ela constitui uma estrutura de
pensamento ligada a um grupo geralmente dominante que possui muitos mecanismos de
preservação de seus interesses que vão desde o domínio do Estado até a posse de meios
menores, mas fortemente eficazes como a rádio, televisão, o jornal e outros. No entanto, ela é um
fenómeno social espontâneo, ou seja, não constitui algo produzido por uma visão conspiratória
dos homens do processo histórico.
As funções da ideologia assentam na manutenção da coesão social e do sistema de dominação.
Para a manutenção da coesão social, a ideologia tende a aglutinar-se num conjunto de ideais.
Essas ideias filtram-se até às últimas camadas da pirâmide social e, passam a governar o
comportamento dos grupos que compõem a sociedade. Assim, embora ela esteja vinculada ao
grupo dominante acaba sendo internalizada pela maioria dos membros da sociedade pertencentes
ou não ao grupo dominante. A partir daí, os membros da sociedade passam a acreditar na
rectidão das instituições que justificam o status quo. Segundo é que a ideologia ao torna mais ou
menos “uniforme” a visão dos diversos grupos que compõem a sociedade à prior mantém a
sociedade unida, diminuindo assim a probabilidade de choques entre grupos que compõem
posições díspares e a evitar a ruptura do tecido social, porque a ideologia funciona como um
projecto social e como dizia Paul Ricoeur citado por Araújo (1986: 17) “a ideologia
desempenha para a sociedade o mesmo papel que a motivação desempenha para a pessoa
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individual. A pessoa age quando se vê motivada. A sociedade age quando tem um projecto
existencial cujas linhas essenciais são perceptíveis na ideologia. “
A segunda função da ideologia é a de manter a dominação. Esta função decorre da primeira na
medida em que a manutenção coesa de uma sociedade hierarquicamente organizada é
possibilitar a dominação de determinados grupos sobre os outros porque essa organização
hierárquica se baseia em privilégios. Alguns grupos se beneficiam com ela e outros não. Esta
situação deve aparecer nos olhos de toda a sociedade (incluindo os beneficiados) como normal. E
a ideologia procura alcançar isto substituindo com vantagem o uso da força e da violência pela
persuasão.
A ideologia é uma estrutura de pensamento ligado ao grupo dominante. Neste sentido, as classes
dominadas da sociedade também têm as suas estruturas de pensamento na qualidade de
contestadores da validade das relações socio-económicas estabelecidas. Esta estrutura é
designada por utopia que na prática têm o mesmo estatuto teórico. A diferença é que a ideologia
está ligada ao grupo dominante e pretende preservar a coesão social enquanto que as utopias
estão com os contestadores e pretendem mudar a situação social prevalecente.

A ideologia e a ciência no geral apresentam-se sob a forma racional. São apoiadas em


argumentação lógica. No entanto a ciência encaminha-se para a busca da verdade. Seu universo
é o universo das “leis” objectivamente estabelecidas. A ideologia move-se no universo dos
“valores” que nas diversas sociedades estão ligados a grupos de interesses. A ideologia torna-se
um perigo porque defendendo determinados interesses e não a verdade veste a roupagem da
ciência. Em muitos casos como não há limites claros entre a ciência e a ideologia é praticamente
impossível separar a ciência da ideologia. O diagrama abaixo adaptado de Araújo (1986)
é ilustrativo.

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Nestas circunstâncias torna-se difícil, se não impossível distinguir o campo científico do campo
ideológico na medida em que não existe um lugar não ideológico a partir do qual se pode falar
cientificamente sobre a ideologia, porque todo o discurso ou qualquer elaboração mais ou menos
sistematizada pode estar contaminado pela ideologia, mas apresentando-se a nós com foros de
ciência. Mas a ideologia opõe-se à ciência. No entanto, a própria ciência pode ter uma função
ideológica quando ela se transforma em instrumento de dominação nas mãos de determinados
grupos que apelam à ciência para legitimar o seu poder. Um exemplo disso é os tecnocratas. Os
tecnocratas diferentemente do técnico que aplica o conhecimento científico a determinado campo
de trabalho tende a legitimar-se no poder recorrendo para a ciência ou para o conhecimento
técnico. Araújo (1986:18.
Neste contexto, levanta-se a questão, a ciência económica é ou não ideológica? Está ou não
imune à ideologia? A resposta a esta questão pode ser entendida através da análise de algumas
citações de Stoffaes (1991: 256- 259).

“O economista aspira ao estatuto de ser conselheiro de príncipe. Não tem melhor sonho do que ver o seu
pensamento inspirar os homens de acção e, antes do mais, os poderes públicos... o economista fornece aos políticos
aos grupos de pressão uma caução de aparência científica, que pode não passar de um jogo de poder ou interesse...
como os conquistadores que se faziam acompanhar de padres evangelizadores, os poderes económicos avançam
trazendo consigo os economistas... a ciência económica está em relação com o poder, na medida em que se
interessa pela organização da sociedade,... a análise económica nunca fornece uma descrição puramente gratuita da
economia real: a maneira de ver é influenciada,... pelo tipo do problemas que se resolve pôr em foco, pelas soluções
que antecipamos e pelas recomendações que pretendemos formular. As hipóteses teóricas não nascem por acaso.
Os postulados de base são historicamente datados e politicamente situados...a difusão das ideias económicas e, ... a
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orientação do pensamento económico dependem fortemente dos poderes estabelecidos. É muito mais difícil à ciência
económica do que qualquer outra ciência ser independente do poder político,..., a economia é uma disciplina
necessária ao exercício do governo das nações e das empresas. ... Os temas dos trabalhos do economista dependem
no mais alto grau da sua própria situação na sociedade, da sua psicologia e da sua história pessoal, das suas
aspirações políticas. A difusão ou a asfixia das ideias dependem estreitamente do equilíbrio entre os poderes e os
grupos de interesse da sociedade. São os interesses dominantes que fazem as doutrinas económicas dominantes...
Na antiga União soviética não havia muitos economistas de inspiração neoclássica, da mesma forma que as
investigações acerca da economia marxista não ocupam senão um lugar modesto na ciência económica americana.
Não são coincidências de acaso... a difusão ou asfixia das ideias depende estreitamente do equilíbrio entre os
poderes e os grupos de interesse da sociedade. São os interesses dominantes que fazem as doutrinas económicas
dominantes... se a representação dominante da economia nos países desenvolvidos do mercado privilegia o modelo
neoclássico,..., é talvez para desviar as atenções do grau do poder de que as grandes empresas dispõem... como os
conquistadores que se faziam acompanhar de evangelizadores, os poderes económicos avançam trazendo consigo
os economistas... A ciência económica e o Ministro entram hoje na partida de xadrez outrora disputada pelo imperador
e pelo papa na Idade Média.”

Concludentemente a ciência económica é ideológica. Primeiro porque as ideias e o pensamento


económico são sempre um instrumento de propaganda. Para passar à posterioridade deve
igualmente fornecer legitimidade intelectual a uma política ou às reivindicações de um grupo social
importante, se possível em ascensão. Segundo, uma doutrina dominante se encontra
associada a uma classe dominante, e uma doutrina em emergência a grupos sociais até esse
momento em situação de inferioridade, mas em vias de ascenderem ao poder. Terceiro, os
conflitos de doutrinas e as crises de pensamento económico estão muitas vezes associadas a
conflitos de classe, ao aparecimento de novos grupos sociais que concorrem em torno do poder
com os grupos sociais estabelecidos. Quarto, as doutrinas económicas não servem de instrumento
de propaganda apenas aos grupos sociais que rivalizam em torno do poder, servem também a
política das nações. As doutrinas que dominam a sua época são muitas vezes as das nações
hegemónicas e os conflitos entre as doutrinas reflectem também os conflitos geopolíticos. Por fim
é que uma revolução económica que normalmente dá origem a um novo pensamento
económico é sempre o espelho das relações entre as forças políticas e sociais da época.

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Concepção das Ideias Económicas
Há duas formas fundamentais de conceber a ciência. Uma concepção cumulativa e outra
relativista. Na concepção cumulativa que data do século XIX, o conhecimento progride de maneira
contínua na direcção do ideal da verdade absoluta. Cada etapa do progresso científico consiste
em melhorar o conhecimento nos campos já desbravados. Nesta concepção, típica das ciências
exactas, a progressão das ideias e do pensamento económico no sentido do conhecimento
absoluto é contínua e permanente: há a verdade e o que é falso. Mas o moderno conceito de
conhecimento derrubou o mito positivista (cumulativo) abandonando a tendência harmoniosa e
progressiva para um conhecimento relativo do pensamento científico. O conceito relativista, no
pensamento económico procede de maneira dialéctica, por saltos e rupturas cíclicas. Nesta
concepção não há verdade económica absoluta, mas apenas verdades relativas, válidas para um
lugar e uma época dados e, sujeitas a controvérsias. Nenhum paradigma varre o outro de modo
definitivo. Há sempre uma certa coexistência. O pensamento neoliberal coexiste com o
keynesianismo “vacilante.” Portanto, na concepção relativista do pensamento económico,
nenhuma escola de pensamento económico pode ser considerada superior a outra. Cada doutrina
é aplicada a uma situação económica real em muitos dos casos determinada pelos próprios ciclos
económicos.

Características Comuns dos Fundadores das Grandes Doutrinas Económicas


As doutrinas económicas são formalizadas e difundidas por intelectuais e escolas de pensamento
que tendem a radicalizar os seus conflitos. Mas os mestres das grandes doutrinas têm sempre
algumas características comuns. A regra não foge aos fundadores das grandes doutrinas
económicas. De entre algumas características comuns podemos destacar, a procura de coerência
na visão mundo; surgimento em alturas de rupturas e crises económicas com necessidade de uma
nova visão mais pertinente; exacerbação da originalidade pessoal, com demarcação da doutrina
em voga e a entrada em conflito de geração com os antigos mestres; Desempenho do papel de
espectador comprometido, propondo a um grupo social em ascensão ou a uma nação uma teoria
que possa servir de instrumento de propaganda de seus pontos de vista.

A Concepção Cumulativa

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In: Stoffaes (1991).


A Concepção Relativista

In: Stoffaes (1991).

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Obras e Autores do Pensamento Económico


Autores Obras Marcantes
Adam Smith (1723-1790) Natureza e Causa da Riqueza das Nações (1776)
Thomas Robert Malthus (1766-1834) Ensaio sobre o Princípio da População (1798)
Princípios de Economia Política (1820)
Jean-Baptites Say (1767-1832) Tratado da Economia Política (1803)
Catecismo de Economia Política (1821)
David Ricardo (1772-1823) Ensaio sobre a Influência dos Preços Baixos do Trigo sobre os Lucros (1815)
Princípios de Economia Política e do Imposto (1817)
John Stuart Mill (1806-1873) Princípios de Economia Política (1848)
Karl Marx (1818-1883) O Capital (1867)
León Walras (1834-1910) Elementos de Economia Pura (1874)
William Stanley Jevons (1835-1882) Teoria da Economia Política
Alfred Marshall (1842-1924) Princípios de Economia Política (1890)
Industria e Comércio (1919)
Moeda, Crédito e Comércio (1923)
Vilfredo Pareto (1848-1923) Manual de Economia Política
Knut Wicksell (1851-1926) Juros e Preços (1898)
Curso de Economia Política na Base do Princípio Marginal (1901)
Rosa Luxemburgo (1870-1919) A Acumulação do Capital (1913)
Lenine (1870-1924) O Imperialismo, Estádio Supremo do Capitalismo (1918)
O Estado e a Revolução (1921)
Arthur Cecil Pigou (1877-1959) A Economia do Bem-Estar (1920)
John Meynard keynes (1883-1946) Tratado da Moeda (1930)
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936)
Joseph Aloysius Schumpeter Natureza e Conteúdo da Teoria Económica (1908)
(1883-1950) Capitalismo, Socialismo e Democracia (1941)
História da Análise Económica (1954)
Karl Gunnar Myrdal (1898) O Equilíbrio Monetário (1950)
Teoria Monetária e Países Subdesenvolvidos (1959)
Friedrich August Hayek (1899) A Teoria Monetária e o Ciclo dos Negócios (1928)
François Perroux (1903) Poder e Economia (1947)
Milton Friedman ( 1912) História Monetária dos Estados Unidos (1966)
Capitalismo e Liberdade (1972)
Adaptado de Stoffaes (1991)

Bibliografia Básica
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial, Lisboa: Dom Quixote: 251-280
Araújo, A.(1986). História do Pensamento Económico, S. Paulo: 13-20

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II. Mercantilismo
O Conceito e o Contexto Histórico
O termo mercantilismo foi atribuído por Adam Smith às correntes das ideias e práticas
económicas seguidas nos séculos XVI – XVII.
O mercantilismo é definido como sendo um sistema de intervenção governamental com o fim de
promover a prosperidade nacional e aumentar o poder do estado. Apesar de ser um programa
económico, os seus objectivos eram basicamente políticos, pois visavam trazer mais dinheiro e
riqueza para os monarcas.

A principal preocupação económica do mercantilismo era a busca do pleno emprego. Por isso, o
mercantilismo defendia que a nação poderosa devia usar todo o seu território para actividades
produtivas na agricultura, mineração e manufactura. Os trabalhadores deviam ser encorajados a
manterem-se empregados. O desemprego era visto como resultado da indolência do trabalhador e
era tratado como um problema social. Assim, os desempregados deviam ser amparados pela
sociedade. O problema do desemprego, da mendicidade e da marginalidade tornou-se
particularmente importante na época do mercantilismo. Isto Justifica a simpatia que Keynes tinha
para com o mercantilismo.

O contexto histórico do pensamento mercantilista está associado ao ambiente do período de


transição do feudalismo para o capitalismo (século XV – XVIII) cuja manifestação económica se
verificou através da revolução comercial.

A revolução comercial foi caracterizada pelo desenvolvimento da actividade bancária; expansão


das facilidades de crédito (introdução das letras de câmbio; cheques; notas de banco, em
substituição do ouro e da prata); Declínio das corporações de ofícios tipicamente medievais e
surgimento de novas indústrias; prática do sistema doméstico ou de encomenda; mudança na
organização dos negócios face ao surgimento de companhias regulamentadas (associações de
comerciantes unidos num empreendimento comum); sociedades por acções (instituições que
surgiram em substituição de companhias regulamentadas e eram formadas mediante subscrição
de cotas de capital por um número considerável de investidores: comparticipação por acções);
desenvolvimento de uma economia monetária mais eficiente (todos os Estados mais importantes
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da Europa começaram adoptar um sistema padrão de dinheiro para ser usado em todas as
transacções dentro das suas fronteiras geográficas).

Tipologia de Mercantilismo
Os modelos mercantilistas na Europa variaram de país pata país. Assim, vamos encontrar os
seguintes tipos: mercantilismo bulionista ou metalista desenvolvido pelos países ibéricos (Espanha
e Portugal) que tinham acesso fácil ao ouro e prata das Américas e África por terem sido os
pioneiros no processo da expansão europeia.
O mercantilismo industrial também chamado por Colbertismo passou a ter a sua maior expressão
na obra de Colbert ministro de Luís XIV da França. Foi desenvolvido pelos países que tinham
difícil acesso a metais preciosos como a França. A alternativa para a captação de metais precisos
assentou no desenvolvimento de indústrias manufactureiras viradas à exportação.
O mercantilismo comercial e marítimo, também desenvolvido pelos países com dificuldades de
acesso directo a metais preciosos. Tais, foram os casos da Holanda e da Inglaterra. Neste modelo
mercantilista explorava-se a função de intermediário e transportador de comércio internacional
aproveitando as possibilidades abertas pela posição geográfica e meios de transporte marítimo
disponíveis para ganhar o comércio externo.
O cameralismo é o mercantilismo que influenciou o pensamento económico das nações de língua
alemã. Tem a peculiaridade de estar voltado aos aspectos técnicos da produção e ao lado
financeiro. O cameralismo não acredita que o Estado e os capitalistas tenham sempre interesses
harmónicos. Posiciona-se ao lado dos interesses dos capitalistas. Enfatiza os dispositivos de
política fiscal procurando combater a falência do tesouro público.

Os principais aspectos da visão mercantilista na sua generalidade eram a consideração pelo ouro
e metais preciosos como sendo a essência da riqueza; regulação do comércio com exterior
de forma a gerar a entrada do ouro e prata; promoção da indústria pela importação de matérias-
primas barata; direitos alfandegários sobre a importação de manufacturados; incentivo às
exportações, particularmente, para manter os salários.

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Algumas das Principias “Teorias” Mercantilistas


Teoria da Balança do Comércio
Qualquer nação tem de possuir uma balança comercial favorável porque ela é geradora de
prosperidade nacional. Esta tese juntamente com a tese monetarista constitui o cerne do
mercantilismo.

Teoria da População
O aumento da população garante facilmente a obtenção da mão-de-obra e favorece o
desenvolvimento da indústria e do comércio de exportação, por conseguinte o aumento dos
lucros. Reciprocamente, o desenvolvimento do comércio, da indústria, permite ocupar o maior
número de Homens, o que favoreceria o desenvolvimento da população vantajoso para o Estado.
Neste sentido os mercantilistas não consideravam o crescimento populacional um problema,
defendiam e encorajavam uma grande população como foram de fortalecimento do reino.

Teoria de Salários e da Utilidade da Pobreza


Para o enriquecimento do Estado é preciso manter os trabalhadores empregados e produtivos. O
requisito moral para tal é isso é mantê-los industriosos. Neste sentido os salários devem ser
controlados de modo a evitar que eles se elevassem a um nível óptimo para acalentar os sonhos
da luxúria sem nunca a alcançar. Assim, os salários dos trabalhadores têm que ser mantidos a um
nível óptimo de frustração que não permite muito consumo de riquezas, mantendo assim a sua
pobreza que preserva a condição moral da classe trabalhadora que é serem industriosos. Esta é
que é a utilidade da pobreza, segundo os mercantilistas, manter a classe trabalhadora sempre
industriosa.

Tese das Harmonias Económicas e do Intervencionismo


Os mercantilistas eram intervencionistas ou dirigistas. Defendiam o poder do Estado na economia
e na sociedade.
Para sustentar o intervencionismo desenvolveram a teoria das harmonias económicas. A teoria
das harmonias económicas advogava que a massa dos lucros dos mercadores dependia do
desenvolvimento das exportações e das indústrias exportadoras. Mas a condição deste
desenvolvimento é a abundância de Homens no mercado do trabalho e abundância do dinheiro.
Esta abundância de dinheiro permitia facilitar os empréstimos para financiar as operações
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industriais e comerciais. Mas, a abundância dos Homens e do dinheiro era também a finalidade do
Estado na medida em que o poder do Estado dependia das facilidades que lhe são dadas para
formar exércitos e constituir tesouros de guerra. Nesta óptica, a riqueza dos mercadores obtém-se
pelos próprios meios que asseguram o poder do Estado, embora os fins visados não sejam os
mesmos. Assim sendo temos uma harmonia económica entre o Estado e a sociedade já que o fim
dos mercadores (desenvolvimento da indústria e das exportações) é o meio para o Estado atingir
o seu próprio fim (abundância de Homens e dinheiro) de forma recíproca, o fim do Estado
(abundância de Homens e dinheiro) é o meio que permite desenvolver a indústria e o comércio,
isto é o meio que permite aos mercadores atingir o seu próprio fim. Neste sentido, os
mercantilistas defenderam poder de Estado na economia porque consideram que a prosperidade
do comércio de uma nação está estreitamente ligada à expansão do poder político.

Teorias Monetaristas
 O desenvolvimento do comércio exige o desenvolvimento da massa monetária em
circulação. A riqueza de uma nação está ligada à posse de uma grande abundância de
moeda (Princípio fundamental reconhecido por todos os mercantilistas).
 Não basta que a moeda seja abundante é necessário que seja boa: uma moeda tem de
ter um poder de compra constante num círculo tão largo quanto possível. (As peças
metálicas tinham que conservar um peso constante).
 A má moeda expulsa a boa moeda (lei de Gresham).
 O excesso da moeda em circulação facilita os empréstimos por conseguinte a obtenção
de negócios frutuosos.
 A baixa taxa de juros é unicamente devida ao aumento da quantidade de moeda. (William
Petty).
 Abundância da moeda não só favorece o comércio e a realização de lucros privados,
como também dá poder ao Estado através do desenvolvimento das exportações que
enriquece os mercadores (teoria das harmonias económicas).
 O poder de compra das moedas de ouro e de prata é inversamente proporcional à
quantidade de ouro e da parta existente num País (tese de Jean Bodin).

Esta tese de Jean Bodin foi motivada pela tentativa de explicar o desenvolvimento da inflação na
Europa do século XVI. A tese constituiu o ponto de partida da formulação, no século XIX, da teoria
quantitativa da moeda, segundo a qual o valor de uma moeda, qualquer que seja a sua natureza,
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Texto de Apoio
é determinado pela quantidade em circulação sendo o seu valor inversamente proporcional à sua
quantidade. Mas a tese de Bodin é criticada pelo facto de o autor não ter verificado que o valor
dos metais em geral é determinado pelo seu custo de produção. Os metais tornavam-se mais
abundantes em determinados momentos em função da descoberta de novos jazigos que
facilitavam a sua exploração, baixando assim o seu custo.

Apologias e Críticas às Ideias e Pensamento ao Mercantilista


As primeiras críticas começam com a contestação fisiocrática e ganham maior vulto com os
clássicos, a partir de Adam Smith.
Adam Smith criticou o mercantilismo afirmando que era um encadeamento de falácias
proteccionistas de mercadores que identificavam erradamente o dinheiro com capital, a balança
comercial favorável com o excedente anual de rendimento sobre o consumo e consideravam que
a riqueza consistia apenas em dinheiro.
Nas na sua generalidade, o mercantilismo é criticado por ter sido responsável por uma política
económica inconsequente pelo facto de defender a restrição das importações e estímulo às
exportações. Isto porque as importações de um país são as exportações do outro país, por
conseguinte nenhum país poderá exportar. Assim, a política mercantilista acabou tendo como
consequências a exacerbação do nacionalismo, estímulo de guerras e uma maior presença dos
Estado nos assuntos económicos.
As apologias ao mercantilismo vieram inicialmente da Escola Histórica Alemã. Esta escola
defendia que as políticas mercantilistas foram perfeitamente racionais na medida em que elas
foram os meios apropriados para atingir certos objectivos desejáveis na época, como por exemplo,
a autarcia nacional e a expansão do Estado.
Uma segunda apologia e mais vigorosa veio de Keynes na sua “Teoria Geral” (1936) que
defendia os mercantilistas em duas linhas fundamentais: a primeira linha é a de os mercantilistas
alcançaram fragmentos de sabedoria prática contribuindo para a política governamental
interessada pelo sistema económico como um todo, por isso, devem ser elogiados por terem
reconhecido que a debilidade dos incentivos ao investimento é a chave para a compreensão do
problema económico. Segundo, que a doutrina mercantilista tinha uma verdade científica porque
num contexto em que o investimento público ou a política monetária estão fora de questão, o
melhor que podia ser feito era encorajar a inflação através de uma balança comercial favorável já
que o excedente de exportações servia para manter elevados os preços, e a entrada de ouro fazia

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Texto de Apoio
baixar as taxas de juro, estimulando-se assim o investimento e o emprego pelo aumento da oferta
da moeda.

Importância da Doutrina Mercantilista


O mercantilismo é considerado o primeiro esboço da ciência económica. Ë no quadro da doutrina
mercantilista que se começa a estabelecer, as relações de causa e efeito entre os diferentes
fenómenos da vida económica como, por exemplo: a tese segundo a qual as variações da
quantidade da moeda são as causas da variação dos preços; o estabelecimento de uma relação
precisa entre os movimentos internacionais de moeda e a situação da balança comercial dos
diferentes países; lei de King (“o preço global da colheita de trigo num país... diminui quando a
quantidade de trigo colhido aumenta”). Uma segunda importância reside no facto de exprimir o
espírito do Renascimento que se reflectida no homem moderno. O homem moderno julga que a
sua missão na terra é ganhar dinheiro. E por fim pode se afirmar que muitos conceitos e práticas
de política económica actual derivam do período do mercantilismo.
Bibliografia Básica
Blaug,M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 43-60.
Dennis, H.(1993). História do Pensamento Económico,7ª ed., Lisboa: Horizonte: 89- 121.
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico, S. Paulo: Atlas: 59-77.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico, Coimbra: Coimbra Editores: 23-36.

Trabalho de Investigação
Correntes de Pensamento Filosófico Predominantes no século XV-XVI.

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III. Fisiocracia
O Contexto Histórico
Fisiocracia provém das palavras gregas fis (natureza) + crátein (dominar). Tem as suas bases de
origem na França do século XVIII num contexto de reacção da população ligada à agricultura
contra a política mercantilista.
A população responsabilizava o mercantilismo pelo desequilíbrio a favor das actividades
industriais em detrimento da agricultura.
O desequilíbrio notava-se através dos seguintes aspectos: impedimentos à exportação dos
produtos agrícolas para impedir o respectivo encarecimento ao nível do mercado nacional;
facilitação de importação de outro tipo de produtos agrícolas como os cereais para permitir a
redução do preço da produção nacional; Limitação da importação de produtos manufacturados
através de elevados direitos aduaneiros; Limitação da circulação dos produtos agrícolas dentro do
país.
Havia também um descontentamento pela intervenção excessiva do Estado na produção e no
comércio externo.
A reacção da população ligada à agricultura aliou-se a um contexto intelectual dominado pelo
iluminismo.

Objectivos, Preocupação e Crítica da Fisiocracia ao Mercantilismo


Os fisiocratas davam ênfase à agricultura. O objectivo do seu programa era eliminar os vestígios
de laços pessoais medievais nas zonas rurais, racionalizar o sistema fiscal reduzindo todos os
impostos a um único lançado sobre o rendimento da terra, unir as pequenas propriedades, libertar
o comércio dos cerais de todas as restrições proteccionistas.
A principal preocupação fisiocrática constituía em identificar os princípios racionais que regem a
produção e a acumulação de riquezas, distribuição de renda e os fluxos de gastos. No âmbito da
produção e acumulação descrevem o processo de investimento produtivo, no contexto da
distribuição da renda e fluxos de gastos descrevem o processo anual de interacção entre as
classes sócias como um fluxo circular de renda e despesa.

A fisiocracia constituía um esforço no sentido de oferecer à reforma agrária uma justificação


teórica sólida. Neste sentido os fisiocratas dirigiam a sua crítica de ataque à política mercantilista
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Texto de Apoio
em três sentidos: A concepção monetária da riqueza, a preferência pelo comércio e pela industria
como actividade mais propícia à criação da riqueza, a intervenção do estado para promover o
desenvolvimento económico.

O Quadro Económico de Quesnay e os Conceitos de Explicação da Vida Económica

A escola fisiocrática era constituída por vários autores como Jacques Turgot, Marquês de
Mirabeau, Mercier de la Rivière, Du Pont de Nemours, François de Trosne, Nicolas Baudeau.
(Ricardo Feijó (2001): 107). Mas a principal figura foi sem dúvida François Quesnay.

A partir da ideia da ordem natural Quesnay desenvolveu uma série de conceitos e elaborou a
obra básica do pensamento fisiocrático o Tableau Économique. Quesnay partia da ideia de que a
vida social está sujeita a uma ordem natural cujas leis devem ser descobertas pela razão. Esta
ordem natural fisiocrática atribui à terra a exclusividade produtiva e a liberdade de produção e
circulação. Só a terra é que tem a capacidade de multiplicar a produção. A indústria não cria,
apenas transforma insumos em produtos.

O primeiro conceito de Quesnay diz respeito à riqueza. Contrariamente aos mercantilistas,


Quesnay defende que a moeda é apenas um mero instrumento de representação da riqueza visto
que por si nada produz. Só se torna fonte de rendimento apenas través da aquisição de bens que
proporciona um produto líquido. O segundo conceito tem a ver com a produção. Só existe
produção quando há criação de matéria nova. Daqui conclui-se que só a terra é produtora da
riqueza. Todas as outras coisas de que o Homem dispõe são puras transformações da riqueza
que não constituem produção. As actividades transformadoras e os serviços, segundo os
fisiocratas, apesar de serem necessários são actividades estéreis. Por fim temos o conceito
circulação. A circulação permite a difusão do produto líquido da terra no corpo social.

O objectivo de Quesnay era provar que as sociedades não têm outro rendimento que não seja o
proveniente do produto líquido da terra depois de pagas todas as despesas incluindo a
subsistência dos cultivadores. Para o efeito, Quesnay recorreu à formulação do dito quadro
económico representado na figura abaixo e adaptado em Henri Dennis (1993): 171.

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Texto de Apoio

Fórmula do Quadro Económico

O “quadro” constitui a primeira tentativa de representação numérica do mecanismo da vida


económica em regime capitalista. Como Quesnay era médico e cartesiano pretendia demonstrar
que a vida económica funciona como uma máquina ou como um organismo vivo.

No quadro estão representadas três classes sociais e três tipos de capital. Nas classes sociais
temos:
 Classe produtiva: agricultores (podia-se incluir também os pescadores e os mineradores)
 Classe estéril: manufactureios, mercadores, servos e profissionais liberais.
 Proprietários de terras (latifundiários) e outros bens. E (classe produtora), proprietários
fundiários, e artesãos e mercadores (classe estéril).
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
Em termos de capital temos:
 Adiantamentos anuais: capital de giro da produção agrícola (salários dos trabalhadores
agrícolas, sementes e outras despesas anuais periódicas).
 Adiantamentos primitivos: capital fixo (ferramentas agrícolas, animais domésticos)
 Aditamentos em melhorias permanentes: adiantamentos fundiários feitos pelos
proprietários agrícolas (drenagem, vedação e outros melhoramentos duradoiros da
terra)

O processo de circulação desse capital pelas três classes sociais, segundo o quadro, efectiva-se
da seguinte forma: O país tem um rendimento anual de 5 unidades produzidas na agricultura. Os
agricultores reservam 2 unidades para o seu consumo e novas culturas. As restantes 3 unidades
são usadas da seguinte forma: 2 unidades são entregues à classe dos proprietários fundiários
para o pagamento da renda, impostos e outros encargos e 1 unidades é aplicada no pagamento
de serviços da classe estéril. Das 2 unidades que a classe proprietária recebe, 1 unidade é
destinada à aquisição de bens aos agricultores e a outra à aquisição de bens manufacturados e
serviços à classe estéril. A classe estéril que fica com 2 unidades, 1 unidades vinda dos
agricultores e 1 unidade vinda dos latifundiários, devolve 2 unidades aos agricultores em
pagamento dos produtos agrícolas e matérias-primas.

No final deste processo os agricultores terão recebido 3 unidades (2 dos artesões e 1 dos
latifundiários) e gasto 1, voltando assim tudo ao ponto de partida. O efeito líquido para a classe
estéril é nulo e as duas unidades são, mais uma vez, pagas aos proprietários, iniciando assim um
novo ciclo de produção e distribuição.
Esta explicação do quadro de Quesnay pode ser simplificado através do diagrama abaixo
adaptado em Ricardo Feijó (2001): 109.

Fluxos de Rendas e Despesas no Quando Económico de Quesney


Desenhar

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Política Fiscal
A política fiscal dos fisiocratas defendia a substituição do complexo sistema tributário por um
imposto único sobre a propriedade da terra. O argumento fisiocrático assentava a na ideia de que
o imposto não pode ser outra coisa se não parte do produto líquido que cabe aos detentores da
soberania. Como na concepção fisiocrática, o produto líquido vinha apenas da agricultura, o
imposto sobre a classe estéril ou sobre os consumidores acabaria sempre por se transferir para os
agricultores e depois para os proprietários fundiários uma vez que representaria uma diminuição
da importância da aquisição de produtos agrícolas pela classe estéril e pelo consumidor.
O imposto único fisiocrático partir duma concepção errónea da produção. Mas tinha uma lógica no
seguinte: constituía uma reacção contra a excessiva complexidade do sistema fiscal da época e
uma primeira percepção dos fenómenos de repercussão de impostos. Mas é um princípio com
implicações negativas na medida em que toda a carga fiscal recaía sobre a agricultura
considerada a única produtiva que por sinal devia ser a mais protegida.

Mérito e Críticas às Ideias e Pensamento Fisiocrático


O mérito e as críticas à fisiocracia são normalmente feitos em função da análise e do quadro de
Quesnay. Começando pelo mérito, o grande mérito de Quesnay foi ter visto que era necessário
partir do capital para compreender as actividades económicas e que o problema essencial a
resolver era da reconstituição do capital despendido ou adiantado com vista à produção. Assim,
Quesnay estabeleceu a teoria de um modo de produção capitalista num período particular da
história. Segundo, os fisiocratas foram os precursores da ideia mais tarde popularizada por Say
como lei dos mercados quando afirmava “tudo o que é comprado é vendido e tudo o que é
vendido é comprado”, uma frase não muito diferente da frase de Say “a oferta cria a sua própria
procura”.

Em relação às críticas pode-se sublinhar primeiro que o Quadro Económico, revela a principal
fraqueza analítica do sistema de Quesnay não pelo facto de atribuir o rendimento líquido da
actividade económica unicamente à terra, mas sim por não conseguir provar que a terra é
produtora de valor. Portanto, é uma análise errada por considerar a indústria como estéril isto
porque partiu duma noção errada dos conceitos da riqueza e produção. Segundo, há um mau
esclarecimento da noção do lucro do capital ao longo da circulação pelas três classes. Terceiro, o
grande defeito do sistema fisiocrático, a negação da História. Julgavam os fisiocráticos que
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podiam encontrar leis análogas às leis físicas que governassem as actividades económicas e
fizeram uma extrapolação gigantesca que consistiu em afirmar que: todos os fenómenos
económicos são governados por leis análogas às leis físicas; estas leis são universais, i.e, são as
mesmas em todas os tempos e em todos os lugares, porque se fundam nas necessidades físicas
do homem, e são, portanto, anteriores às convenções sociais.

Bibliografia Básica
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 60- 65
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed, Lisboa: Horizontes: 161-185
Feijó, R. (2011). História do Pensamento Económico. Paulo: Atlas: 59-77.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico, Coimbra: 23-36.
.

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IV. Escola Clássica


O Contexto Histórico
As chamadas ideias económicas da escola clássica que constituem a base da ideologia liberal tem
a sua origem nos pensadores que seguiram o modelo básico de Adam Smith exposto na sua
principal obra intitulada “Uma Investigação Sobre as Causas da Riqueza das Nações” publicada
em 1776. Por isso Adma Smith é considerado fundador da escola clássica ou escola clássica
inglesa.
O contexto histórico da emergência e desenvolvimento destas ideias está relacionado com a
importância crescente da indústria (revolução industrial) que colocava fora de moda a visão
naturalista dos fisiocratas; necessidade de uma maior liberdade comercial e de uma força de
trabalho dotada de maior mobilidade que demonstravam que o excesso de regulamentação e
intervenção governamental defendido pelos mercantilistas já não ia de encontro com às
necessidades da expansão económica; crescimento da classe média necessitando duma
ideologia face ao surgimento de muitos problemas com a sociedade industrial, incerteza quanto ao
progresso do mundo e a necessidade de tranquilizar e legitimar a sua ascendência sobre os
latifundiários e sobre o proletariado.

Características Principais e Teorias Comuns dos Autores Clássicos


As características principais da escola clássica assentam em três pontos. Primeiro, a preocupação
com o crescimento económico a longo prazo (principal preocupação que segundo os clássico só
era possível com a acumulação de capital). Segundo, a preocupação com o destino do excedente
e com o modo pelo qual a sua divisão entre as classes afecta o crescimento. Terceiro, a afirmação
de que a economia é regida por leis naturais, auto-reguladas que levam à harmonia social, pelo
que, não há necessidade de intervenção do Estado nas leis do mercado. As principais teorias
comuns assentam na ideia do individualismo económico que significa que cada indivíduo tem o
direito de usar para o seu melhor proveito a propriedade que herdou ou adquiriu por qualquer meio
lícito. O laissez faire, laissez passer, O Estado tem de “deixar fazer e deixar passar” e as suas
funções devem ser reduzidas à segurança pública ou seja, o governo tem apenas que manter a lei
e a ordem, proteger a propriedade pública e privada e não interferir nos processos económicos.
Os clássicos não viam com bons olhos a acção governamental em favor dos pobres ou dos
operários, porque para eles, se a situação social era das piores, tal facto devia-se à intervenção e
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regulamentação governamental que impedia o pleno funcionamento do sistema. Uma terceira
teoria é o da obediência às leis naturais que levam o sistema ao equilíbrio e à auto-regulação,
como por exemplo a lei da procura e da oferta, a lei dos rendimentos decrescentes e.t.c. A teoria
da liberdade do contrato que defendia que cada indivíduo tem a faculdade de negociar o melhor
contrato possível com o outrem. Nesta liberdade, uma das questões mais específicas diz respeito
aos salários e horas de trabalho que segundo os clássicos, tem de ser uma questão entre os
empregadores e empregados sem qualquer embaraço de leis ou sindicatos. Finalmente temos a
livre concorrência e o livre cambismo que os clássicos defendiam como uma necessidade para a
manutenção de preços baixos, eliminação dos produtores incapazes e assegurar a máxima
produção compatível com as necessidades públicas.

As Classes Sociais e o Crescimento Económico no Pensamento Clássico.


Entre os clássicos há uma relação muito importante entre as classes sociais e o crescimento
económico. Por isso, tal como os fisiocratas, a composição das classes sociais, uma preocupação
eliminado no pensamento neoclássico, constitui o fundamento base para compreender o
pensamento clássico. Para os fisiocratas, a sociedade dividia-se em, camponeses, latifundiários e
artesãos. Os latifundiários e os artesãos eram considerados como uma classe improdutiva. Os
únicos produtivos eram os agricultores. Os clássicos viam a sociedade dividida em trabalhadores,
latifundiários e capitalistas. No âmbito da teoria do crescimento económico clássico a única classe
que contribui para o crescimento era a classe capitalista. Todas as classes recebem uma renda,
mas os trabalhadores, destinam todas a sua renda à subsistência, os latifundiários, diminuem o
excedente económico para o reinvestimento porque têm consumos supérfluos. Os capitalistas,
porque têm função de acumular, estão sempre procurando reinvestir o excedente, criando assim
as bases do crescimento económico. Assim, nos clássicos, teremos também o uso do conceito de
classes produtiva e improdutiva. Só que para os clássicos, eram produtivos todos aqueles que
criavam a riqueza material da nação. Os demais, como os que exerciam as profissões liberais
caíam no saco de improdutivos.
Esta visão das classes no contexto do crescimento económico dos clássicos, é uma visão
esquemática e simplificadora na medida em que nem todos os clássicos tinham a mesmíssima
visão do processo de crescimento económico. Por exemplo, Malthus, justificava o consumo
supérfluo dos latifundiários como sendo necessário para evitar a superprodução, desviando-se
assim da “lei de Say” e tornando-se um dos precursores do princípio keynesiano da “demanda
efectiva”. Mas ao mesmo tempo, atacado por Marx que via nele o defensor das classes
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
improdutivas. Assim, podemos concluir que a análise doa autores clássicos embora contendo
características e pontos em comum, era diversificada e condicionada pela forma como cada um
via o mundo ou seja pela ideologia ou utopia.
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico, S. Paulo: Atlas: 21-26
Burns, E. ( História da Civilização Ocidental, 9ª ed.S. Paulo: Globo: 542

Trabalho de Investigação
Correntes filosóficas predominantes entre o século XVII e XIX

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História do Pensamento Económico
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4.1. Principais Autores das Ideias do Pensamento Clássico.

Adam Smith
Thomas Malthus
David Ricardo

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4.1.1 Adam Smith

Principais Ideias e Conceitos

A Origem da Riqueza das Nações


Segundo Adam Smith, A base da riqueza das nações é o trabalho manual que pode gerar um
maior ou menor produto anual. A geração dum maior ou menor produto anual depende de dois
factores. O factor decisivo é a divisão do trabalho que permite a destreza, habilidade e aplicação
dos membros activos da nação. O segundo factor está relacionado com a preparação dos
membros activos (trabalhadores produtivos) em relação aos improdutivos (consumidores). Assim,
a riqueza das nações é independente da natureza do solo, clima, extensão territorial etc. (factores
naturais). Mas depende da troca, divisão de tarefas, libertação das iniciativas criadoras individuais,
num mundo harmonioso criado pela mão invisível do mercado.

A Mão Invisível
O conceito de mão invisível de Adam Smith que constitui a essência do liberalismo económico
pode ser explicado da seguinte forma: ao seguir os seus instintos egoístas os homens interagem
umas com as outras. A busca do interesse pessoal leva à harmonia social provocada pelo
confronto das pessoas no mercado ou seja pela competição. Deste modo, o choque entre o
egoísmo e competição leva ao melhor dos mundos porque o interesse da comunidade é apenas o
somatório dos interesses dos membros que a compõe. Cada homem se for deixado à sua
iniciativa, procurará maximizar a sua riqueza e por consequência todos os homens se não forem
estorvados, maximizarão a riqueza agregada da nação. A este propósito Adam Smith acabaria por
escrever o seguinte adágio: “não é da bondade do açougueiro ou do padeiro que podemos
esperar nosso jantar, mas de seu próprio. Nós nos dirigimos não a seu espírito humanitário mas
sim, ao seu interesse e nunca falamos das nossas necessidades, mas sim de suas vantagens.”

Divisão do Trabalho, Troca, Mercado e Moeda.


Em Adam Smith, o crescimento e o progresso das nações tem como factor importante o grau da
divisão do trabalho alcançado pela nação em termos de especialização das diversas produções e
especialização necessária para realizar as operações de produção. A importância da divisão do
trabalho reside na capacidade que tem para a multiplicação dos rendimentos de produção e do
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
poder aquisitivo. Mas esta divisão do trabalho tem como pressupostos a existência da troca ou
seja do comércio, troca que resulta da tendência dos homens para compararem as suas
necessidades e as suas possibilidades. Ela tem como importância o estabelecimento da
correspondência entre uma produção especializada e um consumo individual que exige uma maior
variedade de bens. Mas, os Homens são conduzidos à troca por necessidade de interesse
pessoal e por espírito de compreensão da situação dos outros que resulta do sentimento de
simpatia. Entretanto a existência da troca pressupõe a existência do mercado que aumenta o grau
da divisão do trabalho e aumenta o poder de produção resultante da divisão do trabalho. Por sua
vez a extensão do mercado e as possibilidades de troca dependem da moeda.

Preço e o Paradoxo do Valor


Abordando sobre a problemática da definição do valor de bens Adam Smith distingue o valor de
uso do valor da troca. Esta problemática foi levantada pelo facto de determinadas mercadorias (o
que hoje chamamos de bens livres: ar ou a água) possuírem um elevado valor de uso mas não
possuírem um valor de troca, enquanto outras que possuem características opostas ou seja
possuírem um elevado valor de troca mas não possuírem um elevado valor de uso (os diamantes,
por exemplo). O valor de uso é a utilidade de um determinado objecto e o valor de troca é a
possibilidade que a posse de um objecto dá para que através dele se possa adquirir outros bens.
O paradoxo do valor de Adam Smith assenta no facto de a utilidade que é a razão de toda a
actividade económica não possuir influencia no valor de troca. Concludentemente, numa
economia em regime de divisão de trabalho, o valor de troca obedece a um princípio diferente do
da utilidade. No valor de troca Adam Smith distingue o preço natural do preço do mercado. O
preço natural corresponde à essência do valor. É o ponto para que, em regime de concorrência,
tende o preço do mercado ou preço corrente. Assim, o preço do mercado pode se afastar mais ou
menos do preço natural embora tenda para ele. Neste contexto, o problema de valor reduz-se à
explicação do preço natural.

Teoria de Salários de Subsistência


Muito antes do surgimento do mecanismo salário-população de Malthus, Adam Smith já tinha
tentado desenvolver uma teoria de salários relacionada com a riqueza das pessoas e dos países.
Smith define a existência de uma relação entre aqueles que vivem de salários e dos fundos
destinados ao pagamento de salários. Assim, Smith fala da existência de um salário de
subsistência que define como a “taxa mínima compatível com um pouco de humanidade”. Este
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
salário não tem nada a haver com a benevolência dos empregadores, sendo apenas em função
da elasticidade da oferta de trabalho no longo prazo. Quando há um aumento da procurar da mão-
de-obra no mercado os salários sobem. Como resultado desta subida os trabalhadores podem
satisfazer mais facilmente as suas necessidades, construir famílias mais cedo e com mais
frequência, consequentemente haverá uma maior oferta de trabalho (mão de obra) e uma
tendência de baixar os salários que tem como consequências a dizimação da classe trabalhadora
pela miséria, fome e mortalidade até à redução do número de habitantes. Os salários acima do
nível de subsistência só se podem verificar nos países mais ricos porque a procura de trabalho
excede a oferta. Assim, numa nação completamente povoada quanto o permitem os seus
recursos naturais e os seus capitais, a concorrência, farão fixar os salários em nível adequado a
uma população estacionária.

O Estado e a Vida Económica


Salvo nos casos de criação de condições gerais de produção, na visão de Adam Smith, a acção
do Estado constitui sempre um acto de consumo das riquezas criadas pelo trabalho dos
indivíduos. Assim, o Estado não deve intervir no domínio da economia pelas seguintes razões:
como produtor não deve intervir porque nunca tem agentes encarregados de gerir empresas
públicas por isso que é defeituosa a adaptação destas empresas às necessidades do mercado.
Não deve intervir nos mecanismos de mercado, estabelecendo monopólios e regulamentações
porque essas intervenções limitam a concorrência que assegura o seu equilíbrio e impedem o
estabelecimento dos preços ao nível dos custos de produção. Não deve intervir no comércio
internacional porque a política proteccionista prejudica a especialização dos países nas produções
em que têm maiores aptidões naturais e limita a satisfação das necessidades de todos. Neste
contexto o Estado no interesse da riqueza nacional, o Estado deve agir nas actividades que os
privados não podem ou não querem exercer por não serem lucrativos e não estimularem o
interesse individual, mas necessário à vida económica. Tais são os da defesa externa e ordem
interna, administração da justiça, instrução e educação, construção de infra-estruturas necessárias
à produção, vias de comunicação e comércio.

A Importância da Obra de Adam Smith.


A “Riqueza das Nações” continua sendo um dos grandes livros da humanidade. É importante a
vários e diferentes níveis: Como uma polémica que inspirou a rejeição do mercantilismo, como
filosofia impondo ordem no caos social, como um sistema de economia científica focando o
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sistema de mercado. Um segundo aspecto é que esta a obra é o primeiro tratado completo da
economia. É com a “Riqueza das Nações que o estudo dos problemas económicos começo a
tomara um novo rumo e abriu-se um caminho à ciência económica moderna. o Terceiro, Adam
Smith esteve entre os primeiros, há cerca de 300 anos, a discernir que o sistema de preços é um
mecanismo capaz de harmonizar a procura do interesse pessoal com a realização dos objectivos
sociais, uma ideia que nos chega com a emoção própria de uma revelação e só mais tarde
apercebemos de que descobrimos uma verdade já conhecida. Admite-se que do ponto de vista da
elegância teórica, Smith não teve rival nem no século XVIII, nem no século XIX.

As Correntes de Continuidade do Pensamento de Adam Smith


Na continuidade do Pensamento de Adam Smith encontramos duas correntes fundamentais: a
corrente optimista e a corrente pessimista. A corrente optimista é a que deu origem à doutrina
económica liberal. É a corrente votada à defesa das instituições da propriedade privada, liberdade
de conduta em matéria económica e livre concorrência, elementos tidos como fundamentais ao
progresso económico. A corrente pessimista foi aquela que deu origem à teoria económica
clássica. É a corrente indiferente à realidade da vida económica e social e que por tal vai constituir
a base para as críticas e construções doutrinárias socialistas.

As duas correntes possuem diferenças na concepção da ordem natural. Para os pessimistas, a


ordem natural é imperativa e as suas consequências que são a miséria, tensões socais,
desigualdade na distribuição da riqueza e o empobrecimento são irreversíveis. Para os optimistas
a miséria, as tensões sociais, a desigualdade na distribuição e o empobrecimento são fenómenos
em puro estado imperfeito ou transitório que a liberdade económica e a concorrência fazem
desaparecer.
Na corrente optimista destaca-se Jean Baptiste Say. Na corrente pessimista destacam-se como
principais representantes Robert Thomas Malthus e David Ricardo. Os dois autores são
considerados pessimistas porque as suas conclusões e teorias estão impregnadas do preconceito
da inevitabilidade e imutabilidade das leis materiais. O principal ponto de discórdia entre os dois
autores assentava no debate sobre a política do comércio externo. Malthus era defensor do
proteccionismo para a agricultura. Ricardo defendia o livre-cambismo.
Em termos metodológicos, Malthus era adepto de um método económico que dá mais importância
à experiência. Ricardo era adepto do método abstracto e dedutivista. Adam Smith continha os dois
métodos.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

As obras de Malthus e Ricardo surgem num contexto histórico em que havia uma oposição de
interesses entre a agricultura e a industria a Inglaterra. A agricultura lutava contra a concorrência
externa e defendia o proteccionismo julgando-o necessário para a manutenção do equilíbrio na
exploração da terra. A industria, primeiro, gozava de avanços tecnológicos em relação a toda a
Europa por isso estava interessada numa política de livre-cambismo e ampla liberdade de trocas
internacionais para: obter liberdade de acesso aos mercados externos, reduzir o custo da vida
interna, baixar os salários com efeitos favoráveis sobre os custos industriais e obter o poder de
concorrência dos produtos ingleses nos mercados internacionais. Um segundo contexto está
relacionado com a urbanização e desemprego crescentes, pauperismo e baixos salários na
indústria. Considerava-se a iniciativa individual movida pelo lucro como sendo o índice seguro da
prosperidade nacional.
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1988) História do Pensamento Económico.S. Paulo:Atlas: 27-32
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 119-153.
Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico. Lisboa: Instituto Piaget: 43-57.
Denis, H. (1993) História do Pensamento Económico, 7ª ed.Lisboa: Horizontes:188-221
Lumbrales, J. (1988) História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 47- 61
Murteira, M. (1990) Lições de Economia Política de Desenvolvimento.Lisboa: Presença:78-81

Trabalho de Investigação
Biografia e influências filosóficas de Adam Smith

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

4.1.2. Thomas Robert Malthus

Principais Teses do “Ensaio Sobre o Princípio da População” e a Demonstração da


Utilidade da Miséria numa Sociedade Liberal

O pensamento Malthusiano está mais ligado à teoria da população exposta no “Ensaio Sobre os
Princípio da População” obra lançada em 1798. A popularidade e o sucesso da obra de Malthus
deveu-se à simplicidade das suas ideias que não exigiam nenhum conceito analítico novo ou
descoberta factual de ideias; realização, na Inglaterra, do primeiro censo completo da população
do qual parecia poder depreender-se o crescimento rápido da população inglesa e o debate que
existia na altura sobre a legislação de protecção dos pobres (poor law).

Para compreender esta teoria Malthusiana vamos estabelecer uma pequena relação com as
ideias de Godwin e Adam Smith sobre a assistência aos pobres. A doutrina de Godwin defendia a
assistência aos pobres. Sob a influência de Godwin a “Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão” de 1795 em França estabeleceu que “Todo o cidadão incapaz de prover as suas
próprias necessidades tem o direito à assistência dos seus semelhantes”. Adam Smith era
contrário à lei dos pobres porque segundo ele, a assistência aos pobres impedia o deslocamento
da mão de obre e engendrava desigualdades de salários.2 Como o argumento de Adam Smith era
pouco convincente, Malthus vai tentar reforça-lo e refutar as ideias de Godwin com o objectivo de
justificar a ordem liberal fundada na propriedade e na desigualdade social. Para o efeito Mathus
vai usar o argumento de que a tendência para o superpovoamento inerente à espécie humana
exige: a desigualdade, a proibição do reconhecimento do direito à assistência aos pobres porque
contribui para aumentar mais a população e também refutar a tese do liberalismo de Adam Smith.
A tese do liberalismo de Adam Smith defendia que a liberdade é o melhor meio de acrescer a
riqueza de uma nação e a maior parte dos indivíduos beneficia-se desse enriquecimento. Malthus
veio afirmar que a riqueza duma nação pode crescer. Mas pode não arrastar a melhoria da
situação de cada indivíduo. Isto sucede quando o número de indivíduos aumenta mais
rapidamente do que os recursos disponíveis para a satisfação das suas necessidades. Esta
situação acontece porque existe uma lei natural (naturalismo social) do desenvolvimento

2
. Na Inglaterra do século XVII-XVIII, os pobres eram apoiados através duma contribuição denominada taxa dos
pobres e eram concentrados em casas de trabalho, as workhouses controladas pelas paróquias.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
populacional oposta às condições de desenvolvimento máximo da produção alimentar. Devido aos
institutos de reprodução, a população humana cresça a um ritmo geométrico enquanto que os
meios de subsistência crescem a um ritmo aritmético. A causa desse crescimento, segundo
Malthus, tem a ver com a voracidade dos apetites sexuais dos Homens. Malthus propõe soluções
para o restabelecimento do equilíbrio. Essas soluções passam por uma série de obstáculos ao
crescimento que podem ser preventivos ou positivos. Como mostra o quadro abaixo, os
obstáculos preventivos, incluem, a redução de nascimentos, o constrangimento moral (renúncia
voluntária ao casamento, renúncia de procriação durante toda a vida ou parte da vida) o vício
(aborto) e a escassez de meios de subsistência. Os obstáculos positivos incluem, o aumento de
óbitos, o vício, a miséria e a escassez de meios de subsistência. A escassez dos meios de
subsistência constitui o denominar comum dos dois obstáculos.

Crescimento e Obstáculos de Crescimento Populacional

De todos estes obstáculos, Malthus elegeu o constrangimento moral como a solução ideal para o
restabelecimento do equilíbrio populacional por dois motivos: um primeiro motivo tem a ver com o
facto de numa sociedade liberal a noção de responsabilidade exigida pela constituição da família
conduzir a uma situação em que só possam contrair matrimónio ou procriarem aqueles que
dispões de recurso necessários para fazer face a essa responsabilidade. Segundo, as pessoas
pobres não puderem casar ou procriar. Deste modo, como numa sociedade liberal a maioria da
população é pobre na medida em que a riqueza da nação pode crescer sem arrastar a melhoria
de vida de toda a população, a maioria da população estará impedida de contrair matrimónio ou
de procriar levando deste modo a uma redução das taxas de natalidade e, por conseguinte ao
crescimento da população. Aqui encontramos a importância da manutenção da miséria numa
sociedade liberal, segundo Malthus. E essa manutenção da miséria podia se realizar através da
supressão da lei de assistência aos pobres por três razões: a pobreza é inevitável (é uma ordem

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
natural, a lei dos obres só melhora a situação da miséria por algum tempo. Essa melhoria conduz
a um aumento da população e o reinicio de um novo ciclo da miséria.
Malthus ditava que os planos destinados a ajudar os pobres prejudicam tanto os ricos como os
pobres porque a ajuda aos pobres tirava dinheiro e alimentação aos membros mais produtivos da
sociedade para a boca dos menos produtivos. Por isso, a teoria da população Malthusiana passou
a ter uma aplicação concreta para a classe média na medida em que ela encontrou um argumento
ideológico para transferir a responsabilidade da pobreza da sociedade para o indivíduo.

Críticas à Teoria Malthusiana da População


Uma primeira crítica a Malthus foi o facto de ter comparado o desenvolvimento da população em
nações jovens e com largos recursos inexplorados com as condições de produção agrícolas em
nações densamente povoados e intensamente explorados do ponto de vista agrícola. Segundo, na
sua análise Malthus não contou com o desenvolvimento da produção que se pode esperar com o
progresso técnico nem com o aproveitamento de vastas regiões ainda inexplorados que podia
proporcionar para a subsistência dos homens. Terceiro, Existem casos no planeta terra em que a
natalidade diminui ao mesmo tempo que se verificava um acentuado progresso económico e
aumento do bem-estar, facto que desmente a tese Malthusiana. Quarto, não se aceita, do ponto
de vista demográfico, da justiça e da moral, condicionar a constituição de famílias a um certo nível
de rendimentos e fazê-la depender da distribuição da riqueza.

Teoria de Crescimento Económico Malthusiana


A maior parte dos economistas depois de Ricardo e Adam Smith afirmava que para assegura o
desenvolvimento económico são necessários, a terra, o trabalho e o capital. Assim num País que
dispõe de terra e mão-de-obra abundante, a poupança é uma condição necessária e suficiente
para uma acumulação rápida de capital. Malthus, defensor dos interesses latifundiários e
preocupado com o problema da superprodução, opôs-se a esta visão defendendo que o
desenvolvimento da produção exige também um aumento da procura de produtos, tendo usado a
expressão procura efectiva que entrou no vocabulário corrente ressuscitado por keynes. Malthus,
opunha-se assim a lei dos mercados de say, segundo a qual a “... a oferta cria a sua própria
procura”. Isto é, o mercado tenderia automaticamente a garantir o pelo emprego dos recursos
produtivos. Malthus defendia assim a ideia de que não basta só poupança para garantir o
desenvolvimento económico. Sem o consumo o desenvolvimento pode estagnar pela falta do
consumo. E neste contexto, a classe latifundiária desempenha um papel extremamente importante
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História do Pensamento Económico
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porque: a classe capitalista está mais preocupada com a demanda dos bens de capital. Investe
mais em detrimento do consumo. A classe trabalhadora recebe salários de subsistência que não
garantem a realização de despesas indutoras de uma procura suficiente. A classe latifundiária,
que recebe rendas (sem trabalhar) e está disposta a consumir é deste modo a solução do
problema da superprodução e a garante do crescimento económico. Na sua teoria de crescimento
económico Malthus referia que a deficiência da produção resultava mais da falta de estímulo do
que da carência de poder produtivo. Assim sendo, para Malthus a acabaria por defender a
conveniência dos gastos improdutivos, tais como as obras públicas destinadas a criar empregos e
a remediar a superprodução. Soluções aplicadas de forma sistemática nas economias
contemporânea após a crise de 1930. Podemos admitir assim que Malthus e Keynes têm pontos
em comum: Malthus admitia que a superprodução era causada pelo decréscimo das despesas do
governo. Keynes viria a defender um papel importante do governo na solução dos problemas de
insuficiência da demanda.

Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 45-47
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 228-240
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piage t:69-73
Denis, H. (1993).História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes:307 320; 355-362.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 71-77.
Murteira, M. (1990). Lições de Economia Política de Desenvolvimento. Lisboa: Presença: 307-319

Trabalho de Investigação
Biografia de Thomas Robert Malthus e de William Godwin

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

4.1.3. David Ricardo

David Ricardo é o autor clássico da escola inglesa mais influente na História do pensamento
económico. É também Considerado o maior economista clássico guiado por reflexões e leituras
sem nunca ter pisado nenhuma universidade. Sua obra influenciou todas as correntes económicas
posteriores. Karl Marx e outros socialistas encontraram no estudo da distribuição do produto entre
as classes um ponto de partida para o desenvolvimento de outras reflexões. Marshall e a corrente
neoclássica encontraram na teoria da renda uma inspiração germinal de conceitos marginalistas e
tratamento modelístico da economia. Contrariamente a Malthus, Ricardo não só era livre-cambista
como também aceitava a lei de Say. Seu pensamento e obra têm interesse particular nos
problemas de distribuição de renda, moeda e comércio internacional.

Ideias Mais Importantes do Pensamento de Ricardo


As ideias mais importantes do pensamento de Ricardo têm a ver com a teoria de valor e da
repartição.

Teoria de valor e Preço de Mercadorias


Ricardo aborda o problema de valor na tentativa de interpretar a inflação que se verificava na
Inglaterra no seu tempo e nos debates sobre os preços das mercadorias. A preocupação de
Ricardo com esta teoria era demonstrar que os movimentos dos preços dependiam das variações
dos custos dos produtos e não das flutuações dos salários. Assim, em Ricardo o valor de uma
mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho incorporado nessa mercadoria, ou seja o
valor é dado pelo seu custo em trabalho, é a chamada teoria do valor do Trabalho. Por sua vez, o
custo calcula-se com base no trabalho imediato (trabalho humano) e mediato (trabalho da
máquina). Custo imediato será o custo em trabalho do trabalhador e o custo mediato será o custo
de trabalho incorporado à máquina porque ela foi construída com o dispêndio de certa quantidade
de trabalho humano. Assim, em Ricardo atrás do preço da mercadoria está o valor, atrás do valor
estão os custos de produção e atrás dos custos de produção está o trabalho humano porque todo
o custo pode ser decomposto na sua expressão mais simples que é o trabalho humano. Mas, tal
como os outros clássicos Ricardo acredita que a utilidade tem um certo peso na determinação dos
preços. Mas esse peso é relativo, já que a utilidade só faz oscilar os preços em torno de um

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
determinado patamar, mas sem explicar o nível desse patamar. Por exemplo, porque é que um
carro pode custar USD 10.000,00 e um saco de batata UDS 20,00 mesmo quando as proporções
entre a oferta e a procura dos dois bens são a mesma. Neste sentido, em Ricardo, a oferta e a
procura explicam apenas as oscilações dos preços em torno de um determinado patamar, mas
não explicam os preços. Então o elemento Ricardiano que determina o preço só pode ser o
trabalho humano. Contudo, na acepção Ricardiana existem excepções. Por exemplo, certos
objectos como as obras de arte, vinhos finos, o seu preço não são determinados pelo seu custo
em trabalho. Neste sentido e sem invalidar a lei geral (teoria do valor do Trabalho), Ricardo admite
que o custo em trabalho só explica o valor quando se trata de bens que a indústria humana pode
reproduzir de maneira praticamente ilimitada.

Tal como Adam Smith, Ricardo distinguia dois preços numa mesma mercadoria: o preço natural
equivalente ao valor e o preço de mercadoria que oscila em torno do valor, conforme a oferta e a
procura. Ricardo, nota que o preço de uma mercadoria é uma quantidade determinada da moeda
e, as variações do valor da moeda podem encobrir os efeitos das variações das quantidades de
trabalho necessárias para a produção das mercadorias. Mas, não renuncia à prova de que o valor
de um bem é determinado pelo seu custo em trabalho na medida em que a próprio valor da
moeda é determinado pela quantidade de trabalho necessário à produção de metal para a
fabricação do numerário. Para simplificar a explicação da formação de preço em Ricardo, Henri
Dennis (1993): 336-337 recorreu ao seguinte esquema analítico: sendo PA o preço de uma
mercadoria A e qA o custo em trabalho de A e qm o custo em trabalho da moeda, o preço de A
qA
será: PA  . Se 1 Metical custa 10 horas de trabalho (qm = 10) e se uma cadeira custa 100
qm
horas de trabalho (qA = 100), o preço normal de uma cadeira, quando não há perturbação da lei do
qA
valor é de 10 Mtn, isto é  10 . PA aumenta se qA aumenta, com a condição de qm não mudar,
qm
A
e que, se qm muda, a variação de PA é proporcional à variação da .
qm
Esta lei de Ricardo estabelecia o princípio de uma explicação dos movimentos fundamentais dos
preços das mercadorias e não dos seus movimentos ocasionais que dependem de mil causas
diversas porque na prática existem vários factores que intervêm na explicação da oscilação dos
preços. Mas a teoria do valor de trabalho no modelo Ricardiano teve o papel e a importância
duma lei com alto poder explicativo que deu uma coerência e unidade a todo o resto.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
As análises de Marx vieram retomar e aperfeiçoar a teoria de valor de Ricardo deduzindo daí
consequências consideradas perigosas para o capitalismo, por conseguinte os neoclássicos, cujas
análises excluíram por completo a problemática das classes sociais na economia, vieram
abandonar o princípio da teoria de valor de Ricardo.

Teoria da Repartição da Renda


A grande preocupação de Ricardo com a teoria do valor era demonstrar que os movimentos dos
preços dependem das variações dos custos dos produtos e não das flutuações dos salários. Uma
demonstração essencial que lhe permitiu analisar a repartição do rendimento nacional entre as
classe sociais que ele considerava como sendo o problema fundamental da economia política, isto
porque tal como Adam Smith a preocupação central de Ricardo era o crescimento económico e
ele via a explicação desse crescimento dependente da repartição do produto nacional entre as
classes sociais. As classes sociais de Ricardo não diferem das classes de Adam Smith:
latifundiários, capitalistas e trabalhadores. Os latifundiários são os proprietários de terra. Regra
geral não cultivam a terra. Alugam a terra aos capitalistas que se dedicam à produção contratando
trabalhadores assalariados. Os capitalistas têm de pagar renda de aluguer de terra aos
latifundiários, realizar os investimentos de capital e pagar salários aos trabalhadores. A renda que
é o produto nacional que cabe aos latifundiários depende das condições em que se dá a produção
agrícola. No geral a lei de repartição de Ricardo afirma que a renda tende a subir porque com o
crescimento da população há uma incorporação de terras cada vez menos férteis na estrutura de
produção. Para uma melhor compreensão da teoria de renda de Ricardo vamos usar a sua
explicação esquemática exposta por Araújo (1986): 37-40.
Numa primeira fase, o País A que podemos chamar de trigolândia possui pouca população. Por
conseguinte, há pouca pressão sobre os recursos naturais. Como a terra é livre só a melhor terra
é cultivada. Neste caso não há renda. O rectângulo abaixo representa uma porção de terra capaz
de produzir uma tonelada de trigo com certa quantidade fixa de trabalho e capital. Também pode
representar o custo de produção de uma tonelada de trigo. O preço da tonelada de trigo tem pelo
menos, que cobrir os custos de produção.
Produção na Trigolândia na Primeira Fase

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Numa segunda fase há um aumento da população na Trigolândia. Assim, há uma incorporação de


terras menos férteis na estrutura de produção.

Produção na Trigolândia na Segunda Fase

Nesta segunda fase como a gleba B é menos fértil para se produzir a mesma tonelada de trigo da
gleba A aplica-se mais trabalho e capital. Há um aumento dos custos de produção de tal forma
que o preço mínimo da tonelada de trigo será maior para cobrir os custos de produção da gleba B.
Assim, o valor do trigo é regulado pelo custo de produção das circunstâncias menos favoráveis. O
cultivo da gleba B, terra menos fértil, dá origem à formação da renda na gleba A. Renda é
portanto, a diferença entre o produto obtido pelo emprego de duas quantidades iguais de capital e
trabalho em duas glebas de condições diferentes, ou seja, o saldo que vai para os proprietários
das terras mais férteis. Esta situação, na lógica de Ricardo tem a seguinte explicação: o capitalista
da gleba A produz a um custo mais baixo que o da gleba B, mas vende o seu produto a um preço
que, pelos menos, cobre os custos de produção na gleba B, não na gleba A. No entanto,
“infelizmente” o saldo não fica com ele. Termina nas mãos do latifundiário que lhe alugou a terra já
que estas terras férteis são escassas e estão em competição. Se o capitalista X não arrendar, um
outro capitalista Y Z certamente que o fará.

Como a população pode crescer ainda mais e a aumentar a pressão sobre os recursos, novas
glebas menos férteis serão exploradas e de forma sucessiva cada nova gleba vai gerar nova
renda. Assim, numa fase posterior, a gleba D não proporciona renda. Mas ela é gerada em A B e
C. A medida que se expande a exploração das terras menos férteis, aumenta a porção do produto
destinado ao latifundiário. Por isso Ricardo afirma que “o trigo (na Inglaterra) não é caro porque se
paga renda, antes paga-se renda porque o trigo é caro...” ou seja, contrariamente ao papel
desempenhado pelos custos de trabalho, a renda não determina o preço do cereal. Pelo contrário,
o preço do cereal decide o total da renda.

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Texto de Apoio

Produção na Trigolândia na Terceira Fase

A teoria da renda de Ricardo foi considerada por John Stuart Mills como sendo uma das doutrinas
capitais da economia política. Mas, determinados autores chegaram a afirmar que Ricardo limitou-
se a fazer um simples exercício de abstracção. A compreensão da importância desta teoria passa
necessariamente por compreender os contextos da sua formulação. Primeiro é que havia um
grande aumento do preço de trigo na Inglaterra com consequências graves para a economia na
medida em que o trigo era o principal componente da dieta alimentar do trabalhador e, por
conseguinte com alto peso no custo de vida. Aumentando o preço de trigo significava que tinha
que se aumentar os salários elevando os custos de produção. Por outro lado, como se explorava
cada vez mais terras menos férteis era necessário aumentar a quantidade de trabalho com efeito
na massa salarial para se colher a mesma quantidade de trigo. Segundo, os proprietários de terra
(latifundiários) como ainda detinham o poder político conseguiam manter a “lei do cereais” [corn
law]. Esta lei impedia a importação de cereais que podia baratear o preço de trigo e por
conseguinte os salários e assim os custos de produção.

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O Alcance Social da Renda


Ricardo concordava com Malthus a respeito das pressões da população sobre os recursos
naturais. Nessa base demonstrou como é que o problema da renda atinge toda a sociedade.
Primeiro, é que à medida que a população se expande a um ritmo Malthusiano, as terras mais
pobres são lavradas a um custo de produção de uma medida extra que contribui para aumentar o
preço dos alimentos. Com os preços mais elevados dos alimentos, os salários de subsistência
deviam aumentar. Mas, como existe o chamado princípio da “lei de salários de ferro” os mesmos
tendem a permanecer ao nível de subsistência porque o salário mais alto significaria uma taxa de
lucro baixa para os industriais que passam a ter um fundo menor para ser investido em novas
fábricas, equipamento e ferramentas ou para contratar mais trabalhadores. Segundo, o
crescimento fabril abranda porque a diminuta taxa de lucro que acompanha as elevadas taxas de
salários abranda o ritmo de crescimento de capital. Terceiro, com a manutenção da lei de cereais,
os preços continuariam altos e os trabalhadores começaram a lutar por um salário real de
subsistência. Quarto, os proprietários de terras férteis mantêm-se melhor do que nunca. Mas
nunca se preocuparam na utilização da sua renda para reinvestir na manufactura porque os
negócios não dão um lucro tão alto como a taxa das suas rendas.

Críticas e Importância da Teoria de Repartição de Ricardo


A teoria de repartição da renda reflectia a contradição e embate de classes sociais. Por isso uma
das primeiras críticas contra ela surge com Malthus que misturava a análise económica e a sua
preferência pela aristocracia. Contrariamente a Ricardo, Malthus olhava para os proprietários
fundiários como a fonte do progresso na medida em que as suas rendas mais elevadas davam o
poder de conseguirem melhorias de produtividade das suas terras, enquanto que os seus gastos
sumptuários impediriam uma superprodução geral. Uma segunda crítica é aquela que advoga que
o fenómeno descrito por Ricardo não é exclusivo à produção agrícola. Pode existir uma situação
similar quando duas ou mais unidades de produção industrial trabalham a custos diferentes e
todas são necessárias para satisfazer a procura. Uma outra crítica baseasse nos estudos de Von
Thunen. Von Thunen demonstrou que a distribuição das culturas não é pura função da fertilidade
das terras, mas também da distância do local da produção até ao consumo e da maior ou menor
transportabilidade no sentido físico e económico dos diversos produtos agrícolas. Uma última
crítica defende que a renda não supõe necessariamente a diferença de fertilidade e de custos.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
Pode haver uma renda absoluta pelo simples efeito da raridade relativa dos bens perante a
procura.
Fora destas e outras tantas críticas é necessário notar que teoria da renda é de importância
particular no estudo da teoria económica. Foi ponto de partida para o estudo das situações
diferenciais na formação dos preços. O conceito da renda tem sido utilizado na análise de muitos
fenómenos relativos ao valor e à repartição. A parir da teoria de Ricardo foi possível distinguir
várias categorias de rendas: rendas diferencias, rendas de localização, rendas intramarginais,
renda do consumidor na análise de preços.

Teoria das Vantagens Comparativas


A teoria das vantagens comparativas é um avanço em relação à teoria das vantagens absolutas
de Adam Smith que defendia que se as nações se especializarem na produção daquilo para a
qual estão melhor equipadas e em seguida trocassem a produção excedente entre si, todas
seriam beneficiadas. Esta teoria de Adam Smith constitui uma aplicação do princípio da divisão do
trabalho. A teoria de Ricardo mostra que mesmo no caso de um País ser superior ao outro na
produção de dois bens o comércio entre eles é compensador. Ricardo apresenta um exemplo do
comércio entre Portugal e Inglaterra. A produção duma tonelada de vinho em Portugal custa USD
80 e para produzir uma tonelada de tecido UD 90. A Inglaterra, para produzir a mesma quantidade
de vindo e tecido precisa de USD 120 e USD 100, respectivamente. Esquematicamente podemos
representar assim:
Vinho Tecido
Portugal 80 90
Inglaterra 120 100

Portugal tem vantagem absoluta tanto para na produção de vinho como de tecido. Mas possui
uma vantagem relativa na produção de em vinho, ou seja, é mais eficiente na produção de vinho.
Portugal ganhará reafectando os seus recursos na produção de vinho e trocando o vinhos
excedente pelo tecido excede na Inglaterra. A Inglaterra ganharia especializando-se na produção
de tecidos. Na teoria do comércio internacional de Ricardo, teoria das vantagens comparativas, os
países devem especializar-se naquilo que são mais capazes de produzir mesmo que um deles
seja mais eficiente d que o outro na produção de todos os bens.
Esta teoria de Ricardo constituiu uma poderosa arma nas mãos de adeptos de livre-cambismo e
permitiu à Inglaterra tornar-se senhor do mundo apoiada na defesa do comércio livre. Mas é
criticada por considerar o mundo económico estático. A deterioração dos termos de troca entre os
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Texto de Apoio
países desenvolvidos e subdesenvolvidos veio demonstra que o argumento Ricardiano era
irrealistico.

Contribuições de Ricardo e o Alcance da sua Obra


As contribuições mais duradouras de Ricardo são essencialmente a natureza dos seus próprios
métodos económicos, a importância que atribuiu à distribuição do rendimento e a sua teoria do
comércio internacional. Mas Ricardo contribuiu também para libertar a economia da filosofia e
tornou-se uma disciplina independente, livre de quaisquer princípios, excepto os da sua própria
lógica. No plano prático Ricardo contribui para a promoção do liberalismo económico e
particularmente da política de livre-cambismo que a Inglaterra adaptou a partir dos meados do
século XIX. Apesar destas contribuições Ricardo é criticado por nunca ter sido capaz de
compreender a verdadeira natureza do modo de produção capitalista, isto pelo facto de tal como
Adam Smith, considerar as leis económicas como leis naturais de alcance universal. Além disso,
ao negar a história acabou adoptando uma visão materialista da filosofia utilitarista.

Depois de Ricardo John Sturat Mill tornou-se o mais influente economista clássico. Mill lançou o
conceito de “homo economicus”, ser que existe abstraído de outras paixões e motivos humanos
com excepção do desejo de riqueza e aversão ao trabalho. (Ricardo Feijó, 2001: 180). No debate
dos princípios que governam o método de investigação económica Mill foi adepto do priorismo em
detrimento do posteriorismo. No método a priori a certeza das premissas obtidas é tida como
verdadeira antes da experiência. O método posteriori que parte do singular para o plural é tidfo por
Mill como um complemento que permite identificar as causas perturbadoras e verificar se as leis
que a ciência prescreve são aplicáveis às situações concretas. É o método que serve para
verificar verdades e não para descobri-las.

Mills lançou também a famosa teoria do fundo de salários. A teoria do fundo de salários defende
que os salários dependem sobretudo da procura e da oferta de mão-de-obra, ou seja da
proporção entre a população (aqueles que trabalham como assalariados) e o capital circulante
apenas gasto no pagamento directo da mão-de-obra. Os salários não podem aumentar a não ser
em razão de um aumento do conjunto de fundos para contratar trabalhadores ou em razão de uma
diminuição do número de trabalhadores que concorrem por emprego. Não pode baixar a não ser
porque diminuírem os fundos destinados a pagar mão-de-obra ou porque aumentou o número de
trabalhadores a serem pagos.
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Texto de Apoio

Críticas a Ricardo
Para além das críticas feitas por Marx, as criticas a Ricardo assentam fundamentalmente nos
autores que seriam posteriormente expoentes da revolução margianalista, Jevons, Menger e
Walras.
Jevons apontou três deficiências na teoria de valor de Ricardo. Primeiro porque a teoria requer
uma outra teoria especial com oferta fixa o que prova que o custo em trabalho não é essencial
para o valor. Segundo, elevados custos em trabalho não conferem alto valor à mercadoria se a
demanda futura for mal prevista. Terceiro, o trabalho é heterogéneo e só pode ser comparado pelo
valor do produto.
Tomando em consideração a divisão clássica dos factores de produção entre terra, trabalho e
capital na determinação de valor, Menger critica Ricardo pelo facto de o valor da terra não
depender também do custo em trabalho para mantê-la e pelo facto da necessidade duma teoria
particular para a renda em terra.

Walras critica Ricardo pela falta de generalidade na sua teoria de valor, diferenciação entre bens
escassos e bens reproduzíveis, insustentabilidade da ideia clássica da casualidade do valor como
dependente dos factores na determinação do preço do bem.

Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986).História do Pensamento Económico.S. Paulo:Atlas: 33-43
Blaug, M. (1989): História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote:137-161
Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget: 75-85
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes:333-252
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico, S. Paulo: Atlas: 166-193.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 77-86
Murteira, M.(1990). Lições de Economia Política de Desenvolvimento. Lisboa:Presença: 84-89.

Trabalho de Investigação
Biografia de David Ricardo, John Stuart Mill e Jean Batiste Say

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

V. Reacções Anti-Liberais

Nacionalismo
Socialismo
Marxismo

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

5.1. Nacionalismo
Apesar de muita aderência na Europa Ocidental, o liberalismo económico da concepção clássica
inglesa encontrou uma forte oposição nos princípios do século XIX. As primeiras ideias e
pensamento anti-liberais tiveram um carácter nacionalista através da escola romântica que teve
em Adam Muller a figura mais importante. Mais tarde surgiu a escola histórica cujo representante
máximo foi o alemão Friedrich List. List desenvolveu a teoria das forças produtivas oposta à teoria
de valor de Adam Smith e esboçada inicialmente por Muller. Os objectivos desta teoria das forças
produtivas era defender a economia nacional em negação ao liberalismo económico e a sua
expressão internacional, o livre-cambismo. A teoria argumenta que os factores capazes de
assegurar o desenvolvimento económico não se limitam apenas aos bens materiais (directos e
indirectos) definidos pelos clássicos, mas também as instituições políticas, jurídicas, morais e
culturais. Ou seja, na teoria das forças produtivas de List, as leis do Estado, a ciência e as artes, a
religião, as condições de segurança, a ordem pública, o respeito das liberdades constituem as
forças produtivas de que depende o crescimento económico.
Na França as ideias nacionalistas tivera como principais representantes Charles Dupont-White,
Paul Cauwés e Lucien Brocard. Este último integrou o proteccionismo num sistema económico
global. Brocard distinguia a economia internacional da economia nacional argumentando que a
análise económica devia partir do plano nacional para o plano internacional, a internacionalização
dos processos económicos exigia uma evolução que deveria partir das bases regionais e
nacionais.
Bibliografia Básica
Lumbrales, J. (1989). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra
Editora: 94- 104
Martins, S. (2001).Economia Política, 9ª ed..Coimbra: Almedina: 219-226.
.

Trabalho de Investigação
Biografia de Frederic List e Adam Muller
História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

5.2. Socialismo

Formas do Pensamento Socialista


Duma forma geral, as doutrinas socialistas defendem que o sistema de direcção central e de
planificação é o único capaz de assegurar um conveniente ordenamento do processo económico.
Por isso, as doutrinas socialistas reclamam a abolição da propriedade privada e da liberdade
económica, ou ao menos o estabelecimento de limitações às instituições básicas do capitalismo e
da doutrina liberal.

As doutrinas socialistas podem ser classificadas sob dois ângulos: em função das medidas e em
função dos processos em que a supressão ou a limitação das instituições liberais deve ser
realizada.

No âmbito das medidas no pensamento socialista podem se distinguir dois grupos: colectivismo e
comunismo. O colectivismo propõe a supressão da propriedade privada dos bens de produção,
admitindo, porém a propriedade privada dos bens de consumo ou bens finais. As doutrinas
comunistas preconizam a abolição completa da propriedade privada, não só dos bens de
produção, mas também de consumo.

No âmbito dos processos através do qual se deve promover a substituição do sistema de


economia de mercado por uma economia de direcção central e apropriação colectiva dos bens,
podemos encontrar as correntes associacionistas, reformistas e revolucionárias. Assim, os
sistemas colectivistas ou comunistas, segundo as diversas correntes do pensamento socialista
podem se realizar pela associação, pela acção reformista ou pela violência.

As construções doutrinárias de sentido socialista formuladas nos fins do século XVIII até meados
do século XIX são designadas por socialismo utópico. Entre os seus representantes contam-se
Henri de Saint-Simon, Sismonde de Sismondi, Robert Owen, Charles Fourier, Lois Blanc, Joseph
Prodhon, entre tantos outros. Estes socialistas acreditavam que reformas políticas graduais
poderiam levar a uma sociedade melhor. Mas, a partir da segunda metade do século XIX,
apareceu a concepção do socialismo como algo a ser alcançado pela revolução social e não pelas
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
reformas nas leis. Esta concepção veio substituir a concepção do socialismo utópico pelo
socialismo como método de interpretação da história e de acção política. A principal figura da
teoria do socialismo revolucionário que veio aglutinar a maior parte do movimento socialista foi
Karl Marx.

Bibliografia Básica
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra
Editora: 94- 104.
Martins, S. (2001). Economia Política, 9ª ed. Coimbra: Almedina: 219-226.

Trabalho de Investigação
Biografia dos principais socialistas utópicos.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

5.3. karl Marx

O Contexto Histórico
Marx foi muito influenciado por três principais correntes de pensamento. O pensamento filosófico
alemão através de Hegel, o socialismo francês e o pensamento clássico ricardiano. A figura
abaixo adaptado de Carlos Araújo é ilustrativa. Mas o pensamento de Marx desenvolve-se no
século XIX num contexto histórico em que a Revolução Industrial tinha causado uma forte
brutalidade das condições de trabalho dos operários nas manufacturas e das minas; difíceis
condições de vida mesmo fora das fábricas (falta de protecção, vida em choças insalubres);
emprego precário em que os salários mal suportavam a subsistência; horas de trabalho a fio com
remunerações baixíssimas para as mulheres e crianças; falência dos pequenos artesãos
produzida pelas fábricas modernas; crises periódicas de superprodução que causavam sucessivas
falências e ruínas.
As Influências de Marx

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Principais Ideias e Conceitos de Marx

Materialismo Histórico
As ideias de Marx firmaram-se dentro do materialismo filosófico, em particular a filosofia
hegeliana. Das noções filosóficas de Hegel Marx reteve os conceitos de alienação e da dialéctica,
mas numa concepção diferente. Hegel via a dialéctica como sendo a propulsora das ideias. Marx
via a dialéctica como motor de desenvolvimento nas relações económicas. Assim, Marx afastou-se
do idealismo hegeliano. O idealismo de Hegel defendia que o espírito universal era o motor da
história. Marx veio afirmava que esta dialéctica de Hegel estava correcta, mas devia ser posta de
cabeça para baixo ou seja que Hegel tinha colocado tudo de pernas para o ar. Assim Marx
substitui o idealismo pelo materialismo histórico. O materialismo histórico defende que antes de
mais as condições materiais de vida numa sociedade são as que determinam o nosso
pensamento e a nossa consciência. Estas condições materiais são também determinantes para o
desenvolvimento histórico. A partir da junção do materialismo de Feurbach e a dialéctica de Hegel
Marx construiu o materialismo dialéctico.
Com base no materialismo dialéctico Marx desenvolveu o materialismo histórico expressa na obra
“A Ideologia Alemã.” O materialismo histórico trabalha com vários conceitos como os meios de
produção, forças produtivas, relações de produção, modo de produção.

Meios de produção é tudo o que é empregue para gerar bens materiais; forças produtivas
englobam meios de produção, capacidade técnica, conhecimento e rotinas de produção; relações
de produção são as relações de cooperação, submissão e outros vínculos que se estabelecem
entre os homens na produção; modo de produção, caracteriza o estágio de desenvolvimento da
sociedade, entre a comunidade primitiva, esclavagismo, feudalismo, capitalismo e comunismo. O
Modo de Produção é composto de três estratos: a base material que são as forças produtivas; o
conjunto de relações sociais que compõem as relações de produção; a superstrutura que é o
conjunto de crenças que mantém a coesão entre os homens justificando o “status quo” e
compelindo ao cumprimento dos papéis individuais. Abaixo o diagrama representativo do modo de
produção.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Digrama do Modo de Produção


O “Capital”
A principal obra de Marx é “O Capital” composto de três volumes. Mas apenas o primeiro volume
foi publicado em vida. É no “Capital” onde se encontram expostas as principais ideias do
pensamento económico de Marx. A principal preocupação de Marx no “Capital” era desvendar as
leis do movimento do capital numa sociedade capitalista. Para o efeito Marx desenvolveu e herdou
dos clássicos uma série de conceitos como o capital, capital constante e variável, classe social,
valor de uso e valor de troca, trabalho concreto e trabalho abstracto, mais valia absoluta e mais
valia relativa, mercadoria, força de trabalho, composição orgânica do capital, exército industrial de
trabalho, alienação etc.

Capital e a Essência do Capitalismo


Em Marx o capital não é um elemento universal presente em todos os estágios da história. O
capital é uma relação social e de produção que surge com a burguesia, classe social do
capitalismo.
O capital de Marx compreende o capital constante relacionado com as máquinas e equipamento,
capital variável relacionado com a força de trabalho e o capital-dinheiro.

Marx define capitalismo como sendo uma relação sui generis caracterizada pela compra e venda
de trabalho. O capitalismo surgiu quando tudo se tornou mercadoria, inclusive a força de trabalho.
Para que isso ocorresse foi necessário que houvesse um processo histórico duma apropriação
privada e violente dos meios de produção pela classe burguesa forçando a classe operária a
vender no mercado a sua força de trabalho. A esse proesso histórico Marx chamou de
acumulação prmitiva de capital.
A relação de compra e venda de trabalho permitiu que os meios de produção se tornassem capital
e a força de trabalho mercadoria.
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História do Pensamento Económico

Texto de Apoio

A essência do capitalismo, segundo Marx, é a exploração da força do trabalho pelo capital ou seja
a formação do valor e a apropriação da mais valia pelo capital.

A diferença entre o sistema capitalista e o não capitalista (mercantil) pode ser encontrada no
esquema de circulação. No sistema não capitalista a produção simples de mercadorias é
representada pela sequência Me (mercadoria) – Mo (moeda) – Me (mercadoria). Neste sistema
Mo é mera intermediária das trocas. No sistema capitalista ocorre a sequência Mo – Me – Mo’,
onde Mo’> Mo. A circulação começa com moeda e termina com um valor maior que o inicial. A
diferença é a mais valia.

Teoria de Valor
Marx retoma a teoria de valor do trabalho de Ricardo e procura melhorá-la. Para o efeito, recorre à
incorporação da terminologia clássica do valor de uso e valor de troca. Em Marx, primeiramente
uma mercadoria possui valor de uso que é a utilidade para necessidades específicas ou qualidade
físicas que geram utilidade. Seguidamente possui um valor de troca que é a qualidade de um bem
ser equivalente a outro com o qual pode ser trocado.3 Os dois valores estão ligados já que um
objecto não se vende a não ser que seja útil a alguém. Mas, não é possível ligar o valor de troca à
utilidade. Não é verdadeiro que uma mercadoria tenha tanto mais valor quanto mais útil for.

Segundo Marx o valor de troca pressupõe um elemento comum a todas as mercadorias: o tempo
de trabalho socialmente necessário para a produção

Tal como Ricardo Marx frisa que o trabalho consagrado à fabricação dos materiais e aos
instrumentos de produção entra na definição do valor. Mas, Marx, no lugar de usar conceitos como
trabalho mediato e trabalho imediato, passa a usar os seguintes conceitos para a determinação do
valor de troca: trabalho socialmente necessário à produção ou o trabalho gasto em média na
sociedade considerada e que não constitui o trabalho gasto nesta ou naquela empresa. Trabalho

3
. Por exemplo, a caneta tem uma serventia diferente do martelo. Por isso tem valor de uso diferente do martelo. O
martelo pode valer 20 canetas. Os dois bens têm valor de troca diferente.
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História do Pensamento Económico

concreto ou trabalho útil4 que diz respeitoTexto


ao de
trabalho
Apoio na sua modalidade específica. Trabalho

abstracto.

O trabalho concreto cria o valor de uso ou utilidade. O trabalho abstraído cria o valor de troca. É o
mero dispêndio de força humana de trabalho, mero dispêndio produtivo de cérebro, músculos,
nervos e mão humanas. O trabalho abstracto é medido pelo tempo de trabalho socialmente
necessário, com o grau médio de habilidade e intensidade em dada época.
O processo da formação do valor da troca reduz todos os trabalhos concretos a trabalho
abstracto.

Em Ricardo o elemento que determina o preço só pode ser o trabalho humano. Contudo, Ricardo
admitia a existência de excepções de bens como obras de arte, vinhos finos cujo preço não é
determinado pelo seu custo em trabalho, daí que para validar a lei da teoria do valor do trabalho,
teve que admitir que o custo em trabalho só explica o valor quando se trata de bens que a
indústria humana pode reproduzir de maneira praticamente ilimitada.
Marx veio justificar a teoria clássica do valor afirmando que não há nenhuma fonte do valor de
troca a não ser o trabalho. Se certos produtos vendem-se a preços que parecem representar uma
coisa que não é o trabalho só é possível se os outros produtos não se venderem a preços que não
representam inteiramente o trabalho gasto na sua produção. Ë o trabalho não representado no
preço dos segundos que se encontra expresso o preço dos primeiros.

Teoria da Mais Valia


A partir da teoria de valor do trabalho, Marx desenvolveu a teoria da mais valia que acabou sendo
considerada a maior descoberta de Marx visando explicar o funcionamento do sistema capitalista.
Para explicar a teoria da mais valia Marx recorreu-se à diferenciação entre o trabalho e força do
trabalho. Força de trabalho em Marx é a aptidão física e mental que o trabalhador possui e que
vende ao capitalista mediante um contrato de trabalho. Esta força trabalho é a única mercadoria
que gera valor em seu consumo ou uso. Trabalho é o valor de uso de mercadoria.
Há dois tipos de trabalhos em Marx, trabalho necessário e trabalho excedente. O primeiro
representa o número de horas diárias necessárias para pagar o valor do trabalho. O segundo

4. Por exemplo, o trabalho concreto dum alfaiate é diferente do trabalho dum sapateiro que também é diferente do trabalho dum
pedreiro.
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Texto de Apoio
representa o número de horas extras. Por exemplo, de oito horas diárias de trabalho, quatro
remuneram o trabalhador. As restantes quatro horas representam o trabalho excedente.
No trabalho necessário ocorre o processo de produção do valor da força de trabalho. O trabalho
excedente que é apossado pelo capitalista representa a mais valia.
Marx estabeleceu a fórmula de circulação do capital industrial como sendo Mo-Me …P… Mé-Mó.
Assim, a origem da mais valia está na esfera de produção P onde a força de trabalho actua
transferindo ao produto mais do que ele vale.

A expressão monetária da mais valia é o lucro do capitalista e a renda fundiária que são uma
consequência necessária da apropriação privada dos meios de produção e do assalariamento.

Dado que os capitalistas e os proprietários fundiários tendiam constantemente a aumentar os seus


rendimentos diminuindo os rendimentos dos trabalhadores, a subida da mais valia sobre o produto
do trabalho foi analisado por Marx como uma exploração da força do trabalho pelo capital.

Em Marx a verdadeira explicação da mais valia deve ser encontrada na esfera produtiva, pois, não
é preciso que cada produto seja vendido a um preço correspondente ao seu valor. Se uns forem
vendidos a um preço acima do valor (mais valia realizada acima do valor criado no sector
considerado) outros serão vendidos abaixo (mais valia realizada abaixo do valor criado no sector
considerado). A soma total tenderá a corresponder à mais valia criada pelo trabalho.

Com o objectivo de demonstrar que a essência da realidade capitalista é a formação e ampliação


do valor e a apropriação da mais valia pelo capital, Marx dividiu os adiantamentos feitos pelo
capitalista para activar a produção em capital constante (c) e capital variável (v). O capital
constante (c) destina-se à construção das fábricas, compra de máquinas e equipamentos,
matérias primas, energia, etc. É constante porque não cria valor, apenas transfere parte de seu
valor ao produto final. O capital variável é destinado à compra de força de trabalho. Marx fala em
capital variável porque na sua análise os trabalhadores criam valor excedente, contrariamente às
máquinas que só transferem parte do valor nelas incorporado. No final do processo produtivo o
capitalista obtém um acréscimo de valor (m) criado pelos operários.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Componentes de Valor de Marx

Valor Total cvm

Marx fala também da mais valia absoluta e mais valia relativa. A mais valia absoluta é aquela que
se obtém através pelo prolongamento da jornada de trabalho. Mas pode acontecer que por
motivos legislativos, resistência dos operários etc. o capitalista não consiga aumentar a jornada de
trabalho. Então pode recorrer a obtenção da mais relativa que é aquela que se obtém mediante a
diminuição do tempo de trabalho necessário. Esta diminuição só é possível através do aumento da
produtividade face ao desenvolvimento da tecnologia e da organização dos processos de trabalho.

Teoria de Salários de Subsistência e a Formação do Exército Industrial de Reserva


Malthus e Ricardo afirmavam que os salários sobem ou descem conforme a população aumenta
ou diminui. A população aumenta quando os salários estão acima do nível de subsistência e
diminui quando estão abaixo deste nível.
Marx esteve de acordo com Malthus e Ricardo no sentido de que o nível do salário oscila acima e
abaixo do nível de subsistência. A diferença da análise de Marx reside no facto de Marx ter
procurado saber as causas, circunstâncias e o tempo dessa oscilação. Para ele essa oscilação é
causada pelo excedente populacional relativo ou seja pelo excesso da população que não
consegue emprego que ele denominou de exército industrial de reserva. Este exército cuja
importância é de estar à disposição do capital para impedir a subida de salários, cria-se em duas
circunstâncias: Quando há a substituição do Homem pelas máquinas e quando o sistema
produtivo está incapacitado de absorver toda a população que chaga ao mercado de trabalho. O
diagrama de Sweezy reproduzido por Carlos Araújo (1986): 69 mostra que os readmitidos são os
que perderam o emprego (C). A letra D compõe-se de desempregados e de uma parcela (B) não
aceite no momento da sua apresentação no mercado de trabalho. Nos momentos de crise
económica o desemprego aumenta, o exército industrial de reserva aumenta e a pressão da
procura de emprego faz baixar os salários como resultado da concorrência entre os trabalhadores.
Estabelecem-se os salários de subsistência. No momento da expansão económica a situação da
procura e da oferta de trabalho inverte-se e os salários tendem a subir acima do nível de
subsistência.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Diagrama de Sweezy

Esquematização do Surgimento dos Salários de Subsitência

Composição Orgânica do Capital


O mecanismo da mais valia de Marx explica que se a força de trabalho for vendida acima do seu
valor, a mais valia diminui. Uma das soluções que o capitalista encontra para inverter esta
tendência é substituir o Homem pelas máquinas para aumentar a produtividade e baixar o custo
de reprodução da força de trabalho. As consequências deste processo são a criação do
desemprego. Mas também pode optar simplesmente por não investir causando também
desemprego. Em ambos os casos o exército industrial de reserva aumenta devido a duas razões:
luta entre os capitalistas e os operários porque os capitalistas estão sempre à procura duma mais
valia crescente. Segundo devido à competição inter-capitalista.
Esta dupla competição entre os capitalistas e os trabalhadores e entre os próprios capitalistas pela
conquista, manutenção e ampliação de mercados tem como consequências o aumento da
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História do Pensamento Económico

Texto de Apoio
composição orgânica de capital (q). A composição orgânica de capital é a relação entre capital
c
constante (c) e o capital total (c+v) expressa pela formula q  . Ela mede a taxa de
cv
substituição da mão de obra por máquinas e equipamento. Por outro lado, o aumento de “q” e de
“c” em relação a “v” demonstra também que ao longo da história a tendência natural do sistema é
tornar-se capital - intensivo.

As Contradições do Sistema Capitalista


Uma contradição fundamental do capitalismo analisada por Marx diz respeito à pauperização da
classe operária e o agravamento da luta de classes. É uma contradição porque os trabalhadores,
criadores da riqueza, são reduzidos a uma condição de miserável. Esta contradição acontece
porque como progresso técnico é inerente ao regime capitalista os detentores de capital têm
interesse em pôr em prática novos métodos de produção que aumentem a rentabilidade dos seus
capitais. Com a nova tecnologia chega-se a um momento em que o ritmo de crescimento da
procura de força de trabalho se torna inferior ao ritmo de crescimento da oferta. Uma situação
desfavorável para os assalariados. Assim, uma parte da classe operária é reduzida à miséria
porque fica privada da possibilidade de trabalhar, criando assim um exército industrial de reserva.

Contrariamente a Ricardo que adoptou a lei de mercados de Say, Marx rejeitou a impossibilidade
das crises de superprodução. Por isso, uma segunda contradição referida por Marx está
relacionada com a crise da superprodução resultante da impossibilidade do sistema manter
permanentemente o equilíbrio entre os dois grandes sectores da economia capitalista dando
origem às crises de superprodução. Marx analisou esta contradição inspirando-se em Quesney
que defendia que os produtos sempre podem ser vendidos pelos seus preços normais. Este ponto
de vista seria adoptado por toda a escola clássica. Marx veio contrariar esta ideia justificando que
há períodos de crise durante os quais não é possível escoar normalmente toda a produção. Isto
acontece porque contrariamente à análise dos clássicos a produção nacional não se compõe
unicamente de bens de consumo. Compreende também meios de produção que se destinam a
substituir os equipamentos usados ou a serem acrescentados ao equipamento existente. Assim,
segundo Marx, não se pode conseguir o escoamento normal dos bens de consumo produzidos se
não se produzir simultaneamente um volume suficiente de meios de produção. Por outras palavras
se o investimento for inferior à poupança, dizia, haverá uma insuficiência da procura de
mercadorias consumíveis em relação à oferta e deste modo uma superprodução. Por conseguinte,

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em Marx a causa das crises é a insuficiência do investimento. Isto explica-se porque o
investimento é determinado pela vontade dos capitalistas de realizarem lucros. Estes
investimentos não são feitos com vista a satisfazer as necessidades dos consumidores, mas sim,
para permitir que certas pessoas auferirem ganhos. Por este facto, o capitalismo contém uma
contradição. A realização dos lucros exige que os produtos fabricados possam ser vendidos pelo
seu valor e isso supõe que o investimento e o consumo estejam numa determinada relação.
Assim, a crise de superprodução é deste modo uma manifestação da contradição assente no facto
de que no capitalismo a construção do equipamento produtivo, que devia ser utilizada para
satisfazer as necessidades humanas é decidida fora de toda a consideração dessas necessidades
por homens que procuram unicamente realizar lucros. Esta contradição demonstra o carácter
desumano do capitalismo, segundo Marx, porque a produção é realizada para a própria produção
e não para a satisfação das necessidades humanas.

Uma terceira contradição tem a ver com a tendência para a baixa da taxa de lucro. Segundo Marx
a lei da baixa tendencial da taxa de lucro afirma que o progresso das técnicas de produção tem
como efeito elevar a relação do capital constante (c) para o capital variável (v) ou a composição
orgânica do capital (q). Se a taxa de mais valia se conservar a mesma, a taxa de lucro baixa
necessariamente.

Há diferenças entre Marx e os clássicos sobre a taxa de lucro. Na análise clássica defende-se
que a acumulação do capital pode cessar e se estabelecer um estado estacionário. Segundo que
a baixa taxa de lucro tem como único efeito limitar progressivamente a poupança, terceiro que
poupança se investe automaticamente. Marx veio tirar conclusões diferentes. Primeiro exclui a
possibilidade de haver de forma duradoira um estado estacionário na economia capitalista
defendendo que ela irá para uma situação instável e explosiva de sub-emprego das forças
produtivas, uma situação que conduzirá ao derrube do sistema. Segundo, veio afirmar que a baixa
m
taxa de lucro que representou pela formula l  não tem como único efeito a limitação
cv
progressiva da poupança, mas sim a criação duma massa de poupança que não se consegue
investir em condições satisfatórias porque deixa de haver possibilidades de os novos capitais
encontrarem investimento que prometa uma rentabilidade suficiente. As consequência disto é que
os novos capitais vão travar uma luta para conquistar uma parte dos mercados já alimentados
pelos antigos capitais. Esta luta concorre para: tornar a concorrência e a especulação mais

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
agudas, aumentar a gravidade das crises de superprodução, e por fim a redução da rentabilidade
média do capital que conduz a uma baixa propensão dos capitalistas para investir enfraquecendo
assim o conjunto dos sectores. Deste modo, assiste-se a uma estagnação da produção não
porque há uma satisfação das necessidades, mas porque não há uma realização do lucro.

As três principais contradições do sistema capitalista (pauperização da classe operária,


impossibilidade da manutenção permanente do equilíbrio entre os dois grande sectores da
economia capitalista concorrendo para a crises de superprodução e a baixa tendencial da taxa de
lucro) conduziram a Marx a firmar que o sistema capitalista é um sistema auto-destruitivo e
progressivo.
Como se processa a autodestruição, segundo Marx: a procura da apropriação privada da mais
valia conduz a uma pauperização dos trabalhadores diminuindo assim a sua capacidade de
consumo dos bens produzidos. A diminuição do consumo conduz à superprodução. Esta
superprodução leva à diminuição da taxa de lucro e, por conseguinte o interesse pelo investimento
desequilibrando assim os dois sectores da economia, o da produção de bens de consumo e da
produção de bens de capital. O desinteresse pelo investimento conduz a uma estagnação da
produção e à falência de muitos capitalistas que acabam engrossando o exército industrial de
reserva. No mercado acumula-se capital sob forma de monopólios beneficiando um pequeno
número de indivíduos. Há um alastramento do desemprego e da miséria por toda a sociedade de
tal forma que a classe capitalista surge como uma minoria. Esta minoria acabará por ser
despojada violentamente dos capitais que lhe asseguram além da mais valia, situações sociais, o
comando dos órgãos e instituições políticas do capitalismo. É assim que se realiza a tese
catastrófica do capitalismo.

A autodestruição acaba dando origem a um novo sistema, o socialismo onde serão abolidas todas
as classes sociais. O Estado se apodera de todos os meios de produção. O trabalho passa a ser
organizado e remunerado em função do serviço efectivo prestado. Os bens produzidos são
avaliados em função do trabalho que representam. O fenómeno da mais valia bem como o
subconsumo desaparecem já que o trabalhador receberá um valor correspondente ao produto do
seu trabalho e a distribuição do poder de compra corresponderá às necessidades dos
consumidores e ao valor da produção.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Críticas a Marx
A obra de Marx é complexa e de carácter totalitarista que tenta abarcar todas as ciências sociais.
O século XX é um século de revolta contra este modelo de grandes sistemas filosóficos que
tentavam explicar a sociedade em todos os seus aspectos. Por isso, as críticas a Marx são
inesgotáveis.
Uma primeira crítica feita a Marx diz se que era melhor na crítica que nas recomendações porque
ele fez previsão da evolução do capitalismo, mas subestimou a sua resistência e também as
aspirações da classe trabalhadora a um estilo de vida capitalista.
Uma segunda crítica relaciona-se com a teoria da pauperização. Constata-se que nos países
industrializados a vontade revolucionária não se generalizou na classe operária. No geral esta se
aburguesou. A miséria não se localizou nos países industrializados como defendia Marx. Pelo
contrário, encontramo-la em regiões do mundo onde os países capitalistas fazem regiões satélites
que proporcionam mercados para a sua produção industrial e aprovisionamentos.

No âmbito da teoria da mais valia, Marx afirmava que a mais valia é um roubo que o industrial
comete ao trabalhador. Uma objecção a este argumento é que naquelas industrias onde se
emprega mais operários que máquinas há mais salários não, pagos por conseguinte, os lucros
deviam ser mais altos. Mas sucede o inverso.

Na análise do lucro do capitalista, Marx defende que esse lucro é constituído por uma parte do
salário subtraído ao operário. Os críticos advogam que Marx não tomou em conta a divisão e a
organização do trabalho porque na prática 100 trabalhadores bem organizados obtêm melhor
qualidade e quantidade de trabalho do que se estivem isolados. Já que a organização do trabalho
é um dos dons mais raros de que depende a produção os críticos defendem ser natural que o
capitalista (pessoa que organiza a produção) fique com uma parte do lucro.

A Influência de Marx e da Sua Obra


Marx não só está vivo como também continua extremamente relevante para a análise económica
e social de hoje. Reavaliado, revisto, refutado e enterrado mil e uma vezes, como o diz Mark Blaug
(1989: 301) o seu pensamento continua a ser clima de opinião.
Se a importância de um economista fosse medida pelas transformações políticas e socais que
engendrou, Marx é o maior de todos os economistas. Nunca manifestações desfilaram na rua sob
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
o pendão de Adam Smith, Ricardo ou Say. Mas a tensão arterial sempre sobe quando Marx está
em apreciação.
Em nome de Marx conduziram-se revoluções, derramou-se sangue, ruíram e construíram-se
impérios.
Marx forneceu uma justificação científica às reivindicações dos oprimidos das sociedades
capitalistas transladada para outras esferas do globo. Deu ao socialismo um quadro teórico que
até então não possuía.
Permitiu uma grande aliança entre os intelectuais revoltados e as massas operárias e lhes deu
uma certeza quase religiosa, a de estarem a avançar no sentido da história.
Provocou grandes transformações na sociedade: na Europa pós-revolução industrial, foi possível
desenvolver uma sociedade mais humana fundamentalmente devido ao movimento socialista
baseado nas ideias de Marx.
A aplicação das ideias de Marx acabou tendo duas vertentes: uma vertente reformista que se
operou nos países mais industrializados da Europa Ocidental e uma vertente radical ou
revolucionária que se operou na Europa do Leste e se expandiu pela China, Cuba, antigas
colónias europeias da África e América do Sul.

A obra de Marx que pela primeira apresentou uma exposição geral e sistemática das leis do
movimento do capitalismo projecta-se em duas direcções: A de inspiração do movimento socialista
e de teorização da economia, renovação do método histórico e precursão da análise dinâmica e
da macroeconomia.

Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo:Atlas: 49-74
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote: 301- 372
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget: 97- 108
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes: 424- 484
Gaarder, J. (2007). O Mundo da Sofia. Lisboa:Presença
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico. Atlas: S. Paulo:195-227
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 130-143..
Murteira, M. (1990). Lições de Economia Política de Desenvolvimento. Lisboa; Presença: 90- 105..
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 283- 284

Trabalho de Investigação
Biografia de Marx, Hegel, Frederic Georg Engels, Ludwig Feurbach.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

VI. Marginalismo e Neoclassicismo


Aspectos Gerais
As Origens e os Contextos
O termo marginalismo ė vulgarmente utilizado para designar a descoberta quase simultânea mas
independente do princípio da utilidade marginal por Jevons, Menger e Walras.
Os contextos da origem e desenvolvimento do marginalismo datam da segunda fase da revolução
industrial que inicia mais ou menos em 1870. A segunda fase da industrialização está relacionada
com o predomínio do capitalismo monopolista ou financeiro caracterizado pela dimensão
impessoal das empresas, defesa da rentabilidade industrial e formação de monopólios na
produção, venda e definição dos preços no mercado.
Com a publicação das obras máximas de Jevons e Menger em 1871 e de Walras em 1874 a
década 70 do século XIX tornou-se conhecida como sendo a década da revolução marginalista.
Predominante até aos anos de 1930, o marginalismo cuja ideia central é o chamado princípio da
utilidade marginal foi desenvolvido pela corrente hostil à revolução social que rejeitou
violentamente o marxismo.
Para manter uma distância em relação às teses de Marx, os marginalistas tiveram que repudiar os
grandes economistas clássicos ingleses, esforçando-se por realizar novas demonstrações às
conclusões da escola clássica quanto às vantagens do liberalismo económico com base em
raciocínios diferentes. Esta é a razão pela qual os marginalistas também são considerados
fundadores da escola neoclássica.
Existem quatro explicações da origem do marginalismo: o desenvolvimento intelectual autónomo
no interior da economia como ciência, a influência das correntes filosóficas, as alterações
nas instituições específicas na economia, a reacção face ao socialismo, particularmente
ao marxismo.
A primeira explicação é considerada a mais plausível e a mais frequentemente utilizada dado o
fracasso e a desintegração da economia clássica entre 1850 e 1860, o abandono da teoria de
valor por Mill e a rejeição da doutrina do fundo de salários deste autor no fim dos anos 70 por
economistas ingleses e alemães de várias filiações.

No âmbito das correntes filosóficas tem se em consideração o renascimento do kantismo em


meados do século XIX na Alemanha e o predomínio do hedonismo na Inglaterra. Grosso modo, a
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
filosofia hedonística defende que os homens são criaturas movidas pela busca do prazer. No
respeitante as instituições da economia, podemos afirmar que há uma mudança das instituições
económicas dos clássicos em relação àquelas que vão vigorar no século XIX. Por exemplo, na
teoria neoclássica, o consumidor substitui o capitalista como a personagem principal; quem
emprega a força de trabalho deixou de se identificar com quem investe o capital; o gestor, o
empresário e o rentier tornaram-se agentes económicos distintos; a poupança privada, em
substituição da poupança empresarial, passa a ser considerada como principal fonte de capitais
de investimento. A última explicação das origens do marginalismo que tem a ver com a reacção da
burguesia contra o marxismo é negada por determinados autores como Mark Blaug que advoga
que “a primeira geração de economistas da nova tradição não tinha qualquer conhecimento das
ideais socialistas e muito menos do marxismo... e que a teoria da utilidade marginal era
ideologicamente neutra no sentido em que apareceu sem qualquer referência directa a questões
concretas, e era compatível com toda e qualquer opinião política e social.” Mark Blaug (1990): 26.
Defende-se assim que os primeiros marginalistas, Jevons, Menger e Walras, não sabiam das
ideias de Marx que morrera em 1883 e do “capital” publicado em 1867 e traduzido para inglês só
em 1887.

Relação entre os Clássicos e os Marginalistas


Os clássicos estudavam as relações de produção que surgiam entre as pessoas no processo
produtivo, ou seja realizavam o tratamento das formas sociais do processo produtivo. Em última
análise as relações entre classes sociais determinam as relações de produção. Esta ênfase nas
relações de classe conferia um carácter político a ciência, daí o nome economia política. Para
eles, mesmo aceitando a acção de leis naturais em seus elementos de análise, a economia
era uma ciência social. O seu problema económico era concebido como uma oposição entre a
terra, trabalho e capital. A quantidade da terra é fixa, mas a quantidade do trabalho pode variar. O
capital é parte do trabalho sob a forma de stocks e bens intermediários. O papel da análise
económica era de estudar os efeitos das variações, em quantidade e qualidade, da força do
trabalho sobre a taxa de crescimento do produto total, isto porque para eles a taxa de
crescimento do produto era função da taxa do lucro do capital, a tendência a longo prazo dos
preços dos factores e da distribuição funcional vinham em primeiro plano como elementos
determinantes do processo económico. No contexto duma economia assente na propriedade
privada os clássicos privilegiavam a acumulação do capital e o crescimento económico e no
contexto do mercado defendiam a livre concorrência pois considerava como factor favorável ao
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História do Pensamento Económico

alargamento do mercado permitindo umaTexto


melhor divisão do trabalho. O bem-estar económico
de Apoio

clássico era entendido em termos físicos e considerado como proporcional ao volume de


produção.
Os primeiros marginalistas, tal como os clássicos, pensavam nas leis económicas como leis
naturais. Também compartilhava com os clássicos uma forte fé no individualismo, acreditando na
concorrência como o grande nivelador que convertia o auto-interesse dos indivíduos numa virtude.
Apesar destas duas principais convergências há diferenças entre as duas escolas: Os
marginalistas vieram mudar o enfoque da economia restringindo o campo de estudo da economia.
Passaram a estudar as relações de produção entre pessoas e a produção material, isto é entre
pessoas e coisas e não mais entre pessoas e pessoas através de coisas. No pensamento
marginalista as questões sociais foram metodologicamente consideradas matérias de análise
teórica pura à parte da economia aplicada. Por isso, a economia marginalista enfatiza o lado da
ciência natural. A categoria teórica central dos marginalistas reside na escolha individual. A
decisão de consumo, o processo de produção e a repartição dos rendimentos são fenómenos
subsidiários derivados dessa escolha.
A principal preocupação marginalista passou a ser a alocação óptima de recursos entre fins
alternativos. O seu núcleo teórico interessava-se principalmente pela busca da melhor alocação
de meios escassos entre fins alternativos. Com os marginalistas, a essência do problema
económico consistia em pesquisar as condições sob as quais serviços produtivos dados eram
afectados, em condições óptimas a usos alternativos. Os marginalistas rejeitaram a ideia dos
efeitos do aumento tanto em quantidade como em qualidade dos recursos e da expansão
dinâmica das necessidades defendida pelos clássicos. Na produção, a teoria marginalista destaca
a alocação dos insumos maximizadora de lucros. Na distribuição da renda, o elemento-chave é a
recompensa pela contribuição marginal dos factores à geração do valor. Não existe entre os
marginalistas uma teoria de distribuição específica para cada factor, como nos clássicos. Os
preciosos temas dos clássicos como a acumulação de capital e o consequente crescimento
económico deixaram de ser uma preocupação com os marginalistas. O desenvolvimento
(crescimento) económico foi substituído pelo conceito de equilíbrio geral. A teoria malthusiana da
população desapareceu na teoria económica. O crescimento demográfico passou a ser tratado
como uma variável exógena na nova teoria económica. A preocupação com os custos de
produção a longo prazo de Ricardo que eram tidos como principal determinante do valor da
mercadoria foi substituída pela procura a curto prazo. O marginalismo veio conferir à matemática o
papel proeminente na ciência económica.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
No geral os três pilares básicos da economia política clássica que foram muito criticados pelos
marginalistas foram a doutrina da população de Malthus, teoria do fundo de salários e a teoria do
valor de trabalho.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

Explicação do Paradoxo do Valor de Adam Smith


Um dos grandes méritos do pensamento marginalistas foi ter solucionado o quebra cabeça dos
clássicos relativo ao paradoxo do valor. Para o efeito, os marginalistas recorreram-se a dois
conceitos, escassez e utilidade. O conceito da escassez explica que os bens económicos são
bens escassos e têm mais valor quanto maior for a sua escassez. O conceito da utilidade afirma
que a utilidade de um bem diminui à medida que aumenta a quantidade do bem à nossa
disposição (grande contributo de Menger à teoria económica).
A distinção entre a utilidade total e a utilidade marginal tomando como exemplo a situação de uma
pessoa com sede no deserto ajuda ajuda a entender melhor o conceito de escassez e utilidade.
Para uma pessoa no deserto com tanta sede, o primeiro copo terá uma utilidade maior que o
segundo e assim por diante. Cada copo adicional traz uma utilidade adicional (marginal) que vai
decaindo com os copos sucessivos. As figuras abaixo exemplificam melhor a situação.
A utilidade total é a utilidade que o indivíduo obtém em dois ou mais copos de água. A utilidade
marginal é a utilidade de cada um dos copos de água consumidos. Ou seja a utilidade total de
cinco unidades consumida é a soma de todas as utilidades do primeiro, segundo, terceiro e quarto
copo. (Pode acontecer que a partir do quarto copo, por exemplo, mais água até saiba mal e então
a utilidade marginal do quarto copo é negativo, ou seja, diminui a utilidade total). Os exemplos 1 e
2 abaixo podem ajudar a compreender o fenómeno.
No primeiro exemplo, cada rectângulo simboliza um grau determinado de utilidade. Os gráficos
demonstram que a utilidade total cresce a uma taxa decrescente (Os rectângulos são
sucessivamente menores). Esta taxa decrescente mede a utilidade marginal que aparece nos
diagramas abaixo:

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História do Pensamento Económico

Texto de Apoio

Exemplo 1

Exemplo 2
Numericamente podemos assim exemplificar a medição da utilidade total e marginal de 4 copos
de água bebidos sucessivamente:

Copos de Água Utilidade Marginal Utilidade Total


1 4 4
2 3 4+3= 7
3 2 4+3+2 = 9
4 -1 4+3+2-1= 8

Os exemplos demonstram que há uma lei parecida com a lei dos rendimentos decrescentes,
chamada lei da utilidade marginal decrescente. Esta lei afirma que à medida que se consome mais
do bem, a utilidade de cada unidade consumida desce. No entanto, esta lei nem é sempre
verificável porque há várias coisas que nos dão tanto mais prazer quanto mais as praticamos.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
A revolução marginalista baseou-se em duas ideias o utilitarismo e o marginalismo formando
Este conceito veio oferecer uma explicação ao paradoxo do valor que os clássicos não
conseguiam explicar. Assim, na óptica do marginalismo o que Adam Smith pretendia explicar é
que a utilidade total da água é muito maior que a do diamante, mas a utilidade marginal do
diamante é muito superior que da água, porque como há muita água e poucos diamantes, pela lei
de utilidade marginal decrescente, a utilidade da água desce muito em relação ao diamante.

A Escola marginalista é também chamada psicológica, isto porque faz depender o valor em função
do estado psicológico da pessoa ou da força de atracção que cada bem exerce sobre o indivíduo
em determinada situação. Por exemplo, uma pessoa cheia de sede no deserto a água pode valer
um preço exorbitante e o diamante pode perder o seu interesse de tal forma que um litro de água
no deserto pode ser trocado por um diamante. Esta ideia entusiasmou os primeiros marginalistas
de tal forma que passaram dar importância exclusiva à demanda na determinação do valor.

O entusiasmo marginalista pela demanda só foi estancado por Alfred Marshall. Recorrendo ao
exemplo da tesouro segundo o qual não se pode cortar uma folha usando apenas uma das
lâminas da tesoura, Marshall demonstrou que não se podia considerar o problema do valor
examinando apenas o lado da demanda. Era preciso considerar também o lado da oferta (custo
da produção).

A teoria marginalista virada a demanda foi importante porque chamou atenção para o problema
da escassez e dos acréscimos sucessivos (marginais) a uma certa quantidade de bens.

As Diferenças entre os Marginalistas


As ideias dos marginalistas eram mais ou menos convergentes. Mas havia uma certa diferença de
ênfase e de metodologia. Neste contexto, no início da era neoclássica encontramos três
tendências fundamentais. A tendência da escola matemática de Lausane encabeçada por Walras.
Walras deu mais ênfase na utilidade, equilíbrio geral e a interdependência do sistema económico
recorrendo-se ao método Matemático. Walras é considerado o precursor da economia matemática
que ganhou corpo no século XX. A escola psicológica de Viena (escola austríaca) também deu
ênfase à utilidade. Mas em termos metodológicos opunha-se à utilização da matemática como
instrumento de análise. Seu precursor foi Menger. Menger apresentou os mesmos princípios de
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História do Pensamento Económico
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Walras, mas afirmava que a matemática não ajudava em nada aos economistas na determinação
da essência qualitativa de fenómenos como o valor, renda e os lucros. Menger e Jevons da escola
de Cambridge, contrariamente à escola de Lausane tinham uma formação em matemática. A
terceira tendência é a da escola de Cambridge que utilizou de forma conjugada o método
marginalista e o matemático, principalmente por parte de Jevons. Mas o expoente máximo desta
escola, Alfred Marshall não enfatizava o papel da matemática na economia. Marshall dizia da
matemática: 1. use a matemática como abreviatura e não como método de pesquisa; 2. utilize até
ter obtido resultados; 3. traduza para linguagem corrente; 4. ilustre com exemplos importantes da
vida real; 5. queime a matemática; 6. se não conseguir realizar a regra 4 use a regra 3.
As diferenças na visão da economia entre os marginalistas tinham a ver também com os contextos
culturais distintos e ligações de raízes filosóficas díspares o utilitarismo na Inglaterra, a filosofia
aristotélica na Áustria e o racionalismo cartesiano na França.

Pontos Comuns do Pensamento Marginalista


Um primeiro ponto tem a ver com a preocupação com o equilíbrio. Os marginalistas defendiam a
existência de forças internas e actuantes que tendem a levar o sistema económico ao equilíbrio.
Walras deu ênfase ao equilíbrio geral. No equilíbrio geral o preço de um bem depende do preço de
todos os demais bens, serviços factores de produção existentes. Marshall deu ênfase ao equilíbrio
parcial cuja análise coloca todos os outros factores que entram na definição da procura e da oferta
no mercado constante e só considera o preço do bem. O equilíbrio parcial é o que sobrevive nos
actuais manuais de economia. Segundo ponto é a ênfase nos aspectos microeconómicos, isto
porque a preocupação dos marginalistas era a alocação óptima dos recursos, o estudo das firmas
individuais, unidades familiares e a relação entre estes e aqueles. Um terceiro ponto é a aceitação
da lei de Say.

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Mérito do Pensamento Marginalista


Um primeiro mérito está relacionado com a tentativa do esclarecimento do paradoxo do valor dos
clássicos chamando atenção para o problema da escassez e da utilidade marginal com impacto
para uma utilização racional de recursos. Este facto veio transformar a economia como uma
ciência de alocação óptima de recursos escassos entre fins alternativos, aceitando a sociedade
como um sistema (não distingue as relações de classe). O segundo mérito foi o facto de o seu
enfoque ter contentado a muitos economistas devido a dois motivos: primeiro a alocação de
recursos exige certas técnicas que se prestam mais ao tratamento matemático. Os modelos
matemáticos vieram dar à economia um certo ar de cientificidade fora do direito e da história. Um
Segundo motivo relaciona-se com a expansão do capitalismo pelo mundo a partir de 1870. Por
conseguinte, não era conveniente aos liberais que se levantassem problemas capazes de
provocar intranquilidade como os que elucidavam a questão do excedente económico e a sua
distribuição pelas classes sociais que as análises de Marx tinham trazido à superfície. O melhor
era afastar os problemas das classes e considerar apenas o conjunto da sociedade sem a
distinção de classes. Assim, no sistema económico do pensamento marginalista temos as
unidades familiares capazes de fornecer os factores de produção e de outro lado as unidades
produtivas capazes de fornecer bens e serviços. A relação entre estas duas entidades dá-se
através dum fluxo circular. Os neoclássicos não distinguiam entre a remuneração do trabalho
(salário) e a remuneração da propriedade (capital, juros e alugueis). Para eles o mais relevante é
saber que as unidades familiares procuram maximizar a sua utilidade em bens e serviços (circuito
externo) e as empresas procuram maximizar o lucro (circuito interno). Um terceiro mérito foi terem
conseguido afastar a economia da crítica social através da distinção entre o campo da ciência
económica e o que não lhe dizia respeito a ciência econóimica, como o poder, as classes e a
distribuição da riqueza. Nesta base, os marginalista puderam obter favores da ordem
estabelecida, dos banqueiros, industriais e dos próprios conservadores. Por fim os marginalistas
tiveram o mérito de terem criado o professor de economia ao dotar a ciência economia dum
invejável arsenal matemático.

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

O fluxo circular simples

Bibliografia Básica
Araújo,C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 75- 109.Blaug,
M. (1989). História do Pensamento Económico.Lisboa: Dom Quixote: 17-170
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget:112- 126
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes:510-550
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 163-194
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 283- 284

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História do Pensamento Económico
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6.1. Autores das Ideias e Pensamento Marginalista

Herman Gossen
Stanley Jevons
Karl Menger
Léon Walras
Alfred Marshal

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

6.1.1. Gossen e as Origens do Marginalismo


Gossen que afirmava que é preciso desfrutar da vida de tal maneira que a soma das satisfações
obtidas no decurso da existência atinja o máximo” lançou as bases da escola psicológica e
marginalista que ganhou sustentáculos a partir de Jevons, Menger e Walras. Por isso é
considerado o formulador das bases do conceito de utilidade marginal. Gossen formulou três leis
económicas importantes, as leis de Gossen. A primeira lei afirma que à medida que se consome
mais de um bem, o prazer que se retira de cada unidade adicional, vai diminuindo até ao ponto em
que é atingida a saciedade. A segunda lei defende que quando a satisfação se renova, verifica-se
o mesmo fenómeno, mas já no ponto inicial, isto é, no primeiro momento desta segunda
satisfação, a intensidade é menor do que em correspondente momento da primeira, pelo que a
saciedade se atinge mais rapidamente; estas diferenças são tanto maiores quanto mais frequente
se torna a satisfação. Terceira lei de Gossen, o Homem pode escolher entre várias satisfações,
mas não tem a possibilidade de as alcançar todas de uma maneira completa; por isso para
alcançar o máximo possível de satisfação, tem de desfrutar a todas parcialmente e de tal maneira
que a intensidade de cada uma delas seja, no momento em que cessa, igual às das demais.

6.1.2. Stanley Jevons


Valor e Lei da Desutilidade Crescente
Jevons procurou refutar as teorias de valor dos clássicos e de Marx baseados nos custos de
produção e no valor do trabalho afirmando que a teoria do valor do trabalho é falsa na medida em
que o gasto de trabalho precede, por vezes com um longo intervalo de tempo, o momento em que
o bem é consumido. O autor veio filiar o valor à utilidade das coisas, utilidade esta que
dependente da necessidade a qual depende do número de unidades da coisa de que o homem
dispõe. Nesta base Jevons estabeleceu a lei da indiferença dos mercados que afirma que o custo
de produção não tem sobre o valor mais do que uma influência indirecta, ele (o valor) depende do
volume de produção (o número de unidades que o homem dispõe a produzir), portanto a maior ou
menor raridade do bem. O valor das diversas unidades de cada bem é sempre, em cada
momento, uniforme, seja qual for o seu custo de produção.
Na tentativa de explicar a oferta de mão-de-obra a partir da análise das sensações de dor e prazer
Jevons desenvolveu também a lei da desutilidade crescente conhecida como a terceira lei de
Gossen. Esta lei diz respeito ao custo psicológico do trabalho, uma espécie de dor. Nela, Jevons
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
defendia que o esforço do trabalho é inicialmente desconfortável, depois produz prazer ao
indivíduo. Com a continuação do processo, há um ponto no qual é gerada crescentemente uma
dor ou desutilidade líquida, quando o prazer começa a perder para a dor. O trabalhador maximiza
a sua utilidade aplicando-se até ao momento em que a desutilidade gerada do último esforço
(desutilidade marginal do trabalho) iguala-se à utilidade marginal do salário auferido.

6.1.3. Carl Menger


Economia, Bens Económicos e Não Económicos.
Para além de ter apresentado ideias básicas da escola marginalista sem recurso à exposição
matemática como Jevons e Walras, Menger apresentou com notável clareza muitas das ideias
hoje que estão incorporadas à teoria do consumidor da escola neoclássica. A partir do estudo da
natureza dos bens e das necessidades humanas apresentou de forma mais clara o que hoje
aparece em todos os manuais de microeconomia: a distinção entre bens económicos e bens não
económicos. Disse Menger que os bens económicos são escassos, isto é, têm uma oferta menor
que a demanda. Com referência e esses bens, Menger dizia que as pessoas adoptarão as
seguintes atitudes e medidas no tocante ao atendimento das suas necessidades: escolher entre
as necessidades mais importantes e aquelas que necessariamente deixarão de atender; tirar o
máximo proveito possível das reduzidas quantidades de bens de que poderão dispor. Menger
decidiu chamar economia ao conjunto total das actividades do homem orientadas para os
objectivos acima descritos.

Utilidade Marginal e o Paradoxo do Valor


Menger retomou as leis de Gossen com maior precisão e a partir do conceito de utilidade tentou
explicar o paradoxo do valor, pombo de discórdia entre os clássicos, marxistas e os neoclássicos.
Para esclarecer esse problema de valor e a noção da utilidade marginal, Menger construiu o
seguinte quadro:

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio

I II III IV V VI VII VIII IX X

a 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
b 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
c 8 7 6 5 4 3 2 1 0
d 7 6 5 4 3 2 1 0
e 6 5 4 3 2 1 0
f 5 4 3 2 1 0
g 4 3 2 1 0
h 3 2 1 0
I 2 1 0
j 1 0

k 0

As colunas de I a X expressam os diversos bens de que necessitamos por ordem decrescente de


importância. As linhas a a j expressam os acréscimos sucessivos a estas necessidades. Suponha
que a coluna I indica a importância do item alimentar para um trabalhador e a coluna V a
importância do item bebida alcoólica. Os valores números decrescentes representam o
decrescente poder de satisfação da necessidade para um indivíduo de unidades adicionais da
mesma mercadoria ou serviço.

A primeira unidade alimentar tem para o trabalhador em causa valor 10. A segunda terá valor 9.
Quanto mais essa pessoa se alimenta, menor será a satisfação que cada acréscimo unitário de
alimento lhe proporcionará. A utilidade marginal decrescente é ilustrada pelos números
sucessivamente menores da coluna.
Suponha-se que o trabalhador tenha feito quatro acréscimos sucessivos à sua necessidade
alimentar. Estará na coluna I, linha d. A utilidade marginal da quarta unidade de alimentação é de
7. A coluna V indica a necessidade de bebidas alcoólicas. Quando o trabalhador fizer o 5º
acréscimo à sua alimentação (Coluna I, letra e), a utilidade marginal desta unidade será igual à
utilidade marginal do primeiro copo de cerveja (coluna V, alínea) que é 6.
Segundo Menger, citado por Carlos Araújo (1986): 106 o que ocorre é o seguinte: o atendimento
da necessidade de alimentação tem para o trabalhador em questão uma importância
incomparavelmente maior que o atendimento da necessidade de consumir álcool, quando o
atendimento da necessidade alimentar atinge o grau de plenitude 6, chega-se a um ponto em que

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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
os posteriores actos de atendimento de sua necessidade de álcool (necessidade que em princípio,
é menos importante), passa a ter maior importância por ter permanecido sem atendimento.

Menger, tal como os outros marginalistas andava à procura de uma teoria do valor, então ligou a
decrescente satisfação marginal ao preço e às quantidades. Neste caso, o consumidor paga
voluntariamente um preço apenas para a satisfação marginal. Como a utilidade marginal diminui
com uma maior quantidade procurada (consumida), o preço que o consumidor está disposto a
pagar também deve diminuir. O consumidor paga voluntariamente pelo último pedaço. Cria-se
assim uma procura deslizante.

Contribuição e Críticas a Menger


A grande contribuição de Menger está relacionada com o conceito da utilidade marginal. Mas há
duas críticas fundamentais a tecer. O carácter subjectivo da sua teoria de valor. A teoria não está
à altura de explicar a formação de preços numa sociedade industrial por deixar de fora os custos
de produção. Segundo, o facto de Menger ter considerado ser impossível o estado da economia
nacional como um todo. Isto porque se a base do valor é a necessidade de cada sujeito e se tal
necessidade varia de caso para caso não é possível falar de uma necessidade nacional. Falar de
uma necessidade nacional diferente da necessidade individual é negar a importância da
necessidade individual e isto é destruir todo o sistema. Por isso, diferentemente dos clássicos, a
microeconomia constituiu a principal preocupação dos marginalistas. Só a partir de keynes esta
posição foi abalada.

Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo:Atlas: 75- 109.
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 17-170.
Canterbery E. (2002). Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget:112- 126
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed, Lisboa: Horizontes: 510-550
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 163-194.
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 283- 284

Trabalho de Investigação
Biografia de Gossen, Jevons, Jeremy Bentham, Carl Menger, Bohm-Bawerk, Van Wieser, F.A.Hayek e M. Rothbard

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História do Pensamento Económico
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6.2. Alfred Marshall

Características Gerais do Pensamento de Marshall


Uma primeira característica do pensamento de Marshall é o eclectismo. Nas suas análises
Marshall procurou aliar a teoria à realidade defendendo que ela apenas constitui um instrumento
de análise de simplificação explicativa que se aproxima mais da realidade quanto maior o número
de elementos se incluir nas suas construções. A segunda característica é o reconhecimento de
que a evolução do meio social conduz à transformação constante da actividade económica,
concluindo assim que a teoria tem de se adaptar à actividade económica e que a validade das
construções dessa teoria sempre se restringe às condições definidas pelo economista como
hipótese.

O Impacto da sua Obra


A obra de Marshall teve maior impacto que as obras de Jevons e de Walras devido aos seguintes
factores: Como Marshall tinha a intenção de se dirigir aos homens de negócio não a especialistas,
escrevia de forma mais acessível relegando os diagramas e as elaborações matemáticas a
apêndices e notas de roda pé. Segundo, Marshall não rompeu com a grande tradição da
economia clássica apresentando a sua obra não como uma ruptura com o passado, mas sim
como uma continuidade desse passado. Por isso, quando se fala do marginalismo, a partir de
Marshall, fala-se de uma escola neoclássica. Marshall procurou conservar o legado dos clássicos
sob outro enfoque. Terceiro, a sua obra é não só analítico, como a de Ricardo, mas também cheia
de conselhos e considerações práticas como a de Adam Smith. Por fim, a obra de Marshall é
seminal que serviu de fonte e inspiração para inúmeras análises e teorias posteriores. A
microeconomia neoclássica, tal como é ensinada hoje na maioria das universidades tem a sua
principal fonte de inspiração nos “Princípios” de Marshall.

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Diferenças entre Marshall e os Clássicos


Uma primeira diferença tem a ver com o preço. Os clássicos preocupavam-se com o “preço
natural” não com a variação na quantidade demandada provocada pela variação dos preços.
Assim os grandes temas dos clássicos eram os salários, os lucros e a acumulação. Não se
preocupavam com os preços relativos, ofertas e procura ou lucros empresariais, como Marshall.
Segundo, a estrutura de pensamento da obra de Marshall refere-se a um mundo no qual não há
lugar para a acumulação de capital. Um mundo estático que é o enfoque comum dos
marginalistas. Por fim, os clássicos preocupavam-se com a criação de valor que para eles eram
apenas os bens tangíveis. Marshall veio afirmar que o homem não cria bens materiais, mas sim
utilidades. Assim, no pensamento marshalliano, os serviços são também produtivos porque criam
utilidades.

Algumas Ideias do Pensamento de Marshall


Oferta e Procura.
O estudo da procura e suas variações em função do preço são uma das partes mais importantes
do pensamento de Marshall. Para Marshall, a análise de um sistema económico deveria começar
pelo estudo do comportamento dos consumidores e produtores e pelo seu relacionamento no
mercado. Os consumidores buscam a maximização da sua satisfação e os produtores buscam a
maximização dos seus lucros. A procura é a relação entre preços e quantidades procuradas. A
preços mais baixos, os consumidores tendem a adquirir mais de um determinado bem. O produtor
comporta-se de modo inverso. A preços mais elevados tende a oferecer mais.

Para desenvolver a sua teoria da oferta e procura e do equilíbrio, Marshall combinou a teoria da
produção dos autores clássicos com a teoria da procura dos marginalistas na chamada “cruz
marshalliana”, base da teoria do valor neoclássica.

O Equilíbrio do Mercado
A ideia do aumento da quantidade procurada com a diminuição do preço vem do conceito
marginalista de utilidade marginal decrescente. Como cada medida consumida dá cada vez
menos satisfação, o preço deve ser cada vez mais baixo para garantir a sua compra. Esta é a lei
da procura normal, em que a quantidade do bem procurado aumenta quando o preço baixa. Todas
as forças atingem um equilíbrio quando as curvas da procura e da oferta se cruzam, como as
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lâminas de um par de tesoura, fornecendo um preço de equilíbrio. Este preço persistirá e as forças
ficarão num estado de repouso. Outras forças, como o rendimento ou as mudanças de custo,
podem alterar as curvas de oferta e da procura e daí resultará um novo preço de equilíbrio.

Conceito de Elasticidade
No estudo das variações na procura provocada por variações de preços, Marshall percebeu que a
quantidade procurada de determinado bem era mais ou menos sensível a variações em seu
preço. A partir daí desenvolveu o conceito da elasticidade-preço da procura, actualmente muito
usado nos manuais de microeconomia. De forma simplificada a elasticidade- preço de procura é
definida como sendo a mudança de percentagem em quantidade procurada dividida pela mudança
de percentagem no preço. A flexibilidade da ideia de elasticidade permitiu a Marshall alarga-la à
oferta e ao factor mercado bem como aos tipos de rendimentos.

Teoria do Valor e Preço


O marginalismo neoclássico acabou reivindicando uma solução para o velho problema da teoria
de valor dos clássicos. Smith, Ricardo e outros clássicos tinham curvas de oferta. Marshall veio
alargar a ideia de preço ao ponto de equilíbrio da oferta e procura. O ponto to de equilíbrio tornou-
se a base de uma teoria do valor e eventualmente valor tornou-se sinónimo de preço, pelo que
hoje em dia usa-se o termo teoria do preço.

Equilíbrio de Marshall e Equilíbrio de Walras


A noção de equilíbrio geral de Walras difere da visão de mercados de Marshall. O sistema de
Walras é da tradição de Quesnay e J. B. Say porque o pleno emprego é garantido pelos ajustes
automáticos de mercado. Walras considerava os preços de todas as mercadorias. O equilíbrio
geral de Walras era uma solução dum sistema de equações simultâneas. Marshall veio introduzir
a ideia de equilíbrio parcial. Marshall isolou um mercado num dado momento do resto da
economia. Até hoje, aprende-se microeconomia com a abordagem marshalliana do equilíbrio
parcial já que o equilíbrio geral exige muitos conhecimentos matemáticos para a resolução de
equações simultâneas. Mas o equilíbrio geral tem sido usado na pesquisa económica avançada
desde os anos 50 do século XX. A partir dos a anos 90 é o equilíbrio geral que passou a dominar
as pesquisas económicas. Portanto, no final do século XX a erudição económica foi dominada por
Walras e não por Marshall. O sucessor de Walras na Universidade de Lausanne foi Vilfredo
Pareto. O sucessor de Marshall em Cambridge foi Cecil Pigou.
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Tempo na Análise Económica


Os clássicos concebiam a actividade económica como tendo um equilíbrio espontâneo. Não
consideravam que o tempo necessário para as acções e reacções através das quais esse
equilíbrio deveria se formar, pudesse invalidar as suas conclusões e impedir que se
transformassem em princípios doutrinais.
Preocupado em definir com rigor as hipóteses a que se referiam as suas deduções, Marshall
aprofundou a problemática do tempo na teoria económica, principalmente para a determinação
dos custos de produção. Assim, na análise Marshalliana pode-se distinguir um período curtíssimo
de mercado durante o qual a oferta é em quantidade absolutamente fixa, ou seja, ao produtor é
impossível aumentar a oferta dos seus produtos. Período curto durante o qual as quantidades
oferecidas podem aumentar, mas a capacidade produtiva é fixa. Não há um aumento da escala de
produção. Período longo durante o qual a capacidade produtiva é variável, mas em que os
recursos potencialmente disponíveis para a indústria são fixos em quantidade, ou seja, há
alteração da escala de produção com a construção de novas fábricas, compra de novas máquinas
e equipamento. A oferta neste período aumenta

Economias Internas, Economias Externas e os Custos de Produção


Segundo Marshall, no período longo, também designado longo prazo, os custos de produção de
determinada empresa podem ser constantes, crescentes ou decrescentes. Os factores da
determinação desses custos são as economias internas que podem ser controladas pelas
empresas e as economias externas que escapam ao controlo da empresa. Estas economias
externas verificam-se sempre que um aumento da produção da indústria determine o aumento da
quantidade que qualquer empresa dessa indústria está disposta a oferecer para cada preço, isto
é, se se verificar uma deslocação da curva de oferta de curto prazo da empresa. Normalmente as
empresas podem conseguir economias internas através da redução de custos de produção
mediante a racionalização do trabalho, ampliação das suas instalações no âmbito da economia de
escalas. Mas as economias de escala têm o problema do crescimento de algumas firmas que leva
ao oligopólio e ao monopólio, destruindo assim o quadro idílico da concorrência perfeita, segundo
Marshall.

Os Seguidores do Marginalismo

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As teorias do marginalismo foram mais tarde aperfeiçoadas por outros economistas, como por
exemplo Francis Edgeworth, Vilfredo Pareto e Arthur Cecil Pigou. Edgeworth que tomou Marshall
como seu mestre desenvolveu as chamadas curvas de indiferença. Vilfredo Pareto sucedeu
Walras na Universidade de Lausanne e veio clarificar o conceito de óptimo, o óptimo de Pareto. O
óptimo de Pareto é aquela posição onde não é possível melhorar em qualquer dimensão, sem
piorar noutra, ou seja, um indivíduo não pode melhorar a sua satisfação, sem que pelo menos a
de outro piore. Pigou sucedeu Marshall em Cambridge e com ele se desenvolveu o efeito de
riqueza ou o efeito Pigou que afirma que uma baixa no nível geral de preços provoca um aumento
de riqueza dos sujeitos económicos que detêm activos financeiros, o que os induz a aumentarem
o seu consumo. Pigou acabou sendo a principal “cabeça de touro” keynesiana.

Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 75- 109.
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote: 17-170.
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes: 510-550
E. Ray Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico. Lisboa: Instituto Piaget: 112-
126
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 163-194
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial.Lisboa: Dom Quixote:283- 284

Trabalho de Investigação
Biografia de Alfred Marshall, Francis Edgworth,Vilfredo Pareto e Cecil Pigou.

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VII. Keynesianismo

O Contexto Histórico e Teórico da Emergência


O keynesianismo surge como consequência da crise deflacionista. Dominou a política macro-
económica dos Estados Unidos do final da segunda Guerra Mundial até 1968, a política
económica britânica de meados dos anos 30 até a subida de Margareth Thatcher em 1979 ao
posto de primeira-ministra. Foi forjada por Keynes num contexto de recessão económica que
acabou por degenerar na depressão dos anos 30. Esta depressão criou um enorme desemprego
nos factores de produção e grandes quedas de rendimentos nas economias capitalistas. Até certo
ponto, a Grande Depressão era visto como a materialização da teoria da queda catastrófica do
sistema capitalista moldado no pensamento de Marx.
No âmbito teórico, a teoria económica dominante era a neoclássica, principalmente na sua versão
Marshalliana. O Suposto desta teoria é a lei de Say, segundo a qual o processo de produção
capitalista é também um processo de geração de rendas (lucro, salário, aluguéis, etc.) e, por isso,
a oferta cria a sua própria demanda. A este suposto acrescenta-se o do ajustamento automático
da economia que conduz à seguinte conclusão: o sistema económico, como um todo, não pode
admitir desemprego involuntário. Se houver desemprego será temporário, esporádico e parcial.
Mas como nos anos `30 inicia um desemprego na Europa Ocidental e nos EUA, a teoria
neoclássica foi posta em causa pelos factos. A explicação dos teóricos neoclássicos começou a
tomar em consideração o lado do factor trabalho (salários e sindicalismo) e o lado das empresas
(monopólio e oligopólio). Do lado do factor trabalho os neoclássicos diziam que a teoria tradicional
do salário já não obedece a lei da oferta e da procura. O sindicalismo impedia que os salários
baixassem rompendo assim a lei da oferta e da procura de trabalho. Os salários estavam mais
altos do que estariam se funcionasse o mecanismo do mercado. As empresas deixaram de
contratar porque os salários se tinham elevado muito e isto era a razão da geração do
desemprego. As Causas do desemprego eram os salários altos. Do lado das empresas, também
havia problemas porque o desenvolvimento dos monopólios e oligopólios destruía as
características da concorrência perfeita e, portanto, a possibilidade de auto-ajustamento da
economia. Para os neoclássicos, o que estava errado não era a teoria, eram os factos. Os
factos
tinham que se ajustar à teoria e não o inverso.
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Reacções Teóricas à Grande Depressão e ao Desemprego.


Keynes, Neoclássicos, Marxistas
Perante a Grande Depressão, os neoclássicos argumentavam que o desemprego provinha dos
aspectos rígidos do sistema económico que bloqueavam os mecanismos naturais do ajustamento
e do regresso do pleno emprego. A Solução residia na redução de salários para encorajar a
contratação dos empregados, reduzir os preços de venda para relançar a procura. Os
neoclássicos baseando-se na teoria do ciclo económico segundo a qual as oscilações conjunturais
são inevitáveis, mas de correcção automática defendiam que a crise de 1929 constitua o justo
preço a pagar pela euforia económica dos anos 20. O desemprego não constituía um problema
porque o mercado do emprego era como um outro mercado qualquer. O equilíbrio seria natural
desde que se deixasse agir o mecanismo do preço, neste caso a variação do salário real que
permite ajustar a oferta e a procura. Podem existir problemas de ajustamento temporário, mas
nunca uma sobreprodução nem desemprego permanente.
Keynes tomou uma posição contra o optimismo dos neoclássicos segundo os quais não era
preciso se fazer nada para debelar a crise da Grande Depressão e que tudo haveria de se
normalizar automaticamente. Mas também tomou uma posição contra o pessimismo dos marxistas
que acreditam que a crise dos anos 30 era a crise final rumo a queda do capitalista no âmbito da
tese catastrófica do fim do capitalismo formulada por Marx. Neste sentido, o desemprego
Keynesiano irá se diferenciar tanto do desemprego neoclássico como do desemprego Marxista. O
desemprego keynesiano refere-se a uma situação em que o fluxo de investimento é insuficiente
para absorver a poupança que resultaria de um nível de rendimento de pleno emprego. Em virtude
da relativa super-abundância de capital físico, as taxas de remuneração são demasiado baixas
para provocar o aparecimento do investimento requerido para atingir o pleno emprego.
O desemprego Marxista é o resultado da escassez relativa do capital face à oferta de trabalho,
dotações inadequadas em recursos e as possibilidades tecnicamente limitadas de substituir
trabalho por capital que tornam impossível absorver toda a força de trabalho disponível, mesmo
quando o stock de capital é utilizado em toda a sua capacidade. É, portanto, o resultado de um
crescimento excessivo da poupança ou dos níveis de rendimento demasiado baixos para gerarem
um adequado montante de poupança, combinados com uma tecnologia primitiva e rígida. É a falta
de poupança, e não a procura efectiva insuficiente que impede a expansão da produção. O
desemprego marxista é um problema estrutural e não cíclico. Por essa razão, o investimento

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público ou a política monetária expansionista, considerados eficazes para remediar o desemprego
keynesiano, apenas gera inflação sem conduzirem ao pleno emprego.

Características Específicas da Teoria Económica Keynesiana


Uma primeira característica é a tendência para trabalhar com valores agregados reduzindo a
economia a quatro mercados interligados: mercado dos bens, do trabalho, da moeda e de títulos.
Segundo, a importância dada ao curto prazo e a limitação da análise do longo prazo, que tinha
sido o principal foco de atenção dos seus predecessores face a questão relacionada com a
probabilidade da estagnação secular. Terceiro, a atribuição da responsabilidade pelos
ajustamentos às variações das condições económicas (em vez dos preços). O equilíbrio para o
conjunto da economia está relacionado com o equilíbrio abaixo do pleno emprego.

Relação entre Keynes e os Clássicos/ Neoclássicos


No âmbito orçamental e de investimento, O modelo Keynesiano recomenda o aumento das
despesas públicas ainda que ao preço de um défice orçamental para manter o dinamismo da
procura. Os neoclássicos recomendavam o equilíbrio orçamental. Segundo, no plano do consumo
e salários, o modelo Keynesiano recomenda a alta dos salários reais para relançar a procura dos
assalariados e das actividades económicas. Os clássicos recomendavam a redução dos salários
para o restabelecimento do equilíbrio entre a oferta e a procura no mercado do trabalho. No plano
monetário o modelo Keynesiano recomenda a desvalorização da moeda, enquanto que o modelo
clássico defendia a revalorização. No âmbito da análise do funcionamento da economia a curto
prazo, Keynes também diverge dos clássicos. Para os clássicos, a crise só pode ser sectorial
enquanto que para Keynes ela pode ser generalizada. Para os primeiros o pleno emprego é uma
situação normal enquanto que para Keynes é especial. A produção (oferta) determina o emprego
nos clássicos, mas em keynes a despesa (procura global) é a determinante do emprego e da
própria produção. Toda a poupança vai para o investimento segundo os clássicos. Em Keynes,
não existe uma relação entre a poupança e o investimento. A taxa de juros nos clássicos não só
determina a poupança, mas também o investimento. Em Keynes a determinante da poupança é o
rendimento e o investimento pelos lucros esperados e pela taxa de juros. A moeda nos clássicos
só tem função de troca. Para Keynes tem uma função especulativa e a sua procura depende da
taxa de juros.

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Principais Ideias e Conceitos Keynesianos apresentados na "Teoria Geral do
Emprego, Juro e Moeda."

Ideia Básica
O equilíbrio económico é determinado pela demanda. Em certos casos é possível o desemprego
prolongado. Os preços flexíveis não são capazes de curar o desemprego. A fim de manter o pleno
emprego na economia, o governo deve gerar défices orçamentais quando a economia entra em
recessão. A baixa actividade económica deve-se ao facto de o sector privado não estar a investir o
suficiente.
Esta ideia básica de Keynes assenta na ideia da casualidade das seguintes variáveis económicas:
dada a propensão a consumir, o volume de emprego é determinado pelo montante de
investimento; dada a rentabilidade esperada, o montante de investimento é determinado pela taxa
de juros; dada uma oferta de moeda, a preferência pela liquidez origina as taxas de juro.

Demanda Efectiva
A principal preocupação de Keynes era a determinação dos principais factores de desemprego e
riqueza numa economia industrial moderna. Para ir ao encontro desta preocupação tentou,
primeiro, demonstrar que o pleno emprego não é um processo automático. Por conseguinte, a
economia pode estar duradoiramente e não acidentalmente em estado de crise. Segundo que era
possível sair-se da crise restabelecendo o pleno emprego através de medidas de intervenção
apropriadas, inteiramente diferentes das recomendadas pelos economistas ortodoxos que
defendiam que: o défice orçamental só teria como efeito abalar a confiança dos meios de negócio;
os empréstimos públicos desviariam a poupança disponível das utilizações produtivas do
investimento em fábricas e material industria, em proveito de programas de obras públicas
improdutivas; os empregos criados pelas despesas públicas seriam artificiais, a retoma seria de
curta duração e inflacionista.

Colocando o emprego no centro da sua análise Keynes rejeitou a ideia de que se possa confiar na
acção de qualquer mecanismo automático para garantir o pleno emprego e defendeu que o
emprego depende do nível da produção que por seu turno é determinado pela procura efectiva
emanada pelos agentes económicos, o chamado princípio da demanda efectiva que constitui a

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principal contribuição de Keynes para a ciência económica. Este princípio insere-se numa teoria
abrangente sobre a demanda e oferta agregada que explica que se a demanda estiver abaixo da
oferta a produção deve diminuir para que ambos se equilibrem, o que acarreta a possibilidade de
equilíbrio abaixo do pleno emprego.

O princípio da demanda efectiva é oposto à lei de Say e afirma o primado dos gastos em consumo
e investimento (demanda) sobre a produção (oferta). A linha de raciocínio de Keynes pode ser
assim esquematizada: Os factores que determinam o nível de emprego numa sociedade industrial
são o nível de produção. O nível de produção é determinado pela demanda efectiva. A demanda
efectiva compõe-se de bens de consumo (C) e bens de investimento (I).

O consumo é função da renda (Y) e representa-se pela equação C= f(y). Como em Keynes o
consumo agregado é sempre igual a 1, significa que a sociedade como um todo nunca consome
toda a sua renda. Poupa uma parte. O investimento (I) é função das expectativas empresariais
quanto aos lucros e taxas de juro e simboliza: I= f(E, i), sendo que E, expectativas de lucros; e i,
taxas de lucro. O nível da renda ou da produção agregada keynesiana é determinada pelo
consumo e pelo investimento se nos restringirmos ao modelo simples Y= C + I. Isto significa que
em Keynes a renda é determinada pelos gastos em consumo (C) e pelos gastos em investimento
(I) ou seja, é o acto de gastar que determina a renda. Mas como o consumo é relativamente
estável, o principal determinante do nível de renda passa a ser o investimento.
O modelo Keynesiano é diferente do modelo neoclássico porque neste modelo as variações da
demanda são causadoras de variações nos preços. O sistema de preços está no primeiro plano
para a determinação da produção, enquanto que em Keynes a produção é determinada pelo
consumo.
No âmbito teórico o princípio da demanda efectiva já era do conhecimento dos mercantilistas, de
Mathus, Marx e de tantos outros. Mas, só com Keynes é que foi aceite pelo "establishment"
económico. Como predomínio do pensamento ricardiano sobre o malthusianos a preocupação com
a demanda efectiva desapareceu na literatura económica porque Ricardo alinhou pela lei de say.

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Salários e Desemprego
O pensamento neoclássico sobre os salários assentava na ideia de que com os preços e salários
flexíveis, a taxa de juro determinaria o equilíbrio de pleno emprego entre a poupança e o
investimento e entre a procura e a oferta de moeda. Esta ideia neoclássica é actualmente
conhecida como Efeito Pigou que foi o primeiro a postular o princípio relacionado com o equilíbrio
abaixo do pleno emprego Keynesiano. O Efeito Pigou é por vezes designado Efeito Riqueza-
Rendimento. De forma resumida Pigou defendia que o desemprego é causado por salários
excessivamente altos. Para eliminar o desemprego seria preciso baixar os salários. Para além de
Say, Pigou foi a outra cabeça de touro de Keynes. Keynes veio defender que o desemprego é
provocado por deficiência da demanda. A baixa dos salários poderia agravar a situação, porque
levaria a uma falta de estímulo ao consumo. A queda do consumo levaria alguns empresários a
arquivarem futuros projectos de investimentos ou, a diminuírem a produção corrente. Neste caso,
haveria um aumento da capacidade ociosa e, portanto, desemprego. Para que as fábricas antigas
continuassem a produzir era preciso erguer novas fábricas. Neste processo de criação de novas
fábricas (investimento) haveria geração de mais renda que se encaminhará para a compra de
produtos novos e antigos.
Em Keynes, a queda de salários só pode conduzir ao aumento do emprego somente sob
suposições espaciais da flexibilidade de salários, preços e juros.

Propensão Marginal a Consumir


Uma outra ideia importante trazida por Keynes e derivada do princípio da demanda efectiva é a
propensão marginal a consumir e a propensão marginal a poupar.

Parte-se do princípio de que o volume de produção de uma comunidade é determinado pelo


consumo e investimento. O consumo é função da renda. O aumento renda da comunidade
significa que, o consumo também aumenta. Só que este aumenta é numa proporção menor que o
aumento da renda. Isto quer dizer que na comunidade nem toda a renda é consumida. Uma parte
é poupada. Assim sendo, cada aumento unitário da renda pode ser decomposto em consumo e
poupança. Por exemplo, suponha-se que cada aumento de 1000 Mtn na renda, 800 Mtn são
aplicados em consumo. Ë a esta percentagem da renda aplicada em consumo que Keynes
chamou de propensão marginal a consumir. No nosso exemplo a propensão marginal a consumir
é de 0.8 porque ao aumentar a renda em 1000 Mtn, 800 foram gastos em consumo (800/1000). A
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percentagem não aplicada em consumo é a propensão marginal a poupar. A propensão marginal
a consumir ( PMgC) será complemento da propensão marginal a poupar (PMgS). A soma destas
duas propensão deverá ser igual a 1. O exemplo abaixo é ilustrativo.
PMgC PMgS
0.9 0.1
0.8 0.2
0.7 0.3

Segundo keynes, quanto mais pobre for a comunidade, maior será a sua propensão marginal a
consumir. Uma comunidade pobre tenderá a aplicar quase tudo que recebe em consumo. Por
outro lado, uma comunidade rica tenderá a aplicar menos em consumo. Isto pode causar
problemas, porque o consumo é um dos componentes da demanda efectiva.

Sabe-se em função de keynes que o consumo é função da renda e que nem toda a renda é
consumida. Existe ainda uma parcela do consumo independente do volume da renda. Esta
parcela corresponde as necessidades da comunidade para viver. Ë o chamado consumo
autónomo. É autónomo porque qualquer que seja a renda é consumida. Assim, a função de
consumo fica C= Co + by onde:
Co é o consumo autónomo; b é a propensão marginal a consumir (0< b<1); y é a renda. Quanto
maior a renda maior é o consumo.

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Investimento e Eficiência Marginal do Capital


No sistema keynesiano o investimento comporta-se de modo diverso do consumo. No curto prazo
é função da rentabilidade esperada dos vários projectos e da taxa de juros. No sistema capitalista
os investimentos são instáveis porque dependem das expectativas do empresário. As expectativas
do lucro do empresário Keynes denominaram de Eficiência Marginal do Capital que pode ser
melhor compreendida pelo seguinte exemplo: supõe-se que um determinado empresário queira
comprar uma determinada máquina que custa 1000 Mtn. Na linguagem keynesiana este montante
é o preço da oferta da máquina. Ao comprar a máquina o empresário terá pensado nos
rendimentos líquidos que a máquina lhe proporcionará. Supõe-se que estes rendimentos serão de
200 Mtn por ano, durante oito anos que é a vida útil da máquina. Existe uma taxa de desconto que
faz com que os rendimentos líquidos futuros sejam iguais ao preço da oferta da máquina (1000
Mtn). É esta taxa que Keyenes chamou de Eficiência Marginal do Capital (EMgK) (hoje em dia é
denominado taxa interna de retorno- TIR) que é comparada com a taxa do mercado (taxa cobrada
para financiar os investimentos) ou com o custo do capital. Se esta taxa for maior que a taxa do
mercado financeiro, vale a pena comprar a máquina. Caso contrário é melhor aplicar o dinheiro no
mercado financeiro para dar um rendimento maior. Isto significa que como a taxa de juro não é
fixa, se subir poderá inviabilizar muitos projectos de investimento, se baixar poderá viabilizar
projectos que antes não eram viáveis.

Taxa de Juros, Preferência pela Liquidez e o Paradoxo da Parcimónia


Na teoria do investimento e da taxa de juros dos neoclássicos, o investimento dependia da
poupança. Um aumento da taxa de juros provoca aumento da poupança. Mas a uma taxa de juros
alta, os investidores não se arriscam a financiar seus projectos de investimento. Assim há uma
queda de investimento e surge a seguinte situação: dinheiro de sobra nos Bancos, mas pouco
empresários iriam recorrer a empréstimos Bancários. Como os Bancos só ganham emprestando,
tenderiam a baixar a taxa de juros pela própria pressão do mercado até a uma posição de
equilíbrio entre a poupança (oferta de fundos) e o investimento (demanda de fundos) através de
um mecanismo auto-ajustável. Este modelo de pensamento clássico partia do pressuposto
segundo a qual a principal determinante de investimento é a poupança e que a taxa de juro é a
principal determinante da poupança.
Em Keynes as coisas não funcionam tal como afirmavam os clássicos: A poupança tem uma
relação directa com o nível de renda da comunidade. Um aumento da renda aumenta a poupança
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e uma diminuição da renda diminui a poupança. Isto quer dizer que não é o aumento da poupança
que acarreta o investimento, mas sim o contrário. É o investimento que acarreta a poupança, isto
porque ao aumentar o investimento, há aumentando da renda. Aumentando a renda a poupança
que é um resíduo (renda não gasta) também aumenta. Há aqui uma inversão em relação aos
neoclássicos. Para os neoclássicos era preciso primeiro poupar para depois investir. Para Keynes
ocorre o contrário.

Pensando como “Homem da Rua” o pensamento de keynes fere o senso comum. Na prática as
pessoas individuais primeiro guardam dinheiro para depois aplicá-lo. Mas a poupança
macroeconómica não é guardar dinheiro. Os empresários se olham para um projecto que dá lucro,
vão ao Banco e levantam fundo para investir no projecto. Não precisam de ter dinheiro guardado,
com o crédito antecipam a criação duma renda no futuro e o aumento da renda provoca o
aumento da poupança.
Tentemos compreender Keynes a partir do exemplo exposto por Araújo, C. (1986): 125. Suponha-
se que uma comunidade tenha uma renda de 500 mil unidades monetárias com a seguinte
repartição: 400 mil (80%) com gatos de consumo. 100 mil (20%) em poupança que poderá ser
investida. Se a renda aumentar para 600 mil unidades monetárias e a proporção ente o consumo
e poupança manter-se em 80 para 20% respectivamente os gastos em consumo passará para 480
mil (0,8 x 600) e a poupança para 120 (0,2 x 600). Este aumento da poupança de 100 para 120 foi
provocado pelo aumento da renda. Esta prática tem as seguintes consequências: se as pessoas
forem induzidas a não gastar o consumo diminuirá e acarretará também uma diminuição da renda
pelo princípio da demanda efectiva. A diminuição da renda levará a uma diminuição da poupança.
Este facto é conhecido como o paradoxo da parcimónia e demonstra que a política económica não
tem meios de agir directamente sobre a poupança. Se a política económica quiser aumenta a
poupança terá de procurar um aumento da renda e não uma diminuição do consumo.

Sobre a taxa de juros, os neoclássicos diziam que era uma remuneração do sacrifício que se faz
ao se adiar o consumo. A taxa de juros é o preço desse sacrifício. Keynes rejeitou esta ideia
clássica afirmando que há pessoas que entesouram seu dinheiro realizando assim um sacrifício.
Mas não são remuneradas. As pessoas fazem isto porque preferem a liquidez. A posse imediata
do dinheiro tem suas vantagens como a possibilidade imediata de trocá-lo por qualquer outro
activo, garantia, segurança e possibilidade de ganhos maiores. Então a taxa de juros é o prémio

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que se paga para abrirmos mão da liquidez. Ë a recompensa da desistência da liquidez. Em
Kyenes, a preferência pela liquidez determina a taxa e juros.
A taxa de juros é determinada também pela quantidade da moeda. A oferta da moeda (M) é
constante e é determinada exogenamente pelas autoridades monetárias.Assim, na interpretação
monetária de Keynes a taxa de juros não é determinada no mercado de fundos emprestáveis, mas
sim no mercado da moeda no qual a demanda da moeda depende da preferência pela liquidez.

Segundo keynes a preferência pela liquidez é provocada por três factores: Transacção, precaução
e especulação. A necessidade de liquidez aumenta com a actividade económica resultante do
aumento das transacções comerciais. Quanto maior a insegurança das pessoas ou da
comunidade, maior a necessidade de ter dinheiro. Por exemplo, se o pagamento de salário for
semanal, a necessidade do assalariado manter o dinheiro diminui. Mas se for trimestralmente a
necessidade de retenção do dinheiro líquido será maior. Quando cresce a expectativa de aumento
de lucro com a especulação financeira, reserva-se parte do dinheiro líquido para esses lances. O
dinheiro é retido em forma líquido graças à expectativa de que no futuro ao subir a taxa de juros,
ele renderá mais.

Articulando a taxa de juros e a eficiência marginal conclui-se que se a eficiência marginal do


capital for maior que a taxa de juros, o investimento é justificável do ponto de vista económico.
Caso contrário não. Se o volume de investimento for insuficiente para elevar a economia ao pleno
emprego, as autoridades monetárias poderão baixar a taxa de juros recorrendo ao aumento da
oferta monetária. A redução da taxa de juros viabilizará vários projectos de investimento que
graças ao multiplicador aumentarão o nível do produto nacional. A queda da taxa de juros
dependerá do coeficiente angular (elasticidade) da curva de preferência pela liquidez. Se esta taxa
de juro baixa continuar maior que a eficiência marginal de capital (EMK) os investimentos
particulares não se efectivarão e como nenhuma política monetária conseguirá baixar ainda mais
a taxa de juros, surge a razão para que o governo intervenha na economia como investidor.

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O Multiplicador
O multiplicador do investimento ou do gasto é um conceito criado por Keynes a partir do
multiplicador de emprego de Richard Kahn. Kahn argumentava que não era necessário que o
governo empregasse todos os desempregados. Uma parcela apenas de novos empregados criado
pelo governo poderia multiplicar o número de empregados na economia na medida em que ao
gastar a sua renda, cada empregado estará gerando novos fluxos de renda e novos empregos.
Com o multiplicador keynes demonstrou que o investimento tem um efeito multiplicador sobre a
renda.

Esquema Básico do Pensamento keynesiano e a Teoria Keynesiana


A principal obra de Keynes é a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. O esquema básico
desta obra e do pensamento Keynesiano podem ser resumidos conforme Paul Prebish citado por
Araújo (1986): 131 da seguinte forma: Primeiro, as condições de trabalho é o curto prazo, portanto
estão dadas, a quantidade de trabalho, o stock de capital, o nível tecnológico, o grau de
concorrência e a organização social. Segundo, temos variáveis independentes que são, a
propensão marginal a consumir, eficiência marginal do capital (expectativa dos capitalistas à
lucratividade dos futuros projectos), preferência pela liquidez determinada pelos factores
transacção, precaução e principalmente especulação, oferta monetária determinada
exogenamente pela autoridade monetária. As variáveis dependentes são o nível de renda e o
volume de emprego que são determinados pela demanda efectiva cujo elemento chave é o
investimento, já que a propensão a consumir tende a permanecer estável. A conjugação de todas
as variáveis dá se quando a eficiência marginal é maior que a taxa de lucro e a propensão
marginal a consumir é elevada (aumentando a eficiência do multiplicador). Se a conjugação não
se verifica de forma espontânea, então a política económica passa a ter papel decisivo. O Estado
tem de intervir.

A teoria Keynesiana pode ser resumida nos seguinte pontos: Primeiro, no curto prazo é a procura
agregada (despesa) que determina o nível de rendimento e de emprego. Segundo, O mercado
não assegura o pleno emprego. Terceiro, o Estado afecta a procura agregada através das
despesas, dos impostos e das transferências. Quatro, influenciando a procura agregada o Estado
influencia o nível de emprego e do produto. Sexto, os gastos públicos e os impostos são dois
instrumentos da política orçamental, sétimo, em situação de desemprego, consumo e investimento
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baixos, o Estado deve intervir aumentando os gastos públicos e diminuindo os impostos. Oitavo, o
aumento dos gastos do Estado, eleva a procura agregada (determinado um aumento do
rendimento e do emprego), nono, uma diminuição dos impostos aumenta o rendimento disponível
(igual ao rendimento menos os impostos) o que leva a um aumento do consumo. Décimo, a
intervenção estatal é necessária para estabilizar a procura agregada, décimo primeiro, a política
orçamental tem de ser discricionária (manipulação dos impostos e das despesas do Estado com o
objectivo de alterar o produto nacional e o emprego, controlar a inflação e estimular o crescimento
económico)

Mentalidades keynesianas e o Triunfo do Keynesianismo


O raciocínio Keynesiano veio mostra que aquilo que é verdadeiro ao nível do agente económico
individual não o é necessariamente ao nível da economia global. É o efeito da composição
resultante de comportamentos. A macroeconomia não obedece às mesmas leis que o micro da

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economia privada. O Keynesianismo pode ser entendido pelas próprias mentalidades criadas pelo
raciocínio Keynesiano. Primeiro, o privilegio ao curto prazo. Keynes afirma que “... O longo prazo
não era relevante porque todos estaremos mortos” O que interessava era o conjunto de factores
que determinam Hic et nunc (aqui e agora, nestas circunstâncias concretas) o nível de emprego.
Segundo, mentalidade do curto prazo trouxe consigo a mentalidade do voluntarismo económico de
tal forma que a moral do Hic et nunc substituiu a velha abnegação da paciência. Uma terceira
mentalidade foi o questionamento à atitude tradicional relativa à poupança demonstrando que o
desemprego é provocado pelo acto de os cidadãos sobretudo os mais ricos pouparem demasiado.
Legitimava-se assim o desejo de consumo do “tudo e já”. Quarto, a mentalidade keynesiana veio
mudar também a atitude em relação às despesas públicas ao afirmar que as despesas públicas
são necessárias à prosperidade. Por exemplo, antes do keynesianismo, num país desenvolvido
médio, o peso das despesas públicas era de 15% no PNB. Mas a partir dos anos `50 atingia
correntemente 30 a 35% do PNB. Por fim podemos dizer que o Keynesianismo veio impor uma
mentalidade de legitimação da intervenção dos Estado no jogo da economia demonstrando que a
intervenção pública sistemática era uma condição necessária da prosperidade e da sobrevivência
ao liberalismo. Keynes era um liberal e não um socialista.

O keynesianismo triunfou sobre o neoclassicismo porque no século XX há uma agudização dos


problemas de desemprego e da inflação que passou a ser o barómetro de ajustamento dos preços
por parte dos empregados. Além disso, as teses Keynesianas coincidiam com as reivindicações
dos sindicatos, aspirações dos sindicatos, burocratas e funcionários públicos, interesses dos
industriais, gestores das empresas, bancos comercias e a burguesia que considerava o
keynesianismo um mal menor em relação ao comunismo.

Formação do Consenso keynesiano


O New Deal instaurado nos EUA em 1933, as políticas da saída da crise na Alemanha de Hitler
viradas a programas de obras públicas e diminuição de desemprego a partir de 1933, as políticas
deflacionistas de incremento das obras públicas, défice orçamental e reformas sociais a partir de
1936 na França de Léon Blum são anteriores à “Teoria Geral” de Keynes publicado em 1936. O
planismo, o corporativismo e outras doutrinas dirigistas ignoraram Keynes, mesmo na própria
Inglaterra antes da II Guerra. Só após a II Guerra Mundial é que o Keynesianismo tornou-se o
pensamento dominante na teoria económica e de consenso social. Há pelo menos Cinco razões
fundamentais que contribuíram para a formação do consenso Keynesiano. Primeiro, as teses
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keynesianas coincidiam com as reivindicações sindicais assentes no aumento de salários, luta
contra o desemprego, crescimento das transferências sociais e das despesas públicas que são os
pilares da nova política económica. Assim, Keynes justificava cientificamente os sindicatos.
Segundo, as teses iam de encontro com as aspirações dos burocratas e dos funcionários públicos
que se tornaram uma categoria socioprofissional cada vez mais numerosa e influente. Como
Keynes defendia uma maior intervenção do Estado na economia a política keynesiana acabou
contribuindo para o aumento do papel dos funcionários: passaram a criar-se novos Ministérios que
se ocupam de economia, do plano, da indústria e segurança social. Os economistas profissionais
e os estaticistas passaram a adquirir uma influência crescente na gestão dos negócios públicos,
através da construção de um aparelho da actividade económica, a contabilidade nacional,
elaborando modelos conjunturais sofisticados com os quais aconselham os governos. Os homens
políticos descobriram na teoria keynesiana argumentos para sofisticar os seus programas
eleitorais fazendo promover a esta ou aquela categoria de eleitores quer esteja em jogo o
aumento das despesas sociais, aumento do salário mínimo, subsídio dos preços agrícolas etc.
Keynes veio legitimar o velho sonho da união entre a ciência e o príncipe. Terceiro, o
Keynesianismo ia de encontro com os interesses dos industriais, directores das empresas e
bancos comerciais que lucravam com a inflação porque as políticas keynesianas primeiro
assumindo as derrapagens monetárias, acabaram por criar um clima inflacionista endémico. E por
fim, podemos afirmar também que agradou a burguesia que considerou keynes como salvador do
regime capitalista porque: primeiro, a custa de algum ajustamento e de uma intervenção alargada
do Estado, a política económica Keynesiana permitia preservara o essencial do capitalismo (livre
iniciativa e a propriedade privada do capital). Segundo, sem as políticas keynesianas o mundo
ocidental teria corrido perigos mais graves: o desemprego endémico acabaria por fazer a cama ao
socialismo ou ao comunismo. A burguesia julgava assim que mais vale um mal menor do que
correr o risco dum mal absoluto.

Adesão ao keynesianismo
Antes de Keynes a ideologia dominante defendia a existência de antagonismos entre o progresso
social e a eficácia económica: o crescimento dos salários, das despesas públicas, das
transferências sociais era vistos como um prejuízo ao desenvolvimento da prosperidade
económica. Era preciso escolher entre salários elevados e o emprego e entre a despesa social e o
crescimento. O social era apresentado como uma compensação do económico (o social era o mal
necessário da economia). O sistema keynesiano veio estabelecer uma ligação muito estreita entre
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o crescimento e a equidade: era possível ter em simultâneo salários altos e pleno emprego;
despesas públicas e crescimento. E mais, os altos salários e as despesas públicas são
necessários ao pleno emprego e ao crescimento, por conseguinte, no keynesianismo o progresso
social e o progresso económico caminham no mesmo sentido. Como consequência, a
organização das relações sociais passa a integrar a dinâmica económica, o Estado providência
deixa de ser uma luta entre os grupos sociais e passa a ser uma exigência comum de todos os
sectores socais no seu conjunto que lutam pelo pleno emprego e pelo crescimento. Assim, a
adesão ao Keynesianismo por toda a sociedade justifica-se porque: Os assalariados têm na
economia keynesiana a garantia do emprego e de salários elevados ao mesmo tempo. As
empresas alargam os seus mercados, as oportunidades de investimento e as margens de lucro.
Com o keynesianismo passou-se a ter em simultâneo, crescimento, emprego, poder de compra e
lucros. Terceiro é que com o Keynesianismo a sociedade passou a organizar-se para partilhar os
frutos da prosperidade dando origem ao nascimento do conceito de parceiros sociais em que os
agentes económicos são chamados a organizarem-se para negociar a partilha da riqueza comum.
Quartos, os sindicatos que eram considerados como organização sediciosa, passam a ser
reconhecidos como instituições benéficas. As corporações profissionais que eram assimiladas a
cartéis e alvos de objecção pública também são igualmente legitimados. Quinto, o Estado
Keynesiano é o Estado providência base de uma nova mentalidade diferente dos Estado Marxista
e do velho Estado de direito resultante da revolução liberal. Por isso se afirma que o sistema
keynesiano arruinou em simultâneo o sistema neoclássico e o seu contrário o sistema marxista.

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A Contribuição e Críticas a Keynes


Blaug (1990): 448 afirma que o que “aconteceu com keynes é parecido com o que aconteceu com
Ricardo, Marx e Marshall. Foi dissecado, interpretado e reinterpretado, standarizado, simplificado,
reduzido a gráficos e a modelos alternativos matemáticos do tipo keynes I, keynes II etc. Mas é um
autor que todos citam mas que ninguém lê... tal como os tratados de Ricardo, Marx, Walras e
Marshall a sua obra é um livro indigesto e ambíguo, cheio de digressões e de temas não totalmente
desenvolvidos, e aberto em várias direcções... “ Mas Keynes teve contribuições importantes para a
ciência económica. No plano da teoria económica, os neoclássicos tinham criado o professor de
economia. Keynes veio contribuir para tirar o economista do “ghetto universitário” e criou o
economista profissional. Trouxe à teoria económica um importantíssimo princípio, o princípio da
demanda efectiva. Contribui não só na substituição da ênfase à microeconomia pela
macroeconomia, mas também à colocação da econometria em destaque na ciência económica. Do
ponto de vista doutrinário Keynes veio contribuir para o fim da época da doutrina laissez-faire e
oferecer também uma justificação científica e coerência intelectual que faltava ao planismo,
corporativismo e outras doutrinas dirigistas usadas nos vários países na tentativa de combater a
crise da grande depressão frente às recomendações da doutrina económica ortodoxa.
Em relação as críticas, Keynes é acusado de ter induzido (com a suas ideias) os políticos a
praticaram políticas excessivamente expansionistas que resultaram no desastre nos anos 70.
Keyenes não ofereceu um instrumento analítico para lidar com o problema da inflação e teria
desprezado essa questão. A crítica mais pertinente ao legado de Keynes está no facto ele ter se
preocupado muito pouco com os efeitos ulteriores remotos de sua política, tendo afirmando
inclusive que “no longo prazo estaremos todos mortos”.

Percursores de Keynes
Nos anos 60 a maioria dos economistas profissionais denominavam-se keynesianos. Havia uma
minoria que se considerava não keynesiana e uma pequena porção dizia-se antikeynesiana.
Mesmo os políticos denominavm-se keynesianos. As diferentes linhas de interpretação e extensão
das ideias de Keynes ganharam nomes como neokeynesianos, novos-keynesianos e pós-
keynesianos. Mas a versão das ideias Keynes que mais se espalhou não foi das ideias do formato
expostas na “Teoria Geral”. Tornou-se mais popular a tradução analítica conhecida por síntese
neoclássica de Keynes que inicia com John Hicks em 1937. Hicks introduziu o famoso modelo IS-
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LM como representação dessas ideias. Este modelo passou a ser usado como um exercício
pedagógico de representação gráfica mais eficiente na história das ideias e do pensamento
económico.É considerado o modelo mais coerente ou confiável para expressar as ideias contidas
na Teoria Geral de Keyenes. Permite responder de pronto sobre o efeito de uma expansão
monetária, aumento dos gastos do governo ou queda de impostos na renda e nas taxas de juro da
economia. Diversos aperfeiçoamentos foram feitos no modelo inicial de Hicks.

Recorrentemente a leitura da economia de Keynes aparece em livros-textos de macroeconomia


na forma de diagrama renda-despesa, popularizado por Samuelson, Lerner e Hansen. O diagrama
evidencia também a ideia do multiplicador de Kahn.

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No final da década 60 a inflação inicia um descontrolo inflacionista. Na solução teórica do


problema da inflação mesclava-se o arcabouço neokeynesiano com o trabalho de Phillips. Phillips
desvendou empiricamente uma relação estável entre a inflação e o emprego expressa na
chamada curva de Phillips. A curva de Phillips é uma curva decrescente no plano que relaciona a
inflação e o desemprego. O argumento de Phillips é o seguinte: baixo nível de desemprego gera
surtos inflacionários a medida que o excesso de demanda de mão-de-obra no mercado de
trabalho acarreta aumento de salários. Salários em crescimento geram inflação, pois com a
economia aquecida os patrões podem repassar a elevação dos custos aos preços. A inflação
pode ser corrigida com alguma dose de recessão.
A curva de Phillips possibilitava entender o modelo Keynesiano básico na explicação dos preços.
A mesma passou a ser usada para analisar o lado da oferta da economia com ênfase no mercado
do trabalho.

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A curva representa a substituição entre a taxa de inflação (actual) e a taxa de desemprego (para
uma dada expectativa de taxa de inflação). Uma diminuição da taxa de inflação só se conseguiria
com um aumento da taxa de desmprego e vice-versa, havendo um efeito de substituição (trade off
= custo de opotunidade) entre o emprego e a inflação. Com esta curva defendia-se assim que esta
relação entre a inflação e o desemprego seria sempre estável. Mas a partir dos anos 70 tounou-se
notório que esta relação não era estável, que a taxa de inflação e a taxa de desemprego moviam-
se por vezes no mesmo sentido gerando uma estagnação. Surgiu assim a curva de Sherman, uma
relação inversa da curva de Philips, ou seja, um aumento da taxa de inflação esta associado a
uma subida da taxa de desemprego. E o argumento dos monetaristas que vamos ver na unidade
seguinte foi de que a curva de Philips seria apenas um fenómeno de cutro prazo, não tendo
validade a longo prazo (Donário, 2003:71).

Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo; Atlas: 110- 135
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 447-475
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico. Lisboa: Instituto Piaget: 172- 212
Donário, A. (2003). História do Pensamento Económico. Lisboa: UAL.
Feijó, R. (2001). História do Pensamanto Económico, S. Paulo: Atlas: 425-463.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico, Coimbra: Coimbra Editora: 244--257
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 285-308

Trabalho de Investigação
Biografia de Keynes, I. Fisher, Wicksell, F.A. Hayek, Piero S raffa, Joan Robison, RichardKhan, Austin Robinson, B.
Graham, B. Ohlin, C. Phillips, John Hicks; Paul Samuelson; Jean Charles Sismondi e Edward Chaberlin, Sherman.

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VII. Neoliberalismo
Contextos Históricos de Emergência e do Triunfo
O pensamento neoliberal tem a sua emergência no final da II Guerra Mundial nos países
capitalistas altamente avançados. Surgiu como uma reacção teórica e política contra o
keynesianismo, Estado intervencionista e do bem-estar (wellfarestate). Na sua reacção contra o
Estado do bem-estar, os neoliberais argumentavam que o igualitarismo destruía a liberdade dos
cidadãos e a vitalidade da concorrência de que depende a prosperidade económica. Segundo que
a desigualdade era um valor positivo e necessário nas sociedades ocidentais.
No imediato pós II Guerra Mundial o neoliberalismo não teve capacidade de implementação
devido a facto de os anos 50 e 60 terem sido anos de ouro do capitalismo com um crescimento
económico e estabilidade sem precedentes nas economias capitalistas. O triunfo neoliberal só se
verificaria nos anos 70. Para o feito determinados contextos económico e político foram
determinantes. O contexto económico relaciona-se com a emergência e desenvolvimento da crise
de inflação e desemprego que se regista nos anos 70 nas principais economias do mundo. Os
neoliberais argumentavam que as razões desta crise tinham a ver com o poder excessivo e
nefasto dos sindicatos e do movimento operário (justificados pelo Keynesianismo). Esse poder
sindicalista tinha como consequências a corrosão da base de acumulação capitalista através das
pressões reivindicativas sobre os salários e a pressão exercida ao Estado para o aumento dos
gastos em despesas públicas. Os neoliberais propunham como solução para rejuvenescer o
capitalismo da referida crise, a manutenção dum Estado forte na sua capacidade de romper com o
poder dos sindicatos e no controlo monetário. Manter um Estado fraco nos gastos sociais e nas
intervenções económicas. Estabeleciam como metas governamentais a estabilidade monetária
através das seguintes medidas: disciplina monetária contendo os gastos com o bem-estar,
reformas fiscais para incentivar os agentes económicos reduzindo os impostos sobre os
rendimentos mais altos e sobre as rendas, reestruturação da taxa natural de desemprego criando
um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos.

O contexto político está associado à subida ao poder de governos pro-liberais como Margareth
Thatcher no Reino Unido em 1979, Ronald Reagan nos EUA em 1980 que constituirão as
principias e primeiras figuras políticas que puseram em prática as ideias neoliberais.
As principais figuras do pensamento económico neoliberal estão associadas à sociedade de Mont
Pélerin na Suíça composta em 1947 por Friedrich Hayek, Milton Friedman, Karl Popper, Lionel
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Robbins, Ludwig von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polany e Salvador Margarida,
figuras eminentemente anti-keynesianas.

O Monertarismo
O monetarismo é a base da teoria económica do pensamento neoliberal. Ele assenta na crença da
teoria quantitativa da moeda. Considerada como essência do mecanismo clássico do ajuste do
preço, esta teoria é constituída por um conjunto de proposições interligadas que tinham
numerosos adeptos quer entre os clássicos quer entre os neoclássicos durante o século XIX. As
proposições são as seguintes: 1. A moeda tem um papel activo e casual na determinação do nível
de preços e assim, do nível do rendimento nacional nominal; 2. A neutralidade da moeda no
equilíbrio de longo prazo, isto é, a proporcionalidade de longo prazo entre a moeda e os preços,
baseia na estabilidade da procura da moeda ou do seu inverso, a velocidade da moeda; 3. A
curto prazo e a médio prazo a moeda não é neutral. 4; A oferta da moeda é exógena; 5. A gestão
da moeda não pode ser discricionária e regida por regras de política.
A teoria monetarista é representada pela equação MV= PQ onde; M= oferta monetária; V=
velocidade da moeda (número de vezes por ano que a unidade monetária média é gasta em bens
finais) MV= Demanda agregada ou gastos monetários totais em bens finais. Q= velocidade física
de todos os bens finais produzidos; P= preço médio pelo qual cada um bem final é vendido. QP=
Gatos monetários com a produção em qualquer ano.

Friedman e o Monetarismo Moderno


Friedman é considerado o expoente máximo do monetarismo moderno. A moderna doutrina
monetarista defende o seguinte: 1. Mudanças na circulação de dinheiro pelo banco central e pelo
governo constituem o único elemento previsível que influencia o nível total das despesas e da
actividade industrial na economia; 2. A intervenção governamental de qualquer tipo
(regulamentação de negócios, tributação, gastos, subsídios) interfere com o funcionamento
adequado da subestrutura (mercados livres); 3. Com 1 e 2 em acção, a única política exigida para
garantir o pleno emprego a longo prazo e a estabilidade integral de preços é levar o banco central
a expandir a circulação de dinheiro a 4% e 5% anualmente, uma taxa mais ou menos igual ao que
acreditam ser o potencial de crescimento não inflacionário da economia.
Os monetaristas das ER (Expectativas Racionais) vão ainda mais longe que Friedman e dos seus
discípulos ao defenderem que: 1. a moeda é praticamente o único perturbador sistemático do
equilíbrio económico; 2. a moeda e os preços variam quase sempre de forma quase proporcional,
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pelo que a moeda não é apenas neutral, ela é supernatural; 3. Os períodos de transição entre os
equilíbrios monetários são momentâneos; 4. A oferta de moeda pode, efectivamente, ser
controlada e há poucos efeitos de reacção dos preços e variações no rendimento nominal à oferta
de moeda; 5. A gestão monetária discricionário não tem qualquer influência discernível sobre a
produção, emprego e taxas de juro real, pelo que deveria ser substituída por uma regra de
crescimento monetário.

Monetaristas, Keynesianos e o PIB


O guru do monetarismo, Milton Friedman, afirma que o mais poderoso factor que influencia a
actividade económica são as variações no stock de moeda. Esta afirmação monetarista contraria o
fiscalismo keynesianismo que defende que os determinantes básicos do nível da actividade
económica em qualquer período de tempo são as força que afectam o nível de rendimento real
independentemente da quantidade da moeda. Portanto, enquanto que o monetarismo nega a
potencialidade da política fiscal, o fiscalismo defende que tanto a política fiscal como a monetária
são capazes de exercer efeito substancial no rendimento e na produção. Os monetaristas
defendem que a circulação de dinheiro e o valor monetário do PIB andam a par e par. Dessa
correlação os monetaristas inferiram uma causa unívoca segundo a qual as mudanças na
circulação de dinheiro alteram o valor monetário do PIB. A Teoria Geral de Keynes retrata os dois
totais a interagirem. Assim, para os monetaristas tem se M → PIB enquanto que para os
Keynesianos tem se M ↔ PNB. Os Keynesianos olham o efeito do dinheiro no rendimento real na
economia privada como indirecto, actuando através dos movimentos das taxas de juro e do
movimento. Os monetaristas imaginam qualquer efeito de produção como directo, mas fugaz.
A versão que Friedman apresenta da doutrina monetarista inspirou-se originalmente no facto de
crer que a economia keynesiana ser uma forma de alargar o governo e destruir o capitalismo da
empresa privada.

Friedman e a Curva de Philips


A principal novidade da curva de Philips foi mostrar que a inflação salarial pode coexistir com o
desemprego considerável. Nos anos 60 a curva foi reinterpretada como a fronteira das condições
possíveis para as taxas de desemprego e de inflação ao longo das quais ou acima da quais os
decisores se podem movimentar, consoante a função do bem-estar social que atribuía
determinados ponderadores a inflação e ao desemprego: os Governos que temiam mais o
desemprego que a inflação podiam seleccionar políticas expansionistas destinadas a colocar a
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economia num ponto sobre ou a noroeste da curva de Philips, enquanto que os Governos que
consideram a inflação o pior dos males poderiam seleccionar políticas contracionistas, cujo
objectivo era colocar a economia na parte sudeste da curva de Philips.
Friedman veio introduzir o papel das expectativas racionais na curva de Phillips e o conceito da
taxa natural de desemprego na qual a economia tenderia conforme os agentes fossem ajustando
as suas previsões. Friedman demonstrou que ao se introduzir as expectativas racionais no modelo
de inflação, a curva de Phillips torna-se instável. Quando o desemprego diminui, há um aumento
da inflação e uma alteração das expectativas inflacionistas dos agentes, especialmente dos
trabalhadores ao negociarem seus contratos de trabalho. Friedman imaginou que os trabalhadores
precisariam de tempo para ajustar suas expectativas adaptativas com a previsão inflacionária a
depender da série passada de inflação, no qual se ponderam as várias inflações que
prevaleceram em diferentes períodos passados.
Em Friedman a curva de Phillips é vertical a longo prazo, a taxa de desemprego (taxa natural) não
é afectada por políticas monetárias e fiscais, embora possa ser influenciada por políticas
microeconómicas que melhorem a eficiência no mercado de trabalho.

Se na sua época Keynes não acreditava na eficiência da política monetária nas condições
económicas da sua época, os neokeynesianismo veio aceitar a importância da moeda na política
de estabilização.

Friedman veio acabar com este dilema político de uma correlação entre a inflação e desemprego.
Nos monetaristas por causa da inflação totalmente antecipada, não há qualquer correlação a
longo prazo. A sua conclusão provém da taxa natural de desemprego, uma ideia que depende
duma visão do mercado de trabalho dos clássicos/neoclássicos ser perfeitamente ajustável. A taxa
natural é a taxa de desemprego dominante num mercado de trabalho perfeitamente competitivo.
Qualquer taxa de desemprego abaixo da taxa natural leva à inflação. Se os trabalhadores atentos
esperam uma inflação rápida, procurarão salários mais generosos. Assim qualquer aumento da
inflação antecipada é acompanhado ponto percentual por ponto percentual pela inflação salarial,
deixando a taxa salarial intocada. Com a taxa salarial inalterada, o nível de emprego, portanto, a
taxa de desemprego permanece constante (à taxa natural de desemprego). Apenas a inflação não
antecipada pode levar a reduções temporárias do desemprego abaixo da taxa natural. A longo
prazo, a inflação é plenamente antecipada e não há qualquer correcção entre inflação e
desemprego.
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O Neoliberalismo na Pratica

Bibliografia Básica
Anderson, P. (S/D). O Balanço do Neoliberalismo [S/R]
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote: 475-478; 487-491.
Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget: 231-243
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 450-469.

Trabalho de Investigação
Biografia de Milton Friedman, Robert Lucas

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As 12 Ideias Importantes da Teoria Económica

Adam Smith O comportamento dos agentes económcos é, em geral, racional e os


mercados geralmente equilibram.
Malthus e Ricardo A natureza, as restrições da terra, são a barreira normal da
actividade económica. Devido à lei dos rendimentos decrescentes,
não se pode ter ilusões de grandeza.
Marx O mercado tem perigos, e o Estado tem o dever de os corrigir
Jevons, Menger, Walras O que conta para definir o valor é a margem
Marshall Tudo no mercado se define simultaneamente pela procura e oferta: o
benefício marginal e o custo marginal.
Walras Os vários mercados interagem de múltiplas formas, encontrando um
equilíbrio geral. Uma das ligações vem do facto de o total das ofertas
ser sempre igual ao total das procuras.
Fisher A moeda está ligada à produção real através da relação MxV=Pxy. A
velocidade V depende da taxa nominal da taxa de juro, que é igual à
soma da taxa real de juro e da taxa de inflação.
Keynes Se houver alguns mercados que não se ajustem, passa a haver
efeitos-quantidades e não apenas efeitos-preço
Ricardo Cada país deve especializar-se na produção do produto em que tem
vantagem situação comparativa.
Stuart Mill O desenvolvimento económico consiste no aparecimento de ideias
que perturbam, de forma permanente a situação da economia.
Schumpeter O desenvolvimento económico consiste no aparecimento das ideias
novas que perturbam, de forma permanente, a situação da economia.
Lucas O comportamento racional dos agentes económicos pode ser
integrado com o fenómeno dos ciclos económicos.
In: .Neves, J. (1996). Introdução a Economia, 3ª ed, Lisboa: Verbo.

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