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Texto de Apoio
Índice
Simeão Nhabinde
Nota Introdutória
As ideias e o pensamento em geral vão para além das políticas, isto porque é a partir de
determinadas ideias e modelo de pensamento que são implementadas determinadas políticas
económicas e sociais para um certo contexto temporal e geográfico. Por isso, cada tema inicia
sempre com uma pequena abordagem sobre os contextos históricos das ideias de cada autor. É
uma abordagem pequeníssima que cabe ao estudante enriquecê-la a partir de outras leituras1.
1
. Pode enriquecer lendo por exemplo, Temas de História Económica de S. Nhabinde.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
O tempo de leccionação da disciplina é muitíssimo curto (um semestre de 16 semanas com 4
horas por semana). Mas o contexto filosófico é de capital importância para o evoluir das várias
ideias e alguns autores não puderam atingir um patamar tão gloriosamente reconhecido
como a dum Adam Smith, David Ricardo, Alfred Marshall, Karl Marx ou keynes. Mas duma ou de
outra forma tiveram um contributo decisivo para os debates e prevalência desta ou daquele
ideia. Para colmatar a insuficiência desta informação filosófica e da de outros autores, no fim de
cada unidade recomenda-se ao estudante um trabalho de pesquisa individual sobre as correntes
filosóficas de cada época e dados biográficos de cada autor. Num contexto do e-learning julgo ser
trabalho simples e motivador porque o estudante vai encontrar que a informação contida neste
texto de orientação também pode obtê-la facilmente por via da internet e sintetiza-la melhor.
I. Abordagens Teóricas
O Conceito
A ideologia que é definida por Araújo (1986: 14-15) como sendo “ um conjunto de normas,
valores, símbolos, ideias e práticas sociais que procuram justificar as relações económicas e
sociais existentes no interior da sociedade. Ela surge como uma necessidade da justificação da
própria sociedade perante os seus membros quanto a questões como: quem cria o excedente
económico, quem se apropria desse excedente e com que direito. Ela constitui uma estrutura de
pensamento ligada a um grupo geralmente dominante que possui muitos mecanismos de
preservação de seus interesses que vão desde o domínio do Estado até a posse de meios
menores, mas fortemente eficazes como a rádio, televisão, o jornal e outros. No entanto, ela é um
fenómeno social espontâneo, ou seja, não constitui algo produzido por uma visão conspiratória
dos homens do processo histórico.
As funções da ideologia assentam na manutenção da coesão social e do sistema de dominação.
Para a manutenção da coesão social, a ideologia tende a aglutinar-se num conjunto de ideais.
Essas ideias filtram-se até às últimas camadas da pirâmide social e, passam a governar o
comportamento dos grupos que compõem a sociedade. Assim, embora ela esteja vinculada ao
grupo dominante acaba sendo internalizada pela maioria dos membros da sociedade pertencentes
ou não ao grupo dominante. A partir daí, os membros da sociedade passam a acreditar na
rectidão das instituições que justificam o status quo. Segundo é que a ideologia ao torna mais ou
menos “uniforme” a visão dos diversos grupos que compõem a sociedade à prior mantém a
sociedade unida, diminuindo assim a probabilidade de choques entre grupos que compõem
posições díspares e a evitar a ruptura do tecido social, porque a ideologia funciona como um
projecto social e como dizia Paul Ricoeur citado por Araújo (1986: 17) “a ideologia
desempenha para a sociedade o mesmo papel que a motivação desempenha para a pessoa
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individual. A pessoa age quando se vê motivada. A sociedade age quando tem um projecto
existencial cujas linhas essenciais são perceptíveis na ideologia. “
A segunda função da ideologia é a de manter a dominação. Esta função decorre da primeira na
medida em que a manutenção coesa de uma sociedade hierarquicamente organizada é
possibilitar a dominação de determinados grupos sobre os outros porque essa organização
hierárquica se baseia em privilégios. Alguns grupos se beneficiam com ela e outros não. Esta
situação deve aparecer nos olhos de toda a sociedade (incluindo os beneficiados) como normal. E
a ideologia procura alcançar isto substituindo com vantagem o uso da força e da violência pela
persuasão.
A ideologia é uma estrutura de pensamento ligado ao grupo dominante. Neste sentido, as classes
dominadas da sociedade também têm as suas estruturas de pensamento na qualidade de
contestadores da validade das relações socio-económicas estabelecidas. Esta estrutura é
designada por utopia que na prática têm o mesmo estatuto teórico. A diferença é que a ideologia
está ligada ao grupo dominante e pretende preservar a coesão social enquanto que as utopias
estão com os contestadores e pretendem mudar a situação social prevalecente.
Nestas circunstâncias torna-se difícil, se não impossível distinguir o campo científico do campo
ideológico na medida em que não existe um lugar não ideológico a partir do qual se pode falar
cientificamente sobre a ideologia, porque todo o discurso ou qualquer elaboração mais ou menos
sistematizada pode estar contaminado pela ideologia, mas apresentando-se a nós com foros de
ciência. Mas a ideologia opõe-se à ciência. No entanto, a própria ciência pode ter uma função
ideológica quando ela se transforma em instrumento de dominação nas mãos de determinados
grupos que apelam à ciência para legitimar o seu poder. Um exemplo disso é os tecnocratas. Os
tecnocratas diferentemente do técnico que aplica o conhecimento científico a determinado campo
de trabalho tende a legitimar-se no poder recorrendo para a ciência ou para o conhecimento
técnico. Araújo (1986:18.
Neste contexto, levanta-se a questão, a ciência económica é ou não ideológica? Está ou não
imune à ideologia? A resposta a esta questão pode ser entendida através da análise de algumas
citações de Stoffaes (1991: 256- 259).
“O economista aspira ao estatuto de ser conselheiro de príncipe. Não tem melhor sonho do que ver o seu
pensamento inspirar os homens de acção e, antes do mais, os poderes públicos... o economista fornece aos políticos
aos grupos de pressão uma caução de aparência científica, que pode não passar de um jogo de poder ou interesse...
como os conquistadores que se faziam acompanhar de padres evangelizadores, os poderes económicos avançam
trazendo consigo os economistas... a ciência económica está em relação com o poder, na medida em que se
interessa pela organização da sociedade,... a análise económica nunca fornece uma descrição puramente gratuita da
economia real: a maneira de ver é influenciada,... pelo tipo do problemas que se resolve pôr em foco, pelas soluções
que antecipamos e pelas recomendações que pretendemos formular. As hipóteses teóricas não nascem por acaso.
Os postulados de base são historicamente datados e politicamente situados...a difusão das ideias económicas e, ... a
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orientação do pensamento económico dependem fortemente dos poderes estabelecidos. É muito mais difícil à ciência
económica do que qualquer outra ciência ser independente do poder político,..., a economia é uma disciplina
necessária ao exercício do governo das nações e das empresas. ... Os temas dos trabalhos do economista dependem
no mais alto grau da sua própria situação na sociedade, da sua psicologia e da sua história pessoal, das suas
aspirações políticas. A difusão ou a asfixia das ideias dependem estreitamente do equilíbrio entre os poderes e os
grupos de interesse da sociedade. São os interesses dominantes que fazem as doutrinas económicas dominantes...
Na antiga União soviética não havia muitos economistas de inspiração neoclássica, da mesma forma que as
investigações acerca da economia marxista não ocupam senão um lugar modesto na ciência económica americana.
Não são coincidências de acaso... a difusão ou asfixia das ideias depende estreitamente do equilíbrio entre os
poderes e os grupos de interesse da sociedade. São os interesses dominantes que fazem as doutrinas económicas
dominantes... se a representação dominante da economia nos países desenvolvidos do mercado privilegia o modelo
neoclássico,..., é talvez para desviar as atenções do grau do poder de que as grandes empresas dispõem... como os
conquistadores que se faziam acompanhar de evangelizadores, os poderes económicos avançam trazendo consigo
os economistas... A ciência económica e o Ministro entram hoje na partida de xadrez outrora disputada pelo imperador
e pelo papa na Idade Média.”
A Concepção Cumulativa
Bibliografia Básica
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial, Lisboa: Dom Quixote: 251-280
Araújo, A.(1986). História do Pensamento Económico, S. Paulo: 13-20
II. Mercantilismo
O Conceito e o Contexto Histórico
O termo mercantilismo foi atribuído por Adam Smith às correntes das ideias e práticas
económicas seguidas nos séculos XVI – XVII.
O mercantilismo é definido como sendo um sistema de intervenção governamental com o fim de
promover a prosperidade nacional e aumentar o poder do estado. Apesar de ser um programa
económico, os seus objectivos eram basicamente políticos, pois visavam trazer mais dinheiro e
riqueza para os monarcas.
A principal preocupação económica do mercantilismo era a busca do pleno emprego. Por isso, o
mercantilismo defendia que a nação poderosa devia usar todo o seu território para actividades
produtivas na agricultura, mineração e manufactura. Os trabalhadores deviam ser encorajados a
manterem-se empregados. O desemprego era visto como resultado da indolência do trabalhador e
era tratado como um problema social. Assim, os desempregados deviam ser amparados pela
sociedade. O problema do desemprego, da mendicidade e da marginalidade tornou-se
particularmente importante na época do mercantilismo. Isto Justifica a simpatia que Keynes tinha
para com o mercantilismo.
Tipologia de Mercantilismo
Os modelos mercantilistas na Europa variaram de país pata país. Assim, vamos encontrar os
seguintes tipos: mercantilismo bulionista ou metalista desenvolvido pelos países ibéricos (Espanha
e Portugal) que tinham acesso fácil ao ouro e prata das Américas e África por terem sido os
pioneiros no processo da expansão europeia.
O mercantilismo industrial também chamado por Colbertismo passou a ter a sua maior expressão
na obra de Colbert ministro de Luís XIV da França. Foi desenvolvido pelos países que tinham
difícil acesso a metais preciosos como a França. A alternativa para a captação de metais precisos
assentou no desenvolvimento de indústrias manufactureiras viradas à exportação.
O mercantilismo comercial e marítimo, também desenvolvido pelos países com dificuldades de
acesso directo a metais preciosos. Tais, foram os casos da Holanda e da Inglaterra. Neste modelo
mercantilista explorava-se a função de intermediário e transportador de comércio internacional
aproveitando as possibilidades abertas pela posição geográfica e meios de transporte marítimo
disponíveis para ganhar o comércio externo.
O cameralismo é o mercantilismo que influenciou o pensamento económico das nações de língua
alemã. Tem a peculiaridade de estar voltado aos aspectos técnicos da produção e ao lado
financeiro. O cameralismo não acredita que o Estado e os capitalistas tenham sempre interesses
harmónicos. Posiciona-se ao lado dos interesses dos capitalistas. Enfatiza os dispositivos de
política fiscal procurando combater a falência do tesouro público.
Os principais aspectos da visão mercantilista na sua generalidade eram a consideração pelo ouro
e metais preciosos como sendo a essência da riqueza; regulação do comércio com exterior
de forma a gerar a entrada do ouro e prata; promoção da indústria pela importação de matérias-
primas barata; direitos alfandegários sobre a importação de manufacturados; incentivo às
exportações, particularmente, para manter os salários.
Teoria da População
O aumento da população garante facilmente a obtenção da mão-de-obra e favorece o
desenvolvimento da indústria e do comércio de exportação, por conseguinte o aumento dos
lucros. Reciprocamente, o desenvolvimento do comércio, da indústria, permite ocupar o maior
número de Homens, o que favoreceria o desenvolvimento da população vantajoso para o Estado.
Neste sentido os mercantilistas não consideravam o crescimento populacional um problema,
defendiam e encorajavam uma grande população como foram de fortalecimento do reino.
Teorias Monetaristas
O desenvolvimento do comércio exige o desenvolvimento da massa monetária em
circulação. A riqueza de uma nação está ligada à posse de uma grande abundância de
moeda (Princípio fundamental reconhecido por todos os mercantilistas).
Não basta que a moeda seja abundante é necessário que seja boa: uma moeda tem de
ter um poder de compra constante num círculo tão largo quanto possível. (As peças
metálicas tinham que conservar um peso constante).
A má moeda expulsa a boa moeda (lei de Gresham).
O excesso da moeda em circulação facilita os empréstimos por conseguinte a obtenção
de negócios frutuosos.
A baixa taxa de juros é unicamente devida ao aumento da quantidade de moeda. (William
Petty).
Abundância da moeda não só favorece o comércio e a realização de lucros privados,
como também dá poder ao Estado através do desenvolvimento das exportações que
enriquece os mercadores (teoria das harmonias económicas).
O poder de compra das moedas de ouro e de prata é inversamente proporcional à
quantidade de ouro e da parta existente num País (tese de Jean Bodin).
Esta tese de Jean Bodin foi motivada pela tentativa de explicar o desenvolvimento da inflação na
Europa do século XVI. A tese constituiu o ponto de partida da formulação, no século XIX, da teoria
quantitativa da moeda, segundo a qual o valor de uma moeda, qualquer que seja a sua natureza,
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é determinado pela quantidade em circulação sendo o seu valor inversamente proporcional à sua
quantidade. Mas a tese de Bodin é criticada pelo facto de o autor não ter verificado que o valor
dos metais em geral é determinado pelo seu custo de produção. Os metais tornavam-se mais
abundantes em determinados momentos em função da descoberta de novos jazigos que
facilitavam a sua exploração, baixando assim o seu custo.
Trabalho de Investigação
Correntes de Pensamento Filosófico Predominantes no século XV-XVI.
III. Fisiocracia
O Contexto Histórico
Fisiocracia provém das palavras gregas fis (natureza) + crátein (dominar). Tem as suas bases de
origem na França do século XVIII num contexto de reacção da população ligada à agricultura
contra a política mercantilista.
A população responsabilizava o mercantilismo pelo desequilíbrio a favor das actividades
industriais em detrimento da agricultura.
O desequilíbrio notava-se através dos seguintes aspectos: impedimentos à exportação dos
produtos agrícolas para impedir o respectivo encarecimento ao nível do mercado nacional;
facilitação de importação de outro tipo de produtos agrícolas como os cereais para permitir a
redução do preço da produção nacional; Limitação da importação de produtos manufacturados
através de elevados direitos aduaneiros; Limitação da circulação dos produtos agrícolas dentro do
país.
Havia também um descontentamento pela intervenção excessiva do Estado na produção e no
comércio externo.
A reacção da população ligada à agricultura aliou-se a um contexto intelectual dominado pelo
iluminismo.
A escola fisiocrática era constituída por vários autores como Jacques Turgot, Marquês de
Mirabeau, Mercier de la Rivière, Du Pont de Nemours, François de Trosne, Nicolas Baudeau.
(Ricardo Feijó (2001): 107). Mas a principal figura foi sem dúvida François Quesnay.
A partir da ideia da ordem natural Quesnay desenvolveu uma série de conceitos e elaborou a
obra básica do pensamento fisiocrático o Tableau Économique. Quesnay partia da ideia de que a
vida social está sujeita a uma ordem natural cujas leis devem ser descobertas pela razão. Esta
ordem natural fisiocrática atribui à terra a exclusividade produtiva e a liberdade de produção e
circulação. Só a terra é que tem a capacidade de multiplicar a produção. A indústria não cria,
apenas transforma insumos em produtos.
O objectivo de Quesnay era provar que as sociedades não têm outro rendimento que não seja o
proveniente do produto líquido da terra depois de pagas todas as despesas incluindo a
subsistência dos cultivadores. Para o efeito, Quesnay recorreu à formulação do dito quadro
económico representado na figura abaixo e adaptado em Henri Dennis (1993): 171.
No quadro estão representadas três classes sociais e três tipos de capital. Nas classes sociais
temos:
Classe produtiva: agricultores (podia-se incluir também os pescadores e os mineradores)
Classe estéril: manufactureios, mercadores, servos e profissionais liberais.
Proprietários de terras (latifundiários) e outros bens. E (classe produtora), proprietários
fundiários, e artesãos e mercadores (classe estéril).
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
Em termos de capital temos:
Adiantamentos anuais: capital de giro da produção agrícola (salários dos trabalhadores
agrícolas, sementes e outras despesas anuais periódicas).
Adiantamentos primitivos: capital fixo (ferramentas agrícolas, animais domésticos)
Aditamentos em melhorias permanentes: adiantamentos fundiários feitos pelos
proprietários agrícolas (drenagem, vedação e outros melhoramentos duradoiros da
terra)
O processo de circulação desse capital pelas três classes sociais, segundo o quadro, efectiva-se
da seguinte forma: O país tem um rendimento anual de 5 unidades produzidas na agricultura. Os
agricultores reservam 2 unidades para o seu consumo e novas culturas. As restantes 3 unidades
são usadas da seguinte forma: 2 unidades são entregues à classe dos proprietários fundiários
para o pagamento da renda, impostos e outros encargos e 1 unidades é aplicada no pagamento
de serviços da classe estéril. Das 2 unidades que a classe proprietária recebe, 1 unidade é
destinada à aquisição de bens aos agricultores e a outra à aquisição de bens manufacturados e
serviços à classe estéril. A classe estéril que fica com 2 unidades, 1 unidades vinda dos
agricultores e 1 unidade vinda dos latifundiários, devolve 2 unidades aos agricultores em
pagamento dos produtos agrícolas e matérias-primas.
No final deste processo os agricultores terão recebido 3 unidades (2 dos artesões e 1 dos
latifundiários) e gasto 1, voltando assim tudo ao ponto de partida. O efeito líquido para a classe
estéril é nulo e as duas unidades são, mais uma vez, pagas aos proprietários, iniciando assim um
novo ciclo de produção e distribuição.
Esta explicação do quadro de Quesnay pode ser simplificado através do diagrama abaixo
adaptado em Ricardo Feijó (2001): 109.
Política Fiscal
A política fiscal dos fisiocratas defendia a substituição do complexo sistema tributário por um
imposto único sobre a propriedade da terra. O argumento fisiocrático assentava a na ideia de que
o imposto não pode ser outra coisa se não parte do produto líquido que cabe aos detentores da
soberania. Como na concepção fisiocrática, o produto líquido vinha apenas da agricultura, o
imposto sobre a classe estéril ou sobre os consumidores acabaria sempre por se transferir para os
agricultores e depois para os proprietários fundiários uma vez que representaria uma diminuição
da importância da aquisição de produtos agrícolas pela classe estéril e pelo consumidor.
O imposto único fisiocrático partir duma concepção errónea da produção. Mas tinha uma lógica no
seguinte: constituía uma reacção contra a excessiva complexidade do sistema fiscal da época e
uma primeira percepção dos fenómenos de repercussão de impostos. Mas é um princípio com
implicações negativas na medida em que toda a carga fiscal recaía sobre a agricultura
considerada a única produtiva que por sinal devia ser a mais protegida.
Em relação às críticas pode-se sublinhar primeiro que o Quadro Económico, revela a principal
fraqueza analítica do sistema de Quesnay não pelo facto de atribuir o rendimento líquido da
actividade económica unicamente à terra, mas sim por não conseguir provar que a terra é
produtora de valor. Portanto, é uma análise errada por considerar a indústria como estéril isto
porque partiu duma noção errada dos conceitos da riqueza e produção. Segundo, há um mau
esclarecimento da noção do lucro do capital ao longo da circulação pelas três classes. Terceiro, o
grande defeito do sistema fisiocrático, a negação da História. Julgavam os fisiocráticos que
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História do Pensamento Económico
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podiam encontrar leis análogas às leis físicas que governassem as actividades económicas e
fizeram uma extrapolação gigantesca que consistiu em afirmar que: todos os fenómenos
económicos são governados por leis análogas às leis físicas; estas leis são universais, i.e, são as
mesmas em todas os tempos e em todos os lugares, porque se fundam nas necessidades físicas
do homem, e são, portanto, anteriores às convenções sociais.
Bibliografia Básica
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 60- 65
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed, Lisboa: Horizontes: 161-185
Feijó, R. (2011). História do Pensamento Económico. Paulo: Atlas: 59-77.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico, Coimbra: 23-36.
.
Trabalho de Investigação
Correntes filosóficas predominantes entre o século XVII e XIX
Adam Smith
Thomas Malthus
David Ricardo
A Mão Invisível
O conceito de mão invisível de Adam Smith que constitui a essência do liberalismo económico
pode ser explicado da seguinte forma: ao seguir os seus instintos egoístas os homens interagem
umas com as outras. A busca do interesse pessoal leva à harmonia social provocada pelo
confronto das pessoas no mercado ou seja pela competição. Deste modo, o choque entre o
egoísmo e competição leva ao melhor dos mundos porque o interesse da comunidade é apenas o
somatório dos interesses dos membros que a compõe. Cada homem se for deixado à sua
iniciativa, procurará maximizar a sua riqueza e por consequência todos os homens se não forem
estorvados, maximizarão a riqueza agregada da nação. A este propósito Adam Smith acabaria por
escrever o seguinte adágio: “não é da bondade do açougueiro ou do padeiro que podemos
esperar nosso jantar, mas de seu próprio. Nós nos dirigimos não a seu espírito humanitário mas
sim, ao seu interesse e nunca falamos das nossas necessidades, mas sim de suas vantagens.”
As obras de Malthus e Ricardo surgem num contexto histórico em que havia uma oposição de
interesses entre a agricultura e a industria a Inglaterra. A agricultura lutava contra a concorrência
externa e defendia o proteccionismo julgando-o necessário para a manutenção do equilíbrio na
exploração da terra. A industria, primeiro, gozava de avanços tecnológicos em relação a toda a
Europa por isso estava interessada numa política de livre-cambismo e ampla liberdade de trocas
internacionais para: obter liberdade de acesso aos mercados externos, reduzir o custo da vida
interna, baixar os salários com efeitos favoráveis sobre os custos industriais e obter o poder de
concorrência dos produtos ingleses nos mercados internacionais. Um segundo contexto está
relacionado com a urbanização e desemprego crescentes, pauperismo e baixos salários na
indústria. Considerava-se a iniciativa individual movida pelo lucro como sendo o índice seguro da
prosperidade nacional.
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1988) História do Pensamento Económico.S. Paulo:Atlas: 27-32
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 119-153.
Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico. Lisboa: Instituto Piaget: 43-57.
Denis, H. (1993) História do Pensamento Económico, 7ª ed.Lisboa: Horizontes:188-221
Lumbrales, J. (1988) História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 47- 61
Murteira, M. (1990) Lições de Economia Política de Desenvolvimento.Lisboa: Presença:78-81
Trabalho de Investigação
Biografia e influências filosóficas de Adam Smith
O pensamento Malthusiano está mais ligado à teoria da população exposta no “Ensaio Sobre os
Princípio da População” obra lançada em 1798. A popularidade e o sucesso da obra de Malthus
deveu-se à simplicidade das suas ideias que não exigiam nenhum conceito analítico novo ou
descoberta factual de ideias; realização, na Inglaterra, do primeiro censo completo da população
do qual parecia poder depreender-se o crescimento rápido da população inglesa e o debate que
existia na altura sobre a legislação de protecção dos pobres (poor law).
Para compreender esta teoria Malthusiana vamos estabelecer uma pequena relação com as
ideias de Godwin e Adam Smith sobre a assistência aos pobres. A doutrina de Godwin defendia a
assistência aos pobres. Sob a influência de Godwin a “Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão” de 1795 em França estabeleceu que “Todo o cidadão incapaz de prover as suas
próprias necessidades tem o direito à assistência dos seus semelhantes”. Adam Smith era
contrário à lei dos pobres porque segundo ele, a assistência aos pobres impedia o deslocamento
da mão de obre e engendrava desigualdades de salários.2 Como o argumento de Adam Smith era
pouco convincente, Malthus vai tentar reforça-lo e refutar as ideias de Godwin com o objectivo de
justificar a ordem liberal fundada na propriedade e na desigualdade social. Para o efeito Mathus
vai usar o argumento de que a tendência para o superpovoamento inerente à espécie humana
exige: a desigualdade, a proibição do reconhecimento do direito à assistência aos pobres porque
contribui para aumentar mais a população e também refutar a tese do liberalismo de Adam Smith.
A tese do liberalismo de Adam Smith defendia que a liberdade é o melhor meio de acrescer a
riqueza de uma nação e a maior parte dos indivíduos beneficia-se desse enriquecimento. Malthus
veio afirmar que a riqueza duma nação pode crescer. Mas pode não arrastar a melhoria da
situação de cada indivíduo. Isto sucede quando o número de indivíduos aumenta mais
rapidamente do que os recursos disponíveis para a satisfação das suas necessidades. Esta
situação acontece porque existe uma lei natural (naturalismo social) do desenvolvimento
2
. Na Inglaterra do século XVII-XVIII, os pobres eram apoiados através duma contribuição denominada taxa dos
pobres e eram concentrados em casas de trabalho, as workhouses controladas pelas paróquias.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
populacional oposta às condições de desenvolvimento máximo da produção alimentar. Devido aos
institutos de reprodução, a população humana cresça a um ritmo geométrico enquanto que os
meios de subsistência crescem a um ritmo aritmético. A causa desse crescimento, segundo
Malthus, tem a ver com a voracidade dos apetites sexuais dos Homens. Malthus propõe soluções
para o restabelecimento do equilíbrio. Essas soluções passam por uma série de obstáculos ao
crescimento que podem ser preventivos ou positivos. Como mostra o quadro abaixo, os
obstáculos preventivos, incluem, a redução de nascimentos, o constrangimento moral (renúncia
voluntária ao casamento, renúncia de procriação durante toda a vida ou parte da vida) o vício
(aborto) e a escassez de meios de subsistência. Os obstáculos positivos incluem, o aumento de
óbitos, o vício, a miséria e a escassez de meios de subsistência. A escassez dos meios de
subsistência constitui o denominar comum dos dois obstáculos.
De todos estes obstáculos, Malthus elegeu o constrangimento moral como a solução ideal para o
restabelecimento do equilíbrio populacional por dois motivos: um primeiro motivo tem a ver com o
facto de numa sociedade liberal a noção de responsabilidade exigida pela constituição da família
conduzir a uma situação em que só possam contrair matrimónio ou procriarem aqueles que
dispões de recurso necessários para fazer face a essa responsabilidade. Segundo, as pessoas
pobres não puderem casar ou procriar. Deste modo, como numa sociedade liberal a maioria da
população é pobre na medida em que a riqueza da nação pode crescer sem arrastar a melhoria
de vida de toda a população, a maioria da população estará impedida de contrair matrimónio ou
de procriar levando deste modo a uma redução das taxas de natalidade e, por conseguinte ao
crescimento da população. Aqui encontramos a importância da manutenção da miséria numa
sociedade liberal, segundo Malthus. E essa manutenção da miséria podia se realizar através da
supressão da lei de assistência aos pobres por três razões: a pobreza é inevitável (é uma ordem
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 45-47
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 228-240
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piage t:69-73
Denis, H. (1993).História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes:307 320; 355-362.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 71-77.
Murteira, M. (1990). Lições de Economia Política de Desenvolvimento. Lisboa: Presença: 307-319
Trabalho de Investigação
Biografia de Thomas Robert Malthus e de William Godwin
David Ricardo é o autor clássico da escola inglesa mais influente na História do pensamento
económico. É também Considerado o maior economista clássico guiado por reflexões e leituras
sem nunca ter pisado nenhuma universidade. Sua obra influenciou todas as correntes económicas
posteriores. Karl Marx e outros socialistas encontraram no estudo da distribuição do produto entre
as classes um ponto de partida para o desenvolvimento de outras reflexões. Marshall e a corrente
neoclássica encontraram na teoria da renda uma inspiração germinal de conceitos marginalistas e
tratamento modelístico da economia. Contrariamente a Malthus, Ricardo não só era livre-cambista
como também aceitava a lei de Say. Seu pensamento e obra têm interesse particular nos
problemas de distribuição de renda, moeda e comércio internacional.
Tal como Adam Smith, Ricardo distinguia dois preços numa mesma mercadoria: o preço natural
equivalente ao valor e o preço de mercadoria que oscila em torno do valor, conforme a oferta e a
procura. Ricardo, nota que o preço de uma mercadoria é uma quantidade determinada da moeda
e, as variações do valor da moeda podem encobrir os efeitos das variações das quantidades de
trabalho necessárias para a produção das mercadorias. Mas, não renuncia à prova de que o valor
de um bem é determinado pelo seu custo em trabalho na medida em que a próprio valor da
moeda é determinado pela quantidade de trabalho necessário à produção de metal para a
fabricação do numerário. Para simplificar a explicação da formação de preço em Ricardo, Henri
Dennis (1993): 336-337 recorreu ao seguinte esquema analítico: sendo PA o preço de uma
mercadoria A e qA o custo em trabalho de A e qm o custo em trabalho da moeda, o preço de A
qA
será: PA . Se 1 Metical custa 10 horas de trabalho (qm = 10) e se uma cadeira custa 100
qm
horas de trabalho (qA = 100), o preço normal de uma cadeira, quando não há perturbação da lei do
qA
valor é de 10 Mtn, isto é 10 . PA aumenta se qA aumenta, com a condição de qm não mudar,
qm
A
e que, se qm muda, a variação de PA é proporcional à variação da .
qm
Esta lei de Ricardo estabelecia o princípio de uma explicação dos movimentos fundamentais dos
preços das mercadorias e não dos seus movimentos ocasionais que dependem de mil causas
diversas porque na prática existem vários factores que intervêm na explicação da oscilação dos
preços. Mas a teoria do valor de trabalho no modelo Ricardiano teve o papel e a importância
duma lei com alto poder explicativo que deu uma coerência e unidade a todo o resto.
Nesta segunda fase como a gleba B é menos fértil para se produzir a mesma tonelada de trigo da
gleba A aplica-se mais trabalho e capital. Há um aumento dos custos de produção de tal forma
que o preço mínimo da tonelada de trigo será maior para cobrir os custos de produção da gleba B.
Assim, o valor do trigo é regulado pelo custo de produção das circunstâncias menos favoráveis. O
cultivo da gleba B, terra menos fértil, dá origem à formação da renda na gleba A. Renda é
portanto, a diferença entre o produto obtido pelo emprego de duas quantidades iguais de capital e
trabalho em duas glebas de condições diferentes, ou seja, o saldo que vai para os proprietários
das terras mais férteis. Esta situação, na lógica de Ricardo tem a seguinte explicação: o capitalista
da gleba A produz a um custo mais baixo que o da gleba B, mas vende o seu produto a um preço
que, pelos menos, cobre os custos de produção na gleba B, não na gleba A. No entanto,
“infelizmente” o saldo não fica com ele. Termina nas mãos do latifundiário que lhe alugou a terra já
que estas terras férteis são escassas e estão em competição. Se o capitalista X não arrendar, um
outro capitalista Y Z certamente que o fará.
Como a população pode crescer ainda mais e a aumentar a pressão sobre os recursos, novas
glebas menos férteis serão exploradas e de forma sucessiva cada nova gleba vai gerar nova
renda. Assim, numa fase posterior, a gleba D não proporciona renda. Mas ela é gerada em A B e
C. A medida que se expande a exploração das terras menos férteis, aumenta a porção do produto
destinado ao latifundiário. Por isso Ricardo afirma que “o trigo (na Inglaterra) não é caro porque se
paga renda, antes paga-se renda porque o trigo é caro...” ou seja, contrariamente ao papel
desempenhado pelos custos de trabalho, a renda não determina o preço do cereal. Pelo contrário,
o preço do cereal decide o total da renda.
A teoria da renda de Ricardo foi considerada por John Stuart Mills como sendo uma das doutrinas
capitais da economia política. Mas, determinados autores chegaram a afirmar que Ricardo limitou-
se a fazer um simples exercício de abstracção. A compreensão da importância desta teoria passa
necessariamente por compreender os contextos da sua formulação. Primeiro é que havia um
grande aumento do preço de trigo na Inglaterra com consequências graves para a economia na
medida em que o trigo era o principal componente da dieta alimentar do trabalhador e, por
conseguinte com alto peso no custo de vida. Aumentando o preço de trigo significava que tinha
que se aumentar os salários elevando os custos de produção. Por outro lado, como se explorava
cada vez mais terras menos férteis era necessário aumentar a quantidade de trabalho com efeito
na massa salarial para se colher a mesma quantidade de trigo. Segundo, os proprietários de terra
(latifundiários) como ainda detinham o poder político conseguiam manter a “lei do cereais” [corn
law]. Esta lei impedia a importação de cereais que podia baratear o preço de trigo e por
conseguinte os salários e assim os custos de produção.
Portugal tem vantagem absoluta tanto para na produção de vinho como de tecido. Mas possui
uma vantagem relativa na produção de em vinho, ou seja, é mais eficiente na produção de vinho.
Portugal ganhará reafectando os seus recursos na produção de vinho e trocando o vinhos
excedente pelo tecido excede na Inglaterra. A Inglaterra ganharia especializando-se na produção
de tecidos. Na teoria do comércio internacional de Ricardo, teoria das vantagens comparativas, os
países devem especializar-se naquilo que são mais capazes de produzir mesmo que um deles
seja mais eficiente d que o outro na produção de todos os bens.
Esta teoria de Ricardo constituiu uma poderosa arma nas mãos de adeptos de livre-cambismo e
permitiu à Inglaterra tornar-se senhor do mundo apoiada na defesa do comércio livre. Mas é
criticada por considerar o mundo económico estático. A deterioração dos termos de troca entre os
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
países desenvolvidos e subdesenvolvidos veio demonstra que o argumento Ricardiano era
irrealistico.
Depois de Ricardo John Sturat Mill tornou-se o mais influente economista clássico. Mill lançou o
conceito de “homo economicus”, ser que existe abstraído de outras paixões e motivos humanos
com excepção do desejo de riqueza e aversão ao trabalho. (Ricardo Feijó, 2001: 180). No debate
dos princípios que governam o método de investigação económica Mill foi adepto do priorismo em
detrimento do posteriorismo. No método a priori a certeza das premissas obtidas é tida como
verdadeira antes da experiência. O método posteriori que parte do singular para o plural é tidfo por
Mill como um complemento que permite identificar as causas perturbadoras e verificar se as leis
que a ciência prescreve são aplicáveis às situações concretas. É o método que serve para
verificar verdades e não para descobri-las.
Mills lançou também a famosa teoria do fundo de salários. A teoria do fundo de salários defende
que os salários dependem sobretudo da procura e da oferta de mão-de-obra, ou seja da
proporção entre a população (aqueles que trabalham como assalariados) e o capital circulante
apenas gasto no pagamento directo da mão-de-obra. Os salários não podem aumentar a não ser
em razão de um aumento do conjunto de fundos para contratar trabalhadores ou em razão de uma
diminuição do número de trabalhadores que concorrem por emprego. Não pode baixar a não ser
porque diminuírem os fundos destinados a pagar mão-de-obra ou porque aumentou o número de
trabalhadores a serem pagos.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
Críticas a Ricardo
Para além das críticas feitas por Marx, as criticas a Ricardo assentam fundamentalmente nos
autores que seriam posteriormente expoentes da revolução margianalista, Jevons, Menger e
Walras.
Jevons apontou três deficiências na teoria de valor de Ricardo. Primeiro porque a teoria requer
uma outra teoria especial com oferta fixa o que prova que o custo em trabalho não é essencial
para o valor. Segundo, elevados custos em trabalho não conferem alto valor à mercadoria se a
demanda futura for mal prevista. Terceiro, o trabalho é heterogéneo e só pode ser comparado pelo
valor do produto.
Tomando em consideração a divisão clássica dos factores de produção entre terra, trabalho e
capital na determinação de valor, Menger critica Ricardo pelo facto de o valor da terra não
depender também do custo em trabalho para mantê-la e pelo facto da necessidade duma teoria
particular para a renda em terra.
Walras critica Ricardo pela falta de generalidade na sua teoria de valor, diferenciação entre bens
escassos e bens reproduzíveis, insustentabilidade da ideia clássica da casualidade do valor como
dependente dos factores na determinação do preço do bem.
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986).História do Pensamento Económico.S. Paulo:Atlas: 33-43
Blaug, M. (1989): História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote:137-161
Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget: 75-85
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes:333-252
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico, S. Paulo: Atlas: 166-193.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 77-86
Murteira, M.(1990). Lições de Economia Política de Desenvolvimento. Lisboa:Presença: 84-89.
Trabalho de Investigação
Biografia de David Ricardo, John Stuart Mill e Jean Batiste Say
V. Reacções Anti-Liberais
Nacionalismo
Socialismo
Marxismo
5.1. Nacionalismo
Apesar de muita aderência na Europa Ocidental, o liberalismo económico da concepção clássica
inglesa encontrou uma forte oposição nos princípios do século XIX. As primeiras ideias e
pensamento anti-liberais tiveram um carácter nacionalista através da escola romântica que teve
em Adam Muller a figura mais importante. Mais tarde surgiu a escola histórica cujo representante
máximo foi o alemão Friedrich List. List desenvolveu a teoria das forças produtivas oposta à teoria
de valor de Adam Smith e esboçada inicialmente por Muller. Os objectivos desta teoria das forças
produtivas era defender a economia nacional em negação ao liberalismo económico e a sua
expressão internacional, o livre-cambismo. A teoria argumenta que os factores capazes de
assegurar o desenvolvimento económico não se limitam apenas aos bens materiais (directos e
indirectos) definidos pelos clássicos, mas também as instituições políticas, jurídicas, morais e
culturais. Ou seja, na teoria das forças produtivas de List, as leis do Estado, a ciência e as artes, a
religião, as condições de segurança, a ordem pública, o respeito das liberdades constituem as
forças produtivas de que depende o crescimento económico.
Na França as ideias nacionalistas tivera como principais representantes Charles Dupont-White,
Paul Cauwés e Lucien Brocard. Este último integrou o proteccionismo num sistema económico
global. Brocard distinguia a economia internacional da economia nacional argumentando que a
análise económica devia partir do plano nacional para o plano internacional, a internacionalização
dos processos económicos exigia uma evolução que deveria partir das bases regionais e
nacionais.
Bibliografia Básica
Lumbrales, J. (1989). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra
Editora: 94- 104
Martins, S. (2001).Economia Política, 9ª ed..Coimbra: Almedina: 219-226.
.
Trabalho de Investigação
Biografia de Frederic List e Adam Muller
História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
5.2. Socialismo
As doutrinas socialistas podem ser classificadas sob dois ângulos: em função das medidas e em
função dos processos em que a supressão ou a limitação das instituições liberais deve ser
realizada.
No âmbito das medidas no pensamento socialista podem se distinguir dois grupos: colectivismo e
comunismo. O colectivismo propõe a supressão da propriedade privada dos bens de produção,
admitindo, porém a propriedade privada dos bens de consumo ou bens finais. As doutrinas
comunistas preconizam a abolição completa da propriedade privada, não só dos bens de
produção, mas também de consumo.
As construções doutrinárias de sentido socialista formuladas nos fins do século XVIII até meados
do século XIX são designadas por socialismo utópico. Entre os seus representantes contam-se
Henri de Saint-Simon, Sismonde de Sismondi, Robert Owen, Charles Fourier, Lois Blanc, Joseph
Prodhon, entre tantos outros. Estes socialistas acreditavam que reformas políticas graduais
poderiam levar a uma sociedade melhor. Mas, a partir da segunda metade do século XIX,
apareceu a concepção do socialismo como algo a ser alcançado pela revolução social e não pelas
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
reformas nas leis. Esta concepção veio substituir a concepção do socialismo utópico pelo
socialismo como método de interpretação da história e de acção política. A principal figura da
teoria do socialismo revolucionário que veio aglutinar a maior parte do movimento socialista foi
Karl Marx.
Bibliografia Básica
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra
Editora: 94- 104.
Martins, S. (2001). Economia Política, 9ª ed. Coimbra: Almedina: 219-226.
Trabalho de Investigação
Biografia dos principais socialistas utópicos.
O Contexto Histórico
Marx foi muito influenciado por três principais correntes de pensamento. O pensamento filosófico
alemão através de Hegel, o socialismo francês e o pensamento clássico ricardiano. A figura
abaixo adaptado de Carlos Araújo é ilustrativa. Mas o pensamento de Marx desenvolve-se no
século XIX num contexto histórico em que a Revolução Industrial tinha causado uma forte
brutalidade das condições de trabalho dos operários nas manufacturas e das minas; difíceis
condições de vida mesmo fora das fábricas (falta de protecção, vida em choças insalubres);
emprego precário em que os salários mal suportavam a subsistência; horas de trabalho a fio com
remunerações baixíssimas para as mulheres e crianças; falência dos pequenos artesãos
produzida pelas fábricas modernas; crises periódicas de superprodução que causavam sucessivas
falências e ruínas.
As Influências de Marx
Materialismo Histórico
As ideias de Marx firmaram-se dentro do materialismo filosófico, em particular a filosofia
hegeliana. Das noções filosóficas de Hegel Marx reteve os conceitos de alienação e da dialéctica,
mas numa concepção diferente. Hegel via a dialéctica como sendo a propulsora das ideias. Marx
via a dialéctica como motor de desenvolvimento nas relações económicas. Assim, Marx afastou-se
do idealismo hegeliano. O idealismo de Hegel defendia que o espírito universal era o motor da
história. Marx veio afirmava que esta dialéctica de Hegel estava correcta, mas devia ser posta de
cabeça para baixo ou seja que Hegel tinha colocado tudo de pernas para o ar. Assim Marx
substitui o idealismo pelo materialismo histórico. O materialismo histórico defende que antes de
mais as condições materiais de vida numa sociedade são as que determinam o nosso
pensamento e a nossa consciência. Estas condições materiais são também determinantes para o
desenvolvimento histórico. A partir da junção do materialismo de Feurbach e a dialéctica de Hegel
Marx construiu o materialismo dialéctico.
Com base no materialismo dialéctico Marx desenvolveu o materialismo histórico expressa na obra
“A Ideologia Alemã.” O materialismo histórico trabalha com vários conceitos como os meios de
produção, forças produtivas, relações de produção, modo de produção.
Meios de produção é tudo o que é empregue para gerar bens materiais; forças produtivas
englobam meios de produção, capacidade técnica, conhecimento e rotinas de produção; relações
de produção são as relações de cooperação, submissão e outros vínculos que se estabelecem
entre os homens na produção; modo de produção, caracteriza o estágio de desenvolvimento da
sociedade, entre a comunidade primitiva, esclavagismo, feudalismo, capitalismo e comunismo. O
Modo de Produção é composto de três estratos: a base material que são as forças produtivas; o
conjunto de relações sociais que compõem as relações de produção; a superstrutura que é o
conjunto de crenças que mantém a coesão entre os homens justificando o “status quo” e
compelindo ao cumprimento dos papéis individuais. Abaixo o diagrama representativo do modo de
produção.
Marx define capitalismo como sendo uma relação sui generis caracterizada pela compra e venda
de trabalho. O capitalismo surgiu quando tudo se tornou mercadoria, inclusive a força de trabalho.
Para que isso ocorresse foi necessário que houvesse um processo histórico duma apropriação
privada e violente dos meios de produção pela classe burguesa forçando a classe operária a
vender no mercado a sua força de trabalho. A esse proesso histórico Marx chamou de
acumulação prmitiva de capital.
A relação de compra e venda de trabalho permitiu que os meios de produção se tornassem capital
e a força de trabalho mercadoria.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
A essência do capitalismo, segundo Marx, é a exploração da força do trabalho pelo capital ou seja
a formação do valor e a apropriação da mais valia pelo capital.
A diferença entre o sistema capitalista e o não capitalista (mercantil) pode ser encontrada no
esquema de circulação. No sistema não capitalista a produção simples de mercadorias é
representada pela sequência Me (mercadoria) – Mo (moeda) – Me (mercadoria). Neste sistema
Mo é mera intermediária das trocas. No sistema capitalista ocorre a sequência Mo – Me – Mo’,
onde Mo’> Mo. A circulação começa com moeda e termina com um valor maior que o inicial. A
diferença é a mais valia.
Teoria de Valor
Marx retoma a teoria de valor do trabalho de Ricardo e procura melhorá-la. Para o efeito, recorre à
incorporação da terminologia clássica do valor de uso e valor de troca. Em Marx, primeiramente
uma mercadoria possui valor de uso que é a utilidade para necessidades específicas ou qualidade
físicas que geram utilidade. Seguidamente possui um valor de troca que é a qualidade de um bem
ser equivalente a outro com o qual pode ser trocado.3 Os dois valores estão ligados já que um
objecto não se vende a não ser que seja útil a alguém. Mas, não é possível ligar o valor de troca à
utilidade. Não é verdadeiro que uma mercadoria tenha tanto mais valor quanto mais útil for.
Segundo Marx o valor de troca pressupõe um elemento comum a todas as mercadorias: o tempo
de trabalho socialmente necessário para a produção
Tal como Ricardo Marx frisa que o trabalho consagrado à fabricação dos materiais e aos
instrumentos de produção entra na definição do valor. Mas, Marx, no lugar de usar conceitos como
trabalho mediato e trabalho imediato, passa a usar os seguintes conceitos para a determinação do
valor de troca: trabalho socialmente necessário à produção ou o trabalho gasto em média na
sociedade considerada e que não constitui o trabalho gasto nesta ou naquela empresa. Trabalho
3
. Por exemplo, a caneta tem uma serventia diferente do martelo. Por isso tem valor de uso diferente do martelo. O
martelo pode valer 20 canetas. Os dois bens têm valor de troca diferente.
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História do Pensamento Económico
abstracto.
O trabalho concreto cria o valor de uso ou utilidade. O trabalho abstraído cria o valor de troca. É o
mero dispêndio de força humana de trabalho, mero dispêndio produtivo de cérebro, músculos,
nervos e mão humanas. O trabalho abstracto é medido pelo tempo de trabalho socialmente
necessário, com o grau médio de habilidade e intensidade em dada época.
O processo da formação do valor da troca reduz todos os trabalhos concretos a trabalho
abstracto.
Em Ricardo o elemento que determina o preço só pode ser o trabalho humano. Contudo, Ricardo
admitia a existência de excepções de bens como obras de arte, vinhos finos cujo preço não é
determinado pelo seu custo em trabalho, daí que para validar a lei da teoria do valor do trabalho,
teve que admitir que o custo em trabalho só explica o valor quando se trata de bens que a
indústria humana pode reproduzir de maneira praticamente ilimitada.
Marx veio justificar a teoria clássica do valor afirmando que não há nenhuma fonte do valor de
troca a não ser o trabalho. Se certos produtos vendem-se a preços que parecem representar uma
coisa que não é o trabalho só é possível se os outros produtos não se venderem a preços que não
representam inteiramente o trabalho gasto na sua produção. Ë o trabalho não representado no
preço dos segundos que se encontra expresso o preço dos primeiros.
4. Por exemplo, o trabalho concreto dum alfaiate é diferente do trabalho dum sapateiro que também é diferente do trabalho dum
pedreiro.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
representa o número de horas extras. Por exemplo, de oito horas diárias de trabalho, quatro
remuneram o trabalhador. As restantes quatro horas representam o trabalho excedente.
No trabalho necessário ocorre o processo de produção do valor da força de trabalho. O trabalho
excedente que é apossado pelo capitalista representa a mais valia.
Marx estabeleceu a fórmula de circulação do capital industrial como sendo Mo-Me …P… Mé-Mó.
Assim, a origem da mais valia está na esfera de produção P onde a força de trabalho actua
transferindo ao produto mais do que ele vale.
A expressão monetária da mais valia é o lucro do capitalista e a renda fundiária que são uma
consequência necessária da apropriação privada dos meios de produção e do assalariamento.
Em Marx a verdadeira explicação da mais valia deve ser encontrada na esfera produtiva, pois, não
é preciso que cada produto seja vendido a um preço correspondente ao seu valor. Se uns forem
vendidos a um preço acima do valor (mais valia realizada acima do valor criado no sector
considerado) outros serão vendidos abaixo (mais valia realizada abaixo do valor criado no sector
considerado). A soma total tenderá a corresponder à mais valia criada pelo trabalho.
Marx fala também da mais valia absoluta e mais valia relativa. A mais valia absoluta é aquela que
se obtém através pelo prolongamento da jornada de trabalho. Mas pode acontecer que por
motivos legislativos, resistência dos operários etc. o capitalista não consiga aumentar a jornada de
trabalho. Então pode recorrer a obtenção da mais relativa que é aquela que se obtém mediante a
diminuição do tempo de trabalho necessário. Esta diminuição só é possível através do aumento da
produtividade face ao desenvolvimento da tecnologia e da organização dos processos de trabalho.
Diagrama de Sweezy
Texto de Apoio
composição orgânica de capital (q). A composição orgânica de capital é a relação entre capital
c
constante (c) e o capital total (c+v) expressa pela formula q . Ela mede a taxa de
cv
substituição da mão de obra por máquinas e equipamento. Por outro lado, o aumento de “q” e de
“c” em relação a “v” demonstra também que ao longo da história a tendência natural do sistema é
tornar-se capital - intensivo.
Contrariamente a Ricardo que adoptou a lei de mercados de Say, Marx rejeitou a impossibilidade
das crises de superprodução. Por isso, uma segunda contradição referida por Marx está
relacionada com a crise da superprodução resultante da impossibilidade do sistema manter
permanentemente o equilíbrio entre os dois grandes sectores da economia capitalista dando
origem às crises de superprodução. Marx analisou esta contradição inspirando-se em Quesney
que defendia que os produtos sempre podem ser vendidos pelos seus preços normais. Este ponto
de vista seria adoptado por toda a escola clássica. Marx veio contrariar esta ideia justificando que
há períodos de crise durante os quais não é possível escoar normalmente toda a produção. Isto
acontece porque contrariamente à análise dos clássicos a produção nacional não se compõe
unicamente de bens de consumo. Compreende também meios de produção que se destinam a
substituir os equipamentos usados ou a serem acrescentados ao equipamento existente. Assim,
segundo Marx, não se pode conseguir o escoamento normal dos bens de consumo produzidos se
não se produzir simultaneamente um volume suficiente de meios de produção. Por outras palavras
se o investimento for inferior à poupança, dizia, haverá uma insuficiência da procura de
mercadorias consumíveis em relação à oferta e deste modo uma superprodução. Por conseguinte,
Uma terceira contradição tem a ver com a tendência para a baixa da taxa de lucro. Segundo Marx
a lei da baixa tendencial da taxa de lucro afirma que o progresso das técnicas de produção tem
como efeito elevar a relação do capital constante (c) para o capital variável (v) ou a composição
orgânica do capital (q). Se a taxa de mais valia se conservar a mesma, a taxa de lucro baixa
necessariamente.
Há diferenças entre Marx e os clássicos sobre a taxa de lucro. Na análise clássica defende-se
que a acumulação do capital pode cessar e se estabelecer um estado estacionário. Segundo que
a baixa taxa de lucro tem como único efeito limitar progressivamente a poupança, terceiro que
poupança se investe automaticamente. Marx veio tirar conclusões diferentes. Primeiro exclui a
possibilidade de haver de forma duradoira um estado estacionário na economia capitalista
defendendo que ela irá para uma situação instável e explosiva de sub-emprego das forças
produtivas, uma situação que conduzirá ao derrube do sistema. Segundo, veio afirmar que a baixa
m
taxa de lucro que representou pela formula l não tem como único efeito a limitação
cv
progressiva da poupança, mas sim a criação duma massa de poupança que não se consegue
investir em condições satisfatórias porque deixa de haver possibilidades de os novos capitais
encontrarem investimento que prometa uma rentabilidade suficiente. As consequência disto é que
os novos capitais vão travar uma luta para conquistar uma parte dos mercados já alimentados
pelos antigos capitais. Esta luta concorre para: tornar a concorrência e a especulação mais
A autodestruição acaba dando origem a um novo sistema, o socialismo onde serão abolidas todas
as classes sociais. O Estado se apodera de todos os meios de produção. O trabalho passa a ser
organizado e remunerado em função do serviço efectivo prestado. Os bens produzidos são
avaliados em função do trabalho que representam. O fenómeno da mais valia bem como o
subconsumo desaparecem já que o trabalhador receberá um valor correspondente ao produto do
seu trabalho e a distribuição do poder de compra corresponderá às necessidades dos
consumidores e ao valor da produção.
Críticas a Marx
A obra de Marx é complexa e de carácter totalitarista que tenta abarcar todas as ciências sociais.
O século XX é um século de revolta contra este modelo de grandes sistemas filosóficos que
tentavam explicar a sociedade em todos os seus aspectos. Por isso, as críticas a Marx são
inesgotáveis.
Uma primeira crítica feita a Marx diz se que era melhor na crítica que nas recomendações porque
ele fez previsão da evolução do capitalismo, mas subestimou a sua resistência e também as
aspirações da classe trabalhadora a um estilo de vida capitalista.
Uma segunda crítica relaciona-se com a teoria da pauperização. Constata-se que nos países
industrializados a vontade revolucionária não se generalizou na classe operária. No geral esta se
aburguesou. A miséria não se localizou nos países industrializados como defendia Marx. Pelo
contrário, encontramo-la em regiões do mundo onde os países capitalistas fazem regiões satélites
que proporcionam mercados para a sua produção industrial e aprovisionamentos.
No âmbito da teoria da mais valia, Marx afirmava que a mais valia é um roubo que o industrial
comete ao trabalhador. Uma objecção a este argumento é que naquelas industrias onde se
emprega mais operários que máquinas há mais salários não, pagos por conseguinte, os lucros
deviam ser mais altos. Mas sucede o inverso.
Na análise do lucro do capitalista, Marx defende que esse lucro é constituído por uma parte do
salário subtraído ao operário. Os críticos advogam que Marx não tomou em conta a divisão e a
organização do trabalho porque na prática 100 trabalhadores bem organizados obtêm melhor
qualidade e quantidade de trabalho do que se estivem isolados. Já que a organização do trabalho
é um dos dons mais raros de que depende a produção os críticos defendem ser natural que o
capitalista (pessoa que organiza a produção) fique com uma parte do lucro.
A obra de Marx que pela primeira apresentou uma exposição geral e sistemática das leis do
movimento do capitalismo projecta-se em duas direcções: A de inspiração do movimento socialista
e de teorização da economia, renovação do método histórico e precursão da análise dinâmica e
da macroeconomia.
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo:Atlas: 49-74
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote: 301- 372
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget: 97- 108
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes: 424- 484
Gaarder, J. (2007). O Mundo da Sofia. Lisboa:Presença
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico. Atlas: S. Paulo:195-227
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 130-143..
Murteira, M. (1990). Lições de Economia Política de Desenvolvimento. Lisboa; Presença: 90- 105..
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 283- 284
Trabalho de Investigação
Biografia de Marx, Hegel, Frederic Georg Engels, Ludwig Feurbach.
Texto de Apoio
Exemplo 1
Exemplo 2
Numericamente podemos assim exemplificar a medição da utilidade total e marginal de 4 copos
de água bebidos sucessivamente:
Os exemplos demonstram que há uma lei parecida com a lei dos rendimentos decrescentes,
chamada lei da utilidade marginal decrescente. Esta lei afirma que à medida que se consome mais
do bem, a utilidade de cada unidade consumida desce. No entanto, esta lei nem é sempre
verificável porque há várias coisas que nos dão tanto mais prazer quanto mais as praticamos.
A Escola marginalista é também chamada psicológica, isto porque faz depender o valor em função
do estado psicológico da pessoa ou da força de atracção que cada bem exerce sobre o indivíduo
em determinada situação. Por exemplo, uma pessoa cheia de sede no deserto a água pode valer
um preço exorbitante e o diamante pode perder o seu interesse de tal forma que um litro de água
no deserto pode ser trocado por um diamante. Esta ideia entusiasmou os primeiros marginalistas
de tal forma que passaram dar importância exclusiva à demanda na determinação do valor.
O entusiasmo marginalista pela demanda só foi estancado por Alfred Marshall. Recorrendo ao
exemplo da tesouro segundo o qual não se pode cortar uma folha usando apenas uma das
lâminas da tesoura, Marshall demonstrou que não se podia considerar o problema do valor
examinando apenas o lado da demanda. Era preciso considerar também o lado da oferta (custo
da produção).
A teoria marginalista virada a demanda foi importante porque chamou atenção para o problema
da escassez e dos acréscimos sucessivos (marginais) a uma certa quantidade de bens.
Bibliografia Básica
Araújo,C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 75- 109.Blaug,
M. (1989). História do Pensamento Económico.Lisboa: Dom Quixote: 17-170
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget:112- 126
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes:510-550
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 163-194
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 283- 284
Herman Gossen
Stanley Jevons
Karl Menger
Léon Walras
Alfred Marshal
a 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
b 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
c 8 7 6 5 4 3 2 1 0
d 7 6 5 4 3 2 1 0
e 6 5 4 3 2 1 0
f 5 4 3 2 1 0
g 4 3 2 1 0
h 3 2 1 0
I 2 1 0
j 1 0
k 0
A primeira unidade alimentar tem para o trabalhador em causa valor 10. A segunda terá valor 9.
Quanto mais essa pessoa se alimenta, menor será a satisfação que cada acréscimo unitário de
alimento lhe proporcionará. A utilidade marginal decrescente é ilustrada pelos números
sucessivamente menores da coluna.
Suponha-se que o trabalhador tenha feito quatro acréscimos sucessivos à sua necessidade
alimentar. Estará na coluna I, linha d. A utilidade marginal da quarta unidade de alimentação é de
7. A coluna V indica a necessidade de bebidas alcoólicas. Quando o trabalhador fizer o 5º
acréscimo à sua alimentação (Coluna I, letra e), a utilidade marginal desta unidade será igual à
utilidade marginal do primeiro copo de cerveja (coluna V, alínea) que é 6.
Segundo Menger, citado por Carlos Araújo (1986): 106 o que ocorre é o seguinte: o atendimento
da necessidade de alimentação tem para o trabalhador em questão uma importância
incomparavelmente maior que o atendimento da necessidade de consumir álcool, quando o
atendimento da necessidade alimentar atinge o grau de plenitude 6, chega-se a um ponto em que
Menger, tal como os outros marginalistas andava à procura de uma teoria do valor, então ligou a
decrescente satisfação marginal ao preço e às quantidades. Neste caso, o consumidor paga
voluntariamente um preço apenas para a satisfação marginal. Como a utilidade marginal diminui
com uma maior quantidade procurada (consumida), o preço que o consumidor está disposto a
pagar também deve diminuir. O consumidor paga voluntariamente pelo último pedaço. Cria-se
assim uma procura deslizante.
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo:Atlas: 75- 109.
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 17-170.
Canterbery E. (2002). Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget:112- 126
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed, Lisboa: Horizontes: 510-550
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 163-194.
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 283- 284
Trabalho de Investigação
Biografia de Gossen, Jevons, Jeremy Bentham, Carl Menger, Bohm-Bawerk, Van Wieser, F.A.Hayek e M. Rothbard
Para desenvolver a sua teoria da oferta e procura e do equilíbrio, Marshall combinou a teoria da
produção dos autores clássicos com a teoria da procura dos marginalistas na chamada “cruz
marshalliana”, base da teoria do valor neoclássica.
O Equilíbrio do Mercado
A ideia do aumento da quantidade procurada com a diminuição do preço vem do conceito
marginalista de utilidade marginal decrescente. Como cada medida consumida dá cada vez
menos satisfação, o preço deve ser cada vez mais baixo para garantir a sua compra. Esta é a lei
da procura normal, em que a quantidade do bem procurado aumenta quando o preço baixa. Todas
as forças atingem um equilíbrio quando as curvas da procura e da oferta se cruzam, como as
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
lâminas de um par de tesoura, fornecendo um preço de equilíbrio. Este preço persistirá e as forças
ficarão num estado de repouso. Outras forças, como o rendimento ou as mudanças de custo,
podem alterar as curvas de oferta e da procura e daí resultará um novo preço de equilíbrio.
Conceito de Elasticidade
No estudo das variações na procura provocada por variações de preços, Marshall percebeu que a
quantidade procurada de determinado bem era mais ou menos sensível a variações em seu
preço. A partir daí desenvolveu o conceito da elasticidade-preço da procura, actualmente muito
usado nos manuais de microeconomia. De forma simplificada a elasticidade- preço de procura é
definida como sendo a mudança de percentagem em quantidade procurada dividida pela mudança
de percentagem no preço. A flexibilidade da ideia de elasticidade permitiu a Marshall alarga-la à
oferta e ao factor mercado bem como aos tipos de rendimentos.
Os Seguidores do Marginalismo
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 75- 109.
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote: 17-170.
Denis, H. (1993). História do Pensamento Económico, 7ª ed. Lisboa: Horizontes: 510-550
E. Ray Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico. Lisboa: Instituto Piaget: 112-
126
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico. Coimbra: Coimbra Editora: 163-194
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial.Lisboa: Dom Quixote:283- 284
Trabalho de Investigação
Biografia de Alfred Marshall, Francis Edgworth,Vilfredo Pareto e Cecil Pigou.
VII. Keynesianismo
Texto de Apoio
Ideia Básica
O equilíbrio económico é determinado pela demanda. Em certos casos é possível o desemprego
prolongado. Os preços flexíveis não são capazes de curar o desemprego. A fim de manter o pleno
emprego na economia, o governo deve gerar défices orçamentais quando a economia entra em
recessão. A baixa actividade económica deve-se ao facto de o sector privado não estar a investir o
suficiente.
Esta ideia básica de Keynes assenta na ideia da casualidade das seguintes variáveis económicas:
dada a propensão a consumir, o volume de emprego é determinado pelo montante de
investimento; dada a rentabilidade esperada, o montante de investimento é determinado pela taxa
de juros; dada uma oferta de moeda, a preferência pela liquidez origina as taxas de juro.
Demanda Efectiva
A principal preocupação de Keynes era a determinação dos principais factores de desemprego e
riqueza numa economia industrial moderna. Para ir ao encontro desta preocupação tentou,
primeiro, demonstrar que o pleno emprego não é um processo automático. Por conseguinte, a
economia pode estar duradoiramente e não acidentalmente em estado de crise. Segundo que era
possível sair-se da crise restabelecendo o pleno emprego através de medidas de intervenção
apropriadas, inteiramente diferentes das recomendadas pelos economistas ortodoxos que
defendiam que: o défice orçamental só teria como efeito abalar a confiança dos meios de negócio;
os empréstimos públicos desviariam a poupança disponível das utilizações produtivas do
investimento em fábricas e material industria, em proveito de programas de obras públicas
improdutivas; os empregos criados pelas despesas públicas seriam artificiais, a retoma seria de
curta duração e inflacionista.
Colocando o emprego no centro da sua análise Keynes rejeitou a ideia de que se possa confiar na
acção de qualquer mecanismo automático para garantir o pleno emprego e defendeu que o
emprego depende do nível da produção que por seu turno é determinado pela procura efectiva
emanada pelos agentes económicos, o chamado princípio da demanda efectiva que constitui a
O princípio da demanda efectiva é oposto à lei de Say e afirma o primado dos gastos em consumo
e investimento (demanda) sobre a produção (oferta). A linha de raciocínio de Keynes pode ser
assim esquematizada: Os factores que determinam o nível de emprego numa sociedade industrial
são o nível de produção. O nível de produção é determinado pela demanda efectiva. A demanda
efectiva compõe-se de bens de consumo (C) e bens de investimento (I).
O consumo é função da renda (Y) e representa-se pela equação C= f(y). Como em Keynes o
consumo agregado é sempre igual a 1, significa que a sociedade como um todo nunca consome
toda a sua renda. Poupa uma parte. O investimento (I) é função das expectativas empresariais
quanto aos lucros e taxas de juro e simboliza: I= f(E, i), sendo que E, expectativas de lucros; e i,
taxas de lucro. O nível da renda ou da produção agregada keynesiana é determinada pelo
consumo e pelo investimento se nos restringirmos ao modelo simples Y= C + I. Isto significa que
em Keynes a renda é determinada pelos gastos em consumo (C) e pelos gastos em investimento
(I) ou seja, é o acto de gastar que determina a renda. Mas como o consumo é relativamente
estável, o principal determinante do nível de renda passa a ser o investimento.
O modelo Keynesiano é diferente do modelo neoclássico porque neste modelo as variações da
demanda são causadoras de variações nos preços. O sistema de preços está no primeiro plano
para a determinação da produção, enquanto que em Keynes a produção é determinada pelo
consumo.
No âmbito teórico o princípio da demanda efectiva já era do conhecimento dos mercantilistas, de
Mathus, Marx e de tantos outros. Mas, só com Keynes é que foi aceite pelo "establishment"
económico. Como predomínio do pensamento ricardiano sobre o malthusianos a preocupação com
a demanda efectiva desapareceu na literatura económica porque Ricardo alinhou pela lei de say.
Salários e Desemprego
O pensamento neoclássico sobre os salários assentava na ideia de que com os preços e salários
flexíveis, a taxa de juro determinaria o equilíbrio de pleno emprego entre a poupança e o
investimento e entre a procura e a oferta de moeda. Esta ideia neoclássica é actualmente
conhecida como Efeito Pigou que foi o primeiro a postular o princípio relacionado com o equilíbrio
abaixo do pleno emprego Keynesiano. O Efeito Pigou é por vezes designado Efeito Riqueza-
Rendimento. De forma resumida Pigou defendia que o desemprego é causado por salários
excessivamente altos. Para eliminar o desemprego seria preciso baixar os salários. Para além de
Say, Pigou foi a outra cabeça de touro de Keynes. Keynes veio defender que o desemprego é
provocado por deficiência da demanda. A baixa dos salários poderia agravar a situação, porque
levaria a uma falta de estímulo ao consumo. A queda do consumo levaria alguns empresários a
arquivarem futuros projectos de investimentos ou, a diminuírem a produção corrente. Neste caso,
haveria um aumento da capacidade ociosa e, portanto, desemprego. Para que as fábricas antigas
continuassem a produzir era preciso erguer novas fábricas. Neste processo de criação de novas
fábricas (investimento) haveria geração de mais renda que se encaminhará para a compra de
produtos novos e antigos.
Em Keynes, a queda de salários só pode conduzir ao aumento do emprego somente sob
suposições espaciais da flexibilidade de salários, preços e juros.
Segundo keynes, quanto mais pobre for a comunidade, maior será a sua propensão marginal a
consumir. Uma comunidade pobre tenderá a aplicar quase tudo que recebe em consumo. Por
outro lado, uma comunidade rica tenderá a aplicar menos em consumo. Isto pode causar
problemas, porque o consumo é um dos componentes da demanda efectiva.
Sabe-se em função de keynes que o consumo é função da renda e que nem toda a renda é
consumida. Existe ainda uma parcela do consumo independente do volume da renda. Esta
parcela corresponde as necessidades da comunidade para viver. Ë o chamado consumo
autónomo. É autónomo porque qualquer que seja a renda é consumida. Assim, a função de
consumo fica C= Co + by onde:
Co é o consumo autónomo; b é a propensão marginal a consumir (0< b<1); y é a renda. Quanto
maior a renda maior é o consumo.
Pensando como “Homem da Rua” o pensamento de keynes fere o senso comum. Na prática as
pessoas individuais primeiro guardam dinheiro para depois aplicá-lo. Mas a poupança
macroeconómica não é guardar dinheiro. Os empresários se olham para um projecto que dá lucro,
vão ao Banco e levantam fundo para investir no projecto. Não precisam de ter dinheiro guardado,
com o crédito antecipam a criação duma renda no futuro e o aumento da renda provoca o
aumento da poupança.
Tentemos compreender Keynes a partir do exemplo exposto por Araújo, C. (1986): 125. Suponha-
se que uma comunidade tenha uma renda de 500 mil unidades monetárias com a seguinte
repartição: 400 mil (80%) com gatos de consumo. 100 mil (20%) em poupança que poderá ser
investida. Se a renda aumentar para 600 mil unidades monetárias e a proporção ente o consumo
e poupança manter-se em 80 para 20% respectivamente os gastos em consumo passará para 480
mil (0,8 x 600) e a poupança para 120 (0,2 x 600). Este aumento da poupança de 100 para 120 foi
provocado pelo aumento da renda. Esta prática tem as seguintes consequências: se as pessoas
forem induzidas a não gastar o consumo diminuirá e acarretará também uma diminuição da renda
pelo princípio da demanda efectiva. A diminuição da renda levará a uma diminuição da poupança.
Este facto é conhecido como o paradoxo da parcimónia e demonstra que a política económica não
tem meios de agir directamente sobre a poupança. Se a política económica quiser aumenta a
poupança terá de procurar um aumento da renda e não uma diminuição do consumo.
Sobre a taxa de juros, os neoclássicos diziam que era uma remuneração do sacrifício que se faz
ao se adiar o consumo. A taxa de juros é o preço desse sacrifício. Keynes rejeitou esta ideia
clássica afirmando que há pessoas que entesouram seu dinheiro realizando assim um sacrifício.
Mas não são remuneradas. As pessoas fazem isto porque preferem a liquidez. A posse imediata
do dinheiro tem suas vantagens como a possibilidade imediata de trocá-lo por qualquer outro
activo, garantia, segurança e possibilidade de ganhos maiores. Então a taxa de juros é o prémio
Segundo keynes a preferência pela liquidez é provocada por três factores: Transacção, precaução
e especulação. A necessidade de liquidez aumenta com a actividade económica resultante do
aumento das transacções comerciais. Quanto maior a insegurança das pessoas ou da
comunidade, maior a necessidade de ter dinheiro. Por exemplo, se o pagamento de salário for
semanal, a necessidade do assalariado manter o dinheiro diminui. Mas se for trimestralmente a
necessidade de retenção do dinheiro líquido será maior. Quando cresce a expectativa de aumento
de lucro com a especulação financeira, reserva-se parte do dinheiro líquido para esses lances. O
dinheiro é retido em forma líquido graças à expectativa de que no futuro ao subir a taxa de juros,
ele renderá mais.
O Multiplicador
O multiplicador do investimento ou do gasto é um conceito criado por Keynes a partir do
multiplicador de emprego de Richard Kahn. Kahn argumentava que não era necessário que o
governo empregasse todos os desempregados. Uma parcela apenas de novos empregados criado
pelo governo poderia multiplicar o número de empregados na economia na medida em que ao
gastar a sua renda, cada empregado estará gerando novos fluxos de renda e novos empregos.
Com o multiplicador keynes demonstrou que o investimento tem um efeito multiplicador sobre a
renda.
A teoria Keynesiana pode ser resumida nos seguinte pontos: Primeiro, no curto prazo é a procura
agregada (despesa) que determina o nível de rendimento e de emprego. Segundo, O mercado
não assegura o pleno emprego. Terceiro, o Estado afecta a procura agregada através das
despesas, dos impostos e das transferências. Quatro, influenciando a procura agregada o Estado
influencia o nível de emprego e do produto. Sexto, os gastos públicos e os impostos são dois
instrumentos da política orçamental, sétimo, em situação de desemprego, consumo e investimento
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
baixos, o Estado deve intervir aumentando os gastos públicos e diminuindo os impostos. Oitavo, o
aumento dos gastos do Estado, eleva a procura agregada (determinado um aumento do
rendimento e do emprego), nono, uma diminuição dos impostos aumenta o rendimento disponível
(igual ao rendimento menos os impostos) o que leva a um aumento do consumo. Décimo, a
intervenção estatal é necessária para estabilizar a procura agregada, décimo primeiro, a política
orçamental tem de ser discricionária (manipulação dos impostos e das despesas do Estado com o
objectivo de alterar o produto nacional e o emprego, controlar a inflação e estimular o crescimento
económico)
Adesão ao keynesianismo
Antes de Keynes a ideologia dominante defendia a existência de antagonismos entre o progresso
social e a eficácia económica: o crescimento dos salários, das despesas públicas, das
transferências sociais era vistos como um prejuízo ao desenvolvimento da prosperidade
económica. Era preciso escolher entre salários elevados e o emprego e entre a despesa social e o
crescimento. O social era apresentado como uma compensação do económico (o social era o mal
necessário da economia). O sistema keynesiano veio estabelecer uma ligação muito estreita entre
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
o crescimento e a equidade: era possível ter em simultâneo salários altos e pleno emprego;
despesas públicas e crescimento. E mais, os altos salários e as despesas públicas são
necessários ao pleno emprego e ao crescimento, por conseguinte, no keynesianismo o progresso
social e o progresso económico caminham no mesmo sentido. Como consequência, a
organização das relações sociais passa a integrar a dinâmica económica, o Estado providência
deixa de ser uma luta entre os grupos sociais e passa a ser uma exigência comum de todos os
sectores socais no seu conjunto que lutam pelo pleno emprego e pelo crescimento. Assim, a
adesão ao Keynesianismo por toda a sociedade justifica-se porque: Os assalariados têm na
economia keynesiana a garantia do emprego e de salários elevados ao mesmo tempo. As
empresas alargam os seus mercados, as oportunidades de investimento e as margens de lucro.
Com o keynesianismo passou-se a ter em simultâneo, crescimento, emprego, poder de compra e
lucros. Terceiro é que com o Keynesianismo a sociedade passou a organizar-se para partilhar os
frutos da prosperidade dando origem ao nascimento do conceito de parceiros sociais em que os
agentes económicos são chamados a organizarem-se para negociar a partilha da riqueza comum.
Quartos, os sindicatos que eram considerados como organização sediciosa, passam a ser
reconhecidos como instituições benéficas. As corporações profissionais que eram assimiladas a
cartéis e alvos de objecção pública também são igualmente legitimados. Quinto, o Estado
Keynesiano é o Estado providência base de uma nova mentalidade diferente dos Estado Marxista
e do velho Estado de direito resultante da revolução liberal. Por isso se afirma que o sistema
keynesiano arruinou em simultâneo o sistema neoclássico e o seu contrário o sistema marxista.
Percursores de Keynes
Nos anos 60 a maioria dos economistas profissionais denominavam-se keynesianos. Havia uma
minoria que se considerava não keynesiana e uma pequena porção dizia-se antikeynesiana.
Mesmo os políticos denominavm-se keynesianos. As diferentes linhas de interpretação e extensão
das ideias de Keynes ganharam nomes como neokeynesianos, novos-keynesianos e pós-
keynesianos. Mas a versão das ideias Keynes que mais se espalhou não foi das ideias do formato
expostas na “Teoria Geral”. Tornou-se mais popular a tradução analítica conhecida por síntese
neoclássica de Keynes que inicia com John Hicks em 1937. Hicks introduziu o famoso modelo IS-
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
LM como representação dessas ideias. Este modelo passou a ser usado como um exercício
pedagógico de representação gráfica mais eficiente na história das ideias e do pensamento
económico.É considerado o modelo mais coerente ou confiável para expressar as ideias contidas
na Teoria Geral de Keyenes. Permite responder de pronto sobre o efeito de uma expansão
monetária, aumento dos gastos do governo ou queda de impostos na renda e nas taxas de juro da
economia. Diversos aperfeiçoamentos foram feitos no modelo inicial de Hicks.
A curva representa a substituição entre a taxa de inflação (actual) e a taxa de desemprego (para
uma dada expectativa de taxa de inflação). Uma diminuição da taxa de inflação só se conseguiria
com um aumento da taxa de desmprego e vice-versa, havendo um efeito de substituição (trade off
= custo de opotunidade) entre o emprego e a inflação. Com esta curva defendia-se assim que esta
relação entre a inflação e o desemprego seria sempre estável. Mas a partir dos anos 70 tounou-se
notório que esta relação não era estável, que a taxa de inflação e a taxa de desemprego moviam-
se por vezes no mesmo sentido gerando uma estagnação. Surgiu assim a curva de Sherman, uma
relação inversa da curva de Philips, ou seja, um aumento da taxa de inflação esta associado a
uma subida da taxa de desemprego. E o argumento dos monetaristas que vamos ver na unidade
seguinte foi de que a curva de Philips seria apenas um fenómeno de cutro prazo, não tendo
validade a longo prazo (Donário, 2003:71).
Bibliografia Básica
Araújo, C. (1986). História do Pensamento Económico. S. Paulo; Atlas: 110- 135
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico, Lisboa: Dom Quixote: 447-475
Canterbery, E. (2002) Breve História do Pensamento Económico. Lisboa: Instituto Piaget: 172- 212
Donário, A. (2003). História do Pensamento Económico. Lisboa: UAL.
Feijó, R. (2001). História do Pensamanto Económico, S. Paulo: Atlas: 425-463.
Lumbrales, J. (1988). História do Pensamento Económico, Coimbra: Coimbra Editora: 244--257
Stoffaes, C. (1991). A Crise da Economia Mundial. Lisboa: Dom Quixote: 285-308
Trabalho de Investigação
Biografia de Keynes, I. Fisher, Wicksell, F.A. Hayek, Piero S raffa, Joan Robison, RichardKhan, Austin Robinson, B.
Graham, B. Ohlin, C. Phillips, John Hicks; Paul Samuelson; Jean Charles Sismondi e Edward Chaberlin, Sherman.
VII. Neoliberalismo
Contextos Históricos de Emergência e do Triunfo
O pensamento neoliberal tem a sua emergência no final da II Guerra Mundial nos países
capitalistas altamente avançados. Surgiu como uma reacção teórica e política contra o
keynesianismo, Estado intervencionista e do bem-estar (wellfarestate). Na sua reacção contra o
Estado do bem-estar, os neoliberais argumentavam que o igualitarismo destruía a liberdade dos
cidadãos e a vitalidade da concorrência de que depende a prosperidade económica. Segundo que
a desigualdade era um valor positivo e necessário nas sociedades ocidentais.
No imediato pós II Guerra Mundial o neoliberalismo não teve capacidade de implementação
devido a facto de os anos 50 e 60 terem sido anos de ouro do capitalismo com um crescimento
económico e estabilidade sem precedentes nas economias capitalistas. O triunfo neoliberal só se
verificaria nos anos 70. Para o feito determinados contextos económico e político foram
determinantes. O contexto económico relaciona-se com a emergência e desenvolvimento da crise
de inflação e desemprego que se regista nos anos 70 nas principais economias do mundo. Os
neoliberais argumentavam que as razões desta crise tinham a ver com o poder excessivo e
nefasto dos sindicatos e do movimento operário (justificados pelo Keynesianismo). Esse poder
sindicalista tinha como consequências a corrosão da base de acumulação capitalista através das
pressões reivindicativas sobre os salários e a pressão exercida ao Estado para o aumento dos
gastos em despesas públicas. Os neoliberais propunham como solução para rejuvenescer o
capitalismo da referida crise, a manutenção dum Estado forte na sua capacidade de romper com o
poder dos sindicatos e no controlo monetário. Manter um Estado fraco nos gastos sociais e nas
intervenções económicas. Estabeleciam como metas governamentais a estabilidade monetária
através das seguintes medidas: disciplina monetária contendo os gastos com o bem-estar,
reformas fiscais para incentivar os agentes económicos reduzindo os impostos sobre os
rendimentos mais altos e sobre as rendas, reestruturação da taxa natural de desemprego criando
um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos.
O contexto político está associado à subida ao poder de governos pro-liberais como Margareth
Thatcher no Reino Unido em 1979, Ronald Reagan nos EUA em 1980 que constituirão as
principias e primeiras figuras políticas que puseram em prática as ideias neoliberais.
As principais figuras do pensamento económico neoliberal estão associadas à sociedade de Mont
Pélerin na Suíça composta em 1947 por Friedrich Hayek, Milton Friedman, Karl Popper, Lionel
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
Robbins, Ludwig von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polany e Salvador Margarida,
figuras eminentemente anti-keynesianas.
O Monertarismo
O monetarismo é a base da teoria económica do pensamento neoliberal. Ele assenta na crença da
teoria quantitativa da moeda. Considerada como essência do mecanismo clássico do ajuste do
preço, esta teoria é constituída por um conjunto de proposições interligadas que tinham
numerosos adeptos quer entre os clássicos quer entre os neoclássicos durante o século XIX. As
proposições são as seguintes: 1. A moeda tem um papel activo e casual na determinação do nível
de preços e assim, do nível do rendimento nacional nominal; 2. A neutralidade da moeda no
equilíbrio de longo prazo, isto é, a proporcionalidade de longo prazo entre a moeda e os preços,
baseia na estabilidade da procura da moeda ou do seu inverso, a velocidade da moeda; 3. A
curto prazo e a médio prazo a moeda não é neutral. 4; A oferta da moeda é exógena; 5. A gestão
da moeda não pode ser discricionária e regida por regras de política.
A teoria monetarista é representada pela equação MV= PQ onde; M= oferta monetária; V=
velocidade da moeda (número de vezes por ano que a unidade monetária média é gasta em bens
finais) MV= Demanda agregada ou gastos monetários totais em bens finais. Q= velocidade física
de todos os bens finais produzidos; P= preço médio pelo qual cada um bem final é vendido. QP=
Gatos monetários com a produção em qualquer ano.
Se na sua época Keynes não acreditava na eficiência da política monetária nas condições
económicas da sua época, os neokeynesianismo veio aceitar a importância da moeda na política
de estabilização.
Friedman veio acabar com este dilema político de uma correlação entre a inflação e desemprego.
Nos monetaristas por causa da inflação totalmente antecipada, não há qualquer correlação a
longo prazo. A sua conclusão provém da taxa natural de desemprego, uma ideia que depende
duma visão do mercado de trabalho dos clássicos/neoclássicos ser perfeitamente ajustável. A taxa
natural é a taxa de desemprego dominante num mercado de trabalho perfeitamente competitivo.
Qualquer taxa de desemprego abaixo da taxa natural leva à inflação. Se os trabalhadores atentos
esperam uma inflação rápida, procurarão salários mais generosos. Assim qualquer aumento da
inflação antecipada é acompanhado ponto percentual por ponto percentual pela inflação salarial,
deixando a taxa salarial intocada. Com a taxa salarial inalterada, o nível de emprego, portanto, a
taxa de desemprego permanece constante (à taxa natural de desemprego). Apenas a inflação não
antecipada pode levar a reduções temporárias do desemprego abaixo da taxa natural. A longo
prazo, a inflação é plenamente antecipada e não há qualquer correcção entre inflação e
desemprego.
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História do Pensamento Económico
Texto de Apoio
O Neoliberalismo na Pratica
Bibliografia Básica
Anderson, P. (S/D). O Balanço do Neoliberalismo [S/R]
Blaug, M. (1989). História do Pensamento Económico. Lisboa: Dom Quixote: 475-478; 487-491.
Canterbery, E. (2002). Breve História do Pensamento Económico.Lisboa: Instituto Piaget: 231-243
Feijó, R. (2001). História do Pensamento Económico. S. Paulo: Atlas: 450-469.
Trabalho de Investigação
Biografia de Milton Friedman, Robert Lucas